domingo, 5 de março de 2017

ENFIM, UMA NIGHT

Estou chegando lá...



Acredito que interagi mais com meus amigos hoje, embora tenha havido muitos momentos de silêncio da minha parte. O som ambiente, radiola de ficha nas alturas, atrapalhava a comunicação, então as melhores interações se davam quando íamos os fumantes fumar do lado de fora do bar. Me senti mais integrado ao grupo graças principalmente a esses momentos de tabagismo e prosa. Mas consegui trocar uma palavra ou duas com cada um dos meus amigos, ou pelo menos com a maioria deles, também dentro do bar. Aprendi que a música sertaneja era um gênero de temática machista e que uma nova leva de cantoras estava trazendo a ótica feminina sobre as relações afetivas e fazendo muito sucesso entre as mulheres. Minha amiga que me contou isso disse que iria me mandar um artigo sobre o fenômeno. Ah, são 1h33 e um amigo e eu pegamos uma carona com esta amiga, que não estava bebendo, de volta para casa. Deixamos ainda o resto do pessoal lá, mas o aniversariante já estava pedindo a conta quando partimos, muito embora duas amigas da turma houvessem chegado há menos de meia hora ao nosso encontro. Me pareceram um casal, mas meu amigo que pegou carona disse que já havia “pegado” ambas, embora ele mesmo tenha tido a mesma impressão que eu. Uma delas me pareceu atraente, com um charme peculiar, francês. Não troquei palavra com nenhuma delas, pois sentaram no outro extremo da mesa, tornando-se inaudível o que conversavam, graças à radiola. Interessante que minha medida de comparação sobre quão interessante era tal garota foi X. E ela empatou com X, mas não a suplantou. Até porque não pude aferir sua personalidade. Era psicóloga também (de abordagem analítica) como o fez psicologia a maioria da turma do meu primo-irmão que cursou, claro, Psicologia. Na mesa, além dos psicólogos, entretanto, havia cientista político, historiadora, jornalista, projetista de caminhões baú, dono de cervejaria artesanal, publicitário aposentado, então estava bastante sortida profissionalmente falando. Não me isolei em nenhum momento no meu autismo auditivo por mais que tenha levado o iPod.

Hoje foi um sábado diferente por outras razões. Houve a missa do meu falecido avô, que foi prestigiada por uma Igreja das Graças quase lotada. Houve também a grata surpresa de receber a imensa maioria dos jogos de Wii U e Wii que comprei no eBay. Preciso até agradecer à tia da minha cunhada pelo esforço e atenção para comigo. Dos jogos que comprei, só sinto falta do Super Mario Wii, mas não me recordo de todos os que comprei, terei que olhar no eBay minhas compras para ver quais faltaram, se é que faltou mais algum. Ela trouxe inclusive os dois amiibos (bonequinhos que abrem novas propriedades do jogo quando postos sobre o controle) e uma camisa que, caso me lembre, ilustrará esta postagem.

Li mais umas três páginas dos Ensaios de Montaigne um dia desses. Não deixa de me fascinar, porém não ando com paciência de ler e as letras começam a me parecer miúdas demais, o que torna a leitura mais cansativa. Li porque fui privado do meu quarto enquanto a faxineira (gente boníssima, por sinal) cuidava da limpeza e organização dele.

A ida ao CAPS foi muito boa para mim, pois pude abrir meu coração e isso me aliviou deveras. Também houve a conversa com X, que sempre me é um momento agradável e especial (e que provavelmente terão seu fim se ela realmente ler este blog, o que é uma pena, mas foi uma escolha que fiz, baseada apenas na vontade de não mais calar sobre com que olhos a via e ainda vejo, embora de forma mais branda). Penso em cortar o meu cabelo, não apenas apará-lo. Depois cresce de novo. Acho que vai ser mais fácil me livrar dessa maldita caspa que me assola – e que talvez seja caso para uma dermatologista, visto que ataca a minha barba também – se estiver com cabelos mais curtos. Bem mais curtos. E esse é um issue que me incomoda bastante, principalmente porque acho anti-higiênico e também porque há três camisas pretas que gostaria de usar, mas que não uso porque evidenciam o problema. É interessante, pois nunca fui de ter caspa, mas algo aconteceu por volta da época da viagem para os EUA que contraí este desagradável mal. De todos os males do mundo acho que esse talvez seja o mais irrelevante, mas me incomoda a ponto de querer debelar minha cabeleira e minha barba para ver se o soluciono de uma vez por todas. O pior que já tirei a minha barba por completo no internamento e quando ela voltou a crescer, o problema voltou a atacar. Guardo uma pequena teoria da conspiração – que espero ser fajuta – de que os xampus para caspa são eles mesmos os responsáveis por gerar mais caspa, posto que se todos os que o utilizassem ficassem curados, o mercado para tal produto seria gradativamente reduzido. Espero sinceramente estar enganado, pois uso xampu anticaspa quase que diariamente e não vejo melhora alguma.

2h34. Estou com sono. Olhei no eBay agora e realmente só faltou o New Super Mario Bros. Wii. Meu irmão deve ter esquecido.

2h40. O disco que pus – Debut de Björk – acabou de tocar. Amanhã reviso e, quem sabe acrescento algo. Vou tomar um copo de Coca-Cola, dar umas baforadas e ir dormir. Quando acordar acho que vai dar jogatina para mim. Não é possível que me intimide com jogos da Nintendo.

16h17. Estou me sentindo moderadamente angustiado agora. Não sei se foi porque dormi demais ou porque não há nada que queira realmente fazer. Ou se não tem nada que eu queira fazer porque dormi demais e isso me deixou com muita preguiça. Nem escrever aqui eu quero. Acho que vou me deitar um pouco mais. Mesmo que não durma.

18h52. Fiquei deitado até agora há pouco. Minha mãe foi ao hospital novamente porque não parece melhorar da garganta. Deixou dinheiro para eu comprar duas Cocas a preços extorsivos na pizzaria em frente ao meu prédio, o que acabo de fazer e agora sento aqui para digitar mais uma coisa ou duas. Às vezes me pego cismando que o teclado do computador é como o de um piano e que o toco para fazer minha melodia de palavras. Mas nem em verso escrevo, nem sei bem o que escrevo muitas vezes, então seria não uma sonata de Bach, mas um improviso jazzístico o meu estilo musical. Ou literário, melhor dizendo, se é que se pode chamar de literatura o que aqui produzo. Nem tudo o que é escrito é considerado literatura, não sei o que faz algo escrito ganhar ou não o título de literatura, mas pouco se me dá, não sei fazer mais nem melhor que isso, seja lá o que isso for. Preciso fazer a tabela de gastos deste mês para voltar a ter um mínimo de controle sobre a minha pensão. Já sei que foram gastos cerca e mil e cem reais de remédios e setecentos de cartão de crédito. Preciso ver os números exatos com mamãe para computá-los na tabela.

19h28. Não estou com saco de fazer a tabela agora, pois isso provavelmente implicaria fechar todas as janelas abertas do Chrome e reiniciar o computador, pois o site que me dá o contracheque da pensão está empacando dizendo que a minha conexão não é segura, então acho que estas medidas são a solução. E não estou disposto a tomá-las agora. Não estou com vontade de Wii U também. Mas há um filme que baixei que quero muito ver: Passengers.

19h49. Minhas vontades começam a emergir e a angústia desaparece. Talvez fosse falta de Coca-Cola no sangue. Já passei o filme para o HD externo e estou com uma vontade branda de jogar Yoshi’s Wooly World, mas como disse, muito branda se comparada à vontade de ver o filme. Em verdade, acho que preciso de mais Coca, pois não estou com vontade de fazer nenhum dos dois agora. Minha mãe voltou e a orientação médica é a de que não fale. Nada mais lógico para quem quer melhorar da garganta e da rouquidão. Quem me comunicou foi meu padrasto, justamente para poupar a voz dela.

Estou sem vontade nenhuma de ir ao CAPS amanhã. Queria ver meu grupo e ir embora. No máximo. Colocarei o filme quando o CD de Björk acabar. Eu ainda não assisti as fitas que o stalker que tentou matar Björk gravou. Baixei-as quase todas. É um retrato muito interessante, cru e macabro da evolução de um quadro psicopatológico delirante. Não sei se essa é a denominação correta da loucura do cara, mas seus desabafos para a câmera são muito curiosos e assustadores. É um entretenimento doentio, eu sei. Mas acho que não difere muito do que faço aqui. A diferença sendo que eu não estou tão doido assim e nem quero matar ninguém ou me matar. Acho até que a pintura de cabeça que ele faz na hora de se matar inspirou a maquiagem de Darth Maul dos filmes de Star Wars. Aliás, não sei o que veio primeiro, nem sei onde guardei os vídeos. Sei que baixei antes que os tirassem todos da internet. Lembro-me em particular, além do ritual de suicídio e do livro-bomba-de-ácido que produz, de um discurso sobre o porquê de ele querer pôr fim a vida de Björk, em que ele diz que ela é uma negra, por estar namorando um negro e que negros são baratas e que ele acaba chegando à conclusão que ele mesmo é uma barata também. O curioso de tudo é que ele, pelo que lembro, trabalhava com dedetização de baratas. É muito doentio e parece quase irreal, visto que percepção de realidade dele é tão discrepante das demais. O que mais me estarreceu nesta história toda foram os posts de gente apoiando o cara e defendendo suas ideias sem pé nem cabeça. Aí é que a eu vi que tem gente de todo tipo no mundo mesmo. Essas manifestações de identificação com o discurso maluco do cara me assustaram mais do que os vídeos em si. Se não fizeram, alguém da área de psicopatologias devia fazer um estudo sobre esse caso e sua reverberação mórbida no YouTube. Bem, acabou o disco de Björk, vou ver o filme. Antes dar umas baforadas e pegar uma Coca.
                                   

22h29. Acabei de ver Passengers. Me desapontou um pouco, mas a produção é impecável. Muito bonito, mas não é nenhum Interstellar ou Black Mirror for that matter. Entretém, tem dois protagonistas carismáticos, mas é um filme raso em termos de ficção científica. É mais uma história de amor. Pelo menos me deu mais confiança e motivação para continuar escrevendo isso. Quem assistir, vai entender. Não que minha vida seja repleta de aventuras e fatos que valham ser contados, mas é a minha vida e a estou contando. Com que propósito? Realmente não sei. Mas há um ímpeto, uma força que não sei de onde vem que me atrai para cá. É onde me sinto mais eu, é quando me sinto fazendo minha pequena contribuição para humanidade. É a minha ocupação, o meu trabalho, por assim dizer. Um trabalho que me preenche e me dá prazer. Por essas razões já acho que seja válido. Mesmo que ninguém leia. Aqui está documentada a existência de um ser humano, com suas particularidades e manias. Um ser humano um tanto excêntrico. Um ser humano bastante só. Mas que finalmente se sente bem acompanhado por si mesmo. Não todos os dias, não todas as horas, mas a maior parte do tempo. E isso é bom e válido, estar só e se sentir bem acompanhado. Sei que um romance acrescentaria muito à minha vida, mas não sei se o eu de hoje ainda é capaz de viver uma relação a dois tão profunda como um romance. Não me sinto preparado para isso, entretanto, contraditoriamente, me sinto predisposto a isso. Sempre me senti. Mas acho que o começo teria que ser bastante lento e gradativo para que eu me reprogramasse do modo solidão para o modo vida a dois. Haveria uma série de empecilhos, derivados da minha curatela e do jeito de ser da minha curadora, então a pessoa que ficasse comigo teria que aceitar tais limitações. Ou me ajudar a ter mais liberdade. Há ainda as minhas doenças da alma, incuráveis, mas controláveis. Até certo ponto. Seria alguém que me apoiasse se eu recaísse, o que sei que é pedir demais. Foi pedir demais no meu último relacionamento. Mas alguém que visse a minha adicção com olhos menos bisonhos e neuróticos que as pessoas que me circundam. Para estas, cada recaída é um desastre desproporcional à realidade dos fatos. Mas é assim que elas reagem e são elas que têm o controle da minha vida. Eu não controlo minha vida. Eu não tenho a liberdade de ir e vir quando me aprouver, o que é um direito constitucional, se não me engano. Eu não verei sentido em viver se for morar longe de todos que eu conheço, na casa do meu irmão, nos EUA. Isso será me condenar ao isolamento permanente. Não quero pensar sobre isso agora. Ainda há muito tempo de vida para a minha mãe. Ainda posso conhecer um grande amor aqui em Recife. Não sei a quem estou tentando enganar novamente. É claro que novo amor não vai surgir. É claro que já estou vivendo o isolamento quase permanente, não fora pelo CAPS e por meu primo-irmão. Isso me entristece um pouco, essa quantidade de tempo que passo isolado. Graças aos céus tenho estas palavras para dar vazão ao monte de nadas ou quase nadas que eu penso. Graças aos céus, posso conversar com uma tela de computador, sentir meus dedos apertando as teclas é me sentir vivo. 23h03. Acho que vou me preparar para dormir. O pior é que, para variar, não estou com um pingo de sono. Estou quase pegando o jogo do Yoshi para jogar, mas é mais sensato deixar isso para amanhã. Deixar tudo para amanhã. Apenas revisar este post e colocá-lo no ar.  

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