Estou chegando lá... |
Acredito que interagi mais com meus amigos hoje, embora
tenha havido muitos momentos de silêncio da minha parte. O som ambiente,
radiola de ficha nas alturas, atrapalhava a comunicação, então as melhores
interações se davam quando íamos os fumantes fumar do lado de fora do bar. Me
senti mais integrado ao grupo graças principalmente a esses momentos de
tabagismo e prosa. Mas consegui trocar uma palavra ou duas com cada um dos meus
amigos, ou pelo menos com a maioria deles, também dentro do bar. Aprendi que a
música sertaneja era um gênero de temática machista e que uma nova leva de
cantoras estava trazendo a ótica feminina sobre as relações afetivas e fazendo
muito sucesso entre as mulheres. Minha amiga que me contou isso disse que iria
me mandar um artigo sobre o fenômeno. Ah, são 1h33 e um amigo e eu pegamos uma
carona com esta amiga, que não estava bebendo, de volta para casa. Deixamos
ainda o resto do pessoal lá, mas o aniversariante já estava pedindo a conta
quando partimos, muito embora duas amigas da turma houvessem chegado há menos
de meia hora ao nosso encontro. Me pareceram um casal, mas meu amigo que pegou
carona disse que já havia “pegado” ambas, embora ele mesmo tenha tido a mesma
impressão que eu. Uma delas me pareceu atraente, com um charme peculiar,
francês. Não troquei palavra com nenhuma delas, pois sentaram no outro extremo
da mesa, tornando-se inaudível o que conversavam, graças à radiola.
Interessante que minha medida de comparação sobre quão interessante era tal
garota foi X. E ela empatou com X, mas não a suplantou. Até porque não pude
aferir sua personalidade. Era psicóloga também (de abordagem analítica) como o
fez psicologia a maioria da turma do meu primo-irmão que cursou, claro,
Psicologia. Na mesa, além dos psicólogos, entretanto, havia cientista político,
historiadora, jornalista, projetista de caminhões baú, dono de cervejaria
artesanal, publicitário aposentado, então estava bastante sortida
profissionalmente falando. Não me isolei em nenhum momento no meu autismo
auditivo por mais que tenha levado o iPod.
Hoje foi um sábado diferente por outras razões. Houve a
missa do meu falecido avô, que foi prestigiada por uma Igreja das Graças quase
lotada. Houve também a grata surpresa de receber a imensa maioria dos jogos de
Wii U e Wii que comprei no eBay. Preciso até agradecer à tia da minha cunhada
pelo esforço e atenção para comigo. Dos jogos que comprei, só sinto falta do
Super Mario Wii, mas não me recordo de todos os que comprei, terei que olhar no
eBay minhas compras para ver quais faltaram, se é que faltou mais algum. Ela
trouxe inclusive os dois amiibos (bonequinhos que abrem novas propriedades do
jogo quando postos sobre o controle) e uma camisa que, caso me lembre,
ilustrará esta postagem.
Li mais umas três páginas dos Ensaios de Montaigne um dia desses. Não deixa de me fascinar, porém
não ando com paciência de ler e as letras começam a me parecer miúdas demais, o
que torna a leitura mais cansativa. Li porque fui privado do meu quarto
enquanto a faxineira (gente boníssima, por sinal) cuidava da limpeza e
organização dele.
A ida ao CAPS foi muito boa para mim, pois pude abrir meu
coração e isso me aliviou deveras. Também houve a conversa com X, que sempre me
é um momento agradável e especial (e que provavelmente terão seu fim se ela
realmente ler este blog, o que é uma pena, mas foi uma escolha que fiz, baseada
apenas na vontade de não mais calar sobre com que olhos a via e ainda vejo,
embora de forma mais branda). Penso em cortar o meu cabelo, não apenas apará-lo.
Depois cresce de novo. Acho que vai ser mais fácil me livrar dessa maldita
caspa que me assola – e que talvez seja caso para uma dermatologista, visto que
ataca a minha barba também – se estiver com cabelos mais curtos. Bem mais
curtos. E esse é um issue que me
incomoda bastante, principalmente porque acho anti-higiênico e também porque há
três camisas pretas que gostaria de usar, mas que não uso porque evidenciam o problema.
É interessante, pois nunca fui de ter caspa, mas algo aconteceu por volta da
época da viagem para os EUA que contraí este desagradável mal. De todos os
males do mundo acho que esse talvez seja o mais irrelevante, mas me incomoda a
ponto de querer debelar minha cabeleira e minha barba para ver se o soluciono
de uma vez por todas. O pior que já tirei a minha barba por completo no
internamento e quando ela voltou a crescer, o problema voltou a atacar. Guardo
uma pequena teoria da conspiração – que espero ser fajuta – de que os xampus
para caspa são eles mesmos os responsáveis por gerar mais caspa, posto que se
todos os que o utilizassem ficassem curados, o mercado para tal produto seria gradativamente
reduzido. Espero sinceramente estar enganado, pois uso xampu anticaspa quase
que diariamente e não vejo melhora alguma.
2h34. Estou com sono. Olhei no eBay agora e realmente só
faltou o New Super Mario Bros. Wii. Meu irmão deve ter esquecido.
2h40. O disco que pus – Debut
de Björk – acabou de tocar. Amanhã reviso e, quem sabe acrescento algo. Vou
tomar um copo de Coca-Cola, dar umas baforadas e ir dormir. Quando acordar acho
que vai dar jogatina para mim. Não é possível que me intimide com jogos da
Nintendo.
16h17. Estou me sentindo moderadamente angustiado agora. Não
sei se foi porque dormi demais ou porque não há nada que queira realmente
fazer. Ou se não tem nada que eu queira fazer porque dormi demais e isso me
deixou com muita preguiça. Nem escrever aqui eu quero. Acho que vou me deitar
um pouco mais. Mesmo que não durma.
18h52. Fiquei deitado até agora há pouco. Minha mãe foi ao
hospital novamente porque não parece melhorar da garganta. Deixou dinheiro para
eu comprar duas Cocas a preços extorsivos na pizzaria em frente ao meu prédio,
o que acabo de fazer e agora sento aqui para digitar mais uma coisa ou duas. Às
vezes me pego cismando que o teclado do computador é como o de um piano e que o
toco para fazer minha melodia de palavras. Mas nem em verso escrevo, nem sei bem
o que escrevo muitas vezes, então seria não uma sonata de Bach, mas um
improviso jazzístico o meu estilo musical. Ou literário, melhor dizendo, se é
que se pode chamar de literatura o que aqui produzo. Nem tudo o que é escrito é
considerado literatura, não sei o que faz algo escrito ganhar ou não o título de
literatura, mas pouco se me dá, não sei fazer mais nem melhor que isso, seja lá
o que isso for. Preciso fazer a tabela de gastos deste mês para voltar a ter um
mínimo de controle sobre a minha pensão. Já sei que foram gastos cerca e mil e
cem reais de remédios e setecentos de cartão de crédito. Preciso ver os números
exatos com mamãe para computá-los na tabela.
19h28. Não estou com saco de fazer a tabela agora, pois isso
provavelmente implicaria fechar todas as janelas abertas do Chrome e reiniciar
o computador, pois o site que me dá o contracheque da pensão está empacando
dizendo que a minha conexão não é segura, então acho que estas medidas são a
solução. E não estou disposto a tomá-las agora. Não estou com vontade de Wii U
também. Mas há um filme que baixei que quero muito ver: Passengers.
19h49. Minhas vontades começam a emergir e a angústia desaparece.
Talvez fosse falta de Coca-Cola no sangue. Já passei o filme para o HD externo
e estou com uma vontade branda de jogar Yoshi’s
Wooly World, mas como disse, muito branda se comparada à vontade de ver o
filme. Em verdade, acho que preciso de mais Coca, pois não estou com vontade de
fazer nenhum dos dois agora. Minha mãe voltou e a orientação médica é a de que
não fale. Nada mais lógico para quem quer melhorar da garganta e da rouquidão. Quem
me comunicou foi meu padrasto, justamente para poupar a voz dela.
Estou sem vontade nenhuma de ir ao CAPS amanhã. Queria ver
meu grupo e ir embora. No máximo. Colocarei o filme quando o CD de Björk
acabar. Eu ainda não assisti as fitas que o stalker
que tentou matar Björk gravou. Baixei-as quase todas. É um retrato muito
interessante, cru e macabro da evolução de um quadro psicopatológico delirante.
Não sei se essa é a denominação correta da loucura do cara, mas seus desabafos
para a câmera são muito curiosos e assustadores. É um entretenimento doentio,
eu sei. Mas acho que não difere muito do que faço aqui. A diferença sendo que
eu não estou tão doido assim e nem quero matar ninguém ou me matar. Acho até
que a pintura de cabeça que ele faz na hora de se matar inspirou a maquiagem de
Darth Maul dos filmes de Star Wars. Aliás, não sei o que veio primeiro, nem sei
onde guardei os vídeos. Sei que baixei antes que os tirassem todos da internet.
Lembro-me em particular, além do ritual de suicídio e do livro-bomba-de-ácido
que produz, de um discurso sobre o porquê de ele querer pôr fim a vida de Björk,
em que ele diz que ela é uma negra, por estar namorando um negro e que negros
são baratas e que ele acaba chegando à conclusão que ele mesmo é uma barata
também. O curioso de tudo é que ele, pelo que lembro, trabalhava com
dedetização de baratas. É muito doentio e parece quase irreal, visto que percepção
de realidade dele é tão discrepante das demais. O que mais me estarreceu nesta
história toda foram os posts de gente apoiando o cara e defendendo suas ideias
sem pé nem cabeça. Aí é que a eu vi que tem gente de todo tipo no mundo mesmo.
Essas manifestações de identificação com o discurso maluco do cara me
assustaram mais do que os vídeos em si. Se não fizeram, alguém da área de
psicopatologias devia fazer um estudo sobre esse caso e sua reverberação
mórbida no YouTube. Bem, acabou o disco de Björk, vou ver o filme. Antes dar
umas baforadas e pegar uma Coca.
22h29. Acabei de ver Passengers.
Me desapontou um pouco, mas a produção é impecável. Muito bonito, mas não é
nenhum Interstellar ou Black Mirror for that matter. Entretém,
tem dois protagonistas carismáticos, mas é um filme raso em termos de ficção
científica. É mais uma história de amor. Pelo menos me deu mais confiança e
motivação para continuar escrevendo isso. Quem assistir, vai entender. Não que
minha vida seja repleta de aventuras e fatos que valham ser contados, mas é a
minha vida e a estou contando. Com que propósito? Realmente não sei. Mas há um
ímpeto, uma força que não sei de onde vem que me atrai para cá. É onde me sinto
mais eu, é quando me sinto fazendo minha pequena contribuição para humanidade.
É a minha ocupação, o meu trabalho, por assim dizer. Um trabalho que me
preenche e me dá prazer. Por essas razões já acho que seja válido. Mesmo que
ninguém leia. Aqui está documentada a existência de um ser humano, com suas
particularidades e manias. Um ser humano um tanto excêntrico. Um ser humano
bastante só. Mas que finalmente se sente bem acompanhado por si mesmo. Não
todos os dias, não todas as horas, mas a maior parte do tempo. E isso é bom e
válido, estar só e se sentir bem acompanhado. Sei que um romance acrescentaria
muito à minha vida, mas não sei se o eu de hoje ainda é capaz de viver uma
relação a dois tão profunda como um romance. Não me sinto preparado para isso,
entretanto, contraditoriamente, me sinto predisposto a isso. Sempre me senti.
Mas acho que o começo teria que ser bastante lento e gradativo para que eu me
reprogramasse do modo solidão para o modo vida a dois. Haveria uma série de
empecilhos, derivados da minha curatela e do jeito de ser da minha curadora,
então a pessoa que ficasse comigo teria que aceitar tais limitações. Ou me
ajudar a ter mais liberdade. Há ainda as minhas doenças da alma, incuráveis,
mas controláveis. Até certo ponto. Seria alguém que me apoiasse se eu recaísse,
o que sei que é pedir demais. Foi pedir demais no meu último relacionamento.
Mas alguém que visse a minha adicção com olhos menos bisonhos e neuróticos que
as pessoas que me circundam. Para estas, cada recaída é um desastre
desproporcional à realidade dos fatos. Mas é assim que elas reagem e são elas
que têm o controle da minha vida. Eu não controlo minha vida. Eu não tenho a
liberdade de ir e vir quando me aprouver, o que é um direito constitucional, se
não me engano. Eu não verei sentido em viver se for morar longe de todos que eu
conheço, na casa do meu irmão, nos EUA. Isso será me condenar ao isolamento
permanente. Não quero pensar sobre isso agora. Ainda há muito tempo de vida
para a minha mãe. Ainda posso conhecer um grande amor aqui em Recife. Não sei a
quem estou tentando enganar novamente. É claro que novo amor não vai surgir. É
claro que já estou vivendo o isolamento quase permanente, não fora pelo CAPS e
por meu primo-irmão. Isso me entristece um pouco, essa quantidade de tempo que
passo isolado. Graças aos céus tenho estas palavras para dar vazão ao monte de
nadas ou quase nadas que eu penso. Graças aos céus, posso conversar com uma
tela de computador, sentir meus dedos apertando as teclas é me sentir vivo.
23h03. Acho que vou me preparar para dormir. O pior é que, para variar, não
estou com um pingo de sono. Estou quase pegando o jogo do Yoshi para jogar, mas
é mais sensato deixar isso para amanhã. Deixar tudo para amanhã. Apenas revisar
este post e colocá-lo no ar.
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