segunda-feira, 11 de junho de 2018

TEASER


15h39. Escrevi três páginas antes dessa, mas as descartei. Não achei relevantes. Não estou gostando da minha nova regra, mas pelo menos toda vez me vem a minha amiga diretora à cabeça, o que é uma lembrança graciosa. Provavelmente não farei nada nesse domingo. Além de escrever, é claro. Vou pegar uma xícara de café, talvez a última.

15h43. Acho que ainda dá para mais uma, a xícara que estou usando hoje é menor. A vida que estou vivendo hoje é menor também. Há ainda dois sonhos, duas esperanças. E há a história da AT. Essa história vai ter um choque radical de realidade amanhã na sessão com Ju. Acho que ela já está prevendo a inevitável transferência afetiva.

15h56. O frio do ar agora me incomoda. A vida agora me incomoda. Estou sem motivações dentro de mim. Talvez tenha dormido demais. E a vontade é dormir mais ainda. Não me renderei. Não sei o que dizer, a vida é às vezes como roupa apertada, incomoda, é desconfortável. É desagradável. Que vazio enorme trago dentro de mim hoje. Maior do que as três páginas a que me confinei. Reclamarei desse confinamento enquanto não me adequar a ele. Confinamento que eu mesmo me impus na vã esperança de atrair mais leitores. Espero que não faça diferença. Pois daí volto a me dar o espaço de outrora. Mas hoje estou sem conteúdo até para preencher esse parágrafo. Estou meio para baixo. Ainda bem que amanhã há Ju. Por mais que ela vá me desiludir em relação à AT. O que é mais uma decepção na vida?

16h41. Falei com a minha irmã Munique pelo WhatsApp. Disse que viu o primeiro tempo em austríaco e o segundo em português brasileiro. Queria falar com mamãe, mas ela está dormindo. Não estou com saco de escrever. Vou poupar o seu tempo e o meu por ora. Vou fumar é um cigarro para ver se algo me surge. A imagem da minha amiga diretora ainda está na minha cabeça. Ela é uma pessoa marcante na minha vida. Sem dúvida.

16h53. Estou cansado de ficar diante dessa tela o dia todo. E não quero fazer nada que se aproveite. A AT, ah, a AT... como vou me decepcionar com esse assunto. Sempre posso recusar. Se não for do jeito que imagino, não quero. Simples assim. Eu estou no comando da minha vida e não vou me submeter a uma companhia que não me agrade. Não tinha pensado nisso ainda, na possibilidade de recusa, de não me submeter.

17h23. Estava fumando um cigarro e me lembrei de um dos papéis mais humilhantes a que já vi uma mulher se submeter. Foi no meu aniversário de 18 anos e me levaram a um puteiro. Nele, a principal atração, cujo codinome era Madonna, passeava nua em cima das mesas dos clientes e era alisada e abolinada por todos, eu que nunca havia alisado uma mulher nua aproveitei, mas não me deu prazer sexual aquilo, atiçou mais a minha curiosidade que a minha sede de sexo. Olhando em retrospecto, se passar por esse papel para garantir a subsistência é rebaixar-se de forma quase desumana. Mas cada um(a) traça o caminho de vida que lhe convém.

17h32. Nada me agrada hoje. Que tédio. Detesto esse estado de espírito. O que me animaria hoje? Uma resposta de Seu Raimundo ou até da incrível revisora. Nem isso me animaria muito. Acho que hoje nada me animaria. É, talvez Aurora. Mas Aurora não há. E não haverá.

17h45. Me perdi um tanto no Instagram. De que vale a existência sem sonhos ou aspirações? Sem um desejo que nos mova, faça querer seguir adiante? Eu não sei, sei que tenho meus sonhos e que tinha o desejo de escrever neste blog. Tudo me parece inalcançável agora e o desejo de me dizer aqui está reduzido por causa da redução de páginas. Isso não está me fazendo bem, é como se me tolhesse a liberdade de me dizer. É exatamente assim que se afigura, vou manter essa ideia de três páginas até quando aguentar. Não sei se por muito tempo. Por justamente ter muito tempo. Já estou na segunda página e muito pouco satisfeito. Acho que a vida se tornou menos interessante com apenas três páginas para escrever por vez. Não adianta fazer isso e postar múltiplos posts. Ou adianta? Veremos. Não posso me sentir preso na única coisa que me liberta. É pesado demais existir assim. Sem a liberdade das palavras. Será que agora posts grandes também serão trancafiados no Vate? Saco. Estou com imagens do Instagram na cabeça. Isso não é ruim. É só. Vou fumar e botar Coca.

18h12. Há uma coisa que eu queria gritar para o mundo, mas não posso. Não é tempo ainda. Talvez nunca seja. É, talvez nunca seja, o que significará, por conseguinte, que os meus sonhos não se realizarão. Me incomoda mais agora o limite de três páginas. É uma camisa de força que coloco em mim mesmo. Mas parece que está funcionando, o meu novo post que anuncia essa mudança já está com 16 visualizações. Nossa, que tédio monstro. Mas estava me lembrando, enquanto fumava e pensava a respeito, que já passei por situações e estados de espírito muito piores e sobrevivi, isso é fichinha. Já cutuquei a morte bem de pertinho. Porém, em continuando esse tédio, a coisa se tornará preocupante. Ainda bem que amanhã tenho Ju. Anseio por esse encontro, ao mesmo tempo que o temo. Mas mais anseio que temo. Ela vai querer cortar as minhas asinhas em relação a AT. É claro que quero ter uma certa erotização da relação, como disse muito bem a minha amiga diretora que tão presente está nos meus pensamentos. Essa possibilidade reprimida da erotização da relação me é suficiente para torná-la – a relação com a AT – desejável para mim. Sem isso, toda a graça se perde. E é essa graça que não cheira bem a Ju. Que é o que ela vai questionar e sua grande preocupação, eu suponho.

18h35. Queria que mamãe e meu padrasto fossem ao shopping, queria estar completamente só. Tomara que aconteça. Seria uma mudança. Me sentiria mais livre, coisa que agora a escrita não está me proporcionando. Acho que já passei da metade do post. Começou a tocar Faith No More na lista 6, saco. Não estou com clima para isso. Não estou com clima para nada, profundamente entediado. Vontade de dormir e esquecer da vida, que estou vivo. Que nada se dará como eu espero. Nem a AT, nem os meus sonhos. Estou condenado à frustração. Serei sempre meio ser humano. Sem uma obra e um amor concreto. Como transformar essa provável realidade em algo diferente eu não sei.

18h47. Fui pegar mais Coca. Poupar palavras porque não encontro o que dizer.

19h05. Pelo visto, o casal vai ficar em casa. Eu vou comer uma fatia de algum dos bolos que estão na geladeira.

19h10. Comi uma farta fatia do delicioso bolo-pudim. O casal ainda está no quarto. Não sei qual vai ser a deles. E agora tanto se me dá. Estou indo pegar mais uma fatia do bolo-pudim.

19h19. Não dá vontade de parar de comer. O próximo ataque vai ser ao cheese cake. Parece que não vão sair. Nossa, que ozzy. Vou fumar um cigarro. E vou guardar o restinho de espaço que disponho para quando tiver algo de mais produtivo a dizer.

20h11. Estou na piscina ouvindo “Bastards” de Björk. O clima mudou, meus ares também. Fumando um cigarro escrevendo. A beleza feminina, como a julgo bela, é algo divino, encantador, praticamente mágico, repleto de fantasias e projeções. Poder apreciá-la existindo é uma dádiva, enamorar-se de uma, se for uma pessoa legal, se os dois se apaixonarem, se admirarem, é um dos principais ápices da existência humana. Lembrei da minha amiga diretora agora, mas ela está com um semblante preocupado a mão comprimindo o lábio inferior como costuma fazer quando pensa ou apreende algum assunto. Um belo cacoete, mas seu olhar, é de preocupação. Um leve e rápido choque e preocupação se formam em seu rosto simultaneamente, e eu sei porquê. Ela ainda não sabe. Não queria que isso acontecesse, mas se o sonho um se realizar, tornar-se-á imperativo. Acendi outro cigarro. Pensei coisas indizíveis aqui. Se você quiser saber o que lhe causará tal choque torça para o “Diário do Manicômio” ser publicado e talvez até você tenha a mesma expressão em seu rosto. Talvez de choque e raivosa repulsa. Sabe-se lá. “Tô te devendo uma, viu?” Será que chegarei algum dia ter a ousadia de cobrar?

20h47. Não sei por que me decidi me levantar e ir jogar as guimbas de cigarro no lixo. Acho que era a poluição visual. Olhar para aquilo me incomodava, ainda mais depois das imagens mostradas pelo meu amigo da piscina. Ozzy. Björk agora, nessa música em questão, não me agrada muito. Mosquitos fazem a festa na minha perna, mesmo assim, prefiro estar aqui, onde estou mais livre para a escrita, num ambiente que tem a amplidão do céu. No chão da cidade, só que separado do público por muros e grades, mas é a mesma cidade, afinal o privado também faz parte da cidade. Chão recifense. Mas eu prefiro chão da cidade, gosto por ser mais impessoal e misterioso; recifense me lembra logo as manifestações culturais de Recife e Pernambuco, muito propaganda de turismo do estado, não me agrada. Prefiro essa coisa impessoal e, para mim, nesse momento mais noturna da cidade; é mais fria, é mais de cimento, concreto, carros, superlotação de carros, um inferno. Bem, cá estou no chão da cidade a escrever, já fiz uma profecia, aliás, duas se o livro se concretizar. Nossa, essa parte de Björk é transcendental.

22h46. Estava no meu projeto paralelo. Foi bem produtivo hoje. Tratei de vários assuntos, dei uma desabafada. Sobre o que penso agora? Não pensava em muito, ainda reminiscências do outro projeto. Vou botar o “Medúlla” para ouvir. “The Pleasure Is All Mine” de estar aqui tecendo essas palavras. A terceira página está para acabar, eu suponho. Tomara que não. É muito invocado esse “Medúlla”.

22h55. Me perdi ouvindo o disco. É fenomenal, genial. Obra-prima. Um diamante da discografia mundial, clássico, atemporal. É magnífico. Não tenho adjetivos. Talvez seja mais significativo criativamente falando que o “Disintegration” do The Cure e eu amo esse CD demais. Talvez até hoje seja o que amei mais, mais completamente, amei com a alma, é um diamante que está encrustado na minha alma. Mas acho musicalmente mais criativo, ousado, inovador o “Medúlla” de Björk. Esta página três é longa. Sobre o que falar. Estava relembrando a bela Björk, a de antes das máscaras. Que a transformaram numa freak para mim. Não é agradável de ver. Não gosto. Há algo de macabro naquilo. Talvez seja algo ancestral, já que havia tantas máscaras no passado em tribos africanas e indígenas. Será que posso ter isso escrito nos genes e ter-me sido trazido do genoma do meu pai ou da minha mãe ou de ambos para aparecer em mim, estar impresso na cadeia de DNA do cérebro essa memória ancestral de repulsa a máscaras? Ou eu o apreendo do inconsciente coletivo que traz nele traços ancestrais da humanidade? Ou é uma fobia que desenvolvi na infância e ficou mal resolvida para mim? Não sei e talvez nunca saiba, o fato é que acho aquilo de Björk muito esquisito. Acabou a página. Vou me delongar só mais um pouquinho. Ou não? Já me desconectei do outro projeto. Começo outro post, né? Melhor. Manter a regra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário