quinta-feira, 21 de junho de 2018

MULHERES DA/NA MINHA VIDA


15h02. Vou tentar começar de novo, nada do que escrevi hoje me agrada. Estou desagradado de escrever, eu percebo. Percebo que há um desconforto maior. Uma inconformidade com a minha vida. Não estou tão mal como ontem, mas continuo sem vontade de fazer nada. E preciso ir pegar as coisas na casa do meu amigo que está em Lisboa. Eu vou lá. Resolvido isso me sentirei mais leve.

15h19. Peguei as coisas lá na casa dele. Espero que caibam. Eu acho que estou nesse estado de espírito por conta do encontro que vou ter com a incrível revisora, queria protelar isso. Não queria enfrentar isso, não queria materializar isso, não queria que meu livro chegasse tão perto da realidade. E não sei se é esta a causa do meu humor – ou falta de humor – tampouco. Sei que hoje está melhor do que ontem. Não queria viajar também, mas isso me incomoda menos. Pelo menos agora. E ainda tem o problema da transferência do dinheiro, que não me incomoda tanto pela transação, mas pela reação da minha mãe em relação a isso. Não sei por que continuo escrevendo esse blog e isso me incomoda profundamente. Não vejo sentido em continuar com uma empreitada que não vai dar em nada ou em muitíssimo pouco.

16h05. Agora que me dei conta do óbvio, eu não tenho obrigação nenhuma de escrever isso todos os dias, a não ser a que me imponho. Não existe lei ou mandamento demandando que eu escreva e eu não preciso fazer isso se não estiver me dando prazer. Sentimentozinho ruim me bateu agora em relação à viagem. Mas vai ser uma mudança de ares, uma renovada na minha rotina. Lembrei agora por que meu irmão me deu um esporro, porque tomei a Coca toda rapidamente. Lembrei disso porque pretendo tomar muita Coca cereja na Alemanha. Minha vida é tão simples, por que estou tão desgostoso dela? Sonhos. Sonhos que não vão se concretizar. Estou deprê por causa disso, eu acredito. Meu destino é solitário e vazio de significado. Foi o que escolhi para mim e não sei como escolher diferente. Não sei o que escolher de diferente. Nem a AT me anima. Estou com medo de estar entrando numa crise depressiva. Acho que vou tomar um longo banho quente novamente. Não estou com ânimo nem disto. Cortar as unhas, isso é importante. Isso em verdade é irrelevante para o grande esquema das coisas, mas para o meu cotidianozinho de merda, ganha uma dimensão que não lhe cabe. Não queria resolver as coisas do meu livro nesse estado de ânimo. Não queria fazer nada nesse estado. Podia me deitar na cama e prostrar, mas não quero isso também. Acho que vou fumar o meu último cigarro com o resto do suco de cajá e tomar um longo banho bem quente. São as duas únicas inclinações que me agradam.

16h38. Nem para o banho eu tenho coragem. Está um dia feio, cinzento e chuvoso. Dentro e fora de mim. Temo realmente estar entrando em depressão. Vou tomar o banho.

21h32. Tomei o banho e me deitei até agora. Cansei de cochilar e acordar, mas estou sem paciência para todo o resto. Será que essa coisa toda é só por causa da revisão do livro? Só de pensar nisso me dá uma coisa ruim. Não quero escrever. Não agora. A vontade que tenho é tomar outro banho quente e me deitar de novo. Estou com fome, o que é um bom sinal. Não posso estar entrando em porra de depressão. É como se eu tivesse cansado de enfrentar o mundo. Ele ganhou, admito, então me deixem quieto aqui.

-x-x-x-x-

10h32. Acordei por cerca de uma hora ontem, tomei uma dose reforçada de ansiolíticos e soporíferos e fui dormir de novo. Acordei com despertador às 10h00 por que Ju é hoje ao meio-dia. Minha mãe acha que estou assim por causa do livro. Eu também.

10h52. Portugal vai ganhando de 1 a 0 do Marrocos. Que pena. Gol de Cristiano Ronaldo, pelo que meu padrasto disse. O homem é mesmo diferenciado, pois até onde eu vi, o Marrocos estava jogando melhor. Tivera eles um Cristiano Ronaldo, o placar poderia ser bem diferente. Mas não têm. Chega a hora de me aprontar para ir a Ju. Estou com um ânimo bem melhor agora. Ainda bem. Narrarei, entretanto, os meus dois dias de depressão. Eu não posso me furtar a escrever pensando no que vão achar. Se sair um post ruim, que saia. Não devo nada a ninguém. Essa é uma postura bastante diferente da de ontem, em que escrevia buscando o aplauso do público. Minha vida é vazia, é de se supor que surjam posts vazios, é assim que se dá. Foi assim que sempre se deu. Mas ontem não tinha prazer nenhum em escrever, não tinha vontade de nada. Hoje acordo outro. Bem melhor. 11h01. Vou tomar um café, fumar um cigarro e me aprontar para ir. Escrevo quando voltar de Ju.

13h37. Voltei de Ju e, embora esteja me sentindo combalido fisicamente, como se com uma doença, volto com um astral muito melhor. É muito bom trocar uma ideia com ela. Contei da história da noite da Garota da Rabeca. Contei da minha aflição com a incrível revisora, da minha apreensão com a viagem. Dos dois dias de, bem dizer, depressão que passei. Estou de alma mais iluminada, mais leve, embora fantasmas ainda me rondem. Ah, falei das duas ATs que eu aceitaria como tais. Combinamos de deixar essa parte para a volta da viagem. Penso em ir para a Casa Astral no sábado só para ver se avisto a Garota da Rabeca e por mais nada. Seria ótimo que meu primo-irmão encarasse de novo. Acho que não vai, acabei de descobrir que o ingresso custará astronômicos 40 reais. Mas eu vou, só por conta dela. Quero saber em que a história do blog deu. Isso vale 40 reais para mim. De todo modo perguntei ao meu colega organizador se não vai ter lista amiga, o que baixaria o preço para 20 reais. Mas estou disposto a encarar a Casa Astral para ver em que deu a minha cutucada na realidade. A minha ousadia. Aposto que a Garota da Rabeca vai me repelir. Mas quero pagar para ver. Quero um desfecho para essa história. Outro desfecho vai ser amanhã com a incrível revisora. O início de um novo ciclo para o livro, que terá de ficar em suspenso até a minha volta. O início do ciclo da viagem. Nossa, como não queria enfrentar a viagem. E talvez o início do ciclo com a AT após a viagem, que pode ser a que mais desejo. Disse a Ju que era muito bom trocar uma ideia com ela. E é. Enfim, tempos de mudança devem estar me causando esse torvelinho na alma. O livro é uma coisa na qual eu coloco muita carga emocional, onde me mostro inteiro e é de relevância fundamental na minha vida. É a grande obra que eu tenho. Então ele tem uma dimensão imensa repleta de significados marcantes e contraditórios e, por isso, estou com muito medo de enfrentar a incrível revisora. Ela pode detonar a minha obra. Tenho muito medo disso. De ela ser a parteira que vai abortar o meu grande sonho. Mas, adulto que sou, pelo menos em idade, tenho que enfrentar esse dragão, que pode se revelar um São Jorge. Sei lá. Sobre a viagem, se estiver achando ruim, me escondo nas palavras. Sobre o meu tio, comunicar-lhe-ei sobre o final da revisão e que é chegada a hora da sua ajuda, mas que se ele quiser debater comigo só após a viagem. Mas first things first. Preciso me preparar para encontrar a minha amiga revisora amanhã. Estou me sentido mais tranquilo, mas ainda inseguro a respeito disso. E a viagem já faz sombra no meu dia. Estou tão descostumado com mudanças que chego a desgostar delas. Acho que a minha depressão relâmpago foi causada em grande parte pelo dia de amanhã. Ju me perguntou por que eu estava tão frágil. Eu confessei que não sabia. Mas que era assim que me enxergava, frágil. Ela disse que se quisesse poderia lhe mandar e-mails.

15h10. Fiz uma coisa que me devia há muito tempo. Ligar para Maria. Tenho que lembrar de ligar no sábado para lhe desejar os parabéns. Seu aniversário é no sábado. Estou com essa ideia forte de ir à Casa Astral. Acho que irei. Eu sinto necessidade de ir. Pôr um ponto final na história, não deixar esse arco incompleto. Ascensão e queda de uma ilusão. Ou quem sabe o destino não me sorria. Acho difícil. Sei que quero descobrir. Mas já redundo aqui.

15h35. Descobri que vai ter um prêmio da Amazon para melhor livro-reportagem com premiação de dez mil reais e possibilidade de ter o livro impresso pela Editora Record. Não sei se o meu livro se enquadra nessa categoria. Li o edital e achei que poderia se enquadrar, vou perguntar à incrível revisora amanhã. Afinal, ela é jornalista e deve saber o que é um livro-reportagem. De todo modo, não apelarei para isso antes da intervenção do meu tio. E de tentar outras editoras. Ju me perguntou sobre a viagem estar bem no meio dos meus planos. Disse que isso me incomodava bastante, mas que não havia nada que eu pudesse fazer. Estou quase com vontade de ir para o Rock in Rio Lisboa. Acho que vou. Falar com a minha mãe antes de confirmar com o meu amigo que está lá. Estou ficando mais animado com a viagem. Isso é ótimo. Pelo menos estou animado com a parte de Lisboa. Alemanha, eu ficarei escrevendo. Sairei só para o supermercado e para a Marienplatz não pretendo ir muito, prefiro ficar em casa a escrever.

16h16. Minha mãe fez uma infiltração na perna hoje e está em dor excruciante por causa do procedimento. E há a história da transferência. Espero que ela consiga realizar isso antes da viagem. Se viagem houver caso a situação continue assim. Nossa, mamãe tem sofrido muito. Ela não merece isso. E das profundezas do meu egoísmo eu penso no forró do sábado. Espero que essa dor da minha mãe melhore. Estou tenso com o sofrimento da minha mãe. Imaginando como será capaz de realizar essa viagem. Como conseguiremos. Que ozzy. Agora foi uma mudança radical de ânimo. Ver minha mãe chorando de dor e frustração é forte para o meu juízo. Eu acho que uma pessoa para me entrevistar ou umas das pessoas a me entrevistar, poderia ser a minha mãe. Seria um passatempo útil para ambos. Estreitar laços. Não sei. É um caso a se pensar. Não consigo pensar em nada direito. Estou preocupado com minha mãe durante essa viagem. Acho que vou fazer o que quero fazer.

16h49. Voltei. “Landlady” toca, a parte mais bela da música. Passei por minha mãe e não sei se dormia, mas sua expressão era de dor. Eu não entendo por que ela, logo ela, está tendo que passar tamanho sofrimento. Por que não eu? Eu que me desloco tão pouco. Ah, minha hora vai chegar, né? A idade me aleijará ou me prejudicará de forma bastante dolorosa, né? Meu padrasto chegou. Para cuidar da minha mãe. Eu não sei que papel desempenhar agora. Na dúvida, fico encastelado no meu quarto e no meu templo de palavras. Ou meu castelo de palavras que vou erigindo diariamente. Ou quase. Escrevo todos os dias, mas nem todos os dias vão para o blog. Eu pensando nisso e minha mãe em dor e desespero, às vésperas da viagem no outro quarto, quer mais egoísmo que isso? Não sei mais o que possa oferecer em nome do meu egoísmo. Acho que continuar escrevendo aqui e tomando Coca-Cola seja o mais acintoso e egoísta que eu posso ser na situação, então a realização disso é a prova em si do meu egoísmo. Meu padrasto disse, “eu vim para ficar com você”. Olhe a diferença de atitude. Se bem que eu já ouvi o desabafo desesperado de mamãe, em prantos, e com cuidado e paciência a ajudei a ir ao banheiro e deste para a cama mais alta. Ajudei a colocar o travesseiro embaixo do joelho, peguei o aferidor de pressão, o negócio de cobrir os olhos, a bolsa, o celular e peguei um copo d’água e disse para qualquer coisa ela me ligar que eu a atenderia. Fiz tudo o que podia e me pus à disposição. E agora escrevo estas egoístas palavras. Que de nada tratam senão do meu ego, seus anseios, suas vergonhas, suas culpas, raramente suas belezas. Ao pensar nisso, me vieram duas pessoas, uma é a Garota da Rabeca, a outra, só lendo o livro, se este vier a ser publicado. Divulgarei. Divulgarei em todos os grupos dos quais participo o link para comprar. E aí serei enganador e colocarei os slogans entre aspas, sugerindo que são citações de alguém ou algum lugar. Na época de Fake News, isso é o mínimo. O final do copo de Coca me desceu quadrado. Será que mamãe contará ao meu padrasto da ajuda que dei? Ao me despedir da minha mãe, eu disse, eu estou aqui para isso. E agora o meu padrasto assumiu a responsabilidade, o que lhe faz bem ao ego. Espero que mamãe melhore. Espero muito. Se pudesse pedir a Deus que transferisse o problema dela para mim, eu o faria. Faço, Deus, transfira o problema físico de mamãe para mim, eu lhe rogo. Agora, nesse momento, transfira. Mas eu não acredito em Deus e talvez por isso, ele não opere esse milagre para mim. Ou, para os espíritas, esse é o carma dela, não meu. Lembro da incrível revisora e eu perguntando, se eu devo um sorvete ou ela me deve um cigarro. Apostei com ela que ela me repudiaria como pessoa por causa do conteúdo do livro, ela disse que sabe separar autor da obra. Seria muito ozzy se ela me dissesse que deve a carteira. A verdade é que estou com medo de enfrentá-la amanhã. Vou pegar Coca, fumar um cigarro e averiguar como está o comportamento da casa.

PORTA SEMICERRADA

17h27. Meu padrasto está no seu escritório com a porta semicerrada para ouvir mamãe e esta está com um semblante tranquilo aparentemente dormindo. Bom. Ótima situação. Mamãe sente algum tipo de alívio. Eu percebi que eu prefiro esse jeito de ser que a realidade nua e crua, em alguns aspectos. Faço projeções negativas a respeito da reação da Garota da Rabeca. Por que eu só faço projeções negativas em relação a como me revelo? Seria isso uma péssima relação com a autoimagem? Que eu me vejo de uma forma muito deformada? Eu creio que tenho a precisa medida de quem sou. E não julgo que pese muito. Eu acho que sou um completo desperdício de átomos. Eles poderiam se organizar em coisa melhor, mais útil, mais proveitosa à própria existência. Eu não sirvo para nada e nada faço senão escrever sobre mim.

17h41. A realidade me incomodou agora na forma da cobrança da transferência. Contei toda epopeia da minha mãe ao cobrador. Lembrei que falei com Maria hoje. Nossa, como a amo. Ela é a minha infância e início de juventude. Quando eu era mais feliz. Nas férias em Areias. É uma pessoa que só me traz coisas boas. Já Areias foi maculada pela Cola. Seria o único lugar do mundo onde eu cheiraria cola de novo. Ou cheirarei um dia, que sabe. Nada está sacramentado. Mas tenho que ir sozinho. É uma experiência só minha. Queria passar meus últimos dias em Areias. Seria ótimo. Este post está um pouco mais extenso, mas estou me permitindo isso. Hoje é um dia sui generis. Ju, minha mãe, os cobradores de favores (vivemos numa sociedade tão imediatista), véspera do encontro com a incrível revisora (ainda com muito medo), descoberta da possibilidade de ver a Garota da Rabeca (mas ache que só deva interagir com ela se ela vier falar comigo, se cruzarmos olhares e ela virar a cara, acabou, não surtiu o efeito esperado ou então, se ela não me vir, eu vou lá perguntar a ela). É muita coisa na cabeça, em uma palavra. E não quero perder de narrar nenhuma delas. São as coisas que ocupam a minha mente agora. E a viagem. Putz. Acho que vou curtir Lisboa com o meu amigo e escrever na Alemanha. Mas já disse isso.

18h10. Mamãe narra ao meu padrasto o seu dia do momento da injeção até sabe-se lá quando. Bom, falei com ela, parecia menos em dor, comuniquei-lhe que planejava ir num dos dias para o Rock in Rio Lisboa, ela disse “vá” com jeito de “vá, se jogue, viva, curta Lisboa, não fique enfurnado no hotel a escrever, aproveite um pouco a vida, socialize”. Eu imaginei agora, veja que viagem, eu com o meu amigo de Lisboa no Rock in Rio e duas gatas estrangeiras sozinhas. Meu amigo diz, vamos se chegar nessas gatas. Eu concordo. E imaginei uma conversação, mas não tenho paciência para narrar. Eu acho que vou levar uma grana para comprar uma camisa do Rock in Rio Lisboa para usar na night. Eu curtiria. Eu acho que eu vou criar coragem para ir à Garota da Rabeca e perguntar se tinha lido e o que achou com sinceridade. Seria bom se ela me respondesse. A opinião dela é muito importante para mim. Afinal ela é o tipo de garota que eu arriscaria namorar. O tipo perfeito, garota dos sonhos sabe? Você não gostaria de ouvir a garota dos seus sonhos responder sobre um texto seu, mesmo que o desagradasse o que ela dissesse? Eu sim, eu arriscaria. Será que ela leu? Preciso ir no sábado para descobrir tudo isso. Espero que ela esteja lá e se disponibilize a isso. Seria de suma importância o aprendizado. Lembrei da minha mãe. Estar sempre pensando nela é estranho e justificável porque mãe e porque enferma e porque véspera da viagem, ou seja, preocupação. Preocupação é o tipo de pensamento que fica latejando na mente, como problema, muito semelhante à problema. Vou pegar Coca. É bonito ver um casal há vinte e cinco ou mais anos deitados juntos conversando ou cochilando. É amor, eu acho. Acho que se amam e há uma interdependência, uma troca, uma ajuda o outro em diversos aspectos, por exemplo, mamãe provém comida, limpeza e organização da casa, meu padrasto cuida das finanças dela, por exemplo. E ambos se dão suporte. Ficção. Meu padrasto me chama de o problema ambulante quando em particular com a minha mãe. “O problema ambulante está até calmo, deixa ele lá escrevendo, pelo menos não está criando problema”, por exemplo. Ou “o problema ambulante ajudou você, foi?” FIM.

18h40. Eu senti vontade de colocar palhaço ambulante, mas isso é como me vejo, uma pessoa ridícula, não é ficção. Já estão discutindo. Não me sinto sempre ridículo, o sábado na Casa Astral me provou isso. O que coroaria isso seria a Garota da Rabeca vir falar comigo e me agradecer pelas palavras. Isso me faria me sentir totalmente não-ridículo. A opinião dela me importa deveras, acerca das minhas palavras. Da minha pessoa. Se serviram para atrair ou reprimir. Como sempre penso o pior, acho que ela vai me repudiar. Me evitar até. Se me sobrar um pingo de coragem, apesar do desprezo eu vou lá perguntar. Eu acho que ela me deu o direito de saber já que disse que ia ler. Estou com alma levemente desconfortável. Acho que mergulhar tanto num assunto me cansa. Estou dando importância demais a isso. Mas numa vida sem eventos como a sua, isso é um grande evento. Obrigado superego, que às vezes motiva, mas é raríssimo. Ele só vem para me criticar.

19h04. “Landlady”. Que sorte! A existência me proporcionou com um momento/diálogo que me fez cair na risada. Cena um: eu passo no quarto para saber se mamãe está melhor, ela diz que está com fome e pensa numa fruta que não banana. Eu sugiro tangerina. Ela ficar surpresa de ainda ter e aceita sugestão. Cena dois: eu entro na cozinha e meu padrasto espera algo no micro-ondas eu me dirijo à geladeira pego a fruta e pergunto ao meu padrasto só para ter certeza se é tangerina. Ele confirma. Close nas mãos lavando a tangerina com água corrente. Ouço o bipar do micro-ondas, meu padrasto fala “para a sua mãe” eu olho para a sua mão e há um pratázio de bacalhau com arroz. Cena 3: estou prestes a entrar no quarto, vejo meu padrasto tentando fazer com que mamãe coma o bacalhau e retrocedo. Ouço todo o diálogo de insistência e negativa às sombras, com o prato com a tangerina na mão, uma vontade de me estourar de rir e sem saber se entro ou dou mais uma chance ao meu padrasto. Não consigo me segurar e rio, duas ou três vezes, minha mãe já pegando ar com meu padrasto. Nesse ponto entro no quarto e entrego a fruta a mamãe. Depois fui fumar um cigarro, onde ri mais lembrando o episódio. Ainda no hall, conversei com minha tia-vizinha, dei o ninja e vim para cá. Estou quase indo fumar outro. Daqui a pouco.

19h24. 19h30, eu vou. Eu acho. Acho que este post está grande demais. FIM.

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