terça-feira, 12 de junho de 2018

DIA DOS NAMORADOS II


Dia dos Namorados
Solidão maior que o céu sem estrelas
Queria chorar, mas não tenho lágrimas para tanto
Então me reduzo, me encolho, me desalmo
Eu não sou ninguém
Ninguém que mereça ser amado
Ou amado eu seria
Esta é a fria e dura lógica
E ela fere e lateja especialmente
Neste Dia dos Namorados
Capitalismo idiota
Que mexe com o meu coração idiota
Coração das impossibilidades
Coração das frustrações
Coração de alguém que pouco coração tem
Para poder repartir com os demais
Estou mofando na solidão
Apodrecendo por fora e por dentro
O tempo passa em vão
Rumo à morte, eu sigo desejoso dela
Que me chegue logo, que me chegue antes
Mas chegará no momento mais indesejado
Quando eu tiver razão para viver
Enquanto não encontro e não avisto possibilidade
Quando tudo o que vejo são impossibilidades
Casais se amotinam por um lugar à mesa dos restaurantes
Ou das camas de motel
Casais renovam os votos de amor
Um casal de velhinhos celebra
E eu, cada vez mais velhinho, remoo a solidão
De que serve a minha existência?
De que serve ter o amor maior do mundo
Se não há a quem oferecer?
Tanto desperdício
Uma pessoa que não se considera gente
Um aborto que vingou
Num ser humano goro
É, a existência é irônica
Dia dos Namorados
Celebro uma década de absoluta solidão
E um dia mais que perfeito
Que não se apaga de mim
Que não me desapega
Um dia amor pleno, completo e puro
Um dia que vale toda a solidão que agora experimento
Um dia que mudou a minha vida
Um dia que não deveria ter existido
Pois assim não haveria esperança a carregar
Pesada esperança, vã esperança
A esperança de um desesperado
Uma esperança que é quase desesperança
De tão ridícula, de tão infantil
Eu sou uma criança ridícula e sozinha
Num quarto cheio de brinquedos
Cansado de brincar com eles
Dia dos Namorados
Ano que vem tem mais
E assim, sucessivamente
Até depois de mim
Depois de mim
É onde desejo estar hoje.

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