18h24. Bem-vindo! Pode entrar a casa é sua. A casa é minha,
em verdade, mas as portas estão abertas ao mundo. Quem quiser espiar a minha
vida estará a vendo de uma posição privilegiada daqui. Aqui é onde passo a
maior parte dela. Eu sonho ser escritor, como a borboleta que sonha ser um
homem. Eu sou uma borboleta que escreve. O fato de escrever não me diz escritor
em nenhum momento. Acho que para ser escritor falta alguma coisa que não
possuo. Que coisa seria essa? Reconhecimento. Não o tenho e não sei como
alcançá-lo. Penso em publicar um livro, mas como já disse, isso não me fará
escritor tampouco, a não ser que alguém que julgue meritório declare que eu
mereça ser publicado e isso é muito difícil de acontecer. Tentarei. A
existência pode me sorrir ou Deus escrever certo por linhas tortas, como
queira. Não acredito em Deus. Não no judaico-cristão. Meu deus é material,
tecnológico, mas já tratei demais desse tema, não estou disposto para ele no
momento. E como a partir de agora só tenho três páginas por post... eu que
estava tão bem aclimatado às sete que costumava escrever. É um corte
significativo na busca desesperada por mais leitores. Cada palavra conta e
ganha um peso maior com essa redução de espaço, é preciso concentrar as coisas
para que caibam aqui. Ainda estou pensando sobre a AT e no que Ju, minha
psicóloga vai querer armar para cima de mim. Aposto que esse negócio de AT vai
ser uma grande decepção. Estou com expectativas negativas a esse respeito
agora. Sei que Ju vai querer de todas as maneiras evitar alguém por quem eu
possa ter uma transferência afetiva. E tudo o que eu quero é justamente uma
pessoa por quem eu possa ter esse tipo de transferência. Acho que ela está em
um empasse. Quero entregar uma rosa no primeiro encontro que tiver com a AT.
Acho que já disse isso, mas acho que ninguém leu. Você, se não for minha tia,
não leu. Quero para causar uma reação e a desculpa é que faz tanto tempo que
não faço uma gentileza a uma dama que gostaria de começar a nossa relação
terapêutica com uma. Aproveitar e comprar uma para mamãe também, ela merece. É
também uma gentileza que não faço com muita frequência. Deveria fazer mais. Não
apenas por conta da AT. Se AT houver. Acho que vou receber uma aula sobre o
papel da AT de Ju na próxima sessão. Ela vai querer me conscientizar de todos
os limites e “poréns” da relação AT/paciente. Como se eu não soubesse ou
imaginasse. O problema é que eu sou um transgressor. Adoro dobrar ou burlar
regras. E certamente se a AT for jovem, bonita e legal, eu vou me apaixonar e
certamente tentarei burlar as regras. Com todo o cuidado e respeito do mundo.
Por tudo isso, acho que Ju vai me recomendar uma lésbica. Se for jovem, bonita
e legal está valendo. Não vai ser nada do que estou imaginando, já sei,
superego. Vai ser uma coisa fria e impessoal. Se for. Bom, coloquei Ju meio que
encurralada. Pedi que fosse jovem, mulher e que não fosse nenhuma baranga,
depois acrescentei que não curtiria que fosse lésbica, até que sugeri uma
pessoa específica que me passou pela cabeça.
Detalhe do quarto-ilha I. |
19h36. Estou sem assunto, então é melhor poupar palavras.
Recebi uma curtida do meu último texto. De um homem dessa vez, o que é raro. Se
eu tivesse uma namorada e fosse vítima de uma pegadinha de João Kleber, dessas
que a mulher fica praticamente nua na frente do casal, e minha namorada
perguntasse o que é que eu estava olhando eu responderia, eu estou olhando uma
prostituta se passando por um papel ridículo, sem querer desmerecer as
prostitutas, mas para mim quem vende o corpo por dinheiro atua nesse ramo. Me
deu até uma leve vontade de assistir as pegadinhas, pense num negócio que
absorve a minha atenção, por mais que sejam variações do mesmo tema. Escolado
após ver tantas, eu dificilmente cairia em alguma, só na de sustos ou de jogar
algo na minha cara. Pobres coitados os que caem e os que passam por esse papel
ridículo de pegar (pesado) os outros. Acho que vou assistir. Ainda estou na
primeira página, realmente estou sendo consciencioso com as palavras. E com
medo de iniciar outro parágrafo e perder uma preciosa linha. Hahaha.
20h50. Meu primo-irmão me chamou para ir no Seu Vital, eu
creio. Não estou com muita disposição, não aguento duas noites seguidas. E se
só forem ele e a atual amiga de baladas, eu não terei o que conversar com ela e
ela parece me evitar, então vai ficar um clima estranho.
21h11. Meu primo não me respondeu mais. Já ia elucubrar, mas
não quero gastar palavras em vão. Essa constipação de palavras está me
incomodando. Vi os vídeos de João Kleber e cada vez eles parecem mais do mesmo.
Minha prima caçula foi com a minha avó ao jardim botânico, fiquei emocionado
com as fotos. Elas dizem muito para mim. De uma coisa que não me sinto
disponível para fazer e que talvez fosse muito boa para o meu carma. Só que não
acredito em carma. Falei com o meu primo-irmão e resolvi ir para o forró do Seu
Vital. Disse a meu primo que saio já-já.
Detalhe quarto-ilha II |
1h47. Estou de volta e devidamente instalado no meu
quarto-ilha. Mas preciso tomar os remédios, dang!
A primeira coisa que me vem é que os papéis profissional e paternal ou, mais
ainda, maternal, são neurotizantes. Que o meu papel totalmente voltado para a
escrita ao mesmo passo que é libertador é altamente neurotizante, eu abdico de
quase tudo para escrever. Escrever, beber Coca ou café, fumar eventualmente,
vaporizar e escrever, e escrever, e escrever. Isso me soa como uma rotina
bastante limitada e limitante. Mas adoro, amo quando estou inspirado para
escrever, me realizo aqui nas palavras, me divirto, me revelo, me exponho, me
mostro. Mas eu tenho que me mostrar é para o mundo real. Eu sei que isso é
real, mas, além de ser pouco lido, por desconhecidos na maioria das vezes, o
que é uma benesse tremenda, pois me sinto mais livre. Embora seja lido pela
minha mãe, minha tia irmã da minha tia-mãe e esta. Algumas mais eventualmente
que outras. Mas, por incrível que pareça, já me acostumei. E posso comunicar,
quando quero, diretamente para elas. O que penso dessa noite que passei no Seu
Vital? Quando tive a oportunidade de me mostrar para o mundo real? Emiti
opiniões, os que é raro, quando discutimos acerca de por que estávamos achando
que o tempo estava passando mais depressa, porque tínhamos essa impressão, eu
expus que achava que era devido ao conhecimento maior de estímulos e por mais
tempo tanto que a maioria dos estímulos nos passa despercebida porque banal,
corriqueira. É necessário algo muito marcante, um encontro com a minha amiga
diretora, por exemplo, como ela muito bem citou. Bati um papo. Fiz um monólogo
lá no grupo de encontros do WhatsApp agora, foi embaraçante. E divertido.
Estava saudoso de todos. É um grupo muito precioso para mim. Acho que vamos
colocar o nosso primo urbano no grupo que é composto pela minha amiga
psicóloga, minha amiga diretora, meu amigo cineasta e o narrador disso aqui.
Mas voltando a horas antes no Seu Vital, que estava muito mais lotado que das
demais vezes, pessoal animado, curtindo estar ali, eu estava curtindo estar
ali, estava cheio de amigos e especialmente estava a minha amiga diretora que,
pelo que entendi, acha que os nossos encontros são uma conversa de uma vida,
não importa se no futuro ou no passado ou no presente, é uma relação de uma
vida com a outra. Não sei se eu bote música, o silêncio está tão bom. A fome dos
remédios está batendo. Acho que vou atacar. Não comi nada hoje. Para não dizer
que não comi eu botei num prato de sopa raso, os vegetais assados e comi. Vou
agora num galeto desossado com macarrão e arroz, vou botar metade de um, metade
de outro e o arroz com ketchup Heinz, pena que não do picante, que é uma
delícia. Vai ser muito gostoso. Vou lá.
-x-x-x-x-
15h35. O encontro de hoje no Relaxa o Bigode deu para trás,
o meu amigo redator teve que trabalhar na agência hoje, acúmulo de trabalho. A
família JP chegou hoje para celebrar tardiamente o aniversário de mamãe. Estou
sem disposição para ninguém hoje e encontro pouca para as palavras. Acabei de
acordar e sem café. Isso poderia explicar.
15h46. Estava a ver o WhatsApp, ver se tinha causado estrago
muito grande, mas nosso amigo cineasta, postou imagens da Holanda, onde está, e
desviou o foco, ainda bem. Paguei papel de palhaço de novo. Não me acostumo com
isso. Que pena o meu amigo redator não vir. Estava contando com isso desde a
terça. Outra sugestão se me apresenta, mas não vou poder ir por causa da
supracitada presença da minha família JP. Nem estou com vontade. Estou com
vontade de outra Coca com gelo, isso sim. Vou enfrentar a galera para pegar o
negro líquido.
Detalhe quarto-ilha III. |
16h15. Já preciso mais do negro líquido. Mas dá para
segurar. Estou meio deprê no momento. Nada demais. É estranho ver meu irmão JP
tratando de uma coisa tão adulta como investimentos financeiros. Ele é bem mais
jovem que eu, embora a diferença faça menos diferença à medida que os anos
passam. Estou com um desejo de comer o bolo-pudim e o cheese cake que a esposa do meu irmão JP trouxe. Espero estar mais
sociável para enfrentar o almoço. Estou com um desconforto na alma. A terceira
página pelo visto está chegando ao fim e eu não escrevi nada de interessante.
Minha amiga diretora me sugeriu que eu editasse o que produzo, a fim de manter
só as partes interessantes. Não tenho senso crítico para isso, portanto tomei
uma medida mais radical, que foi diminuir o número de páginas de sete para
três. É o máximo que posso fazer para reduzir o meu texto. Sobre a relevância é
mais difícil, pois acho tudo irrelevante. Estou querendo imaginar alguma coisa
para dar uma chacoalhada na rotina, mas nada me vem à cabeça. Eu queria era que
esse post acabasse logo, ou não. Minha amiga diretora disse que tem como meta
arrumar uma atividade que a reconecte ao corpo. Eu acho que nós não somos da
geração saúde. Ou somos racionais demais. Não sei se abdicar do tempo que
assiste séries para desopilar por uma obrigação com o corpo seja a melhor
escolha, talvez ioga uma vez na semana. Sei lá. Não posso nem devo, nem quero
me intrometer nisso. Eu estou perdendo a paciência para ouvir pessoas que falam
demais. Percebi isso ontem e me incomodou tal constatação. Eu preciso de
cafeína. Ouço uma aglomeração na sala. Minha mãe acaba de me chamar.
18h08. Comi muito, preciso tirar um cochilo.
22h36. Acordei, mas não por muito tempo, eu espero, tomei os
remédios, comi uma fatia de cheese cake
e vim para cá. O pior que não estou com sono algum. Talvez haja uma solução.
22h55. Enchi as caçambas e fumei mais um cigarro. O que
posso trazer de ontem ainda? Que foi uma noite especialíssima, encontrar com a
minha amiga diretora é algo que me eleva o espírito e me deixa um pouco
encabulado a priori. Não me lembro do nosso outro encontro no Seu Vital. E nem
mesmo consigo acreditar que ele ocorreu. Me senti culpado em relação ao cara da
barraquinha, acho que ele queria uma carona, mas não tive certeza e não quis
confirmar, pois em verdade, eu não estava com vontade de dar carona para ele.
Fui egoísta, o lado mau do egoísmo e me sinto assim nesse momento. Passa “Bad”
do U2. Queria ver “Bad” na filmagem de “Rattle And Hum”. Talvez o YouTube seja
o caminho.
0h17. Tem alguma coisa errada com a hora, devo ter feito
alguma marcação errada. Não passei uma hora fazendo isso. Mais de uma hora.
Puxa vou pegar mais um brigadeiro.
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