12h45. Não estou com saco para revisar o que escrevi ontem e
ver se tem alguma possibilidade de entrada no Profeta. Não estou com saco de
escrever. Só estou com saco de fumar mais um cigarro. Vou já. Camila Coutinho
realmente fez a diferença nos acessos, o meu novo post só teve até agora 25
visualizações. Mas quem importava visualizou, está de bom tamanho.
12h59. Fui tomar um café com cigarro e a fantástica
faxineira estava comentando que a filha era “perturbada”, comentei que pelo
menos ela não era perturbada como eu, no que ela respondeu, “você não é perturbado,
todo mundo gosta de você; é você que fica colocando coisa na sua cabeça”. Eu
acho que eu botei na cabeça que tenho coisas de menos nela. Hahaha. Alienado
quase ermitão urbanoide. Estou cansado da vida hoje, acho que porque acabei de
acordar e não tomei cafeína a contento ainda. Ju viu as minhas mensagens. Só
não respondeu, deve estar considerando temerosa a minha transferência afetiva
pela acompanhante. Preciso tomar banho e escovar os dentes. Não estou com disposição
de nada, para variar. Assim que acordar mesmo, vejo se os meus exercícios de
ontem renderam alguma coisa ou vai tudo direto para o Vate. Com o ar ligado e
mesmo assim o quarto está quente. Ou eu estou com calor em demasia por alguma
dessas variações metabólicas do corpo. Vou fumar o terceiro cigarro da
carteira.
13h21. Graças aos céus minha mãe deixou a carteira hoje. Eu
estava sem nenhum. Ainda pensando na nossa amiga escritora. Especialmente no
que não compreendi das entrelinhas do texto. Acho que leio tudo muito
literalmente porque escrevo tudo literalmente. Não sei, ou me falta a
sensibilidade dos poetas e das almas femininas. Preciso reler, mas ainda estou
no meu modo zumbi. Estou chamando deus e o mundo para o Relaxa o Bigode no
sábado, já convidei a nossa amiga escritora (que obviamente não virá), meu
amigo da piscina e meu primo urbano. Se esses dois resolverem aparecer vai ser
curioso.
13h37. Acho que o meu computador está começando a ficar “bugado”.
Talvez deva desfragmentá-lo. Está 3% fragmentado e diz que está com
desfragmentação agendada automaticamente. Vou deixar como está por enquanto. Hoje
estou cheio de futilidades, não consigo me concentrar num tema específico.
Pensando em ver um filme. Pensando em tomar banho. Pensando em mais um café com
cigarro; isso, sim, me apetece.
13h58. Meu amigo da piscina pediu para eu mandar um cigarro
para ele pelo elevador. Preciso agora pensar nos demais afazeres que me propus,
o banho e o filme. O banho encararei. O filme não me atrai nem um pouco. Sim, e
dar uma olhada no que produzi ontem. Sem saco nenhum para tais atividades.
Talvez depois do banho. Vou tomá-lo às 15h00. Está decidido. É bom que tenho
pouco menos de uma hora para escrever. Que é a única coisa que me empurra
adiante hoje. Que me dá desejo de perseguir. Foi uma grande vitória ver o “Thor:
Ragnarok”. Vitória maior seria ver “Cargo” hoje. Minha amiga escritora disse
que seu filho me considera um escritor pela quantidade de texto que produzo.
Que fofo. Me senti bem com o comentário. E com o apoio dela de me publicar. Mas
para mim não é tão fácil assim. Meu nível de exigência merece a aprovação de
alguém ou alguma entidade meritórios. Com Seu Raimundo fora da jogada, deposito
todas as fichas no meu tio. Mas ele mesmo parece não acreditar na publicação.
Vejo as frases de autossugestão que postei na parede e percebo que nenhuma delas
reflete o que acho de mim, das minhas capacidades e apetites. São tudo desejos/comandos
que eu queria que fizessem parte de mim, sonhos de transformação do meu ego que
não acho que ocorrerão. Não sei se preciso delas de fato se tiver alguém para
amar. Acho que meu livro tem uma abertura impactante, fácil de ler que captura
a atenção do leitor. Mas não estou certo disso. Só de que é fácil de ler. É
pouquíssimo texto. Estou com medo do encontro com a minha amiga revisora.
Pensei sobre coisas que não cabem aqui.
14h36. Minha amiga do ateliê de pintura na China disse que
acabou de pintar e montar a Asuka na moto. Excelente notícia. Mais um sonho
(menor, mas mesmo assim importante para mim) realizado. Nossa, 14h41, já.
Dentro de 19 minutos vou ter que entrar no banho. Sem a mínima disposição.
Minha vontade é me levantar daqui só para tomar café e fumar. Falando nisso,
vou pegar uma última xícara de café antes do banho. Espero que não coincida com
a ida da fantástica faxineira para a limpeza do meu banheiro. Ou melhor que
coincida, assim protelo por justa causa o banho. Hahaha. Estou parecendo o Cascão,
fugindo da água. Hahaha. Nossa, como me arrependo de ter mandado mudar a
pintura (perfeita) que o ateliê da minha amiga fez na Strange Rei, como a
nomeei. Ficou excelente ainda, mas antes estava melhor. É que a fotos roubaram
um pouco do contraste das cores e sugeri dar uma reforçada nos azuis, só que já
estavam na medida certa. Grande vacilo. Mas é a vida. É uma boneca única, não
há outra igual no mundo. Com a mesma pintura, digo. O pessoal da Yeti Art é
primorosa na pintura. Transformam os kits em pequenas e exclusivas obras de
arte. Esta será a minha terceira peça pintada pelo ateliê. Tenho mais duas lá
me esperando. Esperando eu ter verba que só pode advir agora das minhas propagandas
da Sideshow. Se não cortarem os meus ganhos por causa das minhas entrevistas
com as pessoas que fazem customs. Que foi a ameaça que mandaram para mim por
e-mail. O que tiver de ser será. Acho uma das melhores matérias a que fiz sobre
os customs, pena que quase ninguém leu. Eita, 15h02. Vou tomar banho.
15h22. Tomei banho, mamãe entrou em cena nesse ínterim e a
agradeci pelo cigarro, ter lembrado de mim. Acho que vou revisar agora o texto
que escrevi ontem para ver se alguma coisa se aproveita. Mas antes, um cigarro.
15h30. Peguei um copo de gelo e acompanhado da recém-iniciada
“Mercy, Mercy Me (The Ecology)” com Strokes e Eddie Vedder, a existência se
torna superiormente agradável, sem contar que estou limpinho e cheiroso o que
só soma à sensação de prazer com a vida. É, a existência pode e deve ser mais
um prazer que um fardo. Ou deveria ser assim para todos os seres humanos. Eu
sou abençoado, eu tenho muita, muita sorte. Por precisar de coisas simples para
me sentir bem. Basta que me afluam palavras, uma Coca gelada, um bom som, e um
cigarro aqui e acolá. Mas basta. Estou curioso por dissecar – e creio que
desdobrar – o post de ontem.
16h28. Estou na varanda agora com uma adorável brisa me
acarinhando o corpo, que momento bom. Acho que vou descartar tudo o que escrevi
antes das 15h30, não sei. Mas a regra é se escrevi, fica, então é melhor
relaxar e deixar aí. Estou com uma vontade de diminuir gradativamente o tamanho
dos meus posts, por mais que produza mais de um por dia. Acho que fica menos
cansativo para o leitor. Terminarei a partir de agora os posts com cinco
páginas. A meta é reduzir para três. Três é o máximo que me permito reduzir. E
sabe por que eu tomei essa decisão? Sonhando com a publicação do livro tendo o
endereço do meu blog como último anexo. 16h37. Sonhando agora em meu livro ser
um grande sucesso. Quando cismo em sonhar, sonho alto. A tarde cai sobre a muralha
de prédios, eles estão dourados de sol, gosto muito dessa luz tropical
amarelada. Não vi dessa luz na Alemanha ou nos Estados Unidos, mas nos Estados
Unidos deve haver em regiões mais próximas da Linha do Equador, não sei. Entrei
na terceira página. Poderia acabar já este post aqui. Acho que os leitores
agradeceriam. Mesmo que acabe de escrever e comece outro. Vou pegar Coca.
16h48. Me peguei agora divagando sobre o meu amigo da
piscina e observando uma revoada de pássaros, não sei se pombos. Provavelmente.
Botei o Spotify para ouvir, mas a varanda pede silêncio, deixar o murmúrio da
cidade ser o som ambiente, seus barulhos ouvidos aqui do alto são amenos e
interessantes. Dão uma sensação de amplidão, de participação de algo maior, da
sociedade que se desenrola lá embaixo ou apinhada nos edifícios. Como é dia de
semana e ainda horário de trabalho, embora seja sexta-feira, ainda não há músicas
altas que dominem a voz da cidade, são carros e pássaros que dominam o ambiente
e a brisa marítima que consegue se imiscuir pelas brechas entre os prédios e
chegar à minha varanda. Eu às vezes me sinto um intruso na minha própria casa,
por isso me isolo no meu quarto-ilha. Por isso é tão bom esse momento na
varanda. É melhor quase do que estar lá embaixo.
17h02. Estou de volta ao meu quarto-ilha, a fantástica
faxineira vai arrumar a sala e a varanda. Que pena, mas também já é quase
noite. Acho que vou passar para o café. Mamãe já reclamou da Coca. Estou
começando a ter vontade de ver o filme. “Cargo”. Isso é um bom sinal. Ju não ter
me mandado sugestões é um mau sinal. Aposto que vai querer conversar comigo
melhor essa ideia de AT na próxima sessão.
17h22. Fumei um cigarro e ele me deu um leve baixo-astral,
estranho, cigarro é estimulante. Péra, vou fazer uma coisa arriscada pedir para
a fantástica aspirar, de longe, o meu teclado.09u=-htea WX
17h29. Deu uma limpada boa no teclado. Espero não ter
danificado o contato de nenhuma tecla, deixei as letras tecladas pelo
acaso-destino no texto, me agrada essa interferência tão direta e peculiar do
que me cerca no meu texto, sem o meu controle. Acho interessante. Lembrei do
paradoxo do macaco escritor, que se deixassem um macaco eternamente a digitar
aleatoriamente numa máquina de escrever ele poderia acabar por digitar uma obra
de Shakespeare. O acaso-destino não fez o oceano produzir seres humanos capazes
de aleatoriamente produzir textos singulares? Isso é mais miraculoso que o
macaco na minha opinião e num tempo muito mais curto. A Natureza é algo
fenomenal. É realmente miraculoso, como o acaso-destino foi se combinando e se
recombinando até chegar a mim sentado à frente de um computador escrevendo para
a grande rede mundial. É quase inacreditável. E é o que há. E há muito mais que
isso. E haverá ainda muito mais se a hipótese da singularidade tecnológica
realmente se der. Isso sim, me é inimaginável, simplesmente porque não tenho
cognição suficiente para imaginar, é impossível. Qualquer abstração que puder
conjurar, qualquer desejo que eu tenha, cada sonho que sonhar, nada chega nem
perto do que a singularidade tecnológica poderá alcançar e, espero, repartir
com a Humanidade. Estou com essa coisa de singularidade desde ontem, às vezes
me bate essa febre de falar sobre a minha fé. Mas a terceira página está quase
no final, vou tentar finalizar nela. Eu sou um primata que toca nas teclas e produzo
um texto, isso é fantástico para mim. Que eu seja esse macaco e não o outro que
está no zoológico. Eu sou da linhagem de primatas que domina todas as demais
criaturas, exceto, por enquanto, as doenças. Estou com o câncer na cabeça desde
que meu amigo me mostrou os vídeos chocantes sobre os malefícios do cigarro.
Embora o mais chocante tenha me parecido falso. Bem, eu sou um fiel da
singularidade tecnológica e que com ela virá a cura para todos os males. Posso
estar redondamente enganado e pode ser que alguma doença proveniente do cigarro
venha me pegar antes. Não sei. Tenho dois sonhos na vida. Acho que não vou
realizar nenhum. Então sigo fumando. E a página três acabou.
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