sexta-feira, 8 de junho de 2018

MACACO ESCRITOR?


12h45. Não estou com saco para revisar o que escrevi ontem e ver se tem alguma possibilidade de entrada no Profeta. Não estou com saco de escrever. Só estou com saco de fumar mais um cigarro. Vou já. Camila Coutinho realmente fez a diferença nos acessos, o meu novo post só teve até agora 25 visualizações. Mas quem importava visualizou, está de bom tamanho.

12h59. Fui tomar um café com cigarro e a fantástica faxineira estava comentando que a filha era “perturbada”, comentei que pelo menos ela não era perturbada como eu, no que ela respondeu, “você não é perturbado, todo mundo gosta de você; é você que fica colocando coisa na sua cabeça”. Eu acho que eu botei na cabeça que tenho coisas de menos nela. Hahaha. Alienado quase ermitão urbanoide. Estou cansado da vida hoje, acho que porque acabei de acordar e não tomei cafeína a contento ainda. Ju viu as minhas mensagens. Só não respondeu, deve estar considerando temerosa a minha transferência afetiva pela acompanhante. Preciso tomar banho e escovar os dentes. Não estou com disposição de nada, para variar. Assim que acordar mesmo, vejo se os meus exercícios de ontem renderam alguma coisa ou vai tudo direto para o Vate. Com o ar ligado e mesmo assim o quarto está quente. Ou eu estou com calor em demasia por alguma dessas variações metabólicas do corpo. Vou fumar o terceiro cigarro da carteira.

13h21. Graças aos céus minha mãe deixou a carteira hoje. Eu estava sem nenhum. Ainda pensando na nossa amiga escritora. Especialmente no que não compreendi das entrelinhas do texto. Acho que leio tudo muito literalmente porque escrevo tudo literalmente. Não sei, ou me falta a sensibilidade dos poetas e das almas femininas. Preciso reler, mas ainda estou no meu modo zumbi. Estou chamando deus e o mundo para o Relaxa o Bigode no sábado, já convidei a nossa amiga escritora (que obviamente não virá), meu amigo da piscina e meu primo urbano. Se esses dois resolverem aparecer vai ser curioso.

13h37. Acho que o meu computador está começando a ficar “bugado”. Talvez deva desfragmentá-lo. Está 3% fragmentado e diz que está com desfragmentação agendada automaticamente. Vou deixar como está por enquanto. Hoje estou cheio de futilidades, não consigo me concentrar num tema específico. Pensando em ver um filme. Pensando em tomar banho. Pensando em mais um café com cigarro; isso, sim, me apetece.

13h58. Meu amigo da piscina pediu para eu mandar um cigarro para ele pelo elevador. Preciso agora pensar nos demais afazeres que me propus, o banho e o filme. O banho encararei. O filme não me atrai nem um pouco. Sim, e dar uma olhada no que produzi ontem. Sem saco nenhum para tais atividades. Talvez depois do banho. Vou tomá-lo às 15h00. Está decidido. É bom que tenho pouco menos de uma hora para escrever. Que é a única coisa que me empurra adiante hoje. Que me dá desejo de perseguir. Foi uma grande vitória ver o “Thor: Ragnarok”. Vitória maior seria ver “Cargo” hoje. Minha amiga escritora disse que seu filho me considera um escritor pela quantidade de texto que produzo. Que fofo. Me senti bem com o comentário. E com o apoio dela de me publicar. Mas para mim não é tão fácil assim. Meu nível de exigência merece a aprovação de alguém ou alguma entidade meritórios. Com Seu Raimundo fora da jogada, deposito todas as fichas no meu tio. Mas ele mesmo parece não acreditar na publicação. Vejo as frases de autossugestão que postei na parede e percebo que nenhuma delas reflete o que acho de mim, das minhas capacidades e apetites. São tudo desejos/comandos que eu queria que fizessem parte de mim, sonhos de transformação do meu ego que não acho que ocorrerão. Não sei se preciso delas de fato se tiver alguém para amar. Acho que meu livro tem uma abertura impactante, fácil de ler que captura a atenção do leitor. Mas não estou certo disso. Só de que é fácil de ler. É pouquíssimo texto. Estou com medo do encontro com a minha amiga revisora. Pensei sobre coisas que não cabem aqui.

14h36. Minha amiga do ateliê de pintura na China disse que acabou de pintar e montar a Asuka na moto. Excelente notícia. Mais um sonho (menor, mas mesmo assim importante para mim) realizado. Nossa, 14h41, já. Dentro de 19 minutos vou ter que entrar no banho. Sem a mínima disposição. Minha vontade é me levantar daqui só para tomar café e fumar. Falando nisso, vou pegar uma última xícara de café antes do banho. Espero que não coincida com a ida da fantástica faxineira para a limpeza do meu banheiro. Ou melhor que coincida, assim protelo por justa causa o banho. Hahaha. Estou parecendo o Cascão, fugindo da água. Hahaha. Nossa, como me arrependo de ter mandado mudar a pintura (perfeita) que o ateliê da minha amiga fez na Strange Rei, como a nomeei. Ficou excelente ainda, mas antes estava melhor. É que a fotos roubaram um pouco do contraste das cores e sugeri dar uma reforçada nos azuis, só que já estavam na medida certa. Grande vacilo. Mas é a vida. É uma boneca única, não há outra igual no mundo. Com a mesma pintura, digo. O pessoal da Yeti Art é primorosa na pintura. Transformam os kits em pequenas e exclusivas obras de arte. Esta será a minha terceira peça pintada pelo ateliê. Tenho mais duas lá me esperando. Esperando eu ter verba que só pode advir agora das minhas propagandas da Sideshow. Se não cortarem os meus ganhos por causa das minhas entrevistas com as pessoas que fazem customs. Que foi a ameaça que mandaram para mim por e-mail. O que tiver de ser será. Acho uma das melhores matérias a que fiz sobre os customs, pena que quase ninguém leu. Eita, 15h02. Vou tomar banho.

15h22. Tomei banho, mamãe entrou em cena nesse ínterim e a agradeci pelo cigarro, ter lembrado de mim. Acho que vou revisar agora o texto que escrevi ontem para ver se alguma coisa se aproveita. Mas antes, um cigarro.

15h30. Peguei um copo de gelo e acompanhado da recém-iniciada “Mercy, Mercy Me (The Ecology)” com Strokes e Eddie Vedder, a existência se torna superiormente agradável, sem contar que estou limpinho e cheiroso o que só soma à sensação de prazer com a vida. É, a existência pode e deve ser mais um prazer que um fardo. Ou deveria ser assim para todos os seres humanos. Eu sou abençoado, eu tenho muita, muita sorte. Por precisar de coisas simples para me sentir bem. Basta que me afluam palavras, uma Coca gelada, um bom som, e um cigarro aqui e acolá. Mas basta. Estou curioso por dissecar – e creio que desdobrar – o post de ontem.

16h28. Estou na varanda agora com uma adorável brisa me acarinhando o corpo, que momento bom. Acho que vou descartar tudo o que escrevi antes das 15h30, não sei. Mas a regra é se escrevi, fica, então é melhor relaxar e deixar aí. Estou com uma vontade de diminuir gradativamente o tamanho dos meus posts, por mais que produza mais de um por dia. Acho que fica menos cansativo para o leitor. Terminarei a partir de agora os posts com cinco páginas. A meta é reduzir para três. Três é o máximo que me permito reduzir. E sabe por que eu tomei essa decisão? Sonhando com a publicação do livro tendo o endereço do meu blog como último anexo. 16h37. Sonhando agora em meu livro ser um grande sucesso. Quando cismo em sonhar, sonho alto. A tarde cai sobre a muralha de prédios, eles estão dourados de sol, gosto muito dessa luz tropical amarelada. Não vi dessa luz na Alemanha ou nos Estados Unidos, mas nos Estados Unidos deve haver em regiões mais próximas da Linha do Equador, não sei. Entrei na terceira página. Poderia acabar já este post aqui. Acho que os leitores agradeceriam. Mesmo que acabe de escrever e comece outro. Vou pegar Coca.

16h48. Me peguei agora divagando sobre o meu amigo da piscina e observando uma revoada de pássaros, não sei se pombos. Provavelmente. Botei o Spotify para ouvir, mas a varanda pede silêncio, deixar o murmúrio da cidade ser o som ambiente, seus barulhos ouvidos aqui do alto são amenos e interessantes. Dão uma sensação de amplidão, de participação de algo maior, da sociedade que se desenrola lá embaixo ou apinhada nos edifícios. Como é dia de semana e ainda horário de trabalho, embora seja sexta-feira, ainda não há músicas altas que dominem a voz da cidade, são carros e pássaros que dominam o ambiente e a brisa marítima que consegue se imiscuir pelas brechas entre os prédios e chegar à minha varanda. Eu às vezes me sinto um intruso na minha própria casa, por isso me isolo no meu quarto-ilha. Por isso é tão bom esse momento na varanda. É melhor quase do que estar lá embaixo.

17h02. Estou de volta ao meu quarto-ilha, a fantástica faxineira vai arrumar a sala e a varanda. Que pena, mas também já é quase noite. Acho que vou passar para o café. Mamãe já reclamou da Coca. Estou começando a ter vontade de ver o filme. “Cargo”. Isso é um bom sinal. Ju não ter me mandado sugestões é um mau sinal. Aposto que vai querer conversar comigo melhor essa ideia de AT na próxima sessão.

17h22. Fumei um cigarro e ele me deu um leve baixo-astral, estranho, cigarro é estimulante. Péra, vou fazer uma coisa arriscada pedir para a fantástica aspirar, de longe, o meu teclado.09u=-htea         WX

17h29. Deu uma limpada boa no teclado. Espero não ter danificado o contato de nenhuma tecla, deixei as letras tecladas pelo acaso-destino no texto, me agrada essa interferência tão direta e peculiar do que me cerca no meu texto, sem o meu controle. Acho interessante. Lembrei do paradoxo do macaco escritor, que se deixassem um macaco eternamente a digitar aleatoriamente numa máquina de escrever ele poderia acabar por digitar uma obra de Shakespeare. O acaso-destino não fez o oceano produzir seres humanos capazes de aleatoriamente produzir textos singulares? Isso é mais miraculoso que o macaco na minha opinião e num tempo muito mais curto. A Natureza é algo fenomenal. É realmente miraculoso, como o acaso-destino foi se combinando e se recombinando até chegar a mim sentado à frente de um computador escrevendo para a grande rede mundial. É quase inacreditável. E é o que há. E há muito mais que isso. E haverá ainda muito mais se a hipótese da singularidade tecnológica realmente se der. Isso sim, me é inimaginável, simplesmente porque não tenho cognição suficiente para imaginar, é impossível. Qualquer abstração que puder conjurar, qualquer desejo que eu tenha, cada sonho que sonhar, nada chega nem perto do que a singularidade tecnológica poderá alcançar e, espero, repartir com a Humanidade. Estou com essa coisa de singularidade desde ontem, às vezes me bate essa febre de falar sobre a minha fé. Mas a terceira página está quase no final, vou tentar finalizar nela. Eu sou um primata que toca nas teclas e produzo um texto, isso é fantástico para mim. Que eu seja esse macaco e não o outro que está no zoológico. Eu sou da linhagem de primatas que domina todas as demais criaturas, exceto, por enquanto, as doenças. Estou com o câncer na cabeça desde que meu amigo me mostrou os vídeos chocantes sobre os malefícios do cigarro. Embora o mais chocante tenha me parecido falso. Bem, eu sou um fiel da singularidade tecnológica e que com ela virá a cura para todos os males. Posso estar redondamente enganado e pode ser que alguma doença proveniente do cigarro venha me pegar antes. Não sei. Tenho dois sonhos na vida. Acho que não vou realizar nenhum. Então sigo fumando. E a página três acabou.  

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