domingo, 17 de junho de 2018

CASA MAIS QUE ASTRAL OU GAROTA DA RABECA




Assunto: Casa Astral
Estou em frente à Casa Astral e me sinto ridículo, pela minha postura curva, o saliente bucho que tanto maior parece com a apertada camisa polo laranja e, fechando o conjunto em grande estilo, um enorme copo rosa, bem “cheguei”, de plástico.

20:49. Eu dancei forró com talvez a mulher menos interessante da festa, mas ela é uma velha conhecida e não tive como me esquivar. Ainda no campo das ousadias da noite, abordei a menina mais bela da festa e disse-lhe que era a aparição mais linda da noite. Por incrível que pareça, ela está agora nesse canto isolado bem na minha frente. Tenho que tirar duas dúvidas ou fazer uma adivinhação.

20:57. Fiz uma das perguntas a ela e a adivinhação. Ela é realmente namorada do cantor da banda. Passei meu blog e, pasmem, ela acessou. Disse que amanhã teria um post sobre ela, em parte, pelo menos, e com uma poesia a ela dedicada. Terei que me esmerar, há uma probabilidade de que ela leia, mas sei tão pouco além da sua beleza que me confesso sem palavras. Espero que elas me afluam quando retornar à solidão do quarto-ilha. Mas chega de escrever, é momento de viver o que me é exterior, a singular noite que estou experimentando.

21:13. Antes de voltar ao terreiro, preciso dizer que por conta da Coca-Cola, vou ter que partir de 23:30, para poder comprar o negro líquido na pizzaria em frente de casa. Vou me enviar logo isso para me desvencilhar do texto.

23h47. Acabei de chegar em casa e ouvir um comentarista dizendo que o governo brasileiro entregou nos três primeiros minutos do primeiro tempo 14 bilhões de reais a terroristas, se referindo à greve dos caminhoneiros. Uma opinião bem radical, diferente. Mas não existe o direito constitucional a greves? Não sei, não lembro. Curioso anyway. Bem, estou de volta ao meu quarto-ilha e a noite foi nada menos que mágica. Dancei forró pela segunda vez na Casa Astral, mais uma vez com alguém por quem não tinha a mínima atração, a primeira foi com a Gatinha, minha ex, e nada nutro por ela além da mais profunda amizade.

23h58. “Avisa que dei o ninja. Não queria perder as Cocas, você sabe como são de suma importância, como sabe que a possibilidade de ser lido por uma garota apaixonante me traz ao teclado. As companhias estavam maravilhosas, mas meu alimento são as ilusões.” Acabei de postar para o meu primo-irmão essa mensagem de WhatsApp. Como será que me passarei para moça? Da forma mais sincera possível. Contando a história. Bem, a noite foi mágica, pois, além de dançar, interagi com um grupo de pessoas de forma satisfatória, divertida e me colocando nas conversas, fazendo a minha voz, interior inclusive, aparecer. Foi muito bom, mas isso seria excelente, não mágico. Mágico é algo maior, é algo encantado, uma raríssima oportunidade com a qual o acaso-destino, a existência, me agracia. Só me agraciou, nesses dez anos de solidão, duas vezes a possibilidade de ser lido por alguém que me encanta. Na primeira, não deu em nada. Com esta não vai ser diferente porque ainda mais encantadora que a outra, mágica. É como se uma luz, um brilho hipnótico emanasse dela, tudo perdia o sentido e só sua visão me importava. Apreciar o que de mais belo há na natureza aos meus olhos, uma garota mágica, é um evento raríssimo de ocorrer. E praticamente impossível a possibilidade de ser lido. Mas se deu, porque além de tudo é simpática, apesar do terror de ser assediada ou abordada por todo tipo de homem, dada a sua singular perfeição, aos meus olhos, pelo menos. Nossa, como não gostaria de ser mulher e linda. Nem gostaria de ser um homem lindo tampouco, não me agradaria o assédio sexual feminino meramente pela minha aparência. Gostaria apenas se isso me desse o poder de despertar interesse na Garota da Rabeca. É assim que a chamarei. Eu chego lá. Pera aí, eu já não contei o que vou contar no e-mail? Preciso averiguar. Bem, a vi quando olhei para o terraço elevado da frente da Casa Atral. E lembrei na hora, ela é a possível namorada do cantor da banda, ele canta muito bem, por sinal, tem uma voz bastante agradável, eu gosto. Ela é a que me encantou naquela noite no A Caverna, onde não conseguia tirar os olhos, que me mesmerizou com sua beleza, me levando ao ponto de, após o acaso-destino fazer com que ficássemos próximos e depois nos cruzássemos, não me aguentar e perguntar a ela se o que ela carregava e protegia consigo era um violino ou uma rabeca. Ela respondeu sorridente que era uma rabeca. Daí Garota da Rabeca. Quando vi o cara da banda alisando ela, deduzi que era namorado, daí a adivinhação do e-mail. Não sei me repito. Mas ao vê-la eu senti a necessidade, a obrigação, o dever de comunicar-lhe que era a aparição mais linda da festa. Era algo mais forte do que eu. Eu acho que saber disso não a ofenderia, era apenas o elogio de um desconhecido que acha pouco, muito pouco de si. Preciso fumar um cigarro e tomar um Coca gelada. E ainda preciso pensar num poema, sem rimas, sou péssimo com rimas. Rimo limão com macarrão. Hahaha. Vou lá.

0h47. Fumei e não consigo parar de pensar que estou escrevendo para ela. Nem ao menos sei seu nome, Garota da Rabeca. Eu tentei e falhei, acho que não vou conseguir escrever um poema, vai na prosa mesmo. Vamos ver. Voltando a história, atravessei as pessoas me aproximei dela ela inclinou a cabeça – protegendo o rosto – para me ouvir; anos de assédio eu creio, até dos mais intrusivos, geralmente dos bêbados, eu suponho. E disse-lhe o que me propus a dizer ela riu e agradeceu, depois disso não me lembro de mais nada. Lembro que estava escrevendo, que precisava descrever aquele evento, magnífico para mim, mágico, eu expor a minha mais sincera admiração, não, admiração não, pois admiração necessita de intimidade, convívio para brotar; exprimir meu mais completo arrebatamento com a sua existência. Um pequeno milagre do universo, da evolução das espécies. Só tive esse impacto quatro vezes na vida, com a minha primeira namorada, com a minha terceira namorada, com a Garota da Rabeca e a quarta e mais impressionante de todas só será revelada se o meu livro vier a público, qual seja, for publicado porque uma editora acha válido publicá-lo. O que acho difícil de acontecer. Quase tão impossível, não, menos impossível que eu vir a ter alguma coisa com a Garota da Rabeca.

Tempo cristalizado
Um diamante da existência
Ali diante dos meus olhos
Que não eram suficientes
Para apreendê-la
Visão, uma visão
Saí da minha caverna
Num ato tão distante de mim
E totalmente necessário
Para louvá-la
Como os poetas de verdade
Fazem com suas musas
Eu, torto com as palavras
O fiz e pequena troca se deu
Mas a concretude, me escapa às mãos como areia
A realidade me presenteia com o impossível
Quem sou eu para sonhar tão alto?
Não tenho em meus sonhos, o medo do pai de Ícaro.
Ícaro que sou
Em sonho
E dei de cara com um
Ali posto na minha frente
A existência se configurando sonho
Por alguma razão que me escapa
E perto de mim
Tive que ousar
Tive que ir além de mim
Tudo em minha alma implorava por aquilo
Como um escravo anseia a liberdade
E fui por breves momentos
De uma felicidade rara e preciosíssima
Quem eu sou e como vivo
Não me permitem muito disso
E é bom, virtuoso até
A expectativa tocar de leve a realidade
O sonho se materializar
E se permitir
Uma nada que fosse e tenha sido
Momento que tenho para sempre meu
Ninguém irá roubá-lo
O contato com a musa
Nossas almas se cruzando para um breve diálogo
Sandices
Ilusões
Palavras
Vãs
Sem sentido ou vocação para fazer sentir
As digo porque me escapolem ao peito
E me agrada que o façam
Fico encantado com as infinitas realidades
Que a realidade irá me negar
A realidade?
Esta segue reta o caminho da solidão
Ainda bem que me permite olhar para os lados
E de vez em quando para o lado perfeito
Mas que eu e a solidão sabemos impossível
Por isso ela deixa
Porque sabe que não dá em nada
Que minha quota de amor já foi vivida e esgotada
E permanecemos eu e as palavras
A fazer companhia um às outras
Completa solidão, porque as palavras nada mais são
Que um pedaço de mim

Ficou uma bosta, me perdoe, gerar uma expectativa em você e fazer um lixo desses. Sei não. Mário... vou jantar. Não comi nada e a terceira página acabou de acabar. Ela não me sairá da cabeça hoje, eu já sei.

1h56. Preciso contar das amigas do meu primo-irmão, muito divertidas, com opiniões fortes. Achei agradabilíssimo. Andamos até as margens do Capibaribe. E nada vimos. Foi uma noite sui generis na minha vida. Especial de diversas formas. Até da mais especial possível. Amanhã escrevo mais, estou com sono por causa do jantar.

-x-x-x-x-

12h27. Vi uma barata agonizante no banheiro, provavelmente por conta do veneno de dedetização e não tive coragem de abreviar o sofrimento desesperado dela. Eu sou um covarde realmente. Mas tenho uma neura com baratas e em tirar a vida de outros seres de forma geral. Mesmo que o ser esteja em agonia. Bem, vou continuar a revisar o texto.

12h36. Acabei de revisar. Achei tudo uma porcaria. Me perdoe, Garota da Rabeca. Você me encantou desde A Caverna. Quando pensei em ir para a Casa Astral, me veio difusa a possibilidade de reencontrá-la. Mas foi pensamento ligeiro, que logo me escapuliu. Nunca iria imaginar ver o meu blog em suas mãos. Isso foi completamente além da minha imaginação, no entanto, com a sua ajuda, construímos essa coisa miraculosa para mim. E agora sonho estar me dizendo para você. Como se isso fosse fazer alguma diferença na sua vida. Parece que o tempo passa e mais ridículo me torno. Se você soubesse, entretanto, quão pequena é a probabilidade de algo assim acontecer na minha vida, você entenderia a maravilha que estou vivendo no momento. “E ainda por cima, simpática”, confesso que não esperava por essa parte. É crível que você seja uma pessoa legal. Como é igualmente crível que você nunca vá querer nada com alguém como eu, tão distante estou das suas expectativas em relação aos homens. Ademais seu coração tem dono, sua vida já está devidamente compartilhada com quem de direito. Não quero me intrometer ou quebrantar isso. Longe de mim. Saiba, porém, que você, se estiver lendo isso, me deu um dos maiores presentes que eu poderia receber. Me repartir com uma garota que provoca profundo encantamento. Isso é mais do que aspiro nos meus dias. Imensuravelmente mais. Você tornou minha existência superiormente interessante.

13h06. Fui fumar um cigarro e vi a primeira transmissão da Copa em 4K, confesso que só me impressionou porque, como o meu padrasto salientou, mostra um campo de visão mais amplo, dá para entender melhor o posicionamento dos jogadores no gramado, o contexto. México e Alemanha. Mas isso aqui é tão mais interessante para mim, tão mais importante, tão delicado de se tocar – e me trocar –, dada a sua natureza frágil, que preciso estar todo aqui. Estou ouvindo “Songs Of Experience” do U2, o mais novo, porque ele traz um gosto único de liberdade para mim. Quem sabe um dia eu não lhe explique o porquê. Já estou viajando demais, né? Imaginar um diálogo com você é ir além das possibilidades de existência que se afiguram para mim. Mas podemos conversar pelo Facebook, se for do seu interesse. O endereço do meu Facebook, se não me engano é mario.barros.75. Não dou certeza e tenho quase certeza que você não vai me adicionar como amigo. Não acho que tenha demonstrado qualidades para tanto. Não importa, o mundo sou eu e a realidade que me cerca, que chega até mim, e eu preciso estimulá-la, afinal todos nós temos impacto, por mínimo que seja, na realidade, da forma que me apetece. A fim de moldar as coisas da forma mais salutar para mim. Acho que é o que todos nós fazemos em última instância. Parece uma atividade egoísta e é. Todos nós somos, até Madre Teresa de Calcutá, que cuidava dos leprosos porque aquilo lhe satisfazia o ego de alguma forma, muito generosa é verdade, mas egoísta da mesma forma. Não sou dado a atos tão magnânimos, não nasci para ser grande, eu acho. Se sou grande é em sonhos. Você é um sonho meu. Algo que mais do que provavelmente nunca se concretizará. Mas talvez se concretize uma parte do sonho que é você me ler. Isso já está de ótimo tamanho para mim. Por mais que esteja me esforçando, não me sinto satisfeito com o texto porque para você. Você merecia algo mágico como me proporcionou. Ah, a minha foto do Facebook sou eu abraçado com uma simpática e sorridente senhora, a minha amada e idolatrada babá. Preciso até ligar para ela, mora em Natal com a minha tia, que se ocasião se der e eu me lembrar conto a história. Não é das mais interessantes, mas não é das menos interessantes também. Prepare-se para ver algo inusitado, uma foto do meu quarto-ilha. É um lugar peculiar, eu acho, como quem o habita e passa a maior parte enfurnado nele a escrever. Eu poderia tentar outra poesia, achei aquela tão fraquinha.

No mundo de perdas
Ou de nenhum ganho
Onde habito
Decidi me jogar na noite
E a reencontrei
O que seria óbvio
Se não fosse mágico
Palavras repetidas
Podem se tornar verdades
Alguns dizem
Poderiam se tornar amor
Ah, não tenho tal sorte
Nem sei o que faria com ela
Fato é que ontem
No meio do animado povaréu
Avistei um sonho
De carne, osso e coração
Esse último já com dono
E me joguei nesse sonho
E o destino me sorriu
Por isso essas linhas
Esse ponto brilhante
Na minha alma

13h35. Deixa para lá, poderia sair escrevendo em versos o que já disse em prosa. Preciso é acabar esse post. Que acho que a Garota da Rabeca não vai ler. Certamente já esqueceu do nosso rápido encontro. Que seja, cumpri a minha parte do acordo. Se é que podemos chamar assim. Sim, caso as amigas do meu primo-irmão leiam o blog! Foi muito bom, compartilhar minha vida com vocês, me senti sinceramente interagindo, foi interessante conhecer mulheres assumidamente feministas e poder me expor, me colocar, haver troca, geralmente fico no meu papel de poste ou figurante, mas dessa vez tomei para mim um papel mais ativo porque houve receptividade, acolhimento e o sincero interesse de me ouvirem e se comunicarem comigo. Fico muito grato por isso a vocês e grato à Garota da Rabeca por ter me proporcionado o improvável sucesso meu comigo mesmo e com isso ter enchido a minha bola e me tornado mais confiante para me soltar socialmente. Foi ótimo encontrar com vocês e ouvir suas opiniões a respeito de homens, filhos, empregos e diversos. Vou postar a foto do meu quarto-ilha para fechar o post. Me excedi hoje. Peço perdão ao leitor. O que mais eu queria? Duas coisas, que a Garota da Rabeca me adicionasse no Facebook e deixasse um comentário aqui sobre o que achou do texto. Tenho até medo do que ela vai achar. Tenho é que parar de escrever. Pronto.





14h25. Fui ao banheiro e o sofrimento da barata havia acabado, estava toda curvada em si mesma, imóvel. Sua existência como barata cessou de ser. Um dia vai ser a minha vez ou a sua. Temos que fazer o melhor de nossas vidas nesse intervalo. Essa é a minha tentativa.

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