13h12. Esperando contato do meu amigo que mora aqui agora e
diz não mais querer voltar. Quando tiver algo para escrever eu volto. Ouvindo
Cure. “Wish”. Muito bom.
14h15. Acabei de encontrar o meu amigo corretor. Conversamos
coisas interessantes em frente a uma coisa para mim muito chamativa, matuto que
sou, uma Ferrari. Acho que o Ka foi a tentativa da Ford de criar o seu próprio
fusca. Fusca é tão famoso que virou substantivo comum (pelo menos no Brasil). A
Ferrari me impressionou bastante, branca, com linhas ferozes, poderosas,
diferenciadas, lindas. Sonho de menino brasileiro ver uma de perto. Espero que
o bar esteja vazio quando eu for lá. Meu amigo falou que viu policiais
banguelas aqui e uma gatinha com as bases dentes já amareladas, será que por
isso ele vai preferir pegar só as estrangeiras? A pergunta melhor, será que nós
não julgamos as pessoas pelos seus dentes? Você namoraria uma desdentada? Eu
não. A mulher que desejo tem dentes perfeitos. Com cáries, claro. Cáries para
mim são como que as celulites dos dentes. Tomei um banho de banheira. Ficção
que queria concretizar, no último dia eu mandaria uma rosa vermelha com um
último bilhete dizendo, “Querida Garota do Hotel (obviamente colocaria o nome
dela), Já que não dá, sejamos então apenas bons amigos, meu Facebook é
mario.barros.75. J”
Ficção 2. Eu entrego a carta antes. Ela lê e me adiciona ao Facebook. Nos tornamos
rapidamente íntimos, uma grande afinidade nas conversas indo cada fez mais
fundo no que somos. Eu falo logo no começo, “quero sinceridade, honestidade e
respeito” e aí eu desço lá para baixo enquanto ela está no salão. 19h15 aqui,
vou descer para assistir o jogo.
"O Iluminado" |
15h33. Desci, fumei dois cigarros e achei o mundo muito
hostil lá embaixo. Acho que desço para assistir o segundo tempo. Mas, voltando
à ficção. Eu desço com o computador lá para baixo – ou do celular mesmo,
esqueço que pode – e lhe mando a seguinte mensagem, “eu tenho uma fantasia. Eu
acho que vivo de fantasias.” Ela, que ainda está começando os serviços e só há
eu no bar, consegue pegar o celular para ler o que escrevi e pergunta, “que
fantasia?”, eu gelo como a Coca gelada em meu copo e digito, “eu não posso
contar, é muito íntima e diz respeito à você.” “Vai, abobado – ou como quer que
chamem aqui –, conta!” Replico, “lembre-se,
foi você quem pediu”... e pergunto qual a cor da sua calcinha, ela responde, “preta”
e pergunta “por que?” eu respondo, “porque agora o que eu mais queria era tirá-la
e chupar você todinha.” Ela responde “Tarado! Kkkkk” FIM. Enfim, o que há de se
dizer do autor de tal disparate? O pior que eu estava criando coragem para
descer lá embaixo e dizer para a ela, a Garota do Hotel, que eu estava
escrevendo sobre si. Será que ela iria dizer alguma coisa? Indagar algo sobre
esse comentário? E se, por alguma circunstância, eu publicar isso e ela ler? O
que achará de mim? Um pervertido, talvez? Foi ficção com erotismo para mim.
Ficção já diz, é algo que não existe. E é avisado antes. Ela está de cabelo
solto hoje. Disso, eu tenho certeza. Achei que estivesse com o batom preto. E
se fosse e eu ousasse dizer, “você é uma mulher de personalidade forte. Vou
acrescentar isso ao que estou escrevendo sobre você no meu blog.” Hahaha.
Duvido que eu tenha coragem mesmo se ela estivesse usando batom fosforescente.
Eita, está quase na hora do segundo tempo. Será que eu encaro? Agora seria bom ter
minha mãe aqui. Acho que vou descer nem que seja para fumar um cigarro. Mas
queria ver esse segundo tempo.
18h24 (22h24 em Portugal). Mamãe chegou e estamos no quarto,
ela testa as alternativas de roupas para os dias de congresso antes de dormir.
Ela chegou quando estava lá embaixo fumando o cigarro do parágrafo acima.
Trouxemos algumas coisas aqui para o quarto e voltamos ao bar para ver o jogo.
A Garota do Hotel estava maravilhosa e ousada com seu batom preto. Essa noite
para mim foi inesquecível e nem sei por onde começar a narrá-la. Um turbilhão
de pensamentos maravilhosos me cruzam a cabeça, preciso fumar um cigarro. Só
vou dizer uma coisa antes, a Garota da Rabeca é passado. Minha musa, por mais
que breve, é definitivamente a Garota do Hotel. Uma parte do meu coração vai ficar
para sempre em Portugal.
18h54 (22h54 PT). Que mulher jovem e encantadora. Melhor começar
do começo. Descemos eu e mamãe, que foi direto ao bar, eu parei para fumar um
cigarro antes, por receio de falar com a Garota do Hotel. Pois é, sempre me dá
dessas, vai entender. Quando cheguei ao bar mamãe conversava com ela. Só
consegui soltar o que havia sentido, que ela tinha uma personalidade forte.
Pensa que eu não percebi a sua ironia quando do incidente do prato quebrado?
Ela deve usar da ironia com frequência para soltar a sua agressividade, o que é
uma forma inteligente de fazê-lo, na minha opinião. Ela respondeu que não tinha
personalidade forte no trabalho, mas deu a entender que fora dele de fato
possuía ou assim quis entender. Quando finalmente começamos a sentar juntos –
eu e minha mãe – para ver o jogo da Argentina, percebi que estava embriagada, o
que acabou se tornando muito favorável ao meu devaneio com a Garota do Hotel.
Nossa que vergonha da ficção que eu escrevi. Mas a regra desse blog é escreveu,
fica, infelizmente. E não vou trapacear comigo mesmo. Mesmo que imagine a
péssima impressão que vá causar se a Garota do Hotel realmente ler isso. Meu
amigo que veio morar aqui não para de me atrapalhar conversando comigo. Quando
lhe falei que eu achava que estava me apaixonando pela gerente das garçonetes,
ele disse que eu não vi nada. Retorqui que quando o foco trava para mim, estou
perdido e sinto muito bem quando isso acontece. E aconteceu de forma muito
intensa. Sinto-me arrebatado, deslumbrado, preciso contar mais para que os meus
leitores saibam precisamente porque razão digo as insanidades que digo. Meu
amigo perguntou se eu não gostava de sexo. Quando respondi que gosto, mas gosto
muito mais de amor e paixão, ele sugeriu que eu fosse gay camuflado, tirando
uma com a minha cara. Que posso eu fazer se sou um pobre romântico, coisa tão
pouco em voga hoje? De toda sorte, além de gostar de nomes que me agradem,
onde, como dito no post anterior, ela perde pontos, a Garota do Hotel compensou
com muitíssimos pontos por suas mãos, belíssimas, parecem esculpidas por
Michelangelo. E ainda estavam nuas de qualquer esmalte o que me agradou
sobremaneira. Mãos são coisas importantes para mim, que posso dizer, sou um
cara cheio de peculiaridades. Coloquei Djavan de novo. Foi a música que me veio
ao tino colocar e é bem romântica, não é dos grandes da música brasileira e
isso pouco importa, estou na vibe de
ouvir. Voltando ao bar, minha mãe a pegou para conversar e eu pude lhe fazer
algumas perguntas. Tem mestrado em Psicologia com foco em algo entre clínica
sistêmica e conexões sociais, sou péssimo em decorar nomes, por mais que seja
critério de encantamento por uma garota. Enfim, sei que tratava da dinâmica
intersocial de estruturas familiares, de casais a famílias maiores. Contou que
a prática da psicologia clínica é vista com muito preconceito em Portugal, como
caso para doidos ou coisa que valha. Não sei se fui eu ou mamãe que sugeriu que
fosse clinicar no Brasil, se fosse mentiroso, diria que ela chegou a projetar a
possibilidade por alguns nanossegundos, mas acho que isso é algo em que quero
acreditar, essa rápida consideração. De toda forma, acha Freud ultrapassado e disse
que estudou id, ego e superego de forma muito geral há muito tempo, então não
tinha uma opinião formada nem contra nem a favor dessa teoria. Disse que foi ao
Rock in Rio no dia de Anitta e que a camisa ficava para além de suas posses.
Decidi que vou comprar uma camiseta do Rock in Rio Lisboa para ela. E tenho
dito.
Será que ela vai ficar chateada se eu for de táxi? |
20h01. Fumei um cigarro lá embaixo. Perdi o fio da meada.
Sei que falava dela. Sei que ela vai ter que perdoar o português brasileiro e
suas absurdidades. Acabei confessando que escrevia sobre ela no blog. Ela
chegou a fazer menção de puxar caneta e papel para anotar o blog, mas lhe
confessei que só repartiria no último dia pois se tratavam de coisas muito
íntimas. Quais as impressões que tive dela, que é uma líder nata,
perfeccionistas, cobra muito de si mesma, tem uma cultura muito mais ampla e
profunda que a minha, o que sinceramente não quer dizer muita coisa, visto que
sou um completo alienado de tudo. Ou assim quero me ver, o que denota a uma
psicóloga a minha baixa autoestima. Não poderia estar mais perto da verdade.
Minha mãe está me atrapalhando a conservar amenidades. Não é ruim, só
inoportuno.
20h18 (0h20 PT). Estou de volta e o que tenho mais a
acrescentar? Ela tem um cacoete de fazer uma careta de nojo/reprovação com a boca
que é uma graça, quando pega de surpresa numa situação meio constrangedora,
confessional. Cheguei a tocar o seu braço de leve para pedir desculpas por ter
exigido dela que pegasse mais gelo. Me senti imediatamente culpado. Ela foi
mais perspicaz do que podia julgar, é extremamente inteligente e sincera, isso
são qualidades preciosas numa pessoa. Nossa, como estou constrangido com o que
escrevi acima quando a vida se desenha com a possibilidade de ela ler. Não
pensei que teria essa coragem. Abrir-se essa brecha. Acho que vou entregar-lhe
o kit camisa, rosa, cartão assim que conseguir os três itens. Que se dane o
mundo. A vida é uma só. E tão curta. E embora tenha sido agraciado com duas
impossibilidades afetivas ultimamente, não me cansa alimentar ilusões.
20h42(0h44 PT). Será que a coitada já chegou em casa ou
ainda está no bar? Eu passei e não a vi, mas olhei muito rápido. Será que
estava com calor mesmo, talvez o calor prévio do período menstrual, se é que
isso existe, ou que abanar-se é uma forma de aliviar o estresse? Ah, tais
conjecturas já são ficção. Sei que ela estava tão linda quando ontem, embora
com o visual bem diferente, cabelos soltos, roupa mais esportiva e o batom.
Certamente deve odiar fumantes. Ou não, afinal aqui fuma-se muito mais que no
Brasil, talvez a tolerância seja maior. Tenho vergonha do meu português, eu que
nem sei onde colocar as vírgulas. Hahaha. Paspalho, novamente me passo por
papel de paspalho diante de uma bela dama que arrebanhou meu peito. Ela vai
ficar muito constrangida quando ler isso. Acho que vou indagar-lhe porque não
segue carreira acadêmica, faz um doutorado. Lá no Brasil acho que ela teria
grandes chances com essa visão sistêmica que ouço poucas pessoas mencionarem.
Será que ela estudou a dinâmica familiar por causa de alguma disfunção em sua
família? Sei que já revelei demais da Garota do Hotel e supus outras tantas.
Para ilustrar o blog com algo dela, só posso oferecer a caligrafia, mui bela e
confiante por sinal. Ah, acho que ela tem certa mania por organização ou então é
como eu, absolutamente organizada no trabalho e caótica em casa. Se bem que
nunca fui como a minha mãe, completamente desorganizado, mas, não fora a
fantástica faxineira, meu quarto seria um ninho de ratos. Hahaha. A necessidade
é mãe da maioria senão de todas as ações. E invenções. Nem que seja a
necessidade de ganhar dinheiro. Não acho que esse seja o trabalho que ela
sonhou. Acredito que a chama da psicologia ainda está nela. Não é um trabalho
ruim, embora demandante, só está totalmente fora da vida que pensou para si. A
terceira página vai chegando ao fim e preciso dormir para pegar a ceia matinal.
Queria muito que ela lesse e queria mais ainda que não tivesse escrito a ficção
da calcinha preta. Até porque a resposta final dela nunca seria a que supus,
acho que nem com toda a intimidade do mundo. Mas toda intimidade do mundo ou o
mais próximo disso que já experimentei só se dá com um casal que se reparte de
forma mais transparente possível, porque não há como ser de outra forma para
que um se adapte ao outro o mais completamente, respeitando os limites de cada parte.
Sei lá, acho que joguei um bando de clichês nos quais acredito. E que
funcionaram na dinâmica com a minha ex. Vou ficando por aqui, rezando para que
amanhã tenha uma nova rodada de conteúdo para acrescentar a esse blog. De
preferência sobre esse mesmo delicioso assunto. Que merece todo o meu respeito
e atenção, pois coloca minha alma iluminada e feliz. Me dá um sonho para viver
nem que seja até amanhã. Aliás, já é amanhã aqui. Preciso dormir. Vou fumar o
último cigarro e capotar na cama. Quando acordar reviso e posto. Só um último
comentário, é pena que amanhã não a veja tanto quando queria, se a vir de fato,
pois estarei na Praça do Comércio com o meu amigo. Ai, ai, sonhos, sonhos são.
É bom sonhá-los, mas é ruim quando a realidade vem os desmascarar e os estilhaça
em mil pedaços. Que seja. A vida seguirá, o velho peito acostumado a tanta
porrada sobreviverá. E continuarei só com as minhas palavras. Que destino
triste esse que construo para mim. Mas nunca fui bom com as mulheres. É um
defeito de caráter meu. Já entrei na quarta página e isso não pode se dar.
Terminei por hoje.
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