sexta-feira, 15 de junho de 2018

DIVERSOS II



19h22. Estou na piscina com o meu amigo. Ele já está pronto para sair com a gata dele. Veio só dar o alô. Deu o alô.





19h32. Ele me incentivou a ir para o Rock In Rio Lisboa. Botei “Bastards” de Björk. Meu amigo foi de moto, que eu acho um veículo perigosíssimo, arriscadíssimo. O grito do cara na música me lembra... a voz do exu incorporado no velho que benze Zé Pequeno em “Cidade de Deus”. Ambos parecem meio misteriosos e místicos, uma elação da alma. A presença do celular que tirei do bolso e coloquei na mesa quase agora me transmite uma sensação de aprisionamento. O que deveria me causar isso seriam os cigarros. Mas os cigarros não personificam a onipresença da minha mãe em minha vida. É, é o que vou fazer, mas não posso dizer, é um segredo meu comigo mesmo. Me pego pensando se os segredos que revelo, as minhas ideias baseadas na realidade que estava vivendo dentro de um manicômio privado cheio de loucos e viciados e nela... se um dia for publicado meritoriamente o “Diário do Manicômio”... passeei agora pelo som de Björk, um remix de “Mutual Core”. Desculpe fazer propaganda, mas é uma forma de manter viva essa chama em mim de ser relevante. A situação é por demais relevante e diferente. Então qualquer que fosse o narrador a tornaria pertinente, eu creio. Mas só havia eu. Os meus olhos e minha obstinada vontade, necessidade de me dizer. Será que o Andarilho já pedia mais cigarros para poder fazer jogo com a galera, talvez até com seu companheiro de quarto, o Borderline? E se eu tivesse decidido parar de fumar quando da grande contenção? Não, não seria possível, o underground me provia cigarros de alguma forma que eu não sei qual era, pois não trocava nada, não recebia lanches, não tinha roupas transadas, mas os cigarros me chegavam de uma forma ou de outra. Como chegava aos outros contidos. E, deles, chegavam às minhas mãos por eu ser parte do clã apenas, um dos “considerados” do grupo dos mais ratos de clínica, mais escolados, que se conhecem de outros carnavais, outras internações, o, bem, clã dentro daquele lugar com loucos, nos mais diversos graus, com as mais peculiares personalidades. Em alguns, como o que fazia “passes” com a colher, quase com ausência de personalidade. É um lugar peculiar para dizer o mínimo. Foi lá que passei dois meses da minha vida. Meus alentos nessa situação? Os três eram, fumar, escrever – já pensando ser publicado, mas muito adiante (muito adiante está chegando e não sei se conseguirei ou terei coragem de publicar) – e a terceira coisa é um segredo que guardei comigo mas que não há como retirá-lo da trama. Queria que não fizesse parte da trama. Mas quero mais que minha história seja a mais autêntica possível. Que o livro gere o debate. O truque dos palitos. Eu acho que nunca mais vou esquecê-lo. Poderia até mostrar a meus sobrinhos, talvez ao mais velho, quiçá os três, não sei quando irei revê-los e qual o grau de cognição deles para entender o que é proposto. Será que meu sobrinho mais velho desvendaria a solução? Caramba, acabei de me lembrar, eu escrevi antes mesmo da ideia me ocorrer. Acho que preciso incluir no projeto paralelo. Agora estou tomado de pensamentos, sua primeira foto como modelo que queria que ilustrasse a capa do meu livro. Ela tem tudo para ser o que eu não fui, reconhecida em alguma instância. Se bem que eu fui reconhecido numa instância muito importante, como amigo, não posso esquecer do projeto do meu amigo cineasta, que talvez conte de um Mário diferente do Mário que eu me conto no embrião de livro que não sei se vai vigar ou não. Acho que tem um potencial de vendas, principalmente se a cintas com os slogans forem afixadas e botassem o livro na bancada de lançamentos. E se todas as editoras me rejeitarem (era bom que se justificassem o porquê). E eu achasse as desculpas em desacordo com a minha opinião, eu me publicaria e colocaria a seguinte tarja “Um livro maldito” e, menor, embaixo, óbvio, “Rejeitado por todas as editoras”. Qualquer coisa, eu faria uma tiragem de mil exemplares e distribuiria na frente da Livraria Cultura onde mais pessoas que gostam de ler vão. Poderia ser que fizesse o boca-a-boca e pedissem mais livros. Outro seria “Imoral! Imoral?” Outro acho que já mencionado aqui é “Sinceridade que agride.” Acho que estes bastavam. Talvez haja outro legal na lista que esteja esquecendo. Sei lá e tanto faz, estou na piscina escrevendo. Acabo de entrar na segunda página do post e nada de especial para dizer me ocorre. Gostei de debater uma parte das minhas aspirações aqui. Do sonho de ser publicado por uma editora à porta da Livraria Cultura distribuindo livros.


Jogo dos sete erros. Bem, um.




21h19. Já estou pensando no segundo livro. Vai ser interessante. Como experiência pessoal, digo. Um experimento pessoal. Tinha pensado passar dois meses vivendo como mendigo e digitando as minhas impressões no celular, em tempo quase real, mas sou preguiçoso comodista, muito acostumado a todo tipo de conforto, não passaria por isso. Puxa, para tornar as coisas mais interessantes, o texto poderia ser um diálogo com a minha mãe. Isso seria uma forma interessante, nova, de desenvolver um livro. Olha aí, estou dando a ideia, os bravos ou bravas que se arrisquem. Hahaha. Tenho vontade, mas falta-me a coragem. Temo que meu celular não vá demorar muito. Ficção. Estou na praça dos mendigos e peço para a minha mãe minha mãe mandar fazer um sopão e trazer um pacote com dez carteiras de cigarro todos os dias à noite, quando serenado o trânsito. Eu ficaria com uma e o resto seria distribuído pelos mendigos, alguns iriam possuir a carteira, mas dar cigarros a seus colegas, pois lá há mais de nove mendigos. E o sopão tinha que dar para a galera toda. Iria custar dinheiro, mas acho que menos do que mamãe gastará comigo nessa viagem à Europa, seria a minha viagem do ano. Quem sabe ela se animasse e continuasse prestando essa assistência até depois de passado o período do livro? Como uma de suas atividades, pois vai ver a diferença que vai fazer na sociedade, a relevância da sua pessoa para tantas outras, se sentiria mais viva e disposta com esse sentido em sua vida. Já que pretende se aposentar. Quanto a mim? Eu conseguiria manter o celular dos ataques dos viciados em crack e ladrões, dizendo que eu tenho que falar com a minha mãe todos os dias, quando ela falar comigo pelo WhatsApp, para que o sopão e os cigarros venham. Se eu não falar com ela, ela vem me buscar na mesma hora, esse é o combinado e a farra acaba. Sem sopa ou cigarros. Essa seria a minha lábia. E aí ficava escrevendo. Tirava fotos. Poderia, se aprendesse a mexer, gravar entrevistas. Até dos que viessem me assaltar. FIM. Por ora. Pensei agora em mandar mais um comentário no post do meu irmão. Vou copiar e colar daqui, “Ei, pelo menos me tornei escritor, eu não vivo de escrever, mas vivo para escrever, pena que apenas um blog que vinte pessoas lêem. E olhe que diminuí o tamanho dos posts de sete para apenas três páginas e tento colocar mais imagens, sem nenhum resultado. Faço o que amo fazer, o que me dá sentido à vida, minha vocação e me contento com isso. Cheguei à conclusão que, com os bonecos que estão aí, não haverá mais nada e material que eu deseje, eu não preciso de mais nada, só afluência de cigarros, Coca, comida, desodorante, xampu, desodorante, perfume, escova de dentes, pasta e, claro, papel higiênico, além de internet, eletricidade e água corrente. Preciso disso para viver. Descobri que faltam duas coisas à minha vida, pois tenho tudo isso, todo o conforto e comodidade que a vida pode oferecer e até mais, eu nasci em berço de ouro, a grande maioria da humanidade está em condições muito, mas muito piores que a minha e sobrevivem. Mas me faltam duas coisas, como ia dizendo, reconhecimento e um amor profundo e recíproco. Eu preciso de intimidade e companhia de uma garota que eu ame, seja encantado por ela, a admire. Mas estou conformado que não terei isso. Mas, ei, eu escrevo. Papai nunca imaginaria que eu conseguiria viver escrevendo. Eu consegui, alcancei meu grande sonho profissional. Só que sou medíocre. Não sou grande e nunca serei. Mas sempre resta a esperança. Essa nunca me abandona. Como não poderia deixar de ser, me esforçando para ser lido, eu posto o endereço do meu blog aqui. Hahaha. http://jornaldoprofeta.blogspot.com/2018/06/diversos-ii.html”





22h32. Poxa, durou só um minuto. Pensei que havia durado mais, fui ali no mato me aliviar. E que alivio gostoso de sentir. Não sendo bastante termos a necessidade de urinar, ainda somos recompensados por uma onda de prazer ao realizar e completar o ato. Isso seria desnecessário, já que o que leva a urinar é a vontade de fazê-lo não o pensamento no alívio posterior. É uma dádiva que me agrada. Às vezes, para mim, é muito melhor que os meus esparsos orgasmos. Como já disse, estou meio que desinteressado de sexo e orgasmo já não é o prazer que julgava ser. Tive a minha primeira gozada, sem ejaculação, claro, aos sete anos de idade, foi a melhor de todas. As de hoje são um pálido reflexo do êxtase surpreendente da primeira gozada. Estou ficando velho, pode ser que os remédios afetem a minha libido, pode ser que acho sexo muito demandante, que eu encare, como encaro, como a obrigação de satisfazer uma mulher. Acho o próprio pensamento broxante, mas não consigo ver sexo como uma gostosa brincadeira a dois. Não mais. Já foi assim. Com a minha segunda namorada, com quem perdi a virgindade, e com a Gatinha. Mas com o decorrer da relação o furor pelo sexo foi diminuindo, e fazíamos acho que pouco sexo no final, mas nos amávamos e adorávamos um a companhia do outro. Nos divertíamos juntos. Ou pelo menos essa era a impressão que dava. Bom rememorar isso. Dias felizes. Mais felizes que os dias de solidão, devo admitir. E não tinha medo de sexo com ela. Como teria muito medo hoje. Nossa, ficaria completamente petrificado com a possibilidade de sexo. Só se fosse algo gradual, uma namorada que vai aos poucos esquentando, com alguém que eu deseje e seja apaixonado, aí acho que rola. Só não há esse alguém. E eu pouco tento produzi-lo em minha vida, ademais para uma mulher me encantar precisa muito, do meu ponto de vista do que é a beleza feminina. Sou bastante exigente para o pouco de homem que sou. Mas não tem problema, como tudo o que tenho, estou conseguindo seguir a minha vida, encontros esporádicos com amigos e colegas, minha socialização. Além de Ju, minha fundamental terapeuta e os encontros familiares. Mas a maior parte do tempo, a imensa maioria dele, é sentado diante desse computador escrevendo o que poucos lerão. Quase em vão. Isso tem me incomodado, escrever em vão. Parece que busco algo outro que a escrita pela escrita. Busco o tal do reconhecimento. Estou tentando as vias que me cabem, como narrei em outro post, tenho um tio bem posicionado a respeito disso que a priori disse que me ajudaria, depois se disse impactado com o livro, que é muito íntimo e que nós precisaríamos sentar para conversar. Pois bem, quando estiver devidamente revisado eu sento para conversar com ele. Vai ser muito difícil. Eu posso ir com a minha AT, se esta houver. Não me vejo bem com a AT sugerida por Ju empreitando tal tarefa. Há duas opções que darei a ela. E direi que serei irredutível em relação às escolhas, ou uma ou outra. Não vejo mais ninguém na minha frente – ou ao meu lado – que me agrade além delas. Isso é assunto para a segunda.


Selfie tirada para o lado errado.



23h03. Fui salvar o arquivo, a luz do computador já diminuiu e está com alerta de bateria. Terei que subir em breve. Voltar ao meu quarto-ilha. Vou ver se tiro umas fotos do agora.





23h14. Tirei. Hahaha. As tirei e vou distribuir ao longo do post. Já devo estar no final da terceira página. Eita, está chuviscando, não dá para ir agora. Estou achando esse post interessante. Tanto quanto o de ontem. Usei metalinguagem em dois pontos. Eu acho. Não sei direito o que significa metalinguagem. Entendo que são camadas dentro de camadas de alguma forma de expressão. Ou algumas. No caso texto blog, imagem, Facebook. Vou postar, sim, no post do meu irmão. Eu tenho essa cara de pau. E ainda mando o link para cá, para esse post específico. Acho que é um post que está diferente. E dá um panorama do que pode rolar por essas bandas. Alarmou o computador. Vou fechar o barraco aqui, tomar o resto de Coca, fumar o último cigarro e vou subir.


Selfie tirada pelo lado errado no elevador cor-de-rosa.



23h49. Cheguei ao quarto-ilha, já fumei um cigarro com Coca no hall, quando soube que o irmão do meu primo-urbano está aqui através da minha tia-vizinha. E vou acabar página para revisar e postar. Vou postar os dois posts de hoje. Acabou.

Adendo: para ter pertinência com o post do meu irmão, sobre a minha visão do meu pai, eu cito os versos da música “Alexandre” de Caetano Veloso, “foi grande; se embriagou de poder, alto e fundo, fundando o nosso mundo, foi generoso e malvado, magnânimo e cruel”.

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