Mamãe esqueceu de me deixar os cigarros, que ozzy. Acho que
escrevi um monte de asneiras ontem no meu projeto paralelo. Não tem problema,
se for asinino demais eu simplesmente corto. Tenho esperança de não ser. Fui
bastante transparente e repassei tudo o que me tomava no momento. Eu já o vejo
como um possível segundo livro, se e somente se o primeiro houver. Acho que não
vou publicar esse. Não sei. Fato é que o post com três páginas teve muito mais
acessos. Isso me estimular a continuar a escrever nesse formato.
14h34. Acabei de ver uma campanha de uma tal de Unipsico sobre
não incentivar o namoro entre crianças. O que eu penso disso? Eu me apaixonava
quando era criança, mas nunca cheguei a concretizar nada. Então, não sei o que pensar
disso, não sei se é uma “adultização” das crianças ou se elas já erotizam
algumas relações por ela mesmas. Não sei. E pouco se me dá. Estimular já acho
estranho, tanto quanto coibir. Realmente não tenho opinião muito formada sobre
o assunto, talvez por não ter filhos, não consiga fazer uma projeção sobre
isso.
14h44. A hora de ir para Ju se aproxima e não me sinto
preparado. Louco para fumar um cigarro. Ah, mãe, porque você foi esquecer do
cigarro? Acho que vou fumar um dos três que me restam. Três são a medida certa
para me acompanhar na espera e no pós-sessão, mas terei que me contentar com
dois. Preciso de um cigarro agora.
14h53. Estou agoniado, achando o meu quarto muito caótico
muito cheio de coisas, estou como se não coubesse em mim direito. Acho que
estou pilhado de cafeína. Daqui a pouquíssimo tempo vou tomar um banho para ir
ao embate com Ju. Embate, pois terei que demarcar minha posição. Não estou a
fim de encarar tal debate. Mas é inevitável. Eu posso não ir, mas sei que irei.
Espero que o banho me bote mais nos eixos. 14h59. De 15h10, eu vou tomar banho.
Estou me sentindo diferente. Agoniado demais. Afobado, impaciente. Estranho.
Definitivamente peguei sovaqueira. Ozzy. Mais uma coisa que conta contra a
minha pessoa. Não bastasse a enormidade de coisas que me denigrem ainda essa.
Bom, é a vida e o desodorante está acabando. Acho que vou me preparar para ir.
Inté.
Assunto: Terapia
Espero por Ju e me confesso sem cérebro ou disposição de
encarar a conversa tal qual a imagino. Uma investigação sobre as minhas
expectativas em relação à AT. A tarde cai dourada, tropical. É uma luz muito
bela que sempre me encanta. É assim que chego hoje à terapia. Impressionado com
a capacidade do teclado do celular de adivinhar o que quero escrever. Não sei o
que dizer por enquanto, trago uma certa ansiedade comigo. Esse encontro me
parece ser mais superego, por assim dizer, que os demais. 16:10. O sol foi
encoberto por nuvens. A bateria está em 10%. Daqui a pouco vou ser atendido,
acho que o cliente que Ju atende antes de mim acabou de sair.
17h32. Estou de volta. Com o cartão da AT sugerida por Ju.
Espero que não seja quem eu estou pensando. Vou pesquisar no Facebook depois.
Tenho quase certeza que é. E ela me intimida. Mas deixemos isso de lado por
enquanto. O fio da conversa foi frustração. O quanto me sinto frustrado, o
quanto frustro e o medo de frustrar. Tudo isso me pertence e me apodero disso.
Com que utilidade, eu não sei. Talvez me machucando não sinta as dores do
mundo. Ju é fenomenal. Quase me fez sentir como gente, mas admiti que sinto
menos que as demais pessoas, que não me considero gente, me considero subumano.
Talvez daí surja a minha identificação com as periferias, com os
marginalizados. A verdade é que estou louco para descobrir quem é a AT, tomara,
tomara que não seja quem eu estou pensando.
17h47. Não era quem eu estava pensando. Não é uma má
alternativa. Não é seria uma escolha que faria, mas é uma boa escolha. Não sei
se a amizade que tem com minhas primas, uma do lado paterno outra do lado
materno atrapalhará o processo.
17h56. Não me sinto preparado para isso. Não sei. Preciso meditar
muito a respeito. Eu sou gente, mas não me sinto como tal, me sinto abaixo
dessa condição pela minha inutilidade e pelo prazer que encontro em ser inútil.
Também me causa uma forte dor na consciência estar jogando a minha existência
assim ao vento aliás, me decompondo mais a cada dia no abafado quarto-ilha. Mofando
enquanto a vida passa. Estou noiado com essa história de AT. Gostaria de lidar
com isso na presença de Ju. Um encontro de nós três. Mas preciso ter um pouco
de hombridade e enfrentar por mim mesmo. Não sei, não sei o que pensar a
respeito da escolha de Ju. Me surpreendeu, nem positivamente nem negativamente.
Essa neutralidade é um tanto desestimulante. Queria sentir atração pela garota,
eu suponho. Mas ela não faz o meu tipo. Ju me leu um poema muito lindo e o que
me lembrou foi Aurora. Eu sou um verme. Me sinto com a alma pesada, como disse
a Ju. Pesada, cansada de ser quem eu sou, como sou. Vou fumar um cigarro. E
acho que vou descer para a piscina hoje outra vez, não sei. Vou não, só se meu
amigo da piscina se manifestasse. Vou lá fumar com um Coca bem gelada. Há pouco
gelo, isso é mau.
18h25. Aproveitei e botei gelo para fazer. Pensava em descer
para a piscina. Mas estou com um negócio ruim em relação a isso. Estou com a
alma toda destrambelhada hoje. Não queria que a AT fosse quem é, mas também não
objeto a escolha. Poderia ser pior. Acho que precisarei de outra sessão com Ju.
A verdade é que eu queria alguém por quem pudesse me apaixonar, o que não é o
caso. Isso nem parece a minha vida, parece ficção. Não queria que fosse ela.
Essa rejeição prévia talvez seja medo. Ou o fato de sonhar com alguém por quem
eu possa ter uma transferência romântica. Mas o acaso-destino me empurra em
direção ao itinerário previsto e desejado, o impossível. Estou escrevendo mal,
perdão. Redundo porque meu juízo está rodopiando tentando lidar com a
possibilidade aberta. Sinceramente, não sei o que achar. Na verdade, acho que
não. Há um certo resquício de talvez por baixo da camada de não. Estou que nem
barata tonta agora. Já com vontade de fumar outro cigarro.
18h54. Fiquei ciscando na internet para fugir da realidade
tal qual se afigura. Não gosto de como ela se afigura, estou desconfortável com
a possibilidade, só sei que poderia ser pior. Estou achando muito estranho esse
negócio de AT com a figura em questão. Essa é a verdade, não me sinto, no
momento disponível para isso. Pode ser que com uma boa noite de sono eu me
aclimate com a ideia, mas agora não me agrada. Vou fumar e tomar Coca com gelo,
espero. E comer uns bolos.
19h14. Não comi bolos. Falei para a minha mãe que a AT era
amiga da minha prima, irmã do meu primo-irmão, como que buscando a reprovação
dela. E essa veio. Não acho que a figura fosse comentar nada com a minha prima,
acho que não atrapalharia a relação isso, o negócio é que estou com um pé atrás
com a escolha, não me sinto confortável com ela. Talvez esse desconforto
surgisse com quaisquer pessoas que Ju me sugerisse. Não sei. Minha mãe já está
achando muito em cima da viagem para começar. Isso me dá um alívio. A verdade
verdadeira é que não queria ela. Quem eu queria? Acho que agora eu não queria
ninguém, me decepcionou a opção. A verdade é essa. Não sinto empatia suficiente
pela pessoa. Eu acho, ela é legal e tal, mas algo dentro de mim não curtiu.
Talvez seja o supramencionado medo, mas queria alguém com quem já tivesse uma
empatia. Seria muito mais fácil para mim. Bom, eu não sei o que faça da minha
vida, talvez reparta esse post com Ju. Para que ela tenha a medida do meu sentimento
em relação à sugestão. E seria estranho ir na casa da minha tia-mãe e dar de
cara com a minha AT lá. Eu ficaria todo errado com ela. Ju diria que é parte do
processo de construir uma nova relação e blá-blá-blá, mas verdade é que não me
sinto disponível para isso com essa pessoa. É bom notar que não tenho nada contra
a figura, mal a conheço. Mas existe um “mas”. Esse porém que não sei bem nomear
me broxa. Nossa, não quero e pronto. Ela disse que eu estou no comando. Mas me
sinto envergonhado de negar uma pessoa. Como disse a Ju, não gosto de frustrar
o outro mais do que já frustro vários. Quanto mais próximos, mais frustrante eu
sou. Eu não me sinto no direito de negar a ajuda da figura, mas não me vejo
confortável com a sua presença. Eu não sei, me sinto culpado ao dizer isso. É
uma pessoa do bem gente boa, sem frescuras, de bem com a vida e com senso de
humor, eu creio. Não foi alguém com quem eu tivesse o interesse de conectar e
combinar um encontro. Há algum entrave. Senão não estaria aqui a dar voltas
atrás do meu próprio rabo, já teria feito contato. Se fosse algo que me
empolgasse. Acho que quero uma paixão platônica ou estou com medo de alguém que
não quero entrar na minha vida. Estou com a cuca fervendo aqui. Que dilema. Mas
não vou me jogar numa coisa para a qual não possa me dar por inteiro. Com
vontade. Com disponibilidade. Não me imagino indo ao cinema ou a uma exposição
com ela. Há algum bloqueio. Alguma coisa não bate. Não sei o que seria. Me
sinto culpado rejeitando alguém, ninguém merece ser rejeitado. Não acho justo
da minha parte. Também não acho justo comigo fazer uma coisa que não quero. Não
a vejo me dando suporte na hipotética tarde de autógrafos do lançamento do
livro. Sendo o meu campo de força. Não vejo como a cumplicidade pudesse surgir
da minha parte. Por que não vejo? Não sei. É algo a que não tenho acesso
direito. Queria que fosse fácil, agradável, acolhedor e sem esforço.
20h13. Fui jantar. Parte um dele. Eu me sinto culpado por
tudo o que escrevi sobre a sugestão de AT. Mas culpa não pode ser o motor da
decisão. Odeio ouvir um não, então odeio dar um não. E ainda mais meio sem
justificativa. Sem uma explanação racional, só porque minha alma não quer uma
realidade assim. Não acho que me faria bem. Não me sinto bem com as projeções
que faço. Posso estar sendo pessimista, o que não seria nenhuma novidade. Não
pensei que esse negócio de AT iria me botar tão dividido. Só me sinto pior,
mais verme ao pensar no assunto tendo a garota como protagonista. Não queria me
sentir assim e não sei como me sentir de outra forma. Se estivesse realmente interessado
na companhia dela, já teria tentado contato. Mas não quero. Vou mandar isso
para Ju, não sei se vai ler (ela é meio fuleira com isso). Eu não sei o que a
AT tem de errado, só sei que sinto que algo não está certo para mim. Não é
alguém que eu deseje encontrar ou partilhar o meu tempo. Acho que vou desistir
dessa ideia de AT e viver o meu confinamento mesmo, é um futuro triste, é
frustrante, é doído. Não quero isso também, queria uma AT que eu me sentisse
sinceramente motivado a contatar. Não é o caso até o momento. Nossa, tem dias
que a coisa – eu – parece que emperra. Me sinto emperrado, culpado, como se
estivesse denegrindo ou desmerecendo a garota. Mas me esforço para projetar
algo de positivo advindo daí e não consigo. Que saco, isso me faz desgostar um
pouquinho mais de mim e de minhas sensibilidades. A página três chega ao seu
fim. Uma última frase? Por que fui me animar com essa história de AT? Otário.
Ridículo. Imbecil. Seu merda, a culpa é toda sua. Tudo está dentro da sua
cabeça e nela apenas, o problema todo reside em você, ser desprezível. Obrigado
pelo grand finale, superego. O que Ju
irá pensar de mim? Não quero nada disso.
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