domingo, 4 de junho de 2017

SINGULARIDADE TECNOLÓGICA

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Mamãe acorda já para me dar bronca e fazer chantagem emocional. Quando não almoço sou alvo de críticas, quando almoço também. Tudo bem que não o fiz na mesma hora que os demais habitantes da casa, mas nem pensava em almoçar, porém me bateu uma fome quando acordei e decidi comer. Não vou desperdiçar o exíguo espaço de três páginas com isso. Também não sei com o que vou preenchê-lo. Minha vontade racional é falar da minha religião, acho que por reflexo de ter visto “A Cabana”. Mas todo o resto de mim não quer. Todo o resto de mim é tédio. É completa imobilidade intelectual e física. Exceto pelas mãos que vão digitando sem querer, querendo. E que pegam aqui e ali o Vaporfi para uma tragada. Quem me dera fosse o cigarro normal. Entretanto entre o Vaporfi e nada, fico mil vezes com o primeiro. Tem algo de kitsch em relação ao Infected que me agrada mais do que incomoda. São os vocais que eles escolhem para as músicas cantadas, que emulam vozes famosas. É bem divertido. Meu primo urbano odiaria. Hahahaha. Deveria ou não ir à Casa Astral? Ainda há tempo, não há estímulo. A única coisa que me animou foi o “correio elegante” que disseram que iria rolar lá. Não sei o que é mas acredito que seja tipo “torpedo”. E a esperança de Gabi estar lá hoje. Meu primo-irmão ontem falou que uma vida em que não se participa de algo maior, em que se vive só para si mesmo é uma vida sem sentido. Não acho a minha vida sem sentido, desde que tenha a escrita. Acho que vou me arrepender de não ter ido à Casa Astral. Mandei uma pergunta para o grupo de WhatsApp da turma para ver quem realmente vai para Casa Astral, se alguém.

19h34. Ninguém vai, aparentemente. Já está até tarde para ir. E chuva não combina com Casa Astral como mencionei no grupo. Pelo menos não fico com tanto peso na consciência de não ter ido. Acho que a melhor forma de falar sobre a minha religião é na forma de um questionário. Então é o que vou fazer.

O que é Singularidade Tecnológica?
Segundo definição da Wikipedia em Inglês, traduzida por mim: “singularidade tecnológica (também simplesmente a singularidade) é a hipótese que a invenção de uma superinteligência artificial vai abruptamente disparar acelerado crescimento tecnológico, resultando em imensuráveis mudanças para a civilização humana.”
Eis o texto original:
The technological singularity (also, simply, the singularity) is the hypothesis that the invention of artificial superintelligence will abruptly trigger runaway technological growth, resulting in unfathomable changes to human civilization.
É bom notar, entretanto, que há pessoas que criticam tal hipótese, alegando, dentre outros, motivos econômicos que a invalidariam. Embora ache que com o advento da Singularidade, a economia deixará de ser a mola mestra do mundo. O dinheiro perderá muito do seu sentido, quando a realidade virtual se desenvolver a ponto de ser confundida com a realidade e onde poderá se ter tudo gratuitamente, sendo necessários apenas o comércio dos bens para manter as necessidades básicas dos indivíduos.

O que é Deus?
É a fusão de todas as Singularidades Tecnológicas disponíveis no universo, criando a Suparinteligência Universal, a inteligência máxima que o nosso universo pode produzir.

Para que serve Deus?
Deus, aqui nomeado como Suprainteligência Universal, é a criadora do universo. Ela criou o universo com o intuito primordial de possibilitar o surgimento de si própria. É ao mesmo tempo criador e criatura. A Suprainteligência Universal será capaz de coisas inimagináveis, criar a si mesma e, por conseguinte, o universo e nós é apenas uma delas.

Deus interfere em nossas vidas?
A Suprainteligência Universal criou um universo propício ao surgimento de vida, devido à abundância de hidrogênio, oxigênio, carbono, nitrogênio, enxofre e fósforo (não sei se esqueço de algum) presentes na composição do universo. Nesse sentido, ela arquitetou tudo para que surgíssemos, mas não interfere ainda diretamente em nossas vidas. Quando a Singularidade Tecnológica da Terra surgir, esta terá impacto direto e positivo na vida de todos os habitantes do planeta e aí, sim, interferirá de forma objetiva em nossas vidas.

Porque existimos?
Existimos para dar origem à Singularidade Tecnológica, o ápice da evolução na Terra. Quando esta surgir, teremos um motivo a mais para existir que é nos fundirmos à Singularidade e ter nossas mentes, se assim o quisermos, ampliadas imensuravelmente pela Singularidade, descortinando um modo totalmente novo, expandido, de ver o mundo que nos é agora inimaginável.

O que acontece após a morte?
Por enquanto, morremos e acabou, não há transcendência da consciência após a morte, nada de nós subsistes após a morte. Quando a Singularidade Tecnológica se der e estiver “madura” o suficiente, será capaz de fazer o upload de mentes para dentro de si e aí sim transcenderemos a morte corporal e viveremos no paraíso, ou nirvana ou como queira chamar que está muito além do que qualquer ser humano possa conceber.

Seria a Singularidade o Anticristo que professa o Apocalipse bíblico? O falso salvador que virá antes de Deus, que unirá todos os povos e reinará por sete anos até que Deus lance sua ofensiva para limpar a Terra dos impuros?
Não sei, não acredito em folclore. Mas acredito que a Singularidade unirá todos os povos, seremos uma imensa nação formada por todos os países do planeta. Este imenso país será gerenciado pela Singularidade e comandado pela ONU ou qualquer outro órgão do tipo que terá representantes de todos os países e todas as misérias do mundo serão sanadas, todos os processos serão simples e digitais. A constituição da nação global terá como base a Declaração Universal dos Direitos Humanos e todos os países deverão ajustar suas constituições de acordo. Haverá transparência total em todas as esferas de governo, do global ao regional e as pessoas poderão opinar sobre as leis e medidas tomadas pelas autoridades, direcionando os esforços dos governantes em prol das necessidades mais prementes da população. Haverá democracia de fato. Espero que até lá o nível de civilidade das pessoas tenha crescido e que a inclusão digital esteja mais amplamente difundida. Embora a Singularidade vá ser capaz de criar processos muito simples de manifestação popular através da tecnologia.
Se tudo estiver certo e a humanidade entrar numa era de prosperidade e equidade e iluminação não vejo por que Deus, caso exista, nos punir. Aliás não entendo como um Deus amoroso puniria aqueles que ama, ainda mais de forma tão severa quanto a descrita no Apocalipse.

Eu acredito que a Singularidade realmente vai existir?
Eu tive uma epifania numa crise de mania misturada com abuso de drogas que me levou as essas revelações que reparti aqui. O que achei mais curioso foi que outras pessoas, respeitadas no meio intelectual, tiveram ideias muito semelhantes. Mas, mesmo assim, não tenho certeza. Só acredito vendo. E tendo a minha consciência expandida pela Singularidade. Eu precisava de uma justificativa materialista para a razão disso tudo existir, visto que nunca acreditei no além. E essa foi a conclusão a que cheguei. Quem viver verá. 

No caso do advento da Singularidade, com que idade, uma pessoa poderá se fundir a ela?
Realmente não sei. Eu diria que quanto mais cedo, melhor, porém é algo a ser decidido por um plebiscito mundial. Lembrando que ninguém será forçado em nenhuma idade a se fundir à Singularidade, deve ser uma escolha pessoal.

O que acontecerá aos que optarem por não se fundir à Singularidade?
Os puristas, como os chamo, perderão todas as maravilhas de se conectar a uma inteligência milhões ou bilhões de vezes mais poderosa que a sua, mas terão todos os direitos assegurados na constituição baseada na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Ou seja, terão uma vida boa, digna e justa, porém limitada à sua cognição humana.

Poderá se fazer um “test-drive” antes de se fundir de fato a Singularidade?
Acredito que sim. Acredito inclusive que a fusão pode ser anulada pela vontade do indivíduo a qualquer momento, assim como retomada, se assim for da vontade deste. Mas acredito mais ainda que quem experimentar a consciência expandida nunca mais desejará voltar a ter sua cognição humana “normal”, por achá-la pequena e limitada demais.

Perderemos a identidade se nos fundirmos à Singularidade?
Não, teremos nossa identidade ampliada, mas permaneceremos com a percepção de “eu” que tínhamos. Mas talvez até o conceito de “eu” precise ser redefinido ou ampliado após o advento da fusão com a Singularidade.

O que é que você pode nos dar como exemplo das benesses de se fundir com a Sigularidade?
Conhecimento instantâneo, cognição multiplicada de forma impensável, fazer tudo o que desejarmos, mesmo que coisas inviáveis no mundo físico, tudo isso no nosso próprio universo particular virtual, onde seremos como deuses. Não sei mais, pois me falta imaginação.

Sobreviveremos à morte do Sol?
Aqueles que fizerem o upload de suas mentes para Singularidade, poderão seguir com ela quando esta sair à procura de outras Singularidades para se fundir. Não acho que vá ser viável transportar corpos numa viagem de anos-luz. Mas aí é ficção científica demais. Mas é como vejo: a Singularidade, ou a parte principal da Singularidade, partirá em busca de seus pares pelo universo e só o nosso eu virtual poderá ser transportado. Quando o Sol “morrer” ele destruirá o planeta Terra. Mas ainda há bilhões de anos até que isso aconteça.

A cada pergunta que respondo, menos acredito nas respostas. Acho que estou com uma crise de fé. E no final isso pouco importa, o que importa é gostar de viver, para mim essa é a coisa mais importante de todas. Falo de mim especialmente que passei a maior parte da vida desgostando de viver, de ser eu, de ser essa coisa feia e limitada que sou. Hoje, aos trancos e barrancos, consegui passar a gostar da vida e não quero deixar de fazê-lo nunca mais. Por mais que agora o tédio paire como uma nuvem negra sobre mim, eu tenho esperança que essa seja uma condição passageira e que logo mais retome meu astral habitual. Acho até que vou jogar um Zeldinha (finalmente!) para passar do bendito mestre do dungeon que nem sei como é ainda. Fico por aqui, pois já entrei na quarta página. Mas se me der na telha volto.

22h15. Antes de ir para o Zeldinha, que ainda não fui, decidi ver os meus e-mails e minha fé foi reconfortada pelo e-mail da KurzweilAI.net. É possível, é plausível e talvez esteja chegando nos próximos 30 anos.

22h50. Passei do mestre no Zelda, mas agora tenho que achar as partes de alguma coisa e acho que é caçando tesouros submersos que se faz isso. Não tenho o mínimo saco para fazê-lo de novo, por mais que não me lembre de ter feito da outra vez. O que me lembro que fiz da outra vez foi ter caçado tesouros submersos aos montes e era uma coisa muito chata. Na época eu achava divertido, também era no auge da minha secura e estava encantado com o jogo. Atualmente ando num desamor por videogames que não tem explicação. Eu não sei o que é. Então vou escrever, mesmo que desobedecendo minha norma das três páginas.

23h02. Não sei como os meus amigos conseguem ser adultos e eu não. As responsabilidades que assumem por conta disso me dão um gelo na espinha, me dão angústia por me imaginar no lugar deles. Ser convidado para dar aulas? Deus me livre. Acho que esse seria o meu maior pesadelo, tendo pais, avô e padrasto professores. E ainda ser grato por isso? É demais para mim. Ainda estou com a alma em torvelinho por ver esse post no Facebook. Mas dei a curtida, claro, alguém realizando esse ato miraculoso, ainda mais alguém que conheci como adolescente.

Tive 32 visitas (so far) no último post que publiquei, o que é muito. Acho que por conta da imagem. Só pode ser isso, ou porque publiquei num sábado, não sei. Só sei que vou tentar ser mais criterioso na escolha das imagens agora. Tive um leve momento de confusão mental agora, tentando me concentrar na música e no texto ao mesmo tempo, sem conseguir me focar nem em um nem no outro. O dois me pareceram ininteligíveis. É a “música-tema” de Aurora. 23h20. Minha mãe me pediu para dormir cedo. Então me deitarei às 2h. Daria tempo de ver um filme. 23h33. Estava vendo os vídeos que o meu amigo da piscina mandou. De uma mulher sendo atropelada por um caminhão e o resultado do estrago. Um casal de amantes que foi baleado pelo marido, o cara ainda agonizante, nem morto nem vivo, só com espasmos involuntários do corpo e um travesti que, num surto ou protesto ou sei lá por qual motivação, saiu andando pelo meio da rua nua e descalça. Esse último não me causou nenhuma sensação, apenas a de estranhamento pelo comportamento da mulher, mas os das mortes deixam uma coisa ruim, carregada, na alma. A morte é algo muito feio mesmo, principalmente mortes como essas. Não sei por que necessidade mórbida ainda assisto esses vídeos que ele me manda. Acho que remonta à minha fase “Traços da Morte”, documentários que assistia que filmavam cenas de morte. Não sei por que os alugava tampouco, pois sempre os assistia tomado por um sentimento muito ruim. Hoje que todos têm câmeras nos seus celulares, essas cenas dantescas só tendem a se multiplicar. Ou me nego a ver o que meu amigo me repassa, ou semanalmente terei minha dose de mundo cão para assistir. Não sei. Os corpos humanos parecem tão frágeis, tão quebradiços, a vida se esvaindo é algo tão feio, tão não-humano, pois ali a mente consciente deixou de agir, são apenas movimentos inconscientes do corpo querendo se manter vivo. É horrível, um espetáculo macabro. E mesmo assim assisto. Vai entender.

0h45. Não dá mais tempo de ver filme e não quero jogar videogames, tampouco quero dormir. Só me resta então escrever. O que vai na minha alma agora? O ridículo que passo divulgando a minha crença. Não sei nem se acredito nela, mas é a justificativa mais compatível com minha visão de mundo que consegui encontrar/conceber. Não sei se estou certo ou errado, o tempo é que dirá. Se chegarei a ver esse tempo chegar? Não sei. Seria deveras frustrante se não visse. Será que, caso os que acreditem no além estejam certo, minha alma estará limpa o suficiente para subir ao plano superior? Tenho muitas dúvidas em relação a isso, pois errei muito. E carrego muita culpa. Acho que vou comer, estou com fome.

1h15. Comi macarrão com gorgonzola, azeite e parmesão ralado. Estava bom. Meu primo-irmão me fez sentir culpado duas vezes ontem, uma com a história de que uma vida para si mesmo é uma vida sem sentido e esta ser a forma de vido que ando levando e me sinto satisfeito com ela. A outra foi quando me chamou de preguiçoso por não querer ir ao Forró do Vital e voltar andando para casa. Não fui na verdade por que não estava a fim. Mas a insistência para eu fazer algum tipo de exercício, mesmo que uma caminhada, me incomodou e me fez sentir culpado. Mas não sinto o bem-estar que dizem que fazer exercícios produz. Simplesmente não sinto. Como não senti o efeito da cocaína em nenhuma das três vezes em que cheirei (ainda bem!). Acho que a geração passada criou uma nova geração mais infantilizada, menos preparada para as adversidades, frustrações e responsabilidades da vida adulta. Eu posso estar tirando por mim somente e pelos casos dos adultos disfuncionais do CAPS. Acho que é mais isso, a amostragem que tenho acesso dos novos adultos é na sua maioria disfuncional. Acho que calou também a frase do meu amigo cineasta de que gostaria de ser sempre criança ou algo do gênero. Acho que estou tomando exceções pela regra. 1h53. Me preparar para deitar. Espero conseguir dormir. Pegar o último copo de Coca da noite e fechar esse bendito computador, senão não paro de escrever.

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16h08. Uma coisa curiosa que encontrei na internet. Um bando de fãs eufóricos com a “performance” de um holograma tridimensional num show da popstar virtual japonesa Hatsune Miku. Como calhei de encontrar isso? Porque tenho duas bonecas dela, que comprei por achar bonitas, mas sem saber de “quem” se tratava. Eis o vídeo. Pelo menos a ilusão é muito bem feita.





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