sábado, 17 de junho de 2017

O QUE É VIL EM MIM?




“O que é vil em mim? O que é que não é vil em mim? Sou mais do que vil, sou o triste palhaço da vileza.” Foi assim que respondi à pergunta feita na oficina, estimulado por poesia de Fernando Pessoa sobre a hipocrisia social, onde “todos são príncipes”. Talvez tenha pegado um pouco pesado comigo, mas não muito. A vida que levo e vil, meus hábitos são vis, minha escrita é vil, minhas paixões são vis, estou aquém dos meus próprios valores. De todo sou um homem vil. E a vileza maior é que isso não me incomoda muito. Pois gosto de viver. Não devia ser assim, mas sou. Não quero mudar. Eu sei que isso é vil da minha parte, mas tenho que me acolher assim, homem vil. Se não me acolher, quem me acolherá? É verdade que não me acho tão vil quantos os corruptos da vida pública, mas aí não é vileza é vilania, maldade, não sou tão corruptível ou assim quero crer. Nunca fui posto no lugar deles, nunca estive nesse meio, mas acho que não me deixaria tentar pelo dinheiro, como disse em posts anteriores, não há nada quase nada mais que eu queira de material e o quase que falta me é completamente dispensável, além do que posso adquiri-lo com a minha pensão. Sim, sou vil até nisso. Fui declarado incapaz civilmente, nem votar eu posso, e por isso curatelado, o que me dá direito à pensão vitalícia, eu suponho. Isso me faz sentir deveras vil e ao mesmo tempo aliviado, pois, como também já disse aqui, estava tendo burnouts cada vez mais frequentes no trabalho que culminavam em depressão profunda, pânico, abuso de drogas e tentativas de suicídio. Essa curatela veio para a minha própria sobrevivência e meu “ofício” tornou-se escrever isso. O que é uma ocupação vil, eu sei. Inútil para a sociedade. Minha única contribuição social, já que até o direito de voto me foi vetado, resume-se a assinar petições em prol de causas que ache justas. Minha rotina resume-se a ir para o CAPS dia sim, dia não e tentar sair nos finais de semana. O resto do tempo que tenho é livre e o uso escrevendo essas linhas. Para mim é irrefutável que sou um homem vil. Mas tenho que acolher essa culpa, essa condição para poder encarar a vida de cabeça pelo menos soerguida. Sei que gosto da minha rotina e de meus dias, mas, como deu para perceber, não gosto muito de mim. Acho que por ser tão fora dos padrões, por fugir da maioria dos estereótipos, por me parecer claramente que eu sou um vagabundo, doente e viciado. Estereótipos esses nada engrandecedores. Mas, em algum lugar de mim se encontra um cara bom, só que ele cada vez mais se esconde, está cada vez mais difícil de se encontrar, pois não se manifesta, eu não me manifesto muito fora dessas palavras. Antes muito sociável, que era quando o meu lado bom florescia, me tornei o caladão da turma. E com o meu silêncio, calam-se as minhas qualidades. É verdade que calam-se também os meus defeitos, fica exposta apenas a minha feiura. Eu me sinto uma anomalia, mas uma anomalia que gosta de viver. Só precisa se aceitar mais. Por mais que tenha dito que acolho a minha vileza, acho que disse mais da boca para fora. Há uma série de questões mal resolvidas de mim para comigo mesmo. Eis a verdade. Mas gosto de viver, apesar dos dilemas existenciais. Isso é o mais precioso para mim. Por muitos e muitos anos não gostei. Na verdade, odiei viver. Há anos não sei o que é crise depressiva. Isso para mim faz toda a diferença. Posso ser o bosta que for, mas não estou na merda. No fundo do poço. Já frequentei várias vezes esse insalubre lugar, muitas delas sem ver como sair, sem achar que tinha saída. Mas teve. E espero nunca mais cair lá de novo. 16h41. Vou pegar Coca.

16h43. Sobre o aqui e agora. Não posso ouvir som porque estou esperando o cara da Sky tocar aí para avisar ao meu padrasto. Estou meio para baixo com a constatação de que não acolho como deveria a minha vileza e não tenho o mínimo intuito de mudar. Permanecer limpo das minhas drogas de preferência já é uma grande vitória. Se bem que é uma vitória que nem completou um ano ainda. Só em novembro, pois só conto a partir de quando saí do internamento. Então estou apenas a seis sete meses sem usar. Parece mais. E espero que seja muito mais. Espero que seja para nunca mais. Foi isso que prometi a ela, embora ela nem saiba de nada. Minha mãe merece isso também. Principalmente ela. Em segundo lugar, quase empatado com ela, eu.

17h24. Me perdi pelo Facebook. Depois no e-mail. O Facebook agora é principalmente vídeos, isso é muito enfadonho, não tenho paciência para assistir. Preferia quando eram fotos. Muitos me despertam a curiosidade, mas poucos me despertam o suficiente para assisti-los. Vi alguns mesmo assim. A curiosidade matou o gato. Hahahahaha. Pelo menos desanuviei da minha vileza. Isso é um alento. Não posso ficar me martirizando pelo que sou. Isso adoece a alma. Preciso me aceitar como sou. Tenho facetas difíceis de engolir, mas não vou começar a me depreciar de novo. Não sou apenas um vagabundo, doente, viciado. Tenho qualidades, só que agora me escapam. Hahahahaha. Acho que consigo ser um bom amigo para poucos. É o que posso dizer de melhor de mim. Não sou muito mesquinho. Diria que não sou nada mesquinho. Bem, talvez seja só um pouquinho, senão me fariam de idiota com muita facilidade. Se bem que as vezes me faço de idiota e deixo alguém levar a melhor para cima de mim, perdendo esse alguém em troca uma parcela do meu respeito. O meu amigo da piscina tem a mania de fazer isso, pensa que eu não percebo. Se bem que, da próxima vez, que vai haver, não me farei mais de bobo. Será tudo como deve ser. O justo. O combinado. Mas não quero falar sobre isso agora, tenho pensamentos ambivalentes em relação à coisa toda. Minha mãe pediu para eu sair do Spotify para poder ouvi-lo na varanda com o meu padrasto. É um ritual que está se tornando tradicional entre eles. Eu poderia ver “House of Cards” hoje. Recomeçar a ver. Nem lembro onde parei. Mas foi ainda na primeira temporada, eu acho. Não salvou de onde eu parei porque houve um reboot do serviço em um dado momento que zerou as marcações da minha conta. Não quero assistir do zero, mas também não sei como pular episódios. Deve ser intuitivo, entretanto, afinal é um serviço líder de mercado. Eu sou um fracassado. Profissionalmente e afetivamente falando. Ou, por outro lado, sou bem-sucedido profissionalmente porque faço o que mais gosto que é escrever. Não o faço profissionalmente, não me gera um centavo sequer, mas me preenche e me dá satisfação e isso acho que é o mais importante. Afetivamente realmente não tenho para onde correr, sou um fracassado. Espero ser um viciado em abstinência bem-sucedido daqui para a frente também. Isso será uma grande vitória. O vício é pernicioso e criativo, sempre inventa uma maneira de corromper, mas acho que estou mais esperto agora e vejo a cola e o crack como coisas distantes de mim. 18h10. Pegar um copo de Coca.

18h13. Não consigo tirar da cabeça que sou um fracassado em todos os aspectos da minha vida. Sou um cara de 40 anos solteiro que vive trancado no quarto do apartamento da mãe. Que mal convive com os demais habitantes da casa. Isso é deprimente. E ainda é mais deprimente porque estou satisfeito com essa situação simplesmente porque estou sem depressão. É deprimente sobre qualquer perspectiva social que se olhe. Mas estou bem. Estou contente com a vida. Acho que isso importa mais que qualquer outra coisa. Me falta apenas um grande amor. Recíproco, eu digo. Isso me faria um bem enorme eu acho. Acrescentaria muito à minha vida. Tenho medo de retomar a vida sexual, mas encararia. Não queria alguém muito safada na cama, afeita a peripécias sexuais. Queria, para ser sincero alguém inexperiente como eu. Mas isso acho muito difícil de encontrar. Queria alguém romântica, mas não pegajosa. E linda aos meus olhos. E bem-humorada e inteligente. E sem frescuras/preconceitos. E com menos de 30. Seria precisamente isso. É, eu quero demais. Mas se quero é porque já tive isso. Mas há uma década. Hoje é bem mais difícil. Acho que até os tempos são outros. Sei lá. Entreguei nas mãos do destino. 18h50. Estou vendo se arrumo uma programação light para fazer. Joguei a ideia pro grupo de WhatsApp. Existe uma possibilidade em Boa Viagem. Longe pra dedéu. Dei a minha condição para ir. Vamos ver o que respondem. Se é que responderão. Fui um tanto impertinente. Mas não reprimirei meus desejos. Mas me senti incomodado por ter sido tão direto. Acho que quem convidou também, visto que ainda não respondeu. Sei lá. Cartas na mesa. Para me deslocar até lá é preciso haver uma recompensa. 19h08. Pegar um copo de Coca.

19h13. Ainda silêncio absoluto no grupo de WhatsApp. Acho que peguei pesado. Mas agora o dito não pode ser desdito. Perguntei se havia sido sem noção. Acho que fui. A música que passa agora me lembra o blog de bonecos. Vou dar mais dez minutos e olhar o grupo de novo. 19h21. 19h31 eu olho. Acho que este é o post mais baixo-astral que escrevo em um longo tempo. Fracassado, vagabundo, doente, viciado, solteiro e sem noção que vive ainda com a mãe (e viverei até o fim da vida de um dos dois, pois ela é a minha curadora). O que mais falta acrescentar à lista? Espero que nada. Já está extensivamente pejorativa demais. 19h27. Já ia pegar o celular para ver. Ansioso. Mas não me considero uma pessoa ansiosa. Minha mãe me deixa ansioso. 19h31. Só uma pessoa se manifestou dizendo que não está em Recife nesse final de semana. A pessoa que convidou para Boa Viagem não falou mais nada. Isso me preocupa, me dá um sentimento ruim, de quem fez coisa errada. Odeio esse sentimento. Mas não foi a coisa mais absurda do mundo. Também não foi o mais apropriado. Agora já foi. Foda-se. 19h40. Pedi desculpas. Não há mais nada que eu possa fazer para botar panos quentes ou remediar a situação. Queria que a pessoa que fez a proposta se manifestasse. Para o bem ou para o mal. Outra música que me lembra o blog de bonecos. Ambas foram do “Pitanga”. Ele e o “Blackstar” foram os discos que ouvia à época. Me dá vontade de escrever um novo post para lá, mas não tenho assunto. 19h45. Eu tornei meu dia num dia ruim com as minhas divagações sobre a pequenez da minha pessoa e agora com essa gafe social. Que ozzy.

20h10. Nada de manifestação de mais ninguém no grupo. Isso me deixa ainda mais pra baixo. Mas sinceramente não entendo por que o silêncio. Bom, já vi que ficarei em casa hoje. E durante todo o final de semana, já que meu primo-irmão vai para Caruaru. O que deduzo é que a pessoa que me convidou ficou indignada com o meu comentário. Bom, vou mudar de assunto.

20h24. Acho que vou ver um filme. Talvez procurar o documentário de Amy Winehouse no outro HD. A impressão que tenho é que o líquido chinês para o Vaporfi acaba bem mais rápido que o da própria Vaporfi. Não adianta ainda estou bolado com a minha gafe. Como queria que fosse só porque a pessoa não viu ainda o WhatsApp. Mas pela velocidade que respondeu ao outro convite, duvido. Bom, não adianta chorar o leite derramado. Bola pra frente. A vida segue e na devida oportunidade peço desculpas pessoalmente. A vontade que tenho é me mandar para Boa Viagem e ir bater lá para pedir desculpas, mas sei que isso é muito over. Eu nem sei direito onde a pessoa mora. Como disse, bola pra frente. Já me desculpei. Acabei de lembrar que vou ter que ir para a Alemanha. Que ozzy. Não queria ir. Queria que meu padrasto fosse no meu lugar. Mas acho que ele não vai. Não tirou passaporte ainda. Estou de baixo-astral. Não adianta nem tentar ver o lado bom da viagem. É bom ir esperando o pior que quando chegar lá posso ficar bem impressionado. Eu gosto de Munique. Eita, passando uma música massa. “Mercy Mercy Me (The Ecology)”, cover do Strokes com participação de Eddie Vedder. Perfeita. O que fazer agora? Estou sem saco de escrever. Vou ver se o documentário está lá mesmo no outro HD.

20h50. Botei o HD errado. Pensando em ver Kick-Ass 2. Mas sem muita disposição. Saí da pasta, fui para a de drama/romances/comédias e nada. Estou sem saco de ver filme. Botei Infected Mushroom para ouvir. Isso levanta um pouco o meu astral. Queria dormir. Mas ao mesmo tempo não quero. Não sei o que quero da vida hoje. Espero que amanhã seja um dia melhor. E logo hoje sexta, que tenho a noite toda para mim... que saco. Não posso me deixar abater por tão pouco. Acessei uma área mal resolvida de mim. E ainda cometi essa gafe que pode ter sido entendido como uma piada de mal gosto quando era uma colocação sincera. O silêncio da pessoa me é claustrofóbico. De todo o grupo for that matter, afinal ninguém postou nada depois do meu pedido de desculpas. Bom, estou me preocupando com algo muito pequeno, fazendo tempestade num copo d’água. Nem eu sou esse monstro todo de vileza, embora não tenha mentido sobre nada, nem falei algo de tão grave assim.

21h25. A pessoa falou! E disse que não tinha nada demais! E eu na mais completa paranoia aqui. Que alívio tremendo. Por que ela não respondeu duas horas atrás?!!! Teria me evitado um automartírio totalmente desnecessário. Menos mal. Bem menos mal. Meu astral até mudou. Melhorou consideravelmente. Mas continuo sem vontade de fazer nada. Vou acender a luz do quarto. Ficar nesse breu, tendo como única fonte de luz a tela do notebook não está sendo legal. E vou pegar um copo de Coca. 21h30.

22h11. Estava organizando os arquivos, isso me fez desopilar um pouco, estou me sentindo bem mais leve. Posso dizer que estou bem. Realmente foi terapêutico. Me encontro com novo ânimo. Ainda mais ouvindo IM. Está tudo legal agora. Só não ficar relembrando ou remoendo o que escrevi acima. Acho que vou achar graça da minha paranoia com a minha amiga que me convidou para ir a Boa Viagem. Porém continuo sem vontade de fazer nada. Também já são 22h23. Está ficando tarde. Mas a noite é uma criança para mim, por mais que já esteja bocejando. Acho que vou ver um filme mesmo. Qual filme é a questão. Eu baixei o “Independence Day” mais novo, mas em 3D e não gosto do 3D passivo da minha TV. Vou trocar de HD e ver se acho o de Amy Winehouse.

1h32. Achei e acabei de assistir o documentário de Amy Winehouse. O documentário deixa como grandes vilões o megaestrelato e o marido, que a introduziu às drogas pesadas e que aparentemente só estava com ela por interesse. O pai também não é mostrado com os melhores olhos, mas certamente a impressão que fica é que o marido a levou ao vício e a fama foi demais para ela suportar. A história apresenta várias semelhanças com a de Kurt Cobain. Realmente hoje foi um dia de coisas que baixaram o meu astral.


2h12. Vou dormir. Amanhã reviso e posto.  

2 comentários:

  1. Não consigo vê-lo como vil...
    Consigo enxergar tantas coisas lindas em VC, mesmo tendo consciência de que não o conheço de fato, mas não consigo ver nenhuma vileza...
    E posso dizer, que até as pessoas mais iluminadas e boas, têm seu lado obscuro...
    Bom... Quem sabe um dia, tenha a oportunidade de conhecê-lo melhor além das suas palavras escritas =) .. Fique bem

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  2. Puxa, não sei nem o que dizer... muito obrigado!

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