“O que é vil
em mim? O que é que não é vil em mim? Sou mais do que vil, sou o triste palhaço
da vileza.” Foi assim que respondi à pergunta feita na oficina, estimulado por
poesia de Fernando Pessoa sobre a hipocrisia social, onde “todos são
príncipes”. Talvez tenha pegado um pouco pesado comigo, mas não muito. A vida
que levo e vil, meus hábitos são vis, minha escrita é vil, minhas paixões são
vis, estou aquém dos meus próprios valores. De todo sou um homem vil. E a
vileza maior é que isso não me incomoda muito. Pois gosto de viver. Não devia
ser assim, mas sou. Não quero mudar. Eu sei que isso é vil da minha parte, mas
tenho que me acolher assim, homem vil. Se não me acolher, quem me acolherá? É
verdade que não me acho tão vil quantos os corruptos da vida pública, mas aí
não é vileza é vilania, maldade, não sou tão corruptível ou assim quero crer.
Nunca fui posto no lugar deles, nunca estive nesse meio, mas acho que não me
deixaria tentar pelo dinheiro, como disse em posts anteriores, não há nada
quase nada mais que eu queira de material e o quase que falta me é
completamente dispensável, além do que posso adquiri-lo com a minha pensão.
Sim, sou vil até nisso. Fui declarado incapaz civilmente, nem votar eu posso, e
por isso curatelado, o que me dá direito à pensão vitalícia, eu suponho. Isso
me faz sentir deveras vil e ao mesmo tempo aliviado, pois, como também já disse
aqui, estava tendo burnouts cada vez
mais frequentes no trabalho que culminavam em depressão profunda, pânico, abuso
de drogas e tentativas de suicídio. Essa curatela veio para a minha própria
sobrevivência e meu “ofício” tornou-se escrever isso. O que é uma ocupação vil,
eu sei. Inútil para a sociedade. Minha única contribuição social, já que até o
direito de voto me foi vetado, resume-se a assinar petições em prol de causas
que ache justas. Minha rotina resume-se a ir para o CAPS dia sim, dia não e
tentar sair nos finais de semana. O resto do tempo que tenho é livre e o uso
escrevendo essas linhas. Para mim é irrefutável que sou um homem vil. Mas tenho
que acolher essa culpa, essa condição para poder encarar a vida de cabeça pelo
menos soerguida. Sei que gosto da minha rotina e de meus dias, mas, como deu
para perceber, não gosto muito de mim. Acho que por ser tão fora dos padrões,
por fugir da maioria dos estereótipos, por me parecer claramente que eu sou um
vagabundo, doente e viciado. Estereótipos esses nada engrandecedores. Mas, em
algum lugar de mim se encontra um cara bom, só que ele cada vez mais se
esconde, está cada vez mais difícil de se encontrar, pois não se manifesta, eu
não me manifesto muito fora dessas palavras. Antes muito sociável, que era
quando o meu lado bom florescia, me tornei o caladão da turma. E com o meu
silêncio, calam-se as minhas qualidades. É verdade que calam-se também os meus
defeitos, fica exposta apenas a minha feiura. Eu me sinto uma anomalia, mas uma
anomalia que gosta de viver. Só precisa se aceitar mais. Por mais que tenha
dito que acolho a minha vileza, acho que disse mais da boca para fora. Há uma
série de questões mal resolvidas de mim para comigo mesmo. Eis a verdade. Mas
gosto de viver, apesar dos dilemas existenciais. Isso é o mais precioso para
mim. Por muitos e muitos anos não gostei. Na verdade, odiei viver. Há anos não
sei o que é crise depressiva. Isso para mim faz toda a diferença. Posso ser o
bosta que for, mas não estou na merda. No fundo do poço. Já frequentei várias
vezes esse insalubre lugar, muitas delas sem ver como sair, sem achar que tinha
saída. Mas teve. E espero nunca mais cair lá de novo. 16h41. Vou pegar Coca.
16h43. Sobre
o aqui e agora. Não posso ouvir som porque estou esperando o cara da Sky tocar
aí para avisar ao meu padrasto. Estou meio para baixo com a constatação de que
não acolho como deveria a minha vileza e não tenho o mínimo intuito de mudar.
Permanecer limpo das minhas drogas de preferência já é uma grande vitória. Se
bem que é uma vitória que nem completou um ano ainda. Só em novembro, pois só
conto a partir de quando saí do internamento. Então estou apenas a seis sete
meses sem usar. Parece mais. E espero que seja muito mais. Espero que seja para
nunca mais. Foi isso que prometi a ela, embora ela nem saiba de nada. Minha mãe
merece isso também. Principalmente ela. Em segundo lugar, quase empatado com
ela, eu.
17h24. Me
perdi pelo Facebook. Depois no e-mail. O Facebook agora é principalmente
vídeos, isso é muito enfadonho, não tenho paciência para assistir. Preferia
quando eram fotos. Muitos me despertam a curiosidade, mas poucos me despertam o
suficiente para assisti-los. Vi alguns mesmo assim. A curiosidade matou o gato.
Hahahahaha. Pelo menos desanuviei da minha vileza. Isso é um alento. Não posso
ficar me martirizando pelo que sou. Isso adoece a alma. Preciso me aceitar como
sou. Tenho facetas difíceis de engolir, mas não vou começar a me depreciar de
novo. Não sou apenas um vagabundo, doente, viciado. Tenho qualidades, só que
agora me escapam. Hahahahaha. Acho que consigo ser um bom amigo para poucos. É
o que posso dizer de melhor de mim. Não sou muito mesquinho. Diria que não sou
nada mesquinho. Bem, talvez seja só um pouquinho, senão me fariam de idiota com
muita facilidade. Se bem que as vezes me faço de idiota e deixo alguém levar a
melhor para cima de mim, perdendo esse alguém em troca uma parcela do meu
respeito. O meu amigo da piscina tem a mania de fazer isso, pensa que eu não
percebo. Se bem que, da próxima vez, que vai haver, não me farei mais de bobo.
Será tudo como deve ser. O justo. O combinado. Mas não quero falar sobre isso
agora, tenho pensamentos ambivalentes em relação à coisa toda. Minha mãe pediu
para eu sair do Spotify para poder ouvi-lo na varanda com o meu padrasto. É um
ritual que está se tornando tradicional entre eles. Eu poderia ver “House of
Cards” hoje. Recomeçar a ver. Nem lembro onde parei. Mas foi ainda na primeira
temporada, eu acho. Não salvou de onde eu parei porque houve um reboot do
serviço em um dado momento que zerou as marcações da minha conta. Não quero
assistir do zero, mas também não sei como pular episódios. Deve ser intuitivo,
entretanto, afinal é um serviço líder de mercado. Eu sou um fracassado.
Profissionalmente e afetivamente falando. Ou, por outro lado, sou bem-sucedido
profissionalmente porque faço o que mais gosto que é escrever. Não o faço
profissionalmente, não me gera um centavo sequer, mas me preenche e me dá
satisfação e isso acho que é o mais importante. Afetivamente realmente não tenho
para onde correr, sou um fracassado. Espero ser um viciado em abstinência
bem-sucedido daqui para a frente também. Isso será uma grande vitória. O vício
é pernicioso e criativo, sempre inventa uma maneira de corromper, mas acho que
estou mais esperto agora e vejo a cola e o crack como coisas distantes de mim.
18h10. Pegar um copo de Coca.
18h13. Não
consigo tirar da cabeça que sou um fracassado em todos os aspectos da minha
vida. Sou um cara de 40 anos solteiro que vive trancado no quarto do apartamento
da mãe. Que mal convive com os demais habitantes da casa. Isso é deprimente. E
ainda é mais deprimente porque estou satisfeito com essa situação simplesmente
porque estou sem depressão. É deprimente sobre qualquer perspectiva social que
se olhe. Mas estou bem. Estou contente com a vida. Acho que isso importa mais
que qualquer outra coisa. Me falta apenas um grande amor. Recíproco, eu digo.
Isso me faria um bem enorme eu acho. Acrescentaria muito à minha vida. Tenho
medo de retomar a vida sexual, mas encararia. Não queria alguém muito safada na
cama, afeita a peripécias sexuais. Queria, para ser sincero alguém inexperiente
como eu. Mas isso acho muito difícil de encontrar. Queria alguém romântica, mas
não pegajosa. E linda aos meus olhos. E bem-humorada e inteligente. E sem
frescuras/preconceitos. E com menos de 30. Seria precisamente isso. É, eu quero
demais. Mas se quero é porque já tive isso. Mas há uma década. Hoje é bem mais
difícil. Acho que até os tempos são outros. Sei lá. Entreguei nas mãos do
destino. 18h50. Estou vendo se arrumo uma programação light para fazer. Joguei
a ideia pro grupo de WhatsApp. Existe uma possibilidade em Boa Viagem. Longe
pra dedéu. Dei a minha condição para ir. Vamos ver o que respondem. Se é que
responderão. Fui um tanto impertinente. Mas não reprimirei meus desejos. Mas me
senti incomodado por ter sido tão direto. Acho que quem convidou também, visto
que ainda não respondeu. Sei lá. Cartas na mesa. Para me deslocar até lá é
preciso haver uma recompensa. 19h08. Pegar um copo de Coca.
19h13. Ainda
silêncio absoluto no grupo de WhatsApp. Acho que peguei pesado. Mas agora o
dito não pode ser desdito. Perguntei se havia sido sem noção. Acho que fui. A
música que passa agora me lembra o blog de bonecos. Vou dar mais dez minutos e
olhar o grupo de novo. 19h21. 19h31 eu olho. Acho que este é o post mais
baixo-astral que escrevo em um longo tempo. Fracassado, vagabundo, doente,
viciado, solteiro e sem noção que vive ainda com a mãe (e viverei até o fim da
vida de um dos dois, pois ela é a minha curadora). O que mais falta acrescentar
à lista? Espero que nada. Já está extensivamente pejorativa demais. 19h27. Já
ia pegar o celular para ver. Ansioso. Mas não me considero uma pessoa ansiosa.
Minha mãe me deixa ansioso. 19h31. Só uma pessoa se manifestou dizendo que não
está em Recife nesse final de semana. A pessoa que convidou para Boa Viagem não
falou mais nada. Isso me preocupa, me dá um sentimento ruim, de quem fez coisa
errada. Odeio esse sentimento. Mas não foi a coisa mais absurda do mundo.
Também não foi o mais apropriado. Agora já foi. Foda-se. 19h40. Pedi desculpas.
Não há mais nada que eu possa fazer para botar panos quentes ou remediar a
situação. Queria que a pessoa que fez a proposta se manifestasse. Para o bem ou
para o mal. Outra música que me lembra o blog de bonecos. Ambas foram do
“Pitanga”. Ele e o “Blackstar” foram os discos que ouvia à época. Me dá vontade
de escrever um novo post para lá, mas não tenho assunto. 19h45. Eu tornei meu
dia num dia ruim com as minhas divagações sobre a pequenez da minha pessoa e
agora com essa gafe social. Que ozzy.
20h10. Nada
de manifestação de mais ninguém no grupo. Isso me deixa ainda mais pra baixo.
Mas sinceramente não entendo por que o silêncio. Bom, já vi que ficarei em casa
hoje. E durante todo o final de semana, já que meu primo-irmão vai para
Caruaru. O que deduzo é que a pessoa que me convidou ficou indignada com o meu
comentário. Bom, vou mudar de assunto.
20h24. Acho
que vou ver um filme. Talvez procurar o documentário de Amy Winehouse no outro
HD. A impressão que tenho é que o líquido chinês para o Vaporfi acaba bem mais
rápido que o da própria Vaporfi. Não adianta ainda estou bolado com a minha
gafe. Como queria que fosse só porque a pessoa não viu ainda o WhatsApp. Mas
pela velocidade que respondeu ao outro convite, duvido. Bom, não adianta chorar
o leite derramado. Bola pra frente. A vida segue e na devida oportunidade peço
desculpas pessoalmente. A vontade que tenho é me mandar para Boa Viagem e ir
bater lá para pedir desculpas, mas sei que isso é muito over. Eu nem sei
direito onde a pessoa mora. Como disse, bola pra frente. Já me desculpei. Acabei
de lembrar que vou ter que ir para a Alemanha. Que ozzy. Não queria ir. Queria
que meu padrasto fosse no meu lugar. Mas acho que ele não vai. Não tirou
passaporte ainda. Estou de baixo-astral. Não adianta nem tentar ver o lado bom
da viagem. É bom ir esperando o pior que quando chegar lá posso ficar bem
impressionado. Eu gosto de Munique. Eita, passando uma música massa. “Mercy
Mercy Me (The Ecology)”, cover do Strokes com participação de Eddie Vedder.
Perfeita. O que fazer agora? Estou sem saco de escrever. Vou ver se o
documentário está lá mesmo no outro HD.
20h50. Botei
o HD errado. Pensando em ver Kick-Ass 2. Mas sem muita disposição. Saí da
pasta, fui para a de drama/romances/comédias e nada. Estou sem saco de ver
filme. Botei Infected Mushroom para ouvir. Isso levanta um pouco o meu astral.
Queria dormir. Mas ao mesmo tempo não quero. Não sei o que quero da vida hoje.
Espero que amanhã seja um dia melhor. E logo hoje sexta, que tenho a noite toda
para mim... que saco. Não posso me deixar abater por tão pouco. Acessei uma
área mal resolvida de mim. E ainda cometi essa gafe que pode ter sido entendido
como uma piada de mal gosto quando era uma colocação sincera. O silêncio da
pessoa me é claustrofóbico. De todo o grupo for
that matter, afinal ninguém postou nada depois do meu pedido de desculpas. Bom,
estou me preocupando com algo muito pequeno, fazendo tempestade num copo
d’água. Nem eu sou esse monstro todo de vileza, embora não tenha mentido sobre
nada, nem falei algo de tão grave assim.
21h25. A
pessoa falou! E disse que não tinha nada demais! E eu na mais completa paranoia
aqui. Que alívio tremendo. Por que ela não respondeu duas horas atrás?!!! Teria
me evitado um automartírio totalmente desnecessário. Menos mal. Bem menos mal.
Meu astral até mudou. Melhorou consideravelmente. Mas continuo sem vontade de
fazer nada. Vou acender a luz do quarto. Ficar nesse breu, tendo como única
fonte de luz a tela do notebook não está sendo legal. E vou pegar um copo de
Coca. 21h30.
22h11.
Estava organizando os arquivos, isso me fez desopilar um pouco, estou me
sentindo bem mais leve. Posso dizer que estou bem. Realmente foi terapêutico.
Me encontro com novo ânimo. Ainda mais ouvindo IM. Está tudo legal agora. Só
não ficar relembrando ou remoendo o que escrevi acima. Acho que vou achar graça
da minha paranoia com a minha amiga que me convidou para ir a Boa Viagem. Porém
continuo sem vontade de fazer nada. Também já são 22h23. Está ficando tarde.
Mas a noite é uma criança para mim, por mais que já esteja bocejando. Acho que
vou ver um filme mesmo. Qual filme é a questão. Eu baixei o “Independence Day”
mais novo, mas em 3D e não gosto do 3D passivo da minha TV. Vou trocar de HD e
ver se acho o de Amy Winehouse.
1h32. Achei
e acabei de assistir o documentário de Amy Winehouse. O documentário deixa como
grandes vilões o megaestrelato e o marido, que a introduziu às drogas pesadas e
que aparentemente só estava com ela por interesse. O pai também não é mostrado
com os melhores olhos, mas certamente a impressão que fica é que o marido a
levou ao vício e a fama foi demais para ela suportar. A história apresenta
várias semelhanças com a de Kurt Cobain. Realmente hoje foi um dia de coisas
que baixaram o meu astral.
2h12. Vou
dormir. Amanhã reviso e posto.
Não consigo vê-lo como vil...
ResponderExcluirConsigo enxergar tantas coisas lindas em VC, mesmo tendo consciência de que não o conheço de fato, mas não consigo ver nenhuma vileza...
E posso dizer, que até as pessoas mais iluminadas e boas, têm seu lado obscuro...
Bom... Quem sabe um dia, tenha a oportunidade de conhecê-lo melhor além das suas palavras escritas =) .. Fique bem
Puxa, não sei nem o que dizer... muito obrigado!
ResponderExcluir