sábado, 10 de junho de 2017

PRÉ, DURANTE E PÓS-SAÍDA (XINXIM DA BAIANA E IRAQUE)

Eu queria ter essa capacidade de dizer muito com pouquíssimas palavras. Era o que costumava fazer na Publicidade. Não sei onde essa capacidade de síntese foi parar. Até agora 15h41, não sei por que meu primo urbano veio pedir conselhos musicais a mim, que tenho o gosto musical completamente diferente do dele. Gosto aliás que ele acha duvidoso. De qualquer forma dei a minha opinião. Espero que não se ofenda. Acho que estou ficando corcunda de tanto ficar nessa posição de escrever no computador, com a cabeça baixa, olhando para as teclas. Mas ninguém reparou nisso ainda, então pode ser impressão minha. Se hoje não chovesse, eu bem que poderia ir para a piscina, mas o tempo começa a se fechar novamente. “The Machines Of God”, nome de um disco do Smashing Pumpkins é um exemplo de algo que diz muito com muito pouco. Principalmente para mim, que quero crer na Singularidade Tecnológica e na Suprainteligência Universal. Eita, lá vem esse cara com esse papo de novo, o leitor mais assíduo deve estar pensando, mas pensou errado porque eu também ando meio de saco cheio de falar sobre isso. Acho que pedir à psicóloga que leia o meu post é um tanto quanto pretensioso, mas é o que farei. Não consegui a localizar hoje para passar essa mensagem.

16h54. Quantos escritores frustrados não existem por aí publicando paulatinamente em seus blogs na vã esperança de serem lidos? Conheço pelo menos mais um. Mas, como eu, ele não desiste. E dia sim, dia não, publica mais uma de suas poesias. É uma pena ver tanto esforço, empenho e carinho serem transformados em lixo cibernético, em algo que não interessa ou é visitado por ninguém. Esse seria o destino dos textos do menino desaparecido do Acre se ele não tivesse bolado tão mirabolante estratégia de marketing. Pelo menos, nisso – não sei nos escritos – ele foi realmente genial. Espero que seja genial também no que diz, pois estou deveras curioso para ler. Curioso como nunca estive com qualquer outro livro. Mas não vou ficar aqui fazendo publicidade gratuita dele. Quero apenas ter o livro em mãos para poder julgar. Julgar; quem sou eu para fazer isso? Se bem que todos nós julgamos o tempo todo, então sim, também julgarei essa obra se chegar a ser publicada. Sem dúvida, pelo que tramou em seu quarto, ele deve ser bastante inteligente. Além disso a mãe disse que era um menino muito bom, amigo dos mendigos. E que leu bastante, pois achava que não tinha conhecimento suficiente. Acho que também não gosto de ler porque, quanto mais erudito se é, mais distante da média da sociedade se fica, ao ponto de ter uma inumerável quantidade de assuntos que não se tem com quem repartir, o que, a meu ver, deve ser muito frustrante. Por outro lado, deve ser muito mais fácil criar um assunto para uma conversa ou debater os mais diversos assuntos com repertório tão vasto. Como o meu pai tinha, tanto a erudição quanto a habilidade de criar assuntos, e, mesmo assim, se sentia isolado na sua ilha de conhecimento, eu acho que adquirir conhecimento é uma faca de dois gumes no âmbito social. Preferi ficar com a faca cega da ignorância e, em vez de ler, escrever, coisa a que meu pai nunca foi dado, intimidado pela sombra dos grandes escritores que leu. Eu não tenho esse problema, ainda bem, não trocaria a escrita pela leitura em momento algum. Escrever é libertador para mim. É a atividade mais libertadora que existe. Vou digitar o meu caderno do Manicômio.

17h13. Cansei de digitar. Chegou uma hora que o “basta” piscou para mim, já estava com o ombro dolorido. Ainda estou, percebo agora, mas não o forço tanto nessa posição de frente para o computador. Mas estou sem saco para escrever. Acho sexo supervalorizado por todos os meios e de todas as formas. Eu acho carinho e intimidade muito mais importantes. E prefiro ser o que ama mais do que o que ama menos. Mas obviamente eu prefiro amar igual. Porém, definitivamente não gosto de ser o que ama menos. A chuva cai novamente, frustrando qualquer plano de descer para escrever na piscina. Dizem que isso vai durar o mês inteiro, quem sabe mais. Ozzy. O melhor dos amores que vivi foi o que eu amei igual. Infelizmente eu a traía com outra paixão: a cola de sapateiro. Desde o fim desse relacionamento tenho vivido de paixões platônicas. Ano passado substituí uma que muito mal me fazia por uma que mal não me faz. Achei a troca ótima. Até certo ponto. Porque, ao mesmo tempo que, depois de tanto tempo sozinho, eu morra de medo de entrar numa nova relação, eu estou um tanto cansado da impossibilidade peculiar ao platonismo. Gostaria de me apaixonar e poder trocar carinhos e construir intimidade com a pessoa amada. Claro que haveria sexo no meio do caminho, afinal é a forma de intimidade e carinho mais plena que há. Mas não seria um fim. Para mim nunca foi um fim, mas algo que acontecia em decorrência do relacionamento. Eu não sou de ficadas. Só fiquei com duas pessoas na vida. Ou uma ficada e um namoro relâmpago, melhor colocando. Adorei o namoro relâmpago, não me agradei da ficada. Além disso tive três namoradas. E a isso se resume minha vida afetiva. Além das diversas paixões platônicas que nutri ao longo da vida.

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Pena que a câmera não captou a luz como os meus olhos...


Tudo está encantadoramente alaranjado. A luz perfeita para uma propaganda da Coca-Cola. Acolhedora. A Coca gelada parece néctar. Estou tendo um momento de ansiedade como o de um surfista se desequilibrando. Acho que a banda acabou.


Estamos eu e uma amiga digitando celular frente a frente. É socialmente estranho. Cadê meu primo-irão? Será que ela também pensa nisso? Ele seria a liga social que nos falta. Não sei identificar a coisa que está tocando. Um som interessante 1h49.

1h51. Ela se levantou e foi. 1h53. O show recomeçou e o cantor falou “calma aí, o show já está acabando” e logo depois aparentemente sugerido por alguém mencionou para as pessoas irem ao movimento "Diretas Já" no domingo. Não sei se um comentário tem a ver com o outro. Uma mulher passou por aqui e cantou uma parte da música, de Belchior, creio, para mim sorrindo e foi. Foi em direção ao palco. O que ela esperava comunicar com aquele gesto? Seria um convite misturado com um" acorda para a música"? O baixista é muito bom. Meu irmão, os caras deram uma mudança brusca e agora estão fazendo um som muito massa quase indefinível. Algo novo, meio techno e jazz e com um toque de forró muito bom. Bem que estava achando o som muito variado. É eletrônico. Mas acho que agora... agora sinto o celular firme em minha mão. Estou clumsy, desastrado. Não sei se se essa é a posição mais confortável. Sinto os músculos pedindo um descanso. Como esse teclado previu "músculos" logo da primeira vez e não o fez agora, que digitei pela segunda vez, quando me sugeriu palavras mais utilizadas, como “muito”? Simples, porque eu estava tentando digitar músculos antes e me embananando. Daí quando apaguei para escrever novamente ele guardou na memória o que estava tentando digitar, combinou com o "mu" que digitei e me deu a palavra que eu queria. Muito inteligente esse teclado. Tenho que ir, mas não quero. Ir para a calçada, digo. Não me acho em condições de me engajar em qualquer conversação. A música techno deve ou teria que ter um quê de jazz, de improvisação. Eu acho que tem com muitos DJs. Eu vou lá para fora, estão recolhendo algumas cadeiras. Muito poucas pessoas dentro. Acho que a que passou por mim cantando deve ter ido embora, não reparei. Há tão poucas pessoas. Estão nos botando pra fora, vou lá.


Estou na janela do bar num lugar superchamativo para quem está na rua e não me sinto confortável assim. Exposto. E me guardaram uma cadeira especialmente para mim. Fiquei até embaraçado que a garota preferiu ficar do lado de fora e os demais não sentaram na cadeira como cortesia a minha minúscula pessoa. Planejam ir para o Iraque. Minha outra amiga não vai conosco, está batalhando um boyzinho obstinadamente com outra mulher e vai ficar por aqui com a sua presa. O cara deve se sentir o gostoso por ter duas mulheres brigando por ele. Se é isso mesmo o que se desenrola na calçada à nossa frente. Posso estar enganado, mas tenho uma leve sensação de que é verdade, perguntarei à minha amiga depois no Facebook, aliás, não sei, é ser muito indiscreto. Deixa para lá. O que foi, foi. 

No banheiro do Iraque havia mais de uma incitação ao uso de MDMA.
Me pergunto as intenções de quem escreveu isso. Será que consumidores ou revendedores? Ou ambos?


5h14. Estivemos no Iraque e lá achamos um lugar para sentar e conversar os quatro que ficaram, meu primo-irmão, uma das amigas, um novo colega, xará, e eu. Conversamos sobre Filosofia, minha resposta nos questionamentos filosóficos foi inversa a da filósofa, para ela não existem filósofos e essa foi a sua dissertação de mestrado ou TCC, não sei, e eu disse que para mim, todos são filósofos, pois todos param para pensar na vida, entretanto, pelo que entendi, ela entende o filósofo como aquele que conhece a verdade. Nisso concordamos, ninguém sabe a verdade, não temos nem capacidade cognitiva para isso, como também respondi em outra das perguntas, eu creio. O meu xará falou do tema da sua dissertação de mestrado em Psicologia que mistura filosofia e tem um orientador de psicanálise. Pense. Nessa eu viajei, mas pelo menos ele era mais do meu partido que pensa que todos são filósofos. Ela falou que eu era uma resistência ou resiliente, alguma coisa assim, em relação a meu blog d’A Novíssima Religião. Disse que iria ler. Duvido que leia tanto este quanto o outro, ambos que citei para os dois. Meu primo-irmão não sabia desse outro blog, também demonstrou leve interesse. Meu padrasto é do pressuposto que tudo tende ao caos e à desorganização, à entropia absoluta, mas não se pergunta como algo que começou desorganizado e terminará desorganizado, no meio termo se tornou extremamente organizado. Isso é um fato que ele não considera. Eu acho. A não ser que ele ache o começo do Big Bang organizado. Não digo a Singularidade, o espaço-tempo zero, mas logo após isso. Dei um tapa-murro no meu próprio queixo tentando romper a pulseira da festa. Trapalhão. Devo ter falado muitas besteiras. Eu queria ter dito que já experimentei o nirvana, me senti um só com o universo. Queria saber o que é que eles iriam dizer. Certamente iriam duvidar de mim. Hahahahaahha. Mas só eu sei o que eu senti. E senti que eu e o universo éramos um só, como se eu fosse um dos instrumentos da complexa e gigantesca sinfonia do universo, fazendo parte indispensável de sua melodia. Sem eu, não seria o mesmo universo e via todas as coisas como outras notas da mesma melodia, do sofá, às estrelas, ao bicho-pau que me fez companhia nessa noite mágica. Claro, tudo isso com a adição de cola. Foi o ápice do prazer que o meu vício me deu, depois foi só derrocada. Me levou também a estar numa alameda de barro, ladeada por mata de ambos os lados e toda iluminada por pirilampos, mas o custo desse abuso foi alto, me perdi na trilha, tive apagões, passei a noite quase inteira na chuva, por sorte tinha comprado uma capa de chuva por outras razões, de disfarce na rua. O menino negro que visitava o zoológico ficou me fitando enquanto entrava com aquela capa amarela na área restrita das trilhas. Pensei que iria me dedurar, mas nada fez a não ser me acompanhar com os olhos. Mas não quero falar da parte low da minha vida, espero que cola seja um passado cada vez mais distante. Como disse, ultimamente eu só ganho apagões, não lembro de nada. Ou quase nada, o que lembro é muito pouco, ínfimo, perto do tempo que passo em apagão. Mesmo descrevendo os fatos num caderno não me vem nada à memória. É ozzy. E como meu primo-irmão disse, a cola deixa sequelas irreversíveis no cérebro. Minha memória é uma merda de forma geral, só lembro de coisas extremamente relevantes para mim. Botei The Cure para dar um astral. Acho que vou colocar o disco “Show” e me surpreender. Dei uma olhada nas músicas, não resisti. Ainda bem que escrevi pouco ontem. Ainda estou na terceira página. Acabei fundindo o texto da noite que escrevi no celular com esse que escrevo agora no computador, visto que no Iraque não houve possibilidade de teclar, pois estávamos todos conectados com a conversa, o que, repito, foi ótimo para mim. O tipo de interação que eu buscava há um bom tempo. E falamos de Filosofia a maior parte do tempo. E de signos. E Cavaleiros do Zodíaco. Uma das coisas mais interessantes é que minha amiga filósofa disse que você vai lendo os pensadores e pensa, é esse, é isso, aí lê outro e pensa a mesma coisa e assim sucessivamente. Perguntei qual era a última coisa que se aprende no curso de Filosofia e ela disse aprende-se a morrer, aceitar a morte ou coisa do gênero. Achei a resposta superinteressante, mas para mim que não tenho medo da morte, tenho medo da forma como vou morrer, é uma questão que não me afeta muito. E nem conto aqui a tese do upload para a Singularidade, pois não se faz necessária, pode não haver isso que estou tranquilo com a minha finitude do mesmo jeito. Penso em comprar uma caixa de bijuterias toda detalhada na Alemanha, de um tamanho específico. Me vai ser necessária um dia. E não porque vá eu usá-la. Mas isso são outros quinhentos, nem sei se terei dinheiro para isso. No mais, posso dizer que tive uma noite bastante divertida como há muito não tinha. Ouvi uma banda boa cantando Belchior por uns 40 minutos, ou menos, e depois fomos para calçada. Depois resolvemos entrar de novo, mas não tive coragem de encarar o apertado amontoado de gente perto do palco e voltei para uma mesa e enquanto os meus amigos conversavam, como não conseguia ouvir direito o que diziam e porque, em verdade, estava como vontade de escrever, comecei a narrar o que se passava no lugar, pelos meus olhos e ouvidos. E pronto, foi isso, até o momento que fui para o balcão-varanda do bar e as nossas conversas começaram a convergir. Achei bom ter e encontrar o que falar. Mas também respondi mais de 700 perguntas de Filosofia, isso me deu um mínimo de embasamento, ou me fez formar opinião sobre diversos assuntos em relação aos quais não costumava pensar. Foi divertido quando estava motivado a responder, o que não ocorreu todos os dias dessa empreitada. Vou ficando por aqui. Minha mãe daqui a pouco acorda me mandando dormir. Vou revisar quando acordar e publicar.

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Acordei por volta das 16h. Achei o texto meio truncado, mas foi como veio e saiu. Tentei dar uma guaribada, mas isso não lhe tirou o aspecto truncado. Deixa para lá. Não sei nem se está de todo compreensível. Mas foi como consegui captar, como saiu. É válido. Não podia ter tomado decisão mais acertada do que sair ontem. Foi a melhor night em muitos meses. Principalmente porque paramos para conversar. E mais, conversar sobre Filosofia de forma didática. E eu parei em um momento para escrever sobre uma luz âmbar. Tomando Coca gelada. E ainda vi parte de um show interessante. E estava com pessoa legais, do bem. Foi muito melhor do que esperava. Estou superiormente satisfeito. 

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