Olha o que ganhei! Nem sei por quê. |
Estou com vergonha de falar com a minha leitora número um.
Mas falarei. Ela aparentemente já entrou no grupo. Pena, pois estava
particularmente corajoso agora para essa interação. Ela parece estar tão
receosa quanto eu em relação a isso, o que é bom, pois não me sinto tão
alienígena assim. 11h31. Acho que vou fumar outro cigarro. Não agora. Daqui a
pouco. Deixar-me-ei estar mais um tempo com estas palavras. Me sinto relaxado
agora, ainda bem. Talvez porque ela não esteja aqui. Mas, pensando bem, não há
muito a temer. Só não posso deixar de falar com ela hoje. Quebrar esse gelo ou
essa geleira que há entre nós. A interação via blog mitifica muito as coisas,
cria uma proximidade distante. Uma relação que dá margem a muita fantasia. Mas
o que eu quero dizer a ela? Sinceramente não sei. Espero que ela esteja na
mesma situação. Espero que ela não peça para adicioná-la como amiga no
Facebook, pois odeio conversar por esses canais virtuais. Espero que depois
dessa interação não nos sintamos obrigados a nos falarmos todos os dias em que
nos encontramos no CAPS, isso não seria legal. Se tivermos que nos falar que
seja espontaneamente, não por obrigação. Não falei nada no grupo de arteterapia
e não estou disposto a falar no de hoje à tarde. A não ser que só houvesse eu
no grupo, o que até agora é o caso. Queria que continuasse assim, mas acho
difícil. Aposto que minha outra leitora, pelo menos ela, irá chegar. Sempre se
atrasa para o CAPS e acho que hoje não vai ser diferente, até porque gosta
muito da psicóloga de hoje, como eu. É a única pessoa com quem faria terapia.
Mas não me sinto preparado para isso, como já disse aqui. Por mais que essa
crise de isolamento esteja fugindo do controle. Meu amigo de grupo chegou. Já
não estarei sozinho. Vou fumar.
12h19. Falamos das mazelas do país e dos problemas
familiares do meu amigo. Agora ele foi para a fila do almoço e eu voltei para
cá. Acho que só acabou o grupo aqui de baixo, creio que a minha leitora número
um está no grupo de cima, que não acabou ainda. Mas definitivamente vou falar
com ela depois do almoço ou mesmo durante este. Veremos. Confesso que, agora
que o momento se aproxima, estou ansioso. Ansioso de ansiedade mesmo. 12h30.
Acho que o grupo ainda não acabou. 12h35. A localizei. Vou fumar um cigarro e
vou sentar lá com ela.
15h43. Já estou em casa. A conversa com a minha leitora
número um foi mais tranquila do que esperava. Ela me lembrou meu pai, por causa
da memória e por ser uma devoradora de livros. Aparentou também ter o mesmo
afinco pela profissão. E gosta de pintar (ganhei até uma obra dela). Acredito
que seja perfeccionista, mas não dou certeza. Meu pai era. Eu posso dizer que
sou o exato oposto. Li muito pouco, tenho uma memória péssima, odeio pintar e
odeio a minha ex-profissão além de não ser nem um pouco meticuloso. Temos em
comum a dificuldade de no socializarmos. Mas nem sempre fui assim, era tido
como o sociável da família, veja só. Espero que ela não se incomode se eu
utilizar sua bela pintura para ilustrar este post. Não consegui achar o
exemplar de “O Mundo de Sofia” da minha irmã, confesso que tenho curiosidade de
ler esse livro. Parece que é uma introdução bem acessível à Filosofia, o que
parece uma pedida acertada para um curioso e leigo sobre o assunto como eu. Se
me daria ao trabalho de lê-lo? Acho que sim. Se soubesse que o livro predileto
dela era esse, talvez tivesse aceitado o presente. Agora é tarde. 16h33. Pegar
uma Coca.
16h41. Escrevi a dedicatória no livro que vou dar a ela. Confesso
que não li linha sequer do livro, mas já ouvi duas de suas histórias em grupos
do CAPS. Talvez ela capte a ideia do livro, que me escapa. Acho que é profunda
demais para a superficialidade do meu entendimento. Ou vai ver que é coisa para
mulher mesmo. Sei lá. Só sei que é dela. Temo apenas que ela confunda as
coisas. Espero que não.
Por falar em confundir, saí confuso do grupo AD de hoje.
Perplexo que, apesar de estar sendo do jeito que sou, as pessoas guardem uma
ótima impressão de mim. Certamente não leem isso daqui. Hahahahaha. Se bem que
a minha leitora número um escreveu num comentário que vê coisas linda em mim ou
algo do gênero. Novamente espero que ela não confunda as coisas. A outra
leitora do meu blog parece torcer pelo contrário com as indiretas que me deu
hoje no grupo, outra coisa que me deixou perplexo e com uma pulga atrás da
orelha. Mas, voltando ao grupo, produzi isso:
Falei que estou muito confortável na minha zona de conforto
e que cada vez fecho mais o meu círculo social, excluindo pessoas de entrar
nele. Por quê, fui indagado? E acabei soltando que não tenho paciência para
interações sociais. Falei do temor/angústia que me bateu ontem, que por um
momento até a interação com Dona Carmelita me meteu medo/angústia. Eu não sei o
que está dando em mim. Só sei que me preocupa bastante. Falei do temor com a
viagem. De ser um mau exemplo para os meus sobrinhos. Foi quando me elogiaram
inesperadamente. E fui indagado em como recebia isso e disse que a maneira como
me veem é bem diferente da maneira como me vejo. Não me parece a verdade. Ouvi o
conselho de deixar o passado para trás e me ater ao que sou agora. Retorqui que
a minha mãe fica relembrando o meu passado, não me deixando esquecer. Pelo contrário,
me fazendo me sentir culpado. E o pior é que, em várias instâncias, eu concordo
com ela, principalmente em relação, não ao passado, mas ao presente, ao meu
comportamento antissocial. Não sei nem mais sobre o que estou escrevendo, estou
com pensamentos e sentimentos ruins, isso é o que sei. Angustiado. Nada de
muito forte, mas incômodo. Não sei o que dizer. Estou cheio de temores. Temor
de não querer sair mais de casa. Temor da viagem à Alemanha. Temor de passar o
resto da vida encastelado no meu quarto-ilha. Penso em Aurora. Isso me acalma. O
que diabos está acontecendo comigo? O comentário que mais me marcou foi quando
eu fui comparado com um ogro. Nesse eu acreditei. É como me vejo. Há um novato
no grupo que parece ser muito culto e inteligente. Acho que minha leitora
número um gostaria de conversar com ele. Foi-me sugerido ir ao CAPS amanhã,
visto que sexta-feira não haverá serviço. Não me decidi sobre o assunto. Acho
que iria se não participasse de grupo nenhum. E pegasse a psicóloga de hoje
para conversar. Meu deus e se ela estiver confundindo as coisas? Se se apegou ao
personagem que descrevo aqui? Primeiro, como isso seria possível? Se o retrato
aqui é de um fracassado? Odiaria ter que partir o coração de alguém. É tudo o
que eu não preciso agora, mais essa culpa. Que não é culpa pequena. Sei como
dói um coração partido. Se tem uma coisa que eu sei é isso. Mas devo estar viajando.
Tomara, tomara, tomara. Tomara que a outra leitora esteja viajando também,
porque ela deu a entender isso. Mas não cativei ou cultivei nada nesse sentido.
Apenas escrevo o que me dá na telha. Não ficaria com ninguém por compaixão. Já fiz
isso uma vez e me fodi para caramba. Não sei de mais nada. Queria dormir por um
mês. Queria desaparecer. Não posso estar entrando numa crise depressiva. Ou
numa crise de sei lá o quê. Por algum tipo de crise eu estou passando. Não
estou “normal”. Não estou gostando de viver minha vida dessa forma, com esses
temores. Não quero nem sair nesse final de semana. Só se fosse para encontrar
as minhas amigas psicólogas. E olhe lá. Por sinal, as encomendas da Livraria
Cultura chegaram, os três CDs de Mallu e o documentário do Los Hermanos. Já dei
o de mamãe. Ela ficou tão feliz de ter recebido o presente, valeu a pena, mesmo
que não goste do disco. Com um pouquinho de esforço acho que ela pode acabar
gostando. Eu adoro. Por isso encomendei. Pelo menos essa parte foi boa. O papo
com minha leitora número um também foi legal, mas a outra leitora me deixou numa
paranoia danada. Sei lá. Sei não realmente. Mas é só me focar que é uma fase,
que vai passar. Sempre passa. O Word me alertou que falta um dia para regularizá-lo.
Ainda tem mais essa. Para comprar a versão mais barata, terei que desinstalar a
versão Professional que tenho aqui primeiro. Isso é um problema para amanhã. Um
problema que tem que estar resolvido antes das 14h da sexta, que é quando o meu
amigo cineasta vai começar com essa loucura de documentário. Timing perfeito do
Word para melar o projeto. Sei lá quanto tempo leva para dar o download e fazer
a instalação do Office. Pode ser que não dê tempo, e aí? Aí uso o computador de
mamãe. Mas o bom seria captar com o meu computador. A coisa como realmente se
dá. Não estou me sentindo bem emocionalmente falando. Mas não vou remoer isso,
pois é como se cavasse mais fundo a minha fossa. Acho que vou ver um filme. E
vou publicar isso logo.
Peço perdão à minha leitora número um se estou viajando. E
por emprestar sua pintura a um post tão sorumbático. É que minha alma anda em
torvelinho. Tentarei fazer uma poesia para compensar.
Noite negra
Em pleno meio-dia
Mente maculada
Por pensamentos insensatos
Onde me esconder de mim?
Como fugir de mim?
Queria ir para outro lugar
Que não aqui dentro
Aqui dentro é oco, vazio
E não tem espaço
Para a alma respirar
Quarto escuro
Só a tela onde escrevo
Ilumina
Algo em mim se apagou
Quero a chama de volta
E eu chamo, chamo, chamo
E ninguém responde
Que negrume é esse
Que estrume é esse
No qual afundo
Bem fundo
Dentro de mim
Não deu muito certo...
Suas poesias sempre são lindas, pq são verdadeiras... Como eu já disse: poesias revelam a alma, e eu consigo ver VC de verdade nelas...
ResponderExcluirNão se preocupe, pois não confundirei as coisas, sou bem mais observadora e compreensiva que aparento... E bem consciente
Sobre o passado, entendo a angústia de não esquecer o passado, pois é um dos principais motivos do meu adoecimento, seria legal ter um apagador de memórias... Imagina que incrível...
Sobre o mundo de Sofia, é sim meu livro favorito, e darei a vc meu exemplar, que tem uma dedicatória feita p mim p mim mesma, e acrescentarei uma dedicatória p vc... Pq livros c dedicatórias, são livros c historias ... :D
Nossa conversa foi ótima, mas confesso que gostaria de ter me dedicado mais a ouvi-lo, tenho tantas coisas p conversarmos... Espero que possamos fazer isso de uma forma mais tranquila e sem conversas paralelas, mesmo eu amando aquela conversa sobre literatura ...
No mais... Respira... E fica bem... ;)
E não... Vc definitivamente não é um fracassado
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