sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Crianças do meu Brasil, NÃO FUMEM!





Desculpem-me os ilustres navegantes deste site por não ter dado as caras ontem. O fato é que ontem, para um vagabundo, tive o dia cheio. Pela manhã fui à minha psiquiatra para um atendimento rápido e frígido – como de costume – onde ela reduziu as medicações e as pôs todas para a noite. O Dalmadorm passou a ser “se necessário”, em caso de insônia. Eu não tenho insônia só durmo tarde e acordo mais tarde ainda. Nova consulta em sessenta dias. Pronto. Ah, pediu que eu arrumasse um(a) psicólogo(a), quando reafirmei meu desejo de me tornar dependente do Imposto de Renda de mamãe. Depois fomos fazer o exame das carótidas, achei as imagens bem interessantes, o fluxo do sangue me pareceu muito mais caótico do que julgava ser. Até aí tudo bem, minhas carótidas vertebrais e artérias dos membros inferiores estão todas na limpeza. O problema se deu hoje e não diria que é um problema pequeno. Fui fazer a Espirometria, aferição da capacidade pulmonar. Enquanto o normal é esta capacidade ficar entre 80 e 100%, a minha ficou em 58,6%, abaixo de 50% eu vou ter que andar com aqueles tubos de oxigênio e vou me cansar para fazer qualquer coisa. O pior não é isso, é que eu nunca mais vou ter 80-100% de capacidade pulmonar, o máximo que ela pode melhorar é 9,1% o que me deixa, se parar de fumar agora, com mais ou menos 64% de capacidade pulmonar máxima, ou seja, meu pulmão tá fodido por causa dentre outras coisas, mas principalmente, por causa do cigarro. Já tem uma parcela grande dele que não funciona nem funcionará mais. Imaginem que minha mãe estava na sala do médico ouvindo tudo. Tô fodido. Por isso fica o aviso: NÃO FUMEM E SE FUMAM, DEIXEM DE FUMAR O MAIS RÁPIDO POSSÍVEL, senão acabarão como o velho profeta aqui. 13h50. Vou fumar.

-X-X-X-

No mais saímos do médico do pulmão para ir fazer exames de sangue. Porém, ironia das ironias, passei tempo em jejum demais então não pude fazer os exames. Ficaram para as 6h30 da segunda, de onde seguirei para o Santa Joana para fazer as 8h radiografia do tórax e ultrassom da tireoide e, se der, do abdômen completo com Doppler colorido, o que quer que isso signifique. Preciso até ligar para lá para marcar esse ultrassom do abdômen, pois foi passado depois, pela minha psiquiatra. Vou fazer isso agora. 14h02.

-X-X-X-

14h56. Acabou que além de marcar (dia 21 de dezembro com direito a laxante e luftal), fiquei conversando com Nice (que conseguiu uma sedas do meu primo para mim), tomando quatro xícaras de café e fumado cinco cigarros. Assim não dá. Disse a ela que ia me embora escrever senão acabava com a carteira toda. Meu Deus, se minha mãe resolver parar de comprar cigarros o que vai ser de mim? Certamente ela vai repartir o meu quadro com meu padrasto e ele – antitabagista e adepto de uma vida supersaudável como é – vai querer fazer a cabeça da minha mãe para isso. Estou muito ferrado. Já sei que a primeira medida da minha mãe vai ser, pelo menos, cortar de duas para uma carteira ao dia, o que já vai me ferrar. Meu Deus, Meu Deus, me ajude. Vou ter que  usar toda a minha lábia, falar do CAPS, de ir devagar com o andor, que assim eu vou pirar... e acho que não vai dar em nada. Os números a impressionaram bastante. Impressionaram até a mim, imagine ela. Ela que também odeia cigarros e odeia principalmente que eu fume. Muita água vai rolar debaixo desta ponte ainda. E tudo leva a crer que estas águas rolarão em direção a um profeta ex-fumante. Mas não vai ser fácil, não. Espero que eles – minha mãe abertamente e meu padrasto à boca miúda – não esperem resultados imediatos. Drásticos. Eu tenho medo de, sem cigarros, voltar a sentir fissura de cola. O que menos quero. Vamos ver. Fico imaginando o meu pai, que reação teria diante do resultado desses exames? Acho que ficaria igualmente preocupado, mas não sei se cortaria meu fornecimento de cigarros. Ele que dizia, se você quiser se matar que se mate. Ele que bebia e que não queria que ninguém se metesse entre ele e suas cervejas. E que morreu, acredito eu, em decorrência delas. Se me arrependo de não tê-lo alertado para o consumo excessivo? Não. Ele era adulto, tinha juízo e podia fazer o que quisesse da vida, posto que não fazia mal a ninguém com seus porres, eram sua libertação de uma rotina que considerava excruciante, de uma existência que considerava excruciante, em que julgava carregar o mundo nas costas. Considero que eu e minhas recaídas tenhamos contribuído para tornar sua existência ainda mais desgostosa. Mas considero também que, de certa forma, eu era o seu grande e único amigo, com quem ele realmente se abria enquanto abria as latinhas de cerveja e ia desfiando o seu rosário de lamentações. Não havia máscaras, ele as tirava todas para mim. Eu estava começando a fazer o mesmo, a época da sua morte. Isso é algo que me deixa feliz, eu tentei me mostrar sem máscaras para ele também, tratá-lo como um amigo, um igual e não como o ser supremo, mais inteligente do planeta que tudo sabe com o poder de me tratar como um verme, me reduzir a pó (como tantas vezes fez impiedosamente) enquanto eu engolia tudo calado por ele ser melhor que eu em tudo. E acho que houve progresso nessa relação transparente nos meses finais de sua vida. Ele passou a considerar minhas opiniões, nós passamos a ter um diálogo em termos mais iguais e muitas vezes me senti como se conversasse com um amigo numa mesa de bar. Chegamos a dar boas risadas, sempre com tiradas inteligentes, pois nisso ambos éramos bons. Geralmente eram crueldades com a humanidade ao nosso redor. Pequenas ou gigantescas ironias. Foi bom enquanto durou. Pena ter durado tão pouco. Mas, voltando ao cigarro, acho que ele iria se mexer também no intuito de eu diminuir senão parar de fumar. Não sei se de forma impiedosa: não compro mais cigarros, não quero ver você morto. Ou de forma mais branda: trabalhe isso com a psicóloga, eu compro os adesivos de nicotina, você vai diminuindo aos poucos. Não sei e nunca saberei qual seria a reação dele. É uma pena. 15h24. Vou encher o refil de Coca Zero e tomar um café com cigarro. Rolando All Star com Cássia Eller.

-X-X-X-

15h47. Acabei fumando dois cigarros. Ou foram três? Não sei, só sei que a minha única alternativa é convencer minha mãe que a melhor estratégia para mim é o desmame gradual. Passo de duas carteiras para uma carteira e meia, depois só para uma, depois só para meia, depois vou tirando um por mês até zerar. Isso tudo num intervalo de um ano. Se ela cortar de vez, eu piro. Não dá nem pra conceber. E ela tem esse poder porque eu não ganho dinheiro nenhum, não tenho um centavo sequer. Vixe, quero nem pensar. Meninos e meninas não fumem ou parem de fumar antes de se viciarem. Sejam mais espertos que o profeta aqui. Vocês vão ser igualmente lindos e atraentes e charmosos sem fumar, a beleza está em vocês, não na porra de um cigarro. Eu, por exemplo, fumo sem charme algum, por pura compulsão. Não caiam nessa. É dar uma de otário tanto quanto fumar crack. O profeta é um grande otário que caiu nessa e agora está nessa roubada, quase 40% do pulmão não servirá mais para nada, virou carne morta, nunca mais vou ter o pique que tinha. Por favor reflitam sobre isso.

Pronto, agora vou mudar de assunto mesmo. Pelo menos, eu acho que vou. Sabe-se lá onde minha cabeça com essa paranoia vai me levar. Fragile Tension, do Depeche Mode.

-X-X-X-

Acho que quando virar velhinho (algo que provavelmente não vai acontecer porque vou morrer de enfisema pulmonar), vou ficar circulando em volta da Católica sacando as gatinhas e achando minhas Clementines do dia. Que ideia idiota. Eu tenho é que arrumar uma namorada. Minha própria e privativa Clementine. Alguém para eu me dedicar e trocar carinho e experiências (desde que não envolvam subir escadas ou exercícios físicos aeróbicos de alto impacto, pois o que resta do pulmão pode não aguentar!). The Killing Moon, do Echo & The Bunnymen. Queria ouvir essa música com alguém que amo. Queria ainda mais que a pessoa em questão amasse também. Já pensou se ela fosse fã do Cure? Ou se tornasse fã do Cure por minha causa. Não consegui isso com a Clementine com quem vivi. Também não ouvia muito Cure. Ouvia mais o de Caetano e o First Impressions of Earth dos Strokes. E o DVD de Fafá de Belém, por incrível que pareça (a gente achava o bicho, tinha uma hora que ela vinha com uma roupa que parecia o Hipopocaré). Para falar a verdade, nessa época a gente não ouvia muita música, não, pelo que me lembro. Eu adorava quando Clementine cantava aquela música “Tu és divina e graciosa, estátua majestosa do amor por Deus esculturada...” e outra, que era uma cantiga de roda que agora me foge à memória. Bons tempos, excelentes tempos aqueles. Obrigado Clementine. Você foi e é uma parte muito importante de mim. Tanto quanto “a” Clementine. Só que de uma forma sadia. Não fora a cola (que deve ter contribuído para a destruição dos meus alvéolos pulmonares), o que poderia ter sido ou estar sendo de nós? Não sei. A vida – eu – não quis assim. Me deixei dominar pelo paraíso onírico da cola até que você se cansou de ter outra – a cola – mais importante em minha vida que você. Você foi mais do que justa. Por isso não guardo rancores nem mágoas, só lembranças felizes. Se bem que meu coração não é de guardar mágoas. É uma das (poucas) vantagens de ser eu. Eu não guardo mágoas. Mas também não guardo muita coisa, minha memória é uma merda...

-X-X-X-

16h14. Minha Tia está me ligando do Skype pedindo ajuda com o Avast e o Flash Player e conversando. 16h47. Pronto acabamos, vou fumar com um cafezinho.

-X-X-X-

17h11. Depois de duas xicarazonas de café (era o que restava) e um copázio de Coca Zero repleto de gelo acompanhados, cada um, de um cigarro, estou de volta. Café com cigarro. Coca completamente cheia de gelo com cigarro. Por quanto tempo terei acesso a esses prazeres para mim tão preciosos? Isso me preocupa profundamente. É parte intrínseca do meu cotidiano, do meu ser, como Clementine. Por favor, Deus dos deuses, não os faça cortar o cigarro de uma vez. Esse papo está me dando vontade de fumar mais um, mas preciso economizar, minha mãe disse que iria demorar e eu já não tenho, obviamente, tantos cigarros assim na carteira. Certo, tá bom, esse papo já encheu definitivamente. Vamos passar para outro. Vou checar meus e-mails para ver se alguém respondeu algo sobre Algo. E entrar no Facebook para ver se encontro meu primo e descubro qual é a boa da noite. 17h18. Autotune Autoerótico, com Gal, rolando.

-X-X-X-

Ouxe, Deu que outra pessoa está acessando minha conta de e-mail. Tentei recuperar e falhei duas vezes, então só poderei tentar novamente em 24 horas. Será que isso é por causa dos e-mails loucos que mandei para divulgar ou será a Clementine com quem vivi, que tem a senha, bisbilhotando? Muito estranho... 17h36. Vou ver se pelo menos no Facebook eu posso entrar...

Sinistro...


-X-X-X-

17h44. No Face eu consegui entrar e resolvi abolir meu alter ego de lá, Boto de Gatas, decidi me assumir, quem quiser que me adicione como Mário Barros. Pablito, amigo de duras quebradas já me adicionou e participará do Desafio Escrito X – Fé. Vou preparar já seu espaço no post. Minha amiga Xanda me fez pensar três vezes sobre a crítica que fiz ao Dia da ConsciênciaNegra. Me fez ver o quão ignorante sobre o assunto eu sou. Em vez de ler o post, não perca seu tempo, por favor, vá direto aos comentários dela abaixo do post. Perfeição, da Legião, rolando. Nada mais apropriado.

Postei o texto de Pablito no Desafio Escrito (incrível como ele produz rápido). Agora vou me dar ao luxo de um cigarro com Coca Zero. 18h03. 18h03? Como assim, já anoiteceu? Putz, nem percebi de novo. Vou lá.

-X-X-X-

18h28. Fumei três dos oito cigarros que tinha. Estou com cinco e minha mãe disse que vai demorar a chegar. A situação é, no mínimo, periclitante. Vou escrever baboseiras aqui para ver se dá tempo de ela chegar. Vi que Luís Fernando Veríssimo está na UTI. Isto é Ozzy, foi um dos caras que mais li na vida. Espero que ele saia dessa. Seja só um susto. Estou na verdade pensando em sexo. Minhas fantasias sexuais... queiram nem saber. Nem deixaria que soubessem. São só minhas. Uso único e exclusivo. Brand New Star, do Little Joy. Acho que é a banda cujo nome mais se reflete no som. É uma diversão descompromissada ouvi-la. Uma pequena alegria literalmente. Vai ter Praia do La Greca este fds. Estou nessa, sem dúvida. É domingo no Museu La Greca, a partir de umas 10h00 e vai até umas 22h00. Mas quero é saber de hoje. Para onde irei hoje. Sem dúvida vou usar parte da grana para comprar cigarros já com medo de alguma retaliação. E porque nunca dá mesmo, a carteira que recebo à noite nunca é suficiente. Meu primo-irmão (ou seria primo-guardião?) não entra no Facebook e o cel dele eu não tenho de cabeça, está gravado na agenda do cel da minha mãe. Droga. Vontade de fumar da porra. Já to vendo como a coisa vai ser. O sofrimento. Tô até a fim de tirar os resultados de cima da mesa da sala para ver se mamãe esquece de mostrar ao meu padrasto. É exatamente o que vou fazer agora!

18h41. Pronto, botei embaixo do laptop dela que é um local onde ela colocaria, onde já colocou, mas fora do alcance direto dos olhos de quem cruza a sala. É, estou noiado. Balançando a perna aqui de ansiedade. E, só porque não posso, louco para fumar. Que Ozzy. Que Ozzy!!! Nem o Ozzy seria tão Ozzy quanto isso. Porra, vou fumar, qualquer coisa, ligo para ela dizendo que vou pegar minha carteira da noite no armário dela, porque o meu acabou etc. e tal.

Fumar. 18h44. Mas só vou fumar, no máximo, dois.

-X-X-X-

Eita, este post já está com cinco páginas, vou postar logo, assim ganho alguns minutos. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário