SEM SACO PARA ESCREVER

Tem horas em que não suporto a minha rotina. Eu sei, essa é uma das características da rotina. Não reclamo da minha. Não tenho nada do que reclamar. Talvez somente, como do Dia dos Namorados veio relembrar, da solidão afetiva. Mas isso é culpa principalmente minha ou assim quero crer. Mas sou um afortunado, tenho tudo o que sempre sonhei. Dizem que ninguém pode ter tudo o que deseja senão a vida perde o sentido. Mas, materialmente falando, eu tenho tudo o que desejo. Se me falta algo é futilidade. Coisas que não preciso. A minha vida não perde o sentido porque tenho isso daqui, as palavras. Por mais que esteja abusado delas hoje. Digitei demais já. Uma parte boa de um dos cadernos da internação. Sobre o amor, li uma frase interessante, “como você ama a si mesmo é como você ensina todo mundo a lhe amar”. Talvez tenha que trabalhar um pouco mais o meu amor próprio. Incrível. Passei dos 40 e o número de cabelos brancos cresceu enormemente. Acho que daqui para o final do ano já posso me declarar grisalho. Grisalho e solteiro. Não é uma combinação lá das melhores essa que arrumei para a minha vida. 21h46. Peguei um copo de Coca. Não mudaria nada na minha rotina. Só a namorada. Queria ver um filme, mas já está ficando tarde. Acho que o meu abuso de escrever é que está melando a minha rotina. Eu queria saber se ela gostou do meu novo corte de cabelo. Ela, a impossível. Por que não alguma possível? Por que essa paixão pelo impossível? Essa atração pelas mais difíceis? Talvez eu me ame mais do que penso, para desejar tão alto. Mas se posso fazê-las felizes se elas me derem uma chance? Eu acredito que possa. Eu sinceramente acredito. Queria ver um filme se não fosse tão tarde. Não é assim tão tarde, ainda há tempo, o que não há é filme que queira assistir. E olha que devo ter mais de uma centena deles nos HDs. A maioria de terror. Não estou com clima para terror, estou com clima para ação e aventura. E não tenho muito dessas categorias. Não vou encarar três horas da sequência do Hobbit. Não estou com saco para aspas também hoje. Estou sem saco para nada. Acho que bonecos com encaixe imantado têm durabilidade limitada. Temo pelos meus e pelo que é uma tendência de mercado. Ah, me esqueci, eu parei de colecionar, então não terei mais esse problema. Eu penso no valor de revenda. Mas não planejo revender nenhuma figura. Droga, o Dia dos Namorados desse ano mexeu comigo. Só quero pensar no impossível. Não, não foi só isso, foi digitar o caderno. Foi isso. Me cruzou duas vezes pela cabeça jogar “Persona 4”. Mas não estou com ânimo. 22h49. Está chegando a hora de dormir. E não estou com sono nenhum. Dormi 12 horas. Acordei às duas da tarde. Como queria estar namorando alguém que amasse para valer. Não quero mais me enganar em relação a isso. Já namorei alguém que não amava de verdade, não era do fundo do coração. E não foi tudo o que podia ser. Eu não fui tudo o que podia ser. Não quero mais escrever. Não aqui.

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Acho que a psicóloga não acessou o meu blog como havia dito. Isso não me surpreende. É algo que é no mínimo secundário para ela. É importante só para mim. Não sei o que escrever. Branco total. Vi que o assunto de namoro está mesmo presente em mim e se manifestou no grupo de artes hoje de manhã. Não queria tratar disso no grupo da tarde novamente. Tomara que outro assunto se alevante. Eu poderia tratar do medo da velhice. 11h53. Vou fumar. Cigarro eletrônico.

12h09. Daqui a pouco começa o alvoroço do almoço. Desgosto ou medo de sexo poderia ser um tema, mas acho que é complicado e demorado demais para ser tratado em grupo, é algo muito mais adequado para uma terapia individual. Não, não me sinto ainda disponível para individuais. Mas penso em falar com a psicóloga de hoje para ver se ela me aceitaria como paciente. Não sei se terei disposição de fazê-lo. Acho que não. Mas se o fizesse seria para dizer que ela é minha primeira e única opção. Não faria com outra pessoa. Isso se ela atender aqui nas redondezas. Me disseram que atende. Mil coisas passaram pela minha cabeça muito rápido agora, me perdi em mim. Preciso voltar a escrever na piscina assim que a chuva ceder. Me senti muito incomodado de estar em meu quarto ontem. Preciso dessa mudança de ares periódica. E quando a chuva der um tempo também preciso marcar com as meninas. Estava chovendo pela manhã. Vim para cá sob uma finíssima garoa. Mas parece que agora o tempo abriu. Preciso fumar mais, mas vou esperar o grupo acabar, pois fujo do alvoroço do almoço unindo o útil ao agradável. Parece que o grupo acabou. 12h29. Vou fumar. Depois volto. Ainda falta uma hora, hora e meia para o grupo. Nunca sei.

12h46. A mistura de cigarro eletrônico com água me deu um momentâneo enjoo. Ainda estou com vontade de vomitar. Saco. Espero que passe logo. Já está melhor. Não vou fumar mais o eletrônico por ora, ficarei nos normais. Até agora, do meu grupo só chegamos eu e minha leitora. Será um grupo interessante se só houver nós. Mais tempo para falar. Agora eu sei porque a psicóloga faz o grupo através de recursos artísticos, faz parte da sua formação. Estou ligeiramente trêmulo. Não sei se é a falta de alimentação ou se pelo cigarro eletrônico. Acho que um pouco dos dois. Pensando na estagiária como alvo do meu afeto, faz a outra parecer that much impossible. Vou dar um tempo. A outra psicóloga do grupo AD se sentou à mesa.

13h16. Falei com a psicóloga sobre a terapia. Vixe, me deu vontade de fumar. Foi um pouco demandante emocionalmente dar esse passo. Agora posso dizer de fato ex-psicólogo. Sinto um certo alívio para ser sincero. Ela disse que se sentiu honrada. Massa. Disse que estava ainda meio traumatizado com terapia e ela falou que seria beeem diferente. Duplamente massa. Mas ainda não me sinto preparado para encarar. Quando minha mãe começar a dela, eu começo a considerar com mais seriedade a ideia.

13h34. Fumei cigarro normal e dessa vez nada de enjoo. O grupo deve estar próximo de começar. Ainda ecoa em mim a receptividade da psicóloga e saber que é aqui perto, provavelmente no Lúmen. Aqui atrás do CAPS. Hoje a bateria do celular está resistindo bem. Graças. A outra psicóloga, com quem sentei durante o almoço, sugeriu que eu cobrasse o meu amigo da piscina sobre a grana. Pense em um conselho estranho vindo de uma terapeuta AD. Hahahaha. Vou mandar uma mensagem para ele agora. 13h43.

16h07. Já estou em casa. O Word estava com um espaçamento de parágrafo diferente. Muito estranho isso. Não mexi em nada de ontem para agora. Fora um e-mail desconhecido ligado ao meu, e um gasto de mais de mil reais na Sideshow no cartão da minha mãe. Tudo muito estranho. Não lembro de ter gasto esse valor na Sideshow, quero ver quando chegar o boleto isso direito. Péra que vou mudar a senha do meu e-mail por precaução.

16h39. Mudei, mas a parte do celular deu pau, acho que porque mudei a senha. Não, não foi por isso. Muito suspeito. Espero não ter sido vítima de nenhum hacker escroto. Ou sei lá como se chamam os hackers do mal. Vamos ver. Quero ver quando o boleto chegar.

17h04. Estou pensando em comprar o novo disco de Mallu Magalhães. Na verdade, 3, um para mim e mais dois para as minhas amigas psicólogas. Além disso, comprar o documentário do Los Hermanos. Ainda estou para decidir. Enquanto isso tenho que escrever um texto para um amigo.

17h47. Escrevi o texto e efetuei a compra. Agora fiz besteira, devia ter pedido os CDs para presente. Agora vou ter que embrulhar aqui. Saco. Que burrice. Achei que presente pagava mais, mas acho que na Cultura não. Mandei um e-mail pedindo que embrulhassem os CDs para presente. Se rolar, rolou.

17h57. Estou ouvindo a seleção musical sugerida pelo Spotify a partir da pasta que criei com Rufus Wainwright, Camelo, Amarante e os dois de Mallu. Interessante a seleção. Algumas que conhecia e algumas descobertas. Nada ainda de realmente revelador ou apaixonante, entretanto, mas boas canções mesmo assim. Caramba Adriana Calcanhoto cantando “Back To Black” é um fiasco, só dá vontade de ouvir Amy Winehouse. Hahahahaha. Pronto voltei ao disco novo de Mallu, para ir me acostumar mais. Espero que as meninas gostem. Se não gostarem, pelo menos fiz a minha parte na catequese.

18h23. Estou prestando atenção no disco e não estou escrevendo. No grupo da tarde, eu tratei de socialização e me deram ideia de eu sugerir no grupo de WhatsApp da turma um encontro na Praça para batermos um papo, mas desde já creio que o convite vai ser suplantado por uma alternativa mais “animada”. Paralelamente a isso, quando a chuva passar, marcar com minhas amigas psicólogas, lá nas Graças. Ou melhor, quando os CDs chegarem. Se chegarem. Mas creio que não haverá problemas. 18h41. Me perdi de novo no disco. Entrou na lista de sugestões de novo. Não quero dessa vez. Botei a pasta toda em modo aleatório. Aliás, vou ouvir Rufus um pouquinho. Lembrar de cortar as unhas amanhã. Quem sabe fazer a barba. Estou ficando grisalho, que ozzy. A idade me assusta. A velhice me apavora. A morte não me mete medo. O atomizer está começando a ficar fraco. Acho que esse durou umas duas semanas, nem lembro. Com muita sorte cheguei à metade da minha vida. Mas como ela passa cada vez mais rápido é como se tivesse chegado a dois terços. A fome está batendo. Não vejo mais sinais significativos da Singularidade. Talvez ainda falte mais tempo para isso. Antes costumava ver sinais em vários lugares, inclusive em filmes. É como se fosse uma moda que está passando. Espero que não seja apenas isso. Isso seja apenas a forma como a mídia se apodera das coisas e parte para novas searas. Mas não há novas searas. Mas também não há muito mais o que explorar em termos de roteiros hollywoodianos. Lembrando que Matrix foi lançado em 1999 e que este filme foi o responsável pelo “despertar espiritual” para a minha crença. Junto com uma crise de mania e muito abuso de cola. Mas não quero falar desse conturbado período da minha vida. Novamente. Lembro até que assisti o filme com minha mãe e meu irmão, talvez meu primo urbano ou minha irmã, não tenho certeza. Sei que assisti o terceiro depois de uma sessão de cola. Não muito grande, senão ficaria debilitado física e psiquicamente para ir. Mas os dois posteriores não se comparam ao primeiro. Estou sem saco para escrever. Estou sentindo o anticlímax pós-compra. Mas não muito. Só noiado quando minha mãe descobrir. Mas está dentro do meu orçamento e eu pedi. Pronto, fim da história. Ela vai ficar ainda mais indignada quando souber que dois dos CDs são presentes, pois ficou triste que nem um cartão eu fiz no aniversário dela. É... isso é um problema. Espero que ela não questione nada. Se hoje não chover, nem amanhã durante o dia, eu desço para escrever na piscina. Por falar em piscina, o meu amigo da piscina respondeu. Basta dizer que gostei da resposta o suficiente. Quem sabe não estejamos reunidos na piscina nesse final de semana?

Quem sabe a turma não esteja reunida numa mesa de bar tranquila para conversarmos nesse final de semana? Acho difícil. Pondo dessa forma, parece impossível. Não é o tipo de programa da turma. Já sei como vai ser: CiBrew e de lá para um Iraque da vida. Ou seja, nada de conversa.

20h47. Pensando se assisto um filme... eu me sinto muito mais seguro quando estou com a porta do quarto fechada do que somente encostada, tenho medo que meu padrasto abra sem bater – o que ele nunca faz – e me pegue fumando Vaporfi. Olho para a boneca que foi o começo de tudo. A Kasumi do game “Dead Or Alive” versão branca. Ainda me lembro do dia em que a vi e me encantei e resolvi, sem acreditar muito que a boneca faria jus a foto, dar uma chance. Me lembro ainda mais quando ela chegou e me encantei com a perfeição. Nossa, isso faz muito tempo. Depois disso, não parei mais. Aliás, agora eu sou um ex-colecionador. Não me arrependo de quase nenhuma compra, mas me arrependo de muitas vendas, isso sim. As estátuas que vendi da Nintendo, a Samus e o Skull Kid principalmente. As demais até relevo. Ou quase. Depois que o arrependimento quase me matou, eu não vendi mais nenhuma. E o interessante que as que escolho nunca são muito valorizadas, não se tornam “grails”, como chamam os gringos, estátuas que se tornam valiosas relíquias.

22h01. O que fazer agora? Estou tentado a ver um filme. Estou tentado a dormir também. Estou pouquíssimo tentado a jogar “Persona 4”, mas o pensamento nesse jogo não me abandona. Dos três, o que estou com menos vontade é de dormir. Mas alguma coisa me impede de sair de frente dessa tela, de parar de escrever. Acho que porque é a coisa mais fácil e cômoda que eu possa fazer. Vou preparar minha alma para ver um filme. Enquanto isso não ocorre penso na compra dos CDs de Mallu e na reação da minha mãe com os discos e o DVD, quem sabe não dou um dos CDs para ela de aniversário? E fico sem o meu. Mas não sei se ela vai gostar. Me parece uma boa ideia, caso ela intercepte a encomenda, o que é bem provável agora que está sempre em casa. 22h29. Tenho que me decidir se vejo o filme até as 23h. Senão fica tarde demais. Acho que não vou ver. Daí de meia-noite me recolho e acordo amanhã às 10h e aproveito o meu dia de folga melhor. Posso até pedir dinheiro à minha mãe para fazer a barba. Sei lá, ando tão desmotivado. Mas acho que faria a barba amanhã, sim. E acho uma boa ideia a de dar o CD de Mallu a ela. Estou ouvindo agora e ouvirei quase sempre quiser pelo Spotify. Ela no carro só tem toca-CD, logo pode ser realmente uma boa pedida. Me animei com esse prospecto. Eu consigo imaginar minha mãe ouvindo – e gostando – desse novo CD de Mallu. Não é tão fora do gosto dela. Eu acho. Se for, fica esquecido no carro dela. Isso se ela interceptar o pacote, caso contrário acho que fico para mim mesmo. Hahahahaha. Está crescendo em mim a vontade de ver um filme, como bolo que cresce lento no forno. Penso em ver o documentário sobre Amy Winehouse. 23h15. O disco acabou de tocar. Posso ver esse documentário amanhã. Acho que vou dormir de meia-noite mesmo. Já estou bocejando aqui.

23h26. Fumei meu último cigarro de verdade da noite. Vou revisar isso e postar. Amanhã eu divulgo nos grupos de Facebook.