quinta-feira, 28 de junho de 2018

GAROTA DO HOTEL II OU PORTUGUESINHA


7h59 (11h59 PT). Estou no bar do restaurante, tomando Coca e escrevendo. Está passando os minutos finais de França e Dinamarca na imensa TV, jogo chato, pelo pouco que observei. Estou aqui embaixo porque lá em cima arrumam o quarto. Talvez já tenham terminado, mas me deixarei estar um pouco, confesso que não estou muito confortável de escrever aqui, sinto-me como digitasse em um palco, ao olhar de estranhos. É só manter o foco nas palavras que estarei bem. Não estou com a mínima disposição de ir à Praça do Comércio hoje. Irei, entretanto. Preciso respirar um pouco de Lisboa, viver um pouco de Lisboa para além do universo do hotel. Embora aqui seja como uma versão ampliada e melhorada do quarto-ilha. Penso na Garota do Hotel, até porque acabei de revisar o que escrevi sobre ela. Confesso que me decepcionei com o resultado do meu texto, o que não é nenhuma surpresa. Estou triste porque não a verei muito hoje devido ao programa turístico. Talvez nem a veja, embora vá me esforçar para alcançar tal intento. Será que ela teria uma terceira transformação de visual para hoje? Estou deveras curioso, mas a forma que mais gostaria de vê-la, sem nenhuma maquiagem, não vá se dar. Voltando um pouco para o evento de hoje, o jogo do Brasil, não sei nada da posição do Brasil nessa Copa. Não sei sequer quem é o oponente. Sei que o Brasil erra muitos passes em comparação com outras seleções que pude apreciar. A situação é preocupante. Já se aproxima a hora do almoço. Acho que vou.  Me retirar do restaurante, fumar um cigarro e subir. Este é o terceiro dia em que estamos aqui, faltam cinco. Ruim será quando tivermos passado cinco e só restarem três.

8h39 (12h39 PT). Estou de volta ao meu quarto-ilha lisboeta e já com vontade de fumar outro cigarro. Ela, a Garota do Hotel, me parece oscilar entre extremos em relação à segurança, muito segura e decidida em relação a tudo que lhe é externo, mas insegura ao que vai dentro. Novamente, escrevo ficção, não tenho base factuais para intuir isso. Me passo por cada papel, nossa. Que seja, o meu canal com o mundo é esse e aqui vai quase tudo que se passa em meu espírito. Não consigo me expressar com palavras ditas com a mesma precisão, por falta de termo melhor, da palavra escrita. Coloquei enfim o chip português que meu amigo me emprestou, depois de muita insistência dele.

9h18. Conversando com ele até agora. Quer que eu conheça pontos turísticos da cidade. Não poderia estar mais desinteressado. Por mim, nem saía do hotel hoje.

13h21 (PT). Aprendi a configurar o relógio do Windows para mostrar a hora de acordo com o fuso-horário local. Bem simples. O tempo será marcado a partir de agora com o horário daqui.

10h31. Será que a Garota do Hotel pensou sobre o que escrevi depois do nosso encontro? Será que isso gerou alguma curiosidade nela? Seria surpreendente se isso acontecesse. Surpreendentemente ótimo. Mas não vou sonhar tão alto.

14h25. Não sei o que fiz nesse ínterim, entre o parágrafo anterior e esse. Ah, lembrei. Estava revisando e postando o segundo texto que aborda a Garota do Hotel. Ela parece ter pavio curto, mas ser bastante racional, esse conflito para ela deve ser complicado. Já estou criando um perfil psicológico da Garota do Hotel sem nem a conhecê-la de fato. Hahaha. É ridículo. Preciso tirar um cochilo antes de ir para o bendito jogo. Vou lá. O tempo encurtou bastante e pouco mais tenho que uma hora de sono para que chegue às 16h30 de táxi lá.

18:02. O gramado começa a ser tomado por pessoas de amarelo, rola música brasileira da pior qualidade, na minha opinião. Funk e subgêneros que não me agradam. Música de morro do Rio de Janeiro. Não entendo como esse tipo de música chega aqui. Curioso. Meu amigo vai chegar em cima do jogo. O sol está torrando ainda.

18:10. Só música ruim, gajo. Incrível, acho que os lusitanos importam tudo que faz sucesso no Brasil, sem se preocupar com a realidade socioeconômico que governa a música de massa do Brasil. Realmente o povão dita as paradas de sucesso. Isso não é realmente um problema é a maioria e a voz do povo é a voz de Deus. Para um burguesinho filho da puta como eu, criado com Chico e Caetano, que viveu a vida inteira sobre os ombros e escombros dos oprimidos, aceito meio à revelia as músicas que cruzam o oceano e preenchem o local e os meus ouvidos. Agora passam músicas do meu tempo, que são um pouco mais ricas, mas pode ser nostalgia. A era das "danças", do bumbum, do ventre, da garrafa etc.

18:27. Estou escrevendo o grande espetáculo humano ao meu redor. E foi isso que vim ver. Então, vou parar e ver.

20:17. Ouço o jogo e olho para o que julgo ser a costa de Lisboa. À minha frente um imponente navio de carga, eu suponho, e atrás de mim uma magnífica estátua de um cavalo com um poderoso homem olhando o infinito de uma tarde igualmente magnífica. A temperatura é perfeita. Parei de assistir o jogo, sim, faz-se necessário presenciar o que está além, o mundo, Portugal, que se apresenta linda, gloriosa ao meu redor. Não sei o que faço para merecer isso, mas é o que tenho. Parece uma pintura. É emocionante contemplar isso. E a temperatura? Um personagem em si.

FOTOS (SE EU RECUPERAR O CELULAR)

20:41. "Olhou e sorriu, é macaxeira no Bombril." Espero que a Garota do Hotel não entenda essa expressão, acho-a muito machista ou vai que é a verdade que os meus olhos não querem ver. Estava interagindo com o meu amigo. Acho que vou dar o ninja para não pegar a galera saindo do jogo.

21h06. Vocês não acreditam no que aconteceu, eu perdi ou roubaram o meu celular. Espero que tenha caído no carro do taxista, daí mamãe pode ligar para o meu número pelo WhatsApp e meu celular não tem trava, pode ser que o motorista descubra como destravar ele. Se mamãe ligar insistentemente, pelo menos. Ele vai ver o nome da minha mãe e do lado “(Mamãe)” e pode lembrar do nosso papo e trazer aqui mesmo se não atender. É a única solução. Mas é um preço a se pagar depois de ter visto tantas coisas belas. Obviamente minha mãe vai ficar desesperada.

21h15. Vou descer para fumar um cigarro. Queria ter coragem para tomar uma Coca no bar. Ela está lá. De cabelos soltos novamente. Mas estou com muita vergonha de interagir com ela. Preciso me acalmar mais. E tem Coca aqui. Vou tomar um copo e descer para fumar. Vou ficar sem nenhuma Coca no quarto-ilha. Ou muito pouca. Isso é preocupante. Vou ficar no bar até mais tarde hoje. Porra, agora que lembrei. Meu celular não tem Wi-Fi! Não dá para mandar mensagem nenhuma. Nem se eu tivesse deixado transmissão de dados ligada. Agora perdi mesmo. Só se mamãe ligar pelo telefone mesmo talvez chame. Ou de um telefone português. Tomara que dê para ver o número. Eu mesmo não sei.

22h32. Vim para o bar escrever, embora esteja muito perto de fechar. A Garota do Hotel me atendeu. Contei-lhe meu drama. Disse também da complexidade do trabalho dela. É muito difícil ser simpática, cordial e disponível por tantas horas, ter a humildade, o jogo de cintura para se esquivar e até prevenir situações socialmente difíceis com os hóspedes. Eles, todos os funcionários, estão em posição servil pelas funções que desempenham frente aos todo-poderosos hóspedes, mas mesmo assim tem uma personalidade que empresta uma equidade à situação. A simpatia é peculiar, nunca fui tão bem servido em toda a minha vida. E a Garota do Hotel que meio que rege a turma junto com o bonitão é a melhor coisa que vi em Portugal, uma das pessoas mais encantadoras que eu já conheci. Ah, acho que teríamos conversas incríveis. Vi mulheres muito bonitas hoje, de várias nacionalidades, mas não trocaria nenhuma pela minha portuguesinha. Tenho tanto a conversar, a conhecer, a desvendar e a possibilidade de chegar além da ponta do iceberg é quase impossível. Isso é frustrante.

22h44. Aqui me sinto num palco, é estranho, como escrever num picadeiro. Mas se é o preço a se pagar para ter um pouco mais de convivência com a portuguesinha, acho mais carinhoso que Garota do Hotel, vou adotar esse novo codinome. Fico mais satisfeito com essa decisão. E a põe em local privilegiado em relação às demais “Garotas”. As outras duas. Que nunca me deram bola. Ah, preciso narrar a conversa que tive com o taxista quando disse que estava há uma década só, me sugeriu pagar umas meninas para “dar uma fodinha” de vez em quando. Eu disse a ele que não fazia o meu estilo. Isso decorreu da conversa que teve ao celular com a sua amada, combinando os dias que passariam juntos. A garçonete a quem pedi a Coca-Cola não me trouxe, será que é porque vai fechar? Bom, eu preciso pagar a conta, anyway. Acho que aqui em Portugal devem odiar o uso de estrangeirismos no texto. Perdoem-me, perdoe-me portuguesinha, mas escrevo para mim em primeiro lugar. Quanto tempo ainda durará na minha cabeça depois que eu voltar ao Brasil? Com essa intensidade, digo, porque esquecer eu não vou nunca mais. Ela acaba de passar por aqui com um carrinho com frutas embrulhadas e outros quitutes, perguntei-lhe o que era, disse que era para “pessoas importantes” no que redargui “não é o meu caso”, mas acho que ela não ouviu. A Coca-Cola virá. Quando falo Coca aqui, eles estranham, pois só chamam de Coca a cocaína, o refrigerante ou é “Coca-Cola” ou “Cola”.

23h06. Fumei e pedi um bonito bolo de chocolate. Há um casal falando em inglês atrás de mim, espero que breve torne-se ruído branco. Estava pensando na reação da minha mãe quando souber do celular. É um pensamento que não me abandona. Mas confio na honestidade portuguesa. E acredito que o celular há de aparecer. A portuguesinha voltou. Ela além de tudo tem um belíssimo corpo, que me agrada bastante. O bolo tem uma fina camada do que suponho ser framboesa. Simplesmente divino.

23h13. Estava comendo o bolo, sem dúvida um dos melhores que já comi. Seria um dia perfeito com uma dose final da portuguesinha e com minha mãe conseguindo contatar o taxista. Melhor seria não ter perdido o celular. Estou com meu amuleto aqui. Eita, não estou. Eu deixei no quarto-ilha para não amassar. Que curioso, a mulher do casal perguntou em inglês ao cara se ele a amava. A coisa não vai’ muito legal na relação. Amanhã descerei mais cedo para cá. Não tenho nada a fazer. Ela agora está com cara de cansadinha. É melhor eu tomar a minha Coca e vazar. São 23h18 já. É um papo bastante cabeça o do casal.

23h24. Preciso perguntar se posso ficar até o último cliente sair. Se não estarei sendo cruel demais fazendo isso. Claro que queria perguntar à portuguesinha, mas não sei se terei essa oportunidade. Aproveitaria para fazer duas perguntas além dessa. Veremos. Haverá oportunidade. Mas há uma mais urgente que preciso fazer. Onde conseguir o ingresso para o Rock in Rio Lisboa.

23h28. Estou assimilando o ambiente e isso me desconcentra tremendamente. Me peguei aqui divagando que um projeto de doutorado para a portuguesinha seria focar em famílias de imigrantes de certa nacionalidade, talvez a que sofra mais rejeição e em como é a dinâmica familiar deles. Com a simpatia dela e o domínio de inglês acho que não seria algo impossível. Mas não sei se é um tema muito pouco específico para um doutorado, ou se ela gostaria de ser doutora nessa área. Tudo ficção para variar. E para variar estou passando por paspalho aqui. Para ela, caso leia isto. Perguntei a uma garçonete se podia ficar até o último cliente e ela disse que eu posso ficar até o espaço fechar, mas não farei isso, obviamente. Perguntei quando o bar fecha agora, ela respondeu à meia-noite e meia. Vou acabar abrindo outra carteira hoje. Detesto essa minha fixação em coisa absurdas, na mesma medida em que amo me sentir assim, alumbrado por uma figura feminina. E minha mãe que não chega? Não é possível que não veja o bilhete.

23h50. A coisa mais surpreendente aconteceu agora, minha prima, seu marido e o filho acabaram de chegar ao hotel e ficarão até o dia 30. Fiquei surpreso agora. Não sabia que eu tinha a fama de perder celulares em táxis. Não me lembro de tê-lo feito antes disso. Meu Vaporfi caiu no carro da minha tia uma vez, mas acho que se isso contar, conta meio ponto. Nossa, para de pensar na portuguesinha, cara. Ela não vai aparecer mais esta noite. Relaxe o bigode. Pedir uma Coca se for possível. O que diria a ela, se pudesse dizer alguma coisa? Não seria “fica comigo”. Isso é uma impossibilidade, não desperdiçaria com impossibilidades, mas com possibilidades. Diria que mamãe entende todas as burocracias para entrar com um pedido para ser professora na UFPE. Acho que diria isso. Os sul-coreanos jogaram com mais obstinação que os alemães porque havia mais em jogo para eles, os seus futuros como jogadores como li num Twitter. Ou assim me lembro. E não confio na minha memória.

12h05. Vou pedir a última Coca e a conta para ir para o meu quarto.

1h23. Tomei um não tão relaxante banho de banheira (com mamãe no quarto e sem som), foi meio apressado e constrangedor. Mas voltei aqui para dizer que, nossa, como é bom encontrar quem a gente gosta todos os dias, olhar para a pessoa admirada existindo de forma tão bela e desenvolta no mundo, no caso em seu ambiente de trabalho, onde tem enorme controle da situação e profissionalismo impecável. É um deleite. Tinha me esquecido de como isso é bom, a convivência com uma pessoa querida, desejada, não posso dizer amada pois aí é trocar as mãos pelos pés, não chega a tanto, mas chega muito perto de estar apaixonado. Perigosamente perto. E do impossível. O mais tétrico de tudo isso, o calamitoso mesmo, triste até talvez, é que isso é o mais próximo de um relacionamento que cheguei nesses últimos dez anos. É tão tremendamente pouco para os demais e tão tremendamente importante para mim que chega a ser surreal e ridículo. Não sei como fui me meter nessa situação, acho que porque não consigo me apegar a ninguém além de musas para mim, pessoas que me inspirem e a quem aspire. Tem que me tocar de alguma forma e a portuguesinha me tocou. Vi várias garotas bonitas hoje, lindas até, de várias nacionalidades, mas quando via uma, a vontade que tinha era de rever a minha querida portuguesinha. Sei que isso parece estranho e é. Eu, afetivamente falando, não sou normal. Sou tremendamente seletivo e tremendamente tímido, só consigo construir diálogo com a convivência. Convivência. É este o principal diferencial dessa empreitada para todas as outras. Para mim tem sido incrível, para ela deve ser só mais um cliente a agradar. Esse abismo relacional que há entre nós me parece intransponível. E deve ser. Eita, já estou na quinta página. Revisarei e publicarei amanhã, aliás hoje, mais tarde.

2h00. Mandei mensagens para o meu amigo que mora aqui para ele ligar para o número antes que a bateria arreie. Preciso me informar sobre o Rock in Rio com ele. A outra solução que diviso é a portuguesinha, ela foi ao Rock in Rio no final de semana passado, talvez saiba como conseguir ingresso. Mas vou tentar primeiro o meu amigo, até porque mais cedo. O que ela vai achar desse circo de um só palhaço? Por falar nisso, me lembrei de várias músicas de “O Grande Circo Místico”. Se você estiver lendo isso e quiser ouvir o que a música popular brasileira tem de melhor num disco singular, escute “O Grande Circo Místico” de Chico Buarque e Edu Lobo. Mas já passei e muito da minha cota de três páginas. Acho que “portuguesinha” é mais acolhedor que “Garota do Hotel”, que acho muito frio e distante. Não sei o que você vai achar. Acho que vai me achar um louco por tecer essas palavras para você, em sua grande parte. Eu acho apenas que utilizo o meu tempo da forma mais aprazível que conheço, escrevendo sobre o que ou quem gosto. Gosto de você, gosto de te ver, gosto mais ainda de conversar e lhe admiro muito. Fazia tempo que não admirava uma mulher que me fizesse palpitar o peito. A última foi minha ex, há dez anos. 2h24. Vou dormir que é o melhor que eu faço. Seu babaca, trouxa sonhador a lutar contra moinhos de vendo. Você não vai conseguir encantar ninguém com esses textos porque você é muito... você! Obrigado, superego, pela finalização, mas devo lhe informar que a portuguesinha tem dúvidas a seu respeito. Hahaha.

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15h57 e até agora nada de celular. Acho que foi-se.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

GAROTA DO HOTEL


13h12. Esperando contato do meu amigo que mora aqui agora e diz não mais querer voltar. Quando tiver algo para escrever eu volto. Ouvindo Cure. “Wish”. Muito bom.

14h15. Acabei de encontrar o meu amigo corretor. Conversamos coisas interessantes em frente a uma coisa para mim muito chamativa, matuto que sou, uma Ferrari. Acho que o Ka foi a tentativa da Ford de criar o seu próprio fusca. Fusca é tão famoso que virou substantivo comum (pelo menos no Brasil). A Ferrari me impressionou bastante, branca, com linhas ferozes, poderosas, diferenciadas, lindas. Sonho de menino brasileiro ver uma de perto. Espero que o bar esteja vazio quando eu for lá. Meu amigo falou que viu policiais banguelas aqui e uma gatinha com as bases dentes já amareladas, será que por isso ele vai preferir pegar só as estrangeiras? A pergunta melhor, será que nós não julgamos as pessoas pelos seus dentes? Você namoraria uma desdentada? Eu não. A mulher que desejo tem dentes perfeitos. Com cáries, claro. Cáries para mim são como que as celulites dos dentes. Tomei um banho de banheira. Ficção que queria concretizar, no último dia eu mandaria uma rosa vermelha com um último bilhete dizendo, “Querida Garota do Hotel (obviamente colocaria o nome dela), Já que não dá, sejamos então apenas bons amigos, meu Facebook é mario.barros.75. J” Ficção 2. Eu entrego a carta antes. Ela lê e me adiciona ao Facebook. Nos tornamos rapidamente íntimos, uma grande afinidade nas conversas indo cada fez mais fundo no que somos. Eu falo logo no começo, “quero sinceridade, honestidade e respeito” e aí eu desço lá para baixo enquanto ela está no salão. 19h15 aqui, vou descer para assistir o jogo.


"O Iluminado"



15h33. Desci, fumei dois cigarros e achei o mundo muito hostil lá embaixo. Acho que desço para assistir o segundo tempo. Mas, voltando à ficção. Eu desço com o computador lá para baixo – ou do celular mesmo, esqueço que pode – e lhe mando a seguinte mensagem, “eu tenho uma fantasia. Eu acho que vivo de fantasias.” Ela, que ainda está começando os serviços e só há eu no bar, consegue pegar o celular para ler o que escrevi e pergunta, “que fantasia?”, eu gelo como a Coca gelada em meu copo e digito, “eu não posso contar, é muito íntima e diz respeito à você.” “Vai, abobado – ou como quer que chamem aqui –,  conta!” Replico, “lembre-se, foi você quem pediu”... e pergunto qual a cor da sua calcinha, ela responde, “preta” e pergunta “por que?” eu respondo, “porque agora o que eu mais queria era tirá-la e chupar você todinha.” Ela responde “Tarado! Kkkkk” FIM. Enfim, o que há de se dizer do autor de tal disparate? O pior que eu estava criando coragem para descer lá embaixo e dizer para a ela, a Garota do Hotel, que eu estava escrevendo sobre si. Será que ela iria dizer alguma coisa? Indagar algo sobre esse comentário? E se, por alguma circunstância, eu publicar isso e ela ler? O que achará de mim? Um pervertido, talvez? Foi ficção com erotismo para mim. Ficção já diz, é algo que não existe. E é avisado antes. Ela está de cabelo solto hoje. Disso, eu tenho certeza. Achei que estivesse com o batom preto. E se fosse e eu ousasse dizer, “você é uma mulher de personalidade forte. Vou acrescentar isso ao que estou escrevendo sobre você no meu blog.” Hahaha. Duvido que eu tenha coragem mesmo se ela estivesse usando batom fosforescente. Eita, está quase na hora do segundo tempo. Será que eu encaro? Agora seria bom ter minha mãe aqui. Acho que vou descer nem que seja para fumar um cigarro. Mas queria ver esse segundo tempo.

18h24 (22h24 em Portugal). Mamãe chegou e estamos no quarto, ela testa as alternativas de roupas para os dias de congresso antes de dormir. Ela chegou quando estava lá embaixo fumando o cigarro do parágrafo acima. Trouxemos algumas coisas aqui para o quarto e voltamos ao bar para ver o jogo. A Garota do Hotel estava maravilhosa e ousada com seu batom preto. Essa noite para mim foi inesquecível e nem sei por onde começar a narrá-la. Um turbilhão de pensamentos maravilhosos me cruzam a cabeça, preciso fumar um cigarro. Só vou dizer uma coisa antes, a Garota da Rabeca é passado. Minha musa, por mais que breve, é definitivamente a Garota do Hotel. Uma parte do meu coração vai ficar para sempre em Portugal.

18h54 (22h54 PT). Que mulher jovem e encantadora. Melhor começar do começo. Descemos eu e mamãe, que foi direto ao bar, eu parei para fumar um cigarro antes, por receio de falar com a Garota do Hotel. Pois é, sempre me dá dessas, vai entender. Quando cheguei ao bar mamãe conversava com ela. Só consegui soltar o que havia sentido, que ela tinha uma personalidade forte. Pensa que eu não percebi a sua ironia quando do incidente do prato quebrado? Ela deve usar da ironia com frequência para soltar a sua agressividade, o que é uma forma inteligente de fazê-lo, na minha opinião. Ela respondeu que não tinha personalidade forte no trabalho, mas deu a entender que fora dele de fato possuía ou assim quis entender. Quando finalmente começamos a sentar juntos – eu e minha mãe – para ver o jogo da Argentina, percebi que estava embriagada, o que acabou se tornando muito favorável ao meu devaneio com a Garota do Hotel. Nossa que vergonha da ficção que eu escrevi. Mas a regra desse blog é escreveu, fica, infelizmente. E não vou trapacear comigo mesmo. Mesmo que imagine a péssima impressão que vá causar se a Garota do Hotel realmente ler isso. Meu amigo que veio morar aqui não para de me atrapalhar conversando comigo. Quando lhe falei que eu achava que estava me apaixonando pela gerente das garçonetes, ele disse que eu não vi nada. Retorqui que quando o foco trava para mim, estou perdido e sinto muito bem quando isso acontece. E aconteceu de forma muito intensa. Sinto-me arrebatado, deslumbrado, preciso contar mais para que os meus leitores saibam precisamente porque razão digo as insanidades que digo. Meu amigo perguntou se eu não gostava de sexo. Quando respondi que gosto, mas gosto muito mais de amor e paixão, ele sugeriu que eu fosse gay camuflado, tirando uma com a minha cara. Que posso eu fazer se sou um pobre romântico, coisa tão pouco em voga hoje? De toda sorte, além de gostar de nomes que me agradem, onde, como dito no post anterior, ela perde pontos, a Garota do Hotel compensou com muitíssimos pontos por suas mãos, belíssimas, parecem esculpidas por Michelangelo. E ainda estavam nuas de qualquer esmalte o que me agradou sobremaneira. Mãos são coisas importantes para mim, que posso dizer, sou um cara cheio de peculiaridades. Coloquei Djavan de novo. Foi a música que me veio ao tino colocar e é bem romântica, não é dos grandes da música brasileira e isso pouco importa, estou na vibe de ouvir. Voltando ao bar, minha mãe a pegou para conversar e eu pude lhe fazer algumas perguntas. Tem mestrado em Psicologia com foco em algo entre clínica sistêmica e conexões sociais, sou péssimo em decorar nomes, por mais que seja critério de encantamento por uma garota. Enfim, sei que tratava da dinâmica intersocial de estruturas familiares, de casais a famílias maiores. Contou que a prática da psicologia clínica é vista com muito preconceito em Portugal, como caso para doidos ou coisa que valha. Não sei se fui eu ou mamãe que sugeriu que fosse clinicar no Brasil, se fosse mentiroso, diria que ela chegou a projetar a possibilidade por alguns nanossegundos, mas acho que isso é algo em que quero acreditar, essa rápida consideração. De toda forma, acha Freud ultrapassado e disse que estudou id, ego e superego de forma muito geral há muito tempo, então não tinha uma opinião formada nem contra nem a favor dessa teoria. Disse que foi ao Rock in Rio no dia de Anitta e que a camisa ficava para além de suas posses. Decidi que vou comprar uma camiseta do Rock in Rio Lisboa para ela. E tenho dito.

Será que ela vai ficar chateada se eu for de táxi?



20h01. Fumei um cigarro lá embaixo. Perdi o fio da meada. Sei que falava dela. Sei que ela vai ter que perdoar o português brasileiro e suas absurdidades. Acabei confessando que escrevia sobre ela no blog. Ela chegou a fazer menção de puxar caneta e papel para anotar o blog, mas lhe confessei que só repartiria no último dia pois se tratavam de coisas muito íntimas. Quais as impressões que tive dela, que é uma líder nata, perfeccionistas, cobra muito de si mesma, tem uma cultura muito mais ampla e profunda que a minha, o que sinceramente não quer dizer muita coisa, visto que sou um completo alienado de tudo. Ou assim quero me ver, o que denota a uma psicóloga a minha baixa autoestima. Não poderia estar mais perto da verdade. Minha mãe está me atrapalhando a conservar amenidades. Não é ruim, só inoportuno.

20h18 (0h20 PT). Estou de volta e o que tenho mais a acrescentar? Ela tem um cacoete de fazer uma careta de nojo/reprovação com a boca que é uma graça, quando pega de surpresa numa situação meio constrangedora, confessional. Cheguei a tocar o seu braço de leve para pedir desculpas por ter exigido dela que pegasse mais gelo. Me senti imediatamente culpado. Ela foi mais perspicaz do que podia julgar, é extremamente inteligente e sincera, isso são qualidades preciosas numa pessoa. Nossa, como estou constrangido com o que escrevi acima quando a vida se desenha com a possibilidade de ela ler. Não pensei que teria essa coragem. Abrir-se essa brecha. Acho que vou entregar-lhe o kit camisa, rosa, cartão assim que conseguir os três itens. Que se dane o mundo. A vida é uma só. E tão curta. E embora tenha sido agraciado com duas impossibilidades afetivas ultimamente, não me cansa alimentar ilusões.

20h42(0h44 PT). Será que a coitada já chegou em casa ou ainda está no bar? Eu passei e não a vi, mas olhei muito rápido. Será que estava com calor mesmo, talvez o calor prévio do período menstrual, se é que isso existe, ou que abanar-se é uma forma de aliviar o estresse? Ah, tais conjecturas já são ficção. Sei que ela estava tão linda quando ontem, embora com o visual bem diferente, cabelos soltos, roupa mais esportiva e o batom. Certamente deve odiar fumantes. Ou não, afinal aqui fuma-se muito mais que no Brasil, talvez a tolerância seja maior. Tenho vergonha do meu português, eu que nem sei onde colocar as vírgulas. Hahaha. Paspalho, novamente me passo por papel de paspalho diante de uma bela dama que arrebanhou meu peito. Ela vai ficar muito constrangida quando ler isso. Acho que vou indagar-lhe porque não segue carreira acadêmica, faz um doutorado. Lá no Brasil acho que ela teria grandes chances com essa visão sistêmica que ouço poucas pessoas mencionarem. Será que ela estudou a dinâmica familiar por causa de alguma disfunção em sua família? Sei que já revelei demais da Garota do Hotel e supus outras tantas. Para ilustrar o blog com algo dela, só posso oferecer a caligrafia, mui bela e confiante por sinal. Ah, acho que ela tem certa mania por organização ou então é como eu, absolutamente organizada no trabalho e caótica em casa. Se bem que nunca fui como a minha mãe, completamente desorganizado, mas, não fora a fantástica faxineira, meu quarto seria um ninho de ratos. Hahaha. A necessidade é mãe da maioria senão de todas as ações. E invenções. Nem que seja a necessidade de ganhar dinheiro. Não acho que esse seja o trabalho que ela sonhou. Acredito que a chama da psicologia ainda está nela. Não é um trabalho ruim, embora demandante, só está totalmente fora da vida que pensou para si. A terceira página vai chegando ao fim e preciso dormir para pegar a ceia matinal. Queria muito que ela lesse e queria mais ainda que não tivesse escrito a ficção da calcinha preta. Até porque a resposta final dela nunca seria a que supus, acho que nem com toda a intimidade do mundo. Mas toda intimidade do mundo ou o mais próximo disso que já experimentei só se dá com um casal que se reparte de forma mais transparente possível, porque não há como ser de outra forma para que um se adapte ao outro o mais completamente, respeitando os limites de cada parte. Sei lá, acho que joguei um bando de clichês nos quais acredito. E que funcionaram na dinâmica com a minha ex. Vou ficando por aqui, rezando para que amanhã tenha uma nova rodada de conteúdo para acrescentar a esse blog. De preferência sobre esse mesmo delicioso assunto. Que merece todo o meu respeito e atenção, pois coloca minha alma iluminada e feliz. Me dá um sonho para viver nem que seja até amanhã. Aliás, já é amanhã aqui. Preciso dormir. Vou fumar o último cigarro e capotar na cama. Quando acordar reviso e posto. Só um último comentário, é pena que amanhã não a veja tanto quando queria, se a vir de fato, pois estarei na Praça do Comércio com o meu amigo. Ai, ai, sonhos, sonhos são. É bom sonhá-los, mas é ruim quando a realidade vem os desmascarar e os estilhaça em mil pedaços. Que seja. A vida seguirá, o velho peito acostumado a tanta porrada sobreviverá. E continuarei só com as minhas palavras. Que destino triste esse que construo para mim. Mas nunca fui bom com as mulheres. É um defeito de caráter meu. Já entrei na quarta página e isso não pode se dar. Terminei por hoje.


terça-feira, 26 de junho de 2018

GAROTA DA RABECA E LISBOA


0:37. Estou num voo rumo a Lisboa, uma bela mãe, uma bela mulher, embala seu filho em pé no avião. Realmente uma bela mulher. Madura, mãe, mas atraente. Me atrai. Seria capaz de me apaixonar por uma mulher assim. Seria bem mais desafiador. Uma mulher mais vivida, mais velha, lembra uma Zizi Possi melhorada. Me agradou. Quanto à Garota da Rabeca, ah, foi a morte da ilusão da forma mais delicada possível, com seu jeito agradável e necessariamente esquivo. Volto a lembrar que ela é mulher jovem e lindíssima, logo deve ser escolada na arte de dar cortadas proporcionais à abordagem. A minha foi muito branda, sutil, prova de que talvez não tenha sido tão má a minha elegia, por assim dizer, à sua pessoa. Embora tenha ficado claro pelos seus gestos e modos que parou aí, que não quer mais conversa comigo, fui uma reles curiosidade que virou passado para ela. Pelo menos disse-me que leu e que achou bem legal e me respondeu seu nome, quando a perguntei, numa última ousadia minha. E não é que tenho o nome dela tatuado no meu braço? Com a caligrafia ou o desenho de minha amada babá, visto que ela é completamente analfabeta, não sabe compreender ler o próprio nome que desenhou com carinho e cuidado para ficar bem bonito para mim, mesmo sem saber que estava fazendo para ficar sempre impresso no meu corpo. Porque ela é assim, uma santa; a melhor pessoa que já conheci, empatada com meu irmão. Eles são dignos de representar a humanidade, o que de mais maravilhoso pode haver nela.

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Primeira parada em Lisboa, o fumódromo. 



10:14. Estamos no restaurante do hotel à espera do check in, mamãe dorme à mesa. Já deu a hora, mas o lobby está cheio. Estou esperando aliviar para acordá-la. Parece transmissão de pensamento. Foi só escrever que ela acordou. Hahaha. A atendente do restaurante do hotel é jovem e um doce, mas não tem o encanto da Garota da Rabeca. Perguntei-lhe se iria ao Rock in Rio e ela disse sorridente que não, mas fez uma expressão momentânea de estranhamento com o meu questionamento.

11h31. Não consegui dormir, talvez porque tenha dormido muito no voo, talvez pela excitação da mudança. Deitei na cama, é bastante confortável, e o ar deixa o quarto com uma temperatura bem agradável. Meu amigo que está em Lisboa acaba para me chamar para ver o jogo de Portugal aqui em Portugal. Na Praça do Comércio se não me engano. O jogo é às 19h. São quase 16h. Disse para ele passar de 17h30. Não estou muito animado, mas prefiro ir que ficar aqui escrevendo. Pode ser bom. Ainda falarei da Garota da Rabeca.

12h20. Não consegui dormir, embora esteja cansado. Não estou com disposição para escrever e por isso a saída vai me ser tão benéfica. Ainda sobre o nome da Garota da Rabeca. É a primeira opção de nome que eu daria a uma filha, caso irrompesse das profundezas do impossível a vontade de me reproduzir. A garota teria que ser muito persuasiva, mas muito mesmo para me convencer a me meter numa aventura sem volta dessas. Embora eu saiba que a maternidade tenha um significado importantíssimo para a mulher. Acho que a criança não teria um pai inteiro, apenas metade, que é o que acho que sou capaz de dar. Acho que eu seria um pai careta. Será? Bom, isso tudo com a vida que eu levo, da forma como a levo, sonhando com namorada dos outros dentre outras ilusões, não passa de mero sonho com tendência a pesadelo. Uma filha, veja só. Mamãe acha que se eu me reproduzisse, ela é que ficaria com o encargo de cuidar do bebê, adivinhando ou diminuindo à exclusão a minha participação como pai. Hahaha. Eu poderia ter ousado mais com a Garota da Rabeca, mas acho que aí passaria do sensato, pedindo-lhe que me acrescentasse como amigo do Facebook. Não para que ficasse passando cantadas, mas para trocarmos uma ideia, tenho profundo interesse naquele ser maravilhoso. Ainda bem que não ousei. Mas, caso leia, Garota da Rabeca reitero que meu endereço no Facebook é mario.barros.75 e que, se me adicionar, pode da mesma forma me bloquear. Bom, pelo menos você me deu o final da história, escrever para a garota dos seus sonhos pode agradá-la, mas só isso. Especialmente se ela já ama outrem. A hora se aproxima da chegada do meu amigo corretor. Às vezes cai a ficha que eu cruzei o oceano e estou no país que colonizou em sua grande parte o meu país, o saqueou; estuprou e depredou os que aqui habitavam e impôs o modo português de civilização com escravagismo como status quo. É bem surreal isso. E no final não ficou tão português quando se poderia supor. Lá vou eu falando do que não entendo. Mas sinto pena dos índios, viviam no paraíso, respeitavam o paraíso e se tornaram praticamente nada hoje. E o paraíso foi amplamente devorado pela fome de capital. Mas, mais uma vez, não vou falar do que não entendo. Sei que falta menos de meia-hora para o meu amigo chegar. Tédio em Portugal. Acho que vou descer para beber uma Coca-Cola e fumar um cigarro no restaurante do hotel.

15h51. Desisti de ir com o meu amigo, ficou muito tarde para ir de ônibus.

18h49. Assistimos eu e mamãe o jogo no restaurante do hotel, que estou achando muito agradável e com lindas moças, em especial a que chamarei aqui de Garota do Hotel para não expô-la, que embora tenha um nome que não me agrada, é uma graça. E usa batom vermelho com pele alva e cabelos pretos. O que adoro, acho uma combinação perfeita, matadora. Muito simpática, mas parece ter algum cargo de gerência, papel em que aparenta ser muito durona. Penso em comprar uma camisa para ela caso vá mesmo ao Rock in Rio. E uma para mim também. Se o dinheiro só der para uma? Aí a coisa complica, mas negociarei com mamãe. Penso em um cartão com o meu endereço do Facebook. É uma abordagem muito semelhante às demais, diria que é o meu jeito de agir e que, infelizmente, não surte muito efeito. Aliás, nunca surtiu nenhum efeito substancial, qual seja, conquistar uma garota. Mas de que adiantaria conquistar a Garota do Hotel, deixar meu coração em Portugal e retornar ao Brasil. Seria doído demais. Afora que só sendo muito chata ou muito dedicada para não ter um namorado bonitão já. Acho que vou deixar essa ideia de lado. Ou não. Ela é como se fosse uma Garota da Noite melhorada, sei lá, uma mistura Natalie Portman com Laura Pausini. Estou sem cabeça para escrever. Melhor deixar para a amanhã. Ou abro outra Coca?

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O bonequinho do sinal é diferente aqui, tem pés.


7h40 (11h40, horário de Portugal). Fui deixar mamãe num shopping e comprar Coca-Cola. Voltei e estavam arrumando o meu quarto, por isso, desci e tomei uma extorsiva Coca-Cola no bar do hotel. Gostei do hotel. É quatro estrelas e essa é a medida exata de estrelas que merece e que me faz sentir bem. Acho que um cinco estrelas seria afrescalhado demais para os meus padrões.

7h54. Há mais gente que não tem emprego formal dentre os que conheço, que não vingou profissionalmente do que eu gostaria de supor. Vendo o Facebook me dei conta disso.

8h09. Fumei o último cigarro da carteira. Acho que vou tirar um cochilo. Penso em, no meio da tarde, descer com o meu notebook lá para o bar só para mudar de ares. Preciso ver se é possível e se posso também debitar na conta do hotel as coisas que eu consumir. E principalmente se a Garota do Hotel lá estará. Gostaria de ter coragem de pedir para tirar uma selfie com ela, visto que foi a coisa mais interessante e bela que vi em Portugal até agora. Juro.

8h24. Estava revisando o que escrevi até agora e percebo que tenho encontrado garotas interessantes num espaço mais curto de tempo. A vida me sorri nesse aspecto. Mas não é um sorriso tão largo que possa qualificar de amor ou paixão recíproca. Infelizmente de recíprocas elas não tem nada o que é uma pena. Perguntei a um segundo taxista quando daria para me levar ao Rock in Rio e ele me respondeu o mesmo que o primeiro, cerca de dez euros. Estou no mínimo curioso para rever a Garota do Hotel. Ela tem um lindo sorriso. Ela é toda linda. Se eu pudesse optar entre ela e a Garota da Rabeca? Eu poderia optar onde iria morar? Essa pergunta é a melhor resposta que eu posso dar. Portugal é uma cidade de primeiro mundo, europeia, mas por ter a mesma língua e ser a cultura mãe do Brasil, eu me sinto muito mais em casa do que na Alemanha. Em Munique eu me sinto mais estrangeiro, mais estranho a tudo aquilo, embora goste muito da cidade e especificamente de onde a minha irmã mora. Mais estranho ainda, talvez por ter ido menos vezes, eu me sinto nos Estados Unidos. Como Bono (do U2) muito bem pôs, os EUA são um sonho que o mundo inteiro possui. Para mim, em grande parte por conta da indústria cinematográfica de lá. Estou estranho desde aqui cheguei. Não sei se é por conta do fuso-horário diferente. Sei que algo em mim não é o mesmo de quem deixou Recife. Ou melhor é o mesmo ainda não adaptado à nova realidade. Não faz parte da minha realidade acordar de 4h40 da manhã para comer linguiça croissants, pastéis de nata e cappuccino. Mas tenho que admitir que a comida daqui é simplesmente divina.

9h46. Experimentei o prato de mamãe e estava delicioso, talvez peça no jantar. Por mim, não sairia do hotel a não ser para o jogo do Brasil e para o Rock in Rio. Pode ser que no final de semana, meu amigo daqui tenha algum plano. Sei lá. Sei que me sinto meio sonolento desde que cheguei aqui. Talvez esse cochilo à tarde me reanime. Me ponha nos eixos e me tire essa leseira que me acomete desde que aportei aqui. Mamãe confirmou que posso pedir coisas no bar/restaurante do hotel e, com a minha assinatura, colocar na conta do quarto, então não preciso de dinheiro. Também me informei e posso levar o computador para o bar e escrever lá. Certamente será um programa que considerarei com muito carinho. Especialmente se a Garota do Hotel estiver lá. Grande troca, uma garota com namorado por uma garota que mora em outro país, qual será a próxima, uma marciana? Hahaha.

10h50. Fui descer para esperar mamãe trocar de roupa e me informei quanto era o táxi para a Praça do Comércio, já pensando no jogo amanhã. Sete ou oito euros, respondeu o taxista. Minha mãe concordou com o valor. Então de táxi irei. Estava com uma música de Djavan na cabeça, mas não me lembro o nome...


Banheiro do hotel em que estamos o Novotel Lisboa


12h14. Cara tomei aquele banho agora. Como nunca havia tomado. Bem longamente na banheira, bem quente, ouvindo só anos 80 e relaxando por longos e longos minutos, uma experiência uterina, e depois, para finalizar, uma boa chuveirada. Estou novo. Vou dizer ao meu amigo que, se ele quiser, pode vir que estou pronto. Dormir só embolaria a minha adaptação ao fuso-horário daqui. Estou meio sonolento, mas não há grande problema nisso. A terceira página está prestes acabar. Última linha. Fico por aqui. Relaxado, relaxado.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

ENCONTRO COM A INCRÍVEL REVISORA OU NAUFRÁGIO DE UM SONHO


15h58. Estou na piscina à espera da incrível revisora. Duas meninas brincam na piscina supervisionadas pela babá, que mexe no celular. Provavelmente WhatsApp. Minha amiga revisora está a caminho e terei um grande choque de realidade agora. Não estou preparado para isso, mas tenho que ser adulto o suficiente para encarar. A ansiedade impera. O que me dirá a minha amiga revisora não sei. Não sei o que esperar desse encontro. Essa incógnita me incomoda. A empregada chama as meninas para subir. A claridade rouba-me um pouco a visão da tela. Nunca desci para a piscina de dia. Para tudo há uma primeira vez. Hoje é uma grande primeira vez para mim e meu sentindo aranha não para de alarmar, bicho neurótico que sou. O iTunes não pega.

18h03. O que esperava aconteceu, a incrível revisora acha que o livro da forma como está é impublicável. Ainda estou assimilando o golpe. Meu tio, por esta visão, não poderá me ajudar, pois isso denigriria a sua imagem pública.

18h10. Ainda pensativo sobre o que fazer dessa obra. A realidade não me surpreendeu, apenas me atingiu com um tijolada.

18h20. Eu me arrisco, ou melhor, me condeno ao ostracismo se publicar. Ao repúdio social completo. Por ser apenas eu. Eu percebo que algo se partiu, quebrou entre mim e a incrível revisora. Eu estou chocado com o choque dela. Não sei o que pensar.

18h56. Continuo sem saber o que pensar, raras vezes estive tão dividido em minha vida. Seria um ato de extrema bravura e de extrema covardia e burrice também. Nenhuma editora publicaria o meu livro, foi o que me deu a entender a incrível revisora.

19h09. Para mim, é o tudo ou o nada. Vou perguntar à incrível revisora se ela pode fazer a crucial transformação no texto. Não, não sei se tenho coragem, dá muito trabalho.

19h43. Pedi. O não eu já tenho. Vamos ver o que ela responde. Estou me sentindo profundamente mal. Me sinto amputado. Na alma. A parte mais importante do livro cortada. É dilacerante. Mas se a reação da incrível revisora que é tão cabeça aberta, esclarecida, foi essa, que seja. Só não me sentirei realizando o meu sonho. Será um pedaço qualquer de sonho. Nunca o sonho completo, nem cheiro disto. Confesso que me deu vontade de cheirar cola. Mas isso seria um completo despropósito. E não o farei pois não sou tão imbecil a esse ponto. Nossa, às vezes a realidade é dura. Não sei se o livro tem substância ou relevância que o sustente censurado. Será um livro muito mais comum, reles, sem graça. Por que eu sou assim tão torto? Frustação em nível extremo. A sociedade não está preparada para aceitar a minha verdade. Tive a prova cabal disso, o que me fere profundamente. Eu sou um fracasso como pessoa. Nunca conheci ninguém tão falho e estranho como eu. Nem quero conhecer. Minha vida perdeu em grande parte a razão de ser. O vazio dessa constatação é enorme. Perdi todo o tesão que tinha pela obra. O que fazer da minha vida agora? Qual o sentido da minha vida agora? Este blog? Tinha apostado todas as fichas nesse livro. Apostei errado. Como apostei errado em tudo. Essa noite eu queria morrer, como canta a antiga canção. Quem há de se contentar com tão pouco? Quem não padece vendo um grande sonho morrer? Ou ser decapitado, arrancarem-lhe o coração? O que vivo é luto.
21h23. Estou de volta à minha casa e carrego todo o peso que trouxe da conversa na piscina. Por que eu sou assim, meu deus? É o que mereço mesmo por ser tão egoísta. Só quero crer que seja o egoísmo, pois mal não faço a uma barata. Por que será que eu sou assim, de onde resulta isso, qual foi a curva errada que eu peguei? Tudo o que queria, tudo o que sonhei era a sinceridade absoluta daqueles dias. Mas o acaso-destino quis de outra forma. Eu não quero publicar mais livro capado, castrado porra nenhuma. Foi como previ, vai ficar mofando no meu pen drive para sempre. Quanto desperdício de esforço da incrível revisora. Quanto desperdício de esforço meu. Quanta vida indo ralo abaixo. O pior é o sonho de ser reconhecido escritor para sempre perdido, pois o que sobra é muito pouco, é menor, não vai nem vem. Sei lá, posso estar superestimando o que precisa ser cortado para que minha vida siga semelhante a como é hoje. Eu não gosto muito da vida como é hoje. Antes eu tinha um sonho, um grande sonho. Hoje tenho um monótono monólogo. Foda-se eu. Quem me dera eu ligar o foda-se. Não consigo. Não sei o que fazer mais da minha vida. Aliás, ainda resta descobrir a verdade sobre a Garota da Rabeca. Mas depois dessa reviravolta de hoje, esperar o pior é otimismo. Mas pagarei para ver. Eu acho. Me sinto sem ânimo, sem chão, sem céu. Mas só há duas alternativas. Há uma terceira. Não ouso contar aqui. Puxa, isso dói. Às vezes a vida é... não sei nem descrever. Hoje é um dia em que não vejo o menor sentido na minha existência. Ela é completamente vazia de utilidade para o mundo. E o mundo não me aceita. Não caibo no mundo. Todo mundo vai para granja de Kilma e ninguém lembrou de mim. Alegarão a viagem, mas duvido que quem de direito soubesse da minha viagem. São essas as pessoas que perderei? Não quero. Não sei o que não quero. Gostaria muito de saber. Só sei que não quero. Com muita intensidade. Mas já está tudo resolvido na minha cabeça. Já sei o que farei. A terceira via. Livro inútil e ridículo. Como o autor. É assim que o livro me parecerá. Que seja. Como a vingança este é um prato que comerei frio. Ou miraculosamente a Garota da Rabeca... foda-se, isso é outra idiotice da minha cabeça idiota. Vou perder 40 reais, isso, sim. Por um fora ou algo pior. Se ela for. Foda vai ser pagar isso e ela não estar lá. Há uma possibilidade grande que esteja. Ou pode ser que vá viajar no São João, vá passar com a família em algum lugar. É bem possível isso também. Como odeio ser eu nesse momento. É, é o que construí. Ou o que foi me surgindo, sei lá. Não tenho controle sobre tudo. Nem sobre a minha obra. Mas está sacramentado. Eu já me decidi. Pelos meus amigos de internamento, vou arriscar a obra mutilada. Eu estou derrotado, abatido pela dureza dos fatos. Da coisa como é. Da coisa que sou. E da incompatibilidade entre ambos. Eu não nasci para esse mundo. Eu nasci errado. Todo errado. Queria ter os colhões. Mas a sensatez, ah a sensatez, essa megera devoradora de sonhos me faz recuar e repensar as minhas ações. Aborto de sonho.

22h41. Ainda há um alento. Eu que começo a odiar o mundo. Não posso odiar o mundo. Então odeio a mim mesmo. Eu me odeio. Fruto podre que não despenca da árvore e se espatifa no chão para os vermes comerem. Vou fumar.

22h59. Resolvi desopilar do passado e me focar no presente. Não quero falar de livro, tive uma overdose de livro por hoje. Nem quero pensar, por ora, na Garota da Rabeca. Eu estava num vibe muito negativa, muito cheia de mágoa, de sofrimento emocional e de autodepreciação. Coisa que não me faz sentir bem e o que eu mais quero, em realidade, é me sentir bem. Talvez até saia com um livro merda publicado. Não sei se quero isso. Mas pelos amigos de clínica, para provar a eles que eu consegui. Não acho pessoalmente marcante quanto a minha realização profissional, mas é alguma coisa. Acho que não ganho nada com a versão censurada, vou chocar a minha família de graça, não vou me sentir satisfeito com a obra que publiquei. Tomara que a incrível revisora faça uma puta lipo no livro. Eu não quero publicar esse livro. Será que é coisa passageira? Ou tem a ver com os “não quero” lá de cima? Por que me limitar chocando os meus parentes apenas por uma obra na qual não acredito por completo? Desnecessário. Não sei. Tenho muito ainda o que matutar sobre o assunto.

23h19. Estou querendo entrar em outra linha de pensamento. Acho que vou pegar gelo e comer. Coisas doces.

23h56. Abri dois pacotes de biscoito diferentes, o Ruffles e comi carne de sol com arroz. O arroz não estava muito bom, na minha opinião. Está batendo um soninho. Veremos como acordarei amanhã a respeito do livro maldito. Vou lá.

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11h20. Como acordei hoje? O Brasil, me disseram, ganhou de 2 a 0 da Costa Rica, eu acho. Mas já me levanto com a renúncia do conteúdo do meu livro na cabeça. A incrível revisora visualizou a minha mensagem, mas nada respondeu. É o final de semana dela. Não vou atrapalhar. Nem sei se vou pleitear uma publicação amputada do meu livro. Não sei de nada por enquanto, estou ainda reativando Tico e Teco. Sei que o livro veio junto com o despertar me assombrar e me machucar.

11h43. Tomei mais café, fumei mais cigarro. Estou sem saber o que pensar sobre o livro. Mas acho que só me resta a terceira via. Eu não sei o que sentiria com a publicação do livro decepado. Acho que em não ficando monótono pode ser uma. Uma, não, meia, pois o que mais sinto necessidade de gritar ao mundo ficará selado em meu peito. Nossa, como queria arrumar uma namorada. Como queria que a Garota da Rabeca estivesse lá na Casa Astral amanhã. E que fosse receptiva ao meu texto. Não acho impossível. O que acho impossível é publicar o livro como está nesse espaço-tempo de agora. Minha amiga revisora me convenceu disso. Eu tenho isso como líquido e certo que o livro tal como está não vai ser aceito por editora nenhuma. Terei que me publicar eu mesmo se quiser que a versão completa veja a luz do dia. O que nem sei mais se é o meu intento. Acho que tudo perdeu o sentido para mim ontem. Continuo arrasado, mas a minha alma escorre pelas frestas em busca de uma solução mais próxima do ideal possível. Acho que a previsão de acabar distribuindo livros em frente a Livraria Cultura seja, por surreal que pareça, a mais plausível. A que mais se adequa a realidade tal qual me foi apresentada pela incrível revisora. E acho que ela tem razão. Se eu achasse que não havia sentido em seu pleito, mas acho completamente pertinente. Sensato. Eu e a sensatez nunca fomos de muitas intimidades, mas tenho que dar o braço a torcer agora. Agora entendo por que meu tio não quer se envolver com o livro. Não sei se em publicando a versão capada eu teria o direito de publicar a versão sem cortes mais tarde, não entendo de direitos autorais. Mas acho que seria mais complicado. E a versão censurada não me realiza, pois não acredito nela. Se fosse publicada por uma editora, meritoriamente, ainda assim não me sentiria realizado, seria como um prêmio de consolação, eu não acharia meritório. Como o acaso-destino é irônico. Eu pedi que o meu livro fosse publicado meritoriamente, isso pode se tornar possível a um preço que não sei se consigo pagar. Aí vejo, que o mérito é algo que passa pelo meu julgamento também. Que coisa curiosa. Não esperava por essa. A existência é mesmo surpreendente. Estou inclinado pela terceira via. Me parece a solução que mais me agrada. Não sei. Aliás, é o que sinto. Queria sentir diferente, mas não consigo. Isso tudo vai me parecer irrelevante daqui para lá. Eu não preciso de obra nenhuma. Eu não preciso nem existir. No entanto existo e tenho uma obra impublicável a publicar. Meu tio só se arriscaria a me ajudar com a versão amputada. Sabe no que penso? Na Garota da Rabeca. Amanhã receberei outro duro golpe da realidade. A sua ausência no forró da Casa Astral.   

quinta-feira, 21 de junho de 2018

SOFRENDO POR ANTECIPAÇÃO (TÍPICO)


19h27. Às 19h30 vou fumar. E ver se minha mãe quer que eu leve o prato e traga alguma coisa.

19h42. Ouvi narrativas de mamãe. Algumas que meu padrasto não pode ouvir para não se zangar. Besteira. Tomei uma decisão mais prudente e divertida que talvez encontre eco neste texto. Meu deus, amanhã a incrível revisora vai vir aqui. A existência me cutucou no WhatsApp. Respondi. Ainda está muito cedo, meu deus. Acho que foi porque acordei às 10h00. Dei um belo arroto de Coca, vantagem de se estar sozinho, dentro do meu quarto-ilha, fechado e rolando U2. Hoje estou me sentindo meio que na Garagem do Manicômio. Para entender a referência você tem que torcer para que o “Diário do Manicômio” seja publicado e lê-lo. Aí vai conhecer A Garagem. A realidade me cutucou de novo e eu concordei.

19h56. Estou repensando a minha estratégia de hoje. Por que será isso? Um certo desconforto com o agora. Será a realidade nua e crua se apossando de mim? Será que estou deprimido mesmo? É só tensão do livro. “Loucura é não ler.” Esse foi o slogan óbvio que criei para o livro. Há outros mais impactantes. Esse eu não vou nem usar, eu acho, por mais que seja pertinente, é muito clichê. O WhatsApp de novo. Acho que foi a troca de emoticons que fechou esse diálogo.

20h06. Com a cabeça vazia. Acho que me acostumei ao formato três páginas. “O problema ambulante”. Isso é uma imagem que faço de mim mesmo. Uma das muitas. Como ridículo, inútil, fracassado, medíocre. Eu tive uma ideia, eu vou fazer uma reportagem sobre a minha vida. Melhor do que isso, eu já fiz isso e já publiquei no Kindle. Posso inscrever aquele. “50 Páginas em 1 Semana Inútil”. Hahaha. Talvez o faça mas para isso eu preciso ter KDP Select. Preciso, sim, e não sei se consegui ou não. E não sei onde colocar a palavra-chave pedida. Agora o meu livro foi novamente para aprovação e não tenho acesso a mais nada.

Eu devia escrever outro daquele... meu deus, o que vou escrever na Alemanha? Espero muito que me venha algo. Um momento, vou me tocar.

21h04. Estou de volta. Penso em alguém dizendo, eu sou feito touro, eu sempre tenho que estar com os chifres apontados para algum canto, para alguém.

21h11. Acho que chega uma hora que cansa escrever. Eu me sinto meio cansado de escrever. Mas eu também acho que eu não consigo mais viver sem escrever. Porém, posso dar intervalos, ver um filme, a hora é essa. Está cedo. Não quero agora. Mas vejo umas pegadinhas de João Kléber. Imaginei do nada uma cobra enrolada, venenosa, procurando em que dar o bote, nalgum lugar da Índia. Evento mais curioso. Que cadeia de pensamentos levou a isso, não sei. Por que há certas pessoas que cultuam cobras ou a iconografia da cobra? Por que há gente como eu no mundo é uma pergunta talvez mais pertinente. Um completo vagabundo, alguém que passa o dia a escrever abobrinhas que ninguém lê. Porque acha que a obra vai ser, aliás, pode ser, publicada e isso atrair leitores para o blog. Eu já posso publicar o outro post? Não, eu vou ter que revisar primeiro e não será hoje. Não será agora pelo menos. Estava vendo que na bilheteria para entrar na Casa Astral não teve lista amiga e é mais caro que comprar pela internet. É um óbvio movimento de direcionar as vendas para o modo online. Caramba, eu me esqueci de responder para a menina do ateliê na China. Vou responder.

21h37. Respondi que a Asuka na moto ficou fabulosa e que a base é incrível e perguntei qual o próximo passo. Acho que eu vou ver “Homem-Aranha Homecoming”.

23h26. Assisti o Homem-Aranha até agora. Eu ia dizer o que queria que o meu tio dissesse mas fiquei com vergonha de botar aqui. Amanhã a incrível revisora vai vir e provavelmente vai me entregar a revisão. Terei que encarar o meu tio de qualquer forma, eu acho.

23h38. Eu respondi à minha amiga do ateliê chinês. Não queria pensar sobre as dificuldades sociais que preciso enfrentar para ver a minha obra publicada. Talvez com uma AT eu tenha mais coragem de enfrentar o meu tio. Se ela for, estiver disponível, existir em primeiro lugar. O que significa que eu vou ter que deixar isso para a volta. Seria curioso e menos intimidante chamar o meu tio para o forró da Casa Astral, mas acho que ele não iria concordar. Bom, que seja. Eu só sei que preciso de mais Ju para enfrentar o meu tio. Ou de uma AT. Que seja uma das duas que eu sugeri a Ju. Muito mais uma do que a outra. Mas qualquer uma serve. Ou vou sem ninguém. Mas isso no momento me intimida e assusta. Uma etapa de cada vez. Primeiro a opinião da incrível revisora, para a qual estou já apavorado.

23h58. Fui fumar. De todos o encontro que mais desejaria ter e que menos me intimidaria era com a Garota da Rabeca. Mas seria muito ozzy se ela fosse ríspida comigo ou de alguma forma antipática. Significaria que o meu texto a desagradou, o que seria muito frustrante. Mesmo assim acho que reuniria forças para perguntar por que desagradou. É uma chance em alguns milhares de eu ter o feedback de alguém que me encanta. Coisa curiosa essa minha bravura e ousadia em relação à Garota da Rabeca. Quero ver se se materializará. Estou sendo redundante de novo. Saco. Mas é melhor que pensar no que vai acontecer hoje mais tarde. O nervosismo está crescendo em vez de diminuir. Isso não é bom, mas acho que uma boa noite de sono me fará bem. O que me lembra que preciso pôr e tomar os remédios. Momento. Passa num piscar de olhos (para você).

0h20. Viu? Um amigo está voltando da Europa. Gostaria que ele se tornasse ministro da economia. Eu não sei o que dizer. Com o filme do Homem-Aranha na cabeça. Posso assistir o restante, mas não vou. Prefiro ficar ruminando ideias que engulo e regurgito. Apreensão, esse é o meu nome em relação ao encontro que vai se dar amanhã. Gostaria de fazer uma série de perguntas à incrível revisora, como acho que não terei coragem, posso elencá-las aqui e mostrar para ela ler. Mas para isso, tenho que revisar e postar este e o outro texto e publicá-los. Lá vai.

1) Se publicado, você acha que vende?
2) Você acha que é polêmico? Você ficou impactada com coisa além do impacto maior do livro?
3) Você acha que os personagens têm alguma profundidade/densidade psicológica?
4) O que você achou do personagem da Doutora?
5) Você acha que, em caso sendo publicado, eu deva abrir o jogo antes com quem de direito?
6) Você achou a leitura interessante ou há muitas partes monótonas?
7) Você sentiu sinceridade no texto?
8) Você erradicou todos os erros de português?
9) Eu estou lhe devendo um sorvete ou você está me devendo uma carteira de Marlboro KS Vermelho?
10) Você pode escolher quatro slogans da lista que eu elaborei? Os que mais têm a ver com a percepção que você teve da obra?
11) Você se sentiu transportada para o ambiente?

0h34. Eu não sei mais. Se me vier mais algo à cabeça, eu coloco. Puxa, pensava que tinha mais coisas a perguntar.

12) É um bom texto? Entretém?
13) Há alguma parte engraçada?
14) Você acha que o leitor médio me terá... perguntar na hora, não quero spoilers do livro.
15) O livro do nosso amigo é muito melhor do que o meu?
16) Você consideraria um livro-reportagem?
17) Você acha que alguma editora se interessaria em publicar? Tem alguma sugestão?

0h46. Estou sem mais criatividade. Estou é me pelando aqui de encontrar com ela. Mas é um passo crucial na minha vida, eu preciso dar. A fome do remédio já está batendo. Tomara que haja charque e arroz na geladeira, vou lá.

01h11. Comi, sonhei acordado. E me lembrei do que terei que enfrentar amanhã e que não me sai da cabeça. Não é nenhum filho que vou perder, mas se a minha amiga revisora me desacreditar será o mais próximo disso que posso chegar. Não adianta mais esquentar a cabeça com isso hoje. Quando acordar amanhã eu começo a noiar mais forte. Que ansiedade ruim. Medo mesmo, de enfrentar a vida e o que ela me revelará amanhã. Tentar revisar e postar isso quando acordar, senão abro o arquivo e mostro a ela.

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13h42. Minha amiga revisora disse que vem às 16h00. Está muito próximo. Estou mais tranquilo em relação ao encontro. Não acredito que vou ter que reler a obra toda. Sem a mínima disposição para isso. Pelo menos é uma coisa para me ocupar na Europa. Eu não queria reler aquilo. Aquilo é a obra da minha vida e não posso medir esforços para que se concretize. Será que é livro-reportagem? É uma boa classificação. Eu gosto. Vamos ver o que a minha amiga revisora irá dizer.

13h52. Mudei para o novo Gmail e não sei como voltar ao antigo. Acho que vou ter que me acostumar com esse. Já vai dar 14h00. Em breve tudo sobre o meu livro me será revelado. Será que deixo espaço para a incrível revisora responder as perguntas aqui, se ela concordar? Acho que é viagem demais. É, é viagem demais. Vou revisar isso e postar.

MULHERES DA/NA MINHA VIDA


15h02. Vou tentar começar de novo, nada do que escrevi hoje me agrada. Estou desagradado de escrever, eu percebo. Percebo que há um desconforto maior. Uma inconformidade com a minha vida. Não estou tão mal como ontem, mas continuo sem vontade de fazer nada. E preciso ir pegar as coisas na casa do meu amigo que está em Lisboa. Eu vou lá. Resolvido isso me sentirei mais leve.

15h19. Peguei as coisas lá na casa dele. Espero que caibam. Eu acho que estou nesse estado de espírito por conta do encontro que vou ter com a incrível revisora, queria protelar isso. Não queria enfrentar isso, não queria materializar isso, não queria que meu livro chegasse tão perto da realidade. E não sei se é esta a causa do meu humor – ou falta de humor – tampouco. Sei que hoje está melhor do que ontem. Não queria viajar também, mas isso me incomoda menos. Pelo menos agora. E ainda tem o problema da transferência do dinheiro, que não me incomoda tanto pela transação, mas pela reação da minha mãe em relação a isso. Não sei por que continuo escrevendo esse blog e isso me incomoda profundamente. Não vejo sentido em continuar com uma empreitada que não vai dar em nada ou em muitíssimo pouco.

16h05. Agora que me dei conta do óbvio, eu não tenho obrigação nenhuma de escrever isso todos os dias, a não ser a que me imponho. Não existe lei ou mandamento demandando que eu escreva e eu não preciso fazer isso se não estiver me dando prazer. Sentimentozinho ruim me bateu agora em relação à viagem. Mas vai ser uma mudança de ares, uma renovada na minha rotina. Lembrei agora por que meu irmão me deu um esporro, porque tomei a Coca toda rapidamente. Lembrei disso porque pretendo tomar muita Coca cereja na Alemanha. Minha vida é tão simples, por que estou tão desgostoso dela? Sonhos. Sonhos que não vão se concretizar. Estou deprê por causa disso, eu acredito. Meu destino é solitário e vazio de significado. Foi o que escolhi para mim e não sei como escolher diferente. Não sei o que escolher de diferente. Nem a AT me anima. Estou com medo de estar entrando numa crise depressiva. Acho que vou tomar um longo banho quente novamente. Não estou com ânimo nem disto. Cortar as unhas, isso é importante. Isso em verdade é irrelevante para o grande esquema das coisas, mas para o meu cotidianozinho de merda, ganha uma dimensão que não lhe cabe. Não queria resolver as coisas do meu livro nesse estado de ânimo. Não queria fazer nada nesse estado. Podia me deitar na cama e prostrar, mas não quero isso também. Acho que vou fumar o meu último cigarro com o resto do suco de cajá e tomar um longo banho bem quente. São as duas únicas inclinações que me agradam.

16h38. Nem para o banho eu tenho coragem. Está um dia feio, cinzento e chuvoso. Dentro e fora de mim. Temo realmente estar entrando em depressão. Vou tomar o banho.

21h32. Tomei o banho e me deitei até agora. Cansei de cochilar e acordar, mas estou sem paciência para todo o resto. Será que essa coisa toda é só por causa da revisão do livro? Só de pensar nisso me dá uma coisa ruim. Não quero escrever. Não agora. A vontade que tenho é tomar outro banho quente e me deitar de novo. Estou com fome, o que é um bom sinal. Não posso estar entrando em porra de depressão. É como se eu tivesse cansado de enfrentar o mundo. Ele ganhou, admito, então me deixem quieto aqui.

-x-x-x-x-

10h32. Acordei por cerca de uma hora ontem, tomei uma dose reforçada de ansiolíticos e soporíferos e fui dormir de novo. Acordei com despertador às 10h00 por que Ju é hoje ao meio-dia. Minha mãe acha que estou assim por causa do livro. Eu também.

10h52. Portugal vai ganhando de 1 a 0 do Marrocos. Que pena. Gol de Cristiano Ronaldo, pelo que meu padrasto disse. O homem é mesmo diferenciado, pois até onde eu vi, o Marrocos estava jogando melhor. Tivera eles um Cristiano Ronaldo, o placar poderia ser bem diferente. Mas não têm. Chega a hora de me aprontar para ir a Ju. Estou com um ânimo bem melhor agora. Ainda bem. Narrarei, entretanto, os meus dois dias de depressão. Eu não posso me furtar a escrever pensando no que vão achar. Se sair um post ruim, que saia. Não devo nada a ninguém. Essa é uma postura bastante diferente da de ontem, em que escrevia buscando o aplauso do público. Minha vida é vazia, é de se supor que surjam posts vazios, é assim que se dá. Foi assim que sempre se deu. Mas ontem não tinha prazer nenhum em escrever, não tinha vontade de nada. Hoje acordo outro. Bem melhor. 11h01. Vou tomar um café, fumar um cigarro e me aprontar para ir. Escrevo quando voltar de Ju.

13h37. Voltei de Ju e, embora esteja me sentindo combalido fisicamente, como se com uma doença, volto com um astral muito melhor. É muito bom trocar uma ideia com ela. Contei da história da noite da Garota da Rabeca. Contei da minha aflição com a incrível revisora, da minha apreensão com a viagem. Dos dois dias de, bem dizer, depressão que passei. Estou de alma mais iluminada, mais leve, embora fantasmas ainda me rondem. Ah, falei das duas ATs que eu aceitaria como tais. Combinamos de deixar essa parte para a volta da viagem. Penso em ir para a Casa Astral no sábado só para ver se avisto a Garota da Rabeca e por mais nada. Seria ótimo que meu primo-irmão encarasse de novo. Acho que não vai, acabei de descobrir que o ingresso custará astronômicos 40 reais. Mas eu vou, só por conta dela. Quero saber em que a história do blog deu. Isso vale 40 reais para mim. De todo modo perguntei ao meu colega organizador se não vai ter lista amiga, o que baixaria o preço para 20 reais. Mas estou disposto a encarar a Casa Astral para ver em que deu a minha cutucada na realidade. A minha ousadia. Aposto que a Garota da Rabeca vai me repelir. Mas quero pagar para ver. Quero um desfecho para essa história. Outro desfecho vai ser amanhã com a incrível revisora. O início de um novo ciclo para o livro, que terá de ficar em suspenso até a minha volta. O início do ciclo da viagem. Nossa, como não queria enfrentar a viagem. E talvez o início do ciclo com a AT após a viagem, que pode ser a que mais desejo. Disse a Ju que era muito bom trocar uma ideia com ela. E é. Enfim, tempos de mudança devem estar me causando esse torvelinho na alma. O livro é uma coisa na qual eu coloco muita carga emocional, onde me mostro inteiro e é de relevância fundamental na minha vida. É a grande obra que eu tenho. Então ele tem uma dimensão imensa repleta de significados marcantes e contraditórios e, por isso, estou com muito medo de enfrentar a incrível revisora. Ela pode detonar a minha obra. Tenho muito medo disso. De ela ser a parteira que vai abortar o meu grande sonho. Mas, adulto que sou, pelo menos em idade, tenho que enfrentar esse dragão, que pode se revelar um São Jorge. Sei lá. Sobre a viagem, se estiver achando ruim, me escondo nas palavras. Sobre o meu tio, comunicar-lhe-ei sobre o final da revisão e que é chegada a hora da sua ajuda, mas que se ele quiser debater comigo só após a viagem. Mas first things first. Preciso me preparar para encontrar a minha amiga revisora amanhã. Estou me sentido mais tranquilo, mas ainda inseguro a respeito disso. E a viagem já faz sombra no meu dia. Estou tão descostumado com mudanças que chego a desgostar delas. Acho que a minha depressão relâmpago foi causada em grande parte pelo dia de amanhã. Ju me perguntou por que eu estava tão frágil. Eu confessei que não sabia. Mas que era assim que me enxergava, frágil. Ela disse que se quisesse poderia lhe mandar e-mails.

15h10. Fiz uma coisa que me devia há muito tempo. Ligar para Maria. Tenho que lembrar de ligar no sábado para lhe desejar os parabéns. Seu aniversário é no sábado. Estou com essa ideia forte de ir à Casa Astral. Acho que irei. Eu sinto necessidade de ir. Pôr um ponto final na história, não deixar esse arco incompleto. Ascensão e queda de uma ilusão. Ou quem sabe o destino não me sorria. Acho difícil. Sei que quero descobrir. Mas já redundo aqui.

15h35. Descobri que vai ter um prêmio da Amazon para melhor livro-reportagem com premiação de dez mil reais e possibilidade de ter o livro impresso pela Editora Record. Não sei se o meu livro se enquadra nessa categoria. Li o edital e achei que poderia se enquadrar, vou perguntar à incrível revisora amanhã. Afinal, ela é jornalista e deve saber o que é um livro-reportagem. De todo modo, não apelarei para isso antes da intervenção do meu tio. E de tentar outras editoras. Ju me perguntou sobre a viagem estar bem no meio dos meus planos. Disse que isso me incomodava bastante, mas que não havia nada que eu pudesse fazer. Estou quase com vontade de ir para o Rock in Rio Lisboa. Acho que vou. Falar com a minha mãe antes de confirmar com o meu amigo que está lá. Estou ficando mais animado com a viagem. Isso é ótimo. Pelo menos estou animado com a parte de Lisboa. Alemanha, eu ficarei escrevendo. Sairei só para o supermercado e para a Marienplatz não pretendo ir muito, prefiro ficar em casa a escrever.

16h16. Minha mãe fez uma infiltração na perna hoje e está em dor excruciante por causa do procedimento. E há a história da transferência. Espero que ela consiga realizar isso antes da viagem. Se viagem houver caso a situação continue assim. Nossa, mamãe tem sofrido muito. Ela não merece isso. E das profundezas do meu egoísmo eu penso no forró do sábado. Espero que essa dor da minha mãe melhore. Estou tenso com o sofrimento da minha mãe. Imaginando como será capaz de realizar essa viagem. Como conseguiremos. Que ozzy. Agora foi uma mudança radical de ânimo. Ver minha mãe chorando de dor e frustração é forte para o meu juízo. Eu acho que uma pessoa para me entrevistar ou umas das pessoas a me entrevistar, poderia ser a minha mãe. Seria um passatempo útil para ambos. Estreitar laços. Não sei. É um caso a se pensar. Não consigo pensar em nada direito. Estou preocupado com minha mãe durante essa viagem. Acho que vou fazer o que quero fazer.

16h49. Voltei. “Landlady” toca, a parte mais bela da música. Passei por minha mãe e não sei se dormia, mas sua expressão era de dor. Eu não entendo por que ela, logo ela, está tendo que passar tamanho sofrimento. Por que não eu? Eu que me desloco tão pouco. Ah, minha hora vai chegar, né? A idade me aleijará ou me prejudicará de forma bastante dolorosa, né? Meu padrasto chegou. Para cuidar da minha mãe. Eu não sei que papel desempenhar agora. Na dúvida, fico encastelado no meu quarto e no meu templo de palavras. Ou meu castelo de palavras que vou erigindo diariamente. Ou quase. Escrevo todos os dias, mas nem todos os dias vão para o blog. Eu pensando nisso e minha mãe em dor e desespero, às vésperas da viagem no outro quarto, quer mais egoísmo que isso? Não sei mais o que possa oferecer em nome do meu egoísmo. Acho que continuar escrevendo aqui e tomando Coca-Cola seja o mais acintoso e egoísta que eu posso ser na situação, então a realização disso é a prova em si do meu egoísmo. Meu padrasto disse, “eu vim para ficar com você”. Olhe a diferença de atitude. Se bem que eu já ouvi o desabafo desesperado de mamãe, em prantos, e com cuidado e paciência a ajudei a ir ao banheiro e deste para a cama mais alta. Ajudei a colocar o travesseiro embaixo do joelho, peguei o aferidor de pressão, o negócio de cobrir os olhos, a bolsa, o celular e peguei um copo d’água e disse para qualquer coisa ela me ligar que eu a atenderia. Fiz tudo o que podia e me pus à disposição. E agora escrevo estas egoístas palavras. Que de nada tratam senão do meu ego, seus anseios, suas vergonhas, suas culpas, raramente suas belezas. Ao pensar nisso, me vieram duas pessoas, uma é a Garota da Rabeca, a outra, só lendo o livro, se este vier a ser publicado. Divulgarei. Divulgarei em todos os grupos dos quais participo o link para comprar. E aí serei enganador e colocarei os slogans entre aspas, sugerindo que são citações de alguém ou algum lugar. Na época de Fake News, isso é o mínimo. O final do copo de Coca me desceu quadrado. Será que mamãe contará ao meu padrasto da ajuda que dei? Ao me despedir da minha mãe, eu disse, eu estou aqui para isso. E agora o meu padrasto assumiu a responsabilidade, o que lhe faz bem ao ego. Espero que mamãe melhore. Espero muito. Se pudesse pedir a Deus que transferisse o problema dela para mim, eu o faria. Faço, Deus, transfira o problema físico de mamãe para mim, eu lhe rogo. Agora, nesse momento, transfira. Mas eu não acredito em Deus e talvez por isso, ele não opere esse milagre para mim. Ou, para os espíritas, esse é o carma dela, não meu. Lembro da incrível revisora e eu perguntando, se eu devo um sorvete ou ela me deve um cigarro. Apostei com ela que ela me repudiaria como pessoa por causa do conteúdo do livro, ela disse que sabe separar autor da obra. Seria muito ozzy se ela me dissesse que deve a carteira. A verdade é que estou com medo de enfrentá-la amanhã. Vou pegar Coca, fumar um cigarro e averiguar como está o comportamento da casa.

PORTA SEMICERRADA

17h27. Meu padrasto está no seu escritório com a porta semicerrada para ouvir mamãe e esta está com um semblante tranquilo aparentemente dormindo. Bom. Ótima situação. Mamãe sente algum tipo de alívio. Eu percebi que eu prefiro esse jeito de ser que a realidade nua e crua, em alguns aspectos. Faço projeções negativas a respeito da reação da Garota da Rabeca. Por que eu só faço projeções negativas em relação a como me revelo? Seria isso uma péssima relação com a autoimagem? Que eu me vejo de uma forma muito deformada? Eu creio que tenho a precisa medida de quem sou. E não julgo que pese muito. Eu acho que sou um completo desperdício de átomos. Eles poderiam se organizar em coisa melhor, mais útil, mais proveitosa à própria existência. Eu não sirvo para nada e nada faço senão escrever sobre mim.

17h41. A realidade me incomodou agora na forma da cobrança da transferência. Contei toda epopeia da minha mãe ao cobrador. Lembrei que falei com Maria hoje. Nossa, como a amo. Ela é a minha infância e início de juventude. Quando eu era mais feliz. Nas férias em Areias. É uma pessoa que só me traz coisas boas. Já Areias foi maculada pela Cola. Seria o único lugar do mundo onde eu cheiraria cola de novo. Ou cheirarei um dia, que sabe. Nada está sacramentado. Mas tenho que ir sozinho. É uma experiência só minha. Queria passar meus últimos dias em Areias. Seria ótimo. Este post está um pouco mais extenso, mas estou me permitindo isso. Hoje é um dia sui generis. Ju, minha mãe, os cobradores de favores (vivemos numa sociedade tão imediatista), véspera do encontro com a incrível revisora (ainda com muito medo), descoberta da possibilidade de ver a Garota da Rabeca (mas ache que só deva interagir com ela se ela vier falar comigo, se cruzarmos olhares e ela virar a cara, acabou, não surtiu o efeito esperado ou então, se ela não me vir, eu vou lá perguntar a ela). É muita coisa na cabeça, em uma palavra. E não quero perder de narrar nenhuma delas. São as coisas que ocupam a minha mente agora. E a viagem. Putz. Acho que vou curtir Lisboa com o meu amigo e escrever na Alemanha. Mas já disse isso.

18h10. Mamãe narra ao meu padrasto o seu dia do momento da injeção até sabe-se lá quando. Bom, falei com ela, parecia menos em dor, comuniquei-lhe que planejava ir num dos dias para o Rock in Rio Lisboa, ela disse “vá” com jeito de “vá, se jogue, viva, curta Lisboa, não fique enfurnado no hotel a escrever, aproveite um pouco a vida, socialize”. Eu imaginei agora, veja que viagem, eu com o meu amigo de Lisboa no Rock in Rio e duas gatas estrangeiras sozinhas. Meu amigo diz, vamos se chegar nessas gatas. Eu concordo. E imaginei uma conversação, mas não tenho paciência para narrar. Eu acho que vou levar uma grana para comprar uma camisa do Rock in Rio Lisboa para usar na night. Eu curtiria. Eu acho que eu vou criar coragem para ir à Garota da Rabeca e perguntar se tinha lido e o que achou com sinceridade. Seria bom se ela me respondesse. A opinião dela é muito importante para mim. Afinal ela é o tipo de garota que eu arriscaria namorar. O tipo perfeito, garota dos sonhos sabe? Você não gostaria de ouvir a garota dos seus sonhos responder sobre um texto seu, mesmo que o desagradasse o que ela dissesse? Eu sim, eu arriscaria. Será que ela leu? Preciso ir no sábado para descobrir tudo isso. Espero que ela esteja lá e se disponibilize a isso. Seria de suma importância o aprendizado. Lembrei da minha mãe. Estar sempre pensando nela é estranho e justificável porque mãe e porque enferma e porque véspera da viagem, ou seja, preocupação. Preocupação é o tipo de pensamento que fica latejando na mente, como problema, muito semelhante à problema. Vou pegar Coca. É bonito ver um casal há vinte e cinco ou mais anos deitados juntos conversando ou cochilando. É amor, eu acho. Acho que se amam e há uma interdependência, uma troca, uma ajuda o outro em diversos aspectos, por exemplo, mamãe provém comida, limpeza e organização da casa, meu padrasto cuida das finanças dela, por exemplo. E ambos se dão suporte. Ficção. Meu padrasto me chama de o problema ambulante quando em particular com a minha mãe. “O problema ambulante está até calmo, deixa ele lá escrevendo, pelo menos não está criando problema”, por exemplo. Ou “o problema ambulante ajudou você, foi?” FIM.

18h40. Eu senti vontade de colocar palhaço ambulante, mas isso é como me vejo, uma pessoa ridícula, não é ficção. Já estão discutindo. Não me sinto sempre ridículo, o sábado na Casa Astral me provou isso. O que coroaria isso seria a Garota da Rabeca vir falar comigo e me agradecer pelas palavras. Isso me faria me sentir totalmente não-ridículo. A opinião dela me importa deveras, acerca das minhas palavras. Da minha pessoa. Se serviram para atrair ou reprimir. Como sempre penso o pior, acho que ela vai me repudiar. Me evitar até. Se me sobrar um pingo de coragem, apesar do desprezo eu vou lá perguntar. Eu acho que ela me deu o direito de saber já que disse que ia ler. Estou com alma levemente desconfortável. Acho que mergulhar tanto num assunto me cansa. Estou dando importância demais a isso. Mas numa vida sem eventos como a sua, isso é um grande evento. Obrigado superego, que às vezes motiva, mas é raríssimo. Ele só vem para me criticar.

19h04. “Landlady”. Que sorte! A existência me proporcionou com um momento/diálogo que me fez cair na risada. Cena um: eu passo no quarto para saber se mamãe está melhor, ela diz que está com fome e pensa numa fruta que não banana. Eu sugiro tangerina. Ela ficar surpresa de ainda ter e aceita sugestão. Cena dois: eu entro na cozinha e meu padrasto espera algo no micro-ondas eu me dirijo à geladeira pego a fruta e pergunto ao meu padrasto só para ter certeza se é tangerina. Ele confirma. Close nas mãos lavando a tangerina com água corrente. Ouço o bipar do micro-ondas, meu padrasto fala “para a sua mãe” eu olho para a sua mão e há um pratázio de bacalhau com arroz. Cena 3: estou prestes a entrar no quarto, vejo meu padrasto tentando fazer com que mamãe coma o bacalhau e retrocedo. Ouço todo o diálogo de insistência e negativa às sombras, com o prato com a tangerina na mão, uma vontade de me estourar de rir e sem saber se entro ou dou mais uma chance ao meu padrasto. Não consigo me segurar e rio, duas ou três vezes, minha mãe já pegando ar com meu padrasto. Nesse ponto entro no quarto e entrego a fruta a mamãe. Depois fui fumar um cigarro, onde ri mais lembrando o episódio. Ainda no hall, conversei com minha tia-vizinha, dei o ninja e vim para cá. Estou quase indo fumar outro. Daqui a pouco.

19h24. 19h30, eu vou. Eu acho. Acho que este post está grande demais. FIM.

domingo, 17 de junho de 2018

CASA MAIS QUE ASTRAL OU GAROTA DA RABECA




Assunto: Casa Astral
Estou em frente à Casa Astral e me sinto ridículo, pela minha postura curva, o saliente bucho que tanto maior parece com a apertada camisa polo laranja e, fechando o conjunto em grande estilo, um enorme copo rosa, bem “cheguei”, de plástico.

20:49. Eu dancei forró com talvez a mulher menos interessante da festa, mas ela é uma velha conhecida e não tive como me esquivar. Ainda no campo das ousadias da noite, abordei a menina mais bela da festa e disse-lhe que era a aparição mais linda da noite. Por incrível que pareça, ela está agora nesse canto isolado bem na minha frente. Tenho que tirar duas dúvidas ou fazer uma adivinhação.

20:57. Fiz uma das perguntas a ela e a adivinhação. Ela é realmente namorada do cantor da banda. Passei meu blog e, pasmem, ela acessou. Disse que amanhã teria um post sobre ela, em parte, pelo menos, e com uma poesia a ela dedicada. Terei que me esmerar, há uma probabilidade de que ela leia, mas sei tão pouco além da sua beleza que me confesso sem palavras. Espero que elas me afluam quando retornar à solidão do quarto-ilha. Mas chega de escrever, é momento de viver o que me é exterior, a singular noite que estou experimentando.

21:13. Antes de voltar ao terreiro, preciso dizer que por conta da Coca-Cola, vou ter que partir de 23:30, para poder comprar o negro líquido na pizzaria em frente de casa. Vou me enviar logo isso para me desvencilhar do texto.

23h47. Acabei de chegar em casa e ouvir um comentarista dizendo que o governo brasileiro entregou nos três primeiros minutos do primeiro tempo 14 bilhões de reais a terroristas, se referindo à greve dos caminhoneiros. Uma opinião bem radical, diferente. Mas não existe o direito constitucional a greves? Não sei, não lembro. Curioso anyway. Bem, estou de volta ao meu quarto-ilha e a noite foi nada menos que mágica. Dancei forró pela segunda vez na Casa Astral, mais uma vez com alguém por quem não tinha a mínima atração, a primeira foi com a Gatinha, minha ex, e nada nutro por ela além da mais profunda amizade.

23h58. “Avisa que dei o ninja. Não queria perder as Cocas, você sabe como são de suma importância, como sabe que a possibilidade de ser lido por uma garota apaixonante me traz ao teclado. As companhias estavam maravilhosas, mas meu alimento são as ilusões.” Acabei de postar para o meu primo-irmão essa mensagem de WhatsApp. Como será que me passarei para moça? Da forma mais sincera possível. Contando a história. Bem, a noite foi mágica, pois, além de dançar, interagi com um grupo de pessoas de forma satisfatória, divertida e me colocando nas conversas, fazendo a minha voz, interior inclusive, aparecer. Foi muito bom, mas isso seria excelente, não mágico. Mágico é algo maior, é algo encantado, uma raríssima oportunidade com a qual o acaso-destino, a existência, me agracia. Só me agraciou, nesses dez anos de solidão, duas vezes a possibilidade de ser lido por alguém que me encanta. Na primeira, não deu em nada. Com esta não vai ser diferente porque ainda mais encantadora que a outra, mágica. É como se uma luz, um brilho hipnótico emanasse dela, tudo perdia o sentido e só sua visão me importava. Apreciar o que de mais belo há na natureza aos meus olhos, uma garota mágica, é um evento raríssimo de ocorrer. E praticamente impossível a possibilidade de ser lido. Mas se deu, porque além de tudo é simpática, apesar do terror de ser assediada ou abordada por todo tipo de homem, dada a sua singular perfeição, aos meus olhos, pelo menos. Nossa, como não gostaria de ser mulher e linda. Nem gostaria de ser um homem lindo tampouco, não me agradaria o assédio sexual feminino meramente pela minha aparência. Gostaria apenas se isso me desse o poder de despertar interesse na Garota da Rabeca. É assim que a chamarei. Eu chego lá. Pera aí, eu já não contei o que vou contar no e-mail? Preciso averiguar. Bem, a vi quando olhei para o terraço elevado da frente da Casa Atral. E lembrei na hora, ela é a possível namorada do cantor da banda, ele canta muito bem, por sinal, tem uma voz bastante agradável, eu gosto. Ela é a que me encantou naquela noite no A Caverna, onde não conseguia tirar os olhos, que me mesmerizou com sua beleza, me levando ao ponto de, após o acaso-destino fazer com que ficássemos próximos e depois nos cruzássemos, não me aguentar e perguntar a ela se o que ela carregava e protegia consigo era um violino ou uma rabeca. Ela respondeu sorridente que era uma rabeca. Daí Garota da Rabeca. Quando vi o cara da banda alisando ela, deduzi que era namorado, daí a adivinhação do e-mail. Não sei me repito. Mas ao vê-la eu senti a necessidade, a obrigação, o dever de comunicar-lhe que era a aparição mais linda da festa. Era algo mais forte do que eu. Eu acho que saber disso não a ofenderia, era apenas o elogio de um desconhecido que acha pouco, muito pouco de si. Preciso fumar um cigarro e tomar um Coca gelada. E ainda preciso pensar num poema, sem rimas, sou péssimo com rimas. Rimo limão com macarrão. Hahaha. Vou lá.

0h47. Fumei e não consigo parar de pensar que estou escrevendo para ela. Nem ao menos sei seu nome, Garota da Rabeca. Eu tentei e falhei, acho que não vou conseguir escrever um poema, vai na prosa mesmo. Vamos ver. Voltando a história, atravessei as pessoas me aproximei dela ela inclinou a cabeça – protegendo o rosto – para me ouvir; anos de assédio eu creio, até dos mais intrusivos, geralmente dos bêbados, eu suponho. E disse-lhe o que me propus a dizer ela riu e agradeceu, depois disso não me lembro de mais nada. Lembro que estava escrevendo, que precisava descrever aquele evento, magnífico para mim, mágico, eu expor a minha mais sincera admiração, não, admiração não, pois admiração necessita de intimidade, convívio para brotar; exprimir meu mais completo arrebatamento com a sua existência. Um pequeno milagre do universo, da evolução das espécies. Só tive esse impacto quatro vezes na vida, com a minha primeira namorada, com a minha terceira namorada, com a Garota da Rabeca e a quarta e mais impressionante de todas só será revelada se o meu livro vier a público, qual seja, for publicado porque uma editora acha válido publicá-lo. O que acho difícil de acontecer. Quase tão impossível, não, menos impossível que eu vir a ter alguma coisa com a Garota da Rabeca.

Tempo cristalizado
Um diamante da existência
Ali diante dos meus olhos
Que não eram suficientes
Para apreendê-la
Visão, uma visão
Saí da minha caverna
Num ato tão distante de mim
E totalmente necessário
Para louvá-la
Como os poetas de verdade
Fazem com suas musas
Eu, torto com as palavras
O fiz e pequena troca se deu
Mas a concretude, me escapa às mãos como areia
A realidade me presenteia com o impossível
Quem sou eu para sonhar tão alto?
Não tenho em meus sonhos, o medo do pai de Ícaro.
Ícaro que sou
Em sonho
E dei de cara com um
Ali posto na minha frente
A existência se configurando sonho
Por alguma razão que me escapa
E perto de mim
Tive que ousar
Tive que ir além de mim
Tudo em minha alma implorava por aquilo
Como um escravo anseia a liberdade
E fui por breves momentos
De uma felicidade rara e preciosíssima
Quem eu sou e como vivo
Não me permitem muito disso
E é bom, virtuoso até
A expectativa tocar de leve a realidade
O sonho se materializar
E se permitir
Uma nada que fosse e tenha sido
Momento que tenho para sempre meu
Ninguém irá roubá-lo
O contato com a musa
Nossas almas se cruzando para um breve diálogo
Sandices
Ilusões
Palavras
Vãs
Sem sentido ou vocação para fazer sentir
As digo porque me escapolem ao peito
E me agrada que o façam
Fico encantado com as infinitas realidades
Que a realidade irá me negar
A realidade?
Esta segue reta o caminho da solidão
Ainda bem que me permite olhar para os lados
E de vez em quando para o lado perfeito
Mas que eu e a solidão sabemos impossível
Por isso ela deixa
Porque sabe que não dá em nada
Que minha quota de amor já foi vivida e esgotada
E permanecemos eu e as palavras
A fazer companhia um às outras
Completa solidão, porque as palavras nada mais são
Que um pedaço de mim

Ficou uma bosta, me perdoe, gerar uma expectativa em você e fazer um lixo desses. Sei não. Mário... vou jantar. Não comi nada e a terceira página acabou de acabar. Ela não me sairá da cabeça hoje, eu já sei.

1h56. Preciso contar das amigas do meu primo-irmão, muito divertidas, com opiniões fortes. Achei agradabilíssimo. Andamos até as margens do Capibaribe. E nada vimos. Foi uma noite sui generis na minha vida. Especial de diversas formas. Até da mais especial possível. Amanhã escrevo mais, estou com sono por causa do jantar.

-x-x-x-x-

12h27. Vi uma barata agonizante no banheiro, provavelmente por conta do veneno de dedetização e não tive coragem de abreviar o sofrimento desesperado dela. Eu sou um covarde realmente. Mas tenho uma neura com baratas e em tirar a vida de outros seres de forma geral. Mesmo que o ser esteja em agonia. Bem, vou continuar a revisar o texto.

12h36. Acabei de revisar. Achei tudo uma porcaria. Me perdoe, Garota da Rabeca. Você me encantou desde A Caverna. Quando pensei em ir para a Casa Astral, me veio difusa a possibilidade de reencontrá-la. Mas foi pensamento ligeiro, que logo me escapuliu. Nunca iria imaginar ver o meu blog em suas mãos. Isso foi completamente além da minha imaginação, no entanto, com a sua ajuda, construímos essa coisa miraculosa para mim. E agora sonho estar me dizendo para você. Como se isso fosse fazer alguma diferença na sua vida. Parece que o tempo passa e mais ridículo me torno. Se você soubesse, entretanto, quão pequena é a probabilidade de algo assim acontecer na minha vida, você entenderia a maravilha que estou vivendo no momento. “E ainda por cima, simpática”, confesso que não esperava por essa parte. É crível que você seja uma pessoa legal. Como é igualmente crível que você nunca vá querer nada com alguém como eu, tão distante estou das suas expectativas em relação aos homens. Ademais seu coração tem dono, sua vida já está devidamente compartilhada com quem de direito. Não quero me intrometer ou quebrantar isso. Longe de mim. Saiba, porém, que você, se estiver lendo isso, me deu um dos maiores presentes que eu poderia receber. Me repartir com uma garota que provoca profundo encantamento. Isso é mais do que aspiro nos meus dias. Imensuravelmente mais. Você tornou minha existência superiormente interessante.

13h06. Fui fumar um cigarro e vi a primeira transmissão da Copa em 4K, confesso que só me impressionou porque, como o meu padrasto salientou, mostra um campo de visão mais amplo, dá para entender melhor o posicionamento dos jogadores no gramado, o contexto. México e Alemanha. Mas isso aqui é tão mais interessante para mim, tão mais importante, tão delicado de se tocar – e me trocar –, dada a sua natureza frágil, que preciso estar todo aqui. Estou ouvindo “Songs Of Experience” do U2, o mais novo, porque ele traz um gosto único de liberdade para mim. Quem sabe um dia eu não lhe explique o porquê. Já estou viajando demais, né? Imaginar um diálogo com você é ir além das possibilidades de existência que se afiguram para mim. Mas podemos conversar pelo Facebook, se for do seu interesse. O endereço do meu Facebook, se não me engano é mario.barros.75. Não dou certeza e tenho quase certeza que você não vai me adicionar como amigo. Não acho que tenha demonstrado qualidades para tanto. Não importa, o mundo sou eu e a realidade que me cerca, que chega até mim, e eu preciso estimulá-la, afinal todos nós temos impacto, por mínimo que seja, na realidade, da forma que me apetece. A fim de moldar as coisas da forma mais salutar para mim. Acho que é o que todos nós fazemos em última instância. Parece uma atividade egoísta e é. Todos nós somos, até Madre Teresa de Calcutá, que cuidava dos leprosos porque aquilo lhe satisfazia o ego de alguma forma, muito generosa é verdade, mas egoísta da mesma forma. Não sou dado a atos tão magnânimos, não nasci para ser grande, eu acho. Se sou grande é em sonhos. Você é um sonho meu. Algo que mais do que provavelmente nunca se concretizará. Mas talvez se concretize uma parte do sonho que é você me ler. Isso já está de ótimo tamanho para mim. Por mais que esteja me esforçando, não me sinto satisfeito com o texto porque para você. Você merecia algo mágico como me proporcionou. Ah, a minha foto do Facebook sou eu abraçado com uma simpática e sorridente senhora, a minha amada e idolatrada babá. Preciso até ligar para ela, mora em Natal com a minha tia, que se ocasião se der e eu me lembrar conto a história. Não é das mais interessantes, mas não é das menos interessantes também. Prepare-se para ver algo inusitado, uma foto do meu quarto-ilha. É um lugar peculiar, eu acho, como quem o habita e passa a maior parte enfurnado nele a escrever. Eu poderia tentar outra poesia, achei aquela tão fraquinha.

No mundo de perdas
Ou de nenhum ganho
Onde habito
Decidi me jogar na noite
E a reencontrei
O que seria óbvio
Se não fosse mágico
Palavras repetidas
Podem se tornar verdades
Alguns dizem
Poderiam se tornar amor
Ah, não tenho tal sorte
Nem sei o que faria com ela
Fato é que ontem
No meio do animado povaréu
Avistei um sonho
De carne, osso e coração
Esse último já com dono
E me joguei nesse sonho
E o destino me sorriu
Por isso essas linhas
Esse ponto brilhante
Na minha alma

13h35. Deixa para lá, poderia sair escrevendo em versos o que já disse em prosa. Preciso é acabar esse post. Que acho que a Garota da Rabeca não vai ler. Certamente já esqueceu do nosso rápido encontro. Que seja, cumpri a minha parte do acordo. Se é que podemos chamar assim. Sim, caso as amigas do meu primo-irmão leiam o blog! Foi muito bom, compartilhar minha vida com vocês, me senti sinceramente interagindo, foi interessante conhecer mulheres assumidamente feministas e poder me expor, me colocar, haver troca, geralmente fico no meu papel de poste ou figurante, mas dessa vez tomei para mim um papel mais ativo porque houve receptividade, acolhimento e o sincero interesse de me ouvirem e se comunicarem comigo. Fico muito grato por isso a vocês e grato à Garota da Rabeca por ter me proporcionado o improvável sucesso meu comigo mesmo e com isso ter enchido a minha bola e me tornado mais confiante para me soltar socialmente. Foi ótimo encontrar com vocês e ouvir suas opiniões a respeito de homens, filhos, empregos e diversos. Vou postar a foto do meu quarto-ilha para fechar o post. Me excedi hoje. Peço perdão ao leitor. O que mais eu queria? Duas coisas, que a Garota da Rabeca me adicionasse no Facebook e deixasse um comentário aqui sobre o que achou do texto. Tenho até medo do que ela vai achar. Tenho é que parar de escrever. Pronto.





14h25. Fui ao banheiro e o sofrimento da barata havia acabado, estava toda curvada em si mesma, imóvel. Sua existência como barata cessou de ser. Um dia vai ser a minha vez ou a sua. Temos que fazer o melhor de nossas vidas nesse intervalo. Essa é a minha tentativa.