terça-feira, 12 de junho de 2018

DIA DOS NAMORADOS


É Dia dos Namorados e estou no consultório de um médico de coração, nada mais apropriado. Pena que dos problemas do coração que me afligem ele não possa tratar. Hahaha. Não gosto de ir a médico. Sempre me remete a alguma repressão ou crítica à minha rotina, que não quero mudar. O que posso dizer sobre o amor? É o que sobrevive à passagem da paixão. Não que momentos de paixão não haja no amor, na fase amor de um relacionamento, esses existem, porém com menos frequência e de forma menos febril que nos primeiros momentos de encantamento desvairado entre duas almas. A paixão é a melhor viagem que eu conheço. O melhor efeito, o melhor estímulo ao qual o espírito pode ser submetido, ou assim me fizeram crer as paixões recíprocas que senti. Hoje, como é conhecido de quem me lê, subsisto de paixões platônicas. Assim não me firo e não sou obrigado a fazer sexo. O que me faz lembrar da relação que terei com a AT. Como espero, é uma relação desprovida de carinho mas uma relação de troca entre duas pessoas da mesma forma. Um encontro ou uma série de encontros onde as atenções são voltadas um para o outro. Tal qual um namoro sem toques. É uma droga envelhecer, especialmente para as mulheres, que cada vez menos olhares atraem, o que, se não forem bem resolvidas, deve ser deveras frustrante, se acostumadas eram com o assédio masculino, se agradava se sentirem desejadas pelos homens, coisa que as feministas radicais não devem sentir, visto que ouvi rumores sobre a repressão de cantadas por parte delas. Tais feministas mais radicais, xiitas, deverão sentir grande alívio quando deixarem de ser alvo da atração masculina.

14:30. Fui me pesar, medir o bucho e fazer o eletrocardiograma. Minha pressão estava normal e meu bucho se ouvi bem está com 114 cm, o que deve ser enorme, não sei. Eu acho enorme. Tirei algumas fotos do local para ilustrar esse post. Note o slogan da clínica.


Note o slogan.




14:36. Comecei falando do Dia dos Namorados. Não gostaria de ter que comemorá-lo hoje, tudo deve estar lotado. Preferiria fazê-lo dois dias antes ou depois ou celebrar a data em casa. Até me aventuraria na cozinha para evitar o capitalismo do amor. Como a moça do eletro disse, Dia dos Namorados é todo dia. Concordo, por mais que saiba que me cansaria de tentar fazer todos os dias especiais, eu gosto do cotidiano da vida em casal, do rotineiro, familiar. Não preciso de uma overdose de estímulos para achar a convivência com a pessoa amada algo especial. Me bastam os dez anos de solidão como contraste. Amor é muito bom de sentir, receber e dar. Escrevo isso lembrando do relacionamento mais certo que tive, com a Gatinha. Acho que gastei toda a minha sorte no amor ali. E valeu a pena. Vejo uma garota muito bonita no Videoshow. A beleza da juventude feminina me hipnotiza. Não consegui parar de olhar e apreender aquilo que a existência me empurrava aos olhos embevecidos. Ainda mais através da TV, esse magneto de atenção para mim.

14:56. Mamãe me desconcentrou agora reclamando da demora em ser atendida, um traço cultural dos médicos pernambucanos, pelo pouco que pude aferir das minhas raras idas a médico.

15:01. Me encontro meio vazio de conteúdo, mas como esgotar o conteúdo quando trato de um assunto que me é tão caro e assustador como amor recíproco? A última vez que senti isso? Você vai ter que torcer para o "Diário do Manicômio" ser lançado e lhe ser acessível para descobrir. Hahaha. Estou curtindo essa coisa de botar teasers do livro aqui. Do que trata o livro? Do cotidiano de um bando de viciados internados num manicômio privado. Em síntese, é isso. Nossa, como a bateria está caindo rapidamente, só pode ser o efeito de vibração quando pressiono uma letra. Mamãe acha que somos os próximos.


Nunca vi tanto carregador de pilha junto.



17h34. Já estou de volta do médico há um tempão. Estava escrevendo no meu projeto paralelo. O médico não me repreendeu em nada, graças. Ainda não saí completamente de validade. Eu estou meio vazio do que dizer. Tenho que me reconectar a esse espaço. O que me vem à cabeça é a história de Ju e da AT. Confesso que estou cansado de pensar sobre isso, já queimei muitos neurônios ontem. Sofri o que tinha que sofrer ontem. Debateremos na próxima sessão o assunto, não vou ficar remoendo sobre ele aqui porque me põe indisposto com o mundo. Com a vida. Acredito que se não tomasse os remedinhos da Doutora e não escrevesse, certamente já teria entrado em depressão. Me peguei pensando do nada que queria morrer, embora não estivesse triste nem nada. É muito estranho isso, é como se houvesse uma pulsão de morte que consegue romper a barreira química dos remédios e se manifestar. Não deveria estar assim, não deveria me dar por vencido ainda em relação ao livro. Ao mesmo passou que acho ridícula a sua forma e vergonhoso o seu conteúdo. Mas isso não é de espantar visto que me vejo como um ser desprezível de sentimentos e motivações desprezíveis. Interessante que ao chegar ao quarto-ilha meu astral tenha mudado para pior. Algo a se perceber se uma constante ou não. E pode ser que eu me anime com o passar das palavras. As palavras... Dia dos Namorados e eu em companhia de vocês. Sabe o que pensei e obviamente não farei pelo perigoso medo de alguém aceitar? Em postar no Facebook a frase, estou só nesse Dia dos Namorados, alguém quer comemorar comigo? Imagino quem se disporia a fazer isso na minha companhia e nenhuma possibilidade me agrada. Por que? Porque eu prefiro a impossibilidade. Me é mais confortável, menos ameaçadora. Eu certamente me sinto mais confortável no mundo dos sonhos do que na minha realidade limitada. Preciso da AT, mas precisa ser alguém com quem tenha empatia prévia. Ou que seja uma gata. Hahaha. Não vou mentir. O aspecto estético é tão fundamental quanto a empatia. Por isso oferecerei as duas opções que me ocorrem a Ju, uma pela empatia e outra pela beldade (e empatia também).

18h11. Não sei, acho que vou... não acho nada, aliás, acho um saco estar aqui a escrever agora. Tudo me incomoda, a música que toca, o confinamento, a vida que se esvai em vão. Não adianta achar que não é em vão pois é o que acho, essas palavras que quase ninguém lê, para que o esforço? Para que sentar aqui dia após dia me dizendo se quase ninguém lê, é um exercício frustrante, sou um completo frustrado. Ou é como me vejo no momento. Queria viver num país em que peidar não fosse um tabu, onde todos peidassem sem pudor. Seria uma país talvez mais fétido, mas também com uma grande neurose a menos. Isso significa absoluta falta do que dizer. Mandei o livro para um concurso que não vou ganhar. Já disse isso inúmeras vezes, mas está tudo nas mãos do meu tio, que não sei se fará o movimento de me ajudar. Aliás, acho que não vai me ajudar. Promessas vazias. Mas ainda guardo esperança de que ele faça algo. Eu e minhas esperanças, só tenho esperança do que nunca vai acontecer. É um saco isso. E ainda tem a bendita viagem. A viagem que já está a me morder os calcanhares. A 12 dias de distância. Quero não. Mas vou ter que ir e ainda levar bagagem para o meu amigo corretor, que conseguiu um emprego em Portugal. Por mim, entregaria as coisas a ele e ficaria no quarto escrevendo. Eu procuro explicação, justificativa para a existência ter se organizado em algo como eu e não encontro. Eu procuro explicação para eu ser tão abençoado materialmente e familiarmente falando e não encontro. Eu olho para os miseráveis na rua e não encontro explicação para a existência deles também. Talvez daí venha a identificação. Existência desperdiçada a minha. Inútil. Escrevo para ninguém, isso me frustra mas como não tenho mais nada para me agarrar, não sei o que mais fazer da minha vida e não quero fazer coisa outra, me sento frustrantemente na cadeira do meu quarto-ilha e escrevo o que me vem à cabeça. Quase tudo. Não importa o que deixo de fora, o que deixo de fora é o que é pessoal demais para ser tratado aqui. O dia chegará em que não terei mais pudores. Vou é fumar um cigarro para abreviar a minha existência.

18h49. Pronto. Um pouco menos de vida para viver, pois o momento do cigarro passou – e com ele o tempo – e encurtei um pouco mais a minha expectativa de vida. E fiquei pensando enquanto fumava que queria morrer, é um pensamento muito familiar só que não estou me sentindo deprimido que era quando ele me ocorria com justa causa. Não sei por que me ocorre agora. Mas vamos falar de amor, pois é Dia dos Namorados. Desaprendi a amar amores reais. Não consigo me aproximar ou me apropriar da realidade a ponto de firmar tal vínculo, pelo menos não mais. Ou não por enquanto. Acho que vou passar o resto da vida só. Isso me frustra deveras, mas se não tenho sequer coragem de encarar uma relação que diferença isso faz realmente? Por que querer me aproximar de algo que eu temo? É um contrassenso. Dane-se eu. Espero que você esteja em vias melhores com o seu coração, que não seja como o meu, um enorme poço de solidão com uma longínqua esperança, um brilho tão distante que quase inexistente. O que queria? Conseguir preencher essa terceira página, revisar e postar isso. Seria interessante que a minha amiga revisora acabasse o livro antes da viagem, mas vejo isso como uma impossibilidade. E nem sei se quero que ela acabe. Tenho medo disso também, do juízo de valor que fará de mim e da minha obra. Tomara que ela se meta a editar o livro. Seria ótimo. Eu não quero saber de porra de livro agora. Eu não quero saber de porra nenhuma. Quero que essa página acabe logo. Mas se ela acabar o que eu vou fazer? Vou abrir outra e escrever. Grande diferença. Poderia ver um filme, mas não estou com vontade nenhuma disso. Como poderia transformar a minha vida em algo que goste? Não sei. Não faço ideia. Estou perdido. Só acho meu foco quando estou escrevendo por prazer. Apesar de estar escrevendo sobre coisas desagradáveis, dizê-las me agrada e alivia e gera um reboliço no meu eu. Eu me agarro nas palavras, pois não há mais nada que me segure. Eu não sei por que está me dando esse desgosto em viver. Acho que foi a desilusão com a AT. Guardava grandes expectativas. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Foda-se eu. Foda-se eu. Foda-se eu. Foda-se eu. Foda-se essa página que não acaba e que insisto em preencher até o final. Foda-se a viagem. Foda-se tudo comigo junto. Foda-se. Não você, caro leitor, que nada tem a ver com isso, você é um alento para a minha futilidade. Você é o que há de mais precioso na minha vida. O que faz de mim um pouco menos nada do que sou. Eu sou um grande nada. Insignificante, desprezível, não meritório de tudo o que tenho, com dois sonhos impossíveis, porque ridículos e irreais. Eu sou ridículo. Eu não gosto de mim. Faz tempo que não gosto de mim, nem me lembro quando gostei sinceramente de mim. Achei que repetindo “eu gosto de mim” eu me amaria, mas foi só parar de repetir que a magia se desfez. Eu tenho todos os sintomas de um deprimido, só não estou em depressão. Estado peculiar e irritante esse. Tenho raiva de mim e não tenho ninguém nem nada a culpar a não ser a mim mesmo. Nossa, como é chato existir assim. Se você soubesse... e se sabe, meus pêsames, saiba pelo menos que há alguém no mesmo barco que você. Esse barco de merda que navega a esmo pelo oceano da existência sem destino nem expectativa de aportar em algum lugar interessante, que ficará à deriva no desperdício até o fim. Até a morte vir finalmente me roubar de mim, cessar o eu, me desexistir. Quero um consolo, mas hoje é Dia dos Namorados e estou só. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Foda-se. Pelo menos mandar se foder me alivia um pouco da raiva que estou da minha condição agora. E esta maldita página não acaba. Que ozzy. Mas o que farei depois? Queria um grande porre, um grande barato, uma grande fuga. Mas não terei e não há. Aí me lembro de quando ouvi “Landlady” depois do uso e antes da internação. Foda-se.  


O mundo que habito. Ou o que sou de mim mesmo. 



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