domingo, 10 de junho de 2018

NOVA REGRA DO PROFETA: POSTS DE TRÊS PÁGINAS APENAS (ERAM SETE...)


18h24. Bem-vindo! Pode entrar a casa é sua. A casa é minha, em verdade, mas as portas estão abertas ao mundo. Quem quiser espiar a minha vida estará a vendo de uma posição privilegiada daqui. Aqui é onde passo a maior parte dela. Eu sonho ser escritor, como a borboleta que sonha ser um homem. Eu sou uma borboleta que escreve. O fato de escrever não me diz escritor em nenhum momento. Acho que para ser escritor falta alguma coisa que não possuo. Que coisa seria essa? Reconhecimento. Não o tenho e não sei como alcançá-lo. Penso em publicar um livro, mas como já disse, isso não me fará escritor tampouco, a não ser que alguém que julgue meritório declare que eu mereça ser publicado e isso é muito difícil de acontecer. Tentarei. A existência pode me sorrir ou Deus escrever certo por linhas tortas, como queira. Não acredito em Deus. Não no judaico-cristão. Meu deus é material, tecnológico, mas já tratei demais desse tema, não estou disposto para ele no momento. E como a partir de agora só tenho três páginas por post... eu que estava tão bem aclimatado às sete que costumava escrever. É um corte significativo na busca desesperada por mais leitores. Cada palavra conta e ganha um peso maior com essa redução de espaço, é preciso concentrar as coisas para que caibam aqui. Ainda estou pensando sobre a AT e no que Ju, minha psicóloga vai querer armar para cima de mim. Aposto que esse negócio de AT vai ser uma grande decepção. Estou com expectativas negativas a esse respeito agora. Sei que Ju vai querer de todas as maneiras evitar alguém por quem eu possa ter uma transferência afetiva. E tudo o que eu quero é justamente uma pessoa por quem eu possa ter esse tipo de transferência. Acho que ela está em um empasse. Quero entregar uma rosa no primeiro encontro que tiver com a AT. Acho que já disse isso, mas acho que ninguém leu. Você, se não for minha tia, não leu. Quero para causar uma reação e a desculpa é que faz tanto tempo que não faço uma gentileza a uma dama que gostaria de começar a nossa relação terapêutica com uma. Aproveitar e comprar uma para mamãe também, ela merece. É também uma gentileza que não faço com muita frequência. Deveria fazer mais. Não apenas por conta da AT. Se AT houver. Acho que vou receber uma aula sobre o papel da AT de Ju na próxima sessão. Ela vai querer me conscientizar de todos os limites e “poréns” da relação AT/paciente. Como se eu não soubesse ou imaginasse. O problema é que eu sou um transgressor. Adoro dobrar ou burlar regras. E certamente se a AT for jovem, bonita e legal, eu vou me apaixonar e certamente tentarei burlar as regras. Com todo o cuidado e respeito do mundo. Por tudo isso, acho que Ju vai me recomendar uma lésbica. Se for jovem, bonita e legal está valendo. Não vai ser nada do que estou imaginando, já sei, superego. Vai ser uma coisa fria e impessoal. Se for. Bom, coloquei Ju meio que encurralada. Pedi que fosse jovem, mulher e que não fosse nenhuma baranga, depois acrescentei que não curtiria que fosse lésbica, até que sugeri uma pessoa específica que me passou pela cabeça.

Detalhe do quarto-ilha I.


19h36. Estou sem assunto, então é melhor poupar palavras. Recebi uma curtida do meu último texto. De um homem dessa vez, o que é raro. Se eu tivesse uma namorada e fosse vítima de uma pegadinha de João Kleber, dessas que a mulher fica praticamente nua na frente do casal, e minha namorada perguntasse o que é que eu estava olhando eu responderia, eu estou olhando uma prostituta se passando por um papel ridículo, sem querer desmerecer as prostitutas, mas para mim quem vende o corpo por dinheiro atua nesse ramo. Me deu até uma leve vontade de assistir as pegadinhas, pense num negócio que absorve a minha atenção, por mais que sejam variações do mesmo tema. Escolado após ver tantas, eu dificilmente cairia em alguma, só na de sustos ou de jogar algo na minha cara. Pobres coitados os que caem e os que passam por esse papel ridículo de pegar (pesado) os outros. Acho que vou assistir. Ainda estou na primeira página, realmente estou sendo consciencioso com as palavras. E com medo de iniciar outro parágrafo e perder uma preciosa linha. Hahaha.

20h50. Meu primo-irmão me chamou para ir no Seu Vital, eu creio. Não estou com muita disposição, não aguento duas noites seguidas. E se só forem ele e a atual amiga de baladas, eu não terei o que conversar com ela e ela parece me evitar, então vai ficar um clima estranho.

21h11. Meu primo não me respondeu mais. Já ia elucubrar, mas não quero gastar palavras em vão. Essa constipação de palavras está me incomodando. Vi os vídeos de João Kleber e cada vez eles parecem mais do mesmo. Minha prima caçula foi com a minha avó ao jardim botânico, fiquei emocionado com as fotos. Elas dizem muito para mim. De uma coisa que não me sinto disponível para fazer e que talvez fosse muito boa para o meu carma. Só que não acredito em carma. Falei com o meu primo-irmão e resolvi ir para o forró do Seu Vital. Disse a meu primo que saio já-já.

Detalhe quarto-ilha II


1h47. Estou de volta e devidamente instalado no meu quarto-ilha. Mas preciso tomar os remédios, dang! A primeira coisa que me vem é que os papéis profissional e paternal ou, mais ainda, maternal, são neurotizantes. Que o meu papel totalmente voltado para a escrita ao mesmo passo que é libertador é altamente neurotizante, eu abdico de quase tudo para escrever. Escrever, beber Coca ou café, fumar eventualmente, vaporizar e escrever, e escrever, e escrever. Isso me soa como uma rotina bastante limitada e limitante. Mas adoro, amo quando estou inspirado para escrever, me realizo aqui nas palavras, me divirto, me revelo, me exponho, me mostro. Mas eu tenho que me mostrar é para o mundo real. Eu sei que isso é real, mas, além de ser pouco lido, por desconhecidos na maioria das vezes, o que é uma benesse tremenda, pois me sinto mais livre. Embora seja lido pela minha mãe, minha tia irmã da minha tia-mãe e esta. Algumas mais eventualmente que outras. Mas, por incrível que pareça, já me acostumei. E posso comunicar, quando quero, diretamente para elas. O que penso dessa noite que passei no Seu Vital? Quando tive a oportunidade de me mostrar para o mundo real? Emiti opiniões, os que é raro, quando discutimos acerca de por que estávamos achando que o tempo estava passando mais depressa, porque tínhamos essa impressão, eu expus que achava que era devido ao conhecimento maior de estímulos e por mais tempo tanto que a maioria dos estímulos nos passa despercebida porque banal, corriqueira. É necessário algo muito marcante, um encontro com a minha amiga diretora, por exemplo, como ela muito bem citou. Bati um papo. Fiz um monólogo lá no grupo de encontros do WhatsApp agora, foi embaraçante. E divertido. Estava saudoso de todos. É um grupo muito precioso para mim. Acho que vamos colocar o nosso primo urbano no grupo que é composto pela minha amiga psicóloga, minha amiga diretora, meu amigo cineasta e o narrador disso aqui. Mas voltando a horas antes no Seu Vital, que estava muito mais lotado que das demais vezes, pessoal animado, curtindo estar ali, eu estava curtindo estar ali, estava cheio de amigos e especialmente estava a minha amiga diretora que, pelo que entendi, acha que os nossos encontros são uma conversa de uma vida, não importa se no futuro ou no passado ou no presente, é uma relação de uma vida com a outra. Não sei se eu bote música, o silêncio está tão bom. A fome dos remédios está batendo. Acho que vou atacar. Não comi nada hoje. Para não dizer que não comi eu botei num prato de sopa raso, os vegetais assados e comi. Vou agora num galeto desossado com macarrão e arroz, vou botar metade de um, metade de outro e o arroz com ketchup Heinz, pena que não do picante, que é uma delícia. Vai ser muito gostoso. Vou lá.

-x-x-x-x-

15h35. O encontro de hoje no Relaxa o Bigode deu para trás, o meu amigo redator teve que trabalhar na agência hoje, acúmulo de trabalho. A família JP chegou hoje para celebrar tardiamente o aniversário de mamãe. Estou sem disposição para ninguém hoje e encontro pouca para as palavras. Acabei de acordar e sem café. Isso poderia explicar.

15h46. Estava a ver o WhatsApp, ver se tinha causado estrago muito grande, mas nosso amigo cineasta, postou imagens da Holanda, onde está, e desviou o foco, ainda bem. Paguei papel de palhaço de novo. Não me acostumo com isso. Que pena o meu amigo redator não vir. Estava contando com isso desde a terça. Outra sugestão se me apresenta, mas não vou poder ir por causa da supracitada presença da minha família JP. Nem estou com vontade. Estou com vontade de outra Coca com gelo, isso sim. Vou enfrentar a galera para pegar o negro líquido.


Detalhe quarto-ilha III.

16h15. Já preciso mais do negro líquido. Mas dá para segurar. Estou meio deprê no momento. Nada demais. É estranho ver meu irmão JP tratando de uma coisa tão adulta como investimentos financeiros. Ele é bem mais jovem que eu, embora a diferença faça menos diferença à medida que os anos passam. Estou com um desejo de comer o bolo-pudim e o cheese cake que a esposa do meu irmão JP trouxe. Espero estar mais sociável para enfrentar o almoço. Estou com um desconforto na alma. A terceira página pelo visto está chegando ao fim e eu não escrevi nada de interessante. Minha amiga diretora me sugeriu que eu editasse o que produzo, a fim de manter só as partes interessantes. Não tenho senso crítico para isso, portanto tomei uma medida mais radical, que foi diminuir o número de páginas de sete para três. É o máximo que posso fazer para reduzir o meu texto. Sobre a relevância é mais difícil, pois acho tudo irrelevante. Estou querendo imaginar alguma coisa para dar uma chacoalhada na rotina, mas nada me vem à cabeça. Eu queria era que esse post acabasse logo, ou não. Minha amiga diretora disse que tem como meta arrumar uma atividade que a reconecte ao corpo. Eu acho que nós não somos da geração saúde. Ou somos racionais demais. Não sei se abdicar do tempo que assiste séries para desopilar por uma obrigação com o corpo seja a melhor escolha, talvez ioga uma vez na semana. Sei lá. Não posso nem devo, nem quero me intrometer nisso. Eu estou perdendo a paciência para ouvir pessoas que falam demais. Percebi isso ontem e me incomodou tal constatação. Eu preciso de cafeína. Ouço uma aglomeração na sala. Minha mãe acaba de me chamar.

18h08. Comi muito, preciso tirar um cochilo.

22h36. Acordei, mas não por muito tempo, eu espero, tomei os remédios, comi uma fatia de cheese cake e vim para cá. O pior que não estou com sono algum. Talvez haja uma solução.

22h55. Enchi as caçambas e fumei mais um cigarro. O que posso trazer de ontem ainda? Que foi uma noite especialíssima, encontrar com a minha amiga diretora é algo que me eleva o espírito e me deixa um pouco encabulado a priori. Não me lembro do nosso outro encontro no Seu Vital. E nem mesmo consigo acreditar que ele ocorreu. Me senti culpado em relação ao cara da barraquinha, acho que ele queria uma carona, mas não tive certeza e não quis confirmar, pois em verdade, eu não estava com vontade de dar carona para ele. Fui egoísta, o lado mau do egoísmo e me sinto assim nesse momento. Passa “Bad” do U2. Queria ver “Bad” na filmagem de “Rattle And Hum”. Talvez o YouTube seja o caminho.

0h17. Tem alguma coisa errada com a hora, devo ter feito alguma marcação errada. Não passei uma hora fazendo isso. Mais de uma hora. Puxa vou pegar mais um brigadeiro.


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