segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

MAIS UMA FESTA: O ANIVERSÁRIO DO MEU SOBRINHO




23h29. Não estou com alma de escrever, vou ver o mundo dos bonecos. Minha mãe precisa resolver o imbróglio do cartão.

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15h48. Está havendo ainda outra festividade hoje, o aniversário de um dos filhos do meu irmão. Meu primo que morava no Pará, se não me engano, já chegou e me encomendou um desenho. Não faço mais desenhos, seria uma tortura me submeter a fazer, ainda mais com tema tão abstrato quanto o que eu acho do ser que ele é. Sei que é uma pessoa que coloca a família em primeiro lugar e não sei mais que isso.

17h30. Mandei para a Gatinha:

“Brigado, Gatinha. Desculpe se me torno uma pessoa cada vez menos admirável. É o que o tempo vem fazendo de mim. E as escolhas que faço, claro”.

17h31. Me encolho no meu quarto-ilha para não enfrentar as socializações do aniversário, que transcorre com poucos convidados. Meu português está ruim e escrever me é mais penoso que o normal, acho que por causa de ontem. Espero que com o tempo volte um pouco ao meu ritmo habitual de escrita. Talvez haja pessoas dos Gonçalves em Porto, por isso o esvaziamento desse evento. Me sinto culpado em me isolar. Mas não o suficiente para sair do meu covil.

17h45. Passeei um pouco pela internet, queria dormir mais. Estou de baixo astral hoje. Minha mãe disse que vai cancelar o outro cartão, não acho que deveria fazer isso comigo. Sei que exagerei e que já exagerei outras vezes, mas gostaria muito de uma nova chance, tolher a minha capacidade de ir e vir comprando créditos de Uber acho profundamente injusto e me põe inseguro ao sair de casa usando o serviço. Gostava da garantia de que, onde quer que eu estivesse, eu conseguiria chegar em casa. Isso deveria ser preservado. Respeitado. Ainda vou conversar com ela a respeito. E tenho compromissos financeiros até o final de 2019. Duas bonecas chinesas que serão lançadas nos terceiro e quarto trimestres do ano vindouro. Me comprometi com Daisy, ela assumiu a dívida por mim, fazendo as encomendas. Estou desgostoso com o mundo. Acho que a ausência de comunicação é um dos fatores. É a vida e segue. Cada vez que vou pegar gelo para a Coca, me deixo estar um pouco na festa. Foram festas demais num curto período e mais haverá amanhã, quiçá a última. Certamente a última desse ano. Acho que a melhor definição para o que sinto é falta de ânimo, ainda estou combalido do dia de ontem e a idade pede mais descanso do que me foi permitido. Eu sinto vontade de estar um pouco na sala.

18h28. Não sinto que o eu que se dá hoje – e ultimamente – caiba adequadamente na situação. A de ontem foi muito mais convidativa, tinha mais a minha cara, eu revi pessoas que há muito não via e que fizeram parte de uma fase muito boa da minha vida, a juventude nas Ubaias. Nossa, eu era totalmente outro, a ponto de ser considerado “role model” por uma das pessoas mais inteligentes que conheci. E de ele ter desenhado o seu futuro inspirado nos passos que ensaiei caminhar no ingresso formal na vida adulta. Ingresso esse que não passou de fato do ensaio. Tudo o que decorreu, à exceção do período da Gatinha, foi excessivo e descontrolado e infeliz. Meu lugar é aqui, com minha mãe, entregue aos auspícios dela. É como consigo me sentir melhor no mundo. É como sei e decidi viver. O acaso-destino e as minhas escolhas me trouxeram até essa condição e não me arrependo dela. Privo-me de quase tudo para me possuir e ser o mais completamente meu. Vou dar outra circulada na festa.

18h56. Os meninos vieram aqui e um deles identificou que o meu quarto fede. Tem um olfato muito aguçado. Não sei a que fede, não perguntei. Não sei se é a cigarro ou algo além. Fiquei curioso, mas também acho que a minha cadeira fede, vítima que foi de infindas flatulências. Encruou. É uma cadeira bastante resistente, sem dúvida e pretendo a manter na reserva, mesmo que nova venha, não sei da durabilidade das cadeiras de hoje. Queria conforto, ergonomia e resistência, talvez braços, não sei. Seriam úteis para jogar videogames. Por sinal a minha TV não está ligando. Espero que seja apenas a pilha do controle, mas temo ser algo pior. Meu irmão achou que é tedioso ler o meu blog. Deve ser. É o que ofereço e apenas isso. Faço isso para emprestar algum sentido à minha vida. Aliás, foi o sentido que escolhi lhe dar e estou satisfeito com ele, por mais que desagrade os demais. Talvez devesse reduzir ainda mais o tamanho dos posts, mas aí multiplicaria o número de postagens, é necessário dar vazão, é necessário não parar de escrever. Só é necessário parar de escrever para amar, para o que é desejável socialmente, para apreciar os meus bonecos e para fumar. Interrompo de todas as outras maneiras à minha escrita regada à internet a contragosto. Acabaram de cantar os parabéns, vou lá aparecer nas fotos.

19h25. Apareci e desapareci, cá estou de volta na minha incansável busca para manter a sanidade. Meu banheiro também fede, talvez eu mesmo feda, não sei, ninguém nunca reclamou, é um insulto do qual poucos seriam capazes independentemente do odor que exalo. Preciso conversar com o meu irmão a respeito da ida a Areias e das informações colhidas com o meu primo urbano ontem. Acho que há algum ruído que surgiu na minha relação com este último depois que mudou os seus hábitos de vida. Toca Arisen My Senses, eu aumentei o volume, acho uma música mágica, principalmente se se prestar atenção nela, o que não faço dedicado às letras. Mas há tanto barulho lá fora que me dei ao luxo de ouvir música mais alto. O que eu queria? Só comunicar a meu irmão os detalhes de Areias. E que mamãe lesse o post que reparti com ela pelo WhatsApp. Talvez que ela viesse conversar comigo. Conversaríamos então.

20h23. O resto da família veio conhecer o meu Hulk e ver a minha coleção de figuras, mesmo dentro das caixas, quem sabe 2019 seja o ano de libertá-las para aprisioná-las uma vez mais e definitivamente em vidro e madeira. Quando finalmente chegar o momento de apreciá-las. Quando o quarto-ilha evoluir para o seu estado final, completo. Completo só estará quando todas as peças que estão/estarão na casa do meu irmão aportarem aqui. Isso levará anos, no meu prospecto. Aguardarei pacientemente. Como tenho aguardado ao longo dos anos que passaram. Que vão se acumulando, assim como se acumulam figuras aqui e lá. Mas isso terá um fim. Sonho com esse dia, por mais distante que esteja. Só está o nosso núcleo familiar na sala e mesmo assim me sinto indisposto a me juntar a eles. Estou com certa indisposição física no momento. Sei que é passageira, entretanto. Não sou mais a pessoa que costumava ser, sou uma versão depurada dela, de sabor mais forte e amargo, que cada vez menos se oferece à apreciação alheia e, contraditoriamente, se expõe o mais nu e cru que consegue para o mundo, que não tem o mínimo interesse pela minha nudez ou crueza. Escrevo para mim, não para o outro, para satisfazer as minhas necessidades, não a de algum suposto leitor. Mesmo assim sonho ser descoberto e desvendado. Não se dará. Faço isso há tempo demais e, se não se deu até agora, nunca se dará. A principal razão, direção e motivação da minha existência é um enorme desperdício de tempo e esforço. Não ouso utilizar a palavra talento entre as coisas desperdiçadas pois creio que, caso o possuísse, seria lido. Fato é que eu sou o único interessado na minha vida desinteressante. Grande osso desse meu ofício. Osso duro de roer. Mas não me resta alternativa senão aceitar que as coisas são assim. O acaso-destino escolhe poucos para serem grandes. Não foi, não é e não será o meu caso. Acreditei por algum tempo que fosse. Acho que todo mundo acredita nisso em algum período da vida, eu, que decidi não crescer, continuo com ilusões pueris. Mais pessoas do que o normal têm me perguntado o endereço do meu blog e vejo nos olhos deles que não lerão, é um interesse vazio de qualquer intenção sincera, uma forma de serem polidos apenas. Mesmo assim lhes indico o caminho, movido por uma oca esperança. A minha esperança em relação a Blanka se torna também a cada novo dia mais oca. É uma pena. É a vida e segue. Começo a acreditar que pelo ofício que exercem, professores são mais comunicativos em geral, para além da sala de aula. Nas situações sociais e cotidianas. Eu sou uma espécie de não-professor, nada ensino, quase nada falo. São raras as pessoas com quem eu sinto abertura para me abrir ou menos me dou a tais situações tão absorto estou em criar este monólogo de mim mesmo.

21h52. Em breve todos da casa estarão dormindo. A noite será minha, embora não esteja com disposição para esticá-la. Veremos até onde chego. Tenho expectativa de começar um novo post depois deste, visto que este já vai bem adentrado na terceira e última página. Estou considerando para 2019 diminuir o número de página para duas, mas isso é algo que demanda muita ponderação. Entretanto, se me acostumei às três, talvez me adeque às duas somente.

22h18. Aparentemente mamãe está lendo o post que dediquei a ela. Os resultados verei amanhã, se algum. Espero que não sejam negativos ou só negativos. Estou me dispersando do texto pelos sons advindos das demais pessoas no corredor. Meu sobrinho, filho caçula do meu irmão, está com febre. Eu sinto um amor genuíno pelo primogênito e é mais forte do que imaginava, diferente também. Uma descoberta. Me amedronta. Não sei se estou preparado para esse amor nem sei como vivê-lo ou expressá-lo, não é constante, mas irrompe em certos momentos e vislumbro o que pode ser o amor de um pai por um filho, obviamente numa ordem de grandeza menor, mas é arrebatador. Nunca havia me sentido assim com nenhum dos meus sobrinhos, mas acho que tenho especial identificação com esse, embora ache os demais adoráveis, tanto os outros dois do meu irmão quanto o casal da minha irmã.

22h48. Meu irmão é uma máquina movida a responsabilidades, muitas delas que nem são completamente suas, mas basta apenas um vestígio de que aquilo lhe caiba para que faça. Não poderia ser mais oposto e me sinto pequeno e inútil diante dele. Não é um sentimento bom, mas sinto-o como pertinente. Talvez só seja mais disposto que eu. Ou condicionado a levar a vida dessa forma e eu tenha me condicionado no completo oposto. Mesmo assim, culpa vem porque acho o seu condicionamento imensamente mais positivo, proativo e virtuoso que o meu. Por outro lado, me conformo que cada um consegue ser apenas o que é capaz de oferecer, todo mundo faz o melhor de forma diferente, todos buscam uma maneira de estar melhor no mundo.

0h27. Há rótulos que nos empregamos que são completamente inúteis; “o menos inteligente dos três”. Por que carregar isso na cabeça? Algo que não tem o menor fundamento, evidência, é uma especulação fantasiosa, uma ilusão que faz mal à autoestima. Agora já não acho que ser o mais alienado de todos os da minha geração, todos os adultos que conheço seja uma falácia. Eu me movo nessa direção porque acho que vivo melhor assim, sem saber do macrocosmo em que estou inserido. Só partes específicas dele, pelo menos no que diz respeito ao maravilhoso mundo dos bonecos. Acabou-se a terceira página.    


sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

CARTA À MÃE E FICÇÕES




23h07. Mãe, obrigado por tudo que é na minha vida. Não sei viver direito sem você. Estou lidando com isso na terapia, mas o vínculo é muito forte. Meu maior medo é perder você, me sentirei completamente sozinho, largado no mundo, nada substituirá a segurança que você me transmite. Ninguém. Tenho medo do que serei sem você, do meu futuro. Espero que daqui para lá – e que esse para lá seja muito distante – eu me torne mais dono de mim, mais Mário, indivíduo independente, e menos filho seu. Não acho que vá conseguir, entretanto. Estou tentando, mas é tão bom ter você por perto, gerenciando vários aspectos da minha vida, se pudesse gerenciaria todos, mas isso seria demasiado sufocante. Respeito muito a liberdade que me dá de fazer o que gosto, o que amo fazer de forma irrestrita, de viver a vida como acho mais conveniente, melhor, mais agradável, mais desejada. Passei muito tempo sem desejar viver, você sabe disso. Acho que mereço agora curtir a vida, tentar ser o mais feliz que posso, mais satisfeito com a minha condição, papel e lugar na existência. Para tal satisfação sua presença é fundamental. Como você me sinto cuidado, provido, às vezes até amado. Mas isso é raro, pois acho que todos os dessabores que fiz você enfrentar danificaram o seu amor por mim. Você também não o demonstra das formas mais perceptíveis, embora com o tempo tenha me dado mais carinho, pois fui colher mais o seu carinho. Sou desesperadamente carente de carinho. Blanka terá que me dar carinho, muito carinho para me conquistar e tenho que o perceber sincero, honesto, querido. Mas dar carinho a mim é algo que você não está acostumada a fazer e eu aceito, parcialmente, pois anseio muito pelo seu carinho, não apenas na forma de guloseimas e limites. Sou muito grato pela Coca que me provê e pelo cigarro, embora este último não seja suficiente. Você não sabe a gratidão que tenho por isso e como ambos são fundamentais para o meu bem-estar.

23h38. Você e meu padrasto voltaram do shopping. A verdade é que amo você de uma maneira que não tem comparação com nenhum outro tipo de amor, eu sinto necessidade de você e do seu carinho. Indo ainda mais fundo, acredito que eu guarde um grande ressentimento porque não me deu carinho suficiente na infância, tanto é que quando começou a dar demonstrações tácteis de afeto eu senti como uma invasão, um abuso de intimidade. Hoje estou mais aberto e acredito que se eu lhe der mais carinho, eu um dia talvez receba mais carinho em troca. São palavras difíceis, mas não as escolho, a minha alma as vomita, queria eu ser um escritor que lapida o seu texto à maneira de Chico ou do meu amigo escritor, onde cada palavra é calculada, não consigo, odeio matemática, odeio qualquer coisa que tolha a minha espontaneidade e liberdade de me dizer. Você em muitos aspectos me censura, não consigo ser totalmente transparente aqui, nem deveria, visto que já há um desnudamento enorme do que sou. Mas queria dizer mais de mim e me privo por causa da sua presença, mas são irrelevâncias, em sua maior parte, e as guardo para o Vate. Estou confortável dessa forma, tenho a liberdade que me cabe no Profeta e ela me satisfaz. Suas críticas à minha, aos seus olhos, não aos meus, excessiva transparência me magoam, acho que eu, como autor da obra não deveria sofrer interferências de ninguém, mas não me furto a desobedecê-la e seguir o que a minha consciência pede e permite. Nossa, Coca com gelo é muito bom, sentir meu estômago gelado é muito bom, sentir os espocar do gás no negro e doce líquido na minha boca é uma experiência que não tem preço. Novamente obrigado por isso. Espero que você me ajude a pagar as bonecas que já encomendei, pode ser que o truque do desconto da MoAF não funcione, e há duas já encomendadas por Daisy (da YetiArt que pinta os meus kits) que já pagou o depósito por mim, visto que a compra só podia ser efetuada da China, que tenho que reembolsar e pagar o restante quando forem lançadas no terceiro e quarto trimestres de 2019. Não são tão caras como a Rebel Terminator. Eis a situação, tal como ela é. Se a malícia da MoAF funcionar, estamos bem e terei economizado mais de quinhentos dólares, se não, não sei o que fazer. Torçamos. Sei que depois disso, só quero mandar pintar os dois kits que tenho na China (YetiArt), mas isso não tem prazo, quando puder a gente faz. É um alívio para mim colocar tudo em pratos limpos em relação às minhas finanças com você. Me dá medo da sua reação. Eu tenho medo de você. Isso é tão ruim. Você tem o poder de me machucar com a maior facilidade. Às vezes intencionalmente. Muitas vezes visando “o meu próprio bem”. Saiba que quando você desfaz de Blanka e destila seu desgosto por ela me machuca. Pode continuar a fazê-lo, dói mais dessa maneira, mas aceito, assimilo, tento não guardar mágoas e afirmo que não vou desistir até que ela desista de mim. É o que de mais concreto e desejado eu tenho em dez anos. Dez longos anos de paixões platônicas e solidão. Não é um relacionamento simples e nem sei se é possível, mas vou vivê-lo enquanto o acaso-destino permitir. Enquanto achar válido, enquanto for promissor, enquanto me fizer bem. E é uma construção complicada, num contexto complicado com uma pessoa complicada. Ambos, eu e Blanka temos essas características, ela enfrentará tantas dificuldades quanto eu, se realmente vier a desenvolver afeto por mim, se desenvolvermos afeto um pelo outro. Ainda não há substancialidade para os dois lados, para os dois juntos. Talvez haja um dia, tentarei buscar esse dia. É uma meta de vida, acho que ela tem as qualidades que se adequam à minha pessoa e vice-versa. O tempo é senhor de todas as coisas e sonho com o dia em que o meu quarto terá todas as bonecas magistralmente dispostas com Blanka dormindo na minha cama. Aceita por você. É uma longa jornada, pedregosa jornada, não é nada fácil, mas acho a recompensa válida. Posso estar me enganando, criando ilusões impossíveis, sendo ludibriado, mas se sou, não é por muito e minha sensibilidade detectará se tudo não passar de um embuste. Mentiras são difíceis de sustentar. Elas tentem a inflar e explodir como balões e a verdade se revela. Vou comer os sanduíches que você me trouxe, eu acho. Não ainda, ainda não me bateu a fome dos remédios. Vou fumar.

00h45. É incrível como Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças consegue ser esquizoide, pastelão, fantástico, poético, trágico e romântico. Adoro o roteirista Kaufman (não sei de Charles ou Andy), gosto de como ele usa o fantástico para sobrepor realidades e as conectar. Gosto muito de Her. Esse seria o filme para me descrever, parece, senão um retrato, uma pintura de mim. Me identifico em vários aspectos com o protagonista, talvez o filme que mais profundamente tenha me calado, em vários momentos eu pensei, “parece que esse cara está falando de mim”. Amo esse filme, mas não sei se o reassistiria, prefiro ficar com a impressão inicial. E não estou muito para nada além de escrever. Estou em um dia extremamente prolífico, estou bastante satisfeito com a minha produtividade.

“00:59 - Eu gostaria de assistir Alita Battle Angel no cinema com você. Legendado.”

1h00. Mandei para Blanka agora. É verdade, eu tenho essa vontade de ver Alita Battle Angel, foi o primeiro filme a me tocar há tempos e não conseguiria pensar em companhia melhor que ela. Mas tenho que chamar mamãe para o cinema, vários filmes entrarão em cartaz em 2019 que me interessam, um cara da comunidade postou os lançamentos blockbusters mês a mês e há vários que quero ver: Rei Leão, John Wick 3, Avengers Endgame, Terminator e alguns outros. O Rei Leão será puro deleite visual, aceito até ver dublado. FICÇÃO: no futuro com o aceleramento da capacidade de processamento e da computação gráfica, pelo menos as animações poderão ter os personagens mexendo a boca de acordo com a língua de cada país, tudo mapeado da boca do leitor de cada nacionalidade, e várias renderizações seriam feitas, uma para cada língua. Acredito que isso aconteça até com os atores humanos, reais, depois que vi o FaceApp e o novo Photoshop fazerem. Ou foi o Première, não lembro. As crianças já crescem imersas na tecnologia, parece que têm atração por tecnologia. Muito curioso. E muito pertinente com o que penso. Uma parte que tem que evoluir é a UI em muitos casos. Precisa ser mais intuitiva e mais fácil, mas, mais fácil do que comandar o celular pela voz e ditar textos, tecnologias já bem avançada e incorporadas uma a outra? Tradutor falado de uma língua para a outra? Só falta o Google Tradutor se aperfeiçoar mais. Parece mágica. Mas é uma parte infinitesimal do que virá. Vou comer os sanduíches. FIM DA FICÇÃO.

1h40. Pensei que os sanduíches iam bater mais pesado, que bom, ainda estou com gás para escrever mais um pouco. FICÇÃO. Eu acredito que o meu organismo, meu estômago se acostumou à Coca, ele deve ter sofrido uma alteração na acidez do suco gástrico para compensar a acidez adicional da Coca, se tornando mais básico, sei lá. Fiquei com medo de ter câncer no estômago pensando a respeito. É cada paranoia. Xô. Vade retro. FIM DA FICÇÃO.

1h45. Queria que fosse difícil separar a minha ficção do real, gosto apenas de desgrudar um pouco e, pelo que percebi, começar e aterrissar no real. Os sandubas estão começando a me dar sonolência, é bom também deitar na cama, depois de passar o dia curvado na cadeira, me esticar, me espreguiçar, me espalhar ouvindo uma musiquinha baixinha, no escurinho, mas com a noite entrando pela janela, até que o sono me leve. É um procedimento muito gostoso e muito necessário, dar uma trégua para o corpo e a mente. Inclusive ao estômago e ao pulmão. Penso que posso ter câncer de garganta. É a hipótese em que acredito mais. Ou posso viver parcialmente sadio até que causa outra venha me levar. Um enfisema pulmonar, sei lá. Sei que confio no avanço da medicina. FICÇÃO. Descobre-se uma alteração genética que torna o indivíduo imune ao câncer, você gostaria que o seu filho tivesse o genoma alterado para dispor de tal segurança? E assim com a maioria das doenças. Com leucócitos mais inteligentes, poderosos e eficientes, com um maior repertório de doenças capaz de combater/imunizar. Quiçá nem seja necessária mudança no genoma, células artificialmente criadas, nano-robôs, em verdade, introduzidos como uma vacina para todos os males. FIM DA FICÇÃO. Vou comer tortinhas de limão que vi que mamãe, gentil e amorosamente lembrou e encomendou para mim, obrigado, mãe.

2h16. Ah, mãe, obrigado também pelos sanduíches hoje e sempre, acho que preciso comer mais comida de panela, não só farofa com feijão, sinto falta do frango guisado com macarrão de Maria, nunca mais o terei na vida. É triste essa constatação. Sinto falta de um cozido, talvez seja do que sinto mais falta. E de picanha gorda com maionese de batata, vinagrete, farofa de manteiga e arroz, de bife à parmegiana muito, muito. Pretendo levar Blanka um dia ao Udon. Quem sabe num dos vários filmes que vão ser lançados e que me interessam vocês duas não possam ir? Isso se durar até lá. Será que você tem medo de encontrar com Blanka porque tem medo de gostar dela, de ficar impressionada positivamente? Acho difícil que seja isso. Ou talvez seja, acho que nem você sabe. Você criou um mito terrível a respeito dela. Um nojo, quase uma fobia. Ao menos é assim que eu capto suas opiniões. Vou fumar o último cigarro parai ir dormir. Boa noite, mãe.

2h44. Outro filme que me marcou de forma indelével  foi Child Of God, certamente está entre os melhores filmes que já vi e atuação do protagonista é estupenda. É um filme impactante que deixa o espectador pensando sobre o que acabou de assistir. Pelo menos assim se deu comigo. Vou me deitar mesmo agora. Obrigado existência pelo dia de hoje, gostei muito do que vivi/produzi, usufruí da minha peculiar vida. Faltou uma dose maior de Blanka. É a vida e segue.

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11h26. Meu irmão chegou aqui com minha cunhada, sempre bom. Acabou-se a terceira página. Acabei de acordar e o meu despertar é demorado, chato, fico chato até me aprumar em mim.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

PARA RICKY


17h52. Antes de começar de fato a preencher esta página, um cigarro se faz necessário. Acabei de revisar e postar o texto anterior.

18h31. Resolvi colocar umas fotos no post para que tenha um pouco mais de dinamismo e seja mais amigável ao leitor. Não sei se fui bem-sucedido. Vou fumar outro cigarro e migrar para a Coca.

18h44. Cruzei no dia de Natal com dois sem-teto, talvez com grandes sonhos, certamente com esperanças miúdas, como a expectativa de financiar o próximo porre de Pitu, não sei se mendigos, pois dormiam, portanto, nada me pediram, eu que tinha cento e vinte reais em dinheiro para comprar Coca e sorvete. Ainda cometi a ousadia de fotografar sua sorte na existência ali à deriva na calçada. Postei a foto no post anterior e ela me cala muito profundamente, o acaso-destino age de formas tão variadas e pode ser extremamente duro com alguns e é extremamente duro com alguns, talvez excessivamente duro. Apesar disso, dessas pessoas maltratadas, maltrapilhas, mal vividas, desprezadas, esquecidas, em sofrimento, sou otimista. Acho que há mais gente se sentindo bem do que mal no mundo. E vou além: acho que esse número é crescente. E indo mais além: acredito no paraíso na Terra, quando todas as necessidades serão supridas, todos os desejos realizados. Todos terão oportunidade de entrar no paraíso, mas haverá aqueles que não se disporão a isso por medo do novo. Queria falar com Blanka. Muito mais do que escrever aqui. Não estou com disposição para escrever aqui, vou vagar pela internet.

19h36. Meu amigo da piscina me chamou para fumar um cigarro na escada. Depois me chamou para descer, mas dessa vez decidi ficar em casa. Aqui no quarto-ilha, na minha estranha solidão com as palavras. Esse lugar onde tenho domínio absoluto de tudo, meu casulo, meu útero, minha cela com porta aberta. Onde me encarcero, me retiro da sociedade para ser eu mesmo mais plenamente. Onde me exerço da forma que melhor me cabe no mundo. Eu não consigo acreditar no resultado do cartão de crédito, acho que o total é superior à soma do que foi gasto. Posso estar enganado, certamente estou. Mas me bate quase uma vontade de somar tudo e ver se bate. A preguiça me impede de tomar essa iniciativa. É tão bom ser submisso à preguiça, é tão fácil e tão cômodo. Não tenho vontade, não faço, tenho vontade, faço. Todos deveriam ter esse direito. Me privo de quase tudo para me entregar à preguiça, tenho poucas vontades, assim posso satisfazê-las. Acho que trago a alma atrofiada hoje em dia, murcha como uma passa, pois não necessito ocupar todo o lugar da uva. A memória engana, a preencho as lacunas com imaginações, ficções que creio serem fatos, por exemplo, o clipe de Hunter de Björk tem o fundo branco, eu creio, mas me veio à cabeça como se tivesse fundo rosa, laca gerânio, tal a capa do CD. Fiz uma fusão de memórias. Quantas mais devo fazer sem me aperceber? É um pensamento que dá medo, mas cada vez confio menos na minha memória, pois cada vez menos a exercito, vivo muito o presente. Estou levemente nauseado. Tenho muita Coca e muito gelo, isso me traz um sentimento de tranquilidade, de que tenho os recursos de que necessito em quantidade adequada.

20h03. A fantástica faxineira ainda está aqui, coitada, é uma guerreira. Tem Deus e isso lhe serve de consolo para seguir com resignação e obstinação adiante. Tem a alma boníssima também. Eu e Blanka não temos, nós conhecemos o lado obscuro de nossos seres, temos contato com ele. E com o lado negro da vida. Talvez até sejamos atraídos por ele e isso faz de nós pessoas corrompidas. Mas nisso também sou otimista, já fui pior do que sou hoje, há redenção, não completa, mas alguma parcela dela. Fiquei feliz de que só poderemos nos encontrar após Areias. Talvez esteja mais preparado para uma experiência sensorial com ela, não apenas verbal, oral, mas acrescentando-se o táctil e o visual, a nudez, quiçá a excitação, embora essa não me faça falta, falta dar carinho a um corpo nu e jovem de mulher, especificamente de Blanka.

20h21. Estou vivendo a vida o mais plenamente que posso nesse momento. A existência está me sendo extremamente benfazeja. Só um brilho, o perfeito reluzir, a casa só para mim, o som no volume 20, tudo conspira a favor. Vou fazer uma coisa, vou pedir pra Clementine passar o endereço desse blog para o seu namorado ou namorido.

20h27. Acabei de fazer. A cutucada na existência eu dei. Eu acredito que a raiva deriva de alguma frustração, é causada por esta. O som me parece muito alto, desagradavelmente alto. Volume 16 está bem mais palatável. Por que tive a ideia de repassar para ele o endereço? Porque me deu vontade de cantar Pétala de Djavan no hall enquanto fumava pensando que Clementine ouvia e divagando se algo lhe passava na cabeça a respeito do que cantava. Percebi que, desde que sou de Blanka, que ela esteve no Natal dos Barros, uma geleira se derreteu entre nós. Acho positivo e espero que Blanka dê certo. Por mais que o receio disso, do novo, me atormente. Mas estava em paz e quero continuar assim. Não preciso de perturbações outras, não preciso de perturbação nenhuma. Acho que vou fumar um cigarro. Isso me faria bem e talvez me faça divagar por novas searas. Com Coca geladíssima, claro.

20h49. Me dei ao luxo de fumar dois cigarros seguidos agora. Vou colocar Virus de Björk, versão remix. Alto. Extremamente benéfico. O segundo cigarro que fumei me deu um prazer nesse estado em que eu estou, singular na minha existência. Bom demais. Eu, Mário Gonçalves de Barros, amo fumar. E há momentos de tabagismo que são um deleite inexplicável para mim. Não sei o que se dá, que há de interessante em tragar aquele negócio que me traz tanto agrado. Sei que sou abençoado por isso, mesmo estando me amaldiçoando, ou tornando o meu futuro muito sofrido e talvez bem mais curto do que poderia ser. Não quero a velhice, mas acho que a máquina que me carrega é tão resistente que envelhecerei. Na verdade, a idade já me pesa. Há coisas que não faço mais porque não tenho vigor ou disposição. Uma das coisas que tenho que eliminar desse rol é sexo, penetração. Entrou um The Cure que bateu na trave. É, me peguei cantando e pensando em Clementine, ela sempre vai ter um significado importante para mim. Queria que Blanka, em quem penso com frequência, conquistasse tal importância e que ela fosse mútua, chega de unilateralidades. Estou tão distante disso que nem sei se é possível, às vezes me questiono se estou disposto, mas quando recebo atenção de Blanka isso me faz bem, me faz sentir mais feliz. Me incomodam os erros de português, o não saber usar o infinitivo quando escreve, mas isso é um detalhe pequeno. Acho que minha mãe está passando por um momento negro de sua vida e isso tem afetado o meu padrasto, o relacionamento do casal, lembro-me deles mais em paz e mais felizes. Mamãe disse que com ele conheceu, enfim, a paixão. Às vezes acho que mamãe cancelou o meu cartão para que eu não o levasse quando fosse sair com Blanka. Penso em pedir uma semanada de trezentos reais após a reforma do meu quarto e que voltemos a investir parte do dinheiro. Será que meus irmãos vão querer vender as Ubaias? Será que me ajudarão financeiramente a mantê-la? A me manter? Se recebesse a pensão integral de papai talvez conseguisse. Talvez meu irmão viesse morar aqui comigo. Sei lá. O mundo ainda tem que dar muitas voltas e em algumas ele se comporta de forma muito estranha, bizarra, completamente inesperada. Meu pai morto no chão do banheiro, bizarro, para dizer o mínimo. Totalmente inesperado. A gente se conforma com a morte. Eu me conformei com a morte do meu pai. Eu aceitei. Aí, vem um movimento da alma querendo me impor uma carga que não mereço. Foda-se para lá. Não é algo verdadeiro. Preciso de um cigarro. Merecido. Mudar de ares, esses são muito carregados. E fumarei na escada, estou com vontade. Até porque meu padrasto – e mais ele que a minha mãe – pode estar chegando, não quero desagradá-lo.

21h24. If chance-destiny sticks to my brother’s plan, we will throw the ashes of our father in the shores of Macau. This will have different meanings to the two of us and I think we deserve to let my sister know. O que significará para mim, que fiz tanta questão disso? Pensei que muito pouco a priori, pois não acredito que esse saco que está no meu armário seja o meu pai, porém pensei melhor e adiante e cheguei à conclusão que significa a realização de um último grande desejo dele, uma homenagem à sua memória, que é tudo o que me resta dele, a memória cada vez mais rota e algumas fotos. E tudo o que pôs dentro de mim, o que fez por mim para que me tornasse o que me tornei, sua contribuição na receita que eu sou. Até para que chegasse ao meu estado atual de coisas. Ele garantiu com sua morte a minha liberdade para escrever, fazer o que eu quero da vida, com a ajuda da minha mãe de do marido da minha prima. E do pesadelo pelo qual passei.

21h33. Clementine ainda não viu as mensagens que mandei para ela. Gostaria que o fizesse. Sou muito imediatista. Mas estou em paz e continuarei assim, apesar de levantar assuntos mórbidos e melancólicos. Fazem parte da vida. Música muito doida de Björk, do Utopia, instrumental.     

21h42. Meu amigo da piscina me pediu cigarro.

21h56. Voltei com uma nova verdade dele: a cor rosa pacifica as pessoas, as deixam mais calmas. Não sei se procede, mas minha cor predileta é laca gerânio, um tom de rosa mais escuro, intenso e mais avermelhado, é a melhor forma que tenho para descrevê-lo, se aproxima do magenta, mas acho que tem um tantinho de amarelo e ciano. Pensei em pintar uma das paredes do meu quarto da minha cor predileta, mas pode ser opressivo, não sei qual o tom do rosa que ele mencionou. Sei que as bonecas têm que ficar em fundo neutro, talvez branco mesmo. Porra, o cibículo onde o Batman branco vai ficar, a “batmacumba” que quero fazer poderia ter as faces laca gerânio, destacaria muito a imagem e a caveira no prato branco. Quando meu quarto estiver todo pronto e todas as bonecas chegarem eu vou me inscrever para colecionador da semana, ou mês, sei lá, do site da Sideshow. Não acho impossível ser selecionado. Me traria muito orgulho, como me trará muito orgulho repartir as fotos da minha coleção com a comunidade de colecionadores do Facebook. Será o meu “cheguei lá”, só não sei se continuarei adiante, pois nem sei se tem espaço para todos os bonecos no meu quarto. Tomara que sim. A foto da “batmacumba” sairá bastante interessante. Nossa, como quero a Die-Cut, depois do Hulk a minha mais querida. Mas não quero falar nisso. Vou fumar um cigarro. Ver se outros pensamentos aventam. Mas o “altar” do Batman laca gerânio fica massa. Adorei essa ideia.

22h18. Pensei em por que eu escrevo acaso-destino e cheguei à conclusão que é porque são duas palavras, dois paradigmas antagônicos, que descrevem o mesmo fenômeno, como duas faces de uma moeda, não saberia que lado escolher, ser humano que sou e capaz de perceber e criar padrões, nem sempre condizentes com a realidade, eu percebo a causalidade, sei que o decaimento da energia o permite, mas não sei para além disso, não sei se tudo é possível ou inevitável.

 “22:24 - Já vi que o seu acho = não vou fazer. 😛

22h26. Mandei para Blanka. Sua ausência me decepciona, demonstra o exato tamanho que tenho em sua vida. A minha falta de importância, a sua falta de interesse. Mas não desisto. Vou até o fim. Fazendo o meu melhor que pode muito bem não ser o suficiente.

“[22:29, 12/27/2018] Mário Barros: Bom, eu tentei.”

22h31. Mandei para Clementine que ainda não visualizou as mensagens que enviei. Gostaria muito de saber a opinião do namorado dela. Esses últimos posts me deixaram satisfeitos. Também pouco exijo senão o prazer de escrevê-los. Sou muito imediatista, cacete. Acabou-se a terceira página.

22h38. Clementine respondeu e repassará ao namorado.   

FATOS MISTURADOS COM FICÇÃO

O acaso-destino às vezes me fere os olhos e agride a alma. Tão dignos ou indignos quanto eu. Por quê?

22h32. Os filhos do meu irmão jogaram até agora há pouco PS3 aqui no quarto. Não consegui escrever e continuo com um profundo mau-humor. Descontei no meu irmão, coitado. Ninguém me merece e eu não mereço ninguém. Blanka não deu mais sinal de vida, minha mãe nutre um repúdio por ela que beira o ódio. Hoje mamãe me machucou bastante com as armas que eu mesmo entreguei a ela.

22h49. Abracei o meu irmão e pedi perdão, hoje foi um dia indispensável que não precisava ter existido. Percebi o quanto da minha independência tive de ceder para não odiar a vida. E hoje ela foi odiosa em tudo o que me importa. Magoar o meu irmão, onde já sei viu? Alguém que só quer meu bem e a quem só quero bem. Precisava botar um pouco dessa coisa preta dentro de mim para fora e palavras não eram suficientes. Não estão sendo nem serão. Ainda bem que vou encontrar com Ju na quinta. Estou sem sono a internet está uma merda e eu estou uma merda. O que pode acontecer a mais para foder com o meu ânimo? Vou comer para ver se me bate o sono.

-x-x-x-x-

13h19. Meu irmão e sua trupe acaba de partir para Porto. Blanka me respondeu. Não sei se conseguiremos travar um diálogo hoje. Não queria encontrar o meu amigo da piscina. Gostaria que Blanka lesse o meu post anterior do Natal dos Barros e mesmo assim quisesse levar adiante a nossa história. Ainda estou na ressaca da raiva que senti ontem. Vou fumar.

13h50. Não sei o que acontece com mamãe. Com tudo se cansa, parece-me meio deprimida, contrariada com a vida. Certamente não está sentindo a felicidade que ter meu irmão e netos aqui deveria lhe proporcionar. Acho que vou dormir, não estou com paciência para as palavras ou para a internet ou para coisa alguma. Sinto-me eu mesmo cansado e sonolento. Acho que é falta de cafeína, mas não estou disposto a fazer café agora. Quando acordar. É, acho que vou deitar.

19h21. Fui ao supermercado com mamãe para que sacasse dinheiro e repuséssemos o estoque de Coca. Ansiei voltar ao meu quarto-ilha e me imaginar aqui ouvindo música, digitando, tomando Coca recém comprada no ar condicionado me fez sentir necessidade disso tudo e satisfação. Agora que estou aqui posso dizer que me sinto muito bem aqui, entretanto, preciso de mais um cigarro.

19h41. Estou com certo torpor mental, mas não muito. A raiva profunda e rubra que senti ontem agora é vestigial. Não gosto de guardar mágoas, são dos pesos emocionais mais desnecessários que conheço. As pessoas só estão tentando satisfazer os seus egos ou deixar a consciência mais leve. Nossa, já estou com vontade de fumar outro cigarro e repor a Coca. Vou esperar. Minha prima, irmã caçula do meu primo-irmão vai levar o meu Wii U para Sampa, não sei quando o verei novamente. Talvez nunca. E isso não me incomoda muito. Dei o meu Nintendo Switch para os meus sobrinhos hoje. Me incomodou menos ainda. Descobri que gosto dos meus sobrinhos, tenho afeto por eles, especialmente pelo mais velho, acho que vai ser o que vai sofrer mais na vida. Em dois minutos vou pegar Coca e fumar. A luz que mamãe mandou colocar no quarto-ilha melhorou muito a visualização do teclado, mas me desagradou por ser branca, fria, impessoal, hospitalar. Preferia amarelada, gosto quando o mundo assume tonalidades âmbar. Nada que não possa ser mudado quando da reforma.

20h16. Conversei com mamãe a respeito das minhas opiniões sobre a nova iluminação e ela disse que o eletricista ainda vem aqui e que compraria luzes amarelas para substituir essas.

20h24. Meu amigo da piscina me chamou para descer e conversar. Não tenho como dizer não. Ou me falta a dureza de coração para tanto.

22h12. Foi bom. Meu amigo da piscina chamou s Singularidade de ficção como Jules Verne. Quem me dera meu trabalho “A NOVÍSSIMA RELIGIÃO” aqueles doze tópicos e as condições em que me vieram o tornassem um clássico da ficção científica do século XI. A probabilidade de haver vida em outros planetas é grande e a probabilidade que evoluam a ponto de desenvolver tecnologia é grande. Me deu vontade, depois de uma série de pensamentos, de ouvir Landlady do U2, pelos motivos lembrados, emergiu da minha memória pedindo para ser tocada.

Pensando no universo, a dimensão tempo é a mais forte porque ela força as demais a se expandirem, metaforicamente como alguém sopra um balão e faz ele inflar e se dilatar, o espaço seria a superfície do balão, mesmo assim a matéria tende a se agrupar por afinidade química e quanto mais pesados grupamentos, com mais massa, também pelo efeito da gravidade. Por que elétrons orbitam os núcleos dos átomos, eu também não sei, sei que o universo tende à entropia e mesmo assim a matéria se organiza pelo acaso-destino de forma inteligente e complexa capaz de gerar formas de aproveitar de forma mais inteligente a energia, de forma a aproveitá-la da forma mais eficiente e produtiva possível. Eu tive outra viagem, quando entidades que se alimentam de luz através das suas peles vítreas, porém elásticas, imortais, decidem deixar de existir, eles vão para um quarto totalmente escuro e lá ficam até a energia do seu corpo acabar, o que lhe dá muito tempo para pensar sobre o assunto e mudar de ideia. Seria é bastante tedioso, talvez uma cama que drenasse energia e a consciência fosse cessando de existir, como cair no sono, só que nesse caso na inexistência. Os mais jovens correriam para fazer o upload das memórias visto que o ancião deve ter muitas experiências para repartir.

23h30. Acessar a consciência do ancião seria como despir a alma e vestir outra. Assim me parece ser o processo de reencarnação. O eu permanece mas todo o resto do ser está em branco quando nasce. Cada alma escolhe da forma que lhe parecer mais adequada ou que é capaz de se “vestir”. Mas e se for um processo aleatório, como aparenta ser? Embora haja padrões, o que significa que há organização em meio ao caos e se há organização há tendência à inteligência. Tudo o que está organizado pode ser compreendido dadas a inteligência e a experiência necessárias.

23h42. Tem vezes que eu acho que tenho a vida que pedi a Deus, exatamente como imaginei que seria. Blanka está inclusa nisso. Sabe qual é o seu problema, Blanka? Você foi acostumada a ter e depois foi privada disso o que tornou a sua qualidade de vida pior, de uma maneira que você não gostou, então você valoriza demais o deus dinheiro, a capacidade de ter, se submete a algo que talvez lhe agrade, talvez não para ter mais, prefere do que pedir aos pais, privados que são e mesmo assim proveem todo o necessário, mesmo assim quer poder ter futilidades e quer ter logo. É quase um vício. Fui longe agora. Saiba que eu lhe aceito assim se não vier querer extrair isso de mim. Acho que vou comer mais. FIM DA FICÇÃO?

Die-Cut Ghosts Night


0h05. Se tivesse que escolher três estátuas para ficar, ficava com o Hulk, a Harley Quinn provavelmente, se ela tiver saído como esperado, e a Die-Cut, que certamente sairá como esperado. Se fosse escolher cinco, eu pegava a Red Sonja e a Babydoll. Se tivesse que escolher sete, o Surfista Prateado faux bronze da Bowen e aí a próxima, eu fico na dúvida, entre a Chun Li ou a Hatsune Miku, mas em verdade acabei de ver uma que certamente levaria: o Man-Thing da Bowen, pra mim o Surfista é mais fraco que ele. Ele é perfeito. Incrível. Uma das mais preciosas será a Little Mei, por ser, além de rara, feita e produzida por um cara em casa, no Japão e será pintada por Daisy à mão e com pintura personalizada e cuja pintura do vestido eu vou pedir para que ela me surpreenda e se possível me maravilhe. “Surprise me. If possible, amaze me” é o que escreverei para ela em 2020 quando espero pedir a mamãe para pintar os dois últimos kits tenho lá, visto que já vou dar a entrada para ela das duas figuras que ela encomendou de artesãos chineses a serem lançadas no terceiro e quarto trimestres de 2019. Ela já gastou o dinheiro dela em meu nome, não posso dar o calote. Aí com essas duas encomendas já a ela e mamãe regulando o meu gasto com bonecos, merecidamente, não posso comprar nada de novo esse ano. A que vem no terceiro trimestre é a Die-Cut, a minha número dois, eu sou apaixonado pela figura, completamente apaixonado. O Hulk só fica em primeiro porque já é uma parte importante da minha vida e não para de me fascinar, sua sensação de movimento, muito difícil de transmitir em uma estátua que é a cabeça, os ombros e pequena parte do peitoral, portanto desmembrada, mas a mim parece que avança na direção que olha. Queria mantê-lo sempre nessa posição que está, mas se vier alguém conhecer o quarto, fica baixo para ver e de costas para quem entra, a não ser que seja uma criança, como pude perceber com os meus sobrinhos, que demonstraram pouco interesse pela obra que me causa tanto encanto com a sua anatomia totalmente irreal, mas que de alguma forma parece extremamente harmoniosa com o todo, para mim uma obra-prima, deram o trabalho perfeito ao escultor perfeito, visto que nenhuma dos seus outros bustos me impressionaram, seu estilo, nas minha opinião atingiu a expressão mais perfeita e adequada no Hulk. Não queria nunca mudá-lo daí e desta altura de onde olho, mas acho que vou fazê-lo, em prol do visitante. Mas vou colocar uma base que gira para colocá-lo na posição ideal para mim quando não houver visitantes. Enquanto escrevo olho longos estantes para a figura. Sabe a ideia louca que me deu? No display do Batman Branco (tomara, tomara que a MoAF não venha cobrar os descontos-mutreta que apliquei neles através de um defeito no seu sistema) colocar à sua frente, de um lado, a caveira-coração e do outro, o esquerdo, dois negócios de colocar vela, com uma preta e uma vermelha. Para parecer um altar meio satânico, ficaria muito escroto. Poderia pôr o cânio-coração em cima de um prato de sobremesa, acho que caberia, acho que vou fazer isso. Hahahaha. Ah, e botar a caixa de feitiços que meu padrasto sugeriu comprar para enviar com as estátuas de umbanda/quimbanda que vendia no eBay, mas para as quais o público desapareceu.




1h14. Fui fumar e me veio à cabeça que o melhor filme de ficção científica que eu já vi foi 2001: Uma Odisseia no Espaço, seguido por Matrix e Interestelar. E o meu gênero favorito é ficção científica, houve boas nessa década, que tratam de assuntos que me agradam, em especial quando fala de alguma inteligência artificial e mais especialmente quando trata de inteligências que não são do mal, mas até Terminator 5 me agrada e Matrix me agrada muito, só acho que nos fundiremos à máquina por vontade própria uma vez que tenhamos a possibilidade de experimentá-la. O homem é atraído pela tecnologia, bem, a maioria. Meu pai não era. Os Barros, homens, da geração deles não são ou eram, o mais ligado acho que é o meu terceiro tio, que mora em Natal, mas nem esse o é muito. Valorizar a tecnologia é desvalorizar o humano? Depende, eu acho. Experiências virtuais são alienantes? Ou desumanizantes? O que é a realidade? Não é aquilo que existe e tanto existe que é percebido por nós com os nossos limitados sentidos? Então tudo o que percebemos com os sentidos é real? Inclusive a realidade virtual cuja única materialidade que tem são pixels acesos numa tela, tudo o que existe é luz e som (na verdade um grande caminho, repleto de tecnologias e mão-de-obras de vários segmentos foi preciso ser percorrido e continua a ser para que esse mundo em cima do mundo se manifeste)? Eu acho que tudo o que existe é real, mesmo que em forma de código lido e gerado por máquinas movidas a eletricidade. Não acredito no além, mas acredito no inconsciente coletivo. Acho que já o acessei algumas vezes. Acho que já atingi o nirvana uma vez. Acho muita coisa, como podem perceber e o que busco é só receber todos os bonecos e uma namorada. E que meu quarto-ilha possa acolher todos eles de forma agradável. Quando penso em namorada só penso em Blanka. Mas é difícil ter esperanças a não ser que no dia 27 ela me seja recíproca. Se dia 27 houver. Dia 27 é hoje! Meu deus. Ainda bem que tenho Ju logo mais.

“01:54 - Hoje é dia 27. Você pega os resultados das provas e...? De toda sorte, que seja um dia bom de ser vivido por você. E por mim, por que não?”

1h55. Postei para Blanka. Vamos ver qual resposta virá, se alguma.

1h58. Nossa, pensei em um bocado de coisa agora mas estou com preguiça de escrever vou tentar sintetizar em pequenas frases: sobrinhos no mar Porto, poético, belo; um guioza frito por preferência da dama; não vou dar meu cartão pra você, Mário!; bonecos que levaram a isso, todos valeram a dura pena que espero que um dia se reverta, afinal, só tenho os meus kits para pintar. Posso fazer dois por ano, como presente de aniversário e Natal. Sei lá. Queria ter R$ 250, R$ 300 para sair com Blanka, quando motel ou restaurante, cinema com lanche, balada. Certamente vai ser muito mais barato que os bonecos. Tudo isso se a miúda muda vingar. Mamãe não a quer dentro do prédio, então nada de aniversário do meu irmão para ela. Nem para ela, nem para mim. É meu direito me ausentar em protesto. Nem sei se ela viria. Já disse que tem que trabalhar no dia 29. De qualquer forma virou uma impossibilidade por causa de mamãe. Nada posso fazer. Mas ao dia 27 eu tenho direito, será o meu presente de Natal que pedi a Blanka, que a priori concordou. Mas anda tão incomunicável que nem sei. Acho que dentro em breve vou dormir. Só escrevi ficção hoje, passei a noite no mundo dos sonhos.

2h33. É bom deixar a mente divagar. Me apetece. Lidar com o quase possível, o que está no limbo entre ilusão e realização. Ou o que nunca vai acontecer. Acho que mandarei uma mensagem de ano novo para o meu tio que afirmou que vamos publicar o livro, sim. Direi, “Tio amado, desejo um 2019 iluminado por mais que um período obscuro, de obscurantismo, desponte no horizonte”.

2h38. Estou tendo enorme prazer em viver esse momento, muito bem comigo mesmo, disse tudo o que queria, me sinto aliviado e leve. De bem com a vida, em paz. É bom ter momentos assim e deveriam ser mais frequentes que momentos de perturbação da alma. E é o que geralmente tem acontecido, as perturbações têm sido esparsas, por mais que tenha havido uma concentração de negatividade muito grande em mim dia 25. Foi um dia nocivo para mim. Me fez mal, odeio dias assim. Ainda bem que são extremamente raros. Tantas más notícias de uma vez só. Até raiva do meu irmão eu senti. Acho que a última vez que tive raiva dele depois da infância foi quando recebi o esporro da Coca nos Estados Unidos.

2h57. Vou acabar de comer o gelo para dormir. Eita, mas preciso comer alguma coisa antes de dormir para não levantar no meio da madrugada e ir quase sonambúlico comer. Sucrilhos com leite e Toddy. Boa noite, dia ou tarde. Ou um seguido do outro repetidas vezes.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

INFELIZ NATAL


Vários pensamentos surgiram e evaporaram no processo de publicação e divulgação do meu post anterior. Tudo o que quero hoje é ficar no meu quarto-ilha escrevendo e navegando na internet. Tudo o que preciso estou tentando conquistar ou está planejado. Adoraria que tudo corresse conforme os meus desejos. Mas a vida não é assim, eu tenho que a fazer assim e ainda há coisas que escapam ao meu poder. O que independe de mim é o que depende de terceiros. Eu só reino absoluto no quarto-ilha, aqui me sinto dono do mundo, do meu mundo, da parte que me cabe dele. Não preciso de mais espaços, eu espero. Afinal, todos os meus bonecos têm que caber aqui. Começo a duvidar se isso é possível. Penso em Blanka com certo desprendimento. O encontro do dia 27 vai ser crucial, se correr como o projeto. O do dia 29 seria crucial por outra razão, o encontro com a minha mãe. Se é que ela vai descer. Não tenho muito o que dizer, não encontro nada em mim que precise ser verbalizado. Temo que minha mãe tente impedir tais encontros. Ela demonstrou essa intenção. Ela não tem o direito. Eu quero fazer uma coisa que deixaria essa noite mais interessante. Acho que vou fumar um cigarro. Olhar os dedos da Little Mermaid quebrados é um tanto desolador, espero que a Gatinha opere a sua mágica. Espero tanto quanto que eu e Blanka rompamos o bloqueio do toque no dia 27.

20h59. Sou outro do que deixou essa cadeira para fumar. Isso é bastante interessante. Tive pensamentos romântico-calientes com Blanka. Não vai se dar dessa forma, creio. Pensar nisso me incomoda um pouco agora. Por isso fizemos a combinação no encontro anterior. Para que incômodos como esse tenham menor probabilidade de emergir. Penso em levar o computador para escrever enquanto ela dorme. Talvez compre o Viagra, só por via das dúvidas. Às vejo acho que achamos ou o acaso-destino nos ofereceu o companheiro perfeito um para o outro.

21h07. Pensei na festa do meu irmão agora com um misto de vergonha e prazer com a ideia. Nem incluí Blanka ou mamãe na equação. Mas quando as incluo não consigo prever o resultado. Não faço a mínima ideia. Acho que vou pedir a mamãe os remédios, comer e ir dormir. Não. Internet primeiro.

21h16. Vi o anjo “Querumbeck” na frente da prefeitura capixaba. Me indaguei como tais coisas viralizam. Já me sugeriram o YouTube ao invés do blog. Não me vejo nesse papel. Seria ainda mais tedioso para o público. Até que adquirisse desenvoltura para falar sem ler, nossa, acho até impossível isso acontecer. Aliás, o eu de agora repudia a ideia de me tornar “youtuber”. Prefiro blogueiro fracassado mesmo, me sinto mais realizado e me dá muito mais prazer me escrever do que me dizer. “Feita mais de luz que de vento, palavra”. Se bem que com Blanka me narrei bastante, fui bastante eloquente. Nossa, agora estou com medo do nosso encontro no dia 27. Sei que isso vai passar, há quatro dias para me acostumar. Será que as mulheres têm o desejo inato de terem suas vaginas preenchidas por algo, será que há um interesse inato pelo pênis? Não sei nem nunca vou saber, o que sei é que os órgãos sexuais sempre despertaram a minha curiosidade, desde pequeno. Vou fumar um cigarro.

22h06. Já tomei os remédios. Eu poderia ficar com mamãe enquanto ela cozinha, me limito a fazer um pouco isso a cada Coca que pego e cigarro que fumo. A internet voltou ao seu normal vigor. Ou pelo menos não está insuportavelmente lenta. Isso é bom. Melhor seria beber esse copo de Coca e ir dormir.

22h11. Já está tarde, preciso do cigarro saideiro para ir dormir. E precisarei acordar cedo para ir ao Natal dos Gonçalves, que pretendo narrar ainda nesse blog. Eu não narrei propriamente o dos Barros, mas não era o que o eu que chegou em casa ontem pedia. A probabilidade de as bonecas não chegarem quebradas de forma irrecuperável soltas dentro de uma mala é pequena. Acho que a chance de sucesso aumenta se forem envoltas em roupas e se as partes soltas venham num “tapauer” acolchoadas por esponja dentro da minha mochila. Percebi que mãos são especialmente frágeis.

22h29. Passei menos tempo com mamãe, fui me despedir dizendo que iria dormir agora, mas não sinto sono. Entretanto, acho que se deitar na cama adormeço. As mãos de Blanka são lindas, macias e seu carinho é delicado, quase um não tocar. Isso me agrada sobremaneira. A primeira vez que toco a pessoa desejada costuma ser a mais apaixonada e aproveitada de todas, a rotina diminui isso. Eu acho, nem lembro. Com cada namorada aconteceu de forma diferente, eu acho. As poucas namoradas. Já preciso fumar outro cigarro com Coca, aí nem volto para cá, vou direto me deitar.

2h43. Não consegui dormir até agora. Vou fazer isso agora.

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0h41. Nem todos chegam lá. Poucos são os que se contentam com o que têm e geralmente os quem têm menos são os mais contentes. Eu cheguei lá, se conseguir consolidar uma relação com Blanka. É difícil e contra todas as expectativas, mas não é impossível. Eu já flertei muito com o impossível e sei que cara tem. Eu chegarei lá, ou irei além de lá se eu e Blanka quisermos um ao outro, se fizer sentindo para ambos ficarmos juntos. Isso ainda não descobrimos. Mas falo que Blanka é para além de lá porque sou contente com o que tenho e estou mais em paz com o que sou. Já aprendi a viver sem dar e receber o carinho de uma mulher, por mais que esse vazio se faça.

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7h05. Acordei de 3h30 e não consegui mais dormir, mergulhei no maravilhoso mundo dos bonecos e lá fiquei até agora. Fiz uma pesquisa para Daisy da YetiArt, o ateliê chinês onde mando pintar meus kits, a respeito do valor de moedas de réis brasileiras, depois ela me contou que foi porque comprou uma faca que vinha decorada com duas moedas de réis. Fui fumar e botei um café para fazer, a Coca está acabando. Estou com bonecas na cabeça. O receio que tenho é de que não caibam no meu quarto. Espero que a arquiteta dê um jeito nisso, tenho esperanças. A minha caveira-coração já está na alfândega brasileira. Deve vir algum custo alfandegário para eu pagar. Queria dividir meu quarto no que tange as bonecas em secções: Batman, bonecos de 1/4 e 1/5 homens (poderia haver uma de monstros), bonecas de 1/4 [MB1] femininas, toy art mais videogames e minha coleção de PVC. Fora os meus CDs, filmes, games, livros, HQs e pôsteres. Acho que quero demais. Eu sempre quero demais. Acho a tarefa difícil, mas não impossível. Não tenho tantos bonecos grandes assim. Também não tenho poucos, sou um colecionador nível médio, pelo menos é o que posso aferir olhando as coleções de outros membros da comunidade. E o que vem para Recife fica, pois as caixas são jogadas fora, não há como vender ou enviar. Dos três bonecos que o meu irmão trouxe, as duas mais importantes vieram quebradas nos lugares mais improváveis, o que é melhor do que os prováveis. Espero que a Gatinha dê um jeito, só acredito nela para consertar as peças. Vou tomar um café com cigarro.

7h38. Ontem foi o Natal dos Gonçalves, minha família materna. Foi alegre, interagi o que pude e até almocei um pouco. Minha mãe me perguntou a diferença entre o Natal dos Barros e aquele, não soube o que dizer, pois os vejo cada vez mais parecidos, o mesmo distanciamento ou aproximação cada dia mais se equivalem, o carinho que tenho por ambas as famílias cada vez mais se equipara. Curioso sentir isso acontecer e um tanto triste pelo lado dos Barros, embora lá ainda me coloque e troque mais abertamente que com os Gonçalves. Lá, Blanka foi aceita, inclusive por meu primo-irmão e meu irmão que sabem de toda a história.

9h50. Minha mãe acordou e me disse que cancelou o meu cartão de crédito e que não aceitaria Blanka tal como é. Ou seja, arruinou meus sonhos de ter o quarto que sempre desejei e de ter a garota que se adequa perfeitamente às minhas necessidades atuais. Começou bem o meu dia, né? Arruinou minhas fontes de felicidade de uma patada só. O que ela não sabe é que o cartão dela é o secundário tanto na Sideshow quanto no PayPal e não tive coragem de lhe dizer. Estou me sentindo muito para baixo. Quero muito ter esse pernoite com Blanka, mas só posso tê-la se tiver dinheiro e só tenho dinheiro se mamãe me provier. Não sei se vai fazê-lo. Nossa, não imaginaria nunca que a curatela me traria até esse momento de sepultar os meus desejos mais queridos. Vida de merda. Tudo por causa da minha fobia ao estresse do trabalho. Por isso sofro esses abusos de autoridade. Concordo que o cartão veio alto esse mês. Não virá nos subsequentes, pelo menos não tão alto. Acredito que, no máximo, metade do que veio esse mês. Só falta o truque do MoAF que apliquei três vezes não funcionar. Mesmo assim não vai chegar ao valor desse mês. Não sei o que fazer da minha vida agora. Ouvindo U2 Songs Of Experience. Costumava me lembrar a liberdade que eu tenho, mas hoje fui amplamente tolhido dela. Só me restam as palavras, isso é muito pouco. Só isso até o final dos meus dias? Quando pensei que a minha felicidade estava se encaminhando para a sua completude, minha mãe ceifa tudo. Caralho nem as palavras eu tenho, minha mãe entrou no quarto e me censurou com chantagem emocional.

12h14. Estou com a cabeça mais fria, conversei mais calmamente com mamãe e chegamos a um entendimento, pelo que entendi, manterá o seu cartão até março e me dará dinheiro para sair com Blanka no dia 27. O meio-termo. Mesmo assim me sinto mal, ainda há raiva e frustração dentro de mim. É certo que gastei excessivamente durante a Black Friday, é certo que Blanka tem peculiaridades que desagradariam qualquer sogra do mundo. O que acho equivocadas são medidas extremas sem uma conversa ao menos. Tudo me foi imposto goela abaixo logo que mamãe acordou. Aliás já me veio com o cartão cancelado. Mal sabe ela que estava tratando com Ju justamente em assumir o controle que admiti ter perdido durante a Black Friday e em como com autocontrole se conquista mais liberdade. E que sentia prazer em reassumir o controle, me dava uma sensação de empoderamento, admitir que passei dos limites e restabelecê-los. Quanto a Blanka, eu e Ju conversamos que tivemos um começo bastante complicado e que a gente tem que viver para ver se vale a pena para ambos essa relação que se constrói. Não posso construí-la sozinho, nem estou disposto a isso. Meu irmão deu com a língua nos dentes a respeito do celular e fodeu a mim e a Blanka de verde e amarelo com mamãe. Esse dia de Natal está sendo uma merda. Só porrada, o acaso-destino tirando onda e botando para foder em mim, eu mereço, nada é imerecido e tudo veio de uma vez. Que seja. É a vida e segue. Mandei para Blanka o link do post anterior, no qual lhe dou a alternativa de desistir de mim, se lhe for mais conveniente. Nossa, me sinto muito mal. Acho que voltarei à solidão hoje, se é para tudo dar errado, que dê tudo de uma vez. Colho o que semeei e fico de mãos vazias em relação ao que não consegui cultivar, o afeto de Blanka. É a vida e segue até que um dia essa condição inútil para com a minha morte. Não me importaria de morrer hoje. Odeio sofrimento e estou sofrendo. Foda-se tudo, foda-se eu. Vou fumar um cigarro com Coca e me deitar ou ir comprar a porra das Cocas e os sorvetes. Caralho, estava numa paz tão grande, me sentindo bem. É nenhuma. Foda-se. Seja lá a porra como a porra for.

12h55. Nossa, como estou transtornado, não sei como voltar ao meu equilíbrio. O tempo é senhor de todas as coisas. Pelo visto o estigma que carrego é maior do que imaginava, meu irmão contar da buceta do celular por achar que eu não estava agindo como uma pessoa normal, mas sim como um doente. Ou sei lá por que caralho de motivo me deixa ainda mais puto. Me faz pensar que realmente somos todos egoístas até a medula, meu irmão preferiu satisfazer seu ego e o da minha mãe. É justo entre o santo e sua mãe ou o doente fracassado e a puta quem é a dupla mais merecedora de ter os egos saciados? Não há sombra de dúvida. E eu repito, foda-se, o tempo há de me tirar desse estado. Fazia tempo que não ficava tão injuriado. Que sentimento nojento e desprezível e como me envenena. Me seduz com seus olhos de serpente. Foda-se. Foda-se. Foda-se. E ainda vou ter que ir comprar sorvete, caralho. Foda-se. Vou comprar esse caralho de buceta de sorvete.

13h55. Os supermercados estavam fechados, só havia a loja de conveniência do posto e o sistema estava fora, então foi bom mamãe me dar em dinheiro, pois cartões não eram aceitos. Comprei as porras dos sorvetes e os refrigerantes. Minha mãe disse que meu irmão falou do celular sem querer. Há muito tempo já. Atos falhos, sei bem o que significam. Foda-se. Essa raiva não dura para sempre. Só não quer passar. Dá vontade até de dormir para ver se melhora. Eu estou com uma agressividade dentro de mim que desconhecia. Não gosto de quem sou no momento. Acho que muitos botões negativos foram apertados ao mesmo tempo hoje. Muitas frustrações e agressões. Todas merecidas, talvez isso seja o que mais doa, estar errado. Mas comprei a merda do celular com o dinheiro obtido através das vendas do eBay. E a porra da Blanka não dá sinal de vida. Nossa, estou muito exasperado, a raiva é corrosiva e parece que inebria, infecta a alma e a deixa encarnada, os nervos à flor da pele, para eu mandar tomar no cu falta uma gota. Por mim passava essa porra de Natal no meu quarto, não quero ver ninguém, pois sei que estou um poço de negatividade. A vontade é de gritar e humilhar alguém. É uma vontade negra e amaldiçoada, por isso preferiria me ausentar, para não maltratar ninguém. Destratar ninguém.

14h18. Acabei de ser sarcástico com Blanka. Porra, que desprezo do caralho. Puta que o pariu. Quem falar comigo hoje, neste estado emocional em que me encontro, é bem passível de ouvir algo desagradável. Ninguém merece isso. Eu sei o quanto é ruim, já passei por isso mais vezes do que gostaria. Decidi. Vou fumar um cigarro e me deitar.

17h37. Acordei, mas ainda estou ressabiado, incrível. Nada de Blanka até agora, acabo de ver. Não consegui falar com o meu irmão adequadamente. Não falei com ninguém a não ser com a minha cunhada. Os meninos assistem TV na sala, ignorantes de que ganharão o Nintendo Switch. Será o único lado bom do meu dia. Queria não carregar esse ressentimento no peito, mas ele insistiu em não me abandonar. Preciso de outro cigarro. Aparentemente mamãe nada disse sobre o motivo do meu comportamento pouco afetuoso. Toca Orange Sky a música que meu irmão dedicou a nós três, irmãos. Quando será que as palhaçadas e brincadeiras de pais perdem a graça para os filhos? Se é que perdem.

18h50. Os meninos, os dois filhos mais novos do meu irmão, em breve estarão jogando Minecraft aqui no meu PS3. Mal sabem que ganharão o Nintendo Switch. Nossa, meu astral ainda está ruim. Blanka também não deu notícias, talvez a carta lhe oferecendo liberdade do nosso compromisso tenha dado a ela a oportunidade de que precisava para me abandonar, sei lá. Do futuro sei tão pouco, nunca esperaria a carga pesada que recebi hoje de manhã, meu peito ainda está dorido. Mas já entrei na quinta página. Vou revisar e postar. Que venha o que o acaso-destino trouxer.


domingo, 23 de dezembro de 2018

NATAL DOS BARROS




“[00:17, 12/23/2018] Mário Barros: Cheguei, fumei, obrigado, avisa aí a titia, please. Preciso escrever ouvindo um som agora.
[00:19, 12/23/2018] Primo Mateus: Beleza Mariola. Vou avisar. Boa noite irmão
[00:20, 12/23/2018] Mário Barros: 👊”

0h21. Blanka disse que lia meu blog, queria tanto acreditar nisso. Acabo de voltar da casa da minha tia-mãe. Eu tenho adoração pelo meu irmão. É algo que talvez nem seja saudável, mas que eu acho muito bom, me é muito precioso privar da sua companhia, acho que somos absolutamente sinceros e abertos um como o outro, ele é uma pessoa que me faz singular bem. É o homem da minha vida que tem três homens da sua vida para crescer. Para sempre. Eu não terei isso. Infelizmente a vida como eu a dirijo, de acordo com as minhas escolhas, me priva disso. Talvez tenha medo de compromisso tão sério e perene como esse. Talvez algo em mim deseje loucamente, mas o medo sufoca. Há uma solução. E só uma. Que é lança-lo(a) no mundo e o abandonar aos cuidados da mãe. Me eximir completamente da responsabilidade (e também dos sabores e dessabores de levar uma vida acompanhado dele(a)). É a única forma de ter um filho e não influir negativamente em sua formação. Sim, porque me acho uma pessoa, um pai, nocivo e incompetente e preguiçoso. Não seria um bom pai em uma palavra. Prejudicaria mais do que completaria aquele ser que é metade de mim. Não sei como me sentiria quando me deparasse com aquela figura. Com o choro, irritante manifestação de vida e humanidade. Sim, porque me parece humano até o barulho de um bode, sei que não é, mas engana, tem profunda semelhança, parece uma sílaba “mé” ou “bé” pronunciada por algo com um tom de voz quase humano. Ao contrário do som do macaco, onde vejo menos humanidade na vocalização, embora seja bicho de inteligência e cognição muito mais elevados. Vou dar uma olhada na internet, mas antes vou tomar os meus remédios, com um copo de Coca e fumar um cigarro.

0h49. Pensei muitas coisas enquanto fumava. Toca Pictures of You que está incluso em algo que eu pensei. Mas, primeiro, o pensamento mais recente: o sogro do meu irmão falou comigo e eu confirmei que romperia o ano lá em Aldeia, espero que tenha como concretizar essa vontade, tradição, compromisso, oportunidade de conversar com o meu irmão. E de estar num lugar animado, festivo com pessoas legais, de bem, mas com quem não tenho a intimidade que eu acho que teria a obrigação social de ter. Pelo menos vou e nos tratamos com carinho, eu acho. Pelo menos com cordialidade e amabilidade. Antes, me questionei se Blanka lia realmente isso e imaginei um cruel teste enquanto fumava olhando para o hall de serviço e sua portinha vermelha na parede de azulejos verdes-claros, em frente ao elevador: seria uma prova irrefutável de que Blanka leu isso: se ela me dissesse ou escrevesse: “eu leio, incêndio”. Depois pensei em mamãe, que certamente lê esse blog, principalmente agora com o surgimento de Blanka, cujo nome deve relampejar no seu campo de leitura, ávida que está a respeito do relacionamento, e intuí que provavelmente vá se acovardar de encará-la no dia 29, pois não sabe como irá tratá-la, afinal crê que é um ameaça que se fantasia de bênção, ou que quero enxergar como tal, em sua opinião. Acha que eu irei sofrer me envolvendo com ela. Ela só não sabe que eu só vou me envolver com ela se ela se envolver comigo e que não desistirei fácil da luta. Caterpillar Girl, bem pertinente, o tempo transforma, o tempo que passamos juntos fortalece o elo, quero crer, mas a verdade é que nada sei, é tudo muito novo e muito doido para ambos, há mais perguntas do que respostas em nossas cabeças. Acho que foi um grande desafio social ao qual ela teve coragem de se submeter hoje. Mas certamente, se ela quisesse, eu faria o mesmo e me apresentaria aos seus pais. Não ocorrerá num futuro visível. Mas eu iria e teria que encarar o preconceito com a minha idade, talvez. Sabe o que eu pensei em dizer a Blanka agora? “Se você não tiver vontade de sair comigo no dia 27, no dia 29 ou em qualquer dia, se sua vida é melhor e mais fácil sem a minha presença, não se preocupe, seguiremos cada um o seu caminho agora, não me arrependo de nada e serei eternamente grato pelo que você me proporcionou, pelo que me fez fazer e sentir, por me acompanhar, por, num breve sopro, trilharmos juntos a estrada da vida, você me fez sentir um bem enorme, se não consegui lhe retribuir ou cativar, se você acha que isso nunca se dará, se está certa disso, acho que só nos cabe o adeus. Se eu sou mais uma obrigação na sua vida, eu sou uma coisa da qual você não precisa e que, mais do que isso, lhe desgasta e prejudica, pois obrigações pesam na alma, as fazemos a contragosto. Não quero você dessa forma, quero você por que acha interessante, diferente, novo trilhar parte da vida ao meu lado, que podem ser divertidos os momentos que compartilhamos, que quer ir um pouco mais adiante para ver onde esse nós vai dar. Quero que saiba que compartilho do interesse, curiosidade e receios, ou receios outros, mas receios da mesma forma, receios não são bons, mas é o que o novo sempre traz como efeito colateral, ainda mais um novo tão estranho como o que temos agora. Se fosse lhe pedir uma coisa é: seja você, pois eu estou tentando ser eu ao seu lado, e em tudo o que posso. O mais completamente que eu posso. Embora o completamente não exista fora dessas palavras. Aqui eu sou pleno, ouvindo The Cure e sendo pleno no meu quarto-ilha e colocando palavras no Word. Exterminar metade da humanidade com um estalar de dedos é muito pouco para o que posso aqui. Aqui o limite é a minha vontade absoluta e irrestrita, pena a minha imaginação ter atrofiado e encontrar mais prazer fora da ficção, a vontade é de botar para fora, acho que me botar para fora, a mim me parece que sem isso, eu não suportaria levar a vida tal como escolhi nas permissões que o acaso-destino me concedeu e às vezes me presenteou, como é o caso da curatela, de Blanka, das palavras, das bonecas, da mãe, com quem a minha relação anda tempestuosa, por ser um momento de transmutação meu que gera incômodo nela e preocupação, sempre preocupação. Não digo infudada, mas digo excessiva. Talvez eu tenha uma maturidade emocional que ela não reconhece, mas da qual me apodero, pois me permite ser mais meu e menos filho dela. Vou tomar um Coca com cigarro e comer uns biscoitos tortinhas de limão.

1h54. Não havia as tortinhas de limão, mas havia Negresco. Comi uns quatro. Hoje não sinto vontade nenhuma de comer. Para mamãe Blanka é o meu problema principal, o problema principal dela, ela acha que a minha tentativa de viver momentos felizes com uma garota especial (há vários significados para essa palavra e vários se aplicam) é problema dela, que ela tem que tomar a responsabilidade e controle da minha vida afetiva, o que a mim me parece um abuso de poder da parte dela, tem que haver um mínimo de respeito, eu tenho que ter independência na vida, abro mão dela em vários aspectos, mas nesse, não. Esse “problema” e sua solução sou eu que busco, que escolho, eu que dou. Nossa, do que eu mais gosto é quando estamos só nós dois, eu e Blanka. Parece que o resto do mundo não existe, certamente não importa, só importa um e o outro e o que vamos fazer para nos aproveitarmos da situação. Como podemos usufruir da melhor forma da companhia do outro, porque é tudo o que temos nesses momentos, um ao outro. É uma experiência muito íntima. Que muito me lembra uma terapia e quero que cada vez menos pareça com isso e torne-se uma companhia, um troca de outra natureza, de um tipo de afeto diferente e mais igual, embora em qualquer troca haja uma parte que está dando e outra que está recebendo, entretanto, a troca de carinhos físicos possa e deva ser idealmente simultânea, dá-se e recebe-se mutuamente e ao mesmo tempo. Compliquei para definir namorar. Namorar... me sinto e não me sinto preparado, desejo e tenho medo. Mas medo de quê? Acho de não ser retribuído e gerar a repulsa de Blanka. Sei como se sente em relação a abordagens de homens, isso dificulta bastante. Ela tem que se entregar, deveria tentar para ver como se sente. Precisamos construir intimidade para isso. Acho que podemos dar esse passo no dia 27, se mamãe der os meios, ou seja permitir que eu ponha em prática uma decisão que tomei e que só cabe a mim. E a Blanka, que já consentiu, mesmo com tantos poréns, tentar dar esse grande passo. Penso em colocar o Disintegration do Cure para que o momento seja ainda mais perfeito, depois Blanka pode escolher a música. Vou fumar e acho que vou dormir. Desculpem-me se fui redundante, a cabeça orbitou sobre vários temas correlatos. Maria não veio para o Natal dos Barros. Ficou um buraco que dói, pois acredito que ela acha que o esforço não vale mais a pena. Nem eu, nem mesmo Paulo ou as crianças valem a pena o deslocamento. Dá-se por satisfeita com o contato cibernético que é caudaloso, creio. A idade lhe roubou dessas empreitadas cansativas. A recompensa já não vale. Vou dormir, 2h41. Quando acordar, termino o restinho da página.

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16h58. Acordei e há mensagens de Blanka. Ainda estou acordando. A vontade é voltar para a cama. Prometi a mamãe que não o faria, ela me ligou enquanto fumava o primeiro do dia. Foi um sono bom. Queria mais. Parece que amanhã iremos a algum evento familiar encontrar o meu irmão. Vou fumar outro com Coca e bastante gelo.

17h24. Já é hora de acender a luz para enxergar o teclado. Björk toca e é exatamente o que desejo ouvir. Estou ainda sem cérebro. Não sei se acho o desabafo que escrevi a Blanka acima ainda pertinente, pois tenho medo de perdê-la dando-lhe a carta de alforria, por outro lado, não quero forçá-la a nada embora saiba que cada começo, cada construção exija um esforço e um desconforto de ambos os lados. Ontem não estava normalmente em mim ou estava em mim demais. Maria não ter ido foi algo que doeu em mim. Ainda dói. Mas eu compreendo. A sensação dela de não pertencimento, o fato de passar a maior parte do dia esquecida num sofá da sala sozinha, como aconteceu em anos anteriores. Eu entendo e respeito. E dói mesmo assim. É uma ruptura para a qual não estava preparado. Muito provavelmente definitiva. Acho que já estou com disposição de mandar uma mensagem para Blanka. Eita, entrei na quarta página. Estou meio inseguro em relação a esse post. Mas é o que sou, o que fui, o que sinto e penso ou pensei e senti. Dane-se, vou revisar e postar. A internet melhorou bastante hoje. Graças, pois passarei o resto do dia aqui escrevendo o que me ocorre depois daqui e navegando no maravilhoso mundo dos bonecos. Hoje é antevéspera de Natal. Amanhã é o dia dos Gonçalves. Que venha.  

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

DATAS E "DATES"


6h22. Eu fui dormir muito cedo, acordei para comer e perdi o sono. Mamãe apareceu aqui e, como é um comportamento diferente do dos cidadãos normais, já achou que eu estava com algum problema de ordem psicológica. O que ela não entende é que deixei de seguir os padrões sociais há muito tempo, a maioria deles não me agrada, não consigo nem quero me adequar. Prefiro levar a vida do meu modo, na minha toada. E minha toada inclui momentos como esse. Vou fumar um cigarro, um dos últimos, ainda bem que recebo carteira hoje. A internet está uma bosta. Mesmo assim fui completamente absorvido pelo maravilhoso mundo dos bonecos.

6h34. Só um coração de mãe sabe o que um coração de mãe passa e é capaz, especialmente tendo um filho tão esquisito quanto eu, com hábitos e gostos para lá de peculiares. Sei que estou vivendo a vida da melhor forma que posso, da melhor forma que sou capaz de viver, mas acho que tudo o que ela vê é um grande talento, um grande potencial desperdiçado e desperdiçando a vida. Aí já pode ser imaginação minha. Sei que faço exatamente o que gosto e quero. Espero que ela não cancele o meu cartão até março, seria uma bronca sem tamanho. Espero que não cancele o cartão nunca, pois agora que estou paquerando ele se faz mais útil do que jamais foi. Além da Rebel Terminator que está gerando estes valores elevados no cartão, pleiteio o Azure Dragon, mas tudo depende do custo de envio para o Brasil. Espero até agora a posição do cara da fabricante e ele não foi capaz de me dar resposta. Bom, não quero falar de bonecos agora. Queria falar da minha mãe, mas o que dizer dela? Está mais amorosa, mais preguiçosa, mais combalida pela idade e pelo tratamento contra a volta do câncer. Terá grande felicidade quando o meu irmão US chegar com a sua turma, assim como terei também. Falei de certa vergonha no lidar cara a cara com o meu irmão na terapia, mas não preciso fazer nada que não esteja disponível a fazer. Tenho certeza que meu irmão me compreenderá, é a pessoa que mais me compreende no mundo. Minha mãe é a que mais sabe de mim, mas não consegue compreender a maioria das minhas escolhas e tem dificuldade de aceitá-las, embora esteja aceitando muito mais do que costumava fazer. E por isso sou grato ao tempo e ao esforço dela, pois tenho certeza que se esforça para tentar entender o que vai na minha cabeça que é tão diferente do que vai na cabeça dela e dos demais com quem lida. Embora, como e todo e qualquer um estou tentando levar a vida da melhor forma que consigo. Minha mãe acordou, falei tanto nela que fiquei com saudade da sua companhia, vou lá ter com ela, depois volto, há tempo o bastante para essas palavras. Tempo demais até.

7h55. Mamãe soltou os cachorros em relação a Blanka. O canil inteiro. Sua total descrença na relação que pelo menos eu estou tentando construir, falou inclusive palavras de baixo calão que não cabem a mim reproduzir, se exacerbou tremendamente e justificou todo o seu preconceito e desconfiança advinda desse preconceito como o desejo de uma mãe de proteger seu filho. Que seja, disse que sentiu-se mais aliviada depois do desabafo indiferentemente se as palavras me agrediram ou não. Sinceramente não sei que expectativas ter em relação a Blanka se mal fala comigo desde o nosso último encontro. Sei lá da vida. Sei que estou zumbi e gosto desse estado, traz uma paz interior muito grande e gostosa de sentir, talvez por isso tenha ouvido o sermão de mamãe com tamanha tranquilidade. Imaginei que a minha relação com Blanka seria um desafio com vários obstáculos, difícil, mas não me veio à cabeça que encontraria tamanha rejeição de mamãe.

8h33. Me perdi com conversas com o eletricista, o pintor e no maravilhoso mundo dos bonecos. Bom mamãe está aliviada agora que desabafou toda a sua ira em relação a Blanka comigo. Não acredita que ela vá ao Natal dos Barros. Não acredito que ela não vá falar comigo hoje. Acharia falta de consideração. Mas ainda é cedo. Hawkmoon 269 passando, potente e maravilhosa, U2 no seu melhor, para o meu gosto. Ouvi muito esse vinil. Quando Blanka nasceu não havia mais vinis. Nossa, a diferença de idade é gigantesca e eu acho isso uma vantagem. A juventude feminina não tem preço. É o espetáculo mais belo que o universo pode proporcionar a esse primata bípede que vos escreve. Pelo menos minha mãe disse que eu escrevo bem. Gosto de ouvir isso, embora custe a acreditar que algo de bom parta de mim, há sempre um bloqueio, uma negação, uma relutância, desconfiança. Quem me moldou tão inseguro e tão desacreditado das minhas qualidades? Por que continuo a me colocar assim? Por que não aceitar que tenho qualidades, pálidas e fugidias, mas tenho? E, mais difícil ainda, aceitar que elas me bastam para me ver como uma pessoa digna, não digo ilibada, mas normal, tão pecadora como qualquer ser humano, com alguns lapsos de graça.

10h02. Nesse momento, estou meio puto de não ter notícias de Blanka. O veneno que minha mãe enfiou-me goela abaixo fazendo efeito. E é bastante tempo sem falar comigo mesmo. Quero só saber a justificativa.

10h18. O tempo se arrasta. Vou fumar. E beber Coca.

10h32. Me disse chateado com Blanka a esta pela falta de comunicação.

10h40. Eu não sei mais o que dizer, nem sinto vontade de dizer. Talvez seja o cansaço o pior que o pintor está trabalhando na porta do meu quarto, então não posso fechá-la e ligar o ar para um cochilo.

FOTO DO PINTOR QUE COM A INTERNET BOSTA NÃO CONSEGUI CARREGAR


19h31. Dormi até as 16h e fiquei conversando com Blanka até agora. Foi bom.

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14h51. Estou conversando com Blanka, o que é bem melhor que escrever para quase ninguém. Depois conto do exame de pulmão que fiz hoje.

15h28. Ela tem afazeres, então cá estou de volta à escrita solitária. Talvez nos falemos amanhã. Não sei. Sei que a médica viu meu raio-X, meu teste de função pulmonar e achou tudo normal, não falou, como da primeira vez, que eu havia perdido 38% da minha capacidade pulmonar. Estranhei, talvez tenha feito o exame de forma errada da primeira vez e, como o aparelho agora foi diferente, tenha o utilizado melhor. Realmente um mistério. Mas se nada há de anormal, fico feliz. Pediu apenas que continuasse usando a bombinha até acabar. Estou pensando em Blanka, em como despertar o seu afeto por mim. Para isso é necessário, creio eu, que me deseje sexualmente, para além do carinho, quero muito que aconteça o encontro do dia 27. Não sei se irei para Porto com o meu irmão, entretanto. Caso vá acho que retornarei no mesmo dia, mas acho a probabilidade de mamãe ir no dia 26 mais plausível, então no dia 27 estaria livre. Veremos.

17h11. Não sei como o tempo passou até este momento, mas passou. A internet está um droga, falarei com mamãe para que ela, ou eu, tome uma medida antes de o meu irmão chegar porque ele e minha cunhada vão precisar de internet. Mas não quero pensar nisso agora, nem quero escrever. Queria era poder levar Blanka para Porto, mas sei que mamãe vai ser terminantemente contra, ademais nem sei se Blanka teria disponibilidade para ir. Nem sei se mamãe vai. Deixa para lá, já estou querendo demais. Mas queria um pernoite com Blanka no dia 27 e sua presença na festa da piscina no dia 29, caso realmente haja. Essas duas coisas acho mais possíveis. É, mas a prova de fogo vai ser agora dia 22, no Natal dos Barros. Se conseguirmos sobreviver a ela, creio que haverá uma maior consolidação do casal que pretendo que nos tornemos. Depois desse dia, acho que a nossa relação fluirá de uma nova maneira, mais fácil, não sei, posso estar imaginando coisas aqui. Desde que percebi que não sei distinguir o que factual do que é mera imaginação dentre as coisas que me passam à cabeça, acho que se projeto qualquer coisa, ela não passa de ficção. Embora Blanka também esteja achando que esse dia 22 será um divisor de águas para a gente. Estava tranquilo, já volto a ter receio e ansiedade quanto ao dia. Bem, o que tiver de ser será. Estou otimista apesar do pé atrás. Encontrei a garota que tem as particularidades que se adequam às minhas necessidades. Não sei se preciso mais do que o que teremos à nossa disposição, nossos encontros não serão tão frequentes, ou serão tão frequentes quanto desejarmos. Mas vai ainda um longo caminho até ela realmente querer me ver, sentir minha falta. Ela é emocionalmente muito fechada, especialmente no que tange a homens. Minha intuição ou imaginação acredita ser possível, é ter paciência. É um processo, um difícil processo, especialmente para ela. Queria que as coisas avançassem antes da alagoana ressurgir, se bem que isso nada muda a natureza aberta da nossa relação. Na nossa relação, para o bem ou para o mal, não há espaço para ciúmes. Odeio ciúme, é um sentimento corrosivo e mesquinho. Odeio sentir. Até agora não se deu. Nem pode se dar. Ela tem Dande como a pessoa da sua vida, tem isso bem cristalizado no seu ideário.

19h53. Conversamos ainda um bom bocado, talvez nos vejamos nos dias 22, 27 e 29. O dia 27 sendo meu presente de Natal, um pernoite no motel que eu tanto pedi. No Senzala, que achei mais ajeitadinho que o Olympikus, num quarto com banheira. Pedi que considerasse com carinho e me desse a resposta após o dia 22, ela disse que daria no próprio dia. E disse que topava vir para o aniversário do meu irmão no dia 29. Espero que após o dia 22, mamãe encasquete menos com Blanka. Será o momento de a “sogra” conhecer a nova “nora”. Nossa nem consigo imaginar tal encontro. Será desconfortável para ambas, mas acho que ainda mais para mamãe, o preconceito que carrega é enorme.

20h17. Fui fumar um cigarro e me perdi do assunto por um momento pensando que este não seria o momento apropriado para morrer, injetado de vida que estou. Os próximos dias prometem só coisas boas, é uma época muito boa para ser eu. Se tudo correr minimamente como planejado, tem início uma fase muito feliz da minha vida. Em verdade acho que o embrião dela, quiçá o feto, já esteja formado. Não sei realmente. É tudo muito novo, uma descoberta, que vai se desnovelando a cada novo dia. É uma novela a minha vida agora, de enredo elaborado, com drama, mistérios, verdades, segredos e o romance que se constrói mas que não se consolida nos primeiros capítulos, os primeiros capítulos foram em verdade bem sui generis, a novela promete ser boa, repleta de emoções.

21h17. Enquanto caminhava rumo a pizzaria uma parte autônoma ou secundária de mim me conduzia até lá, visto que eu estava pensando em coisas todas outras. Todos na pizzaria me receberam com um sorriso de simpatia mútua, pois sorri também, feliz em revê-los. Quero divagar por outras paragens. Me vem a chegada do meu irmão, mas não é sobre isso que quero falar. Bateu o modo antissocial em mim, nossa como odeio, Blanka o conhece bem, se deu no nosso último encontro. Lutei contra ele e agora me aparece de novo. É algo do que devo dar um tempo agora, esse medo de enfrentar as pessoas, do social. Não preciso disso agora. Imaginei uma cena fictícia agora, na casa de uma amiga, na madrugada que se iniciou com o fim da celebração do seu aniversário ou, antes ainda disso, com a missa de sétimo dia de seu pai. Ficamos o marido, dois amigos dele e eu, depois de um bocado de cerveja, eu não estava bebendo, acenderam um baseado e eu fumei. Entrei numa vibe legal com eles falando de filmes de super-heróis, foi quando me deu vontade de ver Deadpool, pelo o que o melhor amigo do marido propagandeou do filme, que ainda estava nos cinemas à época, eu acho, até que chegou o momento que me travou: o marido botou quatro carreiras de cocaína e cheirou uma numa nota de cem reais enrolada, ofereceu o canudinho e o espelho a nós, os demais entraram na onda, primeiro o melhor amigo, depois o namorido de outra amiga nossa que esticaram conosco da missa para o bar para a casa do casal, eu fiquei mais meia-hora e chamei um Uber pra casa enquanto discutiam se filmes de super-heróis e fantasia baseadas em séries de livros, como Harry Potter poderiam ser considerados clássicos, eu só considero clássicos dessas categorias o The Dark Knight Returns e Senhor dos Anéis. Gostaria de ter coragem de colocar um da Marvel, mas não tenho, tenho da Pixar; no mínimo Wall E, é o 2001 (outro inegável clássico) da Pixar. Vou fumar e comer. FIM. Acabou-se a ficção. E o post.