segunda-feira, 14 de maio de 2018

ENCONTRO COM O TIO


Mandei uma mensagem para o meu tio e a bateria arreou. Fui o mais sincero que pude.

20h26. Entrei no Facebook, caso meu tio entre no aplicativo. Me predispus a fazer mais layouts para ele. Não sei porque fiz isso, segui o impulso que me empurrava no momento. Disse-lhe que o único pagamento que queria era a publicação do meu livro, que discutiríamos sobre o livro quando a revisão final estivesse feita. Mas avisei que quero que conste todas as minhas verdades. Não sei se ele vai entrar no Facebook. De qualquer forma estou lá. E de vez em quando dou uma olhada. Falei para a incrível revisora que se quiser sair do grupo que criei pode sair, que só a coloquei porque foi a primeira pessoa que me veio à cabeça.

20h52. Parece que meu primo-irmão não vai sair de casa em pleno sábado. Impressive. Estava tão sonolento quando fui à casa da minha tia-vizinha hoje pela manhã que nem cumprimentei a galera direito. Ozzy. Fiquei superconstrangido, mas demoro muito para pegar o embalo, ainda mais quando me acordam antes do tempo. E era a celebração do aniversário dela. Eu estou ficando muito bicho-do-mato mesmo. Só me liguei na data depois. O niver dela é amanhã. Amanhã apareço lá para dar os parabéns. O meu amigo da piscina queria que eu contatasse ele, mas o meu celular arreou antes. Talvez quando carregar ele ainda esteja acordado. Daí falo com ele. Se ele quiser fumar um cigarro na escada, faço companhia. Tenho que agradecer ele ter me mostrado o mundo bizarro das pegadinhas de João Kleber. Realmente uma abominação social. E isso me agrada, sociologicamente falando, por mais que não entenda nada de sociologia, mas é um fenômeno social singular. Tanto que ficou na minha cabeça até hoje à noite. Realmente impressiona. Que coisas mais díspares para me ocupar a mente, meu tio e as pegadinhas de João Kleber. Por coincidência – ou não – ele me ligou quando estava assistindo as pegadinhas e não tive coragem de atendê-lo. Muito bicho-do-mato mesmo. O meu post, tendo-o divulgado apenas no meu grupo que só tem quatro pessoas, já está com 13 visualizações. Espantoso. O que será que está acontecendo? Talvez tenha o veiculado no horário certo. Boa pergunta. Ou o grupo automaticamente divulga para os meus contatos. Sei lá. Sei que agora é tarde, se meus contatos lerem, leram. Não há nada além de mim aqui, se comprometo alguém é a mim mesmo. Só não acredito que vou voltar à escravidão dos layouts. Espero que sejam pedidos esparsos e simples. Para falar a verdade me sinto intimidado quando penso em fazer layouts, em não dar conta ou começar a pirar do cabeção. Mas antes de pirar, paro. Certamente meu tio vai entender. Que droga, estou com as duas baterias do Vaporfi descarregadas. E com pouquíssimos cigarros na carteira. E tem que durar até amanhã às 18h00. E talvez, se for encontrar com o meu amigo da piscina, terei que o ceder um. Vamos ver quando a bateria carregar.

Meu tio aparentemente viu algum significado no livro. Só o achou muito íntimo. E em verdade é. Não escondi nada de mim, tudo o que eu fui e senti durante o internamento está lá posto. Gostei que ele tenha achado partes desagradáveis, que foram difíceis de ler. Viu muito sofrimento no livro, o que acho interessante. Talvez então haja uma carga emocional no livro que desconhecia. Talvez os meus slogans não estejam tão fora da realidade assim. O feedback da obra é algo que me interessa sobremaneira. Até agora ele foi o primeiro a ler. Quero que meu celular carregue logo.

22h04. Carregou. Mandei mensagens para o meu tio e meu amigo da piscina.

22h17. Combinei com o meu tio que terça de 18h00 ele passaria aqui para me pegar para produção de um piloto de programa de rádio. Acho que vai querer conversar comigo depois. Não sei, sei que a ansiedade vai bater pesada na terça, mas tenho que superá-la, encarar algumas coisas como homem que sou. Adulto que sou. Por mais que não me considere. Promete ser interessante.

22h28. Estou sinceramente animado para o encontro. Espero que esse sentimento perdure.

22h36. Meu amigo da piscina disse que hoje não rola encontro pois vai sair para transar. Sorte dele. Meu tio não é uma pessoa intimidante, pelo contrário. Espero que tudo transcorra naturalmente e afetuosamente. Espero que eu não invente algum entrave social. Daqui a pouco vou detonar o resto da bacalhoada que mamãe preparou para o almoço de confraternização do Dia das Mães. Por falar nisso tenho que revisar e postar o texto do Dia das Mães que fiz para ela. Mas isso depois de comer. Acho que vou lá. Quero dormir cedo hoje.

23h19. Comi o resto da bacalhoada, que estava boa, e postei o texto para a minha mãe. Agora só fazendo hora para o sono me pegar. Ele já está chegando. Vou pegar o meu último copo de Coca.

23h27. Espero que não inventem nenhum programa de Dia das Mães amanhã. Vai estar uma loucura total. Já coloquei o meu pijama. Será que tenho muitos cacoetes? Queria muito não os ter, mas devo possuir. Algo que faça costumeira e rotineiramente e que não me aperceba (além de escrever). Há ainda um local não procurado onde a fronha que peguei do Manicômio pode estar. Quando a fantástica faxineira vier outra vez aqui, iremos procurar. Ou até mesmo eu o faça amanhã. Afora disso, fico pensando se o meu tio tem as influências necessárias para o meu livro ser avaliado e publicado por uma editora. Tomara que tenha. Tudo o que queria era o meu livro lançado por uma editora que o distribuísse para as livrarias. A de que meu tio foi um grandão para mim estaria perfeita. Quem me dera ele fizesse essa mágica por mim. Conseguisse enviar o livro para avaliação com a sua indicação. Ou coisa do gênero, de alguma forma que fizesse o livro ser publicado pela editora em questão. Não sei, meu livro vai de encontro aos valores editoriais da dita editora, eu acho. Sei lá. Tudo isso são especulações. Estou curioso por essa terça. Ainda bem que não me sinto acanhado, mas motivado a ter esse encontro. Vai ser bom para ver a posição do meu tio. Se ele faz muito lobby, o que parece ser uma das suas aptidões, possa ser que faça esse por mim. Quando tiver a revisão final em mãos. Como meu tio demorou esse tempo todo para ler, possa ser que Seu Raimundo esteja precisando de tempo para acabar a leitura. Mas em me publicando por uma editora com distribuição talvez nacional, já está melhor que encomenda. É o meu sonho realizado. Se acrescentar a isso a cereja no bolo que seria o aval de Seu Raimundo, eu ficaria completamente realizado profissionalmente. Mas, botando os pés no chão, acho que nenhum vai rolar. Meu livro é medíocre. Tenho que colocar isso na cabeça de uma vez por todas. E desistir da ideia. Vou dormir que é o melhor que faço. Vou esperar dar meia noite para desejar feliz aniversário a minha tia-vizinha.

0h00. Pronto mandei.

-x-x-x-x-

11h47. Acordei, por assim dizer. Tico e Teco ainda estão se entendendo. Fui fumar o cigarro e congratulei mamãe pelo Dia das Mães. O Hulk fica muito melhor de dia que com a luz de teto à noite.

12h04. Estava conversando com a minha mãe. Está com o joelho bastante dolorido hoje. Parece que a coisa só piora. A impressão é que só com a cirurgia vai ter jeito. Pobre da veia. E hoje é o dia comercial dela. Está pensando em não mais viajar. Do jeito que está hoje não a vejo com a mínima condição de ir. Seria penoso demais e se veria confinada à casa da minha irmã. Com o joelho devidamente recuperado, disseram que poderá até correr. Se for assim é outra história, mas não há mais tempo para operar e ficar boa até a viagem. Não sei o que vai fazer. Ela mal pode andar pela casa que dirá viajar sei lá quantas horas na mesma posição de avião. Bom, o que será, será. Espero que não inventem de almoçar fora hoje. E espero mais ainda não ter que ajudar o meu padrasto a montar a TV hoje. Se eu por acaso fizer algum vacilo, é um vacilo de milhares de reais. Não estou nem um pouco a fim de arriscar, mas se for chamado, não terei como dizer não. Não sei se o meu padrasto confia em mim a esse ponto. Veremos. Estou com pena da minha mãe. Vou pegar um copo de Coca. Ah, e continuo com o mesmo peso corporal, estacionei mesmo. Ainda bem. A estagnação da minha vida chegou até ao meu peso. Hahaha.

12h30. Há agora, em vez dos originais sete leitores, treze que acessam o meu blog sem que precise divulgá-lo, o que é muito bom. Estou um pouco mais intimidado com o encontro com o meu tio hoje do que ontem, mas não tão intimidado que me gere desconfortável ansiedade. É uma coisa que me espanta e incomoda o quão ansioso me tornei. Vai ver que tenho mais genes da minha mãe do que julgava ter.

12h41. Passei um tempo no buraco sem fundo do Facebook. Desejando feliz aniversário para pessoas queridas e vendo alguns posts. Acho que ter criado o grupo de alguma forma impulsiona os meus posts, isso é curioso. Não imaginava esse efeito colateral. Se for, é de conhecidos lendo. Mas que tenho a esconder deles? Tenho vergonha da mediocridade, mas se ela é o que tenho a oferecer ao mundo, que seja. O mundo é dos medíocres, afinal é o que a maioria do mundo é. Os que se destacam são far and few. A maioria de nós não consegue tal proeza, o que não nos diminui um pingo em relação ao resto da humanidade, sendo feliz honestamente já está de bom tamanho. Pelo menos é assim que penso. E assumo a mediocridade que é nada mais na menos que a normalidade, o que nos é destinado, humanos que não nascemos com nenhum dom ou característica excepcionais. Somos levados pela sociedade a sonhar que seremos destaques em alguma coisa, que viemos ao mundo para marcá-lo de forma indelével, sonhamos com sermos grandes em alguma coisa. Que sejamos estão grandes amigos, grandes companheiros, grandes familiares, pessoas de alma grande. Não é preciso bater nenhum recorde ou inventar algo miraculoso. Não é preciso ser rico ou famoso. Nada disso que nos tiraria da tal mediocridade traz de fato felicidade. A felicidade é um estado interior de satisfação com o mundo e com quem se é. Eu ainda luto com a segunda parte e confesso que ainda sonho em ter um livro publicado por mérito, não por egolatria e narcisismo como enunciei a meu tio. Ainda sonho com o impossível, ter o feedback de Raimundo Carrero. Mas sonhar às vezes é bom. Uma pena que a frase da canção “quem acredita sempre alcança” não seja verdade. Seja uma das maiores mentiras que já ouvi. Visto que eu acredito muito e não alcanço. “Landlady” toca pela segunda vez hoje. Pois é, não canso de ouvir. Estou um tanto curioso e um tanto duvidoso do que vou ouvir do meu tio acerca do livro. Mas veremos. Só descobrirei encontrando com ele. Esse livro é a obra da minha vida. É minha primeira e única tentativa de ir um pouco além da mediocridade. Ah, abandonei a bateria prateada do Vaporfi, acabo de colocar para carregar a última bateria da qual disponho, outra preta. A vida útil da prateada se tornou curta demais e estava esquentando, o que não ocorre com as demais. Então foi para fila de depósito de baterias. Mamãe, em pleno Dia das Mães com o joelho ferrado disse que iria fazer um café para mim e eu, desnaturado que sou, aceitei. Ela disse que gostou do texto que escrevi para ela para o dia de hoje, que estava preparado há alguns dias já. Escrevi quando a inclinação para tanto me veio. Interessante é como me torno mais emotivo e mais sincero à medida que as horas passam no texto. Eu me torno cada vez menos mente e mais coração; é o inverso do que percebo nos meus demais escritos. Não sei aferir se é uma coisa boa ou ruim esse distanciamento do sentir ou analisá-lo como se fosse um objeto de apreciação e não algo a se apropriar com a alma. Não sei se exagero aqui, mas acho que não, acho que a mania de me descrever me leva a observá-los de tal maneira. Tenho três cigarros até as 18h00, se mamãe não for boazinha e me der a carteira algumas horas antes. Tenho fumado bem menos, do cigarro normal, digo. O que acho que seja bom. Mas hoje provavelmente vou encontrar com o meu amigo da piscina e ele, como de praxe, me arregará alguns cigarros. Preciso ter carteira nova para suprir essa demanda. Nossa, hoje não sai nada que se aproveite. Estão fazendo alguma coisa que gera estresse na sala, não quero nem passar perto. Não queria ter que ajudar com a TV, mas não vejo forma de o meu padrasto lidar com o monstrengo sozinho. Vou pegar um copo de Coca. 13h40.

13h46. Soube que meu padrasto ainda não leu o manual de instruções da TV e que vai falar com a família JP agora, então espero que TV só depois de acordarem do cochilo da tarde. Coloquei a água no fogo para mamãe fazer o café. Ela pediu, eu pelo menos dei um mínimo de ajuda.





13h48. Hoje é o Dia das Mães, uma genial jogada comercial, afinal mãe é mãe e na imensa maioria dos casos isso é uma coisa boa ou algo que mereça ao mínimo a lembrança. E tome lembrancinhas ou presentaços para as genitoras desse mundão. O aniversário da minha mãe é daqui a 13 dias. Não sei mais o que escrever ou dar-lhe de presente. Não sei do que ela precisa, o que deseja, a não ser ficar boa do joelho, algo sobre o que não tenho o mínimo poder. O encontro com o meu tio povoa a minha consciência como próximo grande evento da minha vida. Nossa, como queria que Seu Raimundo me respondesse, mas se meu tio só acabou de ler a obra agora, se é que a leu toda, então tenho que dar tempo a Raimundo Carrero. Mas me confesso descrente da sua réplica. Seria para mim, caso aceitasse a obra como válida e digna de publicação, com as devidas alterações, a maior glória da minha vida, o que me faria sentir que fui além da mediocridade em algo na minha vida, na coisa mais importante da minha vida para ser preciso. Pois só faço escrever, logo ter minha escrita reconhecida por ele seria o máximo que poderia almejar. Mas acho que não acontecerá. Não é tão fácil assim sair da mediocridade. O seu empuxo é muito forte. Por mais que tenha dado o máximo de mim, parece que não foi o suficiente. É frustrante quando o máximo ainda não é o suficiente, mas é o que tenho a oferecer. A não ser que a incrível revisora me ajude a fazer uma cirurgia no livro. No mínimo uma lipoaspiração, não acredito que ela vá querer mudar as feições da obra. Sei que quando cheguei ontem na casa da minha tia-vizinha, ela nem olhou para mim. Mas não vou botar pulgas desnecessárias atrás da minha orelha. Ela falou legal comigo no Facebook, então acho que tudo vai bem. Parece que Clementine voltou a engordar, pelo menos um pouco. E pouco se me dá. Ou se me dá é muito pouco mesmo. Graças a uma figura que defenestrou Clementine do pódio do meu ser. O que não ajudou muita coisa por ser tão ou mais platônica que ela. Hahaha. É outra coisa que me é medíocre, o coração. Desse, não quero nem comentar. Deixa esse músculo involuntário – e bote involuntário nisso – para lá. Hahaha. Não estarei tão risonho se minha obra vier a público. Queria muito, muito, muito a apreciação de Raimundo Carrero. Queria muito a sua bênção. Aí me sentiria com uma obra digna nas mãos. Ele está com a obra há pouco mais de dez dias. Morro de vontade de lhe mandar um e-mail, mas me decidi só fazê-lo quando tiver a revisão final em mãos. E eu que não sei onde está o precioso livro “The Form of the Book” que descreve tudo sobre como melhor diagramar um texto para publicação. Não sei nem se o separei para mim à época da morte de papai. Mas creio que o tenha feito. Gostaria de saber se o meu livro entretém, embora não tenha a métrica, a cadência, não siga as normas de desenvolvimento das narrativas de sucesso. Mas é um diário real, não há como prever a existência e coordená-la para caber em fórmulas narrativas. Narrei à medida que as coisas se davam. Como faço aqui e como acho que sempre farei, pois é como me apetece escrever. Não sou escritor de ficção, minhas ficções são fracas e pouco se desviam da realidade, só o suficiente para serem irreais. Se bem que em um mundo em que existem as pegadinhas de João Kleber, muito pouco é impossível. Hahaha. Fiquei encasquetado mesmo com essas pegadinhas. Achei algo tão insano e deplorável que beira o inacreditável. Meu amigo da piscina tem razão quando diz que se fizessem isso para o exterior seria sucesso. É chocante, acho que as pessoas assistiriam. Mas mandaria as brasileiras mesmo, não as reproduziria em outros países, pois acho que não caberia. Talvez nos EUA coubesse. Mas não vejo alemães se comportando como os brasileiros. Talvez fosse um programa até proibido por lá. Mas acho que no Japão e nos EUA e no México rolaria. Sei lá, estou falando besteira agora. E nem precisa exportar está tudo no YouTube.

15h09. Eita, esqueci a bateria conectada ao computador. Agora que já está, fica porque acho que vou descer hoje de noite.

15h13. Me perdi por alguns minutos no Facebook, hoje é dia movimentado. Dia das Mães. Muitas homenagens nas redes sociais.

15h19. Agora fui publicar uma mensagem de felicitação no grupo da minha família paterna. Achei a mensagem um tanto estranha como eu. Hahaha. Pelo menos fui sincero. O café me anima a fazer coisas que sem ele não seria capaz. Mas não coisas ruins, só coisas ridículas. Não gosto de me passar por ridículo e não sei me passei agora. Disse que ser mãe é um dos papeis sociais mais complexos da humanidade. É o que eu acho e dou graças aos céus de não ter nascido com esse dom. E, por isso, não sofrer a pressão social de forma tão pungente de me reproduzir. Minha mãe nem quer que eu me reproduza, pois acha que o(a) neto(a) vai sobrar para ela criar. Hahaha. Será que eu não mudaria um pouco se sentisse amor paternal por um ser humano em botão? Não sei. Pelo menos teria desculpa para dormir só de madrugada. Hahaha. Mas quem seria a louca que me elegeria como pai de seu filho? Eis a questão. Hahaha. Já ouvi pessoas, baseadas sei lá em quê, dizerem que eu seria um bom pai. Se fosse, eu seria um bom tio, em primeiro lugar, o que já está provado por A mais B que não sou. Logo, tais profecias acerca da minha paternidade são infundadas para dizer o mínimo. Acho que vou fumar um dos meus três cigarros com uma xícara de café. É isso. Este post é um daqueles que não merecem ser divulgados. Não fala de muita coisa. Poderia voltar do cigarro falando sobre a mediocridade. É uma ideia, dar como tema do post a mediocridade.

15h38. O que posso falar da mediocridade afora que ela é equivalente à normalidade do mundo? Damos o que podemos dar, mas dificilmente isso será o suficiente para nos destacarmos para muito além do nosso círculo social. E ser um destaque aí já é suficiente. Para que aspirar mais, para que querer a admiração de desconhecidos? O que a opinião deles nos importa de fato? Será que vale a pena perder a privacidade para se tornar uma celebridade? Eu acho que ser medíocre, como nome diz, é estar na média. Nem acima nem abaixo dela. Acho uma posição confortável de estar, por mais que sonhe grande, sonhe com uma obra que talvez nem venha a se dar. Se se der – nos meus termos, diga-se de passagem – sairei da média tanto para cima quanto para baixo. Muitos me condenarão. A imensa maioria me condenará, pois o que mostro de mim são os meus piores momentos como ser humano. Serei um pária no meu círculo social, o que é bem pior do que ser medíocre nele. E se alguém além do meu círculo social ler, tanto mais serei execrado socialmente. O que também não é o tipo de celebridade que alguém almeje. Mas é a minha verdade, dita com as minhas próprias palavras. É a única obra que possuo e... já me distancio do meu tema principal. Acho que ninguém é medíocre de fato, podemos estar na média, mas somos todos únicos, portanto especiais à nossa própria maneira. Não há outro(a) igual a você ou a mim. O destino/acaso nos fez cada um uma pessoa exclusiva, de percepções, valores e visões de mundo diferentes. Só estou falando besteira. Medíocre é um adjetivo pejorativo, ninguém o quer atrelado à sua pessoa. Todos nós queremos nos sentir especiais de alguma forma. A cultura nos instiga a isso, o mundo ordena que fujamos da mediocridade. Que estejamos e sejamos acima da média. Ou mesmo abaixo desta desde que nos destaquemos de alguma forma. Esse post está uma porcaria. A minha vontade é deixá-lo pela metade e começar outro. Nossa, já estou na sexta página! Não acredito que já escrevi tanto hoje. Isso não começa de ontem, não? Deixa eu ver.

15h55. Começa, ainda bem. Mas terminarei na sétima página e começo um novo da piscina se piscina se der. Vou ligar um pouco o ar que o calor pegou. Preciso dar uma tosada na barba e no cabelo. Irei essa semana, sem falta. Talvez antes do encontro com o meu tio. Talvez não, parece até que vou ao pet shop humano só por causa dele, o que não condiz com a verdade, mas talvez o faça, só não irei na segunda, dia de Ju. Na terça há mais tempo. O encontro é só às 18h00. Estou curioso acerca das impressões do meu tio sobre a obra. Em verdade, agora estou um pouco temeroso. Mas preciso saber a impressão de terceiros. Ainda mais alguém com a cultura dele. Vi que além do meu tio-vizinho, o outro entrevistado de terça é um poeta e artista multimídia. Será que ele se interessaria em ler a minha obra? Hahaha. Pela produção dele, acho até que se interessaria. Hahaha. Deixar isso para lá, que é sonho besta, sem raiz. O meu mundo gira em torno de Raimundo Carrero que parece não ter se interessado pelos meus escritos. Achei interessante o meu tio achar que é um livro sofrido. Eu que, aparte alguns momentos, tive uma permanência das mais agradáveis possíveis no Manicômio. Mas talvez choque o conteúdo para quem nunca esteve em um, sei lá. Não tenho senso crítico para tanto. Acho que há muita coisa que pode ser tirada, por mais que a sensação que tenha é a de que tirei tudo que podia. Foi assim que me pareceu quando entreguei o livro à incrível revisora. Novamente, do alto da minha mediocridade, venho falar dessa obra medíocre. Não queria almoçar com minha mãe e meu padrasto, mas acho que terei que fazê-lo, minha mãe pediu, “pelo menos no Dia das Mães”. Não posso recusar. Nem tenho muito o que fazer. Só sonhar com os destinos que o que escrevi possam tomar. Novamente Seu Raimundo me vem à cabeça, mas parece que não tenho literatura tanta para agradá-lo. Afinal não me respondeu até agora. No entanto, espero com esperança. E saberei do meu tio o que acha. Ele achou muito íntimo. Outro adjetivo que gostei. Se confessou impactado com o livro e que houve dias que teve dificuldade de enfrentar. Tudo isso soa como música aos meus ouvidos. Espero que não seja apenas por causa do meu mais bem guardado segredo. Espero que seja por conta de acontecimentos outros também. Se for só por isso, será muito sem graça. O que a incrível revisora está achando? É um mistério. Comecei a sétima e última folha. Já é um post enorme para os padrões cibernéticos, mas a preencherei, eu creio. Vivo sonhando esse sonho acordado de ter um livro publicado por mérito literário. Não sei se acontecerá. Só sei que não vou me publicar, com disse e redisse, por egolatria e narcisismo. Não vale o ônus social que terei.

16h27. Minha mãe acabou de entrar avisando que em dez minutos vai servir o almoço tardio ou jantar adiantado. A coragem de encontrar meu tio parece que me escapa. A segurarei. Verei um programa de rádio. Será divertido. Por mais que o tema seja xadrez. Mas duas personalidades importantes estarão lá, além do meu tio que é ele mesmo uma figura de destaque no cenário pernambucano.

16h42. Em breve serei chamado para carregar a bendita TV. Estou apreensivo. Espero dar conta do recado. Espero que daqui a uma hora esse evento já tenha chegado à sua conclusão. Saí da mesa antes de concluído o almoço, não sei bem por quê. Acho que me sinto invadindo a privacidade do casal. Acredito que eles discorram sobre seus assuntos com mais fluidez sem a minha presença. Sei lá o que é. Perdi o hábito de me alimentar comunitariamente, vai ver.

16h51. Fiquei a cismar lembrando a princípio dos odiosos almoços comunitários no Manicômio e depois do que descrevi de lá. Fico achando que não pintei um retrato tão completo como poderia. Mas é uma vez na vida que se faz isso e é muito raro ter um escriba lá dentro para narrar os acontecimentos. Diria que a chance é uma em mil. Tanto é que só conheço de livros sobre o tema “Bicho de Sete Cabeças”. E não foi escrito dentro do internamento, pelo que observei do filme, mas depois de passado por lá. Então há um diferencial entre a minha obra e essa. Sei lá, eu, como disse, perdi o senso crítico e a minha percepção é muito peculiar porque vivi tudo aquilo, tudo tem contexto, cores, rostos, cheiros, som e imagem, para os demais é um esforço da imaginação, visto que não descrevo com muitos detalhes o ambiente ou as pessoas. Deveria ter me esforçado mais para isso. Mas foi o que apreendi, o que me saltou aos olhos e que consegui anotar. Me perdi novamente em lembranças do cárcere. Fiz o meu melhor, se ele é meritório de publicação não sou eu quem vai decidir. Alguém que eu considere válido(a) é que me dirá se é passível ou não de publicação. Se o meu tio achar que é válido e encaminhar a quem direito com a sua recomendação, ou mesmo sem esta, mas que faça chegar a mão de algum editor de alguma editora e esse quiser publicar é a aprovação de que preciso. O que me faria definitivamente escritor seria a bênção de Raimundo Carrero. Acho que quando completar um mês de envio lhe mande outro e-mail. Não vamos começar com ansiedades, Mário. O mais provável é Seu Raimundo nunca mais o contatar. Tenha isso em mente e comece a fixar isso na sua cabeça sonhadora. Não adianta sonhar, a resposta já teria vindo se tivesse que vir. Ou não. Esse “ou não” é que me mata na unha. Se ele pelo menos me desse algum sinal de vida. Mas nada. Mas tem aquela história de que o tempo é relativo à que lado da porta do banheiro você está. Eu estou desesperado para entrar no banheiro enquanto Seu Raimundo lê tranquilamente o seu jornal na privada. Hahaha. Tudo pode acontecer. Quando completar um mês, não, quando estiver com a versão definitiva do texto, eu volto a me comunicar com ele. Tenho que segurar essa ansiedade. Mas acho que se fosse para responder, já o teria feito. Fico dividido entre a esperança e a desesperança. Dá vontade de compartilhar o meu blog para ele ver como eu me sinto em relação a ele. Ao contrário, não devo repartir senão ele não vai me responder é nunca. Vai me ter por louco. Quando tudo o que tenho é uma mente vazia que se ocupa dessas coisas como se fossem grandiosas. Eu acho que seria grandioso mesmo ter a bênção de Raimundo Carrero. Acho que muitos achariam. Eu consegui chamar a sua atenção e depois a perdi. Ou então ele está lendo o livro com muita parcimônia. Ou achou que era um louco de verdade depois do e-mail sobre a crise de ansiedade. Quatro dias depois de ter mandado o livro para ele. Depois disso é muito capaz de ele não me responder. Bom, se meu tio tiver contatos que possam apreciar o meu livro dá quase no mesmo.

17h49. Falei longamente – para os meus padrões – com a minha irmã da Alemanha. Ela queria saber do livro e do projeto do meu amigo cineasta. É incrível pensar que de repente a minha vida possa estar presente em livro e audiovisual por duas razões completamente distintas. Como disse, pode-se ser especial na mediocridade. Não faço nada acima da média, ou não creio que o faça, mas há esses dois projetos rolando e talvez algum chegue aos finalmentes. Já havia me esquecido da produção do meu amigo cineasta tão absorvido que estou com a história do livro. Me sinto uma pessoa especial por causa desses dois projetos. E acho que é isso, a gente tem que sentir especial dentro da gente e com quem está em volta da gente, o resto é, bem, o resto apenas. Eu falo isso, mas me sinto especial da pior maneira possível. Talvez porque guarde expectativas altas demais a meu respeito, talvez porque esteja realmente abaixo da média em vários aspectos. Não sei. Preciso gostar mais de mim, isso é fato. Queria pelo menos me ver como escritor e não como blogueiro de meia tigela. Que é tudo o que me considero agora. Eita, já entrei na oitava página. Acabo com uma dica da minha irmã: se você tiver interesse de ver o novo dos Vingadores, “Infinity War”, veja no cinema que vale a pena o dispendioso investimento. Ela até me animou mais a ir, mesmo que sozinho. Veremos. Ou não veremos. Está bom. Fico por aqui. Se meu amigo da piscina quiser descer, eu desço e inicio um post de lá. Brigadú!

4 comentários:

  1. Mário, gostei muito de seu escrito. É corrido é agradável de ler. Faria, se fosse eu, (você não é obrigado a fazê-lo), umas correções no emprego do pronome o. Assim diria: Meu Post, tendo-o divulgado. Soa melhor que tendo o divulgado. Quando se emprega o verbo composto soa muito mais bonito e a maneira correta de escrever colocar o pronome antes ou depois do auxiliar e não antes do particípio. Fora daí seu escrito é perfeito. Gostei imenso.

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    1. Obrigado pela dica e pelos elogios. São de suma importância para mim. Tentarei não repetir o erro nos próximos posts. Confesso que não entendi a parte do auxiliar e particípio, pois a Gramática ficou nos tempos de colégio. Escrevo instintivamente. Mas buscarei não incorrer mais no erro que você citou. Grande abraço.

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  2. O verbo ter é auxiliar, no caso, do verbo divulgar. Ex: eu tenho divulgado. Pois, no caso verbos compostos o pronome o vem sempre antes ou depois do auxiliar com hífen. Ex: eu o tenho divulgado ou eu tenho-o divulgado. Jamais eu tenho o divulgado, além de gramaticalmente errado é eufonicamente feio. Soa ruim.

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    1. Obrigado mais uma vez por ter clarificado para mim onde e como estava errando precisamente. Tomarei atenção a essa norma quando dos próximos escritos, que por sinal já estou produzindo. Os maiores elogios que posso receber são em relação à minha escrita pois ela é a parcela maior do que eu sou.

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