segunda-feira, 7 de maio de 2018

IOGURTE


Nova delícia da existência descoberta.



Mais um publicado. Não acredito que vou passar o dia a fazer isso de novo. Escrever o que me vem à telha. Parece que minha mãe e meu padrasto vão aproveitar uma promoção de compre uma e leve duas e adquirir uma nova TV para a sala, mas não sabem ao certo onde colocar a outra. Talvez no quarto que pertenceu à minha irmã. Mamãe vai enfim fazer o cheque para a incrível revisora e meu primo urbano, seu namorado, vai enfim vir almoçar aqui e pegar para entregar a ela. Minha mãe quer que eu a fique a lembrando do cheque, para que faça antes de sair para comprar a TV. Me bateu uma vontade rápida e passageira de me desfazer da minha TV e de todos os meus videogames e filmes, pois julgo que não vou nunca mais usá-los. Embora, nunca se sabe o dia de amanhã. Se eu pirar da batatinha e parar de escrever? Vou ter que recorrer a tais escapismos para ocupar o meu tempo. Me reconforta saber que tenho essa opção. Essas opções. Acho que gastar banda de internet com 4K um desperdício, acho que HDMI já está de bom tamanho. Pelo menos para o meu olho. Mas pode ser que 4K seja realmente algo além, mas é muita banda de internet que come. Ainda bem que a minha é uma rede separada de internet. Que acho que nem aguenta streaming de 4K. Mas chega desse papo, os grandes acontecimentos do dia para mim são o bendito cheque e o encontro com o meu amigo da piscina.

14h40. Fui pegar café na cozinha e meu padrasto enumerava razões pelas quais os EUA conseguiram economizar capital nesses últimos cem anos e o Brasil, não. Só ouvi duas, o nosso transporte ser majoritariamente rodoviário e, portanto, mais caro, e as doenças tropicais que dizimavam ou incapacitavam mão-de-obra. Não fiquei lá para ouvir os demais. O percebi excitado com a explanação pois suas pernas balançavam. Mamãe ouvia e concordava. Deve ser bom ter alguém para trocar uma ideia, uma companheira, uma pessoa amada, desejada, querida e admirada. Senti falta disso agora. Já tive, mas perdi, todas as vezes. Mas sei que é bom. E, na minha opinião, quanto mais passa o tempo, melhor fica. Como um bom vinho. Embora não entenda nada de vinhos. Tampouco de relações, embora entenda um pouco mais sobres essas. Mas muito pouco. São um delicioso mistério para mim. A Garota da Noite ainda não leu a carta. Se lerá. Não sei, mas acho mais provável que Seu Raimundo me responder. Fui muito pentelho com ele. Devia ter ficado só no e-mail do texto. Que foi o que ele me pediu, mas fui me mostrar ansioso e depois mandar um e-mail pedindo desculpas. Foi excessivo. Até demais. Não deve estar me levando a sério mais. Sei lá, sei lá o que vai na cabeça do outro. Mal sei o que vai na minha, que vive a mudar de opinião.

15h03. Já estou de posse do cheque para a incrível revisora. Ainda bem que o Word conserta quando escrevo incrível. Sempre calho de botar o agudo no primeiro ir, levemente dislexo que sou. Não sei nem se tão levemente assim. Hahaha. Mais vale rir do que chorar, já me ensinou o atendente da pizzaria em frente ao prédio, que acho um dos caras mais de bem com a vida que conheço e reparti essa minha opinião com ele da última vez. Foi quando me mandou essa pérola. Troquei o atomizer do Vaporfi e a diferença no volume de fumaça é sensível, para melhor, é claro.

15h10. Liguei o ar e devo admitir que essa cadeira que uso é bastante resistente. Eu boto para torar na bichinha e ela aguenta o tranco, e é antiga, o que até é uma justificativa para a sua durabilidade. A bancada do computador também está bem afixada à parede, pois me apoio nela para me levantar e ainda há o Hulk. O Hulk às vezes me impressiona pelo seu tamanho. Como agora que olhei para ele. Não havia olhado com atenção para o meu companheirão ainda hoje. A iluminação está perfeita para admirá-lo. Tem uma pintura complexa para algo que em tese é todo verde.

15h16. Em não tendo nada de novo a pensar, penso no sonho que seria conseguir a bênção de Seu Raimundo para a minha obra. Quem sabe um prefácio dele. Ou mais almejada ainda, uma indicação para uma editora. Mas, como os meus amigos disseram, é melhor não contar com isso e mandar o livro para frente. Até porque pode vir uma resposta negativa. Ou não vir nenhuma, que é o mais esperado e mais frustrante para mim. Mas fazem só 7 dias, e dois e-mails desnecessários da minha parte, que podem muito bem ter o desmotivado a ler a minha obra. Saco isso, só o tempo me revelará o que aconteceu ou o que vai acontecer. Ou o que não vai acontecer. Novamente me vem a cara dos meus amigos no Bar Central anteontem me incentivando para além da opinião de Seu Raimundo. Para acreditar na minha obra, na minha voz, na minha história. Deixei claro que não é uma crítica ao sistema manicomial e eles disseram que era válida, por ser o meu olhar sobre o tema. Um olhar de dentro. De quem participou do negócio como interno. É, espero que estejam certos e certas. Meu primo-irmão, que estava no grupo, me comparou a Clarice Lispector. Considerei isso um elogio, visto que a escritora é tida em tão alta estima por tanta gente. Mulheres, particularmente a julgar pelas frases de perfil que via no Tinder quando o tinha. Não me recordo de ter lido Clarice Lispector, ter pego uma obra em mãos da autora e lê-la. Como digo e redigo, não me interesso em ler, meu grande barato é escrever. Prefiro investir o meu tempo na escrita que na leitura. Sei que com isso, meu vocabulário fica limitado, mas sei também que me impregno do estilo de quem leio como alguém que abraça alguém excessivamente perfumada pega o cheiro do perfume.

15h54. Entreguei o cheque, graças! Meu primo urbano e eu tivemos um papo muito relevante quanto as expectativas que tenho, tive, tinha em relação ao livro. Foi muito bom. Estou ainda mais tranquilo que antes. O que será, será. Ele acha que eu devo publicar. Se eu achar que devo publicar, é claro. Nem que seja online. Embora ele mesmo saiba e sinta que ter publicado o objeto livro, é muito mais concreto. Uma coisa muito mais real muito mais perto da ideia platônica de livro, por assim dizer, que algo online. É óbvio que eu quero ter o objeto em mãos. Ao mesmo passo que temo que esse objeto caia nas mãos de certas pessoas. Bom, o que será, será. Ele acha que ter um comprovante de residência no nome da minha mãe vale. De qualquer forma vou esperar a resposta da moça da editora. E caso ela não aceite, ver se vou no banco conseguir um comprovante de residência meu. Espero que o da minha mãe resolva. Tomara. Mesmo que não ganhe, saberei que meu livro foi lido. E outra coisa, a partir desse momento, não aperrearei mais a incrível revisora, a próxima etapa do diálogo partirá dela. Eu a partir de agora me calo e deixo que ela faça tudo ao seu tempo de da maneira que achar mais conveniente. Já me livrei do cheque, estou tranquilo. Foi realmente muito bom ter o papo com o meu primo urbano e com os meus amigos na sexta. Repartir uma problemática com pessoas inteligentes e de bom senso é sempre muito frutífero para mim. A vida em sociedade ainda importa para mim. Mais do que julgava. Me faz conhecer novos olhares, olhares que julgo pertinentes sobre o tema. Dão uma desanuviada na alma. Desenrolam o emaranhado de pensamentos que me acometia. Meu primo urbano leu justamente o post em que estava numa crise de ansiedade triste e que acabei mandando um e-mail nada a ver para Seu Raimundo. Ele fez até uma careta quando lhe contei desse fato. Mas estava feito.

16h18. A tarde cai. Estender o que há na máquina de lavar. Quase esqueço.

16h23. Já estendi, dois lençóis e três fronhas. Tenho que parar com essa mania de ser tão descritivo, isso para mim me parece esticar artificialmente o texto, peguei essa mania ontem e ela ainda não me largou. Ozzy. Deveria ter sido descritivo assim no livro. Lá no Manicômio era um local rico para tais descrições. Principalmente dos comportamentos humanos de lá. O texto de ontem ficou péssimo. As construções muito truncadas. O controle de qualidade daqui não é perfeito. Fui achar erros na carta para a Garota da Noite. Ainda bem que foi antes de ela ler. Se ler. Minha amiga líder foi boazinha e não comentou nada dos erros crassos que cometi. Nossa, me envergonho dos erros que deixo passar. São o fim da picada para mim. O café acabou, estou num astral bom. Vou pegar uma Coca com gelo.

16h34. Eita, que daqui a pouco tem encontro com o meu amigo da piscina. Poderia desistir desse encontro. Mas não vou desistir. Meu amigo às vezes me acha mais besta do que eu sou. E eu me faço de besta, que como a parla dele, mas eu estou ligado. Ele planta verde para colher maduro. Mas quem já esteve em meio aos maiores malandros, acaba-se aprendendo uma coisa ou outra, desenvolve-se um faro para a malandragem.

16h41. Me desconectei do conteúdo do parágrafo anterior olhando uma postagem de WhatsApp e resolvi mudar de parágrafo. Minha mãe fez café para mim ontem e hoje, o que foi ótimo. Faz render a Coca. E o café me deixa mais desperto, animado e feliz. Talvez tenha sido o excesso de café que tenha me deixado tão ansioso no dia do e-mail para Seu Raimundo, para a incrível revisora e para o ateliê de pintura dos bonecos. Agora que todos foram contatados e obtive resposta das duas moças, deixá-las-ei trabalhar, uma no livro, a outra na boneca da Asuka na moto. Confio no trabalho de ambas e sei que sairei satisfeito de ambas as empreitadas. Se tem uma coisa que me arrependo do ateliê de pintura foi pedir que mudassem uma pintura que haviam feito da Strange Rei, estava perfeito como fizeram, ficou pior com as mudanças que pedi. Uma pena. A figura perdeu um bocado por conta disso. Mas é a vida. Cliente burro, como eu fui, é a pior coisa que há. Só faz melar o produto. Espero que eu não faça isso com o livro. Acate tudo. Mas já estou eu de novo nessa obsessão. Tenho que parar com isso. Ou não. Aqui eu escrevo o que quiser. O dia escapole do céu, pelo menos hoje não está com cara de chuva. Vou poder levar o meu notebook com mais tranquilidade. A chuva ontem me aperreou e chegou a chuviscar um pouco sobre a máquina, o que vai minando a vida útil da máquina que não foi feita para levar água. Nossa, como esse post está vazio. Que seja, estou sem ter muito no que pensar. Será que sinceridade e um ambiente que poucas pessoas experimentam são ingredientes suficientes para que um livro se diferencie dos demais? Pelo menos meu livro é honesto até nas suas desonestidades. Hahaha. E há várias, pelo que me lembro. De todos os tamanhos. Hahaha. Que vergonha. Outro bom slogan, “Um livro vergonhoso. Leia.” Achei bom esse. Acho que chamaria atenção do leitor. Poderia ser mais criativo e colocar “Um livro vergonhoso. Leia sem pudor.” Mas acho que acrescenta palavras desnecessárias e rouba o impacto da frase principal se tornando só uma coisa engraçadinha. Nem sempre o humor é a melhor ferramenta de vendas. Acho que poderia mandar para os veículos de comunicação com essa frase, pleiteando, quem me dera, uma resenha nos ditos canais. Não sei quanto do que aparece nesses canais é jabá, arrumadinho, mas enviaria. Acho que a editora Rocco não vai me responder, senão já teria feito. A Bagaço só em setembro. Não espero o meu livro revisado antes disso. E publicado? Só aquele lá de cima sabe. De cima, ao redor e dentro pois é onipresente, onisciente e onipotente. O que leva ao paradoxo que vi em algum lugar, Deus é capaz de criar uma pedra tão pesada que não consiga levantar? Em podendo ou não podendo não é onipotente em ambos os casos. O que não deixa de ser deveras curioso. Mas pouco sei do assunto. Sobre descer para encontrar o meu amigo da piscina, vou esperar ele me contatar. Se não o fizer, não vou. Já dei a deixa que a gente se encontraria hoje, deixei o convite, cabe a ele fazer o movimento se tiver interesse. Ou não. Deixo o desenrolar dos fatos da minha vida em seu poder. Prefiro delegar isso do que assumir as rédeas. Se estiver interessado, dentro em breve vai se comunicar. Já são 17h21. “Landlady” é uma canção simples, mas que me encanta e, como já disse, tem um significado enorme para mim. Representa um momento de muita clareza que experimentei. Que nada é melhor que a liberdade de fazer o que gosto, de estar onde eu quero estar. Nem a cola. Foi um ensinamento que o destino/acaso me proporcionou. A noite nasce e invade o meu quarto com a sua escuridão. Não vou acender as luzes agora, há ainda uma nesga de dia e tudo o que preciso ver está iluminado, a tela e o teclado em decorrência dela. Então não preciso de luzes no momento. Gosto de às vezes ficar às sombras. Não sei por quê, acho que ajuda a me focar só no ato de escrever. Meu primo-irmão achou o disco do U2, que agora ouço, fraco, nem ouso perguntar ao meu primo urbano. Para ele U2 é lixo. Ou coisa que não faz a cabeça dele. A mim é um disco que não interfere na minha escrita de tanto que ouvi, e me remete ao enorme poder de fazer o que quero da minha vida. Sem prazos ou clientes ou horários ou ordens ou quaisquer dessas coisas que assolam a grande parte da população do mundo nas segundas-feiras e que já as deixam amuadas no domingo, quando entram em modo preparatório para encarar os estresses da semana. Era um sentimento muito ruim o do domingo para mim quando estava na roda-viva do mercado de trabalho. Hoje é um dia como qualquer outro e segunda é um dia bom, pois tem terapia. Nossa, como adoro um amor inventado. Vou até ver se a Garota da Noite viu o meu post. Não, não ainda ou não, nunca. Para ser sincero não faz lá grande diferença, é um jogo perdido mesmo. E não sei se é um jogo que queira realmente ganhar. Me põe medo essa possibilidade de ganhar. O queria ganhar mesmo era o concurso de literatura. Publicaria o livro na surdina assim. Ou quero crer que assim se daria. Enquanto que eu publicando, será necessário que eu divulgue o livro entre os meus amigos para viabilizar os custos. Talvez até tenha que fazer uma tarde de autógrafos aqui no casarão do prédio. Vai ser muito vergonhoso. Não sei se tenho coragem para tanto. Dar a cara a tapa de forma tão exemplar. E depois oferecer a outra face para receber as porradas. Mas não preciso pensar nisso agora. A revisão ainda nem passou da sua primeira fase. Não está nem perto disso.

17h51. Meu amigo da piscina me contatou perguntando se iria descer. Respondi que vou. Em teoria de 18h30. Daqui a meia-hora, preciso ir preparando o meu espírito. Não estava nem mais com esse evento na cabeça, fazendo projeções sobre o meu livro.

17h55. Botei um copo de Coca. Estou tomando o restinho. Minha mãe ainda não chegou. Que demora da gota. Bom, espero que o joelho esteja aguentando. Não sei para que essa viagem agora no meio do ano. Mas é outra coisa com a qual não preciso me preocupar agora.

18h01. Meu amigo não vai descer, quer fumar um cigarro na escada. Melhor que volto mais rápido para cá e não tenho que preparar a mochila para levar o computador, tirar gelo, achar copo, levar a Coca etc. Por mais que escrever na bucólica piscina do meu prédio seja uma experiência aprazível.

18h27. Meu amigo da piscina veio fumar um cigarro na escada suando em bicas, acho que não sinto calor porque meu quarto sempre fica numa temperatura agradável, quando começa a esquentar, eu dou uma ligada no ar só para espantar a quentura e desligo, esse hábito me deixa sempre numa temperatura que me apetece. O meu quarto-ilha é tudo de bom para mim. Não há melhor lugar no mundo. O que empata é um lugar tranquilo onde possa conversar com uma pessoa querida e interessante. Ou mais de uma. A escada foi um lugar assim. Mas eu e meu amigo estávamos meio travados no papo. “Landlady” passa mais um vez. Acabei de ler sobre ela na entrevista com Bono na Rolling Stone no banheiro. Embora não ache isso uma coincidência, pois o disco rola ininterruptamente. E não foi a música que estava tocando assim que entrei no quarto. Então não classifico como coincidência. Como a do Uber e OVAs do post passado. Aquela foi uma senhora coincidência. Acendi as luzes do quarto automaticamente quando voltei da escada. Estou gostando do astral menos soturno. A casa toda está às escuras, a exceção do meu quarto. Do jeito que o meu padrasto gosta que fique quando não se estão utilizando os demais cômodos. Em teoria daqui a vinte dias o casal terá uma nova TV para assistir na sala, com 4K e tudo a que tem direito. Os dois usam bastante o aparelho e a imagem da TV da sala já está uma porcaria com uma enorme mancha de pixels defeituosos e sem pegar a parte smart direito. Eles merecem se darem esse presente. É muito útil, acrescenta muito à qualidade de vida deles. Acrescentará. Pois acho que o meu padrasto deve ter comprado na tal promoção compre uma e leve duas. Não sei por que demoram tanto. Tentei ligar para a minha mãe sem sucesso. Fora de área ou desligado. Vai ver já esteja no elevador subindo. Ou no cinema ou o celular descarregou. Sabe-se lá. Espero que não seja nada de ruim. Deixar de ansiedade. Ansiedade foi o tema dessa semana. Não costumava ser tão ansioso assim. Curioso isso. Me incomoda. Não gosto de ansiedades. São sentimentos chatos de lidar. Pareceu-me agora que faltava algo a mim. Mas não soube precisar o que. Foi logo depois da tosse provocada pelo Vaporfi que me dá zonzeira. Acho que meu amigo corretor vai acabar por ter que se desprender do seu cachorro e doá-lo. Só uma especulação triste. Não há dado de realidade aí, mas é a aparência que o assunto tem para mim. Se achar alguém disposto a adotá-lo.

18h54. Nossa, por que estava a fofocar da vida dos outros? Nada a ver. Falei com a minha mãe agora, está voltando do shopping. Compraram a TV. Estão satisfeitos. Ótimo. Mamãe disse que deu uma deslocada no joelho e que estava em dor. Coitada. O pior que o pós-operatório segundo o meu amigo corretor, que já fez uma cirurgia no joelho, é ozzy. Hoje se tudo der certo terei três. O que mais queria agora? Não há nada que queira no momento, a existência está plenamente satisfatória como se afigura para mim. Não preciso de nada. Indo um pouco além, gostaria de receber uma resposta de Seu Raimundo. O velhinho vem me assombrando, não é mesmo? A incógnita que ele se me afigura é a parte incômoda. Se tivesse certeza de receber resposta, não me incomodaria. Ou até a certeza de não recebê-la. Mas nada sei. Então o que mais queria agora era uma resposta de Seu Raimundo. Sem dúvida alguma. E sem dúvida não a receberei agora. Se fosse apostar, mudando completamente de assunto, chutaria que o meu amigo da piscina ainda vai me contatar hoje. Me chamando para descer. Por mais que tenha dito que vai dormir cedo. Veremos. Em verdade, o que quero é permanecer no meu quarto. Minha mãe diz que se me der brecha, ocupo todos os espaços, talvez seja uma característica – má – minha. Um defeito de caráter. Me acho um dos caras mais egoístas, egocêntricos e ególatras que conheço. Ninguém passa os seus dias escrevendo um interminável monólogo do seu eu e da pouca vida que o cerca. É um traço estranho de personalidade, talvez o meu maior defeito de caráter, que por outro lado é a minha maior realização como pessoa. Essa dicotomia é tão enorme que se pensar muito nela, ela me esmaga. Julgue-me da pior coisa que puder imaginar, mas me deixe aqui quieto escrevendo e ouvindo música no meu quarto-ilha. Não é muito o que peço, como é igualmente pouco o que ofereço em troca. Mas é a forma que encontrei de ser funcional no mundo, foi a forma como melhor me adequei à minha peculiar condição. Estou satisfeito com o que faço da minha vida, não estou e nunca estarei, eu creio, satisfeito com quem eu sou. Vejo tantas coisas erradas comigo que prefiro nem olhar para isso para não entrar em uma crise existencial. Deixo para me debruçar sobre tais questões amanhã na terapia. Amanhã será a segunda sessão desse novo ciclo, considero que um ciclo se fecha quando pago quatro consultas. E um novo se inicia na consulta subsequente. Preciso ficar contando para não me equivocar.

20h29. Meu amigo da piscina me chamou para descer, como esperado. Me incentivou a tomar um dente de alho picado com dois dedos de água para limpar o intestino. E tomar o suco de um limão puro para a saúde. Além de cadastrar o celular na SDS. Mais uma vez me recomendou isso. Falou das incríveis propriedades de sua mãe com a energia das mãos. E debatemos sobre o livro, ele me deu ideia de o livro vir com o documentário do nosso amigo cineasta num pen drive. Imaginou-me em palestras e eventos semelhantes de blazer, camisa social e calça jeans, divulgando a obra. Viu como algo grande mesmo. Quando disse que meu sonho era vê-lo para vender na Livraria Cultura, começou a elaborar que demoraria tempo, que eu teria que mandar para diversas editoras, de preferência as que estão começando e por aí o papo seguiu até descambar em ele me motivando a voltar a andar. Enfim, me deu muitos, inúmeros conselhos. Mamãe chegou no ínterim e me ligou dizendo que havia trazido um lanche do McDonald’s para mim que guardarei para a fome dos remédios. Comi apenas a batata frita, pois murcha fica horrível. A batata me deu a base por ora. Seria curioso se houvesse de alguma forma a fusão do material do meu amigo cineasta com o livro. Uma possibilidade seria que, se houvesse lançamento, algo que me aterroriza, a produção do meu amigo cineasta ficasse sendo projetada de alguma maneira. Outra ideia do meu amigo da piscina que já havia me passado pela cabeça. “Landlady” toda vez me chama a atenção. Nossa, depois que eu vi a noite de autógrafos do lançamento do livro de uma senhora vizinha nossa aqui no prédio eu fique completamente apavorado de passar por situação semelhante. É estar muito no centro das atenções. E só gosto de ser o centro das atenções aqui. Essa necessidade autoafirmação passou, ou se canalizou para cá para as palavras desse blog, no mundo físico ocorre o reverso dessa situação e me ponho cada vez em papel secundário ou terciário. Nunca na berlinda. E é justamente na berlinda que o autor fica no lançamento de seu livro. Essa parte para mim vai ter que ser muito trabalhada, pois não sinto a mínima inclinação, a mínima coragem de me prestar a esse papel. Queria que não existisse essa fase. Como não queria que meus amigos tivessem acesso ao livro. Lembro do seu polegar sobre o meu quando me ajudava a segurar o copo de Coca para despejar o líquido. Nenhum dos dois moveu os dedos de lugar, interrompeu o contato. Essa foi a última coisa que fez meu coração palpitar acelerada, alegre e apaixonadamente. A outras coisas que me geraram excitação semelhante, mas de outra natureza, foram a chegada do Switch e o e-mail de Seu Raimundo dizendo que leria a minha obra. Meu amigo da piscina ficou a conjecturar que o escritor gostou tanto da minha obra que está segurando o texto cheio de segundas intenções. Hahaha. Quem em dera. Que ele publicasse com o seu nome e assumisse a autoria da obra, para mim seria a melhor solução de todas. Hahaha. Ele arcaria com todos os ônus e quaisquer bônus que houvesse e o livro seria lido por um número muito maior de pessoas por ser dele, ficaria supersatisfeito. Resolvido, que Seu Raimundo roube a minha obra! Não poderia ser roubada por ninguém melhor.

21h12. Voltando à realidade, se é que é possível de fato alcançá-la, de volta ao menos à realidade tal qual a apreendo, não conseguirei que meu livro seja publicado por nenhuma editora, então terei que partir para uma publicação própria. E teria que fazer evento de lançamento aqui no casarão e meus amigos comprariam, leriam e me condenariam. Assim com a minha família. Eu imagino a minha família materna lendo aquilo, seria chocante demais para eles. Era bom que houvesse uma maneira de evitar isso. Só se for publicando em formato digital apenas. Talvez acabe covardemente escolhendo essa via e não dizendo para ninguém que lancei. Essa é a saída mais fácil e menos recompensadora, mas também a menos condenatória. E ainda posso publicar com um pseudônimo. Tenho medo da minha integridade física por conta do conteúdo, de apanhar de alguém. De alguém muito específico, inclusive. Mas não só dele. De leitores avulsos também, se alcançasse tanta gente assim. Estou delirando. Espero. Para o meu próprio bem. Pensei em um slogan massa, mas não vou divulgá-lo aqui. Fica para o dia do lançamento. Como queria que meu amigo da piscina estivesse certo e Seu Raimundo realmente gostasse do que leu e me desse uma força. Se é que leu ou lerá. Nossa, era o que eu mais queria, uma resposta dele, nem que fosse me xingando. Esse limbo do não saber me é muito desagradável. Sei que a obra é grande, mas, poxa, uma semana e nada? Mas vou relaxar com isso. Não há nada a fazer.

21h32. O pior que pensar sobre o conteúdo me traz um pensamento ruim, como se não fosse a melhor ideia do mundo publicá-la, como se fosse me custar caro demais realizar esse sonho. Devo estar exagerando, mas muitas vezes penso que não. “O lado mais obscuro de uma pessoa revelado”. Será que dá para ficar menor? “O lado mais negro de um homem revelado”. Sei lá. Mas acho que a publicidade deveria ser sempre negativa, acho que coisas negativas chamam mais atenção. Acho o “Vergonhoso. Leia.” o meu preferido. Em segundo o que não vou revelar aqui. Gosto também de “Um livro maldito”, mas esse pode soar exagerado. Posso amenizar para “Um livro maldito? Você decide.” Estou com uma coletânea de slogans, mais surgirão. “Ele curtiu o manicômio. Até certo ponto.” A publicidade seria a do choque. Da provocação ao leitor. Acho que poderia funcionar, caso houvesse algum espaço onde veicular isso, o que não acho que haverá. Mas não custa nada me divertir bolando esses títulos. Talvez ficasse melhor “Vergonhoso. Imoral. Leia.” Acho que atrairia a atenção. Não sei se a promessa dos slogans é cumprida pela obra, mas creio que não decepcionará nesse aspecto. Gosto mais talvez “O lado mais negro de um homem. Revelado por ele mesmo”. Acho que assim chama para o fato de ser uma história real. Embora supergrande para um título, mas estamos aqui só jogando ideias. E não há só essa faceta negativa na obra. Mas acho que o foco deveria ser aí. “Um livro imundo.” Esse é forte também. Não saberia qual escolher. Acho que vou criar uma lista de slogans e depois repassar à incrível revisora para ela opinar, quando chegarmos aos finalmentes. Depois que ler a obra de cabo a rabo. “Uma viagem. Ou bad trip? Descubra usando.” Esse ficou mais fraco. Acho que saturei da brincadeira. Já há slogans demais para uma mídia inexistente. Bom, é uma brincadeira divertida. “Overdose de realidade.” Esse é exagerado demais. “Overdose de sinceridade.” Nesse acredito mais. “Nojento em todos os sentidos.” Não sei, não sei. Vou listar tudo num arquivo.

22h27. Pronto. Fiz a lista de slogans. Inclusive me vieram mais dois. Ou três. Estou brincando mais lá do que aqui, mas a qualidade caiu bastante.

1h25. Comi muito agora e descobri uma nova delícia da vida, iogurte Grego de frutas vermelhas. Comi dois para arrematar a noite. Muito gostoso. Estava nos meus slogans até agora. Ficção. Uma garota que mora no lixão, sem pai nem mãe, acha um pote de iogurte Grego de frutas vermelhas e começa, com os sujos dedos, a raspar e lamber os resto de iogurte da embalagem. É o gosto mais maravilhoso que já experimentara. Ela decide colocar como meta de sua vida um dia comprar um iogurte igual para saboreá-lo integralmente. Um dia ela é pega pelo juizado de menores e colocada para adoção. No orfanato, no dia do aniversário dela, perguntam o que sonha em ganhar. Ela pega o adesivo da embalagem que havia guardado e mostra à mulher do orfanato. A mulher se comove com tão singelo pedido e tira do seu próprio suado salário a compra de um pacote de quatro Grego de frutas vermelhas e dá a ela. Ela prontamente distribui para as melhores amigas e fica com um para ela, naquele que foi o primeiro dia mais feliz de sua vida. O primeiro grande sonho realizado. Ela é adotada por um casal de estrangeiros e vai morar na Suíça e hoje sonha cada vez mais alto e geralmente alcança. Às vezes quebra a cara, mas vai levando numa boa. Certos dias, entretanto, se pega sonhando como se ainda vivesse no lixão e acorda desconcertada, depois ao se ver no seu adorável quarto, se sente muito grata pelo que a vida a proporcionou. E continua a adorar frutas vermelhas. Uma história com patrocínio Nestlé. Hahaha


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