sexta-feira, 18 de maio de 2018

DA VARANDA


13h06. Olá, seja bem-vindo. Cá estou de volta, depois de ter revisado e postado o último texto. Mamãe descansa em seu quarto, eu tomo o meu café e acho que vou fumar um cigarro.

13h15. Cigarro fumado, só tenho mais dois até as 17, 18h00, então vou passar ao Vaporfi. Talvez minha mãe quando se levantar vá me mandar para a tosa. Não queria ir, mas com o final de semana se aproximando, seria uma boa pedida. Coloquei o iPod para carregar. Ele acusa já está todo carregado, no entanto não consigo ligá-lo. Vou deixar uma hora conectado para ver o que acontece. Talvez não saiba como ligar. Ou quebrou também e eu sou o amaldiçoado dos iPods. Hahaha. Sei lá. Sei que estou aqui a sonhar com o quase impossível. No mais continuo sendo quem eu era ontem, mas com menos ansiedade que ontem, graças à incrível revisora. Ela me sugeriu fazer o curso do escritor, mas declinei da ideia. Disse-me que teve que desistir do curso, que estava achando bastante interessante, por conflito de horário com o estágio. Mas não quero que se dê com a escrita o que se deu com a pintura, em que um curso me roubou todo e qualquer prazer que eu tinha em pintar. Deus me livre, sem as palavras não sou ninguém. Já sou ninguém com elas, mas pelo menos me sinto alguém para mim, se perder isso me perderei por completo. Não tenho a mínima coragem de arriscar. Como penso muito no danado do livro, me pego rememorando com frequência a minha estadia de 2016 no Manicômio. É curioso que isso se dê, não esperava por isso. Se houve algo em que pequei no livro é que não descrevi fisicamente os seus personagens. Ao menos o leitor terá liberdade completa para pôr rostos neles. A aparência não me importava tanto quanto suas ações, pois os via e não imaginava que um possível leitor não os estivesse vendo. Ademais por muitas vezes contar de atos duvidosos de tais personagens, acho melhor que não os descreva fisicamente, pois não quero que sejam identificados. John Coltrane passa no som. É uma música que amplia horizontes musicais, especialmente para mim que só conheço, se muito, alguns standards do jazz.

13h39. Me perdi pelo Facebook. Uma amiga acaba de lançar um livro, deve ser uma experiência extasiante. Não, não, não. Seu Raimundo Carrero de novo não. Me focar em outra coisa. Minha amiga teve aprovação de alguém para o seu livro, eu creio. Não tenho intimidade de perguntar detalhes a ela. É mais uma conhecida que uma amiga. Mandei felicitações para ela pela realização. Não sei se exagerei. Mas me senti motivado a fazer e fiz. Acho que nada é exagerado nesse sentido. Escrever e ver publicado um livro é uma grande realização. Para mim, a maior de todas. Pelo menos, com a vida que eu levo, que é dedicada tão somente à escrita, é assim que vejo. É algo fundamental para a minha validação como ser humano. Pode ser que esteja criando algo fantástico demais em relação ao ato de ter uma obra publicada e que se porventura vier a ter a minha publicada, ache a experiência decepcionante. Mas creio que não, tenho bem pesados os ônus e os bônus da situação. Pensei que era meu padrasto agora, mas é apenas a TV. Hoje estou sem conteúdo e também sem ansiedade, o que é ótimo. Cada vez sei menos de tecnologia e o que sabia ando desaprendendo. O que significa que em breve saberei só o básico do Word, Corel e Photoshop. E olha que já me aventurei até pelo editor de filmes da Adobe. Não sei mais nem como transportar as fontes do meu computador para outro. Mas acho que cutucando ainda consigo fazê-lo. Sinto que quando vou me comunicar com a incrível revisora tento me esmerar no português e nunca me agrado do que escrevi. Parece que assumo o perfeccionismo dela. Hahaha. Interessante isso. Tal comportamento significa que outorgo a ela um conhecimento da língua e, por consequência, uma autoridade a quem tenho que me reportar da melhor forma que posso. Me deu vontade agora de postar uma foto do Hulk num dos grupos de bonecos que eu frequentava, pedindo para que quem tivesse a mesma figura, postasse uma foto da sua, para ver quantas pessoas adquiriram a peça, dentro daquele universo fechado que é colecionismo de figuras de pop art. Toda vez que ouço “Resto do Mundo” de Gabriel o Pensador me lembro de quem me apresentou a música, o irmão do meio da minha primeira namorada, menino ainda, às gargalhadas com a música que me calou tão profundamente. É estranho como uma coisa pode causar reações tão diversas nas pessoas. Ah, postei a imagem do Hulk no grupo de colecionadores. Até agora uma foto apenas. Talvez mais surjam. E pouco se me dá. Um cara comentou que não viu muitos desses Hulks pelos grupos. O que significa que talvez se torne um item raro. Bom, o Facebook me notificará de qualquer nova inserção na postagem que criei. Faz tempo, muito tempo que não escrevo no blog de bonecos. Meu inglês está terrível pela falta de prática. E não tenho conteúdo para escrever, tenho acompanhado muito à distância o maravilhoso mundo dos bonecos. Era até uma coisa que me deslocaria o foco da neurose do livro. Mas sem ideia. O que poderia dizer, que a nova linha da DC é bem superior à da Mavel? Mas isso cabe numa frase. Não saberia como encher linguiça para transformar num post de blog. Nem tenho disposição. A mim me basta ver quantos dos colecionadores têm o Hulk, mas deveria ter feito essa postagem à noite quando as pessoas estão em casa e não no trabalho, assim receberia mais respostas. Parece que o iPod está funcionando corretamente agora. Desculpe pular de assuntos assim. Deveria pular de parágrafo, mas foi tão rápido que nem me lembrei disso. Vou pegar café. Em breve a fantástica faxineira vai vir limpar o meu quarto e terei de sair. Não queria, pois não sei o que vou fazer nesse ínterim. Estou tão bem aqui no quarto-ilha com as minhas palavras. Deveria ter postado o Hulk à noite realmente. Não me passou pela cabeça que os seres humanos normais têm empregos. O meu “emprego” realizo em casa mesmo, ao lado do meu Hulk. De onde, dentro em breve, terei que sair. Mas posso levar o meu computador para a varanda com a bateria. Ótima ideia. É o que farei quando a fantástica faxineira vier me sinalizar que vai mexer no meu quarto. Eita, lembrei! Vou pedir para ela limpar a área para eu procurar a fronha no último lugar onde imagino que ela possa estar.

14h49. Peguei café. Sempre bom. Cada vez vejo menos ponto em escrever no Desabafos do Vate. Será que essa moda do colecionismo vai passar ou só passou para mim que acho que já tenho bonecos demais? Que já tenho o meu maior objeto de desejo nesse quesito que é o busto do Hulk (embora a Red Sonja esteja a caminho, ela, sim, minha última aquisição; se bem que há a Harley Quinn... deixemos o colecionismo de lado, é perigoso). A única figura das dezenas que lançaram desde a minha última aquisição, que ainda estou pagando, é uma incógnita. A pintura tem que ficar muito bem-feita para a figura funcionar. Se a pintura ficar à altura do protótipo, posso aventar a possibilidade. Daí seria a minha última aquisição mesmo. Não, tenho que parar na Red Sonja, pois de última em última, não tem fim, é que nem saideira de bar. Hahaha. Tô fora. Vontade de fumar um cigarro. Quando a fantástica faxineira vier arrumar o meu quarto. Nos dias da fantástica faxineira, eu tomo café com força, em grande quantidade, pena que o café seja mais fraco. Ou isso vem para o bem, senão ficaria pilhadaço. Estou curioso em ir para a varanda. Não sei se vou me concentrar com mamãe assistindo TV, mas se me concentrava no Manicômio, acho que consigo. Espero que ela esteja vendo o seriado espanhol que costuma assistir, aí fica mais fácil me desconectar da TV. Se estiver vendo algum jornalístico fica mais difícil.

15h10. Pelo que vi, ela está assistindo jornalismo em português, o que mais me desconcentra, mas vou levar o meu computador para lá mesmo assim. Estou ouvindo Camelo, “Vida Doce”, e me identifiquei muito com os primeiros versos da música.

“Eu deixo tudo sempre pra fazer mais tarde
E assim eu caminho no tempo que bem entender
Afinal faz parte de mim ser assim.”

Isso é uma descrição de como levo a vida, só falta me aceitar tão bem quanto Camelo. Pois sinto que ser assim é algo equivocado. Ou talvez por ser o que todos desejem e poucos o alcancem, eu me sinto demasiado beneficiado pela existência. A única coisa que nunca deixo para depois são, adivinhem, as palavras, obviamente. Às vezes é difícil logo ao acordar sentar para escrever, mas com um café, dois cigarros e uma página em branco, eu encaro. Exatamente como fiz hoje. Eu confesso que às vezes penso, “de novo?” e me bate certo desânimo, mas é passageiro. Não há nada que possa conceber que ocupe melhor as horas de que disponho. Mesmo em não havendo o reconhecimento amplo que todo autor sonha, há as vinte e poucas pessoas que me dão a honrosa preferência de despender um pouco de seus tempos aqui. Sou muito grato. Tal presença empresta um significado maior e mais amplo a este ato solitário. Alcançar alguém é fabuloso. Essa transmissão de pensamentos, quase uma telepatia, saber que o que sai da minha mente vai parar em outra mente, que meus pensamentos são transportados para outra cabeça que lhes emprestará outras cores, outros significados, vão redesenhar e reconstruir tais pensamentos é uma experiência fantástica. Essa troca entre autor/leitor acrescenta uma nova dimensão ao que escrevo. Nem que seja apenas um(a) leitor(a). Acho fantástica essa qualidade da escrita de mexer com a cabeça de outra pessoa, lhe emprestar ideias que não são suas, mas das quais se apodera, mesmo assim; é quase um superpoder. Me sinto o próprio Charles Xavier. Hahaha. Dentro em breve acho que terei de migrar para a varanda. Vamos ver se a fantástica faxineira vai tirar as coisas do lugar para que possamos procurar a fronha. Me lembrei de que tenho um terceiro sonho, mas nem sonho muito com isso, tão satisfeito que estou com a minha vida, mas seria ter o cérebro inimaginavelmente expandido pela Singularidade Tecnológica. Não vou entrar nesse mérito porque não estou com paciência, mas em tendo realizado o meu segundo sonho, não veria motivo para abandonar minha vida em detrimento do terceiro. Imagina se eu for ter filho depois dos 50 anos? Isso seria um acontecimento surpreendente e indesejado, pois muito certamente não acompanharia a vida do meu filho até se firmar como homem ou mulher independente. Não iria vê-lo ou vê-la se tornando dono(a) de si. Não nego que preferiria uma menina. Por mais que o mundo seja mais hostil a elas. Acredito, porém, que o empoderamento da mulher está na pauta do dia nas políticas mundiais. Então o mundo está cada vez mais para elas...

16h11. Fui interrompido no meu raciocínio pela fantástica faxineira. Procuramos a fronha e nada. O último reduto em que achava que poderia estar, uma velha mochila vermelha não a escondia, então agora a dou definitivamente por perdida. Só posso crer que mamãe jogou fora. O que é deveras ozzy. Estou na varanda e mamãe parou de assistir TV para mexer no computador, o que me dá paz e tranquilidade para me dizer aqui. A mesa é redonda e pequena então não tenho onde apoiar o braço esquerdo, mas isso até o momento não se mostrou um incômodo.





16h18. Fui interrompido para ver se eu resgatava uma imagem perdida do celular da fantástica faxineira, mas não sei mexer no celular. Como disse anteriormente estou desaprendendo tecnologia. Achei a pasta de imagens, foi o máximo que consegui. Desapagar o que está apagado do celular, não faço a mínima ideia de como fazer, nem se é possível. Não sei mexer no meu, que dirá no dos outros. Bom, a fantástica faxineira foi limpar meus óculos (eu exploro a bichinha, mas ela dá um grau muito legal nos óculos). Por falar em graus e óculos, preciso marcar o oculista. Vou ver se faço isso na semana que vem. Não estou com precisão de fazer agora, a não ser que os arranhões na lente se comprovem. Não havia esses arranhões quando entreguei os óculos à fantástica faxineira. Espero que seja apenas papel grudado. É muito chato escrever sem óculos.

16h29. Pronto, já os tenho de volta e volto a enxergar como me é de hábito, mas preciso marcar a oculista. Me esforçarei para fazer isso na semana que vem. Por mais desmotivado que esteja no momento. Vou ver se corto o cabelo e a barba amanhã também. Nossa, amar é bom, ainda mais quando se trata de uma impossibilidade, pois daí não há frustração. Ou a frustração vem antes da fantasia, não atrapalhando esta. Eis aí a forma que meu coração achou de amar na solidão. Tenho medo de relacionamentos de fato. Me desacostumei a eles, nesta década de solidão. Tenho receio de sair com os amigos, que dirá de uma relação tão íntima como a de casal? Só em condições muito específicas e à minha velocidade tal coisa se daria. Observar a tarde da varanda me dispersa. É agradabilíssima a varanda. Pena que levantarão dois prédios bem em frente a ela e muito próximos. Espero que demore bem muito essa obra, estão ainda fazendo os alicerces, quem dera o condomínio tivesse entrado em entendimento e comprado o terreno onde estão construindo os espigões. Houve movimento nesse sentido, mas a ideia foi voto vencido. Não recebi comunicação do meu tio hoje. Acho que só me chamará se tiver alguma demanda. Eu o chamarei quando tiver o meu livro completamente revisado. Será a vez de cobrar pelos meus serviços. Acho que alterarei uma parte do texto da Novíssima Religião e acrescentarei um detalhe ao Anexo II. No mais é ver o que posso cortar da obra para lhe dar mais dinamismo. Fico pensando aqui que posso cortar diversos eventos, mas acho que isso roubaria a veracidade dos fatos tais quais se desenrolaram, então fico em dúvida. Terei que conversar com a incrível revisora quando da entrega da primeira revisão. Ou então Seu Raimundo me responderá e me dirá o que é preciso tirar, se algo. Mas não vou falar do livro agora. Vou pegar café. 16h51.

16h52. Estou de volta. Minha mãe fala ao telefone, isso me desconcentra, as vozes dos dois outros habitantes da casa sempre me desconcentram, pois são vozes muito importantes na minha vida e por isso despertam invariavelmente a atenção. Eu me isolava, me lembro agora, mesmo no trabalho, com o meu iPod. Para não me desconcentrar com conversas alheias. Minha mãe desembestou a falar agora. Foi só dizer e ela se calou. O que meu tio quer, fazer pagamentos simbólicos pelos meus serviços, não é o tipo de pagamento que eu quero. Quero que ele faça o livro ser publicado. A noite já se impõe sobre o dia. Em breve o dominará. É um tanto melancólica essa parte do dia. Ainda mais quando não tem um belo espetáculo do sol. Quando isso acontece é glorioso, imenso, espetacular. Eu gosto muito do pôr-do-sol. Mas hoje não é um desses dias em que se apresenta magnífico, acho que até porque ele já deve ter sumido no horizonte dada a pouca claridade deste momento. Acredito que a fantástica faxineira já acabou a limpeza e organização do meu quarto. Perguntarei a ela se posso voltar para lá. Não quero estar aqui quando o meu padrasto chegar, pois posso baforar o Vaporfi sem me dar conta e ele ficar muito indignado com isso. Afora que a conversa dele com mamãe me perturba profundamente a concentração. Não sei por que o ícone de bateria sumiu, isso é uma falha da interface imperdoável.

17h21. Já estou de volta ao quarto-ilha. Vou ligar o som. Aliás, vou fumar o meu último cigarro.

17h37. “Pictures of You – Extended Dub Mix” a versão original foi uma das músicas que mais escutei na vida, faz parte do meu íntimo, do que sou.

17h44. Me perdi em meus próprios devaneios agora. Findei olhando para o meu Switch e pensando quantos guris não desejariam ter um em casa. E o meu parado. Qualquer um dos meus três videogames, com os jogos que eu tenho, fariam a alegria de guris e adolescentes mil e não os jogo porque as palavras se mostram muito mais convidativas e seu desafio muito mais empolgante e familiar. Ainda darei algum dia mais uma chance ao Mario Odyssey, eu acho. Estou com pouca Coca, não acho que vá ser suficiente para passar a noite. Não será. Não acredito que terei que ir até o bendito Bompreço para comprar.

17h50. Fui trocar a bateria do Vaporfi. O que habita a minha mente agora? Obviamente as duas coisas que me vêm à mente são os meus dois maiores sonhos, até porque fortemente interligados, o que torna tudo mais delicado para mim. Mas tenho que enfrentar isso se quiser que meu livro seja publicado. O outro sonho é impossível e tanto mais se torna com a realização do primeiro. É, o destino/acaso é bastante irônico ou a vida que construí para mim é que é equivocada. Diria que é uma soma dos dois. Estaria mais tranquilo se houvesse Coca aqui. Se bem que posso passar uma noite à água. Vou tentar relaxar em relação a isso. E tanto vou relaxar que vou pegar outro copo de Coca.

18h01. Essa fragmentação toda no texto significa algum aperreio, algum distúrbio da alma que não quer me ver parado aqui. Não estou conseguindo me focar no texto. Quem me dera Mallu Magalhães viesse tocar em Recife. Iria com certeza. Talvez até a minha mãe fosse comigo. Quem sabe até... é, talvez, deixa para lá. Björk é que já desisti de ver ao vivo. Nem me interessa tanto mais. Só se viesse a Recife, o que acho uma impossibilidade. Está tocando Portishead de novo. A lista 6 se repete. 19 horas de música. Só dão para um dia e uma noite. Estou com a cabeça vazia. Vou ver o que a mais nova escritora pernambucana respondeu em relação ao comentário que a fiz.

18h17. Adorei o comentário dela. Me convidou para o lançamento do livro. Pode até ser uma. Mas sei que vou me desmotivar antes. Ou mesmo esquecer. Sei que provavelmente não irei. Embora haja uma ponta de mim que queira estar lá. Estou realmente desconcentrado, não sei o que há. Queria que meu amigo da piscina me chamasse para descer. Deu vontade de cometer uma insanidade agora, mas não a farei. Os resultados podem ser e serão inesperados. Por essa falta de controle, preciso escolher o dia de fazer isso a dedo. Imagens que vi no YouTube perpassam a minha cabeça. Acho que estou alheio porque a porta está aberta. Na verdade, não acho que seja isso, acho que é algo de mim mesmo, aqui dentro que me rouba do texto. Mas o que seria? Em que penso? Penso em aparecer no lançamento da minha amiga, aliás, conhecida, e comprar um exemplar do seu livro. E pegar um autógrafo com a autora. Ela certamente merece. Eu é que não sei se tenho disponibilidade para tanto. Avesso a eventos sociais que me torno ou já sou. Nem sei ao certo se posso considerar uma característica minha ou um a fase transitória. Se for uma fase está se aproximando da parte mais aguda. E uma vez que chegue nela, ou seja, deixe de sair, não saberei como retroceder. Mas espero que isso não ocorra, que meu primo-irmão tenha programa para esse final de semana que me caiba para que saia da minha toca.

18h45. Fui fumar o primeiro cigarro da nova carteira. Estou com uma vontade de cometer a insanidade, mas não vou. Preciso parar com esses imediatismos. Esse é o período das esperas em minha vida. Então o mais sensato é esperar. Estou com a conhecida e seu livro na cabeça, as fotos do lançamento, o vídeo do evento. Tudo me parece quase ansiado por mim. Mas preferia lançar o livro sem esse oba-oba. Trocaria isso pelas tarjas a serem postas nos livros em exposição. As cintas com frases provocantivas envolvendo o livro. Acho que isso geraria mais vendas. Se bem que chamar os meus amigos geraria mais vendas ainda. Mas por um momento apenas. Vou parar de sonhar porque o mais provável é não haver tal publicação. Aliás, nem sei. Há uma probabilidade de isso acontecer, mas ainda leva muito tempo. E tenho que ter paciência até todas as engrenagens se alinharem.

Sabe o que eu pensei dizer ao meu tio? Estou me prostituindo em troca do seu lobby para publicar o livro, não gosto de fazer layouts, não me dão o mínimo prazer. Então ajudarei você até o final de 2018. Depois disso estamos quites. Caso publicação haja. Se não for haver, por favor não me peça mais nada.

19h19. Obviamente não direi algo tão cru e direto a ele, foi mais um desabafo. Está passando a música tema de Aurora. Mas não vou tratar disso ainda. Ainda não é tempo. Ainda não há espaço para isso. Nem nunca haverá. A música me encanta e me põe a sonhar com um futuro que não virá. Mas sonho, sonho grande, o maior que posso sonhar. E meu peito infla tal vela molhada ao vento. E é só de vento que infla, pois não há nada para preenchê-lo. E assim será talvez até o final dos meus dias. Mas a esperança há. Não há a disponibilidade. Se eu não me ponho disponível, como posso receber? Eis aí a questão. Me guardo. Me poupando do que é possível. Mas o destino/acaso é cheio de misteriosas curvas. Sabe-se lá? Eu perdi quase todas as esperanças. E acho que o problema reside em mim. Eu não me abro para o mundo. Eu me fecho cada vez mais em mim. O que isso traz de bom para mim? Eu fico confortável e protegido no conhecido, no familiar. Fiz o que podia com quem me apetecia dentre as possibilidades, mas ela, a Garota da Noite, apenas me desprezou. Me deus dois beijinhos e foi paquerar o meu amigo bonitão. Que posso eu fazer? Não me dar mais a esse tipo de desfrute. O fato é que o meu histórico de vida depõe contra mim. Eu tenho um histórico de vida no mínimo conturbado nos últimos 10 ou 15 anos. É um bocado de tempo e um bocado de merda. Se o livro for publicado, deporá ainda mais contra mim. O que eu vou ganhar com o livro? Sei exatamente tudo o que vou perder. Mas se Seu Raimundo se empolgar com a minha obra, eu virarei escritor. E o que mais sonhei ser foi escritor. É o papel social que sempre sonhei desempenhar. Sempre, não. Desde a minha epifania. Que já deve fazer quase 20 anos. Então digamos que passei metade da vida sonhando em ser escritor. Nunca estive tão perto disso, mas o destino/acaso fez com que eu produzisse uma obra que só me compromete e talvez de forma irreversível para várias pessoas, as mais próximas de mim especificamente. Mas se eu receber a validação do escritor, o que não é de nenhuma forma algo certo, só o tempo irá dizer se ele sequer leu o que escrevi. Não sei de nada. Se ele não me validar como escritor talvez nem publique. Se bem que se passasse pelo conselho editorial da editora, daria quase no mesmo. Ah, já estou eu a cismar com essa porra do livro. E sobre suas nefastas consequências. Por causa de um detalhe que é fundamental à obra. Não há como extirpá-lo e ser a mesma obra. Espero que não cause o escândalo que acho que vá causar. Não quero dar spoliers aqui. E o que falava é que o meu histórico de abuso de drogas e internações e depressões e tudo o mais não é do tipo que salta aos olhos de uma garota. O que corrobora para a intuição que passarei ainda longos anos de solidão. Até que passe pelo menos cinco anos limpo, o que acredito diminuiria sensivelmente o receio da pretendente. Acho que cinco anos são uma garantia de que o risco de recaída é baixo, mas aí terei 46 anos. E não gosto de coroas. Então, só me restará a solidão. Tenho que me conformar que a minha vida vai ser entocado nesse quarto escrevendo. Assim me parece realmente uma prisão. Parece algo muito mais sem graça do que poderia ser. Mas eu já posso fazer diferente agora e não faço. Poderia ir até a praça comer um pastel e uma coxinha com uma Coca Zero. Poderia...

21h19. Minha mãe me pediu/mandou eu acompanhar a fantástica faxineira até a parada e ir ao Bompreço. Cá estou de volta e trago um sentimento ruim no peito, acho que o que estava falando era negativo de alguma forma, nem lembro, sei que eram delírios sobre o suposto livro. Mas não quero falar nisso. O Bompreço estava vazio, graças. Comprei o Grego de frutas vermelhas, biscoitos Bono e a Coca, apenas três. Dá para hoje e amanhã. Minha mãe tem me achado com cara triste, disse para eu sair da obsessão do livro. Não sei como me desvencilhar disso, mas vou tentar tratar de outra coisa. Parece que o dólar está em alta, boa hora para internalizar parte do que tenho Paypal.

21h29. Pronto, fiz. Mas deixei a maior parte para ver se somado ao que posso receber da Sideshow, eu consigo pagar a pintura das duas bonecas que me restam lá no ateliê na China. Veremos. Acabou a lista 6 e não estava gostando das sugestões então voltei para o “Songs of Experience” do U2. Estou livre, sou livre, isso é o que importa, se estou usando a minha liberdade para ficar “fritando” sobre o livro, o problema é meu, é uma escolha minha. Claro que preferia ter assuntos outros e talvez algum me venha. Ia fofocar, mas me contive. Não gosto, é porque estou vasculhando a minha mente para ver se acho algum assunto diferente. Essa de ter perdido a fronha do Manicômio foi de lascar. Era o meu maior troféu, iria bordar a marca de cabeça para baixo numa camisa que comprei especialmente para isso. Será que minha mãe e meu padrasto vão dormir cedo? E se não forem, que diferença isso faz? Dentro em breve mamãe vai me chamar para colocar os remédios. Vou pegar mais Coca agora que tenho bastante. Vontade danada de fumar outro cigarro. Preciso me conter. Vontade dá e passa e tenho o Vaporfi aqui.

21h45. Peguei mais Coca. Pronto, cá estou de volta a serviço das palavras. Mas elas estão me estranhando no momento, não me vêm com facilidade. Ainda bem que estou na última página. Se quiser posso parar por aqui, mas não quero. No meu imaginário parece que só habitam coisas correlatas à minha obsessão. Será que um dia isso vai passar? Vai ter que passar porque um belo dia, de uma forma ou de outra, vai ser passado. De uma das muitas formas que isso pode resultar. Nem há tantas assim. Me vejo muito em alguém. Talvez por isso a sintonia. Mas posso estar equivocado. E espero que vida não se desdobre para essa pessoa como foi para mim. Ninguém merece. Eu gosto do lugar em que estou, mas o que tive que passar para chegar aqui não recomendo a ninguém. E a sorte foi minha amiga apesar de todos os pesares. Senão talvez nem tivesse chegado tão longe. E me falta amor-próprio. Ou o manifesto de forma completamente torta tecendo essa elegia sobre mim mesmo. “Landlady” toca. É uma das músicas mais emblemáticas da minha vida, apesar de recente, e já ganhou enorme significado para mim. A tenho muito entranhada em mim already. Me apareceu num momento de inconveniente delírio e depois num momento de profunda sobriedade. Seguidos. Foi quando eu percebi onde exatamente residia a minha liberdade e onde eram as prisões. Sei que parece meio cifrado, o texto de hoje está mais misterioso que de costume, mas prefiro ser misterioso hoje. É um exercício diferente, me dizer sem deixar tudo evidente, claro. Mas não sei se irei exercer o tal mistério daqui para a frente. Sei que voltando a uma das vacas frias, eu não tenho diferenciais ou atrativos para agradar uma garota. Pelo contrário, possuo várias coisas que contam contra mim. A suposta garota teria que gostar de alguém outsider, de variedade diferente da que está acostumada. Teria que ter uma mente mais aberta, com menos preconceitos acerca de um monte de coisas. E ainda ser gata. E com, no máximo, trinta e pouquíssimos anos. Eu percebo que o meu limiar de idade aceitável de garota acompanha a minha crescente idade, mas tem que ser, no mínimo, dez anos mais jovem do que eu. Não quero uma coroa, me intimida e não me atrai. Embora haja coroas lindas e saradésimas, mas não fazem a minha cabeça. Prefiro a solidão. Quem tem a mente fechada e preconceituosa sou eu, né? Hahaha. Mas são minhas preferências, há que se respeitá-las. Eu as respeito. Hahaha. Mas parece que só um milagre para me tirar dessa solidão. Ela encrustou em mim de uma maneira que nem sei. Mas se estou só, a culpa é quase que exclusivamente minha. Embora tenha a esperança que haja um pote de ouro no final do meu arco-íris. Ou não passe de vã ilusão. Que acho que é. Não existem potes de ouro no final de arco-íris. Como é o plural de arco-íris? Não faço a menor ideia. Nossa, que bom estar tratando de coisa outra. Chega dá uma arejada na alma. Mesmo que esteja falando da solidão. Como disse em algum lugar, enquanto as palavras não me faltarem não me incomodo com a solidão. Minha mãe acabou de avisar que vai me acordar de 8h00 da manhã amanhã para ir com ela ao médico. Por essa eu não esperava. Mas se ela precisa, eu irei. Vou botar o meu celular para carregar para ter um passatempo. O ozzy nem é ir ao médico, mas acordar nesse horário. Para mim é madrugada praticamente. Hahaha. Rindo para não chorar. Acho que vou seguir minha vontade e fumar um cigarrinho. E tentar me deitar de 23h00. Que daí durmo nove horas. Está de bom tamanho. Difícil é eu pegar no sono tão cedo. Mas tentarei se não conseguir, volto para cá ou para um novo arquivo. E sigo a minha rotina de sempre. Ao cigarro. 22h23.

22h30. Estou de volta, sem o mínimo sono ou a mínima fome. Ah, comi o bolo que comprei para o aniversário do meu padrasto, deve ser isso, deve ter aplacado o meu apetite ou a fome dos remédios ainda não bateu. Esqueci de aumentar a temperatura do boiler pois tomarei banho logo hoje para não precisar fazer isso amanhã. Nem acho que daria tempo. Espero que mamãe se atrase, como é de seu costume e só me acorde às 9h00, já faria uma grande diferença. Sim, botar o meu celular para carregar. Mas só depois do banho tenho medo que o vapor e a umidade de um banho quente possam danificá-lo. Eu tirei foto para hoje? Ah, tirei da varanda. Mas não postarei isso hoje pois não tenho saco para revisar agora. Meu projeto de passar dois meses morando na rua me vem à cabeça. Não tenho envergadura para tanto. E minha mãe iria achar que é surto de mania meu. Deixa para lá. O Coisa, que me serviu de modelo para a foto do meu post de ontem, olha para o nada um tanto melancólico.

22h40. Mais dez minutos vividos, dez minutos mais próximo da morte. E nada de revolucionário aconteceu na minha vida, como geralmente não acontece. Se bem que minto, há os projetos do livro e do meu amigo cineasta. Há a entrada do meu tio na minha vida e sua promessa de publicar o livro. Há o médico de mamãe amanhã que – e eu sei que isso é patético da minha parte – queria que dissesse que a viagem para a Europa é um equívoco. Mas não vou ficar agourando. Só sei que com esse joelho vai ser horrível para ela viajar. Vai sofrer muito. Eu acho que não vale a pena, que ela tente mudar as passagens para o ano que vem, qualquer coisa, menos viajar quase como uma aleijada. Que se submeta a cirurgia logo e fique boa de uma vez por todas desse mal que só faz piorar. O pós-operatório é bastante sofrido, mas vem para um bem maior. A viagem, embora fosse alegrar a minha irmã e tudo, seria no mínimo difícil para mamãe. Ela ainda não quer desistir, mas se precisa de mim até para carregar os exames amanhã, que dirá na viagem? Mas isso sou eu fazendo propaganda contra. Se ela quiser, nós vamos, mas duvido que ela aproveite e consiga participar do congresso a contento. Vai ser mais um problema para ela que um lazer. Antes ficávamos horrorizados quando numa prova de vestibular o estudante escrevia laser em vez de lazer. Hoje devem rolar absurdos muito maiores. Esse é fichinha. Que pena disso tudo. Mas é a minha percepção dos fatos, tanto em relação a mamãe quanto à morte do português. Embora não tenha autoridade nenhuma para falar de português, meu professor é o corretor do Word. Hahaha. 22h53 já? Acho que vou adiar o meu horário de sono para a meia-noite. Estou gostando de me dizer, peguei o embalo, esse post vai ficar maior do que os últimos, mas o blog é meu e eu escrevo o quanto quiser. Deu branco, é só me dizer uma coisa que meu cérebro age contra. Isso é ozzy. Não sei por que essa mania de me desobedecer. É uma forma de reafirmar a minha liberdade, o meu livre-arbítrio, a possibilidade de mudar de ideia. Nossa, odeio ideia sem agudo, mas se boto com agudo, o meu “professor” reclama. Hahaha. Que seja, espero que não haja mais reformas enquanto eu estiver vivo. Tenho falado muito do final da minha vida ultimamente. Aos poucos acho que vou me apoderando da possibilidade da minha finitude cada vez mais próxima. É algo que me ronda e começo a temer o meu fim. Mas não é possível que venha antes da consecução do meu maior sonho pessoal. Aliás, tudo pode, mas seria uma ironia muito grande do destino/acaso, quando eu quero mais viver vir me roubar a vida. Não acho que isso se dará, acredito que verei o final dessa novela antes do final da vida. Se bem que esse livro pode acabar com boa parte dela. Não sei. Espero muito estar fazendo tempestade em copo d’água. Mas meu tio se disse impactado pela leitura, espero que pela coisa toda, mas sei que há uma parte fundamental que o chocou e que é o que vai chocar a todos. E que reverberará tão mal para o meu lado. 23h02. Vou tomar banho logo e depois volto a escrever, para dar tempo do meu cabelo secar. E eu não acordar com o penteado de Robert Smith na minha cabeça. Hahaha. Seria uma homenagem muito válida ao Cure, mas não estou disposto a rendê-la. Hahaha. Vou daqui a dez minutos. Fumo mais um cigarro, mudo a temperatura do boiler. Não, melhor fumar o cigarro depois do banho, acho mais salutar. Mas subir a temperatura do boiler eu vou. “Landlady”. Quando acabar eu vou lá tomar banho. Enquanto isso fico com inveja boa da minha amiga que publicou seu livro. Será que vou ficar com a data na cabeça para talvez ir lá prestigiar o lançamento de seu livro? Não queria e queria ao mesmo tempo, por mais que não leia. Isso não importa. Não sei qual o conteúdo dos contos, mas a depender de quais sejam, eu poderia fazer uma coisa. Acabou a música. Vou lá. Já-já estou de volta.

23h40. Tomei um longo e relaxante banho quente, que dádiva da existência. Obrigado universo, mais uma que fico devendo. Os pequenos prazeres da vida, só são pequenos se os enxergarmos assim. Para mim foi um grande prazer e agora estou bem calminho e relaxado. Não estou com fome ainda. De comer paçoca não, mas devoraria dois Grego de frutas vermelhas. O que acho que farei antes de ir dormir. Encerro os meus trabalhos de hoje quando o gelo que a fantástica faxineira tirou para mim acabarem, acho que só dá para mais um copo de Coca, então vai ser por volta da meia-noite, não muito mais. Fiquei pensando em fazer um convite ao meu amigo corretor para nos encontrarmos amanhã na piscina, mas acho que ele já deve ter programação para a sexta à noite. Só se fosse à tarde. Veremos. Queria vê-lo antes de partir, já que não tenho certeza de que vá viajar mesmo a Portugal. Seria uma despedida. Faltam quatro dias para a viagem dele. Em muito breve, três. Bom, mandei mensagens para ele perguntando se iria sair amanhã à noite. Provavelmente irá. Aproveitar a vida louca enquanto ainda pode. A fome está batendo. Acho que vou atacar essa paçoca. 0h00.

0h29. Comi paçoca com feijão preto mais dois Grego de frutas vermelhas. Vou me retirar.

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