quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Diário de um Albergue de Drogados - Aterrissagem Forçada ou Recaída

Recife, 29 de novembro de 2011.

Meu novo mantra! :D


Recaí. Cheirei cola ontem. Que merda. Acho que minha recaída começou quando quebrei o trato com Dr. Edward e bebi cerveja. Depois desta quebra era só questão de tempo. E veio rápido. No domingo, minha mãe botou na minha mão quatro reais para a passagem de ônibus, mais simbólicos sete reais para duas carteiras de cigarro. Simbólicos porque a latinha de Norcola custa exatamente sete reais onde compro. O clique se deu na hora (chamo de clique o momento em que decido usar droga e não tem mais volta [aliás, acho que este clique é o meu grande problema. A irreversibilidade que empresto a este momento, como se eu não pudesse mais desistir de forma nenhuma é um engano, uma peça que insisto em pregar em mim mesmo]).

Não vou contar as peripécias que se fizeram necessárias até o uso. Fato é que comprei cola, cheirei, minha mãe me pegou (sem nenhum escândalo dessa vez [pelo menos não na minha frente]) e me trouxe para o albergue.
Não cheirei muito e mesmo com esse pouco tempo (no máximo duas horas e meia), a lombra já entrou no tedioso looping de idéia fixa e estéril do qual não consigo escapar, como se o CD do pensamento emperrasse num trecho e ficasse repetindo o mesmo pedaço de música ininterruptamente. (Nesse caso, qualquer coisa sobre a celebração dos 25 anos de Zelda misturado com Minecraft [duas coisas que estavam fortes e frescas na minha cabeça]. Via o corrimão vermelho da escada onde cheirava como parte do logotipo dos 25 anos e acreditava que eu estava lá fazendo parte do logo por ser um grande fã*. Pense numa viagem troncha. E que não saía disso.)

Falta a imagem da escada. Prometo providenciar.


Há males que vêm para o bem, entretanto. Depois dessa recaída, finalmente os contras superaram os prós. E, depois de uma conversa com Crica, eu acho que sou viciado e não tenho controle sobre a cola. A ficha caiu. Cola nunca mais. Não vale mais a pena. Simples assim.

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Por causa da cola, tormento familiar. Por causa da cola, culpa e mentira e estupro de consciência. Por causa da cola, até tomar uma com os amigos é visto com desconfiança. Por causa da cola, vivo praticamente recluso e sobre perene vigilância. Tudo em troca de viagens cada vez menos prazerosas (esta última, inclusive, nem prazerosa foi; além do looping, fui tomado por uma enorme culpa no começo e cheguei a cogitar parar e ligar para minha mãe pedindo ajuda, mas o medo da reação dela me fez desistir e me afundar ainda mais vorazmente na embriaguez).

Chega. Posso chegar a lugares melhores – lugares reais – sem a cola. Realmente acredito que agora alcancei a mudança de paradigma essencial para mudar de vida. Pelo menos neste crucial aspecto. Sei que grande parte deste grande nada em que vivo é culpa/responsabilidade minha, independentemente da cola. Mas não mais desejá-la é um grande passo. Passo que não esperava dar nunca. E agora ando na direção de nunca mais usá-la. Estou animado com este novo caminho. O caminho por onde seguia não trazia animação alguma, não tinha vontades outras além da porra da cola. Agora não sei que vontades tenho, mas sei que poderei ter muitas. Sei pelo menos que tenho vontade de nunca mais usar cola e que essa vontade por si só é muito mais prazerosa que a vontade de tê-la. É como escolher algo que faz bem, que alimenta a alma ao invés de devorá-la. Faz tanto tempo que não escolho algo assim que nem me lembro. É um prazer singular e profundo. Uma alegria verdadeira. Ah, uma alegria verdadeira! Que ocorrência rara em mim. Talvez dela decorram outras, mesmo que menores.

Espero continuar firme nesse caminho. Espero, não. Vou. Porque esse é o bom caminho. E não precisa ninguém me dizer. Eu sei. Eu sinto. Finalmente.

Considero este o primeiro dia do resto da minha vida. Hoje eu sou mais eu. E eu sempre fui tudo menos isso. “Hoje eu sou mais eu. Cola nunca mais.” Este é o meu novo mantra! Hoje me tornei definitivamente Boto de Gatas.

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*É engraçado e acho que é generalizado: os grandes fãs todos se acham “o” fã mais especial, “o” cara que entende melhor o trabalho ou a personalidade ou seja lá quem ou o que for o objeto do seu fanatismo. Todo grande fã se acha o fã número um, o grande cara que a pessoa admirada acharia mais interessante, mais especial conhecer. Todo grande fã acha que a pessoa admirada mereceria, aliás, amaria conhecê-lo, posta a completa identificação que tal fã acredita ter com o objeto de adoração. Ser um grande fã tem algo de egolatria transversa, mascarada; é um amar a si próprio ao amar o outro; é se sentir tão especial quanto aquilo que acha absolutamente especial e adorável. É sentir-se o número um de quem é o seu número um. Todo mundo quer ser o número um em algo, mesmo que seja em uma ilusão. Eu sou assim. Por isso as paixões platônicas, que nada mais são que uma modalidade de fanatismo. Ou vice-versa. Fanatismo e platonismo são filhos das mais enormes carências. É o que sinto e sei.

domingo, 27 de novembro de 2011

Central e Tebas: finalmente uma night!

Recife, 26 de novembro de 2011.


Antes de qualquer coisa, tenho que admitir que quebrei o meu trato com Dr. Edward e bebi cinco cervejas no final da night (em verdade, no começo do dia). Mas chegaremos lá. Vamos então para o início.

Fazia muuuuuito tempo que não saía para uma balada (acho que a última foi o show do Los Hermanos aqui em Recife, no dia 15 de outubro de 2010!!). Bom, fomos primeiramente para a rua do Bar Central, sem saber se seguiríamos ou não para o Tebas (o quente da night). Foi estranho, me peguei com vergonha das pessoas, andando encolhido e desconfiado, como um E.T. recém chegado à Terra. Meu amigo filósofo tentou me animar/desalienar dizendo que não conhecia ninguém ali também, que os tempos e as pessoas mudaram desde de a “nossa época”, que todos e todas estavam casados e que isso não era razão para empulhação. Confesso que as palavras dele não surtiram grande efeito, mas valeu a intenção.

Nessa primeira parte da noite, conversei principalmente com ele, o filósofo, sobre mulheres, amores, falsos amores e sobre sua relação com o irmão, questão na qual, para meu jubilo, ele disse que o ajudei. Conversei também com um conhecido que é jornalista sobre sua visão sobre a profissão, a prejudicial homogeneização de opiniões por parte da grande mídia e sua idéia utópica de jornalismo. Esqueci de sugerir que ele escrevesse sobre tal utopia, posto que é um assunto pelo qual tem grande apreço e poderia tornar-se dissertação ou tese para algum futuro projeto acadêmico (preciso lembrar de dizer-lhe isso quando porventura reencontrá-lo [aliás, vou tentar convidá-lo para o meu Facebook e repartir o link deste texto com ele]).

Mais tarde, com a rua mais vazia e a balbúrdia menor, pudemos os seis conversar e sermos ouvidos reciprocamente, momento em que a conversa rumou para o futebol –  o Santos, Neymar, Seleção, o decisivo jogo do Sport (pelo alarido na cidade parece que os rubro-negros conseguiram o que queriam). Fiquei ouvindo, tomando minhas coca-colas (com gelo) e fumando meus Derbys Azuis sem emitir muitos comentários, posto a quase total ignorância sobre o tema.

Finalmente, lá pelas 2h30, o momento da decisão de ir ou não para o Tebas se fez. Dois amigos abandonaram o barco e quatro de nós – o filósofo, o jornalista, o pegador e o vagabundo (eu) – resolvemos encarar a festa. O pegador era o mais desanimado devido a uma recente e tenebrosa doença da qual ainda se recuperava. Mas ele é cavalo do cão e seguimos.

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 O Tebas é um edifício decadente perto da Dantas Barreto e isso deu um toque inusitado à night desde a entrada, com seu elevador de manivela e ascensorista. A festa acontecia na cobertura (se posso chamar assim) do edifício, constituída por três pavimentos; o primeiro, que estava vazio; o segundo, que era onde a ferveção acontecia, lugar do som e da venda de bebidas; e o último, que era como um mirante, sem teto.
Novamente o alienígena em mim emergiu e a sensação de não pertencer àquele ambiente tomou conta de mim. Novamente o filósofo tentou me animar. Pensei comigo que só umas cervejas me animariam. De qualquer forma continuei resoluto em minha abstinência (mais por receio do pegador – ao qual minha mãe impingiu o papel de cuidador – do que por mim e meu compromisso com Dr. Edward).

Esta foto não faz jus à magnificência da vista de fato do mirante do Edifício Tebas. 


O pavimento onde a festa se desenrolava estava apertado, recheado de pessoas muito animadas (para não dizer frenéticas). Passeei os olhos à procura de belas moçoilas e, a princípio, não encontrei nenhuma que me causasse impressão. Eu e o filósofo nos perdemos do pegador e do jornalista logo no começo. Depois de o filósofo, já bastante animado, pegar sua cerveja, subimos ao mirante e aí, a primeira surpresa da noite se deu. Uma vista magnífica de 360 graus do centro da cidade, de onde era possível ver nada menos que dez igrejas (cuidadosamente contadas), incontáveis prédios antigos em ruazinhas estreitas, o mar, o porto e, infelizmente, os dois estupros urbanísticos que são as torres gêmeas, duas cicatrizes horrendas na cara da cidade. A beleza da arquitetura antiga, com seus prédios baixos e fachadas trabalhadas, seu colorido alegre e harmônico me fez sentir profundamente culpado pelo que acontece no resto da cidade onde blocos gigantescos de concreto, cercado por muradas enormes amontoam-se uns atrás dos outros, tornando as ruas ambientes frios e inóspitos, estéreis, feios, desagradáveis, opressores; urbanos na pior acepção da palavra. Me fez sentir culpado porque essa degradação da cidade acontece porque eu me calo e aceito, porque nós nos calamos e aceitamos esse novo estilo de vida onde andar nas calçadas/ruas deixou de ser opção, um lazer, algo lúdico e prazeroso. Nos conformamos ao esquema prédio-carro-shopping e as construtoras se aproveitam da minha – da nossa – submissão. Pois é, o belo pode ser causa de sentimentos dolorosos. O belo faz, como não podia deixar de ser, o feio saltar aos olhos.

Depois de um demorado banquete de deleite e culpa oferecido pelo panorama, voltamos o filósofo e eu para o dancing. Ficamos por acaso perto de duas belas garotas, ladeadas por gays. O filósofo se encantou pela de cabelos curtos, eu, pela de cabelos longos. A de cabelos curtos, entretanto, trocou alguns olhares e sorrisos comigo. No começo retribuí, mas a cada nova troca, mais duro e intimidado eu ficava e acabei completamente travado, parado, olhando para o chão. E, olhando para o chão, fiquei com raiva de mim por não ter a mínima idéia de que outra atitude poderia tomar, posto que me aproximar dela e falar alguma coisa estava completamente fora de questão. Por fim, elas foram embora dali e por ali ficamos eu e minha decepção. Meu ar então tornou-se ainda mais desanimado e blasé. Devo ter dado a impressão aos festivos de que era um cara ainda mais chato do que realmente sou.

Depois disso, meu movimento foi de pegar coca-colas no dancing e subir para o mirante para ver a cidade e fumar cigarros. Nessas idas e vindas, encontrei com o pegador e o jornalista e vi que o filósofo tinha se agarrado com uma garota. Tentei dançar Let’sGo To Bed do The Cure e, por mais que seja um fã da banda e conheça a música de cor, pouco me mexi, travado e embaraçado que estava. Foi então que a segunda surpresa da noite se deu.

Enquanto fumava no mirante, uma garota se aproximou pedindo o isqueiro. Descobrindo não ter cigarros, me pediu um também. Ela não estava conseguindo acender por causa do vento madrigal e pus minha mão ao redor do fogo para ajudá-la. Ela se virou contra o vento e se aproximou de mim. Acendido o cigarro, ela perguntou meu nome. E entendeu errado. Tentei explicar, mas o desentendimento só aumentou e percebi, enfim, que ela estava muito doida e me cantando. Ela perguntou com exatamente as seguintes palavras: “quer brincar comigo?” Travei na hora, claro. Tanto pela surpreendente ousadia da proposta (para um garoto antiquado como eu), quanto pelo jeito e aparência da garota, avantajada demais, doida demais. Tentei me desvencilhar da situação da forma mais elegante possível e depois de mais algumas investidas frustradas, ela desistiu.

Posso parecer maricas e talvez seja, mas, se for para trocar carícias sem interesse, por caridade, prefiro fazê-lo com velhas viúvas, pois, pelo menos, sei que a caridade vai ser maior. Não tenho interesse por toque pelo toque, é preciso haver algo mais, um desejo pela pessoa, infelizmente não cheguei ao nível de ceticismo, por falta de outra palavra, dos homens que vêem uma mulher apenas como cabide de buceta. Talvez eu seja romântico demais para os dias de hoje. Talvez eu seja apenas idiota e maricas. Com certeza me sinto melhor por não ter me agarrado com a doida do que se tivesse.

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Com o território livre depois de o meu amigo pegador ter ido embora e passado a responsabilidade de cuidador para o filósofo (que só tinha olhos para a sua gata), não resisti e resolvi tomar umas cervejas. Calhou de o último DJ tocar rock e, somado ao efeito psicológico e psicotrópico de estar bebendo, comecei finalmente a me soltar. Finalmente consegui dançar como se só houvesse eu no mundo, como se a música pulsasse dentro de mim. Foi assim com Regret, do New Order, uma do Oasis, We Are The Pigs do Suede, BandOn The Run do Wings, Friday I’m InLove do Cure e Idioteque do Radiohead. Foi o segundo momento mais prazeroso da noite (aliás, dia, pois a luz dourada da manhã já resplandecia por sobre a velha e sonolenta cidade, pintando novas cores e prédios escondidos pela madrugada).

Foi triste constatar, porém, que necessito da bebida para me sociabilizar. Gostaria muito que não fosse assim. Talvez com mais tentativas as coisas mudem. Pelo menos gostei de não ficar muito embriagado. Considerei o efeito de cinco cervejas o nível perfeito de torpor, pois me soltou, mas não a ponto de fazer merdas ou parecer ridículo como muitos – e, principalmente, muitas – ali. Quando e se voltar a beber, alternarei um lata de cerveja com uma de refrigerante. Acredito que assim não conseguirei beber tão compulsiva e rapidamente como faço quando só estou na cerveja e demorarei bem mais para ficar grogue.

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Depois de Idioteque, o filósofo e sua paquera decidiram ir embora e partimos os três. Achei curioso que uma quantidade razoável dos freqüentadores da festa puseram óculos escuros ao raiar do dia, como se isso fosse uma nova moda, trend, “chinfra” (como queiram chamar), em que quisessem sinalizar que vieram preparados desde o começo para virar a noite. Interessante.

Chegando em casa bati na porta do quarto de mommy para avisar de minha chegada. Ouvi antes mesmo de ela sair meu padrasto dizendo “cheira o hálito dele”.

Mommy já saiu com dois quentes e um fervendo, cheirou minha boca (estava chupando mentos, diga-se de passagem) e me acusou de ter tomado todas e usado todas. Fiquei pasmado com a agressividade e a severidade das acusações. Disse a ela que estava jogando verde pro meu lado e que, realmente, eu havia tomado três cervejas (foram cinco, pra ser sincero). Ela fez mais um pouco de agressivo melodrama (justificado, devo admitir, pela hora em que cheguei) e voltou a se recolher. Fiz meu “jantar da manhã” e saí para fumar um cigarro no hall. Foi aí que a última e maior surpresa (em verdade susto) se deu. Clementine surgiu do nada e me falou oi. Dei um salto, como não daria se fosse um lobisomem falando comigo. Ainda vislumbrei seu vulto de camisola rosa com um desenho na barriga contra a luz intrometida da manhã quando a desejei bom dia.

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P.S.: Indo ao Facebook adicionar o colega jornalista, encontrei uma citação deste humilde blog. E duas pessoas que nem conheço gostaram da frase!! Pense que fiquei incrível! Olha aí:



Brigado, grande dinossauro!


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Diário de um Albergue de Drogados – Pequeno Pouso

Domingo, 20 de novembro de 2011

Vetorização, em 3 cores, de uma das imagens de divulgação do novo Zelda.

Hoje é o lançamento mundial do novo Zelda, Skyward Sword. Estou no albergue porque, como mencionado, minha mãe e seu consorte foram a um congresso em Minas. Pensei que seria pior estar aqui, mas não está sendo nem ruim. Vamos ver quando os grupos começarem amanhã e a velha rotina se apoderar das minhas horas. Aqui dentro percebo quão isolado socialmente estou lá fora, pois tenho conversado mais agora com os hóspedes do que tenho feito nos meus dias de liberdade. Tenho falado excessivamente, inclusive. Falar – e ser ouvido – tem um sabor especial, diferente de escrever e não ser lido. Por mais que seja dono e mestre dos assuntos quando escrevo, conversas tem o peculiar sabor da interação humana que me faz falta. Li sobre oxitocina ontem à noite na cada vez mais odiosa Veja. Gostaria de saber os níveis deste e dos demais hormônios em mim. Acho que Veja conseguiu o incrível feito de se tornar mais odiosa que o Fantástico e tem se posicionado, mais que esse último, como “o” manual de como se comportar e pensar (em verdade, ensinando como o pequeno burguês faz para se tornar uma pessoa ainda mais medíocre, neurótica, sem criatividade, tempo ou profundidade). Finalmente entendo meu pai em despeito a essa revista. Buscando agradar o leitor muito mais que perseguindo fatos relevantes, a revista oferece uma série de pequenas inutilidades e conselhos voltados para pessoas que desaprenderam a pensar por si sós e adoram o politicamente correto, cirurgias plásticas, as novas modas e todo tipo de neurose consumista contemporânea. Dá tanta raiva que quase chega a dar pena. O pior – é humilhante admitir – que toda essa merda é divertida de ler. É fácil. Informação fast food. E eu adoro McDonald’s. É gostoso me sentir mais esperto que os outros. Gostoso e triste. Não gosto de auto-estima porque ela leva justamente a me sentir mais esperto e legal. E tenho uma crença de que, quanto mais legal e esperto alguém se acha, menos essa pessoa é. Talvez auto-estima seja um gosto adquirido. Talvez. Talvez um dia eu prefira tomar vinho a coca-cola. Mas acho difícil.

Vou escrever mais não, porque isso aqui está mais vazio que matéria de Veja e falta meia hora para a casa fechar. Quero fumar uns cigarros e tomar um banho lá fora antes disso.

Puseram o ponto de internet aqui e parece que já há o cabo. Amanhã, se Crica liberar, o que é bem provável, vou postar meu primeiro texto de dentro da casa. É por isso inclusive que estou escrevendo isso. Boa noite mundo.

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Segunda-feira, 21 de novembro de 2011.

Dando o braço a torcer, li uma matéria interessante na Veja ontem à noite. Tratava de solidão. Como ando muito solitário, me identifiquei, principalmente com a conjectura de que “solidão atrai solidão” ou, melhor dizendo, que pessoas solitárias vão gradativamente perdendo suas aptidões sociais, ficando enferrujadas no lidar com o outro e, conseqüentemente, tornando mais difícil sua reintegração social. Sinto isso em mim e não gostei de me ver espelhado ali. Outra coisa me incomodou ainda mais: o fato de o solitário, por falta de outros novos assuntos, passa a ser cada vez mais egocêntrico, a maior parte de seu tudo passa a ser somente eu, eu, eu. Odiei, pois nada poderia ser mais eu, eu, eu que esse fato.

Já a reportagem sobre o que é ser normal não me apeteceu, pois me pareceu contraditória, o raciocínio central não estava preocupado em ser lógico. Me senti esperto por perceber isso (olha aí o ego saltando novamente). Foda-se eu, eu, eu.

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Tenho uma nova meta: parar de me falar mal de mim para os outros. Essa mania incontrolável já está beirando o ridículo. É uma meta difícil, pois faço isso desde que me entendo por gente, comportamento herdado e distorcido da postura do meu pai perante os outros. Acho que entendi a modéstia de uma forma demasiado autocrítica. É interessante que meu pai já foi tido como arrogante e dono da verdade. Em verdade, pensando em retrospecto e falando mal dos mortos, acho que ele sempre foi um arrogante dono da verdade em pele de cordeiro (de modesto).

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Estou esperando Crica sair da reunião semanal da equipe técnica para ver se ela vai liberar o meu uso de internet hoje. Há 50% de chance disso acontecer, creio.

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Vou arrumar a vetorização de Zelda agora para colocar no começo do post. Me tomou dois dias e cerca de 12 horas para fazê-la e deveria se tornar uma camisa bem humorada, mas acabei achando a imagem horizontal demais para servir bem no layout imaginado. De qualquer forma, pelo menos servirá para ilustrar este post.

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Acabei o desenho do Zelda, são 21h34 e Crica está fazendo jogo duro, dizendo que a negociação da internet tem que ocorrer em consulta, não assim enquanto ela está no papel de AT. Não sei porque ela está sendo tão estrita se antes, eu tinha liberação para usar inernet... bom... e brá.

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Terça-feira, 22 de novembro de 2011.

Tenho me sentido estranho, meio sem cérebro, meio avulso, meio alheio. Não sei se por estar aqui ou por outro mistério interior. Não consigo prestar atenção ou me interessar, me envolver pelos grupos. Como se ler a matéria sobre a solidão tivesse tido um efeito inconsciente amplificador da minha solidão e egoísmo. Como se estivesse ainda mais trancado dentro de mim e distante do que está fora, ao redor. Isso são fantasias de um eu, eu, eu demais.

Pedi à coordenadora do albergue que telefonasse e interviesse junto a Crica em prol do uso da net. Crica ficara de falar comigo hoje e fuleirou. Sumiu sem deixar vestígios. A coordenadora se apiedou de mim e vai tentar ajudar. Minha próxima consulta com Crica só se dará na quinta, dia em que volto pra casa; logo não poderia inaugurar a bendita extensão de internet. Acho injusto não usar, posto que fui eu que coloquei o assunto na pauta de duas assembléias gerais para ser negociado. A internet aqui é lenta e tenho acesso muito mais veloz em casa, mas o valor simbólico de usar a do albergue, de saborear uma conquista é importante para o eu,eu,eu aqui.

Estudo da idéia que tinha para a camisa.


A camisa seria assim, da cor do verde claro do desenho, 
para que só fossem necessárias duas cores de impressão.

Se esta for a última frase do post, significa que usei a internet do albergue!!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

27

Tenho uma fixação pelo número 27, toda vez que o vejo, ele me salta aos olhos, por isso, resolvi colecionar suas aparições neste post.


Filmes



(Coordenadas do avião 27)





(Não anotei)











(Não anotei)





Inimigo do Estado
(Aparece aos 23 minutos)





K-PAX
(27 de julho, dia da partida de Prot)





O Exorcismo de Emily Rose
(27 de outubro, o dia em que o pai manda a carta requisitando o exorcismo)












Os Agentes do Destino
(3227 é o número de telefone do protagonista)







Quarto do Pânico
(1h27 é a hora do assalto)





Ressurreição (é com Christopher Lambert, mas não é o Highlander!) 
(O 3º cadáver tem número XXVII)






Skyline
(O ataque começa às 4h27)





The 27 Club (com Eve Hewson, filha de Bono!)
















(Não anotei)





V de Vingança
(tem três 27s, nenhum anotado)




Outros



11011 = 27 (em números binários)



17,2 % dos 127 milhões de habitantes do Japão tinham mais de 65 anos em 2000; em 2020 essa quantidade pode subir para 27%





DeusEx: Human Revolution (game de PS3),  se passa em 2027






Diários de um Manicômio X: 27º post deste blog. Este é o 28º :P






Starcraft II (game de PC) foi lançado em 27-7-2010






Temperatura da radiação cósmica de fundo: 2.7 K





Acrescento mais à medida que o 27 for aparecendo.

Diários de um Manicômio X

28 de agosto de 2011

De mais relevante, uma psicóloga do manicômio veio espontaneamente falar comigo (algo muito raro). Não sei se o fez por causa do questionário que me propus a responder à plantonista de ontem. Nunca a tinha visto antes. Era uma figura bem apessoada, bonita, bem cuidada, atraente. Percebi que instintivamente cobriu o corpo com a bata e encerrou abruptamente a conversa quando mencionei quão pobre numericamente havia sido minha vida amorosa. Aposto que foi uma atitude defensiva dela, fruto de experiências desconcertantes com outros pacientes. No mais, respondi com sinceridade aos seus questionamentos, não levando em conta auto-incriminações e as possíveis conseqüências negativas destas. Uma conseqüência que me veio à cabeça após a conversa foi uma passagem pela “Vila Passos” (o que quer que esse lugar seja). Nada que me assuste muito. Se há uma coisa que eu descobri é que o inferno é da pele para dentro. O inferno da alma, o desejo de não ser. Salvo raríssimas e extremas situações/condições, o homem tem a capacidade de adaptar-se se isso lhe for/parecer válido. Uma das frases de que mais gosto – e menos sigo – é “a necessidade é a mãe da invenção”.

Outra coisa marcante hoje foi a hostilidade e rispidez com que a nova paciente – a esquálida e fétida (e jovem) – me disse para não dirigir-lhe mais a palavra. Não sei se isso foi por causa do comentário que fiz sobre como ela estava com um semblante melhor, mais leve (ela havia finalmente sido banhada e depilada pelas enfermeiras, o que deve ter contribuído com a minha impressão).

A reação dela talvez tenha sido de repúdio por estar limpa e ser elogiada por isso. Talvez a agressão e o desprezo sejam suas linguagens de afeto. Qualquer que sejam as razões, sua grosseria mexeu com meus brios e não voltarei a me comunicar com tal criatura. Percebo também que ela não come e só bebe água/café (até onde pude ver), o que não me parece lá muito saudável. Por sinal, estava a brigar com uma grandona há alguns instantes atrás.

Tenho dormido mais e mais para que o tempo passe mais rápido. A melhor parte do meu dia é depois do jantar, quando escrevo isso (nossa! Como estou ficando repetitivo!). Quero me informar se esta internação compulsória – C-10, pelo que entendi – permite me aposentar. Péra, vou perguntar.

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Infelizmente, ainda não consegui a resposta. Grades não facilitam a interação com a equipe técnica. E a constante ladainha dos pacientes ao redor das grades faz de qualquer pedido um zunido irritante no meio da balbúrdia.

Estranhamente, ainda sinto saudade de Adeline. Ela é, de longe, a melhor lembrança, a melhor descoberta feita aqui. Seu sorriso e sua cara de braba, seu bucho magro estranho e branco, seus braços e mãos delicados são a representação da mais pura poesia que a divina e feia palavra loucura pode ter e definitivamente tem. Poesia que vi e vivi com meus olhos, ouvidos e rápidos e arengados toques.
(Novamente Adeline, definitivamente estou ficando muito repetitivo...)

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A rotina, de alguma forma até previsível, contamina a rotina dos pensamentos. Percebo isso com mais clareza aqui. Como uma velhice antecipada, onde tudo parece que já foi visto, onde tudo é a mesma velha janela, o mesmo velho sol, fazendo o seu mesmo velho círculo em volta do mesmo velho céu. O truque, acho eu, é não matar o curioso que existe dentro da gente e prestar atenção nos pequenos detalhes, nas variações que sempre existem dentro da grande repetição. É isso que dá mais azuis ou rosas às nossas rotinas. É isso que faz a rotina parecer menos rotina. É a vontade de descobrir e a técnica misteriosa, quase mística, de não deixar essa vontade de descobrir se apagar.

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Pela prolixidade do meu texto que nada mais tem como objetivo que preencher o meu ócio, percebo cada novo relato mais vazio, mais cheio de repetições, da rotina antes mencionada. Que perguntas poderia me perguntar para desgrudar minha prosa apenas do agora, para o além de aqui e até além de Adeline?
Em verdade, sei exatamente sobre o que quero falar, sei exatamente sobre o que quero escrever: ALGO OU TEORIAS DO FRUTO DA ÁRVORE ENVENENADA.

- E se, em vez do homem/mulher, tivesse sido o elefante/aliá a comer o fruto oferecido pela serpente (provavelmente elefantes seriam mais fáceis de enganar que homens)? Que teria sido da criação? Quem reinaria sobre todos os outros?

- Por que sendo o homem a criatura castigada, todas as outras encontram-se também fora dos Jardins do Éden?

- Por que, ao punir o homem com o dilúvio, Deus não poupou as demais amadas criaturas de sua invenção?

Braves

Protagonista do novo filme da Pixar, Brave, e Björk em Biophilia: o que mais terão em comum?

Diários de um Manicômio IX

27 de agosto de 2011


Acabei de jogar dominó. É bom para variar. É noite. Sempre escrevo depois do jantar. Às vezes, depois de tomar os medicamentos. É final de semana e a rotina é um pouco mais tranqüila, menos barulhenta, pois muitos pacientes passam o período fora, com seus familiares/tutores.

Sinto falta de me masturbar e suspeito que haja atividades homossexuais entre alguns pacientes na parte superior da casa (não saberia explicar ou provar por que). Não desejo investigar o assunto por medo de agressão e pela falta de relevância no meu cotidiano.

Da ala feminina presente na casa hoje, nenhuma me desperta libido ou carinho maior que simpatia cordial.
Percebo em alguns pacientes os sintomas de perseguição citados por Freud, chegando algumas vezes a elaborar teorias conspiratórias (quem sou eu para falar de teorias?). A ala das mulheres, distante da enfermaria (que é anexa à ala masculina), faz com que as pacientes femininas me lembrem um bando de cabritas a berrar incessantemente pela distante atenção dos funcionários, geralmente pelos motivos mais esdrúxulos, só pela a atenção em si (o que nem é um motivo tão esdrúxulo, dados o isolamento e carência a que estamos submetidos).

Sobre mim, recebi mais do que pedi e menos do que pedi, pois vieram roupas e guloseimas inesperadas e faltaram os tão esperados caderno e caneta. Terei que continuar esmolando ambos de internos e funcionários. Ainda penso em Adeline e me pego fantasiando se ela seria a “ela” da minha vida. Criança-menina-mulher-poesia-caos-doçura-agressividade-espontaneidade. Tão necessitada de carinho. Tão necessitada de ser aceita como é, tão fada, tão estranha, como uma princesa de Tim Burton, como uma feminina Edward Scissorhands. Mais e melhor que o mundo que a rodeia e, por isso, incompreendida por ele, que a oprime/reprime.

Mas devo falar de mim e só me resta meia página. Eu me sinto, afora pela saudade castanha por Adeline, de todo o resto vazio. Começa a irritar-me a constante amolação por cigarros. Incomoda-me essa característica humana de desejar o que é do outro, mesmo que um biscoito ou um resto de café.

Não me sinto revoltado com a minha mãe. Foi a única alternativa que ofereci. Maquino como conseguirei dinheiro e local para o meu retiro “Norcolaespiritual” quando estiver livre. Penso em livrar-me do meu novo Nike por cinqüenta-setenta reais; conseguir um bom estoque de cola, alguns cigarros e algum líqüido (água, coca [coca é melhor, pois tem glicose e é mais gostosa!]).

Sobre o lugar, tenho duas opções e não as revelarei aqui, pois é depor contra mim e botar meus planos por água abaixo.

A psicóloga daqui do manicômio disse que me dará mais papel hoje. Proporei um jogo a ela.

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Ela me deu o papel. Eu propus o jogo – que ela elaborasse perguntas para eu responder; ela concordou. Fez três perguntas relacionadas ao uso da cola, seu significado, conseqüências e coisas do gênero. Infelizmente, devolvi o papel respondido para ela e não o reouve. Logo, não constará deste diário.

Diários de um Manicômio VIII - Parte 2

26 de agosto de 2011



Falar de amor. Meu amor tem muitas faces, nunca a minha. Meus amores em sua enorme maioria são paixões de um lado só. Me acostumei a amar só para mim, o amor abstrato e etéreo dos românticos, sem necessidade de oferecer/compartilhar a solidez da minha feiúra, a monstruosidade dos meus defeitos. Até porque temo descobrir em minhas musas as monstruosidades ou defeitos que todos nós, medíocres ou anormais, escondemos mais ou menos embaixo do manto da civilidade de verniz, da beleza estética etc.

Prefiro as paixões platônicas, eternas despedidas, parcelada frustração do inevitável nunca aliada à sempre perfeita irrealidade do ser idealizado.

Resolvi chamar todas essas minhas paixões-amores-sonhos de “Clementine”, porque gosto do som, gosto do filme e nunca conheci, de fato, uma.

Clementine também porque lembra a “clemência”, como se meu coração (meu eu mais fundo), meu corpo, minha saliva, minha língua, narinas, pênis e dedos e mãos pedissem mais que sonhos, pedissem algo mais concreto e macio e cheiroso e molhado e humano que intocáveis musas.

Nem sei mais o que é amar esse amor de carne e suor e pêlos. Sei amar cada vez mais a cola e nela cada vez mais encontro a minha realidade, o meu verdadeiro eu. Como se o seu solvente gradativamente removesse o verniz da civilidade e me revelasse para mim. Uma vez cru e, permanecida – como permanece por algum tempo – a crueza mesmo depois o solvente, me importam menos a reação do mundo, os amores ou meu lugar nele(s). Eu e a colas nos bastamos. Sem ela, sou todo carência. Carência e negação de mim. Já estou num manicômio e aqui me sinto bem, me parece o lugar certo para gente como eu, não fosse pela falta de cola. Mas um manicômio, dentro da cultura de verniz, é um dos pontos mais baixos a que um “cidadão” pode chegar e me incomoda que membros da cultura de verniz que me amam tenham me colocado aqui. Imagino como os meus irmãos, mãe e todos os outros que querem me impor formas que me deformam lidariam com este cotidiano. Como lidariam com a privação das pequenas coisinhas que simbolizam seus status e civilidade. Como lidariam com o fato de estarem onde nada disso – exceto cigarros – realmente importa. Onde vaidade é quase inexistente, onde a gula é motor primal, onde higiene é esporádico, onde ócio (para quem não tem papel ou caneta) é muito pouco criativo. Onde quase ninguém te ouve e muitos querem falar (isso nem é muito diferente do mundo “normal”; só em forma). Queria saber se lidariam tão bem quanto imagino que tenho lidado.


Liberdade daqui significa chutar o pau da barraca e mergulhar na cola até perceber, se for o caso, que preciso de ajuda.

Dificilmente esta liberdade de barraca chutada vai acontecer. Essa frustração antecipada gera revolta. Gosto da revolta. É diferente da apatia que carrego há alguns anos. Revolta é movimento. Contra os outros. Na direção que eu quero. Mesmo que seja a direção errada. Errada para todos. Desejada para mim até que se prove – para mim – contrária a mim também. Me negar a possibilidade me dá forças – revolta – para lutar. Alcançar. Descobrir. Aprender. Mudar. Lutar de novo. Cada um tem sua religião, sua fé, sua crença. Eu tenho a minha. E me negam. Chamam de racionalização. Chamem do que quiserem, mas não me proíbam, se sou capaz e tenho clareza para escrever isso. Se não cometi crimes (que não fosse pegar algum dinheiro de meus pais ou o carro da minha mãe escondido umas três vezes [e roubar uns brinquedos e revistas quando era guri]). Se nunca fui violento. Eu tenho o direito. Tenho o direito de ir, vir, ficar, buscar.

Pois é, o sentimento de encarceramento começa a tomar conta de mim. Pelo visto já não me sinto tão bem aqui, quanto imaginava. Preciso manter a cuca fria. Acho que é desejável para o manicômio cucas quentes, pois estas significam mais tempo de internação e mais dinheiro no caixa.

Os funcionários, ao contrário do que ouvi antes de vir para cá, não são nem mais nem menos tirânicos do que precisariam ser para lidar conosco. Não são nem um pouco tão tirânicos quanto somos com eles.

Alguns pacientes têm a satisfação – e não são poucos – em possuir ou pegar restos de alimentos dos outros, como se isso significasse ser bem sucedido aqui (estar entre os melhores caçadores/catadores). Houve um que me ofereceu um cigarro inteiro em troca da guimba que eu fumava (por ser guimba e minha).

Há trocas de carinhos e toques, beijocas entre pacientes de sexos diferentes por entre as grades. Isso é silenciosamente permitido pela equipe técnica (talvez por solidariedade a todas as outras tantas privações) e fica claro que a interação entre os sexos (mesmo separada por grades e apenas através de palavras) faz bem a todos e todas.

Voltando à paixão. Meu coração se divide entre Adeline, Bia e Juliana (ou seja,é  todo Clementine). Mas Adeline sem dúvida me ofereceria os maiores desafios, as maiores recompensas, a maior (in)compreensão.

Boa noite, Clementine(s). Boa noite, Universo. Que todos nós estejamos mais harmônicos, alegres e afetuados [?] amanhã.

Hipnose é a solução?

Hoje, além da gata na lanchonete, houve outro acontecimento marcante. Tive um insight, não digo que genial, mas no mínimo inusitado, para que eu escreva Algo Ou de uma vez por todas: recorrer à hipnose! Encontrei o endereço eletrônico do cara que hipnotizou o rapaz do CQC e acabo de mandar o seguinte e-mail para ele:

PRECISO DE AJUDA

Caro Fábio Puentes,

Há mais de dez anos tenho a idéia de um livro para escrever. Ele trata da minha visão filosófica do mundo e tornou-se a grande missão da minha vida. É a coisa mais importante que carrego dentro de mim e, por ser tão importante, algum bloqueio surgiu que não consigo, por mais que tente, escrevê-lo. Há anos vivo com essa angústia por não botar para fora as minhas idéias, de concretizar meu grande projeto. Acredito que o senhor, através da hipnose, pode me ajudar (como fez com o rapaz do CQC, para que ele recitasse um poema).

Por favor, me diga que o senhor tem a solução.

Atenciosa e ansiosamente,

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Provavelmente não terei grana para pagar os serviços, mas, se ele morder a isca, vou tentar jogar toda a minha lábia e chantagem emocional para ver se ele me ajuda de graça. Daí, se ele topar, arrumo uma grana para comprar uma passagem do que for mais barato para São Paulo e escrevo de uma vez por todas a minha tão sonhada e bloqueada obra. Será que cola? Veremos no próximo capítulo.

Paixonites

O meu parecia muito com o da esquerda, só que com calda de maracujá por cima.


Hoje, fui com minha mãe conhecer uma lanchonete nova que abriu aqui no bairro. O sanduíche era interessante, bom até. Mas o que me chamou a atenção foi que o lugar era freqüentado por gente jovem e bonita. Nos fundos, a lanchonete vendia iogurte congelado, que nunca havia experimentado, mas que mommy adorava. Acabou que ela me convenceu e resolvi pedir um para mim também. O bicho puro era algo azedo e insípido, mas misturado com amoras e calda de maracujá, pense. Foi aí que ganhei meu dia. Enquanto me deleitava com aquele sabor até então novo para mim (e por isso meio mágico, como só a novidade pode ser) uma garota lindíssima sentou-se nos fundos do fundo da loja, de frente para mim, à espera de um rapaz que fazia seu pedido. A mistura do prazer gustativo com o prazer visual foi algo de sublimemente inesperado. Meu coração palpitou com uma alegria rara para mim nos dias de hoje. E mais acelerado ficou quando ela olhou nos meus olhos por duas vezes, depois levantou e veio ver um adesivo sem graça do iogurte perto de mim. Não sei por que fez isso, mas quase pensei que fora por minha causa. Fiquei olhando (secando?) sua forma delgada e seu delicado perfil até que o rapaz que a acompanhava se aproximasse para ambos partirem, momento em que, encabulado, me pus a olhar abobalhadamente para o copo de iogurte vazio.

Ela era tão linda e parecia tanto ter se exibido para mim que eu, carente como estou e sou, não pude evitar senão fantasiar e desejar freqüentar periodicamente aquela lanchonete para tomar um iogurte congelado na esperança de vê-la de novo, quem sabe sozinha e quem sabe me atrever a puxar conversa. Imaginei até o que perguntaria primeiro: “você pode ser absolutamente sincera comigo? Você tem namorado?” E, independentemente da resposta emendaria com: “desculpe, é que te achei tão deslumbrantemente linda que não pude resistir à vontade de saber o que você pensa.”

Pois é, admito que nesse estado de extrema carência, minhas paixões são cada vez mais fugazes e vulgares, paixonites, na verdade. Mas que o sorvete-beleza foi uma delícia, ah, isso foi. E mesmo que não por ela, pretendo voltar para mais sorvetes e para ver mais gente bonita, pois, para mim não há nada mais bonito que garotas bonitas (e nébulas!).

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Cambaio

Procuro moça que me deixe cambaio.


É incrível como uma pessoa pode exercer tanto poder sobre outra apenas por existir. É o que ela faz comigo. Nada. Mas isso é tudo o que basta para me dominar os pensamentos, os batimentos, os sentimentos. Nada e eu me entrego mesmo assim. E entregue fico. Ao nada. Pois esperança nunca houve, nunca ouvi. Ouço Cambaio e parece a trilha do nosso nunca que insisto em enxergar como futuro sempre. Mas esse futuro nunca chega, está sempre atrasado e me alimenta de sonhos. Sonhos dela. Sonhos feitos de nada. Sonhos sempre. Sempre nunca.

Preciso de sonho outro. Procuro moça que me deixe pasmado, zarolho, cambaio, me fervendo na veia. Moça que, mesmo que me deixe, deixe eu ficar um pouco ao seu lado. E, em vez de nunca, tenha nuca. Nua.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Diários de um Manicômio VIII

26 de agosto de 2011


Não houve cirurgia da cara ontem. Recebi cigarros, coca, biscoitos, roupas e chocolate hoje. É muito difícil me comunicar com a equipe técnica. Sempre há alguém que grita ou esperneia mais do que eu. Entre nós, internos, afora os surtos (de agressividade e de euforia) a relação é agradável, curiosa, rica. Dizem que Crica, minha psicóloga da clínica para drogados, virá me ver amanhã, mas não acredito, posto que será sábado. Não sei se serei completamente sincero com ela quando ela porventura vier, pois quero cheirar cola mais do que ser sincero.

Acho que o encarceramento gradualmente me deprime, pois tenho dormido cada vez mais (para poupar cigarros, para o tempo passar mais rápido). Não nego, porém, que esta postura regredida de estar dentro de um enorme útero cheio de outros fetos mal formados é cômoda. Tivera eu cola aqui dentro, não quereria mais sair.

Em comparação com a clínica para drogados, o manicômio oferece melhores dispositivos de sabonete líquido (dosadores?) e melhor sabonete, pois não é diluído (a marca dos dosadores é exactta). O chuveiro também é melhor, mais caudaloso e quente. Tenho sentido azia, talvez pela alimentação, talvez pela falta de coca-cola, talvez pelo excesso de cigarro, talvez pelo Dalmadorm, provavelmente por tudo isso junto.

Minha fada-princesa (Adeline) foi embora e a potranquinha com cara de anjo e cheiro de sexo foi passar o final de semana fora, logo os próximos dias serão privados de qualquer estímulo sexual ou afetivo relevante. Chegou uma moça esquálida, fétida e cabeluda com fortíssima depressão. É/está anti-social ao extremo e as poucas vezes que tentei contato fui prontamente rechaçado, me fazendo perder o interesse em construir qualquer simpatia.

Masturbação também me parece fora de questão, pois não há trancas em nenhum banheiro.

A melhor parte do meu dia são estas letras de tinta no papel e uma ou outra palavra que emito e sinto tocar a alma de um companheiro de forma mais profunda/útil.

Não sinto muitas privações, exceto a cola e a parte sexual. Gosto, como já mencionado, de agir quase da forma que quero, ou seja, da forma menos aristocrática possível. Me encanta que, mesmo assim, um código silencioso de ética e autoridade emirja entre nós, internos, e que ele seja suficiente na maior parte do tempo para a manutenção da paz, sendo apenas pontuais ações coercivas da autoridade instituída.

(Nota 04/09/11: desculpe se me repito sobre este tema e tantos outros, mas decidi que a transparência e fidelidade ao que produzi naqueles dias é mais relevante que as inevitáveis redundâncias [embora não me furte a corrigir e colocar adendos aqui e ali, posto que há um torto tipo vaidade literária em mim]). 

Meu Querido Diário I

Para quem não conhece: jiló (o sabor do meu humor).

Hoje não foi um dia bom. Minha alma não estava nem está boa, ando carregando uma amargura e um rancor das coisas do mundo dignos do meu pai. Passei o dia na casa dos meus avós e isso ajudou. É triste – e por vezes enervante – ver pessoas amadas em tal estado de decrepitude. Não que sejam velhos infelizes, são felizes tanto quanto a idade e as mazelas permitem. Porém, por mais felizes que sejam, o convívio com meus avós paternos e maternos, além de feia piedade, só reforça a minha vontade de morrer na metade do caminho, de não viver uma existência ainda mais limitada e ridícula que esta em que agora me encontro, onde tenho plena capacidade das minhas faculdades e elas de nada servem para salvar-me da minha mediocridade. Minha mãe sugeriu que eu estivesse deprimido. Por este início, começo a concordar com ela.

A partir de sábado, novamente me encontrarei sem lar e terei de retornar ao albergue de drogados, pois a alternativa restante seria passar uma semana em companhia dos meus avós. Não poderei ficar na casa da minha amada tia (a primeira alternativa de exílio cogitada), devido à pintura de final de ano e ao estoque de tinta e tíner, tentadores para o viciado em cola (e solventes em geral) que sou. Isso também ajudou no meu mau humor.

Mas não são os acontecimentos por si só, é alguma ranhura na alma, uma hipersensibilidade ao desagrado, uma intolerância com qualquer não. Talvez tenha passado tempo demais em internamentos e desaprendido a viver nessa gangorra tresloucada que é o mundo todo. Talvez esteja querendo inconscientemente minar a fortaleza que construí para passar os dois meses que restam de abstinência. Talvez esteja deprimido. Talvez tudo isso ou nada disso. Não importa. Preciso me animar. Preciso descobrir como. A única coisa que me acende é o novo Zelda. E escrever. Pintar, que seria o meu sustento escolhido, abandonei, abusei (em verdade me acovardei diante da possibilidade de funcionar [e nada deve funcionar para mim, pois é assim que funciono]). Estou ancorado em mim mesmo, por correntes pesadas e curtas que quase me afogam nesse mar de nada em que eu mesmo atraquei. Eu sou o responsável por isso, por mim, pelas correntes e pelo mar, por não pintar e não viver, por ter medo da velhice e amor à droga, por amar amores em vão. Eu sou o responsável por esta obra humana quase desumana (ou humaníssima em toda a sua gloriosa pequenez). Eu sou responsável, principalmente, por não assumir nenhuma responsabilidade. Tenho fobia de responsabilidades. E isso talvez seja uma grande responsabilidade, pois poucas pessoas, além dos loucos, assumem a responsabilidade de não serem responsáveis por nada. Acredito que as responsabilidades foram as piores torturas existenciais às quais fui submetido. Me ensinei que não sei cuidar de mim. Me dizem que eu não sei cuidar de mim. E é mais fácil acreditar. É muito mais fácil reclamar de barriga cheia que correr atrás de comida. É muito mais fácil sofrer acorrentado à boa vida que correr do sofrimento e ir atrás de uma vida boa, melhor, mais minha, mais eu. Foda-se. Vou fumar e tomar um café.

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Incrível como escrever palavras ácidas de desabafo e autocomiseração alivia a alma. Fumar um cigarro e tomar um café, depois fumar outro cigarro com um copão de coca (zero :P) também. Ainda mais quando o pensamento vai parar em idéias de como seria o perfeito Zelda para Wii U (pretendo desenvolver os conceitos em um novo – e mais alegre –  post).

Quero ver como o texto acima vai me soar daqui a um mês, se conseguirei ver o óbvio e o ridículo que agora me escapam.

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VIAGENS ASTRAIS

“Gâst”, como o velho costumava chamar, imitando o Rei Rossi.

Um nóia meio espírita tem me acometido ultimamente. Tenho me pego conversando com meu pai (morto), como se fosse ele o causador desse meu estado rancoroso (como o dele me parecia ser no final da vida). Me pego dizendo a ele que não sou daquele jeito, que exigir de mim essa indignação com as coisas miúdas me faz mal, que, se ele quiser me ajudar, apenas continue me incentivando do além a ter o cuidado que ando tendo na revisão destes textos (ele era extremamente brilhante e perfeccionista na construção e lapidação do que escrevia). Sempre acabo as “conversas” desejando que ele seja feliz e encontre paz (essas coisas meio de oração).

Acho curiosa a inevitabilidade desses misticismos se alevantarem até em mim, que nunca fui dado – nem entregue – a religiões. Deve ser coisa do fantasma da memória de alguém tão absolutamente importante e definitivo na minha vida. Racionalmente, me considero completamente cético em relação a esses deuses que já existem. No meu âmago talvez ainda precise conversar com meu pai para aplainar sua agora eterna ausência.

É estranho tecer esses comentários e me desperta sentimentos indefinidos. Sentimentos que não conhecia antes de sua morte. Sentimento brandos, pelo menos. Carinhosos, eu acho. Saudosos e culposos também. Uma dor leve e fina, um quase não-doer, um quase amar ou uma dor de amor tão etérea que quase não se materializa em sentimento. Curioso. De qualquer forma, se Deus houver, que ele te abençoe e te guarde, meu pai. Não se preocupe comigo, pois a mim só eu posso dar solução. E manda lembranças para vovô e para o imperador!

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EU, EU, EU


Devido à minha incomensurável preguiça, ao meu infinito egoísmo e à minha chata curiosidade percebi hoje que o único objeto de estudo ao qual eu posso me dedicar, por estar sempre à mão e por ser o único a que tenho total e irrestrito acesso, sou eu. Eu, eu, eu. Minha ocupação nestes últimos meses – quem sabe anos – fui eu mesmo. Se a máxima conhece-te a ti mesmo tem alguma relevância, tenho-a cumprido à risca. E descoberto que outra máxima é ainda mais verdadeira, só sei que nada sei (sobre mim).

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Por que todo mundo quer subir? Por que não fazer aqui embaixo mesmo?

Para atar todos os nós deste post, devo dizer que, embora atualmente apenas me estude, acredito que já descobri as maiores verdades do universo (por que estamos aqui, como viemos parar aqui, para onde vamos, o que é Deus e, principalmente, como criar o paraíso na Terra com a ajuda da Google e da Nintendo). A grande missão (auto-imposta) da minha vida é escrevê-las (e quem sabe publicar em algum lugar além deste blog [tá certo...]). Depois disso, poderei me libertar dessa existência mesquinha e pequena, dessa cápsula de carne que apodrece rumo – espero – ao nada (se houver Deus, vou pedir para ele dar Ctrl + Alt + Del em mim! Não vou agüentar morrer e continuar sendo eu. É muita sacanagem!). Se tudo der certo, partirei muito antes da decrepitude física se tornar velhice doente e senil, que é a velhice inevitável para mim que trato tão mal o “veículo da minha alma”.


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Ela, vovô morto e bananas (ou ontem, hoje e um pouquinho de amanhã)

(Nota 14/11/11: encontrei o texto que escrevi um dia antes de ser internado no manicômio)

17 de agosto de 2011, ouvindo 4, do Los Hermanos


A melhor parte do dia foi vê-la mais feliz e solta e livre do que jamais vi. Quase sonho, toda poesia, de cabelo preso engraçado, nuca nua, gestos soltos e sorrisos incontidos, francos, maiores que os seus outros sorrisos, indescritivelmente lindos. Um espetáculo mágico do universo, amplificado em esplendor pelo meu sentimento, se desenrolando gratuitamente à minha frente. A vida, às vezes, vale muito a pena. Gostaria de ter memória fotográfica (ou melhor, cinematográfica) e não apagar nunca esses poucos minutos, se minutos foram, das minhas recordações.    

O resto do dia, infelizmente, foi infeliz. De uma tristeza que veio sabe-se lá de onde, sabe-se lá pra quê, que me roubou de mim e me deu vontade de fazer nada. Enfim, chegado em casa, fechei-me na escuridão dos meus sonhos.

Sonhei com meu avô morto. E ele se mexia. Ele estava deformado e seus órgãos estavam na geladeira, dentro de potes de vidro e sacos plásticos. E ele insistia em se mover. Em não morrer. Para meu alívio e desespero. Morto-vivo. Sem palavras, só movimentos lentos de quem não queria abandonar o mundo mesmo tendo passado a sua hora. E a neta caçula dele sempre por perto, o querendo, provavelmente, mais do que eu, seu neto primeiro. Eu, desespero; ela, tranqüilidade. Como se soubesse, ao contrário de mim, que aquilo tudo era apenas um sonho ruim. Tenho tido desses (e lembrado) ultimamente.

Fome. Vou fazer bananas fritas (pela primeira vez na vida). Volto já.

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IRRELEVANTÍSSIMO
Fritar as bananas foi mais difícil do que eu pensava pela consistência molenga que as fatias adquirem à medida que vão sendo fritas/cozidas. Virá-las foi muito complicado. Finalmente percebi que a dificuldade vinha menos da minha inépcia e mais do fato de não haver uma escumadeira (espátula?) na cozinha. Houve fatia que não consegui virar. De qualquer forma, fritei as bananas razoavelmente. Nalgumas coloquei os tradicionais açúcar e canela, noutras coloquei Toddy e mel (que é o que coloco quando como bananas cruas). Confesso que a versão tradicional é realmente definitiva, embora o experimento achocolatado tenha sido válido.

Bom, perdi a “virgindade” na produção de bananas fritas. E, tenho certeza, que, como no sexo (não tiro isso da cabeça ultimamente [para o bem ou para o mal]), vou ficando melhor a cada nova tentativa.

Não frite bananas sem ela!


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Aviso aos navegantes: vou recair amanhã, ou seja, cheirar cola. Não sei estou colocando isso aqui antes por audácia (porque sei que ninguém vai ler ou o faço como pedido de ajuda (na esperança que alguém leia e me impeça). Amanhã posto as conseqüências.

(Nota 14/11/11: como disse, a conseqüência da recaída foi o meu primeiro internamento no manicômio. Veja impressões do dia da recaída aqui).

Diários de um Manicômio VII

25 de agosto de 2011

Uma semana aqui. Se este local tem um rosto, é Adeline (que já partiu). Ela despertou em mim o amor-carinho-infância que nunca mais imaginaria que fosse sentir, que dirá trocar. Saudade dos breves eternos momentos.

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Direcionei minha libido (sem nenhum amor-carinho-infância) para Eriquinha, a menina com borderline, 16 anos e a durezinha e belezinha da juventude. Ela, porém, é muito mais mulher, muito mais sensual, muito mais dona/mestra dos seus artifícios/atributos que Adeline (que tem 22). O apelo para o corpo me parece uma estratégia para desviar a atenção/esconder do mundo exterior o caos e sofrimento que se passam dentro dela. Por outro lado, a vulgaridade/erotização da garota, as partes jovens e duras sempre à mostra e salientes, despertam minha sexualidade, meu cio, o desejo de possuir tudo aquilo que me é revelado (e a todos) e o pouco que resta escondido. Ela gosta de relações de amor e ódio (montanhas-russas emocionais), da eterna perda e reconquista. Não sei se consigo fazer este papel, mas a tentativa vale a pena. Só pelos seios, lábios e lábios para os meus lábios e o meu pau.

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A parte isso, uso minha psico-filosofia de botequim com os pacientes (mais com as pacientes, pois elas estão mais abertas a um conselho masculino [homens competem mais com homens em vez de trocarem ombros]). Em geral, também afiro resultados mais positivos que negativos com estas tentativas, o que me leva a crer que talvez intervenções psicoterápicas “ocultas” (com profissionais se passando por pacientes), pudessem ter efeitos terapêuticos diferenciados, dada a imersão completa e o acesso a todos os diálogos “por baixo dos panos” que tanto poderiam ajudar o restante da equipe técnica. Não! Estou sendo maquiavélico/nazista/canalha com essa sugestão. Permito-me agir, pois não tenho comprometimento ético nenhum com a Academia. Os profissionais, por outro lado, têm.

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Ainda penso muito em cola. E, mais e mais, a liberdade, o estar fora daqui, é sinônimo de saboreá-la. Continuo acreditando que, ao usá-la, vejo uma realidade mais completa e o que realmente sou. E que quanto mais eu o fizer, mais perto estarei da “iluminação” (impossível para mim pelos métodos budistas por causa do mundo impacífico em que vivemos e à grossa camada de verniz ocidental que comprime o eu luz dentro de mim).

(Nota 04/09/11: isso é mentira, não tento outra coisa {budismo, meditação, respiração sei lá qual ou qualquer outra coisa} que não a cola porque não quero. Segundo consta, Buda teve todo tipo de intempérie para atrapalhar a sua meditação e se manteve plácido até alcançar o nirvana. A verdade é que a cola é a minha escolha, meu vício, meu desejo, meu ícone, meu caminho. Tenho preguiça e indisposição com qualquer outro.)

Quero cola. Mas antes quero contato sexual com Eriquinha. Quero jogar Zelda – Skyward Sword no final do ano. Quero resolver o inventário de papai. E quero cheirar mais e mais cola.

Quero a paz e o prazer da cola.

Não sei se me revoltarei com esta prisão. A incomunicabilidade “normal” prolongada (inclusive com a equipe técnica) é enervante e o que há de mais “revoltante” até agora.


(Nota 14/11/11: é incrível como o óbvio me escapa aos olhos quando vivo a vida. A “revolta com a prisão” começa coincidentemente com a partida de Adeline...)

Diários de um Manicômio VI

24 de agosto de 2011 (não sei por que não achei o diário do dia 23 – talvez não tenha escrito)



Adeline foi embora ontem. Não se despediu de mim, passou como um foguete olhando apenas para o futuro, para o lado de fora, para o que ela espera que seja de fato a vida. Não me doeu muito tal desprezo (se posso sequer chamar assim), pois o compreendi em sua plenitude. Mesmo assim doeu uma dor menor, aplainada pela satisfação de vê-la “livre” (o que quer que isto signifique para pessoas como ela – como nós), satisfação esta que veio acompanhada por uma carrada de receio de que tal felicidade (ou proximidade dela) só exista em manicômios, jaulas de iguais em suas gritantes diferenças, caixa de pandora de inúmeras realidades fragmentadas. Talvez o receio seja apenas dor de cotovelo. Tomara.

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Passeei pelo pátio hoje. Não é difícil parecer um paciente bem comportado frente à concorrência. Meu único objetivo nesse passeio foi tentar localizar o resto da cola que trouxe ou localizar cola outra que me levasse de novo ao paraíso de mim.

Fui pego dentro do cubículo restrito dos materiais de limpeza e recolhido de volta para dentro da casa (não sem antes descobrir que cola no pátio não há).

Dificilmente sairei novamente para passeios. Continuo, entretanto, com a idéia fixa de que, qualquer liberdade que tenha, dedicarei à cola.

Amanhã tenho cirurgia para tirar uma pereba e um sinal do rosto, mas não estão acreditando em mim. Pena. A cirurgia será adiada, provavelmente, por uns dois meses, devido à agenda do cirurgião que tem um compromisso de repousar por esse período em Miami.

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DAS PAIXÕES EM MIM

Realmente são circunstanciais. Embora lembre, tenha saudade e carinho por Clementine, desde que me internei aqui, meu foco se tornou, senão instantaneamente, ao menos inevitavelmente, Adeline. E por termos paquerado da forma que duas crianças estranhas paqueram, a ligação afetiva em minha alma se formou mais forte. Adeline, esteticamente, nem de longe é tão bela quanto Clementine (uma das personificações de beleza mais completa que já vi a olhos nus). Porém ela – Adeline – tem a beleza da pureza e da inocência e da transparência, de menina, de botar no colo e contar histórias/estórias. Espero nunca esquecê-la e acho que dificilmente acontecerá, posto que ela é tão única dentre todos os outros seres que conheci.

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Ida Adeline, restou-me algo mais sexual: Eriquinha. Jovem, rosto lindo, corpo farto de 16 anos, ainda não deformado pela obesidade óbvia que a acometerá quando os anos pesarem-lhe nos flancos.
Tateio seu ego e vejo se há brechas de erotismo. Com ela, quero toque, juventude em meus lábios e mãos. Quero pau duro perto e dentro da juventude. Dificilmente conseguirei, mas o jogo por si só é válido.

Vou jogar. Quero cheirar. Cola e xoxota.

Boa noite, mundo.