segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

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Controle. Será que tenho, será que não? Estou em profunda dúvida agora. Deve ser a fissura. A fissura já me levou aos recônditos mais inóspitos da minha alma. E me chama de novo. Sua voz é potente e doce ao mesmo tempo, persuasiva, manipuladora. Me leva a arquitetar planos, estratégias amorais e imorais para obter, como o vendedor chamou, “o mel”. Controle. Será que ele vai me escapar? Se me escapar, as consequências serão as piores possíveis. Meses de Villa Sant’Anna. Ah, dolorosa fissura, deliciosa fissura, por que faz isso comigo? Por que não a controlo? “Porque você não tem força de vontade”, como disse minha mãe, falando apenas dos cigarros. Sinto que vou recair. Já me considero recaído. Faltam os meios, mas os meios sempre são contornáveis, solucionáveis quando a vontade, que me falta para as demais coisas, se afigura para esta. Gostaria de usar e ninguém – mamãe – perceber. Falaria no CAPS da recaída, claro. Mas não me é tão claro se isso me levaria ou não para a Villa Sant’Anna. Queria eu ser mesmo profeta e poder antever todos esses fatores. Não sei se conseguiria ocultar da minha mãe o uso, mesmo que usasse a noite, quando estivesse dormindo, há o cheiro, há o número de horas que provavelmente é maior que o número de horas de sono dela. Como disse, a fissura começa a colocar minha mente para trabalhar em prol do mel. Como me sinto mal escrevendo abertamente sobre isso. É como apunhalar minha mãe pelas costas. E, caso essa punhalada seja/fosse (se existisse) descoberta, ela não teria dúvidas em me trancar. Isso é síndrome de abstinência. Controle. Exercer o controle livre, por mim mesmo, não por causa das grades, como disse no outro post. Mas o monstro está acordado, com narinas abertas e fumegantes, faminto. Como faria para não ser pego? Jogando uma parte da lata fora para diminuir o tempo da viagem? Cobrir minha cara com o lençol para que quando ela venha me acordar não sinta o cheiro? E no carro, quando ela fosse me deixar no CAPS, como esconderia o hálito, fechado no ar condicionado? Cola é muito difícil de esconder. Monstro maldito, volta para tua caverna escura! Estou completamente dividido. Pensando no agora, só me vem o mel. Pensando nas consequências, só me vem terror e dor. Já dói agora, enquanto digito. Não sei se vou resistir, não sei mesmo. Fraco, fraco. Tudo o que eu queria era o impossível: uma latinha de cola e consequência nenhuma para arcar. Como conseguir isso é o grande “x” da questão. Se eu soubesse que horas mamãe acorda, mas acho que é por volta das 4h30 da manhã. Muito cedo. Não daria tempo. Mesmo se eu começasse a cheirar pontualmente às 21h, eu teria 7 horas, no máximo. E eu perco o controle das horas e de tudo enquanto estou cheirando, se a lata não acabasse antes e eu não estivesse em minha cama, com a cara coberta com o lençol eu seria pego. Pego e levado para a Villa Sant’Anna. Duvido que ela me levasse primeiro ao CAPS. Duvido que isso fizesse alguma diferença também, eu acabaria trancafiado de qualquer forma. A coisa é bem clara para mim: cheirar e ser trancado. Não cheirar e continuar levando a vida que levo. O que há de errado com a vida que levo que me leva a querer cheirar? O vício apenas? A abstinência? Nossa, como tudo isso podia ser mais simples, eu poderia nunca ter me encantado pela cola, em primeiro lugar. 
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Passei pela sala e vi minha mãe com seu lindo sorriso ao ver um vídeo de seu netinho mais velho. Isso me partiu o coração pelos pensamentos sujos que agora me passam pela cabeça e aos quais ela está completamente alheia. Talvez o dia perfeito para cheirar seja a sexta-feira, pois há grande possibilidade dela e meu padrasto irem ao cinema à noite. Se meu padrasto souber que eu recaí, vai dizer “tranca”. Se eu recair. Tomara que não. Tomara que sim. O desejo é muito intenso agora. A fissura é incomensurável. Por mim, faria amanhã. Não sei se me aguento até sexta. O monstro está muito faminto. Quero a liberdade de andar por aí, cheirar cola por aí, me esquecendo de tudo, da minha vida, da minha mãe, de cigarros restritos, de tudo. Sendo o mais livre que posso ser. E a dor de estar pensando em fazer algo que para os outros – minha mãe – é errado me corrói. Controle, controle, controle! Foi isso que propus a ela, assumir o controle livre. Será que sou incapaz disso em plena crise de abstinência, se é que é isso por que passo. Será que se, ao sair co CAPS, arrumar um jeito de comprar a cola, ligar para mamãe e dizer que cheguei e que vou malhar mais tarde e ficar cheirando no banheiro com o chuveiro ligado e quando ela chegasse e batesse à porta, eu dissesse que estava no banho por ter voltado da malhação, mas que já estava quase saindo, fecharia a lata de cola, esconderia no banheiro e escovava e botava um Halls na boca para ela não perceber? Será que isso funcionaria? E se meu padrasto chegasse antes e estranhasse as várias horas no banheiro? É muito difícil esconder o uso de cola. Não é como um baseado ou uma cocaína, simples e rápido. Meu Deus, não sei o que fazer. Só sei que quero usar e provavelmente vou. E vou me ferrar por causa disso, desse prazer efêmero pagarei por meses. Maldita abstinência, maldito monstro da fissura. O pior é que ele não quer esperar por oportunidades, ele quer agora, antes, já. Onde cheiraria, se não for aqui no prédio, aqui em casa? Isso é outro ponto. Já queimei o Sítio da Trindade. Só se cheirar andando. Falar disso está me fazendo muito mal. Me sinto corrompido. Me sinto muito sujo. Tudo que queria, repito, é poder cheirar uma colinha e não sofrer nenhuma represália. Se fosse dono da minha vida poderia fazer isso. Mas nunca mais serei dono da minha vida. Sujo, sujo, podre. Corrompido por uma força maior que a minha. Que se parece com a minha vontade, mas é um fissura disfarçada de vontade apenas. Estou me sentindo muito mal, não sei por que continuo a escrever isso. Seria um pedido de ajuda? Mas não publicarei até estar tudo certo e o uso ser inevitável. Então não é um pedido de ajuda, só se for um pedido de ajuda mudo. Inútil. Porque, provavelmente, em verdade, eu não queira ser ajudado. Eu queira a cola mais do que tudo. Monstro maldito. E esse monstro sou eu. É uma parte odiosa e fétida de mim. Causar dor nos outros por causa de um prazer egoísta e incontrolável? Minha mãe vai ficar tão transtornada que vai me bater, chorar, gritar, jorrar a dor e a decepção de todas as formas que conseguir. E isso me fará me sentir ainda menor e mais sujo, mais podre, mais incapaz, mais inútil, mais fraco, o pior que posso me sentir. Em troca de um prazer efêmero? De liberdade? Receber toda essa dor como paga? Isso é justo comigo e com eles? Certamente que não. Não há questionamento em relação a isso. Porra de vida. Porra de cola. Por que você é tão divina para mim? Por que te amo tanto a ponto de pagar todo esse preço? Por que sou um viciado. Isso é justificativa suficiente? Existirá algo mais? Essa história de curatelagem, de nunca ser completamente livre nunca mais na minha vida seria uma das razões? Pensar nisso me deu um certo alívio, como se diminuísse a minha culpa, como se houvesse uma justificativa para o injustificável. Deixem-me ser livre mais uma vez! Isso é truque do monstro da abstinência. Ele é cheio de artimanhas, as mais baixas possíveis. E eu me rebaixo com ele, lambo o chão sujo, me esfrego nele, se isso me leva ao “mel”. Tá doendo e não é pouco. Poderia dizer que estou profundamente deprimido por ter esses pensamentos. Eles me maltratam, é um masoquismo, como que para expurgar parte da culpa do crime que estou preste a cometer. Preciso de outro cigarro. Desesperadamente de outro cigarro. E mamãe está se aprontando. Merda! Vai visitar meu avô, que me ama muito e seria meu dever como neto acompanhá-la, mas não quero, nem posso agora, nesse astral em que estou. E mesmo em astral melhor, dificilmente iria. Dor. Bater no quarto de mamãe em busca de mais um cigarro.
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22h42. Fui com mamãe à casa de vovô. Não foi tão mal assim. Depois passamos pelo Rio Mar onde jantamos e vovó me deu Pitanga de Mallu Magalhães, nem tive coragem, nem tenho coragem de abrir pela culpa que trago dentro de mim. Não mereço este ou qualquer outro presente. Meu irmão mandou fotos do seu robô por e-mail, está muito bonitinho, parece um daqueles carrinhos de controle remoto. Ele lá cheio de aperreios, mas de alto astral e eu aqui sofrendo porque já considero a merda feita. Fraco de merda. Se bem que agora, depois dos numerosos remédios noturnos, a fissura tenha arrefecido um pouco. Bastante até. Vovô deposita tantas esperanças em mim e em minha prima caçula. Isso dói. Tá tudo doendo aqui por dentro. A culpa é voraz. Não quero mais escrever, não tenho nada a acrescentar, só desculpa, mamãe, seu filho foi um bosta de novo.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Presente! Caneca Personalizada!

O boraver tem o copo americano, o Profeta tem caneca personalizada!





Não sei nem como agradecer o presente Serjão. Fui completamente tomado pela surpresa e pelo deslumbramento. Obrigado por ter lembrado de mim e ter tido esse trabalho todo de produzir esta linda caneca para o velho profeta aqui. Tentei te ligar ontem e hoje, mas ninguém atendeu. Podemos marcar uma piscininha com Coca Zero aqui no meu prédio qualquer dia desses.

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Marcelof, te interfonei por volta das 21h para o violãozinho e a conversa mole e ninguém atendeu, achando já ser tarde, não tentei mais.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

L. e outras coisas





Acabei de assistir Stir Of Echoes, com Kevin Bacon. Comecei achando trash, mas depois mudei de opinião, tem um final encaixadinho e o meio do filme entretém, a única falha de roteiro, na minha opinião, foi a mulher não ter contado ao marido sobre os caras da visão. Quem vir julga se foi cabível ou não. Pensei em dizer a L. que os posts que escrevesse sobre ela teriam esse título “L.” e que ela, se quisesse, poderia e estaria pessoalmente convidada a lê-los. Será que teria tamanhas coragem e ousadia? Sei lá, depende do estado de alma na hora. Nem saberia o que escrever sobre ela. Não me vem nada na cabeça além de encantadora. Ela me lembra o jeito de corpo de Clementine e a boca linda (e os cabelos lisos, isso é indispensável). Os olhos também são belos, a sobrancelhas (outro item essencial) também. O corpo me é bastante agradável e apetitoso, embora não seja a mais apetitosa do CAPS. Pouco importa isso pra mim, como disse em outro canto, o encanto é peculiar e não está direta e intrinsecamente agregado ao tesão despertado. É claro que deva despertar algum senão não se trata de uma relação sexual. Mais, na minha opinião, vai bem além da relação sexual, somos bichos macacos no Id, mas há uma camada de cultura e peculiaridades sociais específicas das espécie humana que devem ser levadas em consideração. Há a minha experiência de vida (com garotas, namoros, platonismos) a ser levada em consideração. Por todo esse amontoado de coisas passou o processo seletivo que elegeu L. a minha paixonite atual. Azar o dela. Coitadinha, se fosse o cara dos sonhos dela ou algo vagamente semelhante, pelo menos. Como a vida é cheia dessas pequenas mazelas emocionais, não é? A minha, pelo menos, é repleta. Eu mesmo crio a maioria. Sem querer, mas crio. Não sei creio que a maior das minhas mazelas emocionais tenha sido criada por mim, o pavor, a fobia por empregos/trabalho no sentido de participar de uma instituição e dedicar horas a ela em troca de provento (que não seja também para a alma). A obsessão por eterna atualização, as leis, ordens, obrigações (cheguei na palavra: obrigações: sou quase que completamente avesso a elas [é verdade que me submeto a elas no CAPS, na academia, um pouco na minha casa, mas] tento evitá-las o quanto me for possível. As obrigações são a parte de ser adulto – e uma grande parte – que me assusta e repele. Acho que é a quase completa absência delas na minha vida que me difere de uma “adulto padrão” (se o há). E não sei se quero me tornar jamais um adulto padrão, tamanho é meu pavor. Quero todo o resto ou quase todo o resto que eles têm. Sou um cara que empacou na adolescêcia (acho até que existe o termo “adolescência tardia”, mas não sei se se aplica) com rompantes de infantilidade. A aparência, até pela barba e pela barriga é de adulto até mais velho do que sou. Mas isso é uma fachada contraditória. É algo como “pelo menos nisso eu sou adulto”, “Homem”. No resto me recolho, evitando obrigações. Interessante e também contraditório é eu querer me relacionar com L. Afinal, isso pressupõe obrigações para com outra pessoa e para com a instituição que fundamos ao firmar uma relação. Mas esta obrigação seria em troca de um provento para a minha alma, não por dinheiro. Ter a coisas não me trouxe felicidade, não me encheu a alma e tal constatação me deprimiu e me fez entrar em conflito com o trabalho, pois era apenas aquilo que ele me proporcionava por me sugar quase todo o sumo. Seria necessário muito mais para me dar motivação para aceitar tais obrigações. Entrei em parafuso e cá estou, depois de tantas tormentas, tendo uma vida mansa, com poucas obrigações e uma L. para me embelezar e encantar o dia. Além disso, reavivei meu videogame, às vezes jogando com aquela velha motivação. Estou no processo de publicar para a Amazon (e Kindle) Algo 0003, em Inglês e renomeado The New Truth – Bible Of The New Millennium. Falta apenas uma conta de banco brasileira para poderem depositar o dinheiro das vendas... preciso ir a um banco criar a minha ou mamãe me ceder as informações de alguma conta dela (no que está relutante pelo receio que dados fornecidos à internet desperta na maioria das pessoas mais esclarecidas/precavidas).

Estou com vontade de tomar um café e fumar um cigarro e é o que vou fazer.

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Lucky de Britney Spears... não sei por que coloquei essa na lista… 18h41. E se o monstro do trabalho foi criação minha? Afinal, tudo o que está na minha cabeça são construções minhas. Que diferença isso faz, se não consigo derrotá-lo? Ao tentar, a primeira coisa que faço é entrar em desesperado parafuso. E sinto um sofrimento indescritível nessa queda. Por que vou me passar por isso? Me arriscar a passar por isso? Se tentei mais de uma, duas, três vezes e o resultado foi o mesmo, com gradações crescentes de sofrimento e caos. Belezas são coisas acesas por dentro, tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento. Lágrimas Negras de Mautner por Caetano rolando agora no som. L. é uma beleza, é uma coisa acesa por dentro e que me acende por dentro. Qual seria minha primeira interação física com L.? Provavelmente tocar minha mão de leve sobre a sua ou, se fosse mais ousado, colocar o cabelo caído novamente por trás da orelha. Nem sei se tenho mais a delicadeza que imagino para esses toques. Mas acho que isso não se perde, né? Só se for após ter feito a maromba de hoje que me deixou com os braços todo tremendo. He. Besteira inútil. Mas o que não o é frente a enormidade do tempo e do universo? Deixe-me aqui com minhas besteiras sobre L. e sobre tudo o que eu quiser. Aqui eu posso tudo. E confesso a você que desse tudo não arranho nem a ponta do iceberg. Não que não me esforce. Na verdade não me esforço. Esforço é como obrigação, se cumpre obrigações com esforço. Esforço é uma força que vai além do que você quer ou pode fazer. É uma força extra que se emprega. Não eu, não agora. Ouvindo Roberto Carlos com Gal, Sua Estupidez... também não sei como veio parar na lista, mas está entrando tão direitinho nos meus ouvidos. L., sua estupidez, não lhe deixa ver... Hahahahahahahahahahaha! Entrou Chico, mas não sei se estou com alma para Chico, acho que só Bye, Bye Brasil, vou direto para ela e ver o que vem depois... Tem o velho Damien Rice, sempre bem-vindo, nunca ofende. Por causa dessa minha relação aparafusada com o trabalho é que sonho com a pensão de papai como incapaz. De vagabundo para incapaz não faz muita diferença no meu dicionário. Mas na minha conta bancária faz uma sensível diferença. Do nada a algo certinho todo mês, não teria coisa melhor. Só curtir o dindim com L. ou qualquer outra que me encante como ela. Ela é uma impossibilidade mesmo. Até por não me sentir eu mesmo homem suficiente para ela. Como posso me oferecer como alternativa, então? E ainda mais como melhor alternativa? Com essas palavras é que não vai ser. Mas talvez sirva de estudo de caso. Ela bem que podia fazer um estudo de caso comigo. Não esconderia nada e ainda a teria por um período bem perto a mim. Olha aí, fica a sugestão. Eu sou um paciente interessante, pelo menos isso eu sei que sou. Basta ver, Villa Sant’Ana, eletrochoques, tentativas de suicídio, vício fora do comum, inteligente e bem articulado. Com manias de grandeza, tendo formulado inclusive uma teoria sobre a criação do universo, quem é Deus e o papel da humanidade no meio disso tudo. Isso sem falar no mandamento único da minha crença (que sigo sem seguir, pois não sei se escrever um blog como este é contribuir para o bem comum [mas só ter formulado a teoria já é {há dois mil anos ninguém vem com nada de novo, só ideias requentadas e variações dos mesmos velhos temas}]). Quem ainda não souber do que estou falando o link é Algo 0003 (tem link embaixo do texto para a versão em Inglês e no blog Bible Of The New Millennium, além de ter nos dois idiomas, tem nos demais 64 que o Google Translate oferece). Afinal, além de tudo o que mencionei, sou bipolar e sujeito a surtos de megalomania.
Coloquei Um Dia Perfeito do Legião para tocar, Fragile Tension não estava fazendo a minha vibe. Se eu fosse um cara rochedo mesmo, eu colocava um link para o You Tube de cada música que eu cito, mas eu não sou rochedo, tô mais para mar. Eu queria que L. fosse amanhã e eu diria aquela coisa do L. a ela e diria que inclusive o último post tem o L. como parte do título. Os Barcos, já roí muito com e por causa dessa música. Não sei se L. merece ter um marcador específico para ela, posso fazer, mesmo que temporário. Quando ela inevitável e rapidamente se defenestrar dos meus pensamentos, eu elimino. Fico curioso se vai haver mais de dois posts com esse marcador. Acho difícil. Não sei por que, pensei ter ouvido rumores de que ela sairia do CAPS. Se ela for sair e se eu tiver coragem e ousadia, pergunto se agora que não há vínculos psicológicos, posso adicioná-la ao Facebook ou se ela pode ao menos curtir a página do Jornal do Profeta lá.

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19h48. Fui completamente interrompido pela chegada da minha mãe com as compras. É obrigação minha trazê-las do carro, lá embaixo. Cheguei e está passando Spaceballs The Ballad, do Pato Fu. Apesar de ser climática e tratar do universo e viagens espaciais e povos alienígenas, ela traz um triângulo de forró no arranjo. Given to Fly, poderias chamar-se Oceans II. Por isso gosto, me lembra o mar agitado, com ondas bravias. Segue Oceans ao vivo... estou pensando em jogar Metroid Prime Corruption, mas estou num chefe chato. Acho que tenho uma estratégia para ele, que é não ficar nunca muito próximo dele, mas ela pode falhar se o vômito mortal que ele jorra de tempos em tempos tiver longo alcance, aí é morte certa. Se for assim, vai ser muito chato matá-lo, pois serão necessárias muitas peripécias de pulo e controle para escapar da sua golfada mortal. Tomara que a estratégia da distância prove-se suficiente. Mas não estou com tanta vontade de jogar, principalmente depois que começou o Pablo Honey do Radiohead e sabendo que já, já, mamãe chamar-me-á para o jantar. Não queri, tendo as ideias ainda levemente esticadas, compartilhar da mesma mesa que ela e meu padrasto, mas prevejo o inevitável. Pelo menos tenho sido um bom filho hoje, assisti filme, vim escrever no computador, passei a tarde toda sozinho e “não fiz merda”, não pedi cigarros ainda (isso conta muitos pontos!)... L., eu sou um bom filho, às vezes. Bons filhos são ótimos partidos, sabia não? Meu irmão, o melhor de todos os filhos, foi logo fisgado. O “menino de ouro” não poderia ter outro destino ou um melhor, for that matter. Ele só se preocupa demais com o mundo. Devia se concentrar no mundinho que ele criou ao redor da mulher e filhos. O problema é que ele parece ser multitask e essas preocupações extracurriculares parecem fazer bem à sua alma, fazer parte do cumprimento do papel que lhe foi outorgado por papai. Tentar carregar o mundo nas costas. Suportar tudo. Eu sou o inverso, o inconcebível para ele, não consigo suportar nada. Não suporte nada e você acabará como eu, maninho. Mas cada um com seu papel, não é mesmo? O meu me cabe como a minha própria pele. Cigarettes and Chocolate Milk. E você L., por onde você caminha em meus pensamentos que sumiu? Observando alguma faceta particularmente interessante do meu eu? Alguma que não esteja falida ou condenada? Alguma que aponte alguma esperança? Um túnel que dá num lugar melhor? É lá que você quer ir comigo? Comigo você não quer ir nem até a esquina, não é? Eita Beatles, I’ve Just Seen a Face. Adoro essa música... tanto que não escrevi nada enquanto ela passava. Ela passa rápido. Segue Spanish Bombs do The Clash. Para mim, nem de longe uma das melhores, mas a única que tenho neste computador. Mamãe entra com um wrap (tipo de comida para frescos lights) no meu quarto. Estava delicioso. Disse que se quiser mais vá lá. É o que vou fazer.

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21h11. Fui lá, mas mommy não preparou mais nenhum para mim, apenas aqueceu as massas, não os recheou (vai ver que era isso que ela quisesse dizer em primeiro lugar). Meus recheios não ficaram tão bons (a comida nunca parece tão apetitosa ao cozinheiro). Além disso, ela havia esquecido de comprar meus cigarros, então tive de dar essa caminhada noturna até o posto para obtê-los (Hollywood, aqui tem Free Light ainda). Tentei negociar pela minha andada, além dos dois Hollywoods a que tenho direito um Free Light extra, mas a proposta não a conquistou. Na verdade, rindo, ela disse que eu tinha mania de transgredir. Está rolando o remix de A Forest do Cure. Acho que vou colocar o mesmo L. do último post como imagem, só mudando a cor da barriga dos passarinhos no Photoshop. Estou a fim de ver se detono o monstro chato do Metroid, quem sabe ouvindo The Cure não arrume forças para a batalha? Mas antes, tomar meus remédios e colocar meu pijama, pois parece que acordarei especialmente cedo amanhã para que mamãe possa ter uma conversa com N., do CAPS.

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22h18. Passei do bichão – gastei duas vidas –  mas tive uma morte idiota adiante com uns monstrengos com os quais lidarei amanhã. Acho que vou revisar e postar isso, já tá com 4 páginas e o Dalamadorm faz seu trabalho. Se bem que me deu vontade de ver um filme: Moon. Vamos ver. Primeiro postar.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

“q anda fazendo neste carnaval?"


Do chat Facebook:

“q anda fazendo neste carnaval?
19:57
Estava jogando Zelda Skyward Sword. Mas parei porque queria tirar um foto de uma cena do jogo e a câmera está no quarto da minha mãe, que está dormindo.”

Mas eu posso jogar Metroid o que eu não fiz na parte final do post, que foi escrita muito antes desta. Ou Fragile Dreams – Farwell Ruins Of The Moon, que precisa de bem menos habilidade manual e o visual é massa. Vou começar com Metroid para ver.

Começou na maciota, dando um rolé de nave de Samus, apertando uns botões aqui, outros ali, depois um aporte numa space station, todo mundo legal, o lugar todo limpinho, aí bum, ataque de space pirates. Aí foi tiro de tudo quanto é lado até eu morrer no Meta Ridley ou é Ripley; sei lá, um bicho que vejo desde o Super Metroid do Super NES. Foi incompetência minha, claro, mas o bicho não é fácil. Tô a fim de dar um esticada nas ideias e depois pegar o Fragile para jogar. O bom (e o ruim) de ter muito jogo é isso: empacou, é só pular para outro.

Peguei a câmera com mamãe para, antes, tirar a foto que quero de Zelda, mas a bateria da máquina tinha acabado. Assim como a do controle está quase acabando. E eu acho que o carregador de pilhas está com defeito, pois a luz do “Charge” fica piscando, em vez de ficar continuamente acesa.

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Me senti fedendo, fedendo. Parecia algo entranhado no meu peito. Então pensei que para certas pessoas, pelo meu cheiro de cigarro, eu devo me passar por fedorento da mesma forma. Fui tomar banho e me surgiu a ideia de fazer o tratamento de parar de fumar NiQuitin de uma forma ligeiramente diferente. Em vez de mamãe me dar o adesivo de 21 mg de nicotina, ela me dá 21 mg de nicotina em cigarros (o Hollywood tem 0,8 mg, mas eu deixaria como se contasse por 1 mg). Receberia 21 cigarros por dia durante 6 semanas, depois 14 por mais 4, depois eu não sei, pois não me lembro da quantidade de nicotina e de semanas da parte final do tratamento. Mommy não gostou da proposta.

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Tava no Fragile atrás de uma lanterna, mas vou é voltar pro Metroid e descobrir se o jogo é justo ou caridoso com o jogador. Explico por que: o jogo dá 4 minutos para você ativar os canhões que destruirão o meteoro antes que ele atinja e destrua o planeta. Eu corri, corri e, parei subitamente e pensei: se eu voltar um pouco eu posso salvar o jogo e continuar a hora que quiser, se não passar agora, posso fazer isso até mesmo amanhã. Aí voltei e salvei. Quando o salvamento acaba a voz disse: faltam três minutos para o impacto. Se o jogo for justo eu vou pagar pela minha burrice e começar com apenas os 3 minutos. Se ele for bonzinho, vai começar do início dessa missão. Descobrirei agora. Antes, uma coca e os remédios.
A missão começou com 4 minutos. A pilha foi que acabou a bateria, fui colocar as que estavam carregando: completamente descarregadas. Aí fui a Mommy, incrédulo e desanimado, e perguntei se não teria umas pilhas aqui em casa. Ela respondeu que sim e me indicou o lugar. Eram pilhas AA (as do tamanho do controle do Wii) e devia haver dois ou três pares. Oba! Agora, mesmo já tendo perdendo uns 30, 40 segundos desta primeira investida na ativação dos canhões, vou continuar e desbravar pelo menos parte do caminho, que é confuso para antas em geografia – principalmente tridimensional – como eu.
Morri, mas consegui ativar os canhões na segunda tentativa.

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Eu queria ver um jogo que mostrasse o potencial gráfico máximo do Wii U e espero bem mais do que o que é alcançado naquela famosa cena de Zelda com a aranha da E3. Espero mesmo. Um Metroid em primeira pessoa absolutamente incrível nos gráficos, com um novo patamar de realismo, a armadura indo perdendo a tinta aos pouquinhos ficando mais e mais amassada, revelando aos poucos suas característica e cores/formação metálica (até ser reenergizada e voltar a ser novinha em folha de novo). Diferentes mestres ou inimigos poderiam deixar diferentes marcas ao atingi-la. Enfim, com o realismo daquele trailer do novo Tomb Rider. O brilho dos tiros ser super-realista. O ambiente deformável em alguns momentos. Que escrever! Vou jogar Metroid! 23h29.

23h53. Nem fui. Boa noite, aê, fui.

Esta velhinha é um dos personagens mais interessantes do jogo.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Recaída





Para mim começou quando voltava da academia para casa e passava por uma casa onde vez ou outra havia uns caras trabalhando com carpintaria na garagem. Aquilo me lembrava diretamente a cola e eu olhava as cores douradas do entardecer no verde das plantas daquela rua calma e pensava em como seria legar vê-las através da cola. Logo o pensamento se desfazia. Porém, às vezes voltava a me assombrar, quando via uma garrafinha de refrigerante num canto de calçada ou ouvia barulho de obras dos edifícios em construção. Mas achava que aquilo era muito pouco, não era o monstro despertando ainda. Esses dias foram se somando, como comentado no último encontro para tratar sobre dependência no CAPS e um belo dia estavam minhas companheiras todas com os nervos à flor da pele, dizendo “tô a ponto de fazer uma merda”, aquilo me tomou e eu disse “eu também”. Era o dia em que provavelmente eu iria fazer a barba e, caso botasse a mão no dinheiro conseguiria três latinhas. O clique já estava dado, não havia mais o pensar nas consequências, só a necessidade absoluta de comprar e cheirar as colas. Fui me cagando para casa, não sei se por causa da excitação emocional que me tomava. Tive que parar várias vezes no caminho para respirar e não me melar no meio da rua. Estava com dinheiro para comprar duas carteiras de US, mas antes de fazê-lo, conferi a grana e vi que daria para uma latinha de cola. Caso o negócio da barba desse errado, pelo menos uma estava garantida. Cheguei em casa e nada de grana, mamãe passaria mais tarde e deixaria o dinheiro para irmos, eu e Jô, ao cabeleireiro. Sabendo que mamãe só voltaria às 16h e que permaneceria em casa a ideia do dinheiro da barba foi por água abaixo. Depois de esvaziar os intestinos – que alívio –, não tive dúvida, parti para a minha missão/obsessão. Fui a um armazém que não requer documentos para a compra da cola e, com o meu “tesouro” em mãos, parti para o Sítio da Trindade, pois achei que seria o lugar mais tranquilo e seguro para fazer o uso. Lembro que quando comecei a cheirar e sentir aquele prazer, pensei, era isso o que eu sentia quando jogava videogames, quando jogava Zelda, era isso que estava me faltando. Não lembro muito mais depois disso. Lembro de ficar observando um grupo de jovens frequentadores ao longe (escolhi um local escondido, embaixo de umas árvores, onde a sombra me encobria e, por sorte havia uma pedra para me sentar). Enfim, fiquei observando o movimento sem observar realmente. Os melhores insights me vêm logo no começo do uso, que é quando faço um mergulho emocional antes do torpor total. Lembro que pensei em minha mãe, mas não me lembro o quê, lembro que pensei no CAPS, mas também não me recordo o conteúdo, lembro que pensei em mim e na minha relação com a cola e com as coisas que me cercam, pena não lembrar detalhes. A cola secou já era noite, foi quando me levantei e resolvi ir para casa. Um dos seguranças do parque, creio, me perguntou “isso é cola?” respondi que sim, mas que já estava de partida, só gostaria que ele me indicasse o caminho. Fui andando até o meu prédio, cutucando o plástico que ficou à procura de resquícios do efeito. Toquei a campainha de trás e minha mãe abriu a porta. Estava moderadamente transtornada e pediu que eu entregasse a lata, no que me neguei. Por fim, joguei a lata no lixo e fomos direto para o Manicômio. Disse que não queria ir para lá, que não me faria nenhum bem, mas ela, irredutível, disse que quando eu fizesse uma coisa daquelas era lá o meu destino certo. Não relutei, obedeci. Os dias que passei lá foram tenebrosos, fiquei a ponto de surtar. Foi diferente das outras vezes, não que me identificasse menos com os loucos, mas pensar que passaria meses vendo Ana Maria Braga na TV e ainda arregando cigarros, pois ela não me mandou nenhum, foi certamente aterrador. Fiquei em um quarto sem banheiro e com quatro ocupantes, para piorar as coisas. Graças aos céus tive um conversa/desabafo com F., psicóloga de lá e disse e reiterei que aquele não era o ambiente mais saudável para mim, que gostaria de voltar ao CAPS, a malhar, a escrever meu blog e que a estada ali no manicômio estava me parecendo um inferno. Ela disse que essa ótica tão negra que agora eu estava tendo do lugar era porque eu não estava mais tão desestruturado e deprimido como antes e ainda mencionou que minha recaída teria começado com a transgressão da bebedeira que eu tomei algumas semanas antes, à despeito de orientações médicas e da opinião da minha mãe. Disse que de uma transgressão, digamos, “menor” para a transgressão máxima – a cola – era só uma questão de tempo, na minha busca por prazeres cada vez maiores. Não sei se concordo, mas mamãe adorou a teoria, aventada também, pelo que soube, por uma psicóloga do CAPS. Pelo sim, pelo não, só vou beber quando me liberarem agora.

Por fim, graças aos céus, minha mãe me tirou do manicômio hoje, não sei quanto tempo suportaria ainda lá sem ter um piripaque. Espero voltar à minha rotina CAPS-academia após o carnaval (que provavelmente passarei todo em casa) e não recair nunca mais. É muito ruim, quando a consciência retorna e a conseqüência dos seus atos despenca nos seus ombros, a dor nas pessoas amadas, o medo do descontrole que te dominou e roubou qualquer senso de responsabilidade e respeito, o retrocesso nos vínculos de confiança e empatia; tudo, tudo de odioso, a baixa-estima, o sentimento de fracasso e fraqueza que só quem recai sabe.

Agora é olhar para frente e me reerguer dos escombros que eu próprio fiz colapsar sobre minha cabeça e dentro da minha alma. 


terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Adrianinha, uma puta

Esta não é Adrianinha, mas garanto que ela é tão linda quanto.

Algo me fez lembrar de Adriana, que apelidei carinhosamente de Adrianinha, uma prostituta linda com quem estive duas vezes. Ela era da famosa Casa de Odete, para vocês terem uma ideia. Mas não era um mulherão, desses tipo “capa de Playboy” (não que não houvesse dessas lá, lembro especificamente de uma de olhos azuis a longos cabelos negros cujo primeiro pensamento que tive ao vê-la foi justamente “putz, é capa de Playboy”). Adrianinha não era uma putona, estava mais para putinha. Não tinha um corpão, bundão, peitões, nada que o brasileiro padrão procuraria numa mulher que presta estes serviços. Ela tinha cara e jeito de garota, cabelos lisos (isso é essencial para mim), castanho claros e um rosto de boneca com um narizinho lindo e perfeito olhos miúdos mais muito vivazes e uma boquinha pequena extremamente bem desenhada. Quando bati os olhos nela, todas as outras mulheres desapareceram. Se eu fosse sair com alguém dali seria com ela. Era a minha primeira vez num cabaré a procura de uma prostituta, estava sozinho e há muito, muito tempo solitário, motivo que me levou a esta medida extrema de ir bater lá. (Admito que uma certa curiosidade também me motivava, pois sempre ouvi falar da Casa de Odete e de suas mulheres.)

Pedi cerveja e um balde com Heinekens no gelo a preço extorsivo foi servido à minha mesa. Fui bebendo, procurando em cada gole a coragem de chamar Adrianinha para sentar-se comigo. Depois de muita cerveja, já bem mais para lá que para cá, finalmente a coragem resolveu aparecer e com ela uma sorridente menina linda veio, num tomara que caia preto justo ao corpo – mas de forma nenhuma vulgar – ter junto a mim. Conversamos um pouco, não lembro bem o quê, nervoso que estava, sei apenas que em algum momento combinamos o preço, alto, e que o local da nossa noite seria o apartamento do meu pai, que estava ausente. Ela relutou um pouco por não ser em um motel – segurança e precaução na vida de uma puta são essenciais, percebi com o tempo – mas acabou concordando e tomamos um táxi para a minha casa.

De repente, ela estava nua e se deitava na minha cama. Lembro que não achei seus seios bonitos, todo o resto era. Lembro que não podia beijar-lhe a boca, mas fui beijando o resto do corpo, parando nas partes agradáveis e nas erógenas e descendo até chegar aonde queria. Chupei como gosto e saudade de chupar até um momento em que ela disse “não aguento, posso gozar na sua boca?” Aí foi que chupei com gosto e vigor redobrados, nem lembro se ela gemeu, mas se gemeu, gemeu baixinho. Ela disse que fazia tempo que não gozava assim, que havia chegado há dois dias do Ceará e que quem a chamava de Adrianinha era o seu pai. Não sei quanto disso foi ou é verdade. Sei que fiquei contente em vê-la repartir intimidades comigo. Ela quis retribuir o favor sexual, mas eu me neguei, não estava, pela bebedeira e por timidez, afinal ainda era uma estranha para mim, com o mínimo tesão fálico. Disse a ela que o que eu queria mesmo era dançar uma música lenta com ela. Fomos para a sala, ela ainda nua, coloquei duas taças de licor (43 para ela, se não me engano, Strega verde para mim, provavelmente) e Blue Moon Revisited do Cowboy Junkies no CD player. Dançamos, quase como dois namorados, o mais próximo que uma puta e um novo cliente podem chegar disso. Percebendo que o sexo não iria rolar mesmo, ela decidiu que era hora de partir. Acredito que antes tomou um banho e quero crer que me deixou vê-la tomar esse banho, mesmo que um tanto envergonhada. Ela chamou o táxi que atendia o cabaré e fui deixá-la lá embaixo. Ela me agradeceu, especialmente por tê-la feito gozar. Acho que cheguei a ir mais uma vez sozinho à Casa de Odete à procura de Adrianinha, mas ela não estava, nem chegou por lá no dia em questão.



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A segunda vez começou com um singelo almoço da turma da agência num restaurante próximo. Meu chefe e eu ficamos bebendo enquanto todo mundo voltou para trabalhar. As horas passavam, as cervejas entravam até que já era noite e algum papo, talvez falando de cabarés, me trouxe à cabeça a Casa de Oedete e Adrianinha. Convenci meu chefe a irmos para lá, mesmo ele dirigindo e tendo que cruzar a cidade do restaurante para o prostíbulo. Naquela época a Lei Seca praticamente inexistia, diga-se de passagem. Ao chegarmos lá, para a minha alegria, Adrianinha estava atendendo. Mostrei-a a meu chefe, disse que era quem eu tinha mencionado e que queria sair novamente com ela. Ainda passou pela cabeça do meu chefe pegar uma de suas companheiras de trabalho, mas à época ele estava num relacionamento e desistiu da ideia. Chamamos Adrianinha e, novamente, a linda moça sorridente se fez presente em nossa mesa. Bebemos por minha conta em Odete e depois meu chefe nos deixou num motel das redondezas. Pegamos um quarto amplo com hidromassagem, ela fez questão da hidromassagem, tanto que fazer-se nua e entrar na banheira foi a primeira coisa que fez ao chegarmos ao quarto. Depois, lembro-me de estarmos na cama, ela tentando chupar meu pau, que depois de tanta cachaça nem dava sinal de vida. Quis chupá-la de novo. Foi quando ela disse que já tinha gozado na hidro e que eu não precisava de uma namorada, não de uma puta, nisso se vestiu e pediu para o cara do motel chamar um táxi. Gastei mais de R$ 400,00 nessa noite (pois paguei integralmente pelo seu [des]serviço) e fiquei numa pior. Era mais que um salário mínimo à época. Foi a última vez que vi Adrianinha. Algum tempo depois, não sei se muito ou se pouco, soube que a Casa de Odete havia sido fechada, o que destruiu de vez a chance de rever aquele rosto angelical, aquele corpo de garota, com palavras tão acertadas na boca.

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Não sei por que me peguei pensando em Adrianinha agora, hoje, só sei que estava olhando para geladeira, cismando sobre todas as coisas e nenhuma ao mesmo tempo, quando a lembrança dela me veio e com ela a vontade de narrar nossa breve história aqui. Deve ser o período de vacas esquálidas por que passa minha vida sentimental nos últimos anos. Pois é, anos... Foram anos de completo deserto emocional que me levaram à Casa de Odete daquela vez. Pena não haver dinheiro, nem Odete, nem espaço para fantasias com putas mais... as palavras de Adrianinha, se este era mesmo seu nome, as destruíram. Pena meu pai não ter tido uma Adrianinha para lhe dizer que não há sentimentalidades com putas. Coitado, passou o final da vida mendigando, em vão, migalhas disso a elas.