segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

DILEMA MORAL E FEZES


Eu não sei o que quero fazer, apenas o que tenho que fazer, por isso abri esta página em branco para ver se a minha alma assenta e se acalma. O que tenho que fazer? Complementar o post novo do Profeta e acabar de revisar o post do meu blog mais secreto. Tomei muito café e quando passei de volta para a Coca meu organismo e meu eu estranharam e ficaram em rebuliço. Fumei também. Uma difícil escolha moral apresentada pela existência ontem me deixou ainda mais perturbado porque a escolha que fiz foi a menos “cristã” possível. Essa moral judaico-cristã que permeia as sociedades ocidentais, sei não, viu? Acho válidas e tudo o mais, mas machucam às vezes. Fato é que fui comprar um remédio ontem de noite na farmácia a pedido de mamãe. Ela me outorgou o cartão de crédito e me disse que comprasse só e tão somente o remédio designado, nenhum centavo a mais. Quando estou prestes a entrar na farmácia uma miserável com uma miserável criança me pede uma lata de leite pequena para o infante. O pior que a forma que falei com ela lhe deu alguma esperança, pois o pedido me tocou e por um momento me decidi a ajudá-la. Porém ao cruzar a porta da farmácia e encerrar a triste figura do lado de fora do ambiente climatizado, limpo e brilhante onde vi que o leite era muito mais caro do que julgava, a obrigação de cumprir o combinado com a minha mãe se fez mais forte que a caridade e comprei somente a medicação. Pedi desculpas a miserável, expliquei-lhe toda a história e ela foi bastante compreensiva, disse que não havia problema. Nossa, tal desafio moral me doeu e dói profundamente e realmente não sei se fiz a escolha certa. Reconquistar a confiança da minha mãe é fundamental para a nossa relação e para futuros pleitos financeiros para com ela e sinceramente me sentiria mal quebrando o nosso pacto, faltando-lhe com o respeito, mas a criança sem leite não me sai da cabeça, me assombra desde ontem. Eu tinha os meios só que eles não me pertenciam e a decisão que tomei foi deixar outro ser humano com fome. Um pequeno ser humano vítima da sociedade que não educa. Pronto, desabafei. Vou voltar à revisão, quero postar no blog secreto hoje. E depois, se me restar disposição, complementar o post do Profeta, que mais parece um mosaico, com fragmentos de informação uns emendados nos outros. 21h58. Esqueci de botar a hora no início, atarantado que estava.

0h27. Revisei o imensamente redundante texto, desnecessariamente caudaloso, e o postei no blog secreto. Não vou fazer os acréscimos ao post de Blanka, acho insignificantes e depois de ter mergulhado no outro texto as memórias do que tinha a acrescentar se perderam nalgum recanto de mim que não tenho acesso. Talvez ao revisar o dito texto eu relembre, agora vou dar uma olhada no maravilhoso mundo dos bonecos.

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Estamos prestes a partir para Gravatá. O namorado da minha irmã PE irá conosco (minha mãe, meu padrasto e eu). É gostoso mergulhar no maravilhoso mundo dos bonecos mesmo que não tenha mais nenhuma peça a adquirir e não possa fazê-lo.






0h05. Foi bom, mas minha alma se encontra desassossegada, pode ser cansaço, pode ser um caroço mais profundo. Não encontro palavras e nem quero procurar, me abstrai mais o maravilhoso mundo dos bonecos, onde voltei a ser mais atuante. Sonho com a minha boneca chinesa, uma obra de arte de uma sensibilidade única na minha opinião. Impossível de ser concebida por um ocidental ou por alguém que não tenha crescido imerso no universo cultural e folclore chineses for that matter. Escrever me incomoda no momento.

0h22. Escrevi um pequeno adendo no meu projeto paralelo do blog secreto. Vou fumar e pegar Coca.

0h37. Algo me pede para deitar e dormir, a parte mais sensata de mim; no entanto, uma parte maior e predominante insiste em permanecer, talvez porque tenha passado tempo demais longe do meu porto seguro, do meu quarto-ilha, das palavras. Percebo, especialmente logo que acordo, que me falta fôlego para enunciar as sentenças, as últimas palavras saem com esforço e falta de ar tornando-se quase inaudíveis. Isso ficou claro para mim na conversa que travei com o namorado da minha irmã PE quando este chegou à nossa casa e eu havia acordado há pouco e fumado um bom bocado já, como sempre faço ao despertar. É um alívio pensar que dificilmente me faltará fôlego para digitar as tais das palavras. Conversamos sobre religião e sobre o incômodo que me causou a frase em sua camisa: “Be more”. Me pareceu uma cobrança de uma suposta insuficiência de quem a está vestindo, uma ordem para mudar quem se é. Ju acha que estou em um momento de transformação. Eu sinto que esse processo empacou, eu, mula, empaquei, não quero avançar nem retroceder. Sei que Ju vai respeitar o meu ritmo e isso me acalenta. Nada forçado funciona comigo. Nem com ninguém, faz-se mas não com a alma, pois a alma está tomada por rebeldia e repulsa por fazer o que não é a sua vontade íntima e verdadeira. Sei que a idade vem me roubando os meus medos e isso é gracioso. Isso não quer dizer que me ponha disposto e aventureiro no mundo, só mais tranquilo comigo mesmo. Tenho medo de ter um filho e de sentir o medo do que o mundo poderia fazer com ele. O mundo quase me engoliu, roubou a minha vida, devorou a minha alma, senti a escuridão fria e desesperada de seu estômago. Que alívio, que felicidade estar seguro no meu quarto-ilha com as minhas palavras, imprestáveis palavras, visto que não lidas. De que servem palavras que não são lidas? Palavras são escritas para serem lidas ou essa é a fantasia de quem escreve. O desejo maior meu, pelo menos. Empatado com um amor recíproco. Ou melhor, uma paixão recíproca, deixa o amor para mais tarde, ele vem quando as almas recolhem suas penas. E vale a pena. Desculpe o jogo de palavras esdrúxulo, mas significativo. Parece que me aclimatei e esquentei na escrita... pronto, foi só pensar isso e todas as palavras fugiram de mim. Fugirei delas e me refestelarei no maravilhoso dos bonecos.

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14h15. Três copos de Coca e duas xícaras de café depois, a dor de cabeça com a qual despertei começa a ceder. Mas não muito. Nada de interessante aconteceu na minha vida. A fantástica faxineira adentrou meu quarto para me avisar que intenta limpá-lo, mais cigarros e café para esperar.





15h14. Presenciei o que a fantástica faxineira considerou uma intervenção divina. Entendo o seu ponto de vista, embora não acredite. Fato é que parou de arrumar o meu quarto e foi atender a filha na sala por causa do som que estava rolando aqui. Nesse ínterim, vim pegar cigarros, pois os havia esquecido. Quando tentei abrir a porta do meu quarto, algo a bloqueava, não importava quanta força eu pusesse o que quer que estivesse impedindo a porta de abrir não cedia. A fantástica faxineira tentou também, sem sucesso, e decidiu ir pelo lado de fora do apartamento, através da jardineira, para entrar pela janela que havia deixado aberta. Infelizmente, como se vê na foto, há a máquina do meu Split bloqueando a passagem. Ela pensou e ensaiou contornar o obstáculo umas três vezes e acho que foi aí que rogou a Deus que a ajudasse. Voltou por onde veio e retornou à frente da porta que nós pensávamos estar sendo bloqueada pelo rodo tombado. Eis que Deus se manifestou e o que impedia a entrada no quarto-ilha se revelou ser a chave que havia caída bem ao alcance de suas mãos. Tal fato foi visto como uma bênção do Criador pela fantástica faxineira, eu fiquei aliviado, pois não sei se a tela de proteção suportaria o seu peso caso despencasse ao contornar o ar, mas não acreditei ser obra de nada a solução tão simples e segura para o problema da porta, se muito do acaso-destino. Ela, que viveu o milagre, deve estar contente com o bom e amoroso Pai. Deve ser reconfortante tal sentimento. Meu pai são cinzas no fundo da maré de Macau, um livro de Quimiometria e as lembranças e fotos que guardamos dele. O criador do universo, pois também acho que um universo tão organizado como o nosso tenha sido fruto de uma ação inteligente, ainda está por vir e será proveniente da evolução tecnológica ou de complexidade do universo. Preciso revisar o post anterior, talvez complementá-lo, mas me falta disposição. Prefiro escrever isso peidando por causa do café. O dia está particularmente e mais quente se me afigura por estar bebendo algo quente, liguei o ar e botei o volume do som no 25, coisa rara. Já me acostumei à altura. Vou fumar e pegar mais café. Não ainda. Marteladas querem concorrer com o som, posso aumentar o volume, são marteladas bastante sonoras. O café já frio da xícara acabou. É hora de repor a cafeína e a nicotina do meu incrivelmente resistente organismo. As marteladas estão mais ferozes e constantes.





15h59. Como é de praxe, o café me deu uma caganeira, a minha teoria é que ele age como um lubrificante/desinfetante do intestino, soltando e liquefazendo o que nele está contido, facilitando ou praticamente obrigando a expulsão do seu conteúdo. Foi a última xícara, tenho pouca Coca e acho que a despensa está trancada. Posso pedir à fantástica faxineira que faça mais café, porém meu estômago tem um limite de tolerância que uma vez ultrapassado, o que quase se dá no momento, torna tomar o líquido uma experiência desagradável e nauseante. Não quero vomitar, como uma vez já se deu. Outra teoria é que o café irrite o meu sistema digestivo e por isso os peidos, a caganeira e o enjoo. Sei lá e não faz diferença para os efeitos do café sobre mim tais hipóteses. Sei que antes de pedir mais uma carrada de café, tomarei uma Coca bem gelada com cigarro para “limpar” e ver se a porta da despensa está destrancada, o que me faria migrar definitivamente para a Coca por hoje. Água não me apraz, prefiro café com todos os seus colaterais. Preferiria, entretanto, ter Coca. Essa não me faz mal que eu perceba, afora o bucho bastante dilatado. Nunca estive tão gordo. E isso nunca me importou menos. Tenho um pequeno pedaço da vida de Blanka, sou um pequeno pedaço de sua existência e de seus pensamentos, não ouso dizer de seus sentimentos. Ela ocupa fatia maior do meu ser e isso é evidente. E sim, nutro sentimentos por ela, mas nada que configure ainda uma paixão. O pernoite no motel será um momento decisivo para ambos, eu creio. Em verdade, em relação a Blanka não sei em que crer. Nossa, preciso escrever um adendo no post anterior! Um que me deixa muito feliz! Em relação a Blanka! Momento.

16h26. Pronto. Acho que adicionarei mais coisa ao post anterior quando tomar coragem para revisá-lo. Este está quase acabando, tenho que ter um pouco de disciplina e cumprir o que me comprometi a fazer e que venho protelando por alguma razão que me escapa. É hora de enfrentar. Talvez decida que nada deva acrescentar. É a saída mais fácil, mas não é a desejada. Ou a ideal, na minha opinião. Vou fumar. Antes que comece Björk na lista 6.

16h40. “Nail in my head, from my Creator, You gave me life, now show me how to live”. Comentei com a fantástica faxineira que Deus a havia ajudado hoje. Ela respondeu, “Com certeza. Em tudo”. Tal resposta me deixou atarantado, fui tomado por uma preguiça de existir, uma vontade de tombar morto ali. Não sei se foi porque migrei para a Coca ou pela inesperada resposta. Nunca saberei. Acabou-se o post. Vou tirar uma foto da privada. E vou tomar mais Coca com cigarro. A despensa está aberta. Sem mais café por hoje, acho eu. Algo em mim pede mais, para alternar com a Coca. Acho que é o que vou fazer.

17h00. Foi o que fiz. Vou revisar e postar logo esse antes de partir para o que realmente deveria fazer.

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