quinta-feira, 31 de maio de 2018

DE VOLTA AO QUARTO-ILHA OU OBRIGADO, MÃE


16h19. Cigarro fumado, volto da varanda para o meu quarto-ilha devidamente perfumado e limpo pela fantástica faxineira. Falta só colocar o som. Vou de The Clash, como havia prometido. Em modo aleatório.

16h22. Pronto. “Let’s Go Crazy” do “Sandinista”. É muito bom estar no quarto-ilha limpo. Meu reino revigorado. Não sei por que cargas d’água a fantástica faxineira colocou o joystick do PS3 aqui ao lado do computador, a primeira coisa que me veio à cabeça foi jogar Deus Human EX.

16h30. Estou sem saber o que dizer. Vou revisar o outro post e publicar.

17h33. Revisei, publiquei e divulguei. E isso me deixou de baixo astral porque eu sei que ninguém vai ler, muito menos ler na íntegra o que escrevo. Eu escrevo para ninguém, esse é o mais triste destino das palavras, não encontrar outros olhos. Outros olhares. É um esforço grande que faço para não dar em nada. Desmotiva às vezes. Mas não esmoreço, sigo com minhas palavras. Simplesmente não há outra alternativa para mim. Ou é isso ou o tédio absoluto, prefiro isso. Pode não ser nada, mas é melhor do que nada de fato. Esse é o meu tudo. Sem as palavras não saberia viver, levar a vida, aguentar a vida, então me seguro nas palavras com todas as forças da minha vontade, mesmo que sejam para ninguém. É decepcionante isso de escrever e não ser lido. Mas se é o que me cabe, que posso eu fazer? Eu produzo muito, não há cristão que aguente ler tudo. Tanto é que para dar vazão a minha produção, posto alguns dos meus textos nos blogs capilares. Talvez esse vá para algum deles. Sei lá. Sei que vou pegar mais Coca e fumar um cigarro. Nossa, me sinto mais inútil que de costume agora com as baixas visualizações do meu blog. É quem nasceu para ser medíocre, relegado a mediocridade está. Estou.

18h02. Fui fumar um cigarro e lembrei que minha mãe me agradece com frequência, qualquer mínimo ato, então vou falar uma coisa para ela. Mãe, obrigado por respeitar as minhas escolhas de vida por mais que não as compreenda, que eu sei que não compreende. Obrigado por me dar a liberdade de me exercer no mundo da forma que eu acredito e que me convém. Obrigado por não me cobrar resultados que não posso dar nem expectativas que não posso cumprir. Obrigado por aceitar a pessoa difícil que eu sou e cada vez mais me torno. Obrigado por nunca desistir de mim, por mais que eu não seja o filho que você sonharia em ter. Obrigado por me deixar no meu canto, fazendo as minhas coisas, quais sejam, escrever e ouvir música. Obrigado por acreditar no meu sonho de ter um livro publicado. Obrigado por todo o suporte que você me dá, por nunca esquecer de mim, por mais que fosse bom para você esquecer um pouquinho de mim e se focar em você. Obrigado por não me cobrar uma interação maior com o mundo que eu não posso dar. Estou trabalhando isso na terapia. Obrigado por me amar incondicionalmente apesar de todas as condições sui generis em que me coloco. Obrigado por sempre estar atenta e vigilante, mas não precisa exagerar nisso, pois paranoia não leva ninguém a lugar nenhum. Obrigado por ser tolerante e estar sempre aberta ao diálogo. Obrigado por respeitar o meu silêncio e a minha ausência perante o mundo. Estou trabalhando isso na terapia também. Obrigado por todo o carinho que tem por mim, não sei nem se o mereço. Obrigado por tudo isso e não se engane, eu sinto, eu percebo, eu sei de como é difícil para você lidar com alguém como eu, tão completamente diferente de você e da maioria dos mortais. Eu confesso que sou bastante excêntrico nos meus atos e escolhas, para dizer o mínimo, e entendo que você não entenda, mas acho admirável, a verdadeira prova de amor que você poderia me dar – e me dá – que é me aceitar apesar de todos esses pesares. Obrigado por isso, sou eternamente grato. Sobre o livro ele é o meu maior sonho, a minha realização profissional e como pessoa. É o evento mais fundamental da minha vã existência, um divisor de águas na minha vida. Por isso penso tanto sobre isso. Gostaria muito que ele fosse publicado por mérito, com uma mãozinha do meu tio para levá-lo à apreciação da editora da qual é conselheiro. Amaria se Raimundo Carrero me mandasse suas opiniões acerca da obra, seria o que me validaria como escritor, o que não me considero, até o presente momento eu sou apenas um blogueiro de meia tigela que não é lido por quase ninguém como citado acima. Queria muito ser validado por quem de direito como escritor e isso ocorreria se alguma editora decidisse publicar o meu livro ou se Seu Raimundo me desse a sua bênção. Não creio que essa última vá acontecer, mas, quando finalmente a minha amiga revisora me entregar a primeira revisão, mandarei um e-mail para ele, não quero nem saber, aí vai ter dado tempo suficiente para ele ter lido o livro. Estou cansado de ouvir The Clash. Acho que vou colocar Björk, que eu sei que você odeia, hahaha. Bem, mãe, queria dar uma dimensão da importância do livro para mim. Ele simplesmente é a minha validação como pessoa, é a prova que a minha passagem pela vida não foi em vão, que não sou um completo inútil, frustrado e fracassado. O livro, este, “O Diário do Manicômio”, que é o único que tenho, publicado seria o ápice da minha existência, me sentiria pela primeira vez desde a infância de bem comigo mesmo, satisfeito em ser quem eu sou, me achando uma pessoa meritória de estar no mundo e de usufruir todas as benesses que me são outorgadas. O livro seria a confirmação que a minha escolha de vida não foi em vão, um desperdício como agora e sempre me afigurou. Bem, não sei como deixar mais claro quão fundamental para mim, para a minha autoestima, para a minha paz e contentamento comigo mesmo, a publicação dessa obra e não outra é para mim. Mas não quero eu mesmo bancar a publicação, isso não é meritório, isso é egolatria. Eu quero-o aprovado por quem de direito, que alguém ou alguma editora julgue o livro passível de publicação para que ele tenha alguma validade para mim. Se Raimundo Carrero me dissesse que gostou, que é válido ser publicado, eu poderia até pensar numa publicação própria, pois já me sentiria válido como escritor tendo sido aceito por um dos grandes da literatura pernambucana. Não acredito que isso se dará, infelizmente, então só posso contar com o meu tio para facilitar a entrada nas diversas editoras possíveis a obra revisada para apreciação e torcer para alguma decidir publicar. É o único caminho. São os únicos caminhos que me são válidos. Obrigado por ler essas palavras idiotas, mas sinceras. Kisses.

18h56. Ter escrito tudo isso me deixou tenso e temendo a reação da minha mãe. Mas joguei aberto e sincero com ela. Dei a real importância que o projeto tem para a minha vida. Ele é a validação da minha vida, uma razão, uma justificativa para a minha existência. Que de outra forma será apenas um grande desperdício de recursos do universo. Preciso fumar um cigarro com uma Coca cheia de gelo para relaxar.

19h08. Sabe de uma coisa? Cansei de esperar pela resposta do escritor. Vou revisar e postar isso e mandar o link para minha mãe e para ele. Não sei como mamãe responderá ao que escrevi muito menos Raimundo Carrero. Se ler. Mas precisava botar para fora.

ASTRAL MELHOR


Comecei um novo post pois parei o anterior curiosamente com o número de palavras que é o meu número da sorte. Quando calhei de olhar para o número de palavras, coisa que quase nunca faço, estava lá o número. Tive aquilo por um sinal e mudei para cá. Não que eu seja de acreditar em sinais. Mas achei bonitinho ficar com aquele número e vou revisar e publicar em algum blog capilar.

20h18. Publiquei.

20h26. Fui botar Coca e fumar um indevido cigarro. Espero só fumar agora quando for dormir. Sabe qual foi a maquinação que me passou pela cabeça? Mandar do e-mail de mamãe, como se fora ela, um e-mail para Raimundo Carrero dizendo que seu filho só faz falar na resposta dele, que ele responda algo. Hahaha. Será que seria pressão? Mas não vou fazer isso. É baixo demais e minha mãe não iria permitir. Hahaha. Estou é ficando biruta.

20h33. Puxei papo com a menina que só vi uma vez na vida. E achei interessante. Não sei se ela vai me responder. Aposto que não. Mas dei uma cutucada na existência. Sabe-se lá.

20h38. Dei outra e ficarei nessa, se ela responder respondeu. Senão dane-se. Estou cansado de bajular e não receber nada em troca. Só há uma pessoa que mereça isso de mim hoje. Mais ninguém. A Garota da Noite merecerá uma carta de despedida. E só. É mais do que suficiente. Melhor pensar sobre garotas que queimar a cuca com o livro. Vamos deixar isso para lá por enquanto. Mas o que falar de garotas? São seres que não dão muita bola para mim, talvez porque tenha o formato de uma. Hahaha. Sei que em dez anos duas garotas me deram bola. Uma queria me comer, a outra queria me amar. A queria me comer bem que tentou e quase conseguimos, mas só cheguei ao quase porque broxei. A que quis me amar a essa ainda tenho muito o que escrever. E acho melhor não falarmos de garotas. Meu conhecimento sobre esse misterioso universo é bastante restrito, mas encantador, mágico. Guardo das minhas relações apenas as coisas boas, as ruins não vejo necessidade delas. Então, na minha cabeça torta, todos os meus relacionamentos valeram a pena. E em todos se não saímos ganhando, saímos no zero a zero. Nunca achei que saí perdendo, sempre achei a experiência válida, por mais doloroso que o final tenha sido. O final é o que menos conta, o que conta é o recheio, é o que dá substância à relação. Não sei direito do que falo, pois estou na cabeça com o vídeo de um pintor cego que me impressionou. Pintor e cego, parece bem contraditória a escolha da profissão com a deficiência, mas ele conseguiu conciliar a limitação com o ofício de pintar. O ser humano supera limites inimagináveis realmente. Como me sinto pequeno perto dele e de exemplos como o dele. Mas eles são exceções, não são a regra, a regra, reitero é a mediocridade, estar na média, não ser excelente nem péssimo, ser razoável. Eu sou medíocre, tudo ao meu redor aponta para isso. Mas não quero entrar nesse mérito ou demérito pessoal. Eu sou o cara que tinha tudo para dar certo e dei tremendamente errado. Nossa, completamente errado. Me lembra aquela música de Caetano e Jorge Mautner, “Todo Errado”. Hahaha. A garota me respondeu de forma simpática. Mas não acho que vá levar a conversa muito adiante. Joguei outra pergunta. Vamos ver no que é que vai dar. Aposto que em nada, para variar, mas variando, dessa vez isso não me importa muito. Não estou ansioso aguardando uma resposta. Se vier veio, se não vier também não tem problema. É uma posição confortável a minha em relação a essa garota. A meu modo, estou me divertindo às custas dela. Posto assim parece até um desacato, mas estou me propondo a auxiliá-la a traçar um plano para o seu futuro profissional. Então não estou sendo chulo ou vazio, talvez, se ela me der a devida atenção, eu possa ser de alguma utilidade em sua vida. E me divertir enquanto faço isso. Mas vamos deixar a garota para lá. Estou pensando que a minha geração pegou muita carona profissional na geração anterior. Não sei por que tenho essa percepção. Na verdade, isso é mais exceção que regra. Estou equivocado. Retiro o que disse. Mas a emancipação dos pais vem cada vez mais tarde a meu ver. Não que isso seja um defeito, é uma tendência cultural apenas. Dessa estou mais convicto. Até porque se casa cada vez mais tarde. E geralmente se sai de casa quando se casa. Eu não sei porque não estou mais inserido no mercado de trabalho e quando estava, uma das primeiras coisas que quis foi sair da minha casa, tinha uma relação muito tumultuada com a minha mãe, achava que ela me reprimia muito e reclamava demais, era um saco, cheia de atritos, então, na primeira oportunidade, fui viver com um amigo do trabalho, depois sozinho, que foi quando tive o meu primeiro burnout ou que nome queiram dar. Pirei o cabeção e tentei me matar. Depois voltei a sair de casa para ir morar com a Gatinha. Três, eu creio, maravilhosos anos, até que a cola destruiu nosso lar e eu voltei a morar sozinho, quando então se deu meu quarto e último burnout e decidi que iria parar. Desde então vivo com os meus pais, primeiro com meu pai, até a sua morte, e agora com a minha mãe até quando a vida permitir. Estou mais tranquilo comigo mesmo que no post “Lixo”, que publiquei num dos meus blogs capilares. A garota saiu do Facebook e não olhou a minha última colocação. É a vida e segue. Sem nenhuma grande frustração a esse respeito. Frustrado – e muito – eu estou com Raimundo Carrero. Mas não vou voltar a isso. Pelo menos não por ora. Nossa, já são 21h28. O tempo passou voando agora. É bom quando me perco na escrita. Adoro. Meu passatempo predileto, meu ofício de fé e quando estou entretido com ele a vida faz todo o sentido para mim. Não estava chegando nesse grau de envolvimento com o texto anterior, estava tomado não sei por que tédio, mas um imenso que me roubava as palavras e quase a vontade de ser e estar. Não desistirei de mim ainda, não agora que mais me aproximo da realização do meu maior sonho profissional e pessoal. Talvez. Se não conseguir será a maior frustração da minha vida. Nem sei como vai ser. Vai ser barra se der errado. Espero que meu tio não falhe comigo.

21h35. Fui pegar Coca para ver se não entro no assunto livro novamente. A música que está tocando é “Book Of Your Heart”. Irônico, para dizer o mínimo. Vou falar só mais uma coisa sobre o livro, caso publicado, vou ter que arrumar um meio de botar o endereço do meu blog em letras garrafais no final, de repente a marca. Quero converter novos leitores para isso aqui. Seria o máximo se vendesse bem e as pessoas se interessassem pelo meu presente e acessassem o Profeta. Tudo pode acontecer. Inclusive, eu sei, superego, nada disso. Vou falar sobre o quê? Sobre bonecos? Não. Sobre a vida. A vida hoje começou pesada como narrada no texto “Lixo” e agora se apresenta bem mais amena, mais agradável, gostosa de ser vivida, não sei o que mudou de um post para o outro. Mas algo mudou. Ainda bem, não aguentava mais todo aquele tédio, marasmo completo da alma. Há medíocres que conseguem se destacar, não sei por que eu não poderia. Mas isso vai terminar no livro de novo. Acho que Sideshow perdeu em qualidade na linha Marvel e deu um salto de qualidade na linha DC. As esculturas de cabeça da Marvel estão muito HQs e genéricas, enquanto as da DC estão realistas e cheias de personalidade. Interessante como pode a mesma empresa lançar produtos tão díspares. Mas parei de colecionar com a Red Sonja que, pelo que prevejo, virá com um bocado de peças separadas para encaixar, o que acho um saco. Tira o encanto da figura para mim. Mas ela é encantadora demais para eu deixar passar. Melhor escultura feminina que eu já vi. E última compra para fechar a minha coleção com chave de ouro. Nossa, como era mais fácil e principalmente mais barato comprar esses bonecos do Brasil no passado. Hoje está de lascar. Mando tudo para a casa do meu irmão e fico na expectativa de alguém vir e trazer (no caso ele mesmo, pois mais ninguém faz isso por mim). Liguei para meu irmão agora, bateu a saudade. Mas ele estava tirando as compras do carro. E eu não tinha nada efetivamente para dizer. Então a conversa durou cinco minutos.

22h08. Estou ficando sem assunto. A viagem vem me afligir, mas não de forma tão pungente quanto ontem, quando senti quase que uma fobia em relação ao assunto, hoje estou apreensivo, mas bem melhor. Minha alma oscila muito. Não como a de um borderline, mas dá seus altos e baixos consideráveis. Graças aos céus estou mais tranquilo agora, com um astral melhor. O que me incomodou foi a minha falta de comunicação com o meu irmão, como se deu difícil e travada do meu lado.

22h21. Fui pegar Coca e mamãe me pegou para tomar os remédios. Estou com o astral levemente mais baixo por achar que estou perdendo a fluência com o meu irmão. Espero que não, que tenha por causa das compras. Meu sobrinho tem dificuldade de entender o que eu falo. Está com sotaque americanizado. É natural. Cada um com a sua vida. A minha pode ser resumida em uma palavra, palavras. Não vai muito além disso e sempre volta para isso. Por isso ser valorizado com escritor, ser publicado é tão fundamental para a minha realização como pessoa. Não dá para ter a dimensão, só vivendo a vida que eu vivo, que ninguém vive. O mundo outorga isso praticamente só a mim. Acredito que outorgue igual quantidade de tempo livre a outras pessoas, mas duvido que alguma delas escreva tanto quanto eu escrevo, nisso acho que sou único. Não é lá grande coisa para se gabar porque o que escrevo nem sucesso faz. São textos caudalosos e cansativos para os padrões cibernéticos.

22h42. Dei uma passada pela internet e minha tia-vizinha estava tirando uma com a minha cara no WhatsApp. Que onda. Hahaha.

22h48. Achei mais uma editora, Papeis Selvagens. Mas essa acho com distribuição muito fraca. Entretanto, quando tiver o livro concluído sairei atirando para todos os lados. Vai que acerto algum alvo. Hahaha. Depois de me frustrar com o meu tio, o que espero muito que não aconteça. Nossa, se se der, vai ser uma decepção muito grande, a imagem dele nunca mais será a mesma para mim. Mas, pensamento positivo. Nem de Carrero desisti ainda. Minhas esperanças são resistentes. Estou levemente ansioso, com o que não sei. Acho que com essas possibilidades todas darem errado. O cara que titia achou parecido comigo me deu uma medida exata da imagem que transpareço para o mundo que não é lá das mais agradáveis.





Eis aí com o que sou comparado. Minha autoimagem desceu dois degraus. Mas tudo bem, já estava num recando obscuro da minha alma, a escuridão é a mesma dois degraus acima ou abaixo. Hahaha. O amor ainda há de prevalecer na minha vida. Vou comer o sanduíche que sobrou do almoço.

23h10. Sem saco de escrever mais hoje. Bucho cheio me dá isso. E nem está muito cheio, comeria outro sanduíche se tivesse. Talvez tenham sobrado almôndegas de ontem. Mas com o meu padrasto na sala, não me arrisco a comer, só quando ele for dormir, se almôndegas houver. Senão, só me restará o Sucrilhos. Acho que vou continuar isso amanhã. Não, me deixarei um pouco mais aqui. Estou meio sonolento por causa da medicação e do sanduíche na barriga. Acho que vou fumar o meu último cigarro e ir dormir. Acho que vou encarar mais um rango.

-x-x-x-x-

12h20. Acabei de acordar. Ainda não tenho opinião formada sobre o dia, estou a despertar. Tenho café e a fantástica faxineira está aqui, duas grandes notícias. A primeira vontade que me bateu no dia: enviar um e-mail para Seu Raimundo dizendo do para ler os dois últimos posts. Veja só quem e o quê aparecem primeiro à minha mente quando acordo. Será que é uma coisa a que dou (indevida?) importância? Sei lá, sigamos adiante, embora nada tenha me surgido. Fumei dois cigarros e tomei duas xícaras do negro líquido. Tico e Teco ainda se digladiam. Botei o Spotify no volume 10, U2 “Songs Of Experience” passando. Meus posts não tiveram a visualização dos anteriores, acho que porque os publiquei muito próximos, num intervalo de tempo muito curto. Ou porque sejam chatos e longos mesmo. E a maioria já saiba disso. A outra coisa que me vem à mente é que meu amigo, que tem um estilo muito próprio, será publicado. Sinto uma inveja boa. Não sou um cara que lapida o texto, que garimpa palavras ou expressões, por isso não me considero escritor, dentre tantos outros “poréns”. Ele é ao que me aparenta alguém que tem o mais absoluto cuidado na escolha das palavras e que divulga toda e qualquer publicação que faça. Tem o ofício da escrita talvez em tão alta conta quanto eu. Mas escrevo como forma de sobrevivência, é algo mais urgente e vital. Escrevo para que minha vida não saia dos eixos, para manter a sanidade e não ir buscar em searas nada salutares o prazer de existir. O meu prazer em resistir advém em primeira e última instância da escrita. Se com ela eu já não sou ninguém, sem ela sou menos que isso. Não conseguiria tecer os contos fantásticos, no sentido de fantasia, do meu amigo autor, não me interessa e me pareceria um exercício fútil da minha parte, uma imitação pobre do que ele faz com maestria. Acredito que ele talvez tivesse mais facilidade em emular a minha escrita. Visto que não trago nada de novo, nenhum floreio, raramente uma novidade, mas acho que teria dificuldade de extrair tanto de tão pouco como faço. Não é tarefa tão simples, tendo uma rotina tão estéril quanto a minha, onde pouco ou nada acontece a não ser a escrita e uma olhada ou outra na internet.

13h00. O tempo passa, o tempo voa. Embora tenha começado um novo dia, ele veio encangado no anterior, então tenho poucas páginas para escrever, o que não sei se é bom ou ruim. Sempre posso abrir outro arquivo. E outro e mais outro, quantos eu quiser, é a vantagem do virtual, é virtualmente infinito. Enquanto o hardware funcionar, eu posso ter infindos novos arquivos para dizer bobagens. Salvei um meme que achei curioso a um tempo atrás e que o Facebook calhou de me relembrar hoje.





Não o reparti na minha página da rede social para ser uma exclusividade daqui. Ato mais besta, né, mas é um dos mimos que faço pelos meus leitores. Queria ter a profundidade psicológica de um Dostoievsky, mas infelizmente não possuo. Vivo me debatendo por dentro, mas nem por isso alcanço os dilemas que os personagens do autor apresentam. Não vou matar uma velhinha para ter assuntos mais profundos para tratar. Ou meu próprio pai, que por sinal já faleceu. Tenho medo de tratar do meu pai aqui e ser mal interpretado por alguém da família que porventura leia este post.

13h29. Hoje é aparentemente o Dia Mundial Sem Tabaco e mamãe me mostrou uma reportagem sobre os diversos malefícios do cigarro. Me deu vontade de fumar um. Hahaha. Bom, agora estou um pouco mais bem informado sobre os malefícios do fumo e as benesses de parar de fumar. O problema é que não quero parar de fumar e minha existência aqui só me interessa por causa do bendito livro. Nada mais tem muito interesse. Nem acho que deveria dar tanta importância ao livro se nem à revisora agradou. Eu acho. Ela nada me disse. Mas não parecia muito empolgada quando veio falar comigo. O Hulk é realmente tudo o que pode ser com a luz do dia o iluminado através da película das janelas do meu quarto. Queria que a mesma diferença entre o Hulk agora sob essa luz e a versão pálida e sem contraste da noite fosse a diferença do texto revisado para a versão crua que mandei a ela. Seria o comparativo perfeito, se isso for possível.

13h46. Fui fumar um cigarro e mamãe ficou a me indagar se a leitura não tinha aberto a minha mente em relação ao cigarro. Não havia muita coisa que não soubesse e disse-lhe que não tinha muito apego à vida, esqueci de comunicar-lhe minha fé cega em relação aos avanços da medicina. Foi melhor calar. Ela se disse triste e eu vim para o meu quarto. Ah, ela perguntou ainda se eu não pensava em diminuir e eu lhe disse que já havia diminuído o suficiente, que antes fumava duas carteiras e meia por dia. Hoje passo dois dias com uma carteira. Acho uma diminuição substancial e a que estou disposto a ceder. Está de bom tamanho. Sei que para o fumo o único bom tamanho é parar completamente, mas como não estou disposto a abandonar o tabagismo, já abdiquei de vícios outros, muito mais danosos, não vou ficar sem o meu cigarrinho. Ela me pintou cenários terríveis como o de constante sensação de sufocamento por enfisema pulmonar. Prefiro não pensar nisso e ir levando a vida. Disse-lhe ainda – e olha que foi um papo curto – que afora o livro não há mais nada que me gere motivação de viver. Ela enumerou os familiares, os sobrinhos, mas nada disso me gera empatia. Eu sou um cara cada vez mais antipático, no sentido de não sentir empatia pelos demais. É triste isso e se fosse escolher por abandonar alguma condição seria essa. Entretanto, não sei como nem sinto disposição de fazê-lo. Já fui considerado uma pessoa especial, mas isso a um tempo há muito ido, sou uma pálida sombra do que fui. Não sei onde aquele que fui foi parar, me constrange esse que sou, mas não sei mais ser de outra forma. A causa da transformação desconheço, sei que quando me apercebi ela já havia se dado e só a percebo se intensificar. Não sei parar sua marcha. Tento sair, mas vou sem vontade de ir, como um artista que volta aos palcos para cantar os mesmos velhos sucessos. Anacrônico, deslocado, ensimesmado, sem conteúdo, calado, alienado. Isso tudo é muito triste e me dói, mas não consigo fingir ser o que era se de fato não encontro tal pessoa dentro de mim. Eu mesmo aos poucos vou me excluindo do meio social e me encastelando cada vez mais no meu quarto-ilha. Acredito, como medida última, que um grande amor venha me resgatar e me pôr de volta o gosto pela vida entre as pessoas, mas sei que isso não passa de uma grande e contraditória ilusão. Como arrumar alguém se não saio do meu quarto-ilha? Sim, há uma possibilidade, mas essa não há de se concretizar. É tão impossível quanto Raimundo Carrero me responder. Ainda mais. Mas não quero tratar disso. Fato é que me afasto das pessoas pois me causa cada vez mais estranhamento estar entre elas. Me sinto cada vez menos parte do mundão. Talvez tenha sido confinado tempo demais, vezes demais, não sei se esta seria a causa, é uma suposição apenas. Fato é que me sinto mais livre mais eu e mais meu aqui longe das pessoas e perto das palavras. Não queria sair para a fantástica faxineira arrumar o meu quarto. Espero que ela demore a chegar aqui. Migrarei para a varanda, mas não estou com vontade fazer isso agora, sendo acarinhado pela brisa geladinha do ar condicionado. “Landlady” me lembra a liberdade que é estar aqui fazendo o que eu gosto, de ser do jeito que eu gosto. Não gosto de me tornar um alienígena entre os meus semelhantes, mas não sei ou encontro forças para reverter isso. Não sei se já contei isso aqui, mas meu amigo da piscina ou o meu amigo redator, não me recordo, disse que havia um vídeo no YouTube ensinando as mulheres a extorquirem os seus maridos ao máximo antes da separação. Feito obviamente por uma mulher. Num mundo assim, acho que o meu livro é até menos imoral do que poderia supor. O passo-a-passo de como dilapidar financeiramente aquele que se jurou amar na saúde e na doença. São tempos curiosos esses em que vivo, onde a democratização da comunicação e o acesso irrestrito a ela produz coisas assim e todo o tipo de coisas outras que eu deveria explorar e conhecer, mas não tenho disposição, entretido que estou com a minha escrita. Sinto um interesse de revirar o lixo da internet, ver os seus extremos, mas, para isso, conto com o meu amigo da piscina, quando há algo de realmente relevante que se destaque do resto do lixo, ele me mostra. Relevante para ele, digo. Ele é meu filtro e minha fonte de informação. Meu informante. Hahaha. Espero que não perca o hábito de me repassar tão preciosas pérolas de como pode ser tenebrosa e humilhante a condição humana. Ele tem uma atração pelo que se destaca por estar abaixo da média, eu tenho o mesmo interesse, por mais que tenha me espantado com o pintor cego, que é algo muito acima da média, me chama mais atenção quão baixo alguém pode descer em busca de atenção. Não sei por que se dá assim comigo, só sei que é. Bate até uma vontade de buscar algo no YouTube para ver, mas acho que para isso é preciso um certo know-how, saber fazer as perguntas certas. Não adianta eu colocar piores vídeos do YouTube, acho que o resultado será decepcionante, não sei e não vou testar. Abri o YouTube só para ver o que ele me sugeria de cara, e só deu pegadinhas de João Kleber, e um vídeo de Björk e outro sobre alienígenas. Tirando Björk acho que não deva ser muito diferente da página inicial do meu amigo da piscina, visto que vejo mais YouTube por sua causa. É um grande serviço que não tenho paciência para explorar, imagino que deva haver o mundo lá, mas prefiro ficar escrevendo. Se me viciar em YouTube estou ferrado. É um poço sem fundo ainda maior que o Facebook, eu creio. Não sei por que me lembrei novamente de Raimundo Carrero. Não vou deixar ele tomar o meu pensamento uma vez mais. Não agora. Estou meio desarranjado hoje. Será que desarranjado é uma terminologia conhecida em todo território nacional ou é um regionalismo? Não sei e pouco se me dá. Tenho que ouvir a discografia do The Clash. Mas também não agora. Prevejo, pelos barulhos dos baldes se aproximando que terei que deixar o meu quarto-ilha dentro em breve. Irei para a diminuta mesa da varanda que não tem apoio para os meus braços, pois além de pequena é redonda. O maior paradoxo que eu posso imaginar é um espelho de frente para o outro. Quem está refletindo quem e o que está sendo refletido? Acho isso o que há de mais curioso. É um pensamento que me faz viajar. Eu, nos meus períodos de mania achava que isso seria a resposta para alguma coisa, só não me lembro para quê. Hahaha. Não importa era tudo viagem da minha cabeça mesmo. A maior parte da minha vida passo dentro da minha cabeça. Não reparto com as cabeças alheias, só reparto quando divido no meu blog, mesmo assim não há troca, é tudo muito unilateral. Como uma companheira faz falta nessas horas. Essa troca tão salutar e saudável. Sinto que a Gatinha à medida que vai construindo a sua história, vai se distanciando de mim. Isso me entristece mas respeito e admiro o movimento dela. É uma pessoa que precisa estar em constante movimento, isso a impulsiona para a frente e cresce na vida. Eu sou o extremo oposto, a personalização da imobilidade e estagnação. Cada um na sua vibe. Quero ver quem vai ser a pessoa que meu amigo cineasta vai criar de mim. Parece que está empolgado com o projeto, que está trabalhando nele. Não poderia ficar mais lisonjeado. A pessoa que eu fui no último ano em muito se assemelha a quem sou hoje. Não mudei muito de lá para cá. Mas certamente não sou mais o herói da infância do meu amigo, quando demonstrava certa verve para macho-alfa. Hoje sou macho-ômega. Hahaha. Sem liderança, lidero a mim mesmo e nem tanto assim, nos confins do meu quarto-ilha. Me isolo do mundo porque não acho nada de interessante nele. O que tinha para achar eu já achei. Só é impossível. Mas não estou à procura de possibilidades. Embora se alternativa se apresentar será muito bem-vinda. Minha grande incursão/intervenção no mundão indubitavelmente é o meu livro. Vou pegar um copo de Coca.

15h12. Minha mãe está numa situação tão pior que a minha, aparentemente comprou duas passagens no nome dela em dois cartões diferentes. Disse-me que meu padrasto está preocupadíssimo com a cabeça dela. Eu vou ter que enfrentar o que vier. Ela pensa em cortar o remédio contra o câncer durante a viagem, eu endosso. Se isso realmente melhorar a sua cognição e o seu joelho. Senão o que estará levando para a minha irmã não é uma companhia, mas um problema. Minha irmã e mamãe são grandes confidentes uma da outra. Minha irmã já estava pensando em contratar uma cuidadora para mamãe.

15h24. Falei com o meu amigo corretor que disse estar “tudo massa” com ele lá em Portugal. Disse-lhe que provavelmente viajo dia 24 para lá. O barulho dos baldes se aproxima ainda mais. Acho que chegou ao meu banheiro, dentro em breve serei temporariamente extraditado do quarto-ilha, o meu reino, o meu país, por questões de higiene.

15h29. Já estou devidamente instalado na varanda e ouço o barulho da obra algumas dezenas de metros abaixo. É massa o som aberto da varanda, as aves gorjeiam, os peões martelam e conversam, as ruas estão calmas pela falta de combustível, não vou nem botar a música do computador para tocar. Ouço minha mãe conversando com o meu padrasto na cozinha. Estão almoçando. Fui convidado, mas não tenho fome a essa hora. Algo me gera desconforto. Não sei o que é.

15h34. Sigamos em frente a despeito de qualquer desconforto do ser. Estava pensando na minha amiga do ateliê de pintura na China. Me perguntou do selfie que mandei para ela se eu tinha óculos fundo de garrafa no que respondi que não, que era bochechudo e tinha olhos pequenos mesmo. Hahaha. Estou disperso, fora do meu quarto-ilha há muitos estímulos e eles me distraem.

15h39. A cidade conversa ao meu redor. Emitindo os seus sons particulares. A cidade é um macro-organismo. Como um formigueiro. É maior que a soma de suas partes e possui (quase) todas as características de um ser vivo, se alimenta, produz excrementos, se regenera, cresce, tem seus órgãos com funções específicas e tem uma vida muito mais longa que aquela dos seres que a compõem. Só não se reproduz. É a única característica dos seres vivos que não lhe é peculiar. Uma leve brisa adentra a varanda, sopro da tarde que está numa temperatura agradável, com uma luz amena, sem a claridade causticante do verão. Também já vão dar quatro da tarde. Prefiro a vida passando rápida do que o tédio das horas a se arrastar sem função definida. Eita, já estou na sétima página, terei que interromper esse arquivo dentro em breve para começar outro, antes disso, revisarei e postarei esse, depois celebrarei com um cigarro e um copo de Coca. Queria que a fantástica faxineira acabasse com o meu quarto antes de mamãe e meu padrasto virem ver a passagem em duplicata aqui na sala atrás de mim. Não quero assimilar por tabela todo o estresse da situação.

15h50. Não sei por quê, mas a varanda me lembra o meu amigo cineasta, lembrança boa e bem-vinda. É uma pessoa muito querida que espero que subsista como amigo após o lançamento do livro. Tenho grandes esperanças que isso ocorra, caso o livro pule do mundo das ideias para a realidade. A paisagem da varanda me dispersa. Fico a observar a muralha de prédios e o verde que ainda resiste à conquista inevitável do cimento. A marcha do progresso nem sempre é apreciável e nem saberia dizer se é progresso se feito de forma irresponsável e desgovernada. O dinheiro move o mundo, não a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Um vento mais forte e ainda mais agradável, pela sensação táctil diferenciada que proporciona, adentra a varanda. Uma revoada de pássaros passa cantarolando. Um bebê chora. A existência é realmente um espetáculo grandioso e multifacetado. Enquanto um martela, outro arrasta a pá no cimento, outro acalenta um outro que acaba de aportar no mundo, enquanto eu narro todos esses eventos, é rica, a existência é uma experiência extremamente rica, gosto de apreciá-la assim, sozinho e à distância, protegido pela altura e pela segurança do meu apartamento. A varanda é grande. Meu apartamento é grande, antigo. Mas não muito. Nem uma coisa nem a outra. É do tamanho perfeito para eu viver muito bem. Tirando algumas crises interiores que me afligem e nada tem a ver com o lugar em que me encontro. O vento, há quanto tempo não o sentia tão integralmente assim. Ele assobia grave e incerto na imensa flauta que é a porta da varanda. Eita, entrei na oitava página e nem me dei conta tão absorto estava com o texto. Vou pelo menos acabá-la para revisar e postar. Acho que é o tempo de a fantástica faxineira acabar com o meu quarto. Se não já acabou. Vou averiguar, fumar o cigarro e tomar a Coca-Cola. Não, revisarei primeiro. Fico por aqui.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

REINICIAR


17h49. Não sei como o dia se passou tão rápido. Tudo o que fiz foi revisar dois textos. Sei que isso toma tempo, só não fazia ideia de quanto. Estou sem cigarros. Sobrevivendo à base de Vaporfi. Como previ o meu amigo da piscina veio me pedir um. Cedi-lhe um dos dois que tinha e já fumei o outro. Então até amanhã, só Vaporfi. Troquei inclusive o atomizer. O Bluetooth do computador deu pau, diz que está desligado e não sei como ligar, não achei o caminho. Pensei que desligando e ligando o computador funcionaria, mas que nada. Botei para tocar do meu celular que está com 15% apenas da bateria. Hoje tem tudo para ser um dia menos interessante que ontem. Acho que ainda tenho uma xícara de café para beber. Ou meia. Descobrirei.

18h05. Havia três goles de café, coloquei Coca. Mas isso tudo é irrelevante. Hoje estou mais irrelevante que ontem. Ontem estava mais contador de histórias da minha vida. Meu amigo da piscina pensa em descer. Esperarei que me contate. Não estou muito a fim de descer hoje. Mas mudo de ânimo de uma hora para a outra. Veremos. O que posso trazer de menos descritivo para cá hoje? Quais são as pretensões da minha alma hoje? Hoje não estou com grandes pretensões nem grandes inspirações. Hoje foi um dia produtivo, expus coisas que trazia dentro do peito há anos e com as quais nunca tinha me confrontado. Mas foi um confronto arrefecido pelo tempo. Foi bom que boas memórias de amor afluíram também. Ah, o amor. Essa mágica, essa química que acontece entre duas pessoas é um fenômeno maravilhoso. Eu me sinto meio que nem o Night Owl de “Watchmen” em relação a isso. Se você gosta ou não gosta de quadrinhos, deveria dar uma chance a “The Watchmen”, esqueça o filme e leia a HQ. É a melhor já feita e duvido que haja outra que a supere, mas o futuro está aí para me provar equivocado. Se bem que ninguém ainda barrou os Beatles na minha opinião. E já se passou bastante futuro desde o final da banda. Há muitas coisas boas, excelentes lançadas depois deles, mas nada foi tão definidor e tão definitivo quanto os Beatles. No rock, digo. E agora que dizem que o rock está morrendo...

18h19. Deixa o parágrafo acima para lá. Parágrafos são coisas muito úteis, quando quero me libertar de um assunto que está me incomodando, simplesmente pulo um parágrafo. Corto o mal pela raiz. Estou vazio de conteúdo no momento, mas não me encontro entediado, talvez pelo café, talvez por trazer um pouco da alegria jovial de ontem. Minha mãe estava com uma paranoia – e bote paranoia nisso – de que estaria fumando crack com meu amigo da piscina. Se ela soubesse o asco e o medo que tenho dessa droga. Eu tenho um pé no vício do crack. Não quero passar o outro. Aí minha vida se tornaria um inferno sem fim. Não conseguiria segurar a minha onda como acho que conseguirei com a cola. O vício do crack é muito pior, gera uma dependência química, o cérebro pede mais. Estou fora. Nada de vícios além da cafeína e da nicotina. E dos meus remédios, sem os quais, como já disse, provavelmente já teria caído em depressão. Depressão, essa é a minha maior inimiga, que me faz cometer insanidades. Está controlada. Por causa das medicações quero crer. E do meu afastamento do trabalho, principal fonte da minha depressão. Foi o maior e mais duradouro sofrimento que já passei na vida. Não quero nunca mais voltar àquele estado. Aos que por acaso lerem isso e estiverem deprimidos, saibam que passa, demora mas passa. Passou para mim e hoje estou bem, gosto dos meus dias. Só falta aprender a gostar de mim. Mas essa é uma jornada bem mais longa e pedregosa. Ou talvez a resposta esteja na minha cara e não a perceba. Talvez haja uma trave diante dos meus olhos que me impede de me ver como uma pessoa válida. Essa história de pessoa válida só me lembra o post de ontem à noite em que concluí que só me sentiria uma pessoa válida se produzisse algo, no caso, publicasse o livro que é o que tenho de mais significativo a oferecer à humanidade. Considero esse blog uma obra maior e de maior escopo que o livro, mas ela em si mesma, não me valida como pessoa. O livro, por mais que me desmereça como pessoa, o que é deveras irônico, em sendo publicado, por ser tido como meritório, significaria que eu sou um escritor. Mas não quero falar disso uma vez mais. Sei que soubessem da importância que o livro tem para a minha vida, haveria uma mobilização dos envolvidos. Mas eles nada sabem, a não ser a incrível revisora. Que seja.

18h42. Às vezes a tosse do Vaporfi me dá uma zonzeira estranha e gostosa. Estou completamente sem inspiração. Vou pegar Coca. Nem posso fumar um cigarro para pensar na vida e quebrar o ritmo...

18h52. A vida passa, a morte se aproxima e não estou fazendo nada de útil desse intervalo. Estou tentando o tornar mais útil, para mim, pelo menos, com a tentativa de publicação do livro. Esse blog não é o suficiente e provavelmente vá ter que me contentar com ele. Será para mim como um coito interrompido a minha vida assim. Mas se é o que se apresenta tenho que aceitar. Ainda há muita água para passar por debaixo da minha ponte. Até o final desse ano. Era bom que a revisão total ficasse pronta antes das eleições. Não sei se meu tio continuará a ser secretário de comunicação do estado após a eleição. E não sei se isso importa se ele continuar a ser do conselho da editora. Espero que, antes de tudo, ele mantenha a sua palavra. Disse-me que iria publicar. Então que se faça de palavra em ação. Mas tudo a seu tempo. Tenho que esperar a incrível revisora, terei que reler a obra toda, ver o que posso cortar, se é que devo cortar mais do que cortei. Preciso saber dela o que ela acha. Nossa, como esse momento vindouro e inescapável me intimida. Morro de medo de enfrentar essa realidade, me deparar com alguém que leu o meu livro. Se ele já tivesse o aval de Raimundo Carrero, eu ficaria completamente tranquilo como é agradável a língua gelada pelo gelo que acabei de comer. O celular parou de tocar o Spotify, acho que para economizar bateria. Uma pena. Visualizei o meu blog no celular e eu mesmo não teria paciência de ler, além das letras miúdas é muito texto. Não sei como alguém ainda lê. É impressionante, eu deveria me ter por vitorioso de angariar 20, 30 leitores. Não é uma tarefa fácil ler esse monte coisas. Eu releio para revisar, mas na tela grande e no Word com letras grandes. É outra coisa. Acho que só leria algo desse tamanho se fosse o blog de Björk. E olhe lá. Acho impraticável ler no celular. Se houvesse mais imagens acho que ajudaria, mas não tenho mais do que tirar fotos. Quebrar em mais parágrafos seria salutar também. Vou fazer isso agora.

19h21. Me deu vontade de publicar e mandar o post anterior para Seu Raimundo ler. Mas não é ainda o tempo certo. Esse tempo há de vir. Quem sabe resposta dele não venha antes? Faz 29 dias que mandei o texto para ele e nenhuma resposta. Minha amiga a incrível revisora disse para eu não criar expectativas, provavelmente porque já viu que o texto não tem a qualidade necessária para agradar o escritor. Teremos eu e ela que dar o que for necessário para tornar lixo em literatura. Mas há tanto lixo publicado, não acho impossível o meu ser, juro.

19h26. Às vezes me pego questionando a razão de tudo isso, a validade de tudo isso, do blog, do livro, da minha vida e do que faço dela, e nessas horas acho tudo um grande despropósito sem sentido. Noutras, igualmente raras, acho que haverá uma validade como documento histórico de uma época e dos pensamentos de um cara dessa época, mas em verdade, nem para isso serve, pois sou um completo alienado. Não, não tem nenhuma utilidade isso que eu escrevo e essa constatação me esmaga. Voltei ao meu baixo astral habitual, que se transformaria talvez em depressão não estivera eu medicado. Ainda bem que vivo esse equilíbrio químico senão acho que nem estava mais desse lado do solo. O negócio é ligar o “foda-se” e escrever o que der na telha, isso tem um papel mais fundamental que agradar os leitores, manter a minha sanidade. Tenho que pensar nisso como uma ferramenta terapêutica. Como uma forma de ocupar o meu tempo de forma produtiva. Produtiva pelo menos para mim. É o mais digno que me digno a fazer. Não sou capaz de muito mais do que isso. Não quero muito mais que isso. Essas tosses com zonzeira do Vaporfi são o bicho, se não me derem um AVC...

19h56. Estou pulando mais parágrafos que de costume por pena do leitor mais do que por necessidade. Tenho que parar de pensar nisso e me focar sei lá em quê, pois hoje estou sem ter muito o que dizer, digo porque não há nada melhor a ser feito na minha opinião. Meu amigo da piscina não me chamou hoje. Deixa para lá. Estou com vontade de pedir a minha mãe que adiante a minha carteira de amanhã hoje. E passo dois dias sem receber.

20h05. Pensei em pedir-lhe dois cigarros da carteira de amanhã, mas ela dorme. Acho que vou ter que segurar no Vaporfi. Ou não. Acho que vou acabar pedindo dois cigarros um para fumar agora e outro para quando for dormir. Ir dormir sem fumar é o ó do borogodó. Ajudei alguma causa hoje que nem me recordo o que era. A vontade que eu tenho é puxar papo com uma conhecida que tenho no Facebook, só para passar o tempo, mas não farei isso. Não estou realmente com essas vontades todas. E posso acabar cativando e não quero essa responsabilidade para mim. Se bem que é uma garota interessante, me marcou no único dia em que nos encontramos no Mercado da Boa Vista. Me recordo. Já não bebia à época. Ela está off-line, então não há essa possibilidade. Nem sei o que escrevo, passo tanto tempo entre uma frase e outra que me esqueço e fico com preguiça de reler e pegar o fio da meada novamente. É como se o que escrevi acima virasse temporariamente chinês para mim, só importa o agora. E agora eu queria desesperadamente um cigarro. Vaporfi.

20h28. Queria três cigarros adiantados de amanhã. Mamãe ainda dorme. Quando encasqueto com uma ideia que acho minimamente plausível é difícil tirar da cabeça. Qual o sentido da vida? Sempre em direção à morte, não tem erro. E nem desvio. Há atalhos. Não recomendo. Pois se tem uma coisa que aprendi é que na vida tudo passa. Um dia essa história do livro será passado. Anseio por esse dia. Eu acho. Tenho muita curiosidade em como esse episódio vá se dar. Esperanças abundam. Vamos ver quantas morrerão no meio do caminho. Uma coisa que me gera profunda dúvida e curiosidade é se quem lê a primeira vez um texto sente o que o escritor estava sentindo, se desperta sentimentos semelhantes ao que eu senti quando o dizia ou não. Quando releio, nunca me vem com a mesma intensidade o que experimentei enquanto colocava no papel, aliás vem com intensidade nenhuma. Não me empolgo ou me emociono como quando punha as coisas no papel eletrônico do Word.

20h41. Falei com a minha mãe e ela depois de dizer um monte vai me conceder dois cigarros. Como eu disse quando encasqueto com uma ideia não relaxo até conseguir. E estou encasquetado com a do livro também. Embora ela me venha sempre com sentimentos dúbios. Estou muito dividido em relação a isso. Mas ainda acredito que a maior parte de mim quer vê-lo publicado. Nem sei, mas hoje não estou num dia bom para tais julgamentos. Novamente, se Seu Raimundo me desse o ok, eu teria plena confiança. Aí nada me seguraria. Mas acho tão impossível receber essa bendita resposta dele. Vamos dar tempo ao tempo. E atentar para os sinais. Foi um bom sinal eu ter achado o e-mail dele na internet. Foi melhor ainda ele ter se disposto a ler. Aí mandei um e-mail completamente descompensado emocionalmente que pode ter melado tudo. Mas já contei essa história aqui. Tenho que dar tempo ao tempo. Mas, nossa, como o tempo demora a passar nesse processo. Não guardar expectativas, disse a minha experiente amiga revisora. Como não criar expectativa se é o evento mais importante da minha vida, o que me separa de me considerar escritor? É de suma importância para mim. É crucial para a minha autoestima e quiçá para a viabilização da minha obra. Mas o que me resta é esperar. Esperar, esperar, esperar... é difícil eu que sou tão imediatista.

20h58. Já estou com os dois cigarros e vou fumar um já-já. A melhor opção é esperar. A única opção não é, poderia mandar um e-mail com o link do post anterior. Seria imprudente para dizer o mínimo. Quando for finalmente sentar para conversar com a minha amiga revisora, será o dia em que eu ligarei o “foda-se” e mandarei o e-mail para ele. Como queria receber resposta antes. Mas nada posso esperar da vida além do que já tenho. Ou posso? Posso desejar sempre mais da vida. Só não sei se vou ser atendido nos meus pleitos. Para degustar o primeiro e penúltimo cigarro é preciso que não haja ninguém na cozinha. Nossa, pensei que se tivesse um derrame que me incapacitasse, fodesse o meu cérebro, seria um momento dos mais inapropriados para isso. Que se dê daqui a quinze anos. Que não se dê em verdade. Que pensamento aterrador. Finalmente me dou a chance de conhecer Travis. É bastante agradável e melódico. O cantor tem uma boa voz. Vou pegar Coca e tentar fumar o tão desejado cigarro. Acho que finalmente começo a esquentar na escrita, mas vou fumar mesmo assim.

21h25. Fumei e não foi a experiência que pensei que seria, foi meio desapontador, mas é a vida e ela segue. Tenho convicção que o que fumarei depois que comer será especial, como sempre é. O post de hoje não está gerando muitas visualizações, estancou em quinze. Nem todo dia é dia santo. Talvez o tenha publicado antes da hora. Travis é uma banda inofensiva como Belle & Sebastian. Gostosinha de ouvir pelo menos. Coisas me passam pela cabeça e nada fica. Esse é um post improdutivo e que não merece divulgação. Nem todo dia é dia santo, uma vez mais. Se estava esquentando, esfriei de novo. Isso não é lá muito motivador para o leitor, mas é o que temos hoje a oferecer. Perdoem. Eu não estou muito agradado de ouvir Travis. Preferia botar Cocteau Twins em modo aleatório. Ótima ideia. Coloquei. É mais familiar. Me sinto mais disposto com esse som. Eles têm a fórmula deles e não desgrudam muito dela. Já estou com vontade de fumar outro cigarro, mas agora segurarei com Vaporfi. Como posso dizer da minha vida se nada se passa nela? Não olhei muito para o Hulk hoje tão concentrado estava na revisão dos textos. Ontem produzi dois. Estou satisfeito com a existência nesse momento. Nem amando nem desamando existir na linha da normalidade que não é um lugar emocional ruim de se estar. Não sofro, não há tédio então está bom. Queria que me surgisse alguma temática interessante, mas nada me ocorre. Escrevo meio que a esmo, só para me manter ativo e afiar a ferramenta da palavra. Meu pé está dormente por que estou sentado sobre ele. Gosto da dormência. É um sentimento diferente que altera um pouco a normalidade em que agora me encontro. A normalidade é um estado meio estéril para ser sincero, eu que sou tão afeito a anormalidade. Coloquei o meu pé no chão é como se estivesse anestesiado, aos poucos me volta a sensação táctil. Será que ser como eu sou me prejudica mais do que me ajuda? É uma questão difícil. Me prejudica em vários aspectos, especialmente os relacionados com o convívio social. Nessa área sou e me torno cada vez mais deficitário. Me constranjo da minha presença na frente dos demais. Vou acabar virando um João Gilberto da vida. Não sei como estou na quarta página de Word, na minha cabeça só escrevi duas. Mas é um tema interessante esse dos prós e contras de ser quem eu sou. Vejo muito mais contras que prós. O pró seriam os livros. O que elaborei e o que elaboro. Não vejo outros. Juro que só vejo isso de positivo, por isso tudo em torno desse primeiro livro tem essa dimensão tamanha para mim. É como se fosse a minha salvação como ser humano, a validação da minha vida, a dádiva por escrever. É fundamental para mim. Como queria que o meu tio entendesse isso. Na minha vida não há mais nada nem remotamente perto de ser tão importante. Não há em verdade nada além disso. É tudo. Se não for publicado terei atestado que falhei na vida. Não consegui chegar lá, no lugar sonhado, almejado, desejado com todas as minhas forças. Serei até o final um frustrado, como sou agora. Sou um fracasso completo. O livro é minha redenção e o meu calvário. Por isso o sentimento de ambiguidade. Mas o desejo de me sentir válido, de ter chegado lá é imensuravelmente mais importante que as perdas sociais que terei. Me lembrei agora da viagem e em como não queria viajar. Mais sentimentos ruins. Eu não sou quem eu era quando da primeira viagem. Como eu mudei em tão pouco tempo me espanta. Em como me tornei antissocial. Isso é uma doença da alma que não sei como debelar. Não sei se quero debelar. Sei que quero o meu livro publicado. É tudo o que sei e que ele vai me empurrar provavelmente mais para dentro do meu ostracismo. Eu não quero ir jogar Switch na casa do meu primo urbano. Se pudesse ir e não jogar seria melhor. Mais aceitável para mim. O grande evento social, o momento ansiado é o do lançamento do livro da nossa amiga escritora esticando para o Relaxe o Bigode. E mesmo para esse guardo certa ansiedade. Eu não sei o que fazer. Nesse campo social, me bate um quase desespero às vezes. Como agora. Uma quase vontade de chorar como um bebê perdido. Eu estou perdido socialmente falando. Não sei como voltar a ser como era. Não sei ser quem eu era. E quem eu sou hoje me desagrada. Tenho que ser diferente. De como era e como sou. Não tenho que ser, não tenho essa obrigação. Mas há esse desejo. Mas não sei passar por nova metamorfose. Acho que o livro me tirará do casulo. Deposito tanto nessa história de livro. Vou ser um frustrado para o resto da vida e cada vez mais antissocial. Eis o que realmente enxergo para mim, desperdiçar todos os anos que me restam nessa existência medíocre e fracassada trancado no meu quarto escrevendo um blog merda que ninguém lê. É isso que vejo. Escrevendo o blog para poder fugir do mundo com o qual desaprendi a lidar com alegria e desenvoltura, que me parece cada vez mais desconfortável e desagradável. Se tivesse lágrimas chorava, mas nasci com poucas lágrimas, é muito difícil algo me fazer chorar. Meu futuro não me agrada. Meu futuro é a mediocridade e a frustração. Os meus dois grandes sonhos serão frustrados. Sonhos gorados, como mencionei em outro post. Estou começando a ficar com fome.

22h34. Fui tomar os remédios, minha mãe me percebeu abatido, vontade danada de fumar o último cigarro. É uma constatação chata que eu serei um frustrado, fracassado antissocial até o final dos meus dias, sentado aqui escrevendo para quase ninguém. É uma existência desperdiçada, decepcionante e o pior, a mais provável de se dar. Mas como a vida vem me repetindo através de várias bocas e até mensagens do Facebook, tudo a seu tempo. É melhor esperar o pior, a continuidade desses meus dias praticamente em vão até a minha morte, que, aí, qualquer coisa que vier é lucro. Mas desesperançado como estou hoje, não acho que lucro nenhum vai haver. Terei o livro revisado e ele ficará para sempre confinado no meu pen drive. É isso. Fim da história do livro. Não acho que meu tio vá me ajudar, mas cobrarei. Ele me insuflou de esperanças, me pediu trabalhos, que não pagou ainda segundo mamãe. Ou seja, até agora só promessas vazias. Veremos. Tudo a seu tempo. Veremos se haverá colheita para o que semeei. Nossa, como hoje o astral está baixo por essas bandas do quarto-ilha. Dá quase vontade de assistir um filme para me desligar da vida. Hoje estou achando a minha vida uma merda, esse texto está um merda e eu sou um merda. Não estou com as esperanças que alimentei tão vivamente ontem. Onde elas foram se esconder hoje, não sei. Mas o peso da realidade com se me afigura é enorme. Comprime o meu ser e o diminui ainda mais. Ser eu às vezes tem os seus percalços, apesar de cercado de todas as regalias que muita gente sonha como sendo a vida ideal, eu me vejo frustrado, descontente, infeliz. Como o meu humor mudou de ontem para agora. Nem comecei o post nesse humor, mas os assuntos que foram aflorando e o modo de enxergá-los me puseram realmente para baixo. Ter desaprendido a viver em sociedade, acho que isso não tem mais solução ou a solução que haveria não vai haver. Simplesmente hoje me parece inaceitável que passarei o resto da minha vida escrevendo para esta bosta desse blog. Isso não me parece em nenhuma medida o suficiente. Nem chega a ser razoável, é abaixo de medíocre. No entanto, não consigo parar de fazê-lo, pois é só o que eu sei e tenho ânimo de fazer. Isso é cômico se não fosse trágico. Mas, olha, pai, eu passo os meus dias a escrever como eu sempre quis. Pena que não seja tão recompensador quanto esperava. Hoje está muito longe disso. Hoje me parece muito pouco, nada. Desperdício de tempo, palavras e paciência de um dos mirrados leitores. Esse estado em que estou hoje é próximo da depressão, mas ainda não posso me considerar deprimido só porque tive um dia ruim. Estou tendo um dia ruim. Pelo menos o finalizarei com um cigarro. E talvez sorvete. Duas coisas das quais gosto muito. Amo. Amar é tão bom. Não sei mais o que dizer. Nada do que eu penso, além de matar minha fome e fumar um cigarro, me anima. O pior que após fazer isso, voltarei novamente ao quarto-ilha e para essas palavras de merda. Para essa vida de merda. Para esse estado de coisas estéril e sem perspectiva de mudança. E pensar que ontem eu estava enlevado por sonhos ridículos, sem quase nenhum senso de realidade. Sonhos de um futuro feliz. Diferente ao menos do presente que nem sei há quanto tempo se estende dessa forma. Parece uma eternidade, como parece uma eternidade que passei traçando esse post de hoje. Está sendo pesado escrever hoje, bem pesado. E não vale nada, ficará pedido na internet em meio aos milhões ou bilhões de conteúdos gerados e replicados no mundo. Aumentando essa coisa gigantesca onde só se tendo uma sacada muito genial para se destacar. Ou se prostituindo. Nada contra as prostitutas e prostitutos, mas não é a minha vibe. Se bem que a minha vibe hoje está das piores dos últimos tempos. Totalmente descreditado e inconformado com um fato que a minha vida vai ser uma cotidiana repetição do dia de hoje. Não quero nem pensar no final de semana, isso só me traz angústia. Vou comer e fumar o meu último cigarro.

23h42. Comi e fumei e conversei rapidamente com a minha mãe, disse-lhe que estava nesse ânimo porque achava que o livro não iria vingar. Fui o mais sincero e sucinto que poderia ser. Acho que vou me preparar para dormir. Abandonar essa modorrenta vida e apagar. Amanhã é um novo dia, quem sabe com café e, com certeza, cigarros. Ou assim quero crer. Só falta mamãe sair e esquecer de me dar os cigarros. Mas acho que ela não vai sair. Com a barriga satisfeita me rola a leseira mental, bem melhor que o astral anterior. Preciso aproveitar tal condição para dormir. Quem sabe não sonho um sonho bom? Mesmo que sonhe, não me lembrarei por causa da medicação.

23h54. Reiniciar a vida, sem morrer, como fazê-lo? Estou buscando a minha forma de me sentir mais vivo e válido com o projeto do livro. Mas agora saciado nem isso me desperta ânimo. Vou me deitar e deixar essa porcaria.

AMORES PASSADOS E AMOR QUE NÃO VAI VIR


19h26. Já estou aqui embaixo com o meu amigo da piscina. Ele comenta da situação, da crise, que se fala em guerra, que milhares de galinhas já morreram por falta de alimento. Ele é o meu atualizador sobre a realidade, uma parte interessante dela, as pegadinhas de João Kleber são só um exemplo. Ele está tomando Coca e vendo o celular enquanto escrevo. Quem sabe não me mostre mais um vídeo interessante hoje.

19h47. Meu amigo da piscina explora os meus amigos de Facebook agora que ele está no aplicativo.

19h58. O que você ensina ao papagaio ele nunca esquece. 70 milhões de aves morreram por falta de ração (segundo o Facebook) e o governo não está nem aí, que se foda (segundo o meu amigo da piscina). Uma pontuação interessante. Contei do meu sonho. Meu amigo da piscina pesquisou na internet. Mas não lembro o resultado, eu tive para mim que brigar com o pai e fazer as pazes significa pouco esforço para alcançar o objetivo e o objetivo que tenho mais imediato é o livro.

20h50. Fiz um breve histórico da minha vida e como o tempo com a Gatinha foi uma ilha de tranquilidade, alegria, intimidade, felicidade no caos que era a minha existência, agora para o meu amigo da piscina.

Um saco plástico dura milhares ou milhões de anos, será que haverá arqueólogos especializados em plásticos no futuro? O que iam pensar de um coroa ouvindo “Firework” de Kate Perry sozinho na piscina? Acho que me teriam por gay, não como assexuado como me afiguro. Um assexuado ouviria “Bastards” de Björk. Que é o que rola aqui agora, depois de Kate Perry. Estou digitando só com uma mão pois estou fumando o último que tenho aqui embaixo. Passei por uma experiência diferente do meu cotidiano, ir à farmácia. Tirei até uma foto.




O que me impressionou mais no passeio? As ruas vazias e principalmente a enorme burocracia digital para efetivar a compra dos remédios. Não sei se porque remédios controlados, só sei que demorou, passei mais de dez minutos no balcão até me dirigir ao caixa. A Coca estava muito refrescante. Há pouca. Mais dois copos e meio, eu acho. É o suficiente. Nossa, me coloquei como assexuado. Vou me colocar como o quê? Punheteiro? Nem a isso chego, pois não há coisa mais esporádica que a masturbação na minha vida, às vezes passa mais de semana sem que o faça. Não nego a sexualidade, mais não a busco com a voracidade dos demais e, por falta de interesse e competência, não a pratico. Depois de tanto tempo encalhado passei a quase que temer o intercurso sexual. Não acho isso saudável do ponto de vista social, mas me sinto tranquilo e favorável desta forma. Me falta muito mais a intimidade de casal, o namoro, a companhia, as conversas, se pudesse ficar nisso e esporadicamente ser necessário sexo estaria de ótimo tamanho para mim. Se bem que por mim poderia chupar a garota todos os dias se ela quisesse. O faria com prazer e, acredito, competência, além de sincero desejo. É a atividade mais erótica que acho. Minha segunda namorada, quando se viu farta de mim, me tratou como lixo, me usou como objeto sexual uma vez. E me fez de palhaço outras tantas. Quando me lembro que ficou dando em cima de outro cara na minha frente enquanto dançava bêbado Depeche Mode no Downtown... eu bebia desbragadamente nessa época, bebia para me embebedar valendo, de vomitar. Como vomitei nesse dia perto da cabine telefônica inglesa que havia lá, em cima de uma grade de bebidas vermelha, possivelmente cerveja. Ela trocou telefones com o cara e disse que era só por amizade. E eu aceitei isso. Curioso, hoje em dia acho que ficaria muito mais puto com a pessoa, foi um comportamento promíscuo, vulgar e passei por um papel constrangedor como namorado. Mas passou. Houve muitos momentos bonitos. Como termos perdido a virgindade juntos e apaixonados. Mas eu fui muito canalha com ela também. Eu mereci todos os seus atos de vingança e mereceria mais, se bem que soube depois que até gaia eu levei. É a vida. Eu ter transformado aquele ser tão inocente e puro numa pessoa capaz de fazer isso, é muita crueldade da minha parte. Ela não merecia se transformar, espero que momentaneamente, naquilo que se transformou para descontar em mim todas as frustrações que lhe causei. Se eu teria uma coisa para dizer a ela? Sim, e sempre tive, me desculpe por tudo o que lhe fiz, todo o mal que lhe causei, eu mereço ir para o inferno pelo que fiz na sua vida. Sei que você nunca vai me perdoar, mas eu precisava pelo menos pedir perdão. Era isso o que eu diria. Não digo que ela não agiu de forma incorreta comigo, mas se o fez foi motivada e corrompida pelo que fiz, ademais eu sei das minhas culpas, e essa era a forma de lidar com elas, a forma que eu sinto mais válida. Ficção. Eu digo isso para ela e acrescento, se você carregar alguma culpa saiba que eu te perdoo do fundo do meu coração. Acho que ambos precisamos disso. Ela me abraça e fala no meu ouvido “eu sempre te amei e sempre vou te amar”. Eu respondo, e eu acho que nunca te amei de verdade. Mas fui feliz com você, tivemos nossa intimidade e nossa felicidade, isso é o que vale, as dores não importam. Eu perdi minha virgindade com você, foi um momento belo, pois estávamos apaixonados e em paz um com o outro, foi a realização de um sonho para mim. Um dos maiores sonhos, perder a virgindade não com uma puta, sem sentido outro que perder a virgindade em si, mas algo muito maior, com afeto, sentimento, insegurança, desejo, curiosidade, descoberta, cuidado, paixão, felicidade, ainda éramos felizes nessa época e adorava transar contigo, foi a mulher com quem mais desejei transar e que mais prazer sexual me deu na vida. E a com quem mais transei, no meu auge físico, muito bom. A mais erótica foi a com quem te traí e não houve penetração só sarro, aprendi um monte. Foi ardente demais, ela era uma mulher ardente, pelo menos à época. Espero que continue sendo, para a felicidade de seu marido. Vocês duas casadas, com filhos, ao que me consta, e eu aqui sozinho escrevendo na piscina do prédio onde a maior parte dessa história se desenrolou. Onde a maior parte da minha vida se desenrolou e onde deixarei ainda grande parte, eu espero. Aí contam os votos de longevidade da minha mãe. Estava vaporando o Vaporfi e pensando no meu amigo da piscina. É uma das únicas pessoas que indaga de mim, que quer ouvir as minhas histórias, usa a mesma estratégia que usa com as mulheres, joga o papo e me deixa discorrer e ouve, com atenção. É ótimo. E me mostra coisas novas. Me lembrei do Manicômio, do que narrei no “Diário do Manicômio”, pois é, o trato como obra, o que eu disse ser o ápice da narrativa para o meu primo urbano. Estava me lembrando, mas confesso que não me lembro muito, lembro mais porque discorri sobre aquilo do que porque vivenciei. Mas que seja, a minha memória não é das melhores e embora seja um episódio marcante, não o marcaria como um dos ápices da minha existência, pelo contrário, talvez esteja entre os pontos mais baixos, mas essa competição é difícil, já estive muito baixo na minha vida, a verdade é essa. Por isso que está no nível médio, sem grandes felicidades, grandes emoções, mas fazendo o que gosto, às vezes nesse momento especial com o meu amigo da piscina, às vezes apreciando como um matuto-cibernético uma farmácia, seguro dentro do meu verdejante condomínio. Ouvindo Björk, tomando o restinho de Coca-Cola, o que posso eu pedir mais da existência? Eu sei. E posso. E peço. Um livro e um grande amor. Um amor tão grande que impossível. Que não há realidade que se equivalha, nem provavelmente a sonhada. Sei lá, sei que estou feliz porque as duas são mães felizes, com avós felizes, por estar aqui me lembrando delas, duas mulheres que marcaram de forma indelével a minha vida, duas mulheres excepcionais. Eu já tive muita sorte no amor. A última cartada que guardo para o sentimento, jamais darei ou foi esta, apostar no impossível e viver de impossível. Não me incomoda o impossível agora. Ele até me conforta. Pois permanecerá desejável e amável até o final da minha vida. Isso se a Singularidade não se der. Me entregarei ao que acontecer primeiro. E aposto minhas fichas na Singularidade. Hahaha. Ainda bem que mamãe me permite ficar aqui até altas horas agora. O texto está fluindo tão bem e tão profundo, estou gostando. Pelo menos não estou descrevendo as ações, embora tenha colocado o último copo de Coca e vá dar umas baforadas no Vaporfi. Antes coloquei o título no post, gostaria muito de postá-lo no Profeta, pelo menos uma parte. Acho que não ofendo ninguém com isso, só se a mim mesmo.





22h38. Tirei umas fotos das cadeiras para ilustrar o post, mas me lembrei que a foto que vai aparecer primeiro é a da farmácia, mas talvez isso cause um estranhamento positivo no leitor. Como é que uma coisa tem a ver ou vai dar na outra? Eu realmente não sei. O que sei é que sem medicamentos eu acho que já teria caído em depressão há muito tempo. Sou dependente de alguns, o de dormir pelo menos eu sou. Dalmadorm. Talvez se houvesse um desmame eu não tivesse insônia. Não sei e pouco se me dá. A pena é que acho que eles afetam a minha memória e não lembro dos sonhos, só se dormir demais, o que nunca é possível, pois durmo tarde. Mas falando de amores. Amei demais, de me sentir 100% feliz, três vezes, com a minha primeira namorada, com a Gatinha, no começo da paixão era enlouquecido por ela, achava a coisa mais linda do mundo. Me encantavam profundamente as duas. A terceira, você vai ter que ler o “Diário do Manicômio”. Hahaha. Será que em publicando um livro se torna mais fácil publicar o segundo? Tenho um projeto que talvez dê um livro. Se eu me tornasse bem vendido, pode ser que se concretizasse, mas não acho que serei bem vendido. Não acho nem que conseguirei ser publicado. Meu sonho último com esse livro? Ser publicado, com prefácio ou orelha de Raimundo Carrero, ser vendido com destaque na Cultura na área de lançamentos, com as cintas provocantes em volta do livro ou dos livros. Ou dos primeiros deles. Quem sabe uma resenha na Veja ou qualquer lugar mais nobre. E que vendesse bem, a ponto de desejarem um segundo. Aí, este poderia ser o meu projeto. Seria um desfecho interessante para a minha história literária. Não sei se alcançaria o sucesso do anterior, mas seria curiosíssimo vê-lo concretizado. Com as ilustrações que imagino para a frente e o verso. Seria uma coisa muito peculiar de se acontecer. Minha vida seria coroada como uma das mais abençoadas da existência. Mas tudo isso é ficção, estou viajando muito longe. Nada disso vai acontecer. Valeria todas as penas se acontecesse. Só não valeria perder a curatela, só se o livro vendesse tão bem que eu pudesse fazer o meu pé de meia. O que não ocorrerá. Novamente sonhando. Não me custa nada e nesse momento nem incomoda. Estou na piscina do meu prédio ouvindo Björk enquanto crianças sentem medo numa zona de guerra. E eu querendo mais que isso, para quê? Para me sentir válido como pessoa? Não é muito pouco diante de tudo o que possuo? É tão ou mais importante do que tudo o que possuo, tanto que estou disposto a abrir mão de uma parte importantíssima de tudo isso para realizar o meu sonho. Talvez a parte mais preciosa. O respeito das pessoas, a aceitação das pessoas, inclusive das mais queridas. Só me sobrará a Gatinha, talvez os meus amigos mais chegados. Seria como uma bomba para a minha família. Principalmente materna. Nossa, mesmo assim eu queria muito me sentir realizado comigo mesmo, válido como pessoa, a despeito do que todos os que lerem o livro ou ouvirem falar pensem de mim. Eu sei o que sou. Eu saberei que sou válido. Que não fracassei como ser humano. Por mais que disso decorra um fracasso social sem tamanho. Eu comigo mesmo me sentirei satisfeito. Nossa, como espero que a revisão ajude a dar uma cara mais de livro ao que foi relatado. Mas se estiver meia-boca e vender, não tem problema. Hahaha. Isso se for publicado. Mas como posso pedir tanto enquanto há pessoas trocando tiros, gente sendo torturada, gente fazendo o que não quer fazer, gente se humilhando, gente passando fome, gente sentido dor, dor aguda, do corpo ou da alma. E eu aqui na maior tranquilidade do mundo. Sem Coca, é verdade, mas com verde, ao ar livre. Num recanto de paz cravado no meio do cimento da cidade. Eu sou muito abençoado como disse à fantástica faxineira e ela concordou. Eu sou comprovadamente abençoado. A própria existência se manifestou dizendo isso para mim hoje. Eu o percebo, todas as benesses. E mesmo assim acho a vida incompleta sem deixar realização alguma. Por isso preciso desesperadamente que o livro seja publicado. Para dizer a mim mesmo que fiz a minha parte, eu contribuí com o que tinha de mais sincero para o mundo. Eu não queria fazer lançamento, comigo assinando livros, mas encararia essa empreitada.

23h25. Mamãe fica me mandando mensagens, isso me desconcentra completamente. Mas é uma boa mudança. Daqui a pouco o computador vai alertar que está com a baixa bateria. Este post eu tenho que colocar no Profeta. Estou achando diferenciado. Estou tratando as coisas de peito mais aberto, eu diria. Me entretém bastante. Não sei se ao leitor. Creio que coloquei um título chamativo, falar de amor sempre atrai a atenção. Eu creio. Principalmente a feminina. Novamente, eu creio. Não sei nada das estatísticas do amor, sei senti-lo apenas. De uma forma totalmente minha, mas o sinto. Por ser tão minha vai causar estranhamento nos demais. Pelo menos essa é a minha expectativa. E ela é de uma recepção negativa. Mas, repito, prefiro me sentir válido como pessoa. Queria muito me sentir válido como escritor. Mas isso dependeria de Seu Raimundo ou de ser aceito por alguma editora. Já repeti isso demais aqui. Cansei. Acho que vou mandar o link desse post para Seu Raimundo. Mostrar a ele o que escrevo cotidianamente. Sem falsa modéstia, estou achando esse post interessante. E dá uma dimensão da importância do livro. Da forma mais clara possível. Tenho tempo para pensar. Se mando ou não. Sobre o que mais poderia dizer? O vigia da noite passou agora por trás de mim. Poderia se fosse um pouco mais ousado pedir para tirar um selfie com ele. Mas nesse caso minha ousadia não vai tão longe. Ou vai? Não sei se ele gostaria de ter a foto divulgada na internet. Não sei, talvez não se incomodasse. Não descobrirei. Não me sinto inclinado a isso.

23h41. Fui e ele concordou. Algo tão impossível para mim realizado! Tanto é que começou a chover. Hahaha. Estou feliz comigo mesmo por ter tirado essa foto. Eu não, ele, pois minha unha não permitia que eu fotografasse, não consegui. Ele deixou eu colocar no meu blog! Liberado, então. Acho que ele se sentiu prestigiado, é um dos funcionários mais antigos do condomínio. Nós temos uma história mesmo que distantes, cada um em seu papel, mas, ao mesmo tempo, muito próxima e, principalmente, uma relação muito duradoura. Conheço ele há mais tempo que a maioria das pessoas do meu círculo social. Nunca tinha parado para me dar conta disso. Sem dúvida um post interessante. Ainda chuvisca. Já daria para eu ir para casa, mas esperarei um pouco mais. Tenho medo que a inspiração desapareça se interromper o fluxo. O mais curioso dessa nossa relação é que eu nem mesmo sei o seu nome. Isso é quase um desacato com uma pessoa que faz parte da minha vida há tanto tempo. Preciso perguntar à minha mãe, acho que seja Edimilson, mas não sei de onde esse nome me veio. Acho que não é. Mas para mim é algo que começa com “e” e termina como “on”. Vou tentar ver com mamãe. A bateria vai chiar dentro em breve. Ou com o meu amigo da piscina.





23h52. Estou dando umas baforadas no Vaporfi ouvindo “Hyperballad”. Computador chiou. Vou subir.

0h31. Estou aqui em cima de volta ao quarto-ilha. Acho que o nome dele é Nivaldo! Tenho quase certeza. Mas não confio muito nas minhas certezas. Principalmente quando dizem respeito a nomes. Escrevi um parágrafo no meu outro projeto, o do segundo livro que não vai haver. Já coloquei e tomei os remédios, falta só o de dormir que vou segurar um pouco, pois quero aproveitar esse agora. Eu estou completamente satisfeito com a vida nesse momento. Isso é tão raro em mim. Fico desconfiando se não estou tendo um leve surto de mania. Mas a pessoa estar bem consigo uma vez na vida não significa toda vez isso. Acho tolice perder meu tempo pensando isso. O melhor é aproveitar que estou assim e me dizer assim. Há um problema, só tenho cinco cigarros para amanhã e meu amigo vai muito provavelmente pedir um. Será ozzy. Não sei o que faça, é me virar com o que tenho e fumar Vaporfi. Estou em dúvida sobre mandar esse texto ou não para o escritor. Algo em mim agora diz que não, que não devo importunar ele. Algo me diz que sim, que agora tanto faz, visto que ele não vai ler o livro mesmo. Não vou redundar sobre esse assunto e ficar cheio de “ e se”. Amanhã decido depois que revisar o outro texto e postar. É, esse já é o segundo que produzo hoje, o anterior não está de todo ruim, mas estou achando esse mais legal. Nossa tomei um copo de Coca gelada num gole só agora, que delícia, que alívio. Estava com a goela seca.

0h44. Peguei o Vaporfi e me enviei a foto da farmácia que havia esquecido.

0h45. O que posso mais dizer? Que tenho vontade de tomar banho com o chuveiro a 42 graus? Que preciso tomar o Dalmadorm e que o farei assim que acabar esse parágrafo? Que ainda não comi hoje? Minto. Comi duas almôndegas do almoço e mais comerei quando a fome dos remédios se der. Tudo isso são futilidades. E acho que me fazem passar meio que por doente mental. Eu tenho uma doença. Transtorno bipolar. Os remédios a controlam. Ou assim quero crer. Gostaria que a minha vida fosse sempre com o astral de hoje, mas hoje é um dia sui generis. Por isso a suspeita de mania. Mas todos merecem dias felizes. Principalmente aqueles que raramente os têm. Mas não sou uma dessas pessoas, minha existência é agradável. Penso em um ser humano que nada comeu hoje e nada terá para comer e que não sabe se comerá amanhã. Isso é a condição de mais gente do que é justo no mundo. Não deveria haver ninguém em tal situação. A humanidade tem suas bizarrias mesmo. Isso me machuca. Ter tanto por mera obra do acaso-destino, sem merecimento, sem necessidade. Eu não passo por necessidades. As necessidades que eu passo são fúteis. E tenho como supri-las todas. A necessidade mais imperiosa sem dúvida é a de cigarros. Mas até para isso eu tenho paliativo, o Vaporfi. Foi muito bom o encontro com o meu amigo da piscina hoje, é muito raro ter alguém para me escutar. Aos poucos ele vai conhecendo a minha história e o que me tornei. Ele me perguntou se eu já tomei remédios para me lombrar. Eu contei-lhe do dia que me deram por engano um Neosine de 100 mg, remédio que nunca havia tomado na vida e que passei três dias de cama, tive ataques de sonambulismo, não conseguia andar em linha reta, não conseguia levar o copo de leite até a boca de tão tonto que estava, ele perguntou se foi legal. Eu disse que foi horrível. Não queria passar pela experiência de novo. Não foi a pior das experiências que já passei, mas certamente não foi uma lombra legal. Não sei nem porque conto isso aqui, parece que quero me gabar de algo que não tem valor intrínseco nenhum, se muito faz é me desmerecer. Parece que voltando ao quarto-ilha o eu crítico começa novamente a emergir. O mundo cor de rosa onde teria dois livros publicados parece cada vez mais distante. Não importa, se sonhei, sonhei. E sonho e continuarei sonhando, enquanto esperança houver. Morta essa, mata-se o sonho. Serão perdas dolorosas as dos meus dois maiores sonhos. Mas não morrerei por conta disso. O menino que tem os pais fuzilados na sua frente não morre, por que eu haverei de morrer? Ou pior, o pai que tem os filhos assassinados. Isso sim é frustração e dor de verdade. Eu falo de um prazer meramente do espírito que não se realizará. Não me realizarei como pessoa e pode-se sobreviver com isso. É uma existência mais sofrida e medíocre, mas suportável. Que curioso, acabo de receber uma mensagem que diz, “De uma coisa podemos ter certeza: de nada adianta querer apressar as coisas. Tudo vem a seu tempo, dentro do prazo que lhe foi previsto. Mas a natureza humana não é muito paciente...” o texto é grande e espírita, agora que cliquei no link li ele todo. E me deixou na dúvida quando tratou de sinais. Como saberei interpretá-los? Será que isso é um sinal para não repartir este texto com Raimundo Carrero? Ou é um sinal de que devo reparti-lo? Não sei interpretar sinais. Ele termina com, “Lembre-se que o universo sempre conspira a seu favor, quando você possui um objetivo claro e disponibilidade para o crescimento. Joanna de Ângelis”. O que intuo é que ainda não seja o momento, como respondi à pessoa que me mandou a mensagem. Quando receber o texto revisado, eu envio. Com um link para esse post específico, pois acho que dá uma dimensão bem clara da importância da apreciação da obra pelo velho escritor. Simplesmente quero me sentir um ser humano válido pelos padrões do meu pai. E ele só me julgaria escritor, eu só me julgaria escritor, se alguém que julgasse meritório considerasse o que escrevi com qualidade para ser publicado. Não sei o que a incrível revisora vai dizer, mas a sensação que tive é que ela vai dizer que tem boas e más notícias. Mas não vou entrar numa expectativa infundada a respeito disso. Nossa, como queria que ainda houvesse bolo, é a fome batendo. Não vai haver, tenho quase certeza. Vou ver e tomar o Dalmadorm.

1h25. Havia uma diminuta fatia de bolo que me foi mais do que o suficiente, tomei o Dalmadorm. Vou fumar o meu último cigarro da noite e botar o boiler para 42 graus para tomar um logo banho quente enquanto os recursos hídricos da Terra ainda o permitem.

1h35. Fumei o cigarro e botei mais um copo de Coca para mim, o banho pode esperar um pouco. Estão falando em racionamento do gás do prédio devido à greve dos caminhoneiros. E minha mãe disse que cortarão o gás à noite. É preciso aproveitar. Há pessoas com visão de mundo tão diferente da minha. Isso é fascinante e, às vezes, chocante. Mas geralmente fascinante. A pluralidade da humanidade talvez seja sua característica mais marcante. A pluralidade da Natureza. Nenhum ser é completamente igual ao outro, inclusive os de mesma espécie, mas o homem por ser o bicho mais complexo do ecossistema e ter um cérebro mais evoluído é plural de forma mais integral. Ou não. Fico na dúvida. Acho que, pensando melhor, não, pois cada aranha escolhe onde vai tecer a sua teia, por exemplo. Nossa, isso parece até ditado japonês! Hahaha. Estou me divertindo muito desenvolvendo esse post, por isso ele seja tão original perante os outros. Ademais conto coisas mais interessantes que de costume e outras as coloco da forma mais clara de que sou capaz. Ou do que me é devido no momento. O Dalmadorm acho que já começa a surtir os seus efeitos, pode ser psicológico, mas me sinto mais esvaziado e sonolento. Acho que vou botar um som para ouvir. Coloquei os remix de Björk para “Dull Flame of Desire”, confesso que não está me agradando tanto quanto a original. É uma desconstrução completa da música. Agora entrou um pouco da melodia. Aposto que já-já pira de novo. Não disse? A bateria já carregou. A desconectei. Aumentar a vida útil dela me interessa muito. Principalmente para essas minhas peregrinações à piscina. Quando a Coca acabar, vou tomar o banho. Sétima página já, tenho que terminar nela, como é o meu padrão atual. E preciso dormir. E me alimentar. Um pedacinho de bolo não foi suficiente. Vou primeiro jantar, depois tomo o banho.

terça-feira, 29 de maio de 2018

VIDA DIFÍCIL?


16h06. A fisioterapeuta chegou. Essa foi a última informação que a existência me pronunciou antes de voltar para o quarto-ilha e para U2. Um dia uma fisioterapeuta chegará para me atender e não a mamãe. Não sei por que me lembrei de Jerry Lewis e sobre passar a vida se prestando a passar por papel de bobo para os outros rirem da sua cara. Se tornar um ícone disso. É uma escolha de vida interessante, tão pertinente quanto qualquer outra. Eu não sei se faria bem à minha autoestima. E aposto que muitos deviam pedir para ele fazer piadas na sua vida privada, deve ter sido um saco. Não sei se ainda é vivo, mas vi muitos filmes de Jerry Lewis quando era criança, só não me lembro de nenhum. Estou com café e sem muita inspiração. Tive uma noite agradabilíssima ontem escrevendo na piscina, foi especial. Estava no humor certo, no local certo, com os apetrechos certos. Estou com calor, dentro em breve vou ligar o ar. E vou fumar mais um cigarro. Tenho que maneirar nos cigarros. Se bem que como recebi cedo hoje, receberei cedo na quarta, posso esbanjar um pouco. O que me vem ao pensamento agora? O que a luz azul que fica piscando no meu celular quer me comunicar. Vou ver. Irrelevante, como era de se supor. Azul significando Facebook raramente é algo que me desperte. Só quando conta que alguém curtiu o meu post. Mas não sei se alertam essas mensagens, não me recordo, é um detalhe tão insignificante da existência que não memorizei os seus padrões de comportamento. São irrelevantes para mim, só que não gosto de coisas piscando, alarmando de alguma forma, me dá um senso de pressão e urgência que não combinam com a minha vida. Com como gosto de levá-la. Pelo menos as palavras estão me vindo e acho que o grande responsável é o café. O café realmente me deixa com outro humor e faz o meu cérebro trabalhar melhor. Nossa, adivinha quem já se insinuou na minha cabeça? Raimundo Carrero. Tenho que largar o osso que ele nunca vai me responder. Foi tudo uma ilusão que botei por terra com o meu e-mail da crise de ansiedade. Ali sepultei a possibilidade de ele ler o livro. Mas mandarei um e-mail quando a incrível revisora acabar a primeira revisão. Já disse e redisse isso aqui várias vezes. Não vou ficar me repetindo. O pessoal está especialmente ativo no WhatsApp hoje. Vou fumar o meu cigarro. Ontem senti profunda alegria na piscina. Um contentamento e satisfação maiores com a vida. Preciso agradecer o meu amigo da piscina. Agradeci pelo WhatsApp e vou fumar agora. Com café. Deixarei “Landlady” tocando para ninguém.

16h41. Tive um papo produtivo com a fantástica faxineira. Perguntei-lhe se ela imaginava quando pequena que a vida iria ser tão difícil, ela afirmou peremptoriamente que não, que às vezes se pega indagando a Deus por que tudo há de ser tão sofrido. Eu me confessei um abençoado. Por não trabalhar, escrever o que eu quero e ainda morar onde moro. E ainda por cima pagar uma fortuna por uma figura do Hulk. Voltei lá e ainda disse que eu era uma pessoa pior que ela e redargui porque, em sendo uma pessoa pior aos olhos de Deus, eu merecia ter mais do que ela? Ela então retrucou como eu sabia que era uma pessoa pior do que ela, eu disse que porque eu tinha o coração impuro. Ela entendeu puro. Aí meu amigo da piscina interfonou atrás de cigarro para fumar e eu não lhe pude negar. Negar cigarro é uma coisa que só em última instância faço. Prometi descer hoje para a piscina. Mas só se o elevador estiver funcionando. Não me arrisco a subir e descer 11 andares de escada. Espero que daqui para lá esteja consertado. A luz já fica pouca, o dia some do placo da vida em Recife. E desperta em outro lugar.

17h07. Nossa, o meu post está tendo uma visualização incrível hoje, já está com 24 hits. Como sei que o a elevador está quebrado? Por causa da fisioterapeuta mencionada no começo do post. Vou lá testar se já está de fato funcionando.

17h14. Aparentemente está. É possível ter papos profundos com as pessoas mais simples. Basta se fazer as perguntas certas. Essa é uma pergunta que pode ser feita a qualquer pessoa, quando você era menor, pensava que a vida seria tão difícil? Só não se aplica a mim que sou o cara de vida mais fácil que eu conheço. Ninguém que eu conheça faz menos esforço para existir. Eu só me esforço para me dizer aqui, mais nada, ou quase nada. Afora a solidão, tudo o mais na minha vida é fácil. Tão fácil que eu posso me livrar do calor que faz aqui apertando apenas um botão. E ainda posso pedir à fantástica faxineira, como se não soubesse que ela tem dezenas de afazeres, que limpe o filtro do ar, coisa que mamãe já tinha reivindicado, por isso não me senti tão mal a explorando dessa maneira. Acho que o fato de ter tirado os filtros fez o ar gelar melhor. Puxa, hoje o pessoal está comunicativo no WhatsApp.

17h28. Acho que 19h00 desço para encontrar com o meu amigo da piscina. É um bom horário. Pode ser que a fantástica faxineira já tenha tirado o gelo, outro de seus afazeres cotidianos para comigo, café e gelo, fora dar o grau no meu quarto e no banheiro. E cozinha e passar. Realmente é um monte de coisas que ela faz, por isso e por ser quem é, é que é a fantástica faxineira. Não apenas uma excelente profissional, mas um excelente ser humano. Me deu uma leve oscilação no ânimo agora, estranho e para baixo. Vai ver que é a culpa por fazer outro ser humano me servir. Poderia argumentar que o seu trabalho, seu papel social é esse, mas me sinto tão mesquinho e prepotente no momento que nenhuma justificativa me serve. E ela serve a mamãe, não a mim, a mim ela serve por cortesia, não pelo dinheiro que recebe. Ou, na cabeça dela, está incluso, sei lá. Sei que não peço muito, mas o pouco que peço já acho demais e mesmo assim, não quero abrir mão de tais regalias, o que, em tendo consciência de tudo isso me põe ainda mais mesquinho e egoísta e explorador. Me torno mais uma razão para ela se queixar a Deus da vida dura que leva. Enquanto isso, nos EUA meu irmão faz um sistema de coleta de chuva para tornar ainda mais limpa e sustentável a sua alma. Acho que teria extrema dificuldade, acho que lhe seria impossível até, carregar uma alma como a minha. Cheia de defeitos de caráter, brasileira, subdesenvolvida, corrupta em níveis quase alarmantes, nada limpa e pouco sustentável. A carrego porque é a que tenho. E não tenho a mínima disposição de diminuir a carga, o esforço para me fazer uma pessoa melhor é demais para que tente. E por mais que tente não chegarei ao patamar do meu irmão e nem quero. Dá trabalho demais, preocupação demais, sacrifício demais. Sacrifício do tempo livre da liberdade individual, mas se o preenche o que ele faz, se empresta sentido e direção à vida, que seja. O que dá direção a minha é escrever com a cuca cheia de café. É tão pouco perto de tanques para captação de água da chuva e hortas para utilização de tal água. Ainda mais em um lugar onde tudo se perde com o rigoroso inverno. É demais para mim, nunca faria isso para tornar o meu mundo interior melhor, fazendo um mundo exterior melhor. O que fiz ao invés disso, investi uma dinheirama num busto em tamanho real do Hulk. Algo que só agrada especificamente a mim, mas agrada a mim a quantidade que agradaria a uma família. Meu Hulk é uma das alegrias da minha vida, por mais que dar uma variada no cenário, ir para a piscina seja uma boa pedida para mudar de ares, o que, como dito, pretendo fazer logo mais. O mais incrível do meu irmão é que hoje é feriado e a forma que ele usou para aproveitar o dia foi construir os canteiros da horta pluvial dele. Meu irmão é superincrível, uma pessoa iluminada, merece tudo de bom que a vida pode oferecer. Ele retribui tudo de bom que recebe. Eu apenas transformo em palavras. Não é muito o que faço, mas é o que acho que me cabe. Me mantendo são e não atentando contra a minha própria vida acho que está de bom tamanho. Eu que já conheci o fundo do poço como espero que meu irmão nunca chegue a conhecer. Ou ninguém for that matter. Afinal o inferno que passei não o desejo a ninguém. Suportei, quase desisti, mas suportei e como prêmio, alcancei a vida que sempre sonhei. Não sabia que como brinde viria a mais completa solidão afetiva, mas é um peso menor que vale o bojo das minhas regalias. Não amar nunca mais. Amor recíproco, digo. Amor de amantes. É a vida. A vida que construí para mim. Ainda dá tempo de desfazer. Ou fazer de uma forma que isso caiba novamente para mim. Mas é um caminho que não ouso trilhar, deixo nas mãos do destino-acaso facilitar as coisas para mim. Não gosto de falar nesse tópico, é um assunto que varro para debaixo do tapete, pois não me agrada encará-lo. Por mais que o faça com uma frequência espantosa. Pelo menos deixei de falar no livro. Trago-o agora, mas nada tenho a acrescentar. É outro assunto que hoje varro para baixo do tapete. Vou pegar mais café.

18h11. Impressionante, com café as palavras não me faltam, o tédio não me alcança e parece que se pela só com o cheiro do negro líquido. Estou com vontade de descer. Mas vou esperar a fantástica faxineira tirar o gelo para poder ir. Mamãe disse para ela que está bom por hoje. Eu fui lá comunicar isso a ela, pois mamãe achou que a minha movimentação na cozinha fosse a fantástica faxineira. A fisioterapeuta já foi embora há cerca de uma hora. Mamãe e meu padrasto assistem televisão e mexem no celular na sala. Ainda bem que não tenho essa dependência de celular, mas sou completamente dependente do Word. Posso estar sendo tomado pela soberba aqui, mas acho escrever aqui mais digno do que escrever e ver o WhatsApp. Isso daqui tem um sentido de uma obra que construo diariamente. Que não sei quem vai ler, mas que vai se construindo mesmo que para ninguém. Já conta com mais de 500 posts, é uma história. Imensa. É a minha vida. Nem mais, nem menos. Mas é muita coisa, eu acho. Ninguém que eu conheça passa a vida a escrever sobre ela. É um comportamento peculiar para dizer o mínimo. E só possível por causa da tecnologia de hoje, senão seriam o que? Milhares e milhares de folhas de papel. E tantas mais serão enquanto me sentir tão motivado e disposto a preenchê-las. Com café eu vou longe. Em breve terei que parar de tomar. Em breve provavelmente vá descer. Levarei o computador, é claro. Escrever lá embaixo é astral. Estou sentindo leve ansiedade de encontrar o meu amigo da piscina. Isso não deveria ser assim. Essas ansiedades me maltratam à toa. E elas agora são comuns a quaisquer encontros com o social que venha a ter. Só me sinto realmente eu e relaxado na solidão. Não tenho ninguém com quem tenha intimidade suficiente para me sentir completamente confortável. Não mais. Passei tempo demais só comigo mesmo e desenvolvi uma intimidade tão irrestrita comigo que não sei como emular nas demais relações. Isso é problemático e me gera essas ansiedades. Hoje vou tirar uma foto da piscina para ilustrar esse post. Espero que a fantástica faxineira se vá antes das 19h00. Pois além de ser cruel ela passar tanto tempo assim trabalhando é, principalmente, a hora em que pretendo descer. Eu sou mesquinho e egoísta, como já disse. E dei provas. Se essas não foram suficientes, não sei mais que prova dar. É fato que não desrespeito a fantástica faxineira, a tenho na mais alta estima, mas peço-lhe favores que ela segue como ordens dadas por alguém que, naquele momento, tem autoridade sobre ela. Acho que vou pegar mais café. Última xícara do dia. E ver se há gelo para eu descer. 18h35.

18h37. A fantástica faxineira ainda passa roupas e nada de gelo. Peguei café e mamãe nem olhou para sim, senão certamente me repreenderia. Daqui a pouco vou me arrumar para descer. Vou pedir à fantástica faxineira que tire o gelo. Novamente mesquinhez e egoísmo.

18h50. Disse à fantástica faxineira para parar de passar roupa e descobri que o marido vai passar aqui para pegá-la. “Landlady” passa, tudo está correndo da melhor forma possível. Pedi para ela me avisar quando tirasse o gelo. O que ela falou que iria fazer sem que eu sequer pedisse. Mas pedi uma coisa a mais, que me avisasse quanto tivesse posto o gelo.

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16h38. A escrita na piscina deu origem a um novo post. Por isso encerro esse sem acrescentar o que lá foi escrito. De qualquer forma vai a prometida foto da piscina, por assim dizer.