sábado, 12 de maio de 2018

A ETERNA FUGA DO TÉDIO


Minha mãe me acordou dizendo que meu tio, aquele tio para quem mandei o livro, havia ligado e que me ligaria daqui a uma hora. Ela parecia bastante animada com a notícia, como se ele trouxesse boas novas. Não estou com coragem de falar com ele. Preferia que não ligasse. Mas sabe-se lá. Se ligar vou atender, claro.

11h45. Estava peruando pela internet. Que coisa mais curiosa esse contato do meu tio. O que será que queria? Que quer? Bom, esse é um contato que não fico ansioso em receber, como o estou em relação a Seu Raimundo. Ainda bem que agora que acabo de acordar não guardo grandes ansiedades comigo. Acho um saco ansiedade ontem fiz verdadeira ode à ansiedade manifesta na incerteza de receber resposta de Seu Raimundo, ansiedade que deveras sentia. Hoje estou mais tranquilo, talvez por ter investido tanta energia nisso ontem. Tomara que não me acometa de novo. Deveria levar esse assunto de livro com mais leveza. Vou tentar relaxar e deixar a vida me levar. Tomara que consiga esse intento hoje. Meu juízo não aguenta tanta ansiedade seguida. Hoje é sexta-feira, talvez haja saída com meu primo-irmão, melhor seria se não tivesse. Não estou com vontade de sair da minha toca, meu quarto-ilha. Hoje não queria nada que perturbasse o meu humor. Certamente não queria que meu tio me ligasse pedindo mais layouts. Isso estaria entre as últimas coisas que queria. Descobri que o aplicativo de celular Prisma agora é pago, que droga, queria ver como o Hulk ficava com os seus fantásticos efeitos, mas não vou pagar para isso. Nem acho que muitas pessoas pagariam pelo serviço que oferecem, mas cada cabeça é um mundo. Meu Hulk é muito invocado, não canso de babar. Com a luz do dia é que fica invocado mesmo. “Landlady” toca pela primeira vez hoje. Se nada mudar dentro de mim ela ainda vai tocar várias vezes. Ela mais que à liberdade, tem estado muito vinculada à expectativa de resposta do grande escritor. Graças que uma boa noite de sono reduziu a minha ansiedade. Que continue assim. Ontem elaborei um texto de doze páginas só tratando e enfrentando a minha ansiedade da pior forma possível. Foi muito exaustivo emocionalmente. Não gostei do dia de ontem. Há dias piores, mas também há dias muito melhores, como esse se afigura até o momento. Não tenho vontade de fazer nada que não escrever aqui, talvez porque Tico e Teco ainda estejam se entendendo. Fato é que estou tranquilo e isso é o que importa. A editora do concurso para onde mandei o meu texto ainda não me deu resposta e pouco se me dá pois não há a mínima possibilidade de eu ganhar pelos critérios avaliados. Tenho que tomar um banho hoje. Mas estou com preguiça de tudo no momento. Preguicinha boa, vontade apenas de me dizer aqui. Quantos podem usufruir de um momento de preguiça em plena sexta-feira, às 12h20, tendo 41 anos de idade? E isso sem pressões externas? Sem prazo, sem estar desempregado, sem estresse nenhum? Eu sou um abençoado e mais abençoado sou por ter as minhas palavras. No texto de ontem, que não publiquei aqui, entrei no embate até com o significado que estas palavras têm para mim. Foi uma coisa pesada comigo mesmo, estava num astral muito ruim. Que bom que passou mais. Mas continuo condicionando o meu livro à anuência de alguma autoridade que eu veja como portadora da qualidade de julgar a obra meritória ou não. Em caso negativo, não a publicarei, pois não vou enfrentar toda a dor de cabeça que a publicação vai me causar por egolatria, egocentrismo, narcisismo. É muito pouco. É uma razão fútil essa de agradar o meu próprio ego. Novamente penso em vovô que publicou vários livros com esse intuito e não é o que projeto para mim. Ele estava pouco se importando para a qualidade literária ou para qualquer coisa. Achava que tinha uma boa história para contar – ou histórias – e mandava ver. Acho admirável tal autoconfiança, mas não disponho dela. Preciso de mais. Da tal aprovação de alguma autoridade ou entidade que eu respeite. Mas não vou remoer esse assunto, não quero ansiedade hoje. Já me basta o que passei ontem e anteontem e antes até. O problema é que me falta conteúdo, vivências novas. Hoje eu poderia me focar em como tenho a vida que pedi a Deus. Primeiro, eu não trabalho, ou melhor, trabalho no que me dá prazer e nenhuma renda que é escrever. Escrever para mim não para os outros. Os outros são consequência e até por isso sou lido por muito poucos, mas já me acostumei com esse fato. Afora isso, a despensa está cheia de Cocas, vou receber minha carteira de cigarros hoje, estou ouvindo o som que eu quero ouvir, no quarto que tanto amo, tendo o Hulk como meu grande companheiro. Afora o Homem-Aranha Simbionte, a Rei Ayanami, o Coisa e, mais acima, o Demolidor. Moro num bairro agradável que já foi mais agradável antes da descontrolada e irresponsável verticalização da área. O progresso às vezes se dá de forma mesquinha e desenfreada.

13h03. Minha mãe me adiantou o que meu tio quer de mim, mais trabalhos de layout. Disse que perguntou do livro a ele e que ele disse que eu “tenho jeito” e que há partes, não me lembro a palavra, mas algo entre tristes e pesadas. Mencionou da festa do meu avô o que é bem no começo do livro, o que para mim indica que não leu a obra completa. Acho essa uma parte chata do livro, quando ainda alimento a falsa expectativa de ter alta o mais rápido possível. Isso é na primeira semana de internação. Não acredito que vou ficar fazendo layouts para o meu tio. É tudo o que não queria. Terei que saber dar uma parada nisso quando eu sentir que está me fazendo mal. Um trabalho de layout que me foi recompensador? A marca do Carnaval de Olinda que foi utilizada dois anos seguidos. Deu um baita trabalho, mas me senti recompensado ao imaginar os milhares de pessoas que a viram. É uma pena que não tenha conseguido achar uma fonte adequada para ela. Mas é isso. Gostei de um ou outro layout de lançamento de prédio que fiz, é o tipo de anúncio que é um quebra-cabeças, há várias peças para encaixar de maneira informativa e harmônica, de preferência chamativa e agradável aos olhos. Afora isso, não consigo me lembrar de outros layouts que fiz que me marcaram. Não gosto de fazer layouts, não sou diretor de arte. “Landlady” passa uma vez mais. Para mim, meu tio não vai fazer nada para que meu livro seja publicado, se fosse para publicar por esse meio, se ele intercedesse junto à Cepe, onde já trabalhou em elevado cargo, não me importaria com a aceitação de ninguém, pois teria o meu livro nas livrarias. De todo modo, ainda falta acabar a revisão. Quando acabar, volto a mandar o livro para ele. De nada vai adiantar já sei. Mas quem não arrisca não petisca. Usei essa expressão para o concurso, outra via que acho tão infrutífera quanto esta. Acredito mais que a opinião de Raimundo Carrero venha que meu tio venha me ajudar a publicar a obra. A vida pode me mostrar equivocado também. Mas dizer que eu “tenho jeito” para a escrita é muito pouco é quase dizer que eu sou medíocre. Mas não vou entrar de novo sobre esse mérito da minha mediocridade senão entro na minha bad trip de ontem. Hoje quero um dia mais astral para mim. Eu mereço. É sexta-feira, ontem passei 13 horas escrevendo quase ininterruptamente. Foi exaustivo, por mais que o faça com prazer, mas mergulhei fundo e não gostei nada do que vi. Hoje quero mais leveza, mais frescor. Meu tio ainda não ligou. Ainda bem. Espero que não o faça. Talvez não o faça, visto que é sexta-feira. Deixará para me ligar na segunda. E já me pedir um novo layout. Espero que não vão subindo de complexidade, agora um panfleto, depois um folder – odeio folders – então uma campanha e por aí vai. Bom que o destino/acaso mostre a suas cartas. Confesso que tais cartas não as queria ver hoje. A únicas coisas que gostaria que o destino/acaso me trouxesse são uma comunicação do escritor ou da incrível revisora. Teimo em escrever incrível colocando um acento agudo em cada “i”, ainda bem que o corretor ortográfico elimina o primeiro automaticamente. Não tenho muito o que dizer. Vi uma postagem da incrível revisora e penso no cuidado que teve para elaborar o texto. Perfeccionista do jeito que é. E extremamente racional pelo que aferi do texto. Não á à toa que tenha se dado tão bem com o meu primo urbano. Acho que formam um casal harmônico e feliz. São companheiros da forma um tanto distante, mas não muito. Na medida ideal para os dois. É uma coisa a qual estou completamente desacostumado, sair com os amigos da namorada. E é uma coisa, caso tenha uma namorada que inevitavelmente irá se dar. Mas no meu horizonte ninguém se afigura para preencher esse papel que falta em minha vida. Mas não falta muito não, enamorado que estou das palavras. E da solidão. Será que a solidão será quebrada por algum evento noturno? Talvez no sábado? Meu primo acho que tem interesse em comparecer ao forró da Casa Astral. Vou ver se é isso mesmo.

13h55. Não era, era para o show de Cordel do Fogo Encantado. Não sei se tenho disposição para tanto. Não gosto do som da banda – pode me chamar de herege – e acho que vai ser uma aglomeração sem tamanho. Se bem que seria um bom lugar para encontrar uma garota, quiçá a Garota da Noite. Mas essa vai me evitar com absoluta certeza. Nem as minhas mensagens do Facebook se dá mais ao trabalho de acessar. Caso perdido. E pouco se me dá. O desprezo às vezes cansa. Dentro em breve tomarei um merecido banho. Falta-me disposição, mas uma vez com a ideia na cabeça eu vou me aclimatando com ela até fazer o movimento para a realização do ato. Mas isso só daqui a dois copos de Coca e um cigarro. Tenho quatro cigarros, dá um por hora até as 18h00, quando mamãe combinou de me dar a próxima carteira. Queria ir pegar Coca agora, mas com o casal na cozinha, me sinto atrapalhando. Vou mesmo assim. Mamãe vai me convidar a comer, dizendo que a costela ficou uma delícia etc.

14h11. Como supus, minha mãe me fez experimentar a costela. A nova TV da casa chegou. E já foi convocado o rapaz para instalá-la. A medida que vou ficando velho passo não mais a ver todos os adultos como homens ou mulheres, só se forem mais velhos que eu, como há mais gente nova do que velha, chamo-os rapazes ou moças. É uma condição peculiar ficar velho, uma que particularmente não me agrada. Mas acho que a partir dos 60 uma década a mais ou a menos não faz tanta diferença. Serei velho da mesma forma. Até os 50 ainda sou coroa, a partir daí dou velho. Embora as crianças me achem velho já de agora, eu creio. Vou fumar um cigarro.

14h23. “Landlady” começou assim que entrei no quarto. Acho que muitos invejam a minha posição, sem trabalhar, recebendo mensalmente uma pensão, todo o tempo livre do mundo. Mas o que fazer com esse tempo livre é a questão. Muitos se pegariam sem saber com o que ocupá-lo, eu me descobri na escrita senão me veria imerso num oceano sem fim de tédio. A escrita é a razão de viver os meus dias. É ela que me livra do tédio, ela é a minha ocupação, o que faço com prazer da minha vida. Mas já louvei tanto a escrita aqui – e tantas mais louvarei, tenho certeza, pois sou eternamente grato a essa vocação, se posso chamar assim – que não utilizarei mais palavras sobre o assunto por ora. Mas ter tanto tempo livre e não ter outra coisa que me interesse fazer é uma coisa que acho estranha, minha mãe mais ainda. Minha mãe outorgou ao meu tio o direito de me explorar, ou seja, fazer layouts por uma recompensa mínima doada a ela. E está orgulhosa de mim e animada com a ideia de que eu faça algo além de escrever. Mesmo que seja uma coisa que não gosto de fazer e que não se reverterá no meu principal intento, o livro publicado. Razão primeira e única de ter entrado em contato com o meu tio. A vida prega cada peça, parece que a Publicidade é um fantasma que nunca vai deixar de me assombrar. Há um mosquitinho inconveniente no meu quarto. Não gosto de mosquitinhos inconvenientes no meu quarto, mas gosto menos ainda de findar uma vida de um ser que tem o mesmo direito de existir que eu. Mamãe usa o WhatsApp e fica apitando aqui no meu computador. Não tiro vidas dos seres menos evoluídos, por mais que me alimente deles e não tenha pudor em fazê-lo, mesmo sabendo das crueldades do mercado da carne. Sou um animal onívoro. Não me satisfaria apenas de plantas. Não me vejo tomando essa atitude nem tão cedo. Não me vejo a tomando nunca. Pode me achar desumano nessa parte em que sou humano demais. Meu irmão abdicou dos prazeres da carne, no sentido literal apenas, e tornou-se vegano. Mas meu irmão é uma pessoa iluminada, não é o meu caso. Nunca será. Minha alma é cheia de máculas que não há como remover. Não gosto de quem eu sou e não me esforço para ser uma pessoa melhor, simplesmente porque gosto da vida que levo, da maneira que levo. A culpa, essa incansável carrasca, já me açoitou tanto que me acostumei com as suas chibatadas e as levo qual um boi de carga, sem reclamar, apenas seguindo em frente carregando todo o peso de ser como sou. Não é peso demais nem de menos, é a justa cruz que tenho que carregar. Não trocaria todas as regalias que tenho por algumas gotas de dignidade, não me parece uma troca justa. Para encher o meu poço de dignidade seriam precisos barris e barris de dignidade. E um esforço moral que não ouso empreender. Me sinto falho, fracassado em quase todos os âmbitos da minha vida, mas levo a vida que quero, que sempre sonhei. Escrevendo. E parece que sonhei certo, pois não me canso de escrever e quanto mais escrevo mais vontade tenho de me dizer como uma sede insaciável. Que continue assim, pois é aqui que me protejo do fracasso, da culpa, da falta de dignidade, de toda a aspereza do meu ser, mesmo que os revelando como faço agora. Há uma sensação de expurgação de tais impurezas da alma na escrita. É como se me confessasse e isso traz alívio, alento para alma combalida. Não é à toa que estou sozinho e mais sozinho a cada dia me torno. Não vejo isso como coincidência, mas como consequência do que sou e de como ajo. Tenho mais do que mereço, mas não ouso abrir mão disso por uma causa maior, pois não vejo causa maior que a minha própria. Ao menos, em não recaindo na minha droga de preferência e tendo estabilizado meu transtorno bipolar, não faço mal a ninguém, nem a um inconveniente mosquito que, por sinal, desapareceu, deve ter saído pela janela aberta por onde entrou. Me vejo estagnado, alienado, cada vez mais distante da sociedade. Isso me preocupa um pouco, mas já me preocupou muito mais. Me preocupa deveras não ter mais condição de escrever, de ter algum tipo de lesão por esforço repetitivo ou coisa que valha. De ficar senil e perder meu eu. Isso me amedronta muito mais que o isolamento. É certo também que não queria ficar de todo isolado. O contato humano ainda me é algo singular e precioso, especialmente com pessoas queridas. Mas esses vem escasseando, a vida vai nos distanciando como a expansão do universo vai distanciando os corpos celestes. Foi-se o tempo da disposição e disponibilidade para os encontros. Eu estou praticamente sempre disponível, mas convites são escassos, para dizer o mínimo. Se eu mesmo não me convido, o que acho cada vez mais inconveniente como o mosquito intrometido, é difícil que haja alguma interação social para mim.

15h09. Minha mãe veio trazer o café de máquina para mim, devidamente adoçado, uma regalia que só uma mãe que ama é capaz de proporcionar. Me sinto amado nesses gestos e busco retribuir com carinho que é a única moeda que tenho de troca e o qual distribuo com sincero prazer, coisa que não acontecia antigamente. Antes era um movimento forçado e alienígena, hoje é espontâneo e desejado. O tempo é realmente senhor de todas as coisas. Não pensei jamais que me entenderia tão bem com a minha mãe quanto se dá hoje. E os prospectos são ainda mais positivos. Ou assim quero crer, ambos amadurecemos. E nos tornamos mais macios um com o outro. Um bom destino para a costela que ela comprou seria uma farofa, comerei hoje como está, mas como a peça é muito grande talvez, se eu sugerir, se converta em farofa o restante. Isso se durar até a vinda da fantástica faxineira. A TV que meu padrasto comprou é de impressionantes 65 polegadas. A caixa é enorme. O rapaz da instalação ainda não chegou. Hoje, o passatempo do casal será explorar e desfrutar da TV. Espero que dê tudo certo e que a tenham instalada e operacional hoje à noite. O aluno de mamãe que viria à tarde não vem, então ela decidiu que vai dormir um pouco. Ou um muito, quem sabe.

15h18. Voltando ao meu peculiar modo de vida, acredito que só não caí ainda numa profunda depressão por conta em sua grande parte dos medicamentos que a Doutora me receitou. Viver isolado escrevendo e cheio de dilemas existenciais mal resolvidos me parecem a receita certa para uma depressão. A escrita é a parcela restante que empresta sentido aos meus dias. Sem a escrita não sei se os remédios seriam o suficiente. Mas na soma dos dois se dá a receita para que vá levando a vida como levo. Me vi agora sem palavras para dizer. Preciso me movimentar para o banho, mas não sinto o menor ímpeto de fazê-lo agora. Minhas axilas já exalam o odor característico que me é um alerta para tomar banho. Passarei desodorante dessa vez. Mas antes de ir quero me deixar aqui mais um pouco. Queria tomar banho no cair da tarde, lá pelas 17h27. Hahaha. É que, como já disse, gosto do número 27.

15h25. Daqui a duas horas e dois minutos vou tomar banho. Seu Raimundo volta a me assombrar. A vontade de mandar-lhe um e-mail me assalta o juízo. Novamente, tenho que me controlar e só mandar quanto a revisão definitiva do livro ficar pronta. Quem sabe não me responda antes, mas acho tão improvável que tal resposta venha. Não perco a esperança, entretanto. Acho que ele é um homem de palavra, mas achou o meu texto tão ruim que não teve coragem de me responder. Pelo menos é isso que acontece na minha fantasia. Não tenho base factual nenhuma para apoiar minhas suspeitas, só o fato de terem se passado 11 dias desde que o enviei o texto. Mas esperarei e não mais matutarei sobre ao assunto aqui (espero). Está entregue. Será entregue novamente se não receber resposta do velho mestre. “Landlady” uma vez mais. E outras vezes virão. Nossa como deposito esperanças gigantescas em Seu Raimundo Carrero. De validação da minha obra como livro. Seu aval significaria que sou de fato um escritor. E valeria pagar todo o custo social pesadíssimo que teria por conta do livro. De outro modo não vale. Mas não vou entrar nessa seara uma vez mais. Toquemos no assunto quando da revisão final. Duvido que consiga tal proeza, pois o pensamento fica me rondando como um lobo esfomeado. Mas me esforçarei para isso, pelo bem do leitor deste espaço. Ontem desabafei tudo o que queria e podia sobre o assunto e cheguei à conclusão que eu sou uma pessoa medíocre, um merda. Não foi dos textos mais agradáveis que produzi e por ser tão redundante não coube aqui no Profeta, até por que tenho um post já na gaveta para publicar. Esse está com cara de que vai para o Profeta também. Amanhã. Hoje publicarei o anterior. Espero encontrar o vídeo no YouTube dos Ninja Boys para colocar no post. Eu sei que isso é meio patético, mas gosto do cheiro que exala das minhas axilas. Há algo de muito humano e masculino nele. Não é desagradável talvez por ser meu cheiro, que a muito me lembra aos das axilas dos demais, só que mais leve, mais brando. Mas acho que me agrada por ser meu. E só por esta razão. De qualquer forma, o horário do banho vai se aproximando e não vou me desobedecer, cumprirei o horário ao qual me dispus. Nossa, pensei no meu amigo jurista agora e em como odiaria trabalhar usando a cabeça o dia todo para chegar em casa e ter uma mulher e uma filha me esperando. Na minha casa, onde eu pago as contas, onde tudo depende de mim. Isso me assusta. São responsabilidades demais para quem está acostumado a não ter nenhuma a não ser com a escrita. Ela me cobra muito menos, ela me diverte e me preenche. E não preciso me preocupar com contas pois minha mãe e meu padrasto se apropriam delas. Odeio as responsabilidades do mundo adulto. Até quando morei com a Gatinha, eu delegava as contas a ela, que era a minha, bem dizer, gestora financeira. O estresse com a TV começou. Passarei um bom tempo sem sair do quarto. Até que esse assunto se resolva. Ou de 17h27 para tomar banho. E eu que queria pegar um copo de Coca vou ficar querendo. É, o estresse está pesado. Meu padrasto está muito agitado e vociferou há alguns instantes. Vai sobrar para a minha mãe. Eu não quero me meter, não acho que devo, eles são um casal que se entendam. Acho que dá para pegar Coca agora, só escuto silêncio.

15h58. Peguei um copo de Coca. O último da garrafa. Ainda bem que há mais. Odeio quando o meu padrasto se exalta. Ele é muito grosso nessas horas, bruto até, ainda bem que somente verbalmente. Fala alta, grita até. É algo que me é profundamente estressante. Mas é a vida, nem tudo pode ser bonito, nem tudo pode ser bacana.

16h05. Me perdi pela internet. Achei umas luzinhas que ficariam massa para iluminar meus bonecos premium format. Não sei vendem no Brasil, vi na propaganda de lançamento de uma boneca num e-mail promocional.

16h10. Me deu um branco agora pensando na minha coleção e na reforma do quarto que nem sei se vale a pena. Se for para durar mais 25 anos vale a pena.

16h13. Ainda perdido em pensamentos, dessa vez sobre a mortandade. É um caminho triste esse que leva à morte e, com a evolução da medicina, a velhice hoje em dia é estendida enormemente. Se bem que a adolescência também foi estendida, o que acho que compensa. Uma pena a infância ter ficado mais curta. Eu não sei mais o que dizer. Mas algo me virá, algo sempre vem. Me peguei pensando no meu amigo bailarino. Pois é, raro, mas tenho um amigo bailarino, ganhou até uma bolsa para estudar dança na Itália, num dos lugares mais tops que há. Encontrei com ele no aniversário da Gatinha, mês passado. É jovem, bem mais jovem que eu, visto que bailarino. Eu não sei qual a vida útil de um bailarino, mas essas coisas que têm o corpo como principal ferramenta geralmente não duram muito além da juventude. Como disse a juventude foi estendida, então, quem sabe aos 40 anos não esteja fazendo ainda o que ama fazer? Tomara. Graças aos céus escrever requer muito pouco do corpo. E ao meu amigo, quando o corpo não mais responder às demandas da dança, restará lecionar o que aprendeu. Imagino que esse seja o destino da maioria dos bailarinos. Não sei, nada entendo de dança. Posso estar falando só asneiras, o que não é novidade para o leitor mais assíduo, se é que há alguém além de você, tia, corajosa leitora dos meus caudalosos posts. Hahaha.

16h28. Cinquenta e nove minutos para o banho a tarde já caiu bastante, acho que posso encarar o banho agora, não preciso esperar até as 17h27. É o que farei. Quem sabe não me surja novo assunto para essas páginas? O pior que já estou na sexta folha e tenho me botado como metal não ultrapassar a sétima ou parar no comecinho da oitava. Vou lá.

16h56. Tomei banho, passei desodorante e estou aqui sem a mínima vontade de escrever. O cara da TV esteve aqui, tocou e ninguém atendeu, então foi embora, razão da ira do meu padrasto. Estão vendo se arrumam quem o substitua. Tivessem me deixado de sobreaviso eu teria atendido o rapaz e chamado meu padrasto, mas pensei que estava tudo dentro dos conformes. Deu errado. Bola para frente. O que posso dizer a mais? Acho que vou publicar o post anterior, só para passar o tempo. Como eu disse o fardo de ter tanto tempo livre é a eterna fuga do tédio.

17h02. Meu amigo da piscina, acaba de me chamar para descer. Ótima pedida. Vai ser bom para mudar de ares. Já vou entrar na sétima página desse post de hoje. Se bem que posso ficar na sexta mesmo. Começo outro. Vou usar o tempo que me separa da descida para publicar o meu outro post. Grande abraço.

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