segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

MEU AVÔ CONTINUA NA UTI E PROVAVELMENTE NÃO SAIRÁ COM VIDA

O quadro clínico do meu avô piorou e pelas reações da minha tia e meu tio que são médicos à fala do geriatra, de profundo abatimento e choro, ficou mais ou menos claro que vovô provavelmente não sobreviverá. Ainda tentarão, se ele melhorar, uma hemodiálise, visto que seus rins estão falhando. Só nos resta esperar. Ainda estou meio sonolento. Principalmente agora que acabei de almoçar. Se mamãe for dormir, acho que pego e embalo dela. Não sei. Eu vivo dizendo isso, mas nunca durmo de fato. Acho que meu amigo T foi para o Galo. Vamos ver se ele vai me chamar para ir à piscina. Estar com ele me faz fugir desse tédio que é estar encastelado no carnaval. Embora não vá querer tomar banho de piscina, gostaria de esticar as ideias com ele novamente. São 14h28. Mamãe disse que amanhã pela manhã irei ver vovô, se o quadro dele não sofrer a alteração definitiva de hoje para amanhã. Ele estará sedado, acredito, pois o sedaram hoje para que não ficasse lutando para tirar o tubo que está em sua garganta. Que coisa horrível. Deve ser muito desconfortável a situação dele, melhor estar sedado mesmo. Nessas horas eu me pego pensando em Espiritismo. Se ele sai do corpo quando sedam, se vai se encontrar com outros espíritos, espíritos de amigos e familiares que já morreram, se vê a sala de hospital como se estivesse flutuando perto do teto, essas coisas. T me falou ontem de médiuns que falavam sobre coisas que só a pessoa sabia, que mencionavam nomes de familiares que nunca tinham ouvido falar e talz. Não tive nenhuma experiência desse tipo com os médiuns com que me comuniquei, tudo me pareceu muito fake. É pena não me lembrar com detalhes. As interpretações das fotos Kirlian, que por sinal são muito belas, também não me convenceram; minhas tentativas frustradas de desenvolver a minha mediunidade através dos exercícios do “Livro do Médiuns”; nada me fez crer que haveria existência humana ou espiritual, como queiram, após a morte. 14h43. Vou pegar mais um pouco de Coca dentro em breve. Minha mãe e meus padrasto estão na cozinha, ele folheando a Veja, ela falando com minha irmã pelo WhatsApp. Poderia continuar a ver o episódio de “The Walking Dead” onde parei. Não sei se o personagem vai ou não virar zumbi. Vou assistir. 14h46.

17h06. Estava assistindo “The Walking Dead” até agora. É difícil para os roteiristas manterem a série com novidades, o truque até agora tem sido a adição de novos personagens e morte e substituição de outros. As locações também dão uma certa renovada na série e só. Mas não posso negar que ela entretenha bastante, só não é a melhor série que assisti. Este posto vai para “Black Mirror” por ser ficção científica e por cada episódio ser totalmente diferente do outro. Gostaria muito de uma quarta temporada no mesmo nível. Só estou com saco para assistir a série ou escrever, não estou com saco para videogames. O chato da série é que é imensa, muitos episódios por temporada. E sempre essa fuga desesperada dos zumbis. Ou chacina de zumbis.

18h04. Meu avô vai fazer hemodiálise, meus tios médicos não estão muito esperançosos; nós, os leigos, vemos nisso uma ponta de esperança, pois achávamos que ele não resistiria nem a tal procedimento. Mas acho que o abatimento dos familiares médicos diz muito da situação do meu avô. Que acredito, para eles, já seja irreversível, ou seja, só uma questão de tempo. Pouco tempo. Baixei “Doutor Estranho” para ver, provavelmente com a minha mãe. Espero que seja com ela, em verdade. Preciso dar esse pouquinho de interação, atenção a ela. Não que ela esteja precisando, ela está muito bem vendo o seriado dos vikings no Netflix. O filme viria até a atrapalhá-la. Por falar em vikings, estou pensando em começar Assassin’s Creed Black Flag. Mas acho que não hoje. Meu padrasto foi à festa de aniversário de seu neto. Só estamos eu e mamãe em casa. Amanhã, se tudo correr bem ou melhor que o esperado pelos médicos da família, eu irei visitar vovô. Creio que estará sedado, mas acredito que vá ser a última vez que eu o verei com vida. Acredito também que haverá muito mais gente amanhã para vê-lo que nos últimos dois dias. Se preciso for cederei a minha vez a outra pessoa. Não é a lembrança que quero guardar do meu avô, ele todo fragilizado e cheio de tubos e fios, quase morto. Já terei que encará-lo no caixão, se eu não morrer antes, afinal, tudo é possível nesse mundo sem sentido a não ser o que cada um dá a ele. Não vejo a morte com grande preocupação, talvez por isso não fique tão abalado em saber que meu avô, uma pessoa que amo demais, está morrendo. Se superei papai e o Imperador da Casqueira, eu supero qualquer morte. Bem, talvez menos a do meu irmão ou da minha mãe. Sei lá. Estou muito distante emocionalmente das pessoas que realmente importam, das pessoas próximas. O calor que carrego na alma são apenas das paixões platônicas. Tirando isso, sou um poço seco de emoções. E isso não deixa de ser muito triste. Não queria me sentir assim. Talvez sejam os remédios, talvez seja porque não me sinta participando de seus mundos realmente, acho que criei meu castelo ou minha ilha e tudo o que me importa está aqui. E tudo são coisas materiais. Por mais que sejam os videogames e Netflix e filmes estimulantes emocionais e o Word, nem se fala, é uma autoterapia completa. Mas me sinto culpado por não conseguir, pelo menos ultimamente, ser ou agir diferentemente. Minha mãe sente a minha falta, ela já manifestou isso várias vezes. Talvez eu precise assistir “O Náufrago” de novo para mudar um pouco minha perspectiva sobre isolamento. Se bem que o final do filme, mostra que o protagonista meio que se isola do mundo e segue o seu caminho sozinho. O Word é meu Wilson. É com ele que converso no meu quarto-ilha. É ele quem ouve todo o tipo de besteira que me sai dos miolos. Ou do coração. Por mais que, como tenha dito, o meu coração ande meio vazio de sentimentos.

19h03. Este teclado é um pé no saco, as teclas de home, delete e end estão muito mal posicionadas e são muito pequenas. Certamente não foi um teclado pensado para pessoas que escrevem, pois estas, como eu, imagino, usam muito o recurso dessas teclas. Especialmente a de delete. Ainda não me acostumei com elas. Mas já me acostumei com as demais, que uso bem mais, então está de bom tamanho. Produzo bem nesse computador. Eu sou dono do Corel Draw agora, mas pouco o uso. Deveria usar mais, mas não tenho realmente para quê. Vou pegar Coca.

19h14. Conversei um pouco com a minha mãe, dei um pouco da atenção que me sinto culpado por não dar.

20h05. Estava conversando com Nina no Facebook e me perdi naquele troço. Minha mãe não quer ver o filme hoje. Eu também não queria. O faria mais por obrigação familiar.

20h24. Meu padrasto chegou e está discutindo com mamãe, aliás comandando que mamãe não vá para casa da minha avó, que ela que venha para cá. Já estavam falando de cremação no telefone. A situação não parece muito boa. Acho que vou assistir “TWD”. Mas só quando “Kid A” acabar de tocar. Não estou realmente com disposição de assistir o seriado agora, mas sei que se colocar, assisto. Ele prende a atenção com seu constante fluxo de tensão. Não sei se terei gelo suficiente para chegar até o final da noite. Isso me preocupa porque beber Coca Zero quente não é tão legal assim. Vou encher umas caçambas. Mas primeiro vou esperar o debate entre minha mãe e meu padrasto acabar.

20h48. Lembrando de T e de nossa conversa sobre Espiritismo, será que reencarnei aqui nesse planeta, nessa época para presenciar o nascimento de uma Singularidade Tecnológica? Para ver a transformação acontecendo eu que, provavelmente vim de um lugar onde isso já ocorreu? Seria uma boa teoria. Pelo menos uma boa estória. Seria um motivo para eu querer reencarnar e todos os meus problemas psicológicos, de me achar feio odiar meu corpo, de me odiar, de inadequação crescente no mundo seriam por causa desse outro eu de uma civilização mais avançada aprisionado dentro de mim? É muita petulância da minha parte viajar nessas hipóteses. Se eu fosse de uma civilização mais avançada, eu seria como o meu irmão, naturalmente bom. Ou talvez eu fosse da escória desse planeta e por isso vim parar nesse, como uma punição. Isso não tem nada a ver com nada. Minha depressão teve o seu começo quando eu me mudei de São Paulo para cá. Coincidiu com o início da puberdade e a falta de um grupo de amigos fixo e frequente como tinha no prédio em São Paulo e que só fui reencontrar quando me mudei para cá para este prédio. Mas aí o estrago já estava feito. Mas os tempos áureos aqui do prédio, com a turma, foi um período feliz da minha vida, por mais que tenha sofrido muito por amor. Ou melhor, pela falta dele. Em mim ou nas outras. A verdade é que eu sou um ser defeituoso, algo em mim veio quebrado ou se partiu no meio do caminho. Não acho que haja conserto para isso. Apenas controle. Medidas de contenção. Mas voltei a gostar de viver. Ultimamente tenho passado por uma fase não tão boa, espero que passageira. O tédio da minha solidão começa a me incomodar. Se não existem coincidências por que as percebemos? Coincidências são padrões sui generis que captamos e que apresentam como característica mais marcante a sincronicidade. Ou a repetição. Ou uma extrema diferença, como perder o vôo e o avião cair. Por muitos anos o meu melhor amigo foi um videogame NES ou Super NES. Os únicos videogames que eu comprei foram o GameCube e o Wii U. Todos os outros eu ganhei da minha mãe ou do meu padrasto. Eu não tenho medo de morrer. Tenho medo do sofrimento físico pré-morte. Acho que passarei por essa provação quando a morte vier enfim me roubar do mundo. Queria, como já disse reiteradas vezes, estar vivo para presenciar e imergir na Singularidade Tecnológica. Vou pegar a Coca agora, acho que estão vendo televisão.

21h17. Meu padrasto trouxe vários salgadinhos da festa, fiz a festa e farei ainda mais quando a fome dos remédios bater. “Kid A” acabou de acabar. Vou ver “TWD”.

1h01. Assisti mais alguns episódios de “TWD” enchi caçambas com água pois o gelo estava pouquíssimo, guardei todas as comidas que estavam fora da geladeira e tomei um banho para poupar tempo amanhã quando for visitar vovô. Isso se não houver nenhum acontecimento imprevisto hoje à noite durante a hemodiálise. Creio que não haverá. Creio que ele sairá desta.

13h01. O geriatra que acompanha o meu avô não deu muito tempo de vida a ele. Todos os órgãos começam a falhar, então é só uma questão de tempo agora, quiçá horas. Tanto é que foi permitido à minha avó ficar ao seu lado por mais tempo que as visitas em UTI permitem. Voltaremos ao hospital hoje às 17h00 se ele ainda estiver vivo. Decisão do meu padrasto, por incrível que pareça. Para mim, não foi muito desgastante emocionalmente, mas me sinto cansado. Não queria sinceramente ir lá de novo. Provavelmente dessa vez ele estará sedado, então a interação vai ser ainda menor que agora pela manhã. Será nula. Pelo menos disseram que vão fazer o máximo para minimizar o sofrimento dele. Estou ouvindo um zunido, já havia mencionado que o ouvia no silêncio, mas agora o ouvi muito forte. Estranho. 13h15. Acho que vou dormir um pouco antes de ir.

13h32. Peguei outro copo de Coca. O zunido está forte. Sinto uma vontade de emprestar a ele um significado místico, mas isso é pura ficção da minha cabeça. A presença da morte faz com que o meu lado místico se exacerbe. Está me dando aquela tremedeira de quando eu não como. Acho que vou me deitar mesmo. Senão mais três horas, pelo menos duas horas de sono. Vou fazer como mamãe que levou uma garrafa térmica com água e levar um copo de Coca dessa vez para o hospital. Se bem que lá tem uma placa pedindo para não consumir comida ou bebida no ambiente. Vontade de pegar mais um copo de Coca, mas aí minha mãe vai reclamar. Enfrento a reclamação e pego mais meio copo, só para acabar o gelo que restou no copo.

13h42. Peguei e ela não disse nada. Está envolvida no assunto dos procedimentos pós-morte com o meu padrasto, conversando que o meu tio “carola” da família é quem tem que cuidar da parte do enterro e missas e quetais. Estou me tremendo. Acho que vou comer um pouco. É melhor que durmo mais fácil.

14h10. Ainda não consegui dormir. Acho que vou pegar mais meio copo de Coca-Cola.

14h14. Mamãe foi se deitar, quando acabar esse copo de Coca, farei o mesmo. Espero conseguir tirar um cochilo.

18h22. Tirei um cochilo e voltamos lá. Vovô estava sensivelmente pior com uma pressão muito louca e a barriga inchada. Talvez não passe dessa noite. Mas tudo é possível. Só queria que ele não sofresse. Meu tio queria já convocar um padre para fazer a Extrema Unção, que agora, segundo o meu padrasto se chama Unção dos Enfermos. Voltei para casa e, caso vovô chegue ao dia de amanhã, estaremos novamente no hospital pela manhã e à tarde e assim será até o fim. Triste fim. Ato final da vida – morrer – é um espetáculo chocante e tétrico; bizarro. Um cadáver é algo tétrico e bizarro, muitas vezes me dá impressão de ser um boneco da pessoa que habitava aquele corpo. Tanto pela coloração quanto pela rigidez. O cheiro das rosas aumenta ainda mais o clima funesto da celebração. Certamente terei que enfrentar tudo isso nos próximos dias. E certamente não serei eu o que mais estará sofrendo nesse processo. Como disse, apesar de achar bizarra, a morte não me agride emocionalmente com a mesma intensidade das demais pessoas. Admito que me pegou na morte do Imperador da Casqueira, a primeira grande perda que tive na vida. Logo depois veio o meu pai. Mas aí já estava com a couraça endurecida. Depois minha avó paterna, que menos impressão ainda me causou, pois morreu em estado avançadíssimo de demência devido ao Alzheimer. Me assusta o Alzheimer, pois minha memória já é ,nesta idade – 40 anos a se completar dentro de menos dois meses –, muito combalida e cheia de lacunas. Meu avô materno também sofre de Alzheimer, este que está à beira da morte, mas não chegou ao estado avançado dela. Nem chegará, a indesejada das gentes chegará primeiro para levá-lo, ao que tudo indica.

18h58. Vou encher o copo de Coca e depois tentar tirar um cochilo. Ou começo a ver “TWD”? Eis a questão. Não estou com sono. Mas estou um pouco desgastado desse negócio todo de vovô. E já está ficando muito tarde para eu tirar um cochilo. Já sei. A medida “Kid A”. Vou escutar o disco e quando acabar começo a ver o seriado.

19h36. Estava escrevendo no outro blog por necessidade. E me perdi no Facebook vendo o alegre carnaval dos meus amigos. Que diferença do meu. Mas não reclamo. Não sou eu que estou no meu leito de morte. Sei que meu dia chegará e que será tão ou mais doloroso que o de vovô, posto que maltratei meu corpo bem mais que ele. Embora ele também não tenha sido muito bonzinho com o dele. Mas ele era um touro. Eu sou apenas uma ovelha negra. Que cada vez menos vê senso em se juntar às demais ovelhas. Minto. Queria muito a companhia dos meus amigos. Nem que seja só para observá-los viver. Isso já me enche com pulsão de vida. Tem um grupo no WhatsApp onde os meninos combinam como e onde se encontrar para se divertir. Estão todos por Olinda. Pois é e eu aqui na minha ilha-quarto-castelo. Ouvindo Radiohead e prestes a assistir “The Walking Dead”...

Está acabando o CD e o gelo da geladeira. Essa última parte não é uma boa notícia. E não fui eu quem tomou todos os gelos. O que não faz a mínima diferença em verdade, o problema é não haver gelo suficiente para a noite. Acho que vou encher algumas caçambas no modo “turbo” e botar para congelar no freezer. Preciso que não haja ninguém na cozinha para que possa usar o modo turbo – encher usando água da torneira –, pois sei que este seria sumariamente reprovado pelos demais habitantes da casa, dois hipocondríacos e maníacos por higiene. Não vou fazer isso agora, pois meu padrasto deixou a sua toca-escritório e foi ter com mamãe que está repousando no quarto. Vou começar a assistir TWD. Olho para o Wii U com um certo desejo de jogar, mas não quero jogar os jogos que tenho. Poderia começar a jogar de novo “Little King’s History” do Wii (o antigo), pois já tenho pilhas para o Wii-Remote e numa tela grande seria bem mais fácil visualizar os fiéis seguidores que habitam o meu reino. Mas já botei TWD. Está demorando para caramba para carregar. Agora foi. 19h59.

20h19. Não está dando para assistir, para para carregar de cinco em cinco minutos e a resolução está uma m. Parece que todos estão assistindo Netflix agora ou tem alguém usando a minha internet. Fato é que estava um saco assistir em baixa resolução e com load times frequentes, então desliguei. Voltarei a ligar às 21h. Quero assistir, este meio para final de temporada ficou bem mais empolgante e interessante com os novos personagens e lugares que entraram.

22h59. O Netflix estava até pegando bem. Acho que vi dois ou três episódios, mas travou de novo. Foi bom, bem na hora de eu dormir. Amanhã tem nova visita a vovô. Vou preparar um leite com Toddy e farinha láctea para mim, fumar o meu cigarrinho da noite e cair na cama. Amanhã reviso e publico isso, se vovô não surpreender-nos.

8h58. Vovó faleceu às 3h15. Vamos ao velório e posterior enterro. Hoje vai ser um dia diferente, da pior forma possível. Não sei se deva avisar aos meus familiares paternos.

Minha mãe disse que sim, que devo comunicá-los, mas não dar indicações da hora do velório e do enterro. Foi o que eu fiz, apenas comuniquei o fato. Quando voltar, reviso isso e publico.

BLOGANDO DO CEMITÉRIO

Vovô transmite uma aura de solene tranquilidade. Há poucos no velório. Tanto melhor. Vovó não quer sair do carro. Está sensivelmente abalada.

10:57. Ela saiu do carro por alguns momentos e sentou-se ao meu lado. Todos estão mais tranquilos agora e se permitem até alguns sorrisos. As mais abaladas, afora vovó são as filhas de tia M, também são as mais novas aqui. Eu diria que a mais abalada é a primogênita.

11:12.  O enterro estava marcado para as 11:00. Talvez ocorra por volta do meio-dia. O filho do meu padrasto chegou. É bom que um faz companhia ao outro.

12:04. Caixão fechado, mausoléu lacrado, solenidade findada, estamos no carro indo pra casa, espero. Mamãe quer almoçar fora; eu quero ficar em casa. Não sei se minha mãe vai permitir. Provavelmente não. Queria que ela respeitasse.

12h32. Meu padrasto convenceu minha mãe a me deixar ficar em casa. Enfim, o lar.


13h23. Estou com sono. Vou tomar mais um copo de Coca e acho que vou tirar um cochilo. Quem dera todos os enterros fossem assim, rápidos e com pouca gente. Mas eu disse que iria revisar isso e publicar. Agora que o ciclo se fechou acho que é uma boa hora para fazê-lo.

sábado, 25 de fevereiro de 2017

MEU AVÔ ESTÁ NA UTI

Meu avô está na UTI, mas aparentemente mais por precaução que para a cura de algum mal, o que me alivia bastante. Provavelmente irei visita-lo às 17h com mamãe. Não queria ir, para ser estritamente sincero, mas vejo como uma obrigação familiar inescapável. O Vaporfi não estava fazendo fumaça, a bateria não estava fazendo contato com a parte do filtro e do líquido. Limpei todos os pontos de contato com um cotonete e ele voltou a fazer fumaça que é uma beleza. Ainda bem. Já estava preocupado de que houvesse algum problema mais grave com a bateria ou o tanque. Acho que vovô vai gostar de me ver. Ele geralmente gosta. Estou curioso, depois da ida ao CAPS hoje, em como me sentirei digitando o diário. Afinal o carnaval começou e me pus como meta adiantar a digitação do diário. Ontem fiz um dia inteiro. Espero seguir nesse ritmo até o final do carnaval. Ou mais. Se conseguisse fazer dez dias durante o carnaval, seria perfeito. Espero que meu avô saia ainda esta semana da UTI. Dizem que a priori não é problema do coração, mas um cardiologista ainda vai examiná-lo. Tomara que não seja nada. Que não seja sofrimento para ele, pelo menos. Ele há algum tempo deseja a morte, dizendo a cada evento familiar que não verá o próximo deste ou daquele. O controle do Wii U pisca, o que significa novidades, mais especificamente propagandas para tal ou qual jogo. Não estou com saco de ver o que é agora, embora guarde alguma curiosidade. Não queria ver vovô. Detesto hospitais e nunca estive numa UTI. Deve ser um lugar particularmente deprimente caso os leitos sejam conjugados. Mas irei ver vovô por motivo de força maior. Me terão por desumano se não for. Por uma pessoa extremamente fria, que foi o que me tornei. Não queria sair do meu castelo. Mas farei isso por uma obrigação familiar de poderosa gravidade. No final, sei que me fará bem a alma ter contribuído com a minha presença nesse momento delicado. Pior me sentirei se não for. Aí a culpa que já sinto será multiplicada. A luz do Wii U piscando começa a me irritar. Odeio padrões de alerta como luzes piscando, toques de despertador ou telefone. Foram invenções úteis, mas muito desagradáveis. Coloquei no meu celular o toque mais alarmante e estridente possível, no maior volume do aparelho para poder ouvir minha mãe ligando durante as minhas saídas, o que não surte muito efeito na maioria das vezes e que sempre me assusta quando recebo chamadas dela – visto que não as recebo de mais ninguém, a não ser de operadoras de celular – no silêncio pacato do meu “quartelo” (junção de quarto e castelo, neologismo inventado agora). Quartelo soa como um diminutivo de quarto, mas na verdade é uma ampliação da sua concepção, visto que castelo é algo muito maior que um quarto. E o meu quarto, como já disse de outras vezes, é o meu castelo, desde que haja energia elétrica e internet. Porém ficar muito tempo encastelado torna-se entediante. Como o foi para Rapunzel e uma série de princesas à espera do resgate de seus príncipes. Eu não tenho princesa para me resgatar. Vamos ousar e dizer “ainda”. Quem sabe eu não a encontre numa curva qualquer da vida? Já dei muitas curvas nessa quase ou mais de uma década de solidão e até agora nada. Em verdade há uma eleita, mas esta é deveras impossível. A segunda candidata, bem mais plausível, parece que não se encantou pelo sapo aqui. Terei a confirmação disto na próxima semana. E não espero outra coisa senão a confirmação do desinteresse da dita princesa. Que, reitero, não é tão bonita, mas que faria um bom par comigo. É uma pena. Ainda bem que o encantamento por ela não está assim tão forte a ponto de me gerar grandes frustrações. X, como a nomeei aqui e da qual muito já foi dito, não virou uma paixão platônica enraizada, não chegou a vingar, cortou as asinhas da minha fantasia antes que ela pudesse se lançar em pleno vôo. Bom, desta vez, sinto que quem sai perdendo é ela, não eu. E isso é um sentimento deveras raro e novo em mim, essa autovalorização, mas é assim que me sinto em relação a X. É uma pena, reitero. Só que dessa vez mais para ela do que para mim. E isso me faz sentir bem. É bom ser descartado, achando que quem me descartou fez uma péssima jogada. Mas nada is set on stone. Vamos ver como ela reage na semana que vem. Pode ser que me procure para conversar, pode ser que não.

13h58. Mamãe chegou e pelo seu astral e pelo que disse, vovô aparentemente está bem. Deram-lhe apenas sedativos pois se mostrava muito irrequieto. Privar uma pessoa de estar irrequieto sedando-a me parece um tanto quanto abusivo, mas deve ser procedimento de UTI e deve ser procedimento de UTI com quem acham que não podem argumentar, por exemplo, alguém com diagnóstico de Alzheimer. Acredito que o efeito da palavra poderia acalmá-lo e nisso sinto falta de um psicólogo lá. O trabalho que X irá fazer, caso realmente siga o destino que escolheu, será de grande valia para muitas pessoas. Pensei em tirar um cochilo, mas acho novamente que não vou gostar de me deitar na minha cama. Embora esteja aparentemente arrumada. E gosto de inaugurar, por assim dizer, camas arrumadas. 14h06. Se minha mãe quer sair de 16h, eu teria duas horas de sono. Seria uma boa soneca, caso conseguisse dormir de pronto. Não sei se comece a digitar o meu diário agora ou quando voltar. Lembrei-me agora de como consegui minha cicatriz no nariz, mas é uma longa história que não estou disposto a contar agora. Naquela época eu era muito mais leve e bem-humorado. Lembro que ficava fazendo piadas com os médicos enquanto costuravam o meu rosto, mas também estava completamente embriagado. Acho que já vai fazer uns cinco anos que não bebo. Não tenho certeza disso, mas não devo estar errando por muito. Fato é que não gosto de beber. Primeiro, porque não tenho limites, segundo porque sempre me torno inconveniente e, terceiro, por causa da infame ressaca, que sempre tive. Moral e física. 14h16. Aparentemente mamãe não vai mais para o hospital ver meu avô. Meu padrasto a proibiu, devido ao estado fragilizado de saúde dela por causa da quimioterapia. Isso significa que posso tirar um cochilo e depois digitar o diário. Ou continuar a escrever aqui, sei lá. Só não preciso fazer o que não queria, enfrentar o trânsito caótico da cidade em clima de carnaval para ir ao hospital. E olha que nem era eu quem iria dirigir, pois não dirijo. Nem carteira eu tenho. Não sei também se na condição de inválido civilmente eu tenho o direito de dirigir ou não. Se não tenho o de votar, é muito provável que não tenha o de dirigir também. Eu preciso resistir à vontade de trelar nesse carnaval. Eu me pus numa situação muito difícil, mas resistirei. O tédio não vai me dominar. Meu problema com videogames é que fico estressado em fases difíceis. Digamos que fique imerso demais no jogo e aí, com a adrenalina a mil começo a agir desesperadamente em vez de encarar os desafios com frieza e precisão. Esse é o meu calcanhar de Aquiles. Eu sei o que é para fazer, sei como fazê-lo, mas sou tomado por tamanha inquietude da alma que acabo por trocar os pés pelas mãos. Ou seja, não sou um grande gamer. Sou um lambe, em verdade. 14h28. Vou pegar mais Coca e depois que acabar o copo, considerar seriamente um cochilo. A psicóloga do CAPS me sugeriu, em se faltando o meu primo para ir comigo às baladas, eu contratar um acompanhante terapêutico para me acompanhar. Ou uma acompanhante terapêutica. A ideia não me agradou muito. Só o faria se fosse alguém do CAPS, uma estagiária do CAPS, especialmente X. Mas não só ela, o carinha ou a ruivinha também seriam ótimas opções. Mas isso deve sair caro, se bem que talvez a minha pensão cubra. Não sei se a pessoa já precisa ser formada para ser acompanhante terapêutica. Talvez não. Perguntarei – talvez – mais detalhes à psicóloga do meu grupo depois do carnaval.




14h43. O Wii U acendeu a tela do controle para me mostrar uma propaganda. Inacreditável. Isso é que é publicidade invasiva.

15h05. Estava falando com o Marinheiro no Facebook. Vou tirar um cochilo agora.

15h20. Ainda não fui me deitar. Mamãe e meu padrasto debatem sobre meu avô aqui à porta do meu quarto (e do escritório dele).

15h27. Minha mãe veio me dizer agora que meu avô vai ser submetido a uma operação de altíssimo risco na vesícula. Mas estou esperançoso de que vá correr tudo bem. Como mamãe disse, o coração dele está bom. Minha bisavó morreu numa operação assim, segundo ela, mas já estava com o coração ruim e não aguentou nem a anestesia. Vovô será operado hoje à tarde. Espero que dê tudo certo. Por mais que meu avô queira partir, como já mencionei anteriormente. Ela disse que iremos amanhã de manhã ao hospital sem falta. Não é lá o começo de carnaval mais animado do mundo para a minha família materna. Eu incluso. Mas é a vida. Mais tarde comunico aqui o resultado da operação.

16h02. Estava escrevendo para o outro blog. Vou tentar tirar um cochilo agora.

16h30. Não estou conseguindo dormir. Fiquei divagando sobre diversas coisas, mas dormir que é bom, nada. Não estou com saco nem conteúdo para escrever agora. Vou me deitar novamente. Pensando bem, vou tentar digitar o diário.

18h25. Digitei até agora e não consegui acabar o dia. Minha mãe acordou, ouço-a conversando com o meu padrasto, e sua presença me inibe a continuar os trabalhos, pois ela julga que digitar os diários seja algo nocivo para mim. Acho que vou assistir um pouco de “The Walking Dead”, mas, antes de tudo, pedir a chave da despensa para pegar uma Coca que eu estava bebendo acabou faz tempo. Desde que comecei a beber água.



20h54. Imagine uma sociedade onde criam-se porcos, galinhas, onde houvesse vacas e produzisse-se queijo, tivesse vinhedos e produzisse-se vinho, que acolhe crianças carentes, onde não circula dinheiro (exceto nas intersecções sociais com a sociedade exterior), extremamente católica e democrática. Foi assim que terminou a conversa hoje entre eu e o outro mito do prédio, T.

Trocamos uma amena conversa sobre vários assuntos: trocamos figurinhas sobre os moradores da nossa época, da nossa turma, mais precisamente; falamos até de espiritismo e ETs, coisas inacreditáveis aprendi sobre ambas as coisas. Dessa vez as compreendi todas, pois houve dois episódios recentes em que não entendi o que havia sido dito. Mas enfim, viajamos bastante, sobre passado e presente e algumas divagações mais. Transgressores que somos, fomos pela área isolada do prédio nos sentar confortável e bucolicamente no banco lá de trás do prédio (que nem sabia que existia). Iluminados por uma luz âmbar, trocamos nossas ideias e o WhatsApp, por onde ele me mandou essas fotos que você vê garbosamente ilustrando essa matéria. O Jornal do Profeta precisa de fotos, eu sei. Para ilustrar, dar vida e consistência ao conteúdo. Já sei! Vou tirar fotos do que existe no meu quarto para ilustrar as matérias! Porque não pensei nisso antes? É como revelar a intimidade aos pouquinhos. Eu e T nos encontramos ambos mais gordos e mais velhos. Afinal, faço 40 esse ano. Entro nos “enta”, de onde não mais sairei se não for pela Singularidade. T não sabia, mas eu acredito na Sigularidade tecnológica e acredito parcialmente nisso: “a Novíssima Religião”. Só não acredito que vou estar vivo para vê-la, por volta de 2045, de acordo com Ray Kurzweil. Se você estiver lendo isso T., saiba que eu não fui para piscina porque estava com preguiça ou porque estou dormindo. Por preguiça entenda-se escrever essa porcaria ou assistindo “The Walking Dead” ou visitando o meu avô que está na UTI. Como deve ter ficado claro se você leu até aqui. Obrigado pelo incentivo de publicar o que escrevi no diário que eu fiz no Manicômio. Publicar não só este; penso em acrescentar outros diários já digitados. E, talvez, a Novíssima Religião (talvez com algumas alterações que pode ou não fazer ser que eu faça). Não tenho certeza se o homem vai se fundir à máquina ou se a máquina vai se achar outra espécie completamente diferente. A grande consciência pode não abarcar o ser humano, mas eu acho que pela sua própria base, pela maneira com que já nos fundimos e entregamos à tecnologia, mais acessível e complexa ela fica, acho difícil não nos fundirmos a ela. Haverá os puristas, que preferirão ser do jeito que são, sem nunca de fato mergulhar na consciência coletiva. Acredito que com o advento da consciência coletiva, em vez de ler isso acredito que você vai poder reviver as minhas lembranças do nosso encontro do meu ponto de vista, sentindo o que eu estava sentindo. Em como e o que eu estava viajando a cada etapa do nosso papo. Vai ver que eu pensei nos seios de uma grande membra da nossa velha turma de Ubaias. Só não sei condizem ou condiziam com a realidade. Pois é T., vou continuar a nossa conversa por aqui para você não se sentir tão desprezado por eu não ir para piscina amanhã – ou hoje – pois pretendo escrever até a virada do dia, por isso prepare-se! Mas acho que vou dar uma parada para ver “The Walking Dead”. Essa tá parecendo a fase Wii U + “The Walking Dead”. São tantos episódios que isso se funde com minhas memórias recentes de Wii U. Eu costumava até jogar uma partida de Wii U – Mario Kart ou Zelda – antes de ver o seriado. Acho que vou fazer isso hoje. Ou mesmo agora, 22h04. Agora não, está me dando mais vontade de escrever. Amanhã não é dia do Galo? Como é que você vai para a piscina? Pensa em voltar do Galo cedo, talvez, ou o Galo acaba cedo, sei lá. Acho que acaba, pois as pessoas que querem mais paz e conforto em Olinda, na medida do possível, vão no sábado de manhã para lá e ainda dizem que quando o Galo acaba muita gente que estava no cá vai para lá e aí Olinda fica lotada e que essa migração em massa se dá geralmente à tarde, eu acho. Pelo menos foi assim que sempre entendi indo aos sábados. Agora não me lembro se à tarde lotava, disso não tenho a menor recordação e já saí de lá à noite. E não me lembro. Ô memória... Bom, pelo menos na minha memória está que o Galo é amanhã, logo deduzo que não vai rolar piscina. Se for, eu não vou. Não estou a fim de entrar na água. Essa é outra verdadeira razão. Não saberia sobre o que conversar. Talvez encontrasse alguma coisa. Há tanto tempo a gente não se fala, deve haver ainda um monte de coisas há serem compartidas. T. acha que todo mundo do prédio compraria meu livro. Se nem quem é da turma lê esse blog, porque irão ler um livro? Porque é de papel? Ou porque se paga por ele? Este pode ser um estimulante. Se comprarem é mais por misericórdia do que por qualquer outro sentimento. Ninguém vai querer saber o que eu passei internado naqueles lugares, não são lugares como o de “Bicho de Sete Cabeças”, só o Manicômio era um pouco. Mas com muito mais “luxo”, talvez. E havia muitos mais viciados sãos lá dessa última vez. Tinha companheiros lá, isso torna a permanência muito mais suportável. Muitas vezes divertida, para mim, pelo menos. Bom, de qualquer forma, estou digitando o conteúdo do diário e espero algum dia chegar ao fim. Não tenho paciência para digitar um dia inteiro no mesmo dia, pois eu escrevi para caralho. Tanto ou mais do que escrevo aqui. Pois estou me tornando prolixo também aqui fora, isso se chama fuga desesperada do ócio improdutivo ou fruto da árvore envenenada. “Fruto da árvore envenenada” porque eu queria chamar a priori o livro de “Algo ou Teorias do Fruto da Árvore Envenenada”. Muito pomposo, não acha? Mas foi um nome que criei numa crise de mania. A crise de mania, o abuso de cola e a influência de Matrix foram o que me fizeram elaborar a “Novíssima Religião”. Nem tinha lido o livro de Ray Kurzweil “The Sigularity Is Near” e nunca havia tido conhecimento da hipótese da Sigularidade Tecnológica. Eu pensei que escreveria tudo sobre a Novíssima Religião, como sobre o governo global pela ONU, o mais próximo da Democracia possível. Embora hierárquica, pois é necessário que seja assim, por causa simplesmente dos problemas de gerenciar uma humanidade inteira. Tendo todas as decisões, em todos os graus da escala hierárquica até o cidadão comum a obrigatoriedade de se basear na Declaração Universal dos Direitos Humanos que acho que deveriam incluir acesso à internet para cem por cento da população mundial alfabetizada. Obviamente, a prioridade é educação de qualidade para todo mundo. Aliás em primeiro lugar deve vir o fim da fome e da escravidão no mundo inteiro. Sei que todos somos escravos de alguma forma, mas alguns o são de forma literal ou quase, e sei que de algumas formas eu sou mais livre que a maioria por causa da pensão, mas preferia ganhar o meu sustendo fazendo o que amo fazer. E é o que eu faço: escrevo e ganho meu dinheiro, a única diferença é que uma coisa não tem a mínima relação com a outra! Hahahahaha. Escrevo por prazer libertário. Ganho a pensão porque sou considerado inválido perante a lei. E acho que sou mesmo, pois com o emprego, eventualmente eu acabaria com a minha vida. Literalmente ou me tornando um demente pelo abuso de cola. Foi o maior alívio da minha vida. Agora posso me dedicar a esses textos, que amo produzir e que não produzem um centavo sequer. Só quem lê são bots provavelmente e, provavelmente também, meu amigo T, mito total da galera de sei lá 10-15 anos atrás. Mas temos muitos mitos. 22h58. Estou ficando sonolento, T. , se você leu isso, pro favor deixa um comentário. Só para eu saber. Bem, o que posso contar mais a você? Minha vida é assim, CAPS de 9h às 15h às segundas, quartas e sextas. Geralmente saídas com meu primo nos finais de semana. O resto do tempo é encastelado no meu quarto, geralmente tecendo palavras.

23h03. Não aguento dançar uma música inteira, que ozzy. “Enjoy The Silence” que é massa de dançar. Que ozzy. Por que essa impaciência? Vou dançar o finalzinho. 23h05. Realmente estou sem muito saco. Mais saco estou de jogar Mario Kart e ver “The Walking  Dead”. A música esquentou meu corpo, liguei o ar. Preciso pegar mais Coca Zero.

23h08. Pois é T., acho que vou dar uma parada por aqui por ora. Pegar Coca, baforar o Vaporfi e encarar um game. Depois o final do episódio de “The Walking Dead” que já comecei a assistir.   

28h18. Comecei a revisar o texto, mas desisti. Reviso amanhã quando acordar ou quando voltar da ida a UTI para ver vovô. Parece que optaram não operá-lo porque poderia ser letal para vovô. Isso me assustou deveras. Estão usando paliativos e talvez ele tenha que vir a fazer hemodiálises. Não sei... como eu disse, eu tenho uma boca maldita. Não vou nem detalhar o bem que espero para que não se reverta em mal tudo o que pudesse vir a dizer.

T., não acredite em tudo o que vê no Discovery Channel. Não é porque está na televisão que é verdade. Aliás, eu não sei de nada disso, parei de assistir TV e me sinto um alienado com isso, mas um alienado feliz. Minha TV serve para três coisas: filmes, videogames e seriados, não necessariamente nessa ordem. Adoro usar figuras de linguagem batidas, muito manjadas mesmo, quando elas se fazem cabíveis no texto. Desculpe pela pobreza de repertório ou preguiça de dizer de outra forma, quando já há uma maneira clara e melhor de dizer. Estou ouvindo “SugarCubes” banda que impulsionou Björk para a fama internacional. O primeiro grande passo de sua carreira. Agora Marcelo Camelo “Menina Bordada de Flor”, acho essa música muito singela e bela. Parece um frevinho mais lento. E muito alegre. Mas dizer o que está passando no meu iPod é um papo muito chato. Já-já ele descarrega, eu acho. Vou  jogar um Mario Kart. 23h32. É a terceira vez que pego esse palíndromo numérico. Coincidência danada. Vou jogar. Depois talvez volte. Vou jogar não, tô impaciente até com os load times. Na verdade, não estou com saco de jogar, só de escrever. Me perdoe, T. Tenho pena de você ter ido para a Fazenda Esperança. Mas aparentemente, você gostou. Todo mundo diz que é o inferno. Acho que você conhece infernos piores, não é, meu amigo?

Mesmo que não chegue ao dia de amanhã escrevendo. Só revisarei este post amanhã, então só vai ser postado amanhã. A não ser que o meu sono passe durante esse período em que escrevo.

25h55. Fui encher a gaveta de água da porta da geladeira e acabei atacando a farinha láctea, o bolo de laranja e os peitos de frango que estão na geladeira. Acho que vou comer mais.

0h07. Desculpe, T se fui rude com você no WhatsApp, mas realmente só gosto de falar o essencial por aquele negócio. Ficar vendo figuras e vídeos, não é para mim. Raramente o faço no Facebook, que dirá no WhatsApp? Desculpe mesmo, mas vai ser tudo apagado sem ser visto por causa da limitada memória do meu celular, apenas 8GB. Foi mal, mas é assim que lido com essas mensagens. Se for um texto pessoal, direcionado a mim, eu leio. E só a estes tipos de mensagem eu dou alguma relevância.

0h17. Estou com sono. Há muito tempo já, mas não quero entregar os pontos. O que mais teria a conversar com você, T.? Não, não tenho mais nada a conversar com T. Só se for ao vivo. Estou começando a achar que não vou emagrecer nunca. Isso me preocupa. Tenho que me esforçar mais. Vou dormir (ou tentar). Só pegar o último copo de Coca da noite. 00h26.

0h35. Fui fumar um cigarro de verdade, o famoso e religioso “saideiro”.

1h08. Acabei de revisar o texto, mas não sei se acabei de escrevê-lo. Meu sono passou mais. Vou ficar acordado enquanto está rolando o “Kid A” do Radiohead. Dei um tempo no meu iPod. Quero saber como vai ser se não vão tirar as pedras da vesícula de vovô. Isso me parece paliativo demais. Se bem que, se a outra alternativa significa sua morte, então prefiro o paliativo, mas quem deveria poder escolher isso era ele. Espero que um dia o direito da eutanásia para pacientes terminais seja legalizada. Certamente T, por sua verve Espírita irá discordar de mim, mas isso é só uma opinião idiota minha, um idiota alienado. Eu pensei que estava passando “Kid A” porque estava passando “Idioteque”, mas eu esqueci que tenho a música no meu iPod. Vou encher meu copo de Coca e baforar.


1h18. Aproveitei e comi mais uma fatia do bolo de laranja. E nem fiz os marinehiros hoje. Tá bom, tá bom, vou publicar logo isso.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

NADA DE X II

Nada de X hoje I wonder why... ah, são 9:55, está tendo aula de ioga. Já não me sinto tão apegado a ela como na semana passada, mas sinto que bastaria uma conversa para reanimar meus sentimentos. Assisti "The Walking Dead" até a hora de dormir, por volta da uma da manhã. Tive uma conversa simpática com outra estagiária do CAPS enquanto dava minhas últimas baforadas no vaporfi que acabou de ficar sem bateria. Pedi que ela me recomendasse um filme e ela me sugeriu "A Chegada", que já havia assistido com minha mãe há algumas semanas. Bom filme, por sinal. Acho que comentei sobre ele em outro post sob o nome de "Arrival". Acho que vou fumar um cigarro... e ficar somente com três na carteira para aguentar até as 15:00... isso não vai dar certo. Acho que vou ter que pegar a outra bateria do vaporfi na hora do almoço. É a única solução. Posso até pegar mais cigarros, mas principalmente a outra bateria. Vou fumar. Estou ouvindo "Leila" do Legião, que me lembra uma grande amiga.

11:07. Eu fui em casa, peguei a bateria e mais dois cigarros. Agora estou bem guarnecido até as três da tarde. Uma pena X não ter vindo, mas não muita, o que é ótimo, pois significa que não sofrerei muito por causa dessa paixão platônica. Pelo menos assim me parece, senão o sentimento de frustração estaria me corroendo agora, o que não acontece. Não sei mais o que escrever. Dentro em breve começa o próximo grupo e não estou com a mínima vontade de participar. Para ser sincero, nem do grupo AD estou afim hoje. Também não gostaria de estar em casa. O que eu estava mais a fim de fazer era conversar com uma psicóloga. Sobre mim, sobre trivialidades. Conversar. Ser ouvido, mais precisamente.

12:52. Fui chamado para o grupo de arteterapia e acabou que não foi nada de outro mundo, posso até dizer que foi legal. Divididos em dois grupos, tivemos que preencher duas silhuetas humanas e depois "significar", ponhamos assim, a criação do outro grupo. Achei curioso que algumas pessoas se sentiram invadidas em sua criação pela interferência do outro. Foi o que mais me chamou a atenção. Das palavras postas nas imagens a que achei mais interessante foi terem colocado "orar" nos joelhos que desenhei. Nunca imaginaria que essa era uma das funções do joelho, pois nunca o utilizei para isso. Em segundo lugar foi terem colocado como função de uma das mãos "pegar remédios". Para variar, não almocei na minha querela para emagrecer (que não vem surtindo muito efeito por causa dos meus arroubos de fome depois dos remédios noturnos). Lembro do desdém com que olhava para os gordinhos quando consegui perder mais de dez quilos com a minha dieta somaliana leve. Olhava-os como fracos de espírito, em especial um morador do meu prédio com seu personal trainer tentando perder peso e semana saía, semana entrava e não via evolução nenhuma em sua silhueta. Hoje, entretanto, ele está muito mais magro e eu ganhei todo o meu peso de volta. Bem feito para a minha empáfia. Tenho que tomar coragem e vergonha na cara e recomeçar a pedir que minha mãe tranque a cozinha à noite. Só assim vejo futuro na minha dieta. Eu, por força de vontade apenas, não sou capaz de enfrentar a larica dos remédios. Quem sabe não comece hoje a trancar a cozinha. Vamos ver. Espero conseguir. Espero que minha mãe concorde. Acho que vai. Ela pode deixar um sanduíche na mesa da sala para mim. Pelo menos algo para enganar a barriga. 13:20. Não demora muito para o meu grupo AD começar. Vou fumar vaporfi. É estranho X não ter vindo hoje. Espero que não seja nada relacionado a mim. Hahahaha. Quanta petulância da minha parte achar que posso interferir no cronograma de um estagiário daqui. Talvez tenha havido alguma alteração no dito cronograma devido à junção das duas casas após o Carnaval. Bem, sabe-se lá o que se deu ou dá e pouco se me dá. Só um pouco mesmo. Vou lá baforar.

15h23. Já estou em casa. O grupo AD foi bastante interessante e profundo, pelo menos para mim e para a nova integrante da turma. Acho que foi para o nosso outro colega também. Nos foi pedido que escolhêssemos uma imagem, dentre várias postas à disposição e, após isso, fazer um brainstorming baseado na imagem eleita, depois disseram para selecionarmos duas das palavras do brainstorming que achamos mais relevantes e fazer outro brainstorming sobre elas. Finalmente, nos foi pedido para eleger as palavras mais relevantes de todas as etapas e construir um texto com elas. Depois deste processo, o resultado que alcancei foi o seguinte:

Solidão. Companheira que não devia ser. Inveja de quem tem namoro. Frustração pela minha vergonha. Solidão. Conforto de quem não tem companheira. Conforto de se ter como companheiro. Tenho tudo na minha solidão, só me falta o amor.

Eu fui o primeiro a falar, por sugestão da nova integrante, que estava curiosa com a minha produção (acho que porque produzi muitas palavras nos brainstormings e porque meu texto foi mais longo que os demais). De toda sorte, a psicóloga me questionou sobre que lugar seria confortável para mim, mais propício para arrumar uma namorada, com um porém: que lugar interior. Esta é uma pergunta que para mim ainda está sem resposta, visto que muito profunda e complexa. Tanto é que ainda a estou digerindo. Minha ideia é fazer um brainstorming aqui sobre o assunto e ver no que é que dá. Mas não agora. Estou com sono. Acho que vou tirar um cochilo. Isso pode até ajudar a colocar as ideias no lugar. Agora o pensamento que me veio foi da minha paixão platônica maior, não sei por quê. Entretanto até para ter uma chance de conquistá-la, eu preciso descobrir esse novo lugar ou nova arrumação da minha alma que seria propício para conquistar uma garota. 15h49. Hora do cochilo.

16h04. Tentei me deitar, mas me senti extremamente desconfortável com isso. Com a cama e com o estar na cama. A cama me pareceu um lugar extremamente desconfortável. E é uma cama confortabilíssima. Muito estranho porque estou com sono. E sem disposição para escrever ou fazer mais nada. Vou tentar de novo. Me deitando de bruços agora, para ver se me sinto melhor. Talvez colocando uma camisa sobre os olhos, eu sempre fazia isso quando ia dormir nos internamentos (devido ao apaga-acende de luzes ou porque fosse dormir durante o dia. Uma camisa ou pano sobre os olhos virou sinônimo de sono para mim quando estava internado. Pode funcionar aqui.

17h20. Tentei, tentei e não consegui de fato dormir. Vamos ao brainstorming.

Que lugar é esse em que eu preciso me encontrar para conseguir conquistar uma garota? Primeiramente eu tenho que gostar de mim, achar quem eu sou alguém interessante, se possível apaixonante ou apaixonável. Eu não posso me achar feio, tenho que me achar, no mínimo uma pessoa normal. Para isso, emagrecer é essencial. É tudo uma questão de autoestima, eu preciso elevar a minha autoestima, como, eu não sei. Emagrecer seria um enorme primeiro passo. Lembro que quando vi, depois de ter ganho meu peso de novo uma foto de mim doze quilos mais magro, me achei uma pessoa bem mais interessante. Preciso perder vinte quilos, preciso emagrecer até perder o bucho. Se para isso terei que passar fome à noite, que seja. Preciso começar a fazer marinheiros, para definir mais os meus braços e peitoral. Mas a preguiça é grande. A inércia é grande. Vou começar fazendo cinco. Agora. 17h36.

Pronto, fiz cinco. Amanhã tento fazer sete. E assim sucessivamente. Não vou caminhar, pois não gosto. Só me resta passar fome. Ou seja, passar alguns dias da semana à base do sanduíche que vou pedir para minha mãe fazer e deixar do lado de fora da cozinha. Vou falar para ela trancar a cozinha e fazer o sanduíche e vou fazer isso agora.

17h40. Combinei com ela para trancar e deixar o sanduíche. Ela topou. Agora a somaliana leve vai de fato começar. Almoçando dia sim, dia não e jantando apenas sanduíche, acho que consigo emagrecer. Foi assim que consegui da outra vez, talvez com um pouco mais de privação, não lembro. Mas acho que esse combinado está bom. Não sei se vou lembrar de fazer os marinheiros. Em verdade não queria fazê-los, mas vou tentar mesmo assim. Fiz mais dez agora. É um esforço chato, mas não é nada que não se possa fazer todos os dias. E, com meu peso diminuindo, vai ficando mais fácil. Emagrecer, entretanto, é uma mudança exterior e, segundo a psicóloga, eu preciso de uma mudança interior. Preciso aprender a ver as minhas qualidades. Que qualidades eu tenho? Sou bem articulado com as palavras, me expresso com clareza. Costumava ser bem-humorado e ter senso de humor. Podia-se até dizer que era brincalhão. Um pouco disso pode voltar. Não sei bem como. Primeiro, tenho que voltar a falar quando sair. Não ficar apenas escutando, sendo sujeito passivo. Tenho que ser mais ativo. Isso é um exercício. O pior que essa semana agora é carnaval e provavelmente não sairei para canto nenhuma. Gostaria de ver o Rec-Beat no Recife Antigo, mas isso só vai ser possível se meu primo for e acho que ele vai passar o carnaval inteiro em Olinda, dormindo lá. Não vai querer perder a fortuna que pagou para ter isso para se deslocar até o Rec-Beat. Preciso me conscientizar que não vou sair nesse carnaval. Esse meu plano de socialização ativa vai ter que ficar para o outro final de semana. Acho inclusive que vou para o CAPS na quinta, porque acho que já estarei saturado de ficar em casa. Então sair para qualquer lugar se fará urgentemente necessário. Seria tão bom que a tia da minha cunhada voltasse antes do carnaval, mas acho difícil. Voltasse e trouxesse os games para eu jogar durante o carnaval, digo. De repente, começo a jogar algum do meu PS3, em vez de só focar no Wii U. Argh! Não quero jogar nada, nem escrever nada agora. Vou tentar o cochilo de novo. Ainda não achei grandes resposta para os meus dilemas. Emagrecer é uma. Mas há muitas coisas internas para consertar. Volto a este brainstorming depois. Vou tentar um cochilo agora.

19h31. Acho que fui mais bem-sucedido agora em relação ao cochilo. Não lembro de quase nada desse tempo que passou. Acho que pensei/sonhei com o meu irmão. Acho que pensei/sonhei com o Wii U, mas não tenho certeza de nada disso.

Novamente estou achando o texto ridículo. Não gosto dessa nova tendência em mim. Não gosto de ficar achando o que escrevo ridículo. Não sei por que isso agora. Parece que é uma coisa subconsciente me impelindo a parar de escrever. Mas não vou parar, não. O subconsciente ou o superego que me perdoem. Então, eu em teoria iria buscar em mim, através de um brainstorming em que lugar eu preciso me colocar emocionalmente para conseguir uma namorada. Certamente não no lugar onde estou. Onde estou, não gosto de mim por dentro nem por fora. Como disse vou tentar o que dá para melhorar por fora que é perder peso. Preciso também aparar a barba que já está grande. Por dentro, acredito que com a perda de peso, haja um acréscimo de autoestima, mas eu preciso, além disso, me tornar mais sociável e me achar uma figura pertinente de ser desejada pela mulherada. Preciso também arrumar alguma confiança sexual e ver se os remédios que eu tomo inibem de alguma maneira a minha libido, posto que estou meio que desinteressado por sexo. Acho sexo uma coisa irrelevante. Não sei se ao entrar em um relacionamento e a troca de carícias for aumentando se não me animo para a coisa, mas não aconteceu isso direito nas duas ficadas que eu dei há algum tempo atrás. Eu meio que broxei nas duas tentativas. E fiquei sem fôlego na segunda, cansadão mesmo, no meio do ato, meus músculos ficaram exaustos pela falta de preparo físico. Eis aí um grande problema, pois não quero me condicionar fisicamente, o máximo que me permitirei fazer são os marinheiros – já tinha inclusive esquecido deles – e andar para os lugares que preciso andar, mas não ficar dando voltas na Praça. Ou sei lá, talvez minha cabeça mude e eu comece a andar na Praça. Seria uma boa mudança, racionalmente falando, mas não sinto o ímpeto interior de fazer isso. Vamos ver se consigo introjetar essa meta de andar na Praça ou até o Açude de Apipucos, o que acho mais aprazível, posto que há uma mudança de cenário e um destino, em vez de andar em círculos em meio a novos burgueses e velhos burgueses. A porta da cozinha já foi trancada. Agora só será reaberta amanhã. Minha mãe foi generosa e fez dois sanduíches de mortadela para mim. Só comerei quando estiver morto de fome, o que ainda não se dá pois acabei de tomar os remédios. Aos poucos o plano de emagrecer vai tomando corpo. Primeiro passo dado. Agora descobrir qualidades em mim. Vou fazer o brainstorming do que acho que gosto em mim. Me sinto até envergonhado com isso, como se fosse um tipo de vaidade ou de contar vantagem, sei lá. Mas vamos ver o que é que sai: gosto dos meus cabelos, embora estejam quebrados, gosto da minha pele, tenho as mãos macias, acho que sei dar carinho, acho que sei fazer sexo oral, não sou culto, mas também não sou um completo ignorante, tenho uma boa compleição física não estivera gordo, sou relativamente simpático, eu acho, sou bem articulado, gosto de escrever, não sou de guardar mágoas, não sou ciumento, sou compreensivo, sou capaz de escutar, consigo me colocar no lugar do outro na maioria das vezes, tenho um sorriso sincero, tenho senso de humor, mas estou meio enferrujado nesse aspecto, sou relativamente afinado por mais que as cordas vocais não sejam mais as mesmas, gosto de viver, gosto de repartir, não bebo álcool, sou uma pessoa relativamente simples, sem muitas frescuras, bem, só algumas, sou fiel... isso não está sendo um brainstorming porque tenho que pensar um bocado para achar qualidades, mas pelo menos estou achando algumas. Bem, vamos continuar a espremer essa laranja para ver se ainda há algum suco... tenho um grande coração, que já foi maior (e já foi menor também), gosto da companhia de pessoas queridas, para mim, o melhor lugar é onde os amigos estão (menos Olinda no carnaval, aí eu pulo), a criança ainda existe em mim, gosto de dançar música lenta, já plantei uma árvore e escrevi um livro infantil (só para a família), consigo amar depois que a paixão passa, desde que haja admiração, amizade e companheirismo na relação, era para eu estar usando ponto e vírgula para pontuar esses tópicos, mas agora que já comecei sem isso, vai ficar sem isso, sou sincero na maioria das vezes, se não for para ser sincero, então prefiro calar e isso é tudo que consigo pensar por ora. Saiu até um bocado de coisas. Agora que já cumpri essa que foi uma excruciante tarefa, vou assistir “The Walking Dead”. Depois ou amanhã, reviso e publico. Aliás, o que preciso mudar: ser mais extrovertido, como já fui, mais magro, como já fui, mais ativo nas conversas, como já fui, chegar para puxar papo com meninas que eu achar interessantes, mesmo que desconhecidas, o que nunca consegui fazer a contento, confiar no meu taco, assumir que posso ser uma pessoa interessante e atraente, me ver como um cara normal, não como um freak, me vestir melhor, de repente investir em algumas camisas de grife, embora ache que meninas que liguem para isso não combinem comigo então fico meio ambivalente sobre esse investimento, olhar mais nos olhos das pessoas, o que para mim é muito difícil, descobrir como ser charmoso, já que não sou bonito, embora ache que ser charmoso é um dom, não se aprende, fazer a barba com mais frequência, usar condicionador para deixar meus cabelos mais macios e sedosos, ter menos vergonha na cara e abordar as meninas com cortesia, mas abordá-las, parar com esse movimento de paixões platônicas, sair mais, me aculturar mais, está por dentro do que acontece no mundo para ter o que conversar, não ir abordar a menina já achando que vou levar um fora, ser mais autoconfiante, em uma palavra, aprender a gostar de mim com minhas imperfeições que são inúmeras, acreditar que tenho o mesmo tanto delas que qualquer ser humano, essa é a parte talvez mais difícil e, o que seria a culminância de tudo isso, me aceitar como sou, imperfeito, porém com qualidades, algumas delas raras e belas. Ver “The Walking Dead”. É o melhor que eu faço. Esse experimento me embaraçou profundamente. Quero ver quando relê-lo amanhã. O pior é que não quero ver seriado agora, acho que quero escrever mais. Mas já está com cinco páginas este texto. Mas o que é que tem isso? O blog é meu, eu escrevo o quanto eu quiser. Seria mais fácil escrever os meus defeitos, mas não me darei a isso. Já o faço nos demais posts. Vou pegar mais Coca-Cola. 22h04.

22h06. Já estou de olho nos sanduíches, mas a fome infernal ainda não me assolou. Estou com sono, na verdade. Meu cabelo já foi melhor, não sei porque há tantos cabelos não lisos na minha cabeça. Ou isso é coisa da minha cabeça. Acho que fico mais apresentável com os cabelos presos. Acho mais charmoso. Estou com vontade de fumar um cigarro de verdade. A parte que eu deixei do que acendi à tarde. Talvez fume depois. Agora uma vontade maior de assistir o seriado se faz presente, vou seguir o meu impulso.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

RIDÍCULO ISSO?

Ridículo isso que eu escrevo? Assim seja. E assim será. Que se dane. É minha ocupação libertadora e permanecerá sendo enquanto palavras houver em mim.


Me peguei pensando sobre a (falta de) pertinência de escrever este blog. Me peguei achando tudo isso muito ridículo, mas o problema é que amo muito tudo isso. E que se vierem críticas (que não vêm porque ninguém lê), que venham. Não posso é deixar minha autocrítica, esse meu superego carrasco me impedir de fazer o que tenho por vocação e prazer. Não posso dizer dom, pois dom o tinham os grandes. Machado de Assis, Dostoievski e Montaigne, que são quem eu posso citar, pois li algo deles. Adriana Falcão também. Não tenho esse dom incomum e raro de transformar as palavras em arte, mas não devo recuar por causa disso. Não busco entrar para os anais da Literatura aqui, busco apenas aliviar o peso da alma sobre os meus ossos. Busco preencher o vazio impreenchível de ser. Mesmo que por alguns instantes, alguns minutos ou horas. É mais do que muita gente tem. Todos deveriam ir ao psicólogo e todos deveriam ter um blog, mesmo que secreto. Este é público, mas há opção de um blog fechado só para os editores e, sendo você o único editor, somente você pode ler. Mas, mais do que ler, o que me agrada é pôr para fora. Em não pensar muito, não censurar muito, deixar o pensamento me levar por quaisquer caminhos que ele julgue pertinentes, por mais impertinentes que às vezes pareçam para mim. Eu tenho um blog secreto também, para as maçãs mais podres que o meu bom senso insiste que eu não reparta aqui. E tenho outro ainda, sobre bonecos de colecionador, uma das minhas manias que virou passado, como o blog que há muito tempo não visito e despejo lá algum pensamento polêmico. Tal foi meu desapego do assunto, que vivi intensamente por cerca de um ano, que não consigo achar assunto, mesmo acompanhando, meio que à distância o mundo dos bonecos. Mas não quero falar de bonecos. Basta dizer que tenho mais bonecos do que preciso e que me desfiz de bonecos que gostava bastante para financiar outros que não me aprazem tanto. Foi uma grande burrada, mas vivendo e aprendendo. De toda sorte, parei de colecioná-los, visto que são muito caros – e cada vez mais caros – e não tinha de onde tirar dinheiro para financiar meu hobby. Usei o dinheiro que tinha guardado para um boneco e me dei um videogame, o tão falado aqui Wii U. Que nem tenho jogado muito porque parece que também aos poucos me desapaixono deste outro hobby. Ou porque só tenha quatro jogos desse console. Um dos quais não me apeteceu nem um pouco, enquanto os outros... bem, ultimamente prefiro escrever e ver séries de TV. Estou nessa fase. E novos jogos, que comprei com o dinheiro do boneco que iria comprar, estão teoricamente chegando com a tia da minha cunhada. Comprei-os baratinhos no eBay. Depois de muita pesquisa e de uma boa dose de paciência para esperar uma oferta boa surgir. Mas não queria falar de temas tão rasteiros, embora não queira restringir o fluxo de pensamentos que agora me ocorrem. Fato é que, com o valor de uma boneca, fui capaz de comprar o videogame e uma boa seleção de jogos. E videogame não é uma coisa barata, para você ver como o negócio de adquirir bonecos de colecionador é uma coisa cara. Tô fora. Para ser sincero talvez ainda compre mais um para gastar os meu reward points. Mas aqui e desde que comecei a falar do Wii U que estou me repetindo. Espero que esses reward points não tenham prazo de validade, pois quero esperar um boneco que realmente me agrade para valer o investimento. Comprar bonecos para revender é uma faca de dois gumes e geralmente me dou mal nisso. Acho que vou começar o ritual televisivo com uma partida de Mario Kart e depois recomeçar “The Walking Dead”. Qualquer coisa, quando bater na cabeça, venho procurar abrigo aqui. Pegar uma Coca para iniciar os trabalhos.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

COMEÇANDO DO CAPS


Ouvindo "My Iron Lung" e lembrando que já começo a sentir dificuldade em respirar devido ao fumo tanto normal quanto eletrônico. Pode ser também o excesso de peso e a falta de condicionamento aeróbico. Quem me dera fosse um desses dois últimos fatores, visto que mais facilmente solucionáveis. Agora mesmo, sinto dificuldade em respirar. Isso deveria ser mais preocupante do que a forma desleixada e irresponsável com que lido com a questão, apenas aceitando a situação e continuando com os maus hábitos. Mas é meu jeito de ser. Infelizmente, se continuar nessa passada, não haverá tempo para a medicina evoluir e sanar o meu problema, perecerei antes.

11:04. X veio hoje!

12:33. Conversei um tiquinho com ela sobre "Black Mirror". Descobri que ela gosta de Motorhead. Infelizmente tive que ir para o grupo AD, mas ela me garantiu que ficaria aqui após o grupo. E de fato está almoçando numa mesa bem distante de onde estou. Não sei se ela vai conversar mais comigo hoje. Acho que não. Espero não tê-la ofendida com a supersimplificação do seu futuro trabalho. Ao menos disse que era uma escolha nobre. O café está com um gosto estranho. Ela está ali ao lado falando com as outras psicólogas. Foi deixar o prato na cozinha. Agora não sei onde está. Espero tanto que venha ter comigo. Mas começo a achar improvável. Bom estou na minha ilhazinha particular de Blogger e iPod esperando ela aportar. Esperarei até o começo da atividade da tarde. Se não vier quando esta começar, vou embora. Um tanto contrariado, diga-se de passagem.

13:05. Acho que ela não vem. Estou aqui na ilha até o momento que me propus. Apareceu uma mensagem da empregada que foi do meu falecido pai me pedindo quatro mil reais emprestado. Como se eu tivesse esse dinheiro.

13:16. Meu amigo de grupo veio aqui pra perto. Vou conversar com ele. Respondi à empregada que não tinha a grana e perguntei se ela já tinha gastado a metade da minha herança que dei a ela.

13:40. Aparentemente o grupo vai começar. Está chegando a hora de partir. Meu amigo parece que foi para o grupo, não sei. Acho melhor eu ir pra casa. Olhei de modo muito ostensivo pra X, acho que ela ficou incomodada. Eu sou um vacilão mesmo. Ela está aqui ao lado escrevendo em algum prontuário. Sentou-se de costas para mim. Não sei se vou ou se fico. Estou me sentindo constrangido e constrangendo. É melhor partir. Um cara, aparentemente psicólogo, que sempre está perto dela, sentou-se à sua mesa. O melhor a fazer é partir. Sinto que estou fazendo papel de palhaço. Sei que me sinto desconfortável, isso é um indicador biológico muito forte de que devo partir. Não sei se fale algo com ela antes de ir. Acho que sim.

15h27. Acabo de voltar dos Correios. A encomenda que havia enviado foi entregue na minha casa em vez de na casa do destinatário. Tive que ir resolver isso. Ainda bem que foi tudo muito tranquilo e espero que agora siga para o endereço correto. Minha mãe relutou muito para me dar o cartão de crédito e o dinheiro para os possíveis reenvio e reembrulho da encomenda. Sorte que nada disso foi necessário. Minha mãe estava com medo que eu comprasse cola, como da última vez, a da quase-recaída. Não aconteceu. Dos Correios nem titubeei e peguei o caminho voltando para ainda passar no supermercado e fazer umas compras que ela me ligou no caminho pedindo.

Sobre falar com X. Falei com ela me despedindo e perguntando se a gente se veria na quarta. Ela realmente não sente nada por mim. Pude perceber pelo tom de suas respostas. Isso está me doendo. Mais roedeira. Mas já era o que esperava. Não sei nem se ela virá falar comigo na quarta... também nem sei se há mais o que ser falado entre nós. Do meu lado eu poderia admitir que ela é a pessoa com quem mais tenho intimidade na vida hoje em dia. E falaria da história da encomenda. Disso certamente eu falaria, do negócio da intimidade, eu tenho as minhas dúvidas. Quem me dera tivesse coragem de dizer a ela para visitar o Jornal do Profeta e procurar pelo marcador “X”. Acabei de colocá-lo em todos os posts em que há menção a ela. Assim, escancararia logo o jogo. E acabaria de vez com a nossa interação. Estou meio cansado de paixões platônicas, sabe? Quis acreditar que com X seria diferente. Que, enfim, havia encontrado reciprocidade, mas descobri que não. Que tudo não passa de outra farsa da minha mente. E isso é dolorido constatar.

Hoje na atividade de colagem, houve uma pré-atividade sugerida que não sabia direito como proceder, pois cheguei atrasado achando que o meu grupo – o AD – era o primeiro do dia e perdi a explicação. Nessa pré-atividade, me foi entregue um papel com uma árvore impressa e um lápis. Pelo posicionamento da árvore, deu-me a entender que era para que eu desenhasse como seriam as raízes dessa árvore e pelo que sentia e percebia da minha vida resolvi fazer a raiz assim:





Coloquei como texto explicativo (quando a apresentação das produções começou descobri que podia se escrever sobre a árvore) e coloquei “Árvore-tubérculo – Não tem raízes rizomáticas. A parte mais importante da árvore está enterrada, como uma cenoura, embora todas as partes sejam importantes para a árvore-tubérculo, como em todas as plantas, que são um design otimizado da natureza visando a vida, a sobrevivência.”

Antes disso porém fiz a atividade de colagem que estava sendo proposta quando entrei na sala: escolher duas ou três figuras e montar um cartão ou relacionado com a árvore – que ainda não tinha recebido ou feito – ou sobre o que estava sentindo. Escolhi as três figuras, uma só para preencher o fundo do cartão, um sapo e uma pintura de um rosto que não me pareceu jovem. Eis o resultado:



 Sobre o cartão escrevi: “Sapo sem princesa com a cabeça submersa na sua lagoazinha. Como poderá ser beijado nessa posição? Para que ser beijado se o príncipe dentro do sapo é velho e estranho? Que princesa irá querê-lo? A esperança há, entretanto, mas é preciso tirar a cabeça de dentro da água (onde tudo é conhecido, calmo, confortável) e aceitar a condição do príncipe e descobrir nele os seus encantos pouco convencionais, mas encantos de qualquer forma.”

Acharam a imagem forte e disseram que a minha produção de colagens sugeria uma continuidade e que eu as revisse e procurasse pontos em comum. As outras colagens estão aqui do meu lado, em cima da impressora/escâner. Percebo que eles têm em comum as relações sociais seja em grupo seja a dois e sugerem problemas como isolamento ou dificuldades de relacionamento seja no campo social ou no afetivo. Pronto, posso trazer já uma resposta para as psicólogas do grupo no nosso próximo encontro. E não, não vou botar os outros três cartões aqui, pois estou com preguiça de escaneá-los, calibrar as cores, redimensioná-los e salvá-los como jpg para que caibam no blog. Tenho menos disposição ainda para digitar o que escrevi a respeito deles, o que, sinceramente não faço a mínima ideia do que foi.

Aos poucos consigo me acostumar com a ideia de ideia sem acento agudo no “e”, o que para mim é uma aberração linguística, um empobrecimento tremendo da língua. Mas a norma culta é essa idiotia agora e eu é que não vou lutar contra o Word.

Mas minha vida, tirando o CAPS, onde pego os psicólogos para soltar o verbo, é muito calada, só falo através dos dedos nesse blog que ninguém lê. E aí, meu senhor, eu falo escrevendo para caramba. Muito mais do que é sugerido para que um blog seja legível ou acessado por muitos. Pouco se me dá. Minha voz interior necessita desse espaço como o corpo necessita de ar. Então que as palavras venham e que me permitam uma vez ou outra um mergulho mais profundo nas águas turvas do meu ser e estar no mundo. Ando meio que deslocado do mundo, do mundo dos outros, criei uma ilha no meio disso tudo que é o meu quarto, transformei-o no meu castelo e aqui me encastelo todos os dias, principalmente para escrever. Preciso jogar mais Mario Kart. Pelo menos zerar todas as pistas com três estrelas em 100cc. Acho que tenho que remodelar meu kart, pois está com pouca aderência nas curvas. E sua velocidade máxima também deixa a desejar. Prefiro velocidade máxima a muita aceleração, embora esta seja uma estratégia talvez errônea para cilindradas mais elevadas, com oponentes mais inteligentes e, por isso, mais sacanas, que me atacam mais com os power ups espalhados na pista, dificultando assim que eu retome a velocidade máxima que é o diferencial do meu veículo. Mas escrevo isso pensando no desprezo de X. Desprezado pelos meus dois amores platônicos em menos de três dias. Que peninha de mim. Não vou me fazer de coitado, sou eu quem busca essas quimeras para depois me magoar quando a vida me mostra que luto contra moinhos de vento. Mas como Dom Quixote não consigo deixar de ser um sonhador e não tenho culpa se tais amores irrompem do meu coração. Não os escolho. Aliás seria muito bom se escolhêssemos quem amar. Comigo, ao menos, não funciona assim. Sempre foi obra de um misterioso acaso o surgimento de novas paixões. O chato é que não sei fazê-las morrer. O máximo que consigo é escondê-las, com o tempo, nalguma gaveta da memória, mas, ao menor estímulo, elas ressurgem com força total. É uma droga isso. As paixões vividas, essas não me assombram, é como se o amor tivesse completado o seu ciclo, crescido, vivido e morrido. Mas com os amores platônicos isso não ocorre posto que nunca se materializam. Se bem que consegui me livrar de uma paixão platônica depois de mais de uma década de sofrimento. Mas só me livrei porque outra paixão platônica ainda mais forte se impôs, substituindo-a. Aí agora veio X que continua me parecendo uma possibilidade real, apesar de todo o desdém com que falou comigo hoje. Com ela, o sentimento de possibilidade me parece real, não sei por quê. Claro que depois do fim do estágio dela, para quem está há quase uma década, senão uma década já, sozinho, alguns meses não fazem a mínima diferença. Mas, infelizmente, hoje tive a confirmação de que o meu radar está descalibrado, que não existe traço de afeto nela em relação a mim. É frustrante e eu não sei mais para onde correr. Nem Mahele estava nos Correios hoje. Ela que era o meu plano F. F de fodeu tudo ou de fim da linha. Muito embora ela seja uma mulher muito interessante, mas sei que vou levar um fora. Com ela, eu não guardo nenhuma esperança de concretização, acho inclusive que seja comprometida com alguém. O que X também pode ser, não sei. Isso nem me passou pela cabeça, ela simplesmente me parece solteira ou deixou subentendido isso, ou eu entendi dessa forma suas entrelinhas. Mas eu entendi tudo errado a respeito dela, devo admitir. Embora ache que nossos universos culturais se somem e que há intersecções entre eles. Acho que combinamos em muitos aspectos, talvez por isso a falsa percepção de reciprocidade. Ou da possibilidade de reciprocidade. Fato é que não tenho nem mais assunto para conversar com ela. Gostaria de saber se ela mora perto ou distante de mim. Gostaria de contar da minha desventura da encomenda e das reações da minha mãe à minha ida aos Correios. Gostaria de tirar um cochilo e acho que é o que vou fazer. Para talvez depois encarar uns episódios  de “The Walking Dead”. Está me dando o início daquela sensação ruim de tremor que só passa se eu comer. Mas não vou comer. Vou dormir que ela passa durante o sono. Vou ligar o ar. Eu almocei, não tem por que eu estar sentindo isso agora. Não sei se o “por que” da oração anterior é separado mesmo, foi na intuição. Vou comer pelo menos um pouco de farinha láctea.

17h50. Comi para caramba agora: farinha láctea, sucrilhos (puro), um pedaço de queijo coalho assado, macarrão e paçoca. A tremedeira passou e eu comeria mais, mas me contive, afinal ainda tem a larica da noite. Vou dormir um pouco agora.

Hoje é aniversário do meu cunhado. Mandei os parabéns para ele. Pelo WhatsApp. O Facebook me avisou. As redes sociais, têm, enfim uma finalidade. 17h56. Hora da caminha.

19h56. Exatamente duas horas depois da última postagem, que coincidência, sento-me aqui para dizer que fiquei deitado duas horas sem conseguir dormir, se muito tirei microcochilos. Vou começar “Walking Dead” depois de um pouco de Wii U. E acho que não vou mostrar o Jornal do Profeta a X. Vai que ela acha “over” demais. Deixa para lá. Não quero assustar ninguém com as minhas neuroses do absurdo.

22h02. Joguei um Grand Prix de Mario Kart e me ferrei bonito. Fiquei em primeiro lugar, mas lambeei nas duas últimas corridas (de quatro), ficando em segundo e quarto lugares, respectivamente. Depois joguei o Zeldinha, mas nem cheguei no mestre do dungeon. Preciso encher as garrafas com life para poder sobreviver ao mestre e conseguir chegar lá com o sangue que tenho, ou seja, sem usar nenhuma das garrafas no meio do caminho. Não é impossível. Mas para conseguir as garrafas vou ter sair do templo e fazer uma longa jornada à procura do vendedor de life, que não me lembro mais onde fica. Vai ser um saco. Mas tenho que fazê-lo. Devia ter feito antes de chegar ao dungeon. Assisti o primeiro episódio de “The Walking Dead”, vou partir para o segundo. Minha mãe por precaução escondeu as chaves da casa hoje e provavelmente vai acordar para vir me pastorar. Tudo isso porque não confia que eu não comprei uma lata de cola quando fui nos Correios (como fiz da última vez). Entendo o lado dela, mas ficarei sem o meu cigarro da noite hoje. Vou ter que me contentar com o Vaporfi. Estou entrando na terceira semana com o mesmo filtro (atomizer) do cigarro eletrônico o que é incrível, nenhum durou tanto e tenho usado bastante. Bom, muito bom. Será que X ficaria muito chocada ao ler esses textos em que falo dela? Melhor não arriscar. Se ela perguntar, aí não negarei a informação, mas acho que chegou o momento em que gradativamente vamos nos distanciar. É o que pressinto. E acredito que é o que constatarei na quarta. Não houve o mesmo tipo de “transferência” dela para comigo. Sou apenas um usuário que comunga de hábitos culturais e valores sentimentais semelhantes aos dela (o que para mim já é muita coisa em comum). No máximo isso. E só isso. Acho que não irei nem procurá-la na quarta. A cumprimentarei com a alegria de sempre, por mais que esta alegria esteja embotada pela melancolia da constatação do impossível. Vi uma menina bastante apetitosa no Sai Dessa Noia, mas sua roupa era de tal forma vulgar e revelava tanto do seu corpo que, por mais que não deixasse de olhar, nunca a abordaria, até porque era aparentemente bem mais jovem que eu e estava acompanhada. Mas mesmo que não houvesse tais empecilhos, sabia que ali não havia ponto em comum algum comigo. Mas a danadinha gostava de ser observada, por isso as roupas, creio eu, e percebeu que o estava sendo por mim e isso a fazia olhar com fugidia empatia pro meu lado. Até que deixei para lá. Acho que meu destino é virar um ermitão urbanoide mesmo. Acho que consigo viver assim. E deposta X pela dureza e crueza da realidade, resta-me ainda a paixão platônica maior para ocupar a minha cabeça e os meus sentimentos no meu poço de solidão. Ou a magia vai acontecer onde eu menos esperar. Se tivesse a cara de pau, que não tenho, já mencionei isso em outro post, pediria um abraço a X, para ver se a gente se encaixa. Mas diante dos fatos nunca pedirei isso. Meu carnaval promete ser uma grande morgação. Talvez o use para digitar o diário, mas ele está tão repetitivo, pois está na parte em que estou obcecado pela cola que é entediante transcrevê-lo, que dirá lê-lo. Bom, vamos ver se consigo get hooked por “The Walking Dead”. Mas antes encher o copo de Coca.

2h02. Assisti até o começo do sexto episódio da primeira temporada de “The Walking Dead”.  Está muito mais tarde do que pensava. Vou tomar meu último copo de Coca para dormir. Mas até agora não chega aos pés de “Black Mirror”. Ou de “Breaking Bad” for that matter.

2h06. Não vou revisar isso agora, quando acordar releio com a cuca fresca e publico. Um lado bom dessa política antitabagista nos seriados é que ninguém fuma, então não me dá vontade de fumar. Assisti os episódios e quase não usei o Vaporfi. Agora estou com um déficit de nicotina no sangue e baforando sem parar. Estou com sono. Acordei cedo hoje e o meu cochilo de final de tarde não serviu como repositor, pois permaneci o tempo quase todo desperto, apenas deitado de olhos fechados, o que foi relaxante, é óbvio, mas não conta como sono.

14h54. Acordei há mais ou menos uma hora, almocei e já penso em dormir de novo. Não estou ainda muito empolgado com “The Walking Dead”. Se minha mãe fosse tirar um cochilo, eu também iria, pois, se for dormir agora e ela vier aqui e me pegar deitado vai me dar esporro. Não tem nada que queira fazer... ainda. Acho estou no processo de acordar, talvez daqui a meia-hora já esteja disposto a assistir o seriado.

15h26. De repente olhei para essa tela com este texto e achei tudo isso ridículo. Escrever a minha vida. Muito ridículo. Mas não posso abandonar meu grande alento. E tenho o grande alento de que ninguém lê. Acho que dormir demais serve como um depressor para mim. Não acordo muito bem comigo ou com o mundo. Para você ver uma coisa, nem estou sentindo nada por X agora. Isso é bem estranho. Estou estranho. Minha vontade é dormir de novo. Joguei um pouco o Zelda antes de vir aqui escrever e consegui pegar a “Moon Pearl”, mas não consegui matar o mestre do dungeon. Depois de três ou quatro tentativas frustradas eu vim para cá, quando olhei para tela e achei ridículo esse amontoado de palavras. E mais ridículo ainda o meu ímpeto anterior de mostrar a X. Tudo na minha vida parece ridículo agora. Espero que isso seja passageiro. Quero voltar a achar a minha vida válida. É a única que tenho. Os blogs são as coisas mais importantes que produzo. Não posso me desapaixonar das palavras. O vazio seria grande demais e não saberia com o que preenchê-lo. Certamente o preencheria fazendo alguma besteira. E não quero isso. O melhor a fazer agora é dormir. Talvez acorde melhor.

16h16. Não dormi. Reli e consertei o que vi de errado no texto. Erros devem ter passado, pois li sem muita atenção ou paciência. Tenho medo que X leia isso e me tenha por algum tipo de maníaco. Mas que apaixonado não tem um pouco de mania no seu pensar e sentir? Há uma certa fixação pelo objeto da paixão inerente ao sentimento. Deixa para lá, ela não vai ler mesmo. Não estou achando mais tão ridículo o texto porque não está tão mal escrito, mas me parece um grande despropósito. Não consigo gostar dele e, por extrapolação de nenhum outro. Acho que vou dormir mais um pouco. Mas antes, um último copo de Coca Zero.

16h29. Uma Danielle me ligou me oferecendo um cartão de crédito internacional. Recusei, como minha mãe havia me instruído. Até porque como curatelado eu não posso ter cartão de crédito. Eu acho. O que meu blog tem de tão repugnante assim? De tão aberrante assim? Só se for o fato de não produzir dividendos para mim. Mas é uma ocupação válida como qualquer outra. Não contribui muito para o nosso belo quadro social, mas em que a Publicidade que eu fazia contribuía? De fato, ajudava a manter alguns empregos em algumas empresas, ajudava tais empresas a aumentarem marginalmente seus lucros e só. Empregos, trabalhos, são ilusões criadas, conceitos criados por nossa ordem social monetizada. Pelo menos eu sou feliz com a minha ocupação que nada de novo, ou interessante ou útil traz ao mundo a não ser a minha satisfação. Ter satisfação no que se faz é o sonho de um grande número de pessoas. Que talvez preferissem ganhar menos, mas serem felizes no que fazem. Mas novamente numa ordem social onde o status monetário é tão glorificado, fica difícil para tais pessoas fazerem essa mudança, esse downgrade financeiro em troca de bem-estar no trabalho. Alguns poucos corajosos se arriscam. E geralmente não se arrependem. Eu, graças a sei lá o quê, tenho a minha pensão e posso fazer uma das coisas que me mais amo: escrever. Gostaria até de adicionar esta atividade ao meu perfil, mas não sei como alterá-lo.

16h59. Consegui alterar meu perfil! Agora as 10 coisas de que eu gosto refletem mais o meu estado atual. Por mais que goste de outono, não queria viajar esse ano. Acho que vou dormir.

17h05. Vou publicar logo isso, já está muito grande. Se quiser escrever mais, começo outro.

P.S.: hoje não sinto a falta de ar que sentia ontem. Ainda bem!

domingo, 19 de fevereiro de 2017

VERGONHA

Que vergonha do post que publiquei ontem, cheio de erros. Acho que foi o cansaço. Perdoem-me os leitores. E agora vergonha de ir à Vila Edna a qual estava tão empolgado de ir ontem. Maldito sono que sempre opera essas mudanças de ímpeto em mim. Também minha mãe descansa e só posso sair com o seu consentimento. Essa é uma boa e verdadeira desculpa. Vamos ver, se ela acordar antes das 16h30, eu peço para ir. Depois disso é tarde demais. Me prometi digitar o diário hoje. Se não for à Vila Edna é o que farei. E começar a assistir “Walking Dead”. Estou num marasmo tremendo hoje. Dormi umas boas 12 horas e isso já é o bastante para me deixar numa rotação mais lenta. Tenho vontade de dormir mais, mas não cederei a esta vontade. Só me trará prejuízo. Espero que a Coca-Cola me estimule, por sinal vou encher outro copo. 15h48.

15h59. Falei com mamãe, aliás, ela falou comigo primeiro pedindo para eu guardar os pratos da lava-louças. Pedi para ir à Vila Edna, disse que tinha visto a filha do meu amigo lá e ela titubeante meio que consentiu. É o horário ideal para ir. Preciso reunir forças para esta missão.

16h03. Estou num vou, não vou danado aqui. Minha vontade maior é ficar aqui. Mas é uma boa oportunidade de socialização, talvez até melhor do que o bloco, pois não tem barulho, fuzarca e cada um está mais focado no outro. É esse um focado no outro que me assusta. Mas sei que o medo é passageiro. Uma vez que estiver lá, acredito que vá me soltar mais.

16h09. Fui olhar pela varanda uma vez mais e não vi ninguém, mas tenho quase certeza que ouvi vozes. Eles estão lá, eu vi a filha do meu amigo. Eles estão lá e ficam até umas 18h, 18h30. Não muito mais que isso. Se for, preciso agir rápido.

16h16. Vou pedir a mamãe o consentimento definitivo.

19h22. Acabo de voltar da Vila Edna. Foi muito bom estar lá, por mais que tenha sido 99% do tempo como ouvinte. Tive uma conversa breve, mas profunda com Kilma sobre noias e sobre como enfrentá-las, ou melhor, como conviver com elas e ela mencionou uma frase de Lacan que queria recordar, mas não decorei, mas que diz mais ou menos que eu não me enxergo em mim, eu me vejo em você, no outro. Algo assim. Entendo vagamente o que isso significa, mas gostaria de conversar com a psicóloga do CAPS que é lacaniana, se não me engano – sim, minha memória está uma porcaria – sobre o significado dessa colocação. Eu estou me sentindo meio burro ultimamente, há certas colocações que não consigo apreender completamente. A outra vez que senti isso foi ontem quando um conhecido falava de relatividade na Física. Eu entendi, mas não compreendi realmente o que ele disse, da mesma forma que agora há pouco com Kilma e sua frase de Lacan. Talvez não tenha entendido essa última porque não acredite realmente nela, acredito que um processo de autodescoberta pode ser feito através da introspecção e do autoquestionamento. É claro que me enxergar no outro – e mais especificamente o que me desagrada – é uma experiência que abre as portas da autopercepção, muitas vezes de forma desagradável. Pelo menos no meu caso, que não gosto de mim. Se bem que gosto de mim mais calado do que falador, como costumava ser, pois assim falo menos besteiras. E, embora falar sobre mim para os psicólogos do CAPS seja bastante divertido, é muito interessante ouvir o outro. Eu aprendo. Por mais que esqueça depois. Mas é uma troca muito rica. Em que quem sai ganhando sou eu, o ouvinte. Obviamente há ganhos para o orador, visto que todos querem ser ouvidos, todos necessitam de atenção. Como satisfaço minha necessidade de atenção no CAPS, posso ser todo ouvidos nas demais ocasiões. Acho que é isso que procede comigo ultimamente. Ou melhor há algum tempo já. Mas tem se intensificado de uma forma quase patológica e é isso que venho tentando combater. O problema é que não tenho muito sobre o que conversar, já que a maior parte do tempo falo ou escrevo sobre mim e isso não é um assunto que eu vá trazer à baila numa roda de conversa. Do mais, pouco sei. Sei agora de Black Mirror, o que aumentou meu repertório consideravelmente. Para se ter ideia de como estava escasso. Preciso cantar mais, para ver se volto a ser mais afinadinho como costumava ser. Sim, era uma das qualidades que eu tinha, eu era relativamente bem afinado. Se bem que hoje nem me lembro mais as letras completas das músicas, minha memória vive a me pregar peças. E minha dicção anda péssima, acho que porque meus dentes saíram gradativamente de lugar e porque tenho falado pouco também, acho eu. Mas principalmente por causa dos dentes. Porém não tenho intuito de usar aparelho de novo. Já estou meio velho para isso. Há uma garota linda e inteligente que trabalha nos Correios de Casa Amarela. Ela não parece ser casada. Mas não tenho certeza. Olhei para a sua mão a procura de uma aliança e, pelo que me lembro, não havia nenhuma. Tenho quase certeza disso. Mas não tenho cem por cento de certeza. Como já, disse, minha memória. Mas, quando o sonho X for destruído, pode ser que arrume coragem para convidar essa moça dos Correios – Mahele, se não me engano – para tomar um café na Praça depois do expediente para descobrirmos se temos algo em comum. Claro que isso é outro autoengano. Não terei nunca coragem de fazer isso. Ou sei lá, sem mais ilusões às quais me agarrar, possa ser que eu faça tal proposta. Mas duvido. E X tem muito mais a ver comigo. Culturalmente falando. O trabalho que ela quer fazer com pacientes com câncer me parece supernobre. São pessoas com problemas graves de fato, talvez preparando-se para a morte. E seu trabalho seria ajudá-los nessa preparação. Não sei se isso é uma simplificação exagerada do emprego dos seus sonhos, mas me parece que em essência seria isso. Vou até perguntar a ela se ela resolver reaparecer no CAPS. Na quarta ainda. Puxa, vai ser uma espera longa. Estou acostumado a duas doses de X por semana. A ausência dela na sexta-feira me quebrou na emenda. Voltando à Vila Edna, fui convocado a reaparecer lá, o que é um prazer, por mais que não fale muito, pelo menos estou lá com pessoas amadas. Acho que vou digitar o diário. Olhei pro Wii U e pensei em jogar Mario Kart, mas vou digitar mesmo. Depois talvez volte aqui. 20h22.

21h02. Minha mãe chegou de sua ida ao shopping. Resolvi parar de digitar o diário porque ela pode achar que há alguma correlação entre este afazer e a minha quase-recaída. Não quero que ela fique com minhocas na cabeça, então parei. Acho que vou jogar um Mario Kart.  Quando ela for dormir, o que não deve tardar, volto a digitar o diário.

22h34. Digitei mais um dia completo do diário. Acho que por estar tratando com o momento em que estava ainda fissurado pela cola, isso me afete negativamente, me dando um pouco de fissura. Quero ver quando chegar o momento do uso lá dentro do Manicômio. Espero me segurar. Agora recair por causa disso é burrice. E não é impossível. Acredito até que esse diário tenha sido o principal motivador da minha quase-recaída. Esqueci de mencionar isso no CAPS, talvez o faça amanhã. Por mais que esteja mais seguro agora do que antes. É bom não brincar. Não dar uma de Ícaro.


22h51. Fumei um cigarro de verdade e coloquei o meu último copo de Coca da noite. Estou meio sonolento, afinal é enfadonho digitar o diário, e vou aproveitar que estou assim e ir dormir, embora o cigarro tenha roubado minha sonolência. Mesmo assim, vou tentar me deitar.