segunda-feira, 19 de junho de 2017

EFEITO CAPS?

A palavra para o dia de hoje é tédio. Meu primo-irmão foi para Caruaru e me sinto inseguro para ir encontrar com a turma, mais dele do que minha, sem a sua presença, então provavelmente permanecerei em casa. Não sei. Posso ser tomado por um ímpeto de sociabilidade e sair. Hoje daria para ir para piscina escrever. Está em tempo. 17h55. Mas não estou realmente com disposição para ir. Essa indisposição é algo recorrente não só neste blog, mas na minha vida. Arrumei uma desculpa. Tem pouco gelo. Não dá para levar para a piscina e ainda sobrar para o resto da noite. Estou começando a ter vergonha de dar os CDs de Mallu para as minhas amigas psicólogas. Não sei bem por quê. Temo que não gostem ou achem o CD bobo. Mas isso não é motivo. É um presente dado de coração. Acho que é o que importa. Estou chegando ao ápice do meu quadro antissocial. Isso me preocupa. O que acontece a partir daqui? Não saio mais do quarto a não ser para o CAPS? Eu tenho uma teoria de que o CAPS, por ser um local tão protegido e acolhedor, onde podemos mostrar nossos defeitos e sermos aceitos, nos torna dependentes desse ambiente e nos desacostuma a vida como ela é. Nos desacostuma às interações sociais normais e cheias de arestas e pontas do mundão. Vejo esse padrão se repetindo lá dentro. Pode ser impressão, mas já ouvi em mais de um momento depoimentos semelhantes, que o mundo externo é demais para lidar e que só se sente bem no CAPS. Não sei se estou sobre este mesmo efeito, mas não acho improvável. E isso não vem de agora, digitando os cadernos, percebi que isso remonta a antes da minha internação. Já estou no CAPS há mais de dois anos eu creio. Tenho quase certeza que esse é meu terceiro ano lá, no mínimo. Não tenho certeza, entretanto desse “efeito CAPS”, que é inverso à proposta do espaço que tem como objetivo ressocializar as pessoas e ajudá-las a lidar com as vicissitudes de suas vidas e do mundão. Não digo que todos são assolados pelo “efeito CAPS”, senão não haveria rotatividade no serviço, sei de uma que já está prestes a deixar o CAPS, está na etapa final do tratamento. Pois há um ciclo de cerca de nove meses, em teoria, para o tratamento. Com três etapas se não me engano. Não me lembro quais, mas já soube um dia. Por que ainda estou lá após todos esses anos, então? Primeiro e principalmente porque minha mãe vê como a minha ocupação, o meu “trabalho”; ela não consegue aceitar que eu leve uma vida sem compromissos. Segundo porque acho que estou institucionalizado mesmo. Criei um vínculo de dependência com o CAPS. Temo que sem as minhas idas, dia sim, dia não, minha rotina se tornasse excessivamente vazia e o tédio me levasse a uma recaída. Mas o motivo principal é que minha mãe não pode conceber minha vida livre de toda e qualquer obrigação. E ela não acharia uma troca “justa” eu deixar o CAPS e ingressar numa terapia. Seria muito pouco para a minha ela. Acho que, por minha mãe, eu frequentarei o CAPS até o final da minha vida. E é assim que a vida se me afigura também. Não sei se isso é um problema ou apenas um modo de estar no mundo. Sui generis, eu sei, mas o modo que agora me aparece como o mais confortável e agradável. Mal não me faz, então sigo seguindo assim. Mas cada vez mais distante de todo o resto, cada vez mais ilhado no meu quarto-ilha, cada vez mais ancorado nessas palavras. E alheio ao mundo. Não posso colocar a culpa no CAPS, mas preciso investigar as causas disso. Talvez no próprio CAPS. Penso até em imprimir esse post e entregá-lo a alguma das psicólogas. Eu não me sinto parte da turma o suficiente para fazer outro convite depois do fiasco que foi ontem. Em verdade eu não me sinto verdadeiramente pertencente a turma nenhuma, eu vou de arrego nas turmas dos meus dois primos. Tenho apenas como turma mesmo as minhas amigas psicólogas, a Gatinha e meu amigo da piscina. Mas o meu melhor amigo mesmo é o meu notebook. Não sei como será na Alemanha se não puder levá-lo devido a essa crise por causa de uma bomba num laptop. Minha irmã não sabe dizer se poderei levar ou não. E o computador da casa fica no quarto onde mamãe dormirá. Só me restará, então, digitar no celular, enquanto estiver dentro da casa dela. Pois é onde tenho rede. 19h20. Já? Isso me deprime um pouco, queria que fosse mais cedo. Vou pegar um copo de Coca.

19h25. Dei a parada para a Coca, pois acho que a parte relevante ao CAPS já foi. Nada mais tenho a acrescentar ao assunto, eu creio. Minha vontade é ver “John Wick: Chapter 2” novamente, mas vou digitar um pouco o caderno do internamento agora. 19h26.

21h33. Digitei dois dias do caderno até as minhas costas chiarem e a minha paciência se esgotar. Pelo que li no dia posterior, vou narrar uma história que não estou com a mínima disposição para relembrar. Acho que já contei aqui, não vou me repetir. Se não contei, não será hoje. Nossa, como já está tarde. O tempo passa voando quando se está digitando. Preciso fazer minha barba urgentemente. A minha leitora número um disse, num comentário, que consegue “enxergar tantas coisas lindas” em mim, baseada no que escrevo aqui. Fico pasmo que alguém possa tirar uma conclusão tão positiva de mim a partir das minhas futilidades e depois de dar todas as provas de que não sou isso. Mas sem dúvida é algo que levanta a minha autoestima que vive a se arrastar pelo chão como cobra. Pelo menos, graças, não estou em depressão. Isso é uma coisa que queria mostrar para todos os deprimidos do CAPS, que tem saída, que eu sou a prova viva disso, que eu, ao trancos e barrancos, consegui sair da depressão quando me libertei da fonte da principal fonte dela, o trabalho. Que cada um precisa identificar a fonte, a causa-mor de sua depressão e se libertar dela. Eu dei muita sorte de posteriormente conseguir a curatela e, com ela, a pensão. Eu fui muito afortunado mesmo. Vejo que muitas pessoas lá estão em crise justamente por causa do trabalho e eu não posso dizer a elas que larguem o trabalho. A maioria tem famílias para sustentar. Talvez eu não precise entrar em detalhes sobre a causa da minha depressão, só precise dizer que consegui sair do poço negro como petróleo da depressão e que sou tão ou mais fraco que elas e que, mesmo assim, eu consegui sair e hoje gosto dos meus dias. Que é possível, que não é eterno. Que às vezes, como no meu caso, demorou e doeu muito, que achei que não havia mais saída, que não via luz no fim do túnel, mas que um dia saí e desde então nunca mais voltei. Não digo que será assim para sempre, mas se cair de novo, eu sei que é uma questão de tempo para sair uma vez mais. Não é para sempre. Até parece que vou fazer esse discurso lá no CAPS. Eu mal falo nos grupos. A não ser nos grupos AD. Que tolice a minha! Hahahahahaha. 23h25. Passei um tempo enorme aqui cismando e olhando a internet. Esse Facebook... ainda me desassocio dessa coisa, se não fosse onde divulgo os meus posts.

23h44. Hoje não tenho muito o que dizer ou não estou com cabeça para dizer. Na verdade, uma coisa me pegou desprevenido. E não, nada tem a ver com drogas. Ou com a minha mãe. Uma coisa com a qual não sei lidar. Ou não saberei lidar. A única forma de lidar seria com honestidade. Mas me seria embaraçoso. Sou um homem ou um rato? Veremos. Minha mãe veio aqui e novamente me fez me sentir mal. Era até uma coisa que queria dizer para a menina do CAPS que tem problemas com a mãe. Que eu tenho uma mãe que tem a enorme facilidade de me botar para baixo. Ela entra no meu quarto quase que sempre para me fazer uma crítica ou me reprimir de alguma forma. E aquilo quase sempre me deixa mal, mas não é uma coisa que vá arruinar o meu dia porque já aprendi que é o jeito dela, eu levo o golpe, assimilo e supero depois de um tempo. Às vezes eu ouso dar uma cortada e muitas, muitas vezes tenho vontade de mandar se foder, só não o faço pois, afinal, é minha mãe, mas que as palavras me vêm até a goela, isso vem. Minha mãe é uma exímia chantagista emocional, o que é pior do que quando vem me dar um esporro. Me faz sentir bem pior, pois me faz sentir culpado. É raríssimo eu receber um elogio. Também não faço por onde merecê-lo. Só fico aqui escrevendo e, graças, ela não lê. Por mais que tenha aventado a vontade um dia desses e perguntado o endereço do meu blog e eu me senti forçado a dizer, mas, graças novamente, acho que ela não decorou. Se vier me perguntar de novo, não vou dizer. Direi que não divulgo nem para os meus amigos. Mas estou me repetindo. Já ensaiei esse discurso aqui.

2h44. Me perdi no Facebook, no meu alterego de colecionador de bonecos. Pelo menos lá, eles postam fotos ainda e tão somente. Talvez essa mania de vídeos seja do Facebook brasileiro. E é uma desgraça. Pelo menos eu não gosto. Talvez seja uma tendência mundial e não apareça nos grupos de bonecos, mas mesmo na minha home do Facebook de bonecos, onde há posts não correlatos com o assunto também não aparecem vídeos. É muito menos acachapante que o do meu eu normal brasileiro, em que 95% são vídeos. Minha mãe queria que eu dormisse cedo, mas hoje é sábado à noite, eu não saí para canto nenhum, mereço pelo menos fazer minha balada cibernética aqui. Mas já-já me retiro. Puxa, queria saber por que não sinto apego emocional pelos meus sobrinhos, para mim, eles são mais um fardo do que uma felicidade. Lidar com eles me é penoso. Não quero ir para Alemanha acho que principalmente por causa dos meus sobrinhos. E dos vizinhos, que vão acabar descobrindo que estou lá e vão me convidar para a casa deles. E eu vou ficar lá, sem saber o que dizer ou o que fazer, numa situação social muito ozzy. Como é uma situação muito ozzy lidar com os meus sobrinhos. Não sei como isso vai ser. Pior se eles quiserem brincar comigo. Espero muito que isso não aconteça. Vou pegar um último copo de Coca e fazer uma boquinha na cozinha.

3h12. Hoje a minha produção foi fraca. Já mudei de ideia sobre imprimir a primeira parte do texto para entregar a uma psicóloga do CAPS. Talvez desmude de novo. Sei lá. Quando revisar descubro. As minhas vontades, que já são poucas, oscilam tanto. Acho que tenho um pé atrás com uma prima minha. Acho não, tenho certeza. Houve um desentendimento entre nós, pelo Facebook, imagine, e desde então acho que rola uma certa animosidade entre nós. Espero estar exagerando. Acho que estou. Tem que rolar um novo encontro-festa na casa dos meus tios para ver como o diálogo se desenvolve entre nós. Queria muito estar exagerando em relação aos meus sobrinhos também. Mas nesse caso eu sinto o peso real em mim. O peso de não ter nada a ver com eles. E de não ter a mínima inclinação a começar a ter. Essa viagem vai ser socialmente difícil para mim. Mas é inevitável também. Então tenho que ir me preparando. Já era para estar mais preparado. Afinal já estamos em junho. Falta muito pouco. Ai meu deus, que saco. Que minha irmã nunca leia o meu blog. Não vai. Não é do feitio dela ler coisas minhas. Ainda bem. 3h29. Preciso ir dormir, mas estou sem sono e quero escrever mais, por mais que não tenha nada de relevante para dizer. Meu irmão vai mudar de casa. Talvez para uma maior para abrigar o contingente de familiares que aporta lá ao longo do ano e permitir a coexistência da minha mãe e eu com a família da minha cunhada. Acho que este foi o principal objetivo dele com essa mudança. Talvez procure uma casa mais horizontal pois sabe que mamãe está ficando velha e com os joelhos combalidos. Espero que tenha um porão para eu ficar. Longe dos sobrinhos, óbvio. Meu perrengue não é específico com os filhos da minha irmã, mas com sobrinhos em geral. Uma formiga no meu quarto, isso não é bom. Bem, vou ficando por aqui.

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20h57. Revisei o texto e não me decidi se imprimo o texto para levar amanhã ao CAPS ou não. Acho que vou imprimir. Não custa nada. Talvez eu passe vergonha por estar falando coisas absurdas. A viagem vai ser boa por esse lado. Não terei CAPS e serei obrigado a me socializar e estar no mundão. E o mais desafiante, me socializar com crianças que são sangue do meu sangue. Acho que esse receio tem um pouco a ver com o medo de influenciar negativamente as crianças. Não sou bom exemplo para ninguém. E me falta intimidade com eles. Se eu me dedicasse a cultivar tal intimidade eu a teria provavelmente em algum momento, mas não me sinto motivado a isso. Vamos ver, o que será será. Eu confesso que sou fã de Mallu Magalhães. É uma delícia esse disco novo dela. As músicas grudam na cabeça feito chiclete.

21h48. Já mudei de ideia de novo sobre imprimir o começo do post. Não acho que deva. Ou devo? Sei lá. Tenho até a meia-noite para me decidir. Já começo a me inclinar a imprimir de novo. Que cabeça mais louca. Fui visitar a minha avó, ela me parece muito bem, mesmo que ainda presa à sombra de vovô, vê-se nas entrelinhas. Mas em comparação a como estava, parece que a maior parte do luto foi digerido. Não consigo parar de prestar atenção no disco. Que coisa. Amanhã talvez tenha um desafio a enfrentar. É aquele do homem ou do rato. Vai ser inevitável agora que sei da verdade. Ou acho que sei. Se não for é muita coincidência. Mas como ficou sabendo o endereço desse blog? Só pode ter sido a minha outra leitora. Confesso que vai ser muito estranho. Talvez socialmente estressante, mas é o mínimo que posso fazer. Afinal é minha leitora número um. Tenho que me focar que pode ser um papo agradável.

22h38. Acho que vou aceitar a proposta de minha amiga Daisy em relação à pintura da Asuka na moto. E ficar sem verba mais nenhuma.


0h06. Mandei o e-mail para Daisy confirmando o meu interesse pela pintura da boneca. Vou imprimir o texto, lá no CAPS decido se entrego ou não.        

3 comentários:

  1. Hj vou ser bem enxerida =D...
    Sobre os CDs, lhe repasso a lição que aprendi: "presente é problema de quem recebe, pois quem dá, tem a melhor das intensões"; então encorajou e torço p vc dar os dois presentes...
    E sim... É interessante compartilhar como vc se sente no caps, e aqui, e o lugar que vc parece ser o mais transparente que em qualquer outro...
    As vezes, p algumas pessoas, a depressão não se parece um poço, mas uma teia, e é bem mais difícil de sair dela pq cada fio é um motivo que ela não verbaliza... De fora, enxergamos a teia, mas de dentro, cada fio tem um jeito próprio de prender...
    No mais... Torço sempre p que vc fique bem ;)
    Bjs :*

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  2. Ah... P lhe dar a certeza... Sim, sou eu mesma, achei o blog p um acaso das minhas noites insones, me apaixonei p suas poesias e comecei a me interessar pelo que vc escrevia... Não falei antes, pois fiquei receosa que vc não se sentisse tão confortável c isso... E TB pq sou mais antissocial que vc, posso garantir ... Kkkkkkkkkkk... Confesso que até separei meu livro favorito p lhe dar, mas VI que vc não é dado à leituras rsrsrs... Desculpa ...

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