segunda-feira, 28 de maio de 2018

ANIVERSÁRIO DE MAMÃE


Pois é, hoje é aniversário da minha mãe. Ela está aparentemente feliz. E aparentemente sairemos para almoçar. Ainda estou despertando, ela disse que faria café, que será muito bem-vindo. Está a conversar com o meu padrasto na sala. Hoje é aniversário do meu primo urbano também.

12h54. Estou ainda muito sonolento e continuo sem novidades. Estão desejando feliz aniversário ao meu primo urbano aqui no WhatsApp. Acho que vou pegar um copo de Coca antes do café que não sei que horas mamãe vai fazer ou se vai fazer de fato.

13h02. Parece que iremos a um restaurante português.

13h43. Já tomei banho e troquei de roupa. Acho que vou fumar outro cigarro. Com Coca.

17h31. Meu primo urbano me convidou para ir ao Caverna por volta das 20h00 para a celebração de seu aniversário. Estou com vontade de ir e isso é bom. Acho que vou tirar um cochilo antes. Almoçamos num restaurante português e a comida estava boa e vinha em boa quantidade. Mamãe saiu muito satisfeita do local. Espero que haja Uber circulando hoje, com a crise da gasolina, quem sabe?

20h39. Estou esperando dar uma carga no celular para tomar banho e ir ao Caverna. Como sempre uma ansiedade bate, mas mais de leve. Não vou alimentá-la. Escolhi a roupa, camisa rosa do Strokes e a velha bermuda preta de guerra. Deixarei o celular carregar até as 21h00. Espero que seja o suficiente. Preciso dele para chamar o Uber. Não sei o que ou como falarei com a incrível revisora, que é namorada do meu primo urbano e certamente estará lá.

1h26. Estou de volta e confesso que estou de baixo astral. Clementine estava lá, mas não interagi com ela, achei ser o mais sensato a se fazer. Mas não foi isso que me deixou de baixo astral, isso foi irrelevante. O que me causou esse estado de ânimo foi uma bela garota, linda até, jovem, que me chamou a atenção, me encantou. Cheguei a perguntar se o instrumento que guardava era um violino ou uma rabeca, no que ela respondeu que era uma rabeca e em vez de emendar um papo eu só falei “que curioso”. Acho que ela estava indo ao banheiro. Gostaria muito de ter conversado mais, mas não me dei essa chance e o meu Uber chegou antes de ela voltar. De qualquer forma, pela maneira que o provável dono da rabeca a tocou, acho que tinham algum enlace afetivo. Melhor pensar assim, me deixa menos frustrado. Mas, nossa, como sinto falta de conversar com uma garota encantadora. Isso faria uma diferença tremenda na minha qualidade de vida. Pena que ache muito raramente alguma que me encante e mais raro ainda que me disponha a falar com ela. É uma pena. Sinto pena de mim e isso é um sentimento infantil, eu sei, mas é como me sinto agora. Fantasiei pedir o WhatsApp dela, mas isso, como narrado, passou longe de se concretizar. Agora estou em casa tão solitário quanto posso ser e ainda um pouco mais por causa dessa breve intervenção em minha vida. Nossa como queria ter alguém que me encantasse para amar. Me vi velho, gordo, ridículo. Eu me vejo assim sempre, mas isso me pesou de forma significativa hoje. Falei com a incrível revisora apenas na despedida e ela reforçou o fato de deixar Raimundo Carrero em paz e não criar expectativa, ou seja, no meu entender, não achar que ele vai me responder. Talvez ela mesmo tenha visto que o meu texto não é válido, não é literário o suficiente, mas limitou-se a dizer que estava lendo e que quando acabasse a gente conversava. Fiquei impressionado com a temática do livro de um outro amigo que já mencionei aqui que havia escrito um livro e revisado com a minha amiga revisora. A obra chama-se “Permanência” e trata do conceito oposto ao do budismo da impermanência das coisas. Achei bastante profundo. Me senti embaraçado em relação ao meu. Envergonhado, diminuído. Quando me lembro do que contei do que se tratava o meu para o namorado de Clementine... não contei com orgulho ou coisa que o valha, nem sei que sentimento me tomou na hora. Apenas disse que havia escrito um diário durante uma internação no Manicômio e que o havia digitado e mandado para a nossa amiga revisora revisar. Acho que a noite valeu por prestigiar o meu primo urbano. Interagi a contento com quem de direito, mas quando ele se foi, me vi só, pois não iria participar do grupo em que Clementine estava colocada, que eram as únicas pessoas que eu conhecia no local. Fiquei então só e admirar a figura encantadora supracitada. Caramba, a minha solidão é esmagadora hoje. Vendo tantos casais de namorados e eu só. E me deixando só. Só com palavras. Me parece um destino tristonho para mim. Obviamente penso na minha paixão platônica nesse momento, mas é algo irreal. Penso também na impossibilidade do livro. Penso que estou me amparando em duas mentiras. Não é um pensamento bom, mas é um pensamento razoável, no sentido de ter razão. Isso me põe ainda mais para baixo. Eu não sou um sujeito ruim, mas me sinto péssimo. Sei que acordarei melhor. Estou até pensando em aparecer no Poço da Panela, no evento organizado por uma amiga que mora lá. Isso depois das visitas que teremos aqui em casa por conta do aniversário de mamãe. Vou na vã esperança de encontrar alguém. Mas ninguém haverá. A saudade da minha paixão platônica me fere. A impossibilidade infelizmente não apaga a esperança. Só uma garota encantadora que se encantasse por mim seria capaz disso. Mas garotas encantadoras não se encantam por mim. Acho que irei ao Poço amanhã. A depender da hora e permanência das visitas. A realidade às vezes me parece tão fictícia... vou fumar um cigarro para ir dormir. Ou não. Não ainda o cigarro e não ainda dormir. Tudo é um grande teatro onde todos nós achamos que somos o(a) protagonista. É, estou mais desiludido com a vida que de costume. Seria tão mais interessante se em vez de rabeca fosse um violino. Adoro o som de violinos. Por sinal, não estou ouvindo som nenhum, nenhuma música, digo, no momento. Acho que o silêncio cabe mais nesse momento triste. Estou triste. Mas é passageiro. Não estou deprimido. Foi só uma noite fracassada para mim. Ainda aventei a possibilidade de me enxerir para uma amiga da turma, até descobrir que ela era agora casada. Com um cara não muito mais bonito que eu. Mas certamente muito mais desenrolado e autoconfiante. É, só pensar em vida sexual que me aclimato de novo à solidão. Vida sexual é algo que me intimida e espanta. Assusta. Gera uma insegurança e um receio dos infernos. Me deixo na solidão e blindado dessa possibilidade, quase sem questionar se não seria bom, saudável e até formidável ter uma vida sexual ativa. Obviamente com uma garota que me encantasse. Quem será essa garota, como indagaria Madonna. Bem, depois dessa, vou fumar e dormir.

2h39. Não consegui. A página de Word aberta me atraiu para cá. Me sinto mais leve depois de ter desabafado com o papel, pelo menos para isso a escrita me serve, é serventia pouca, mas alguma. Antes não tivesse cruzado com a garota encantadora e ter tido a dimensão exata do meu ridículo. Ridículo esse que eu mesmo crio em minha cabeça e talvez só dentro dela exista. Mas aí lembro do meu passado e penso no meu futuro e tudo me parece mais que ridículo, negro, tétrico. Gostaria de reunir qualidades positivas, mas a minha história me esfrega na cara justamente o contrário. Volto a me sentir mal, antes tivesse findado no parágrafo anterior. Mas é a vida e, por mais que não enxergue isso agora, ela é bela.

2h52. Vi fotos. Meu coraçãozinho dói diminuto dentro do peito. Quase um nada. E capaz de tão grande e pleno amor. Mas para quem esse amor? Para quê? Eu que já amei e fui amado que conheço o gozo e a alegria de ser um de um par, como me embrenhei nessa mata escura e espinhosa da solidão de forma tão completa? Me perdi na solidão e não sei encontrar o caminho de volta. Às vezes penso que nem quero isso. Isso é tudo autopiedade e não gosto de autopiedade, mas se ninguém tem pena de mim? Não é de se estranhar que esteja nessa situação. É de se estranhar o esforço que faço para permanecer nela. Quero ir ao Poço amanhã. Quem sabe algo não me sorri? O destino-acaso não me apronta uma das suas? Acho que não conseguirei ir por causa da presença dos meus tios aqui. Que seja. Ficarei a digitar, escrever, como queira. Não passo de um digitador de palavras, um blogueiro de meia tigela. A farsa mais sincera. A encarnação do fracasso. Não sou gente, nem chego a isso. Não agora, nesse momento. Nesse momento sou apenas um corpo humano atacado por sentimentos desumanos. Eu sou desumano comigo mesmo, eis a verdade. Eu deveria realmente me apiedar do que faço comigo. Foi a forma de viver que escolhi. Mas queria desescolher. Não, não queria, tenho medo, medo do que está para além dessa escolha, para além do quarto-ilha, para novas possibilidades. Por que a novidade me assusta tanto? Por que ela tem 50% de chance de dar errado? Por que só quero as coisas do meu jeito senão nada feito? Não sei, não faço ideia e vou dormir.

3h11. Boa noite.

8h21. SONHO

- Tia-vizinha querendo aparar Zeus que estava muito vivo, bem cuidado e bem nutrido. Ele estava indócil e latia para um ponto fixo na parede, como se visse percebesse alguma presença que não percebíamos.
- Jogo com coordenadas, tipo caça ao tesouro, última coordenada era na casa de papai, o terceiro papel da estante de baixo, que era justamente a lista de convidados do meu casamento sabendo que o padrinho era Rafael Saraiva. Aquilo pareceu muito estranho e informar os contatos da lista me pareceu perigoso, tremendamente pessoal para um jogo que deveria ser impessoal, temi que quisessem matar alguém da lista.
- Helicóptero de guerra descendo. Perguntei se era minha tia de Natal. Minha tia-vizinha confirmou que só poderia ser. Minha tia jornalista também entrou no sonho.
- Desceu uma equipe com roupas militares, mas não me recordo dos detalhes, só sei que não eram militares, estavam mais para mercenários.
- Locadora alugar filme, não lembro dessa parte direito.
- Na casa de papai, acharam um saco que ele suspeitou ser de cocaína e suspeitou ser meu.
- Papai me agredindo me agarrando pelo pescoço e me dando murros na cara (eu de consciência limpa por saber que não havia sido eu e que não era cocaína, alisava a cara de papai)
- Meu dente ficou mole de tanta porrada que levei na boca.
- Ficou comprovado que não era pó e meu pai nem se dignou a me pedir desculpas.
- Imagem num papel na qual se via várias coisas diferentes a depender do olhar que se dava.
- Meu irmão aparece, pergunta da minha roupa. Eu lembro que estava no chão do banheiro de papai, ele pergunta por que Mario Bros se não havia na camisa e realmente não havia.
- Não lembro de mais, só acho que houve mais.

15h26. Eu não estava conseguindo dormir direito porque havia esquecido de tomar os remédios, eles realmente fazem a diferença pelo menos no meu sono. Tive um sono fragmentado e mal dormido até a hora que levantei para ver se havia tomado os remédios e foi quando enunciei o meu sonho. Apenas o fiz a título terapêutico para levar para Ju. É tão raro com as medicações ter um sonho tão elaborado e longo, pode ter alguma serventia.

15h35. Daqui a pouco os meus familiares aportarão aqui. Não sei o que dizer e essa falta de palavras tem sido algo cada vez mais recorrente. Algo que me preocupa. Mas não vou alimentar bloqueios criativos, tampouco vou me forçar a fazer isso por obrigação. Mamãe me fez café. E o dia de ontem ficou para trás, acordei melhor do que fui dormir ontem. Mamãe está sendo dura com o meu padrasto. Eles são os adultos da casa, não eu. Eu não sou considerado adulto por eles, nem por mim mesmo. Vou pegar mais café.

15h48. Acho que não dará mais tempo de ir para o Poço. Que pena. Estava até com sincera motivação para ir. Acredito que faria uma grata surpresa aos meus amigos da turma do meu primo-irmão. Mas a vida não se desenha assim. Meus parentes ainda estão por chegar. Coloquei o “Songs Of Innocence” para variar um pouco, ouço-o desde ontem, mas acho que prefiro o “Songs Of Experience”. Talvez por ter escutado muito mais. Mamãe está magoada com meu padrasto. Está descontando o seu descontentamento nele. Ainda bem que nada tenho a ver com isso, mas me estressa por tabela esse clima tenso, de animosidade da minha mãe, que tem lá suas razões pelo pouco que apreendi. Mas não vou ficar fofocando sobre as intimidades deles. Deixar-me-ei comigo mesmo. E o que trago comigo hoje? Que minhas sensibilidades são de fatos sensíveis, a julgar pelo episódio de ontem, irrelevante hoje, mas capaz de mudar as cores da água do poço da minha alma quando se deu. Não me sinto mais válido do que me sentia ontem. Apenas isso me preocupa menos. O desespero por encontrar alguém se extinguiu. A necessidade urgente de ser par com alguém que me encantasse deixou sua urgência perdida nalguma parte do meu sono. Me sinto uma vez mais aclimatado com a minha condição. Acho-a medíocre em muitos aspectos, mas também a acho incrivelmente favorável nos demais. Lembro que falei da escrita como forma de ócio produtivo para o namorado de Clementine. Disse que, não tivera a escrita, eu acabaria endoidando com tanto tempo e nada por fazer. Não acho assistir coisas na TV um afazer, um fazer, é muito passivo. Jogar videogames é mais interativo, mas não tem o senso de produção que a escrita me proporciona. A escrita é o que faço de mais válido de mim. Mais pessoas têm curtido os meus posts. Isso me alegra imenso. Recebi umas três ou quatro curtidas de pessoas desconhecidas, algumas que já curtiram mais de uma vez inclusive e isso me é precioso. Empresta mais validade ao meu afazer. E o número de visitantes aumentou. Tudo isso me alegra. Minha grande obra não é o livro e, sim, este blog. É a isto que me dedico diariamente, de domingo a domingo e que por algum motivo parece estar me saturando. Isso me assusta, pegar abuso de me dizer aqui. Isso realmente é aterrador. Aventei as possibilidades restantes, TV e videogames, mas não me animei o bastante com elas, prefiro ainda as palavras. Espero que não me sature nunca. Que só troque isso por uma relação com alguém. Muito embora esse alguém não vá viver grudada comigo, visto que a vida de alguém não se resume à outra pessoa, a não ser na velhice. Então ainda me restará tempo para me dizer. Do jeito que, como ficou demonstrado, ando e interajo com o mundo está difícil esse par surgir. E me apoio em fantasias impossíveis para preencher o peito sem me ferir. Por um bom tempo. Ou até a publicação do livro, que cada vez mais me parece improvável. Está cada vez mais nas mãos do meu tio. Mas acho que ele não vê o material como publicável. Mas, uma vez com a versão definitiva, quando eu e a incrível revisora chegarmos a um consenso acerca do conteúdo, que está tudo dentro dos conformes, sentarei para conversar com ele. Antes terei que sentar com a incrível revisora e isso me causa desconforto, por causa dos temas abordados e sobre quem me revelo. Não vai ser fácil para mim. A família já se encontra aqui em casa. Eu, como é minha prática, me recolho ao meu quarto.

16h59. Chamei os meus familiares para ver o Hulk, mas realmente não fez muito a cabeça deles. Minha tia disse que eu rejuvenesci uns dez anos com o meu novo corte e o cabelo aparado. Que bom. Estão na varanda e os ouço daqui, pois a janela está aberta. Como a minha família materna está acostumada com a minha rotina reclusa de escrever, não se incomodam muito que não participe da reunião. Acho que essa é a verdadeira celebração de aniversário para a minha mãe, com os irmãos e a mãe. Me veio agora a moça da rabeca. Poderia ter ousado mais e não ousei. Me perdi num emaranhado de pensamentos sobre os possíveis desdobramentos da conversa que não houve. Vou botar o mais novo do U2 para ouvir. Coloquei. Parece que meu amigo cineasta está realmente produzindo o projeto que filmou comigo. Está até cobrando o meu primo urbano a trilha. Isso me deixou feliz e foi uma coisa que esqueci de narrar da noite de ontem, quando fiquei sabendo da notícia. Pensei que fosse deixar o projeto de lado agora que tem um projeto muito maior a caminho, um filho. Pronto, contei. Parece que já se pode espalhar a notícia. Eu abro a boca mais do que devia, quando é para deixá-la fechada e, quando é para falar, calo. Acho essa ironia um problema que não sei como contornar. Já me coloquei em situações infelizes por conta disso.

17h26. Não haverá tempo para ir ao Poço. É uma pena. Queria ir enquanto dia ainda, queria uma tarde solar no bucólico Poço, não queria chegar no final da festa. E se for agora é o que acontecerá o dia já foi praticamente engolido pela noite. As coisas lá devem estar no final. É incrível que a minha família materna aceite com tamanha tranquilidade a minha clausura. Acho ótimo em verdade. Parece que se acostumaram com o meu modus operandi. Sei que vou me arrepender bastante quando eles se forem de não ter privado de suas companhias em vida. Entre as músicas, ouço mais a voz do meu padrasto. Ou será meu tio? Agora é minha tia. Bom, conversam, o que acho ótimo. Poderia estar lá, mas não me animo para isso. Vou pegar Coca Zero. Acabou-se o café.

17h41. Fui à varanda a convite de mamãe para pegar bolo e debatia-se sobre a greve dos caminhoneiros. Meu padrasto, muito eloquente e muito informado, traçava um panorama dos acontecimentos. Meu tio parece exaltado. É curioso ouvir o burburinho da varanda. Preciso tirar o Poço da cabeça. Foi, passou, e ia mais movido por esperanças vãs.

17h49. Um alento se fez, meu amigo da piscina me chamou para descer por volta das 19h30, 20h00. Isso é muito bem-vindo. Não sei se levarei o meu computador, mas acho que sim. O único problema é que não há gelo para levar lá para baixo. O gelo que há está na varanda para os convidados. Se sobrar e se esses já tiverem partido, eu levo o balde. Acho que levarei o computador também. Estou com preguiça dessa movimentação toda, mas tenho tempo para me aclimatar com a ideia. Acho que vou fumar um cigarro. Não, não vou agora. Acho que vou botar uma Coca no congelador para gelar. Para levar lá para baixo. Droga, acabei de ver que esqueci a bateria no computador, isso acaba com a vida útil da bichinha. Agora me decidi a levar o computador lá para baixo. Vou fumar um cigarro e botar a Coca para gelar.

18h18. Parece que o pessoal já está indo. Talvez possa descer antes do esperado e que sobre mais gelo do que supunha. Minha mãe está superfeliz com as visitas. Eu, como odeio despedidas, me entoquei no quarto. Ademais, acabei de fumar um cigarro. Estou “contaminado” pelo cheiro.

18h51. Meu padrasto me intimou a ir acompanhando a família até lá embaixo. Não foi ruim, só não gostei da coerção. Vou bater os contatos com o meu amigo da piscina.

Quando Mário entra no segundo capítulo de sua vida, uma salva de aplausos se dá. Quando ele tira o computador outra, outra agora, outra quando se senta. Uma depois desse ponto final. Que negócio curioso a existência – salva de aplausos – pode ser – salva de aplausos, salva de aplausos –. Mil pensamentos, Casa de Papel, primeiro episódio, e Beast of Nation. Chegou um grupo aqui. Vou meter um “Bastards” de Björk. É um aniversário gigante, estavam cantando “Parabéns Pra Você”, no colégio talvez. Bom, vou botar Björk; grande levante. E palmas. Meti Björk no universo. O meu mundo agora é banhado por Björk e não me incomodo que chegue até os caras, acho que estou educando-os. Eu, um coroa de 41 anos, fumando, e botando o som mais moderno que existe, o CD de remixes de Björk. Caralho, é um som muito do caralho, perdão pela expressão. Eu visto camisa regatas vermelhas, uso óculos, estou com o cabelo e barba cortados de maneira decente, as extremidades da regata, ombros e gola, azuis-marinhos. Um coroa que apagou o cigarro e vai pegar o Vaporfi e mais Coca, que aumentou o som para ouvir e difundir e ouvir melhor “Virus” e que acaba de desativar o clickpad, touchpad, sei lá o nome. A música tem um som de uma mulher que traz desespero e sofrimento, é muito doida. É fantástica. A existência está me sendo especialmente generosa, me fazendo ter esses momentos e de contemplá-los dessa maneira. Não acho que a figura que descrevi seja ameaçadora para os rapazes da piscina, certamente é a de um cara que está botando o som para a galera ouvir, quebrando o silêncio da piscina, com uma Björk mais que épica, iluminada, poderosa, plena, incrível. “Mutual Core”. Estou deixando aspas e itálicos para colocar na revisão. É fantástico este disco, não há outra palavra para descrevê-lo. É um que preciso ter em CD. Vou procurar quando for à Alemanha, já um motivo para ir passear pelo centro e ir até a Saturn. Espero que ainda haja CDs de boa como possuía antigamente. Já me vejo lá, mas não vejo mamãe andando por lá, só se for de muleta mesmo. Acho uma boa marcarmos de nos encontrarmos de quando em quando para ela sentar e eu poder levantá-la depois e pudermos interagir enquanto lá, no coração de Munique. Um lugar plural, altamente globalizado, onde há pessoas de todas as partes do mundo, todos de certo porte financeiro, embora se vejam também mendigos e artistas de rua, mas nunca bandidos. Embora haja os trapaceiros, mas geralmente são imigrantes. Estou muito imerso na música. Sovaco fedido é sinônimo de banho. Preciso tomar um banho hoje, mas com 42 graus.

20h41. Finalmente, parei e tirei o Vaporfi, dei umas baforadas e vou beber a Coca. A coca pede o último cigarro. Só terei quatro para fumar amanhã. Pensando aqui no meu amigo da piscina, que quer dar uma pausa de uma semana no fumo. Eu faço o contrário, em vez de parar e depois voltar fumando com tudo, eu prefiro fumar menos continuamente. Ou com gradações. A primeira gradação é o primeiro dia, festa; o segundo dia, moderação; o terceiro dia, penúria. Até recomeçar o ciclo com a nova carteira. Hoje estou no segundo dia, moderação, que me permite fumar esse cigarro que está comigo. É muito bom fumar na vibe da piscina. Não venho todo dia, não vou me privar disso. O clima está agradabilíssimo, uma leve, muito leve brisa bate da minha esquerda para a minha direita. É muito doido o remix, putz, estridente às vezes. Mas são quase todos geniais.

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14h10. Como tenho mais uma página, vou utilizá-la. Me sinto um pouco intimidado, com medo de escrever besteira. Acho que é porque Tico e Teco ainda estão despertando. Hoje tenho café e não tenho terapia. Devido à greve dos caminhoneiros. Mamãe e meu padrasto conversavam sobre o assunto na cozinha enquanto serviam-se do almoço, realmente é um assunto que está gerando uma comoção nacional. Ontem foi agradável estar na piscina, estava saturado do meu quarto-ilha e poder fumar cigarro enquanto escrevo é um grande prazer, por poucos que tivesse. Fora que a presença de sempre as mesmas coisas, coisas marcantes com o Nintendo Switch e principalmente o Hulk, pode se tornar cansativa, repetitiva. É bom dar uma variada, estar num espaço aberto, com verde, água, paz, ainda tendo a vantagem de ser o mais velho e ter um computador com caixa de som relativamente potente e botar Björk para um bando de rapazes, muito mais jovens do que eu ouvir. Não tem preço. O sono de ontem para hoje foi com os remédios, então sem sonhos. Lembrei que meu pai disse que teve que quebrar o braço do cadáver do meu avô para poder vesti-lo. Ainda bem que não tive que passar por nada semelhante com o meu pai. Não gostaria de ver se corpo nu aberto e costurado como um galeto recheado pela autópsia do IML, seria chocante demais para mim. Ainda bem que a indústria da morte cuidou de tudo. Para isso ela serve, por mais que pareçam urubus em cima da carniça e isso seja irritante. Lembro que minha tia escolheu uma frase de João ou Francisco, se não me engano, para ornar o caixão, por mais que papai não acreditasse nessas coisas. Acho o taoísmo, como ficou para mim do que li, que não foi muito nem pouco, mas o suficiente, desta que foi a “religião” que papai acolheu como sendo a que mais se identificava, possuía diversos livros sobre o Tao, foi que o taoísmo é construído em cima de contradições e paradoxos, do tipo, sei lá, o Tao é e não é, ou coisas do gênero. Não consegui me adequar à religião, precisava de algo materialista para crer. Por isso meu deus é o que a tecnologia será algum dia. Se houver reforma do meu quarto mesmo, não quero falar disso agora. Tratava da vida e da morte, de deus e suas diferentes definições/compreensões. Da diferença entre a religião do meu finado pai e da minha. A reforma me parece algo distante desses assuntos e algo que desejo e não desejo ao mesmo tempo. Não desejo porque não vejo solução para caber tudo o que tem que caber no quarto, além de tudo o que já há aqui. A página sete está acabando e pretendo fumar um cigarro. Vou tirar uma foto de que para ilustrar o post de hoje? Deveria ter tirado da piscina, mas esqueci completamente e já tirei tantas da piscina. Não sei, pensarei em algo, talvez do som. O som quase nunca aparece.

14h49. Tirei. E há um monte coisas acima e ao redor do som. Nunca havia me dado conta.





14h50. Já estou sem assunto para esse post que dirá para o que começarei a construir em breve, quando acabar a página sete. Fiquei na dúvida se a frase anterior terminava ou não com interrogação. Deixei com ponto final, como se vê. O meu som é algo que em cinco ou dez anos vai ser um objeto de museu, ultrapassado. Com todo mundo ouvindo streaming, só precisarão daquelas caixas bluetooth. O celular ou computador vai ser o som, será necessário só comprar a caixa para amplificar o som. Eu seguirei com o meu dinossauro, que tem bluetooth, não é tão jurássico assim, e tem caixas relativamente grandes, potentes. Me deu uma vontade de abrir o jogo para quem de direito, mas ainda não é a hora. Nossa, se já estou sem assunto agora, imagina para post novo? Fiquei na dúvida novamente quanto à pontuação. Acho que vou acabar este post aqui. Foi só falar que pulo para o começo da oitava páginas. Revisar, publicar e começar um novo. Sabe-se lá com que conteúdo.

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