terça-feira, 22 de novembro de 2011

Diário de um Albergue de Drogados – Pequeno Pouso

Domingo, 20 de novembro de 2011

Vetorização, em 3 cores, de uma das imagens de divulgação do novo Zelda.

Hoje é o lançamento mundial do novo Zelda, Skyward Sword. Estou no albergue porque, como mencionado, minha mãe e seu consorte foram a um congresso em Minas. Pensei que seria pior estar aqui, mas não está sendo nem ruim. Vamos ver quando os grupos começarem amanhã e a velha rotina se apoderar das minhas horas. Aqui dentro percebo quão isolado socialmente estou lá fora, pois tenho conversado mais agora com os hóspedes do que tenho feito nos meus dias de liberdade. Tenho falado excessivamente, inclusive. Falar – e ser ouvido – tem um sabor especial, diferente de escrever e não ser lido. Por mais que seja dono e mestre dos assuntos quando escrevo, conversas tem o peculiar sabor da interação humana que me faz falta. Li sobre oxitocina ontem à noite na cada vez mais odiosa Veja. Gostaria de saber os níveis deste e dos demais hormônios em mim. Acho que Veja conseguiu o incrível feito de se tornar mais odiosa que o Fantástico e tem se posicionado, mais que esse último, como “o” manual de como se comportar e pensar (em verdade, ensinando como o pequeno burguês faz para se tornar uma pessoa ainda mais medíocre, neurótica, sem criatividade, tempo ou profundidade). Finalmente entendo meu pai em despeito a essa revista. Buscando agradar o leitor muito mais que perseguindo fatos relevantes, a revista oferece uma série de pequenas inutilidades e conselhos voltados para pessoas que desaprenderam a pensar por si sós e adoram o politicamente correto, cirurgias plásticas, as novas modas e todo tipo de neurose consumista contemporânea. Dá tanta raiva que quase chega a dar pena. O pior – é humilhante admitir – que toda essa merda é divertida de ler. É fácil. Informação fast food. E eu adoro McDonald’s. É gostoso me sentir mais esperto que os outros. Gostoso e triste. Não gosto de auto-estima porque ela leva justamente a me sentir mais esperto e legal. E tenho uma crença de que, quanto mais legal e esperto alguém se acha, menos essa pessoa é. Talvez auto-estima seja um gosto adquirido. Talvez. Talvez um dia eu prefira tomar vinho a coca-cola. Mas acho difícil.

Vou escrever mais não, porque isso aqui está mais vazio que matéria de Veja e falta meia hora para a casa fechar. Quero fumar uns cigarros e tomar um banho lá fora antes disso.

Puseram o ponto de internet aqui e parece que já há o cabo. Amanhã, se Crica liberar, o que é bem provável, vou postar meu primeiro texto de dentro da casa. É por isso inclusive que estou escrevendo isso. Boa noite mundo.

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Segunda-feira, 21 de novembro de 2011.

Dando o braço a torcer, li uma matéria interessante na Veja ontem à noite. Tratava de solidão. Como ando muito solitário, me identifiquei, principalmente com a conjectura de que “solidão atrai solidão” ou, melhor dizendo, que pessoas solitárias vão gradativamente perdendo suas aptidões sociais, ficando enferrujadas no lidar com o outro e, conseqüentemente, tornando mais difícil sua reintegração social. Sinto isso em mim e não gostei de me ver espelhado ali. Outra coisa me incomodou ainda mais: o fato de o solitário, por falta de outros novos assuntos, passa a ser cada vez mais egocêntrico, a maior parte de seu tudo passa a ser somente eu, eu, eu. Odiei, pois nada poderia ser mais eu, eu, eu que esse fato.

Já a reportagem sobre o que é ser normal não me apeteceu, pois me pareceu contraditória, o raciocínio central não estava preocupado em ser lógico. Me senti esperto por perceber isso (olha aí o ego saltando novamente). Foda-se eu, eu, eu.

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Tenho uma nova meta: parar de me falar mal de mim para os outros. Essa mania incontrolável já está beirando o ridículo. É uma meta difícil, pois faço isso desde que me entendo por gente, comportamento herdado e distorcido da postura do meu pai perante os outros. Acho que entendi a modéstia de uma forma demasiado autocrítica. É interessante que meu pai já foi tido como arrogante e dono da verdade. Em verdade, pensando em retrospecto e falando mal dos mortos, acho que ele sempre foi um arrogante dono da verdade em pele de cordeiro (de modesto).

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Estou esperando Crica sair da reunião semanal da equipe técnica para ver se ela vai liberar o meu uso de internet hoje. Há 50% de chance disso acontecer, creio.

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Vou arrumar a vetorização de Zelda agora para colocar no começo do post. Me tomou dois dias e cerca de 12 horas para fazê-la e deveria se tornar uma camisa bem humorada, mas acabei achando a imagem horizontal demais para servir bem no layout imaginado. De qualquer forma, pelo menos servirá para ilustrar este post.

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Acabei o desenho do Zelda, são 21h34 e Crica está fazendo jogo duro, dizendo que a negociação da internet tem que ocorrer em consulta, não assim enquanto ela está no papel de AT. Não sei porque ela está sendo tão estrita se antes, eu tinha liberação para usar inernet... bom... e brá.

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Terça-feira, 22 de novembro de 2011.

Tenho me sentido estranho, meio sem cérebro, meio avulso, meio alheio. Não sei se por estar aqui ou por outro mistério interior. Não consigo prestar atenção ou me interessar, me envolver pelos grupos. Como se ler a matéria sobre a solidão tivesse tido um efeito inconsciente amplificador da minha solidão e egoísmo. Como se estivesse ainda mais trancado dentro de mim e distante do que está fora, ao redor. Isso são fantasias de um eu, eu, eu demais.

Pedi à coordenadora do albergue que telefonasse e interviesse junto a Crica em prol do uso da net. Crica ficara de falar comigo hoje e fuleirou. Sumiu sem deixar vestígios. A coordenadora se apiedou de mim e vai tentar ajudar. Minha próxima consulta com Crica só se dará na quinta, dia em que volto pra casa; logo não poderia inaugurar a bendita extensão de internet. Acho injusto não usar, posto que fui eu que coloquei o assunto na pauta de duas assembléias gerais para ser negociado. A internet aqui é lenta e tenho acesso muito mais veloz em casa, mas o valor simbólico de usar a do albergue, de saborear uma conquista é importante para o eu,eu,eu aqui.

Estudo da idéia que tinha para a camisa.


A camisa seria assim, da cor do verde claro do desenho, 
para que só fossem necessárias duas cores de impressão.

Se esta for a última frase do post, significa que usei a internet do albergue!!

Um comentário:

  1. Oi, velho,

    Achei massa a idéia da camisa. Se você me mandar o desenho;arquivo e deixar eu imprimir uma pra mim também, eu imprimo uma pra ti e mando pela tia de Bella. Senão, quando tu vieres aqui tu pegas. que tal? Qualquer coisa, manda um e-mail.

    Mudando de assunto, acho que egoísmo é overrated pro você. Gosto de mim e de me dar alguns prazeres, mas não me acho egoísta. Se querer bem é natural. Muita gente pensa(va) que eu so me botava pra baixo, mas na verdade, minha auot-estima sempre foi bastantte alta, apesar de minha timidez controlá-la de alguma forma.

    Abraço.

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