sábado, 15 de dezembro de 2018

DIA DO ENCONTRO




0h43. Estava jogando Inside e achando mais divertido que Limbo, pelo menos até agora, porque estou conseguindo deduzir os quebra-cabeças, houve vários em Limbo que tive que recorrer à internet para suplantar. Agora já é madrugada do dia do meu encontro com Blanka, encontro esse que para mim servirá como marco do começo da nossa relação. Me peguei, fumando após jogar e me desconectar da realidade, despreparado e receoso para tal evento, o que me incomodou, mas já está passando. Gostaria de saber por que ela escolheu esse motel, certamente a indagarei. Aliás, nada tenho de certo, nem sei se estarei vivo daqui para lá. Quero estar certo somente de que fiz o meu melhor.

1h03. Quando a Coca acabar acho que vou dormir. Não estou com o mínimo sono, entretanto, mas pretendo escrever no motel quando Blanka for dormir, o que espero que demore muito a acontecer. Sim, levarei o meu computador, Cocas e o Switch. Creio que nos divertiremos, mas não tenho certeza de nada. Tenho que me lembrar de levar o Halls que está na geladeira, mas é quase certo esquecer. É a vida. Vou dar uma olhada no maravilhoso mundo dos bonecos.

1h19. Nothing to see and nothing comes to mind to post so I’m back here. Vou fumar. E pegar o meu penúltimo copo de Coca.

1h30. O tempo passa voando. Daqui a pouco morri e cairei no merecido esquecimento.

3h30. O tempo agora voou numa discussão no maravilhoso mundo dos bonecos. Adoro gerar polêmica lá. Também dei uma passada no Linkedin e fiquei feliz que algumas empresas acharam o meu currículo atrativo para seus cargos, resolvi olhar uma das propostas e fiquei estressado só de ler os pré-requisitos. Vade retro, prefiro minha vidinha como está e é. Certamente teria um colapso nervoso como tantas vezes se deu na publicidade. Estresse, contínuo ainda por cima, estou fora. Me faz mal, adoece. Daqui a pouco vou deitar. Estou acordado por dois motivos: a discussão dos bonecos e porque quero virar a noite de amanhã escrevendo e vendo Blanka dormir. Me deitarei com ela até que pegue no sono e depois vou escrever.

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12h16. Os planos mudaram: o nosso encontro agora vai ser das 16h, 16h30 até as 21h. O motivo alegado é porque a “menina” que ia ficar lá à noite não poderá fazê-lo. Estou esperando ela chegar em casa, o que decerto já fez, para me dar o retorno e ajustarmos tudo. Levarei o meu Switch como surpresa da mesma forma. Perguntei por que seu pai não podia cuidar da mãe, se ela me disse que o pai só trabalhava até as 17h, ela falou que o pai chega muito tarde do trabalho dessa vez, como disse da primeira vez que não poderia sair à tarde e agora pode. Essas incoerências me machucam, pois só um dos fatos pode ser verdade, consequentemente o outro é mentira. Ou houve uma mudança que eu desconheça, sei lá. Sei que vou fumar um cigarro. Com Coca e gelo.

12h56. Incrível que Blanka ainda não me respondeu. Nossa, queria começar nosso encontro com tudo certinho e a alma em paz. Preciso reverter esse mau-humor, essa desconfiança e viver o momento.

13h29. Mandei mensagens de reconhecimento e um rela em Blanka. Assoprei para depois morder. Estou mais tranquilo depois do desabafo. Posso encará-la com mais paz e alegria agora.

13h52. Às 15h tomo o meu banho.

13h57. A internet ou o meu browser estão com algum problema. Vou reiniciar a máquina.

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22h31. Estou de volta do encontro. Nem sequer tiramos as roupas. Falei para caralho. Jogamos Switch, ela me demonstrou Free Fire, eu mostrei algumas músicas a ela que gosta de funk bem baixo nível (em termos de letras, sexualmente muito explícitas, nada posso falar da qualidade musical, pois não conheço o gênero). Nada contra, coisas da convivência. Achei ela mais magra do que me lembrava, mas lembro do seu corpo nu e como ele me encantou. Trocamos experiências de vida. Trocamos tudo menos carinho. Ou quase. Acho que saímos nos conhecendo melhor. Mas a intimidade física ainda não se deu, espero avançar nesse campo no Natal dos Barros. Ela me encanta e disse que há uma amiga dela que quer me conhecer. Não pensei que tivesse tanta relevância em sua vida. Foi um prazer com alguns surtos de ansiedade, mas agora só me vem a parte boa. É bom saber que existe uma parte melhor, sensorial, táctil, a ser explorada. Não sei bem se melhor, mas diferente, um tipo de intimidade que ainda não temos. E que é salutar para mim cultivar. Acho que ter saltado de bungie-jump me ajudou a não pular do parapeito quando o momento se fez. Acho que a cativei um pouco. Gostaria que me respondesse no Tinder, isso me deixa preocupado. Espero que tenha ido dormir ou não esteja com saco de falar comigo e seja só isso. Certamente eu sou um parceiro diferente de todos os que ela conheceu, ou assim quero crer. Não sei se isso conta pontos contra ou a favor. Espero que não esteja mentindo sobre a escoliose e a depilação. Acredito nela. Se não acreditar nela, de que serve tudo isso? Para que seria esse grande jogo da parte dela?

23h15. Não penso que seja um jogo, acredito que ela esteja me levando a sério ou mais a sério do que imaginava. Ela imaginava. Talvez tenha lhe tocado de alguma forma mais profunda, quem há de saber? Eu não sei, apenas tenho fé e faço o meu melhor, dentro das minhas possibilidades e disponibilidades. Acho que demos alguns passos hoje um em direção ao outro. Acho que vou dormir, estou cansado.

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15h35. Disse-lhe que no nosso próximo encontro precisava da sua nudez, aprecio demais seu corpo nu e me furtar desse deleite visual e táctil é perder boa parte do que é ter uma companheira. Não me arrependo, entretanto (bem, talvez parcialmente), de como as coisas se deram ontem. O que tinha que ser foi e foi fruto das nossas escolhas, mais minhas inclusive. Não percebia como a minha solidão no quarto-ilha trazia incubada uma enorme necessidade de falar e ser ouvido, fiquei surpreso com a minha prolixidade e com a satisfação que isso me trouxe. Confesso que ainda confio desconfiadamente dela e estou louco para que essa pulga pule de trás da minha orelha para nunca mais voltar. Isso prova que eu também sou movido por preconceitos, que eles estão incutidos em mim. Sei que nesse nós que construímos preconceitos só deixam as estruturas da relação fragilizadas e impedem o gozo pleno da nossa construção, construção essa que escolhemos por motivos diversos erigir. A coisa mais iluminada que ela falou, foi sem dúvida ter repartido de mim com sua amiga-irmã, que disse querer me conhecer. Me prepararei psicologicamente para esse evento e serei eu mesmo, não tenho nada a mais ou melhor para oferecer. Acabou-se a terceira página. Não posso postar pois está sem internet. Quero muito repartir o blog com Blanka, assim saberá de mim e do que eu faço com o meu tempo. E o que penso e sinto a respeito dela e de suas ações.

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