terça-feira, 26 de junho de 2018

GAROTA DA RABECA E LISBOA


0:37. Estou num voo rumo a Lisboa, uma bela mãe, uma bela mulher, embala seu filho em pé no avião. Realmente uma bela mulher. Madura, mãe, mas atraente. Me atrai. Seria capaz de me apaixonar por uma mulher assim. Seria bem mais desafiador. Uma mulher mais vivida, mais velha, lembra uma Zizi Possi melhorada. Me agradou. Quanto à Garota da Rabeca, ah, foi a morte da ilusão da forma mais delicada possível, com seu jeito agradável e necessariamente esquivo. Volto a lembrar que ela é mulher jovem e lindíssima, logo deve ser escolada na arte de dar cortadas proporcionais à abordagem. A minha foi muito branda, sutil, prova de que talvez não tenha sido tão má a minha elegia, por assim dizer, à sua pessoa. Embora tenha ficado claro pelos seus gestos e modos que parou aí, que não quer mais conversa comigo, fui uma reles curiosidade que virou passado para ela. Pelo menos disse-me que leu e que achou bem legal e me respondeu seu nome, quando a perguntei, numa última ousadia minha. E não é que tenho o nome dela tatuado no meu braço? Com a caligrafia ou o desenho de minha amada babá, visto que ela é completamente analfabeta, não sabe compreender ler o próprio nome que desenhou com carinho e cuidado para ficar bem bonito para mim, mesmo sem saber que estava fazendo para ficar sempre impresso no meu corpo. Porque ela é assim, uma santa; a melhor pessoa que já conheci, empatada com meu irmão. Eles são dignos de representar a humanidade, o que de mais maravilhoso pode haver nela.

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Primeira parada em Lisboa, o fumódromo. 



10:14. Estamos no restaurante do hotel à espera do check in, mamãe dorme à mesa. Já deu a hora, mas o lobby está cheio. Estou esperando aliviar para acordá-la. Parece transmissão de pensamento. Foi só escrever que ela acordou. Hahaha. A atendente do restaurante do hotel é jovem e um doce, mas não tem o encanto da Garota da Rabeca. Perguntei-lhe se iria ao Rock in Rio e ela disse sorridente que não, mas fez uma expressão momentânea de estranhamento com o meu questionamento.

11h31. Não consegui dormir, talvez porque tenha dormido muito no voo, talvez pela excitação da mudança. Deitei na cama, é bastante confortável, e o ar deixa o quarto com uma temperatura bem agradável. Meu amigo que está em Lisboa acaba para me chamar para ver o jogo de Portugal aqui em Portugal. Na Praça do Comércio se não me engano. O jogo é às 19h. São quase 16h. Disse para ele passar de 17h30. Não estou muito animado, mas prefiro ir que ficar aqui escrevendo. Pode ser bom. Ainda falarei da Garota da Rabeca.

12h20. Não consegui dormir, embora esteja cansado. Não estou com disposição para escrever e por isso a saída vai me ser tão benéfica. Ainda sobre o nome da Garota da Rabeca. É a primeira opção de nome que eu daria a uma filha, caso irrompesse das profundezas do impossível a vontade de me reproduzir. A garota teria que ser muito persuasiva, mas muito mesmo para me convencer a me meter numa aventura sem volta dessas. Embora eu saiba que a maternidade tenha um significado importantíssimo para a mulher. Acho que a criança não teria um pai inteiro, apenas metade, que é o que acho que sou capaz de dar. Acho que eu seria um pai careta. Será? Bom, isso tudo com a vida que eu levo, da forma como a levo, sonhando com namorada dos outros dentre outras ilusões, não passa de mero sonho com tendência a pesadelo. Uma filha, veja só. Mamãe acha que se eu me reproduzisse, ela é que ficaria com o encargo de cuidar do bebê, adivinhando ou diminuindo à exclusão a minha participação como pai. Hahaha. Eu poderia ter ousado mais com a Garota da Rabeca, mas acho que aí passaria do sensato, pedindo-lhe que me acrescentasse como amigo do Facebook. Não para que ficasse passando cantadas, mas para trocarmos uma ideia, tenho profundo interesse naquele ser maravilhoso. Ainda bem que não ousei. Mas, caso leia, Garota da Rabeca reitero que meu endereço no Facebook é mario.barros.75 e que, se me adicionar, pode da mesma forma me bloquear. Bom, pelo menos você me deu o final da história, escrever para a garota dos seus sonhos pode agradá-la, mas só isso. Especialmente se ela já ama outrem. A hora se aproxima da chegada do meu amigo corretor. Às vezes cai a ficha que eu cruzei o oceano e estou no país que colonizou em sua grande parte o meu país, o saqueou; estuprou e depredou os que aqui habitavam e impôs o modo português de civilização com escravagismo como status quo. É bem surreal isso. E no final não ficou tão português quando se poderia supor. Lá vou eu falando do que não entendo. Mas sinto pena dos índios, viviam no paraíso, respeitavam o paraíso e se tornaram praticamente nada hoje. E o paraíso foi amplamente devorado pela fome de capital. Mas, mais uma vez, não vou falar do que não entendo. Sei que falta menos de meia-hora para o meu amigo chegar. Tédio em Portugal. Acho que vou descer para beber uma Coca-Cola e fumar um cigarro no restaurante do hotel.

15h51. Desisti de ir com o meu amigo, ficou muito tarde para ir de ônibus.

18h49. Assistimos eu e mamãe o jogo no restaurante do hotel, que estou achando muito agradável e com lindas moças, em especial a que chamarei aqui de Garota do Hotel para não expô-la, que embora tenha um nome que não me agrada, é uma graça. E usa batom vermelho com pele alva e cabelos pretos. O que adoro, acho uma combinação perfeita, matadora. Muito simpática, mas parece ter algum cargo de gerência, papel em que aparenta ser muito durona. Penso em comprar uma camisa para ela caso vá mesmo ao Rock in Rio. E uma para mim também. Se o dinheiro só der para uma? Aí a coisa complica, mas negociarei com mamãe. Penso em um cartão com o meu endereço do Facebook. É uma abordagem muito semelhante às demais, diria que é o meu jeito de agir e que, infelizmente, não surte muito efeito. Aliás, nunca surtiu nenhum efeito substancial, qual seja, conquistar uma garota. Mas de que adiantaria conquistar a Garota do Hotel, deixar meu coração em Portugal e retornar ao Brasil. Seria doído demais. Afora que só sendo muito chata ou muito dedicada para não ter um namorado bonitão já. Acho que vou deixar essa ideia de lado. Ou não. Ela é como se fosse uma Garota da Noite melhorada, sei lá, uma mistura Natalie Portman com Laura Pausini. Estou sem cabeça para escrever. Melhor deixar para a amanhã. Ou abro outra Coca?

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O bonequinho do sinal é diferente aqui, tem pés.


7h40 (11h40, horário de Portugal). Fui deixar mamãe num shopping e comprar Coca-Cola. Voltei e estavam arrumando o meu quarto, por isso, desci e tomei uma extorsiva Coca-Cola no bar do hotel. Gostei do hotel. É quatro estrelas e essa é a medida exata de estrelas que merece e que me faz sentir bem. Acho que um cinco estrelas seria afrescalhado demais para os meus padrões.

7h54. Há mais gente que não tem emprego formal dentre os que conheço, que não vingou profissionalmente do que eu gostaria de supor. Vendo o Facebook me dei conta disso.

8h09. Fumei o último cigarro da carteira. Acho que vou tirar um cochilo. Penso em, no meio da tarde, descer com o meu notebook lá para o bar só para mudar de ares. Preciso ver se é possível e se posso também debitar na conta do hotel as coisas que eu consumir. E principalmente se a Garota do Hotel lá estará. Gostaria de ter coragem de pedir para tirar uma selfie com ela, visto que foi a coisa mais interessante e bela que vi em Portugal até agora. Juro.

8h24. Estava revisando o que escrevi até agora e percebo que tenho encontrado garotas interessantes num espaço mais curto de tempo. A vida me sorri nesse aspecto. Mas não é um sorriso tão largo que possa qualificar de amor ou paixão recíproca. Infelizmente de recíprocas elas não tem nada o que é uma pena. Perguntei a um segundo taxista quando daria para me levar ao Rock in Rio e ele me respondeu o mesmo que o primeiro, cerca de dez euros. Estou no mínimo curioso para rever a Garota do Hotel. Ela tem um lindo sorriso. Ela é toda linda. Se eu pudesse optar entre ela e a Garota da Rabeca? Eu poderia optar onde iria morar? Essa pergunta é a melhor resposta que eu posso dar. Portugal é uma cidade de primeiro mundo, europeia, mas por ter a mesma língua e ser a cultura mãe do Brasil, eu me sinto muito mais em casa do que na Alemanha. Em Munique eu me sinto mais estrangeiro, mais estranho a tudo aquilo, embora goste muito da cidade e especificamente de onde a minha irmã mora. Mais estranho ainda, talvez por ter ido menos vezes, eu me sinto nos Estados Unidos. Como Bono (do U2) muito bem pôs, os EUA são um sonho que o mundo inteiro possui. Para mim, em grande parte por conta da indústria cinematográfica de lá. Estou estranho desde aqui cheguei. Não sei se é por conta do fuso-horário diferente. Sei que algo em mim não é o mesmo de quem deixou Recife. Ou melhor é o mesmo ainda não adaptado à nova realidade. Não faz parte da minha realidade acordar de 4h40 da manhã para comer linguiça croissants, pastéis de nata e cappuccino. Mas tenho que admitir que a comida daqui é simplesmente divina.

9h46. Experimentei o prato de mamãe e estava delicioso, talvez peça no jantar. Por mim, não sairia do hotel a não ser para o jogo do Brasil e para o Rock in Rio. Pode ser que no final de semana, meu amigo daqui tenha algum plano. Sei lá. Sei que me sinto meio sonolento desde que cheguei aqui. Talvez esse cochilo à tarde me reanime. Me ponha nos eixos e me tire essa leseira que me acomete desde que aportei aqui. Mamãe confirmou que posso pedir coisas no bar/restaurante do hotel e, com a minha assinatura, colocar na conta do quarto, então não preciso de dinheiro. Também me informei e posso levar o computador para o bar e escrever lá. Certamente será um programa que considerarei com muito carinho. Especialmente se a Garota do Hotel estiver lá. Grande troca, uma garota com namorado por uma garota que mora em outro país, qual será a próxima, uma marciana? Hahaha.

10h50. Fui descer para esperar mamãe trocar de roupa e me informei quanto era o táxi para a Praça do Comércio, já pensando no jogo amanhã. Sete ou oito euros, respondeu o taxista. Minha mãe concordou com o valor. Então de táxi irei. Estava com uma música de Djavan na cabeça, mas não me lembro o nome...


Banheiro do hotel em que estamos o Novotel Lisboa


12h14. Cara tomei aquele banho agora. Como nunca havia tomado. Bem longamente na banheira, bem quente, ouvindo só anos 80 e relaxando por longos e longos minutos, uma experiência uterina, e depois, para finalizar, uma boa chuveirada. Estou novo. Vou dizer ao meu amigo que, se ele quiser, pode vir que estou pronto. Dormir só embolaria a minha adaptação ao fuso-horário daqui. Estou meio sonolento, mas não há grande problema nisso. A terceira página está prestes acabar. Última linha. Fico por aqui. Relaxado, relaxado.

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