15h40. Mamãe ficou combalida devido à nova medicação que
está tomando e por isso não fomos a Porto. Não sei se isso foi pior ou melhor
para mim. Minha alma já estava toda preparada para ir, assim como a minha
mochila. Mas não ir também não foi nenhuma grande decepção. E já tenho o
computador novamente ligado, embora sem vontade nenhuma de escrever. Não
acredito que vou enjoar disso também. Aí seria de lascar, pois é o meu grande
escape do tédio. Como hoje é a Sexta-Feira Santa ou da Paixão, não sei como
chama, tivemos bacalhau como almoço. E, pela quantidade, ainda teremos por mais
três refeições. Era o bacalhau que seria levado para Porto visando alimentar
bem mais que três pessoas. Me identifico com Sandy, que se entrega de corpo e
alma a um trabalho mediano – mas em constante evolução – e o divulga com toda a
dedicação e carinho. Tirando a parte da constante evolução, é o que faço aqui.
Me entrego de corpo e alma ao que escrevo e entrego da melhor forma possível um
trabalho medíocre, mas que é o melhor que posso fazer, que sou capaz de fazer.
Minha cadeira está com uma rodinha quebrada, não adianta colocá-la no lugar
que, como um dente de leite mole, ela se abre com o peso do meu corpo incidindo
sobre ela. Não importa quantas vezes a recoloque, ela entroncha cada vez com
mais facilidade. Muito em breve vai cair. E inutilizar a cadeira. Uma Giroflex
que herdei do meu padrasto, quando este a substituiu por uma nova cadeira. É
uma pena, terei que sentar na cadeira de plástico que tenho aqui no quarto.
Outra Giroflex nem tão cedo. E o bom é que ela gira, assim não preciso me mover
de onde estou para jogar videogames ou assistir filmes ou qualquer outra coisa
que derive da TV. A TV fica à minha
esquerda e a distância que estou é perfeita para bater um game ou assistir
algo. Se eu colocar o meu centro de peso mais para trás, a roda não é um grande
problema, nem chega a tocar no chão ou me desestabilizar. E assim vou levando.
Me apercebi do problema ontem. Não sei se a fantástica empregada tem algo a ver
com isso, pois esteve ontem de manhã aqui a arrumar o meu quarto, mas acho que
os principais culpados são o meu peso e a idade da cadeira, que deve ter mais
de dez anos. Só comigo já está há cerca de cinco anos. Aguentou firme e forte
por muito tempo. Já não era sem tempo de se cansar de sua função e pedir
aposentadoria. Mas vou usá-la enquanto me for confortavelmente possível. Se
passar a ser uma agrura em vez de um conforto, vou ter que deixá-la para trás.
22h08. Algumas coisas aconteceram desde que escrevi aqui,
assisti “Fragmentado” e joguei “The Legend Of Zelda Wind Waker”. Acho que o meu
padrasto vai dormir e a noite vai ser minha uma vez mais. Não sei se minha mãe
vai ficar acordada, pois passou o dia de cama por conta do remédio que começou
a tomar ontem, não sei quanto de sono ela tem agora, pode ser nenhum. Estou com a mente cansada. Ouvindo
um mix do Cure: “Staring At The Sea”, “Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me”, “Disintegration
Deluxe Edition”, “Wish” e “Wild Mood Swings”.Vou ligar o ar. Quero
ambiente mais refrigerado e agora acho que já é uma hora em que posso ligá-lo sem
impactar muito na conta de energia.
0h59. Estava jogando o “Zelda The Wind Waker”, enfim, fiz o
que o meu coração mandou. Ainda pensei em começar o MGS4, mas desisti da ideia
quando pensei no Zelda. Em breve vou ganhar a habilidade de singrar os mares
com o meu bote mágico. Vou ligar o ar estou com calor. Está me batendo certo
sono também. Tenho que encher as caçambas antes de dormir. Acho que vou encher
logo mais, quando for pegar meu copo de Coca.
1h14. Vou pegar a Coca e encher as caçambas.
1h24. Enchi sete caçambas. Espero que dê. Posso encher uma
última ainda. Gostei de ter jogado o Zelda, me desanuviou um pouco da minha
noia quanto a videogames. Estou disposto a mergulhar mais algumas horas nele.
Só não jogo agora porque vai ter um monte de conversa e eu não estou com a
paciência para encará-las todas.
1h34. Vou ver se encontro um tema na internet para discorrer
sobre ele.
1h38. O tema solicitado foi “amor ou dependência emocional?”
Bem, primeiro acredito que todo amor gera uma dependência emocional, é uma de
suas características mais marcantes, um “precisar” do outro, isso é mais forte
e evidente principalmente quando ainda há paixão no relacionamento. A sensação
de dependência aumenta. E acho que varia de pessoa para pessoa. Há pessoas mais
apegadas e pessoas menos apegadas afetivamente. Como há pessoas que expressam
mais essa dependência e outras que escondem ou a recalcam mais. O excesso de
dependência de uma das partes em relação à outra pode acarretar um
desequilíbrio e, para o que tem menos apego, pode gerar uma sensação de “sufocamento”
na sua vida social e a dois. Acho que o excesso, como a falta de dependência
são nocivos a uma boa relação. Acho que o apego emocional é o que dá liga ao
amor. Mas esse apego deve vir acompanhado de respeito a si mesmo e ao outro.
Cada um respeitar os espaços do outro é fundamental, pois o papel de
companheiro(a) de fulano ou sicrana é apenas um dos papéis sociais que
desempenhamos. Há o aspecto profissional, individual, das amizades, enfim, uma
série de papéis que não estão diretamente ligadas ao relacionamento afetivo e é
bom que cada um respeite o tempo do outro quando esse outro quiser exercer diferentes
papéis. Esse outros papéis ficam em segundo plano quando se está apaixonado(a),
mas à medida que a paixão diminui, tais papéis vão ganhando a relevância que lhes
é necessária. Acho que só estou falando besteira aqui, mas tudo bem. Foi o tema
que me foi dado e preciso discorrer meu entendimento sobre ele que não é muito.
Mas, por exemplo, no relacionamento meu com a Gatinha havia uma dependência
emocional forte, mesmo depois de a paixão abaixar o seu facho, mas havia também
o respeito de um pelo outro e aos seus espaços. Embora vivêssemos muito pra gente,
havia momentos em que a Gatinha, que sempre foi mais do mundo do que eu,
precisava sair, visitar, viajar e eu não podendo acompanhá-la devido ao
trabalho ou porque não desejasse fazer o programa, não fazia nenhuma questão de
que ela fosse, como ela respeitava a minha vontade de ficar. Era tudo muito
democrático e ambos tínhamos apego emocional. Éramos e ainda somos muito
ligados. Temo que o novo namorado – parece que finalmente encontrou o homem
certo, assim espero e torço – vá nos distanciar gradativamente, mas sempre que
nos reencontrarmos vai ser como se fizesse um dia que não nos víamos. Não
nutrimos a paixão, o eros, mais um pelo outro, sobrou amor e amizade. Mais
amizade que amor, mas uma grande cumplicidade. Eu admito que ela assumiu um papel
meio maternal na relação, de controle que me era necessário, senão poderia
gastar o que não tinha ou fazer uma besteira maior. Que acabei fazendo e levei
o pé na bunda por causa disso. Doeu muito por causa justamente do meu apego
emocional. Ela, do lado dela, disse que também sofreu o seu quinhão pela mesma
razão. Não me lembro como, entretanto, nos reaproximamos como amigos e hoje
tenho um apego emocional por ela que é desapegado de qualquer ciúme ou
sentimento de posse ou de qualquer desejo erótico. É uma situação bem sui
generis, pensando nos meus relacionamentos passados, somos excelentes amigos.
Foi isso que a nossa relação afetiva nos deixou e é muito, pois acabamos não
realmente por desrespeito ao outro, com traições com outras pessoas ou porque
descobriu que não ama mais ou coisa assim, mas devido ao meu descontrole em
relação à cola. Obviamente desrespeitei uma cláusula do nosso “contrato” de
relacionamento que me alertava que só mais um uso a faria ir embora. Paguei
para ver e me dei mal. Ela partiu realmente e ambos partimos nossos corações,
mas não houve realmente uma mágoa muito grande. Eu tive muita sorte nessa
relação. Há pessoas que não têm a mesma sorte. Eu mesmo não tive nos demais
relacionamentos. Também era muito jovem e imaturo e, em um, foi a insegurança
que me bloqueou. Ou eu realmente não queria nada com a pessoa, havia sido um equívoco.
Fico sem saber sobre essa da insegurança. Com uma eu fui um canalha de marca
maior até que ela virou o jogo e começou a me sacanear, o que não era de sua
índole até eu ter aprontado com ela. Não sei se jamais fui apaixonado por ela,
mas desenvolvemos um apego emocional muito forte, ela, até o momento em que
virou o jogo e eu após essa virada. Tanto que sofri três anos por ela. Foi
triste. O apego emocional é saudável? Eu diria que é inevitável, faz parte do
pacote de uma relação afetiva. Minha mãe tem um apego emocional por mim
gigantesco. Eu não consigo retribuir à altura, eu creio. Eu não sei se é um
apego ou um receio muito grande em relação a mim. Mas há um vínculo muito
forte. Eu acho que alimento esse vínculo sendo dependente de todas as formas,
menos emocionalmente. E ela só depende de mim nesse quesito. É estranho. Não
sei se ela exige atenção demais de mim ou eu é que estou mais distanciado dela
mesmo. Acho que a segunda hipótese é a mais verdadeira, eu me isolo em casa. De
todos. Vivo na frente desse computador a escrever besteiras, mas estou fugindo
do tema. Em síntese, é o que eu já disse; apego emocional faz parte do pacote
de ter afeto por alguém, o medo de perder a pessoa ou a dor do luto, são filhas
desse apego emocional que nasce com e do afeto. São a parte chata, mas às vezes
a vida lhe presenteia com um pé na bunda e o negócio é levantar e saber que dói
o mesmo tanto que foi bom e às vezes até mais, mas que amar sempre vale a pena.
Os melhores momentos da vida são quando se troca amor. Quando há essa troca a
vida tem significado. E olha que quem está falando é uma pessoa que está
solteira há uma década ou mais. Não perdi a esperança, entretanto. Se não
encontrar também não me estresso, pois acredito que o quinhão de amor que já
tive foi maior que os de muitas pessoas. Amor sincero e apaixonado e sincero e não-tão-apaixonado.
Ambos são ótimos de serem sentidos. Se queria senti-los de novo de forma
concreta, não platônica? Definitivamente. Se procuro? Bem, muito menos do que
deveria. Aí já fujo do assunto amor x apego emocional de novo para dizer que a
minha zona de conforto é muito confortável e que a cada dia torna-se mais
difícil sair dela, mas vou me esforçar para amanhã ir na Casa Astral com meu
primo-irmão. Quem saiba não dê a sorte de as mesmas amigas irem? Ou outras,
igualmente interessantes? Sabe-se lá. E gosto da Casa Astral. E da companhia do
meu primo-irmão. Vai ser legal, eu creio. Quem sabe quem sugeriu esse tema
também não se anime e vá? Acho que seria uma boa mudança de ares. Ou talvez não.
Quem sabe é a pessoa. Acho que o meu texto sobre o tema foi de uma pobreza e de
uma vagueza impressionantes, acho que não sabia o que dizer. Mas acho que tudo
o que eu penso sobre o assunto é o que repeti duas vezes no texto. Uma coisa é
indissociável da outra. São interdependentes. Um alimenta o outro. E quando
ficamos sem o alimento, passamos por maus bocados até nos acostumarmos com a
nova dieta que a vida nos oferece. Até que outro prato quem sabe ainda mais
delicioso se apresente. Ou não. Eu ainda estou no “ou não”. Mas importante é
que sem sofrer, gostando de viver, curado de qualquer dor de amor. Como “alguém”
me disse há bem pouco tempo atrás, “o tempo é senhor de todas as coisas”. 2h55.
Está começando a ficar tarde para mim. E, principalmente para a minha mãe, que
já veio me pastorar. Espero que pela única vez na noite. Mas como ela dormiu
grande parte do dia, possa ser que venha me aperrear mais uma vez. Queria jogar
o Zelda só mais um pouquinho, mas posso fazer isso amanhã. Vou ver se consigo
revisar esse texto ainda agora.
3h15. Revisei mal e porcamente. Não gostei sobre o que
escrevi sobre o tema, mas não sou psicólogo, sou apenas alguém com um coração
que já amou de verdade e ama hoje platonicamente.
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