Faltam poucas horas para o dia do meu nascimento, que se
passará pela quadragésima vez desde que eu saí das entranhas da minha mãe para
o mundo no dito dia. Ter 40 é quase ser um senhor. Terei idade e aparência de
senhor e as dores e desconfortos de um senhor, sendo por dentro uma criança, se
muito, um adolescente. Um solitário senhor-criança que está muito confortável e
um pouco entediado dentro do útero que forjou para si, o quarto-ilha. Onde a
temperatura pode ser controlada, onde tem um computador com acesso à internet,
dois videogames – PS3 e Wii U –, uma Smart TV HDMI, um som relativamente
potente que considero muito bom, uma confortável cama de casal, ar
condicionado, uma porção de jogos e DVDs, alguns Blu-Rays, CDs e um monte de
bonecos e bonecas dentro das caixas, um cigarro eletrônico, fora roupas e um
bocado de tralha dentro dos armários. Enfim, um quarto com tudo o que necessito
para me manter entretido na minha própria companhia. De todos os dispositivos
no meu quarto, sem dúvida os que mais utilizo são o computador e o som. Escrever
ouvindo música é o meu grande passatempo. Embora, o Zeldinha esteja oferecendo
alguma competição por tempo. Mas o Word e o som continuam reinando absolutos.
Era isso o que eu esperava estar fazendo aos 40 anos? Na verdade, eu nem
esperava chegar a tal idade. Nunca me passou pela cabeça ter 40 anos até o
começo desse ano. Eu pensei que os 30 seriam a idade mais traumática para mim,
pois acreditava que, a partir dos 30 a pessoa definitivamente é considerada uma
adulta pela sociedade. Pode ser que eu tenha passado a ser considerado assim em
algum lugar, mas não senti mudança alguma interna que indicasse tão miraculosa
transformação que até agora, a um sopro dos 40, não acho que tenha se dado. Mas
penso que o estigma de 40 anos é mais pesado que o dos 30. Pois para algumas
pessoas, um homem de 40 anos já pode ser considerado um senhor. Um senhor de
idade, ou seja, um velho. Um velho novo ou novo-velho, mas um velho do mesmo
jeito. Me incomoda deveras a alcunha de senhor. De quarentão. Mais do que me
incomodou a dos trinta. Pois até os 30 eu era um adulto jovem, agora eu posso
ser considerado um adulto “maduro” com tudo de pejorativo que esse adjetivo
pode agregar. Ou seja, um adulto velho. Velho. Puxa, se tem uma coisa que me
mete medo é a velhice. É quando as contas de todas as extravagâncias do passado
(e do presente, for the matter)
começam a ser cobradas de forma severa. Já sinto dores no corpo, mas também o
sedentarismo ajuda. Subi quatro andares de escada e fiquei com as batatas da
perna doendo por dois dias, só para dar um exemplo. Carreguei quatro litros de
Coca Zero por um percurso de 500 metros, se tanto, e fiquei com os braços
tremendo do esforço. Tudo isso indicando que a cobrança vai ser pesada. Não
tomarei, entretanto, nenhuma medida estética para esconder a minha idade,
deixarei que ela marque a minha face, o meu corpo e pinte de branco os meus
cabelos. Não acho que qualquer medida de mascarar a idade realmente funcione e
não intendo fingir o que eu não sou. Não finjo que sou maduro, embora a idade,
socialmente falando, me cobre isso. Não nasci para ser adulto. Ou, pior ainda,
adulto maduro. 23h03. Estou quase lá. Vou publicar logo essa crise de identidade. E ir dormir. Que os 40 venham. E
seja o que o acaso quiser que seja.
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