Recife, 15 de abril de 2016.
16h28. Pior que quero voltar para dormir. Mas meio que me
comprometi com o meu primo de ir ao forró na Casa Astral. Queria que ele desse
sinal de vida aqui no Facebook. Eu preciso mandar uma mensagem primeiro para
chamar a sua atenção. Mas queria, uma vez na vida, que alguém me procurasse, em
vez de eu ficar sempre indo atrás. Acho que vou escutar New Order. Está no modo
aleatório e já começou com uma foda, “Atmosphere” do Joy Division, a única
música do Joy Division, das poucas que ouvi, que sinceramente amo.
16h57. Parei minhas peregrinações inúteis pelo Facebook para
chamar a atenção do leitor para outra música belíssima do New Order, “Leave Me
Alone”.
17h04. Sem saco de fazer nada, muito menos ir para o forró.
O que estou mais inclinado a fazer é o Zelda, mas nem isso. Sei muito bem a
causa da minha preguiça. Por sinal, a preguiça tem dominado os habitantes desta
casa. Mamãe está sofrendo os efeitos colaterais do remédio que está tomando e,
por isso, passa o dia quase todo na cama. Meu padrasto está lá deitado também. Eu
queria estar deitado também, mas lutarei contra essa preguiça e talvez vá para
o forró na Casa Astral, por mais que esteja sem disposição, mas acho que não
vai dar tanta gente quanto da última vez, visto que muitos viajaram no
feriadão. Mas que estou com muita preguiça de ir, isso eu estou. Não sei como
vou combatê-la ainda. Queria que meu primo se comunicasse comigo. Estou
apreensivo até de fazer o contato, pois não estou com nenhuma vontade de ir. Se
ele vier falar comigo, isso pelo menos injetaria um pouco de ânimo em mim. Me
sinto necessário não necessitado. Vou esperar ele me contatar. A não ser que
crie coragem para ir. Aí, não me importa detalhes tão bestas. Mas agora, do
jeito que estou, gostaria que uma mão amiga se estendesse até mim em vez de eu
estender a minha em busca de atenção. Mas, só de falar sobre o forró já estou
me animando mais. O Zelda pode ficar para a volta. Mandei uma WhatsApp para o
grupo da turma perguntando que iria para a Casa Astral e disse que estava à
procura de ânimo. Ninguém se manifestou até agora. 17h31. A Casa já abriu desde
as 17h.
17h36. Não resisti e mandei uma mensagem para o meu primo.
Vejo isso como um sinal positivo, um impulso para sair da inércia em que me
encontro. Ele visualizou a minha mensagem, vamos ver como procederá a partir
dela.
17h46. Meu primo disse que iria, que quer chegar lá às 19h.
Preciso agilizar com a minha mãe. As negociações podem ser demoradas ou
rápidas. Como é o forró da Casa Astral, fica mais fácil conseguir a
autorização.
17h49. Meu padrasto está conversando com ela no quarto. Não
gosto de interromper. Tudo seria tão extremamente mais simples se eu decidisse
não ir. Não quero ir de fato. Mas acho que uma vez lá, o meu astral mudará.
17h56. Minha mãe e meu padrasto estão agora num “debate
acalorado”, não é de nenhuma forma uma boa hora para interrompê-los. Eu poderia
já ir tomando banho, para adiantar as coisas, afinal, tenho uma hora para
chegar lá. Gostaria que minha mãe aparasse o bigode da minha barba, mas acho
que isso é pedir demais a ela. Não consigo fazer sozinho infelizmente, a
inversão da imagem no espelho dá um bug no meu cérebro.
18h17. Falei com minha mãe e ela demandou falar com meu
primo-irmão. Aí quando ela combinou tudo e deu-me o telefone para falar com
ele, nós dois descobrimos que estávamos morgados para ir e decidimos por não o
fazer. Embora, com essa brusca mudança de planos, minha vontade de ir tenha
aumentado. Se ele mudasse de ideia novamente, eu iria sem pestanejar. Agora só
me resta o Zelda. E o filme do “Assassin’s Creed”. E, claro, isso daqui. Foi
curioso como nenhum dos dois estava com disposição de ir e o fato de nos
falarmos ao invés de nos digitarmos fez essa falta de vontade ser exposta com
mais franqueza. Interessante isso. Há então algo que a comunicação oral, mais
presencial, proporciona que a meramente textual falha em lidar. Nenhum de nós
estava com vontade real de ir, mas, por algum motivo, enquanto personas do
Facebook, demonstramos interesse, mas esse não era o nosso ímpeto verdadeiro. Aí
conversarmos francamente pelo celular, pudemos expor, de forma mais
transparente os nossos desejos ou falta de. Não sei também se a conversa prévia
com a minha mãe o intimidou de alguma forma, pois sinceramente, dá a impressão
de que ele, em vez de ser meu companheiro de farras, é o meu cuidador na cabeça
dela, minha babá e, obviamente, esse não é um papel que ele queira assumir. Ou
qualquer um que só um cuidador remunerado desejaria assumir. Talvez tenha sido
o papo com a minha mãe, mas não creio nisso, acho que foi preguiça de ambas as
partes. Ficaríamos só nós dois lá, seria bom para mim ter alguém com quem
conversar e seria péssimo para ele. Seria talvez tedioso para os dois. Até
porque concordamos que não haveria muita gente devido ao feriado. O que para
mim é uma ótima e, para ele, uma péssima. Bom, de qualquer forma não fomos. Ou
não iremos até o momento, visto que ainda dá tempo de sobra para mudarmos de
ideia. 18h46. Liguei o ar, o calor estava demais aqui dentro. Já-já desligo. Deixa
só a temperatura baixar de 28 para 26 graus. Acho que vou jogar Zelda já que a
night está perdida para mim mesmo.
20h07. O Zelda chegou em uma parte chata que não tenho cérebro
para conseguir. Como eu consegui da outra vez que joguei, eu não sei, só sei
que agora acho um método chato e difícil de usar mágica no jogo. E é justamente
usar a varinha “Wind Waker”. Não deveriam ter feito com timing, só apertar a
sequência certa já devia valer, mas é necessário que seja no ritmo. E eu não
estou conseguindo fazer isso e fico abismado que consegui quando joguei há
muito tempo, na era do GameCube. Cada vez chego mais e mais à conclusão de que
eu estou ficando velho para games. Eu lembro de um chefão de fase de um jogo
que eu tentei matar várias e várias vezes, sem sucesso até hoje, mas que hoje
nem me dou ao trabalho. O resto dos itens que me comprometi a pegar no “Sly
Cooper”, se não me engano o nome do jogo é esse, nem vou mais, nem me lembro os
controles. Eu realmente acho que estou perdendo a paciência para videogames.
Essa parte de aprender a usar a varinha, que é um passo inescapável do jogo, me
tirou completamente o tesão que tinha de jogá-lo. Vou dar um tempinho para ver
se esfrio a cabeça e volto à parte em que parei. O pior é que nem salvei o jogo,
apenas desliguei o console. Pode ser que eu comece de bem antes. E tenha que
falar com todos do vilarejo novamente. Que saco. Fui no impulso da frustração e
esqueci de salvar duas horas de jogo. Que saco ao quadrado.
20h31. Estava comentando com o meu primo sobre
“Fragmentado”, que assisti ontem. Achei interessante, com toques hitchcockianos,
tensão do começo ao fim. Gostei. Assistiria de novo, eu acho. Se fosse para
agradar alguém, definitivamente assistiria de novo.
20h42. Olhando fotos sugeridas pelo Pinterest de diversos
povos e tribos de visual exótico espalhadas pelo mundo é que percebo quão pouco
eu sei da humanidade e quanto pode variar os estereótipos de beleza a depender
da cultura e da tecnologia. Essa viagem pelas imagens, me mostrou como o meu
mundo é limitado. E como não tenho a mínima pretensão de ampliá-lo para além
das figuras sugeridas vez por outra pelo Pinterest. Não tenho o espírito
viajante, aventureiro. Muito pelo contrário, sou muito apegado ao conforto e ao
comodismo. Minhas aventuras são através dos videogames. Ou, cada vez mais, eram através dos videogames. Que
deveriam se inspirar mais nas ditas culturas exóticas do mundo para desenvolver
seus personagens, traria uma riqueza e variedade que faltam aos videogames por
mais mundos fantásticos que possam criar. Estou gostando mais do disco novo do
New Order, que tem tocado bastante nesse modo aleatório em que coloquei o
Spotify, especificamente na pasta New Order, que tem 160 músicas e cerca de 14
horas de som. 20h51. Não valeria mais a pena ir à Casa Astral agora, daqui que
chegássemos lá, estaria acabando o evento. Bom, foi uma escolha feito a dois.
Um consenso. E só me arrependo um pouco agora que sinto que perdi a
oportunidade. Bem a minha cara esse sentimento contraditório com a decisão
acertada. Se soubesse que iria perder duas horas de jogo do Zelda e que teria
que dominar a técnica da varinha, talvez tivesse ido. Alguma coisa, entretanto,
ainda me atrai para o Zelda. Mas não agora. Agora estou saturado. Se voltar da
vila, serei mais objetivo dessa vez. Já sei com quem conversar e quem não me
acrescenta nada. Só não consigo me lembrar qual a casa onde tudo começa a se
resolver para mim.
21h17. Tive que ir à farmácia comprar uns remédios para
mamãe e para o meu padrasto e aproveite para comprar pilhas para o controle do
meu som, pois as antigas tiveram que migrar para o controle do ar que ficou sem
pilhas e era mais importante para o meu conforto, pois podia controlar o som a
partir do mesmo, mas não podia fazer o mesmo com o ar, logo, não tive muita
escolha. Mas ter o controle do som de volta me traz uma série de comodidades
como ativá-lo daqui e principalmente controlar o volume. Este som é realmente
potente, o volume 11 dele já é alto a ponto de me incomodar agora que passei um
tempo em silêncio (sem música, digo, em silêncio, sem falar, eu estou desde que
entreguei os remédios à minha mãe). 21h30. Não sei se encare o Zelda de novo.
Não estou com vontade. Poderia tentar o “Metal Gear Solid 4”, mas a verdade é
que não quero jogar videogames agora. Agora só me passa uma coisa pela cabeça,
além de escrever aqui. Então, escreverei aqui.
21h43. Como estou sem inspiração, utilizei o mesmo
expediente dos últimos posts, pedi a um amigo(a) online no Facebook que me
sugerisse um tema para escrever. Me foi sugerido escrever sobre a falta de
inspiração em si. E tê-la como minha amiga e companheira nesse exato momento,
visto que ela é a única companhia de que quero e posso dispor no momento. A
falta de inspiração acho que é uma velha conhecida de quem trabalha com o
criar. É quase impossível ter uma ideia na cabeça o tempo todo. E como escrevo
isso quase o tempo todo, muitas vezes me vejo tendo a falta de inspiração por
companheira. Arrumei uma maneira de me livrar desta companheira um tanto quanto
indesejável pedindo por assuntos a terceiros, como mencionei acima. Hoje,
porém, você foi mais esperta que eu e se fez de assunto sugerido. O que falar
de você? Você vem sempre acompanhada de uma angustiazinha e de um desolamento
por não ter nada o que dizer. É como se você viesse sorrateira e me roubasse as
palavras da alma. Palavras sempre tão disponíveis e subservientes, simplesmente
desaparecem e fico sem ter o que dizer. Aí te tenho como companhia e fico
olhando para a barrinha do Word piscando incansavelmente, como um alarme
pedindo novos substantivos, adjetivos, verbos ou mesmo uma preposição qualquer
e nada vem. Começo a repassar os assuntos já tratados, mas esses em nada
acrescentam ou não há nada o que acrescentar a eles que me venha à mente. Você
rouba todas as ideias, você esconde a inspiração onde eu não posso acessá-la e
isso me preenche com um sentimento ruim que é o princípio e, à vezes, meio e
fim do tédio. O tédio é o monstro do qual fujo com essas palavras, pois o tédio
me leva para os piores lugares. E você vem, me rouba a inspiração para que eu
possa encará-lo. E sofrer com ele. E me põe pensamentos catastróficos na
cabeça, como, por exemplo achar que você vai ser uma constante daqui por diante,
que o meu poço de conteúdos se esgotou e que terei que parar de escrever porque
a minha inspiração se foi de uma vez para nunca mais voltar. Mas combato esses
pensamentos exagerados lembrando que a vida sempre oferece novos
acontecimentos, novas vivências, que não há um dia igual ao outro. Que talvez,
por ora, tenha que te ter como companheira porque não há realmente nada de novo
que eu tenha vivido ou possa conjurar. Tento me contentar com a situação e
buscar outras formas de preencher o meu tempo. Geralmente o cada vez mais
distante videogame, ou um filme, mas, geralmente, fico aqui travando uma
batalha com você para ver quem ganha. Você sempre tem uma pequena margem de
vantagem em relação a mim, mas às vezes te ultrapasso, te deixo para trás e
sigo com a escrita, mas agora, com esse recurso de pedir ajuda aos meus amigos
de Facebook, eu lhe apliquei um golpe baixo, mas ainda válido. Muito embora, o
tiro tenha saído pela culatra hoje transformando você no assunto. O que não
deixa de ser deveras interessante, nunca escrevi muito sobre você e o que
desperta em mim, apenas escrevia que estava com falta de inspiração e repartia
um pouco do meu afobamento com tal situação. Mas é isso, você me leva ao tédio
e o tédio me leva a coisas ruins quando muito prolongado, por isso tento a
todas as custas lutar contra você, pois lutar contra você é lutar contra o
tédio e contra todos os caminhos escuros a que o tédio me conduz. Bem é o que
posso dizer de você. Acho que redundei um pouco, mas na falta de inspiração,
redundar é quase inevitável. Me despeço de você agora, companheira da falta de
assunto que acabou por torna-se o assunto em si, graças a uma sacada muito
criativa de uma amiga de Facebook. E até que falei bastante de você, por isso,
podíamos fazer as pazes e você me devolver a inspiração que roubou.
22h26. Vi a minha mãe fazer a mágica de guardar uma enorme
travessa de frango assado na geladeira e confesso que não teria a mesma
criatividade em organizar os itens lá dentro de forma a caber a espaçosa nova
iguaria. Parabéns para ela. Anos de prática que recompensam bem o possuidor de
tal arte. Eu certamente estaria até agora a lutar com a geladeira sem achar
solução que acabasse com o meu problema galináceo. A galinha em si nem é muito
grande, mas a travessa onde foi colocada é e os dois precisam caber dentro do
refrigerador porque ela vai se utilizar da mesma travessa para aquecer o frango
amanhã. Ai, meu deus, minha mãe vai querer que eu vá visitar a minha avó amanhã
com ela. Espero que isso só se dê à tarde, para que eu possa ter a noite para
mim e ainda poder dormir até o meio da tarde. Sei que não conseguirei isso,
minha mãe vai me acordar por volta do meio-dia, já estou até vendo. E com a
urgência e tragicidade que beira a ira que lhe são tão peculiares em tais
situações. E que tanto me irritam. Impossível não acordar de mal humor quando
se é tratado quase como um criminoso que cometeu um delito muito grave. Me
enerva tremendamente. É, incrível que mesmo com o pouco contato que tenho com
minha mãe ela sempre esteja presente nas narrativas. Talvez eu me ausente menos
do que julgava. Ou ela se faça mais presente do que queira perceber. Uma música
que não me lembro de ter jamais ouvido do New Order, mas que certamente ouvi,
pois tinha o CD de “Republic” que continha essa música “Special”. Não lembro de
jeito maneira. Vai ver que é minha mente, auxiliada pela idade e pelos abusos
cometidos, que aos poucos vai apagando as luzes da minha memória até não restar
nada. Tenho medo de quando luzes realmente importantes começarem a se apagar.
Acho que muitas já se apagaram. Por exemplo, não me lembrava do timing para
exercer a função da varinha no jogo. E deveria me lembrar disso, a não ser que
isso seja um elemento novo adicionado à versão HD do jogo, como a presença de
Tingle, que novamente terei de tirar da prisão porque não salvei o jogo. Sinto vontade
de voltar ao jogo agora. É o que farei. Resolver logo isso.
0h26. Resolvi todas pendengas do jogo que começou do lugar
do meu último save, não de onde eu
havia chegado. Isso teve até o seu lado positivo, pois ainda solucionei uma side quest que não havia descoberto da
última vez. E consegui passar da parte do tutorial da “Wind Waker”. Tenho quase
certeza que não havia esse “metrônomo” no Wind Waker original. Foi um péssimo
acréscimo, dificultando uma interface que vai ser muito usada ao longo do jogo.
Aproveitei também para criar um arquivo de Word para o jogo onde escrevo tudo o
que me faltou fazer em determinada ilha porque os recursos ainda me são
indisponíveis. Comi. Estou com muito sono. Vou aproveitar para dormir.
0h42. O pior que perdi o sono agora. Tenho que encher
caçambas para amanhã.
0h58. Enchi. Acho que vou logo tomar banho. Não vou deixar
para amanhã, não. Meu sono já foi embora mesmo. Acabando o copo de Coca eu vou.
Estou com o som desligado, o que é uma raridade. Mas, às vezes um silêncio cai
bem. E como cai. É preciso dar um alívio para os ouvidos de vez em quando, não
só na hora de dormir, mas acordado mesmo. O alívio do silêncio para os ouvidos
reverbera na alma, que fica menos agitada. O banho quente me fará bem, talvez,
em vez de me despertar, me relaxe, mas acho difícil. Vou tomar de qualquer
maneira. E se o sono tiver ido embora mesmo acho que vou passar mais um
tempinho no “Wind Waker”, que, a partir de agora, citarei através do acrônimo
“WW” (não confundir com Wonder Woman! Hahahahaha).
1h27. Tomei um banho relativamente rápido para os meus
padrões, mas me limpei bem e todo. Queria colocar um desodorante antes de
dormir, mas o que tinha no meu banheiro... estava dentro da mochila como um dos
itens que eu iria levar para a nossa frustrada ida a Porto. Ainda bem que me
lembrei. Nem tudo está perdido para a minha velha memória então! 1h31. Está
tarde já. Estou com vontade de jogar, mas ao mesmo tempo temo por uma ofensiva
da minha mãe me mandando ir dormir no meio de uma parte muito importante do
jogo que não dê para salvar. Falar de
videogame é muito chato. Mas pelo menos agora ele está me cativando, o que não
acontecia com o Yoshi. “Yoshi Woolly World”, nem sei mais se tenho disposição
para encarar a zerada seca, sem pegar todos os itens nem abrir todas as fases.
Mas tentarei. Como tentarei depois do Zelda, se não interrompê-lo no meio por
causa do metrônomo, jogar o “Persona 4”. Estou com expectativas muito altas em
relação a esse jogo. Tenho certeza que vou me decepcionar. Mas eu disse que era
muito chato falar de videogames, seu desobediente!
1h41. Me dê a mão que te dou meu mundo. Essa frase me surgiu
na cabeça, como acontece com todo o resto que escrevi aqui. É uma variação de
um verso de Milton Nascimento que me marcou. Acho que seria uma coisa bela de
se dizer a uma garota, se eu tivesse coragem para isso. Acho que vou jogar um
pouco do WW, sim. Não estou com sono. Vou não. Vou escrever só mais um
pouquinho e ir dormir. Tenho certeza que minha mãe vem me pastorar hoje. Jogo
amanhã, se acordar cedo, pois tudo indica que terei que ir visitar a minha avó
com mamãe à tarde. Minha avó merece a minha visita. Não sei se vai agradá-la,
mas irei mesmo assim. Se ela ficar desgostosa comigo lá, tanto melhor, não
precisarei ir das outras vezes. Porém, acho que ela vai adorar, modéstia à
parte. Mas o meu pensamento contrário mostra o quanto estou antissocial e
acomodado no meu mundinho e em quanto reluto para não sair dele. Sinto um
incômodo quase físico quando tenho que deixar a minha toca, as minhas vontades,
para fazer as vontades de terceiros. Mas a vida tem dessas obrigações das quais
não se pode escapar. Minha avó, principalmente nesse duro período de luto do
meu avô, precisa de todo apoio emocional possível. Acho que eu serei um bom
adendo à causa. Vou tentar me deitar agora. Não, vou pegar o último copo de
Coca para dar umas baforadas e, aí sim, me deitar. Logo agora, que ganho novo
fôlego para escrever. Estou virando uma pessoa fria com as demais. Não era
assim. Costumo colocar a culpa no isolamento, mas quem busca esse isolamento
sou eu. Eu sei que ele é um bocado imposto pela minha mãe, mas se eu quisesse
poderia batalhar mais pelo meu espaço. Por mais espaço. Acredito que se ela
entrar na terapia algo vá mudar. Não sei se para o meu bem ou meu mal, mas para
o bem dela. Acredito fortemente nisto. E farei suave pressão para que ela
comece o mais rápido possível essas sessões. Tentarei me lembrar de falar disso
com ela no carro quando estivermos indo ou voltando de Boa Viagem. Gostaria
muito de passar no RioMar para ver se encontro os CDs que eu quero e um
controle nunchuck original de Wii. Mas vou esperar a gatinha responder
primeiro, pode ser que eu tenha entregue meu Wii a ela com todos os controles.
Aí está resolvida a questão sem precisar pagar mais nada por isso. O controle
básico eu tenho, me falta o nunchuck para atrelar a ele. O copo de Coca está
acabando, assim como o meu tempo aqui. Agora que peguei gosto pelo negócio,
embora só esteja falando de videogames e quase ninguém entenda o que diabos é
um nunchuck. Ah, mas falei do meu distanciamento emocional das pessoas também.
Isso é relevante, mas, sinceramente, a esta altura do campeonato, não me
incomoda tanto, sabe? Me acostumei com a minha vida de semiermitão urbanoide.
Não gosto é que uma vez me posto nessas condições, venham me roubar dela. Vou
fechar o computador senão não durmo. 1h55.
6h26. Acordei e não consigo mais dormir. Acho que vou tentar
aguentar agora o dia inteiro acordado somente com um pouco mais de três horas e
meia de sono. É bom que durmo cedo e vou pro CAPS amanhã disposto. Acho que vou
jogar Zelda. Minha mãe não vai acreditar que eu dormi. Pensar positivo.
8h24. O Zelda está o bicho, muito divertido. O negócio é só
adquirir jogos agora de nota 8,8 para cima. O Yoshi era 7 e um pouquinho. Não
me entretém. É muito criativo e desafiante nas fases mais avançadas, mas de um
jeito pouco divertido. Bateu na trave. O Zelda só tem o problema desse
metrônomo dos infernos que tenho quase que absoluta certeza que não havia no
anterior e que dificulta o que deveria ser bem acessível, enfim, uma péssima
decisão de design. Minha mãe acreditou em mim. Graças. Esse clima de completa
desconfiança me incomoda muito. Agora o modo aleatório do Spotify está
funcionando, três músicas de três discos diferentes. Agora quatro músicas de
quatro discos diferentes, yes! Estou com sono, mas agora não há nada que possa
fazer. O Zelda é um jogo que tem muitas instruções que se o cara não jogar de
cabo a rabo se dá mal, esquece coisas essenciais ao desenrolar do jogo. Acho
que certas coisas mudaram desta versão para antiga além do metrônomo e dos
gráficos em HD. Só não posso dar certeza porque faz muito tempo que joguei. O
game foi lançado em 2002, que foi quando joguei. Então dá para ter uma ideia do
tanto que esqueci. Eu nem namorava a Gatinha ainda, eu acho. Não, não namorava.
Me lembro que minha vida era o jogo à época. Fique fissuradaço, apaixonado pelos
gráficos e pela jogabilidade. Tenho que me controlar a respeito de escrever
sobre videogames. Dei uma pausa no Zelda, pois caí tudo o que tinha escalado e
terei que fazê-lo de novo. É bom dar uma respirada. Joguei umas duas horas,
duas horas e meia seguidas. Tá bom. O pior é que o blog, por ser/estar menos
excitante, me dá mais sono. Mas resistirei. O que poderia escrever para torná-lo
mais excitante?
9h40. Não deu tempo para pensar, mamãe me chamou para o café
da manhã e, graças, fez um café para mim, além de abrirmos meu bolo de
aniversário, que estava uma delícia. Preciso fumar um cigarro. Mas, para isso,
é necessário que o meu padrasto saia da cozinha e se enfurne no quarto. Mamãe
como sabe os meus gostos, comprou um bolo todo de chocolate. Só não comi mais
porque não estou com fome e me daria mais sono muita comida na barriga. A
música de Clementine toca. “Menina Bordada”. Xô, Clementine. Nada de me
assombrar mais. Estou sem assunto, para variar. Não posso falar de videogames.
Se bem que se realmente quisesse o faria, afinal o blog é meu, digo o que
quiser. Estou feliz de estar apegado a um jogo novamente. Pensei que a magia
havia morrido para mim, mas aparentemente não. Isso me traz um alívio, um
aconchego danado. Embora não tenha vontade sincera de jogar mais nenhum dos
jogos que tenho para Wii U. Isso quer dizer que eu não estou completamente
curado da minha ojeriza ao entretenimento eletrônico. O WW foi o melhor jogo
que joguei na vida, dada a época e os gráficos revolucionários para a ocasião.
Além, claro do fator de diversão gigantesco do game. A nota da versão HD que
agora jogo é 9,0 no Metacritic. O que é uma tremenda nota para um remake de um jogo
com mais de dez anos de idade. O novo Zelda tem média 9,7. Mal posso esperar
para jogá-lo. Novamente, talvez porque não o tenha, mas acho que não. Acho que
é porque eu amo a série mesmo. O mais fraco para mim foi justamente o feito
exclusivamente para Wii, “Skyward Sword”, especificmente pelos controles
gestuais que eram necessários fazer para usar espada e escudo. Aquilo era muito
chato, além de que o mundo não era tão grandioso como nos demais. O único ponto
alto foi a estória, a melhor de todos os Zeldas que joguei. Resta ver esse
novo. Mas 9,7 é uma nota muito difícil de alcançar no Metacritic.
11h40. Putz, dei uma empacada no Zeldinha... tô me sentindo muito
burro. O pior é que já cheguei no lugar determinado uma vez, mas não me lembro
de forma nenhuma como. Já fui e voltei por todas as portas do dungeon umas sete vezes e não acho o
bendito subsolo de novo. Ozzy. Mas o Zelda tem disso. Não vou esmorecer por
causa disso. Vou esmorecer se tiver que reger uma música com a “Wind Waker” com
seis movimentos. Aí, sim, eu estrilo.
11h47. Fui pegar uma Coca para dar umas merecidas baforadas
no Vaporfi. Pôxa, estou com muito sono. Acho que esse quarto escurinho ajuda,
as persianas estão fechadas, mas não quero claridade, acho que agrediria meus
olhos cansados de enxergar. Meus olhos que só querem se fechar. Mas resistirei.
Não é a primeira vez, nem será a última, creio eu. Isso é que dá trocar a noite
pelo dia. Às vezes os horários colidem, principalmente na transição para um dia
de “branco” (leia-se CAPS) ou, como hoje, que pede a minha presença, desperto,
logo no começo da tarde. Qualquer coisa que me obrigue a estar acordado cedo
vai gerar esse choque de horários, em suma. E tem gerado. Já é a segunda vez
que não durmo. Ainda bem que minha mãe acreditou que eu dormi. Eu tentei
dormir. Isso eu fiz até as 3h30, depois desisti. E a partir das 4h30, comecei a
jogar. E depois a escrever. Quando comecei a escrever, minha mãe chegou no quarto
para me pastorar, o que é muito chato, diga-se de passagem, e me pegou
acordado. Disse que dormi até às 6h26. Horário do meu primeiro parágrafo depois
da madrugada. Não quero gerar polêmicas desnecessárias. Nem mais desconfianças
por parte dela. Ela custou a acreditar que eu dormi, ainda bem que finalmente
engoliu a conversa. Ou fez que engoliu. Não sei, ao certo. Parece que ela tem
um sexto sentido. Ou desenvolveu uma percepção superaguçada da minha pessoa
nesses anos todos de decepções e sustos por causa do abuso de drogas. Abuso,
por assim dizer, uso uma vez e sou internado. Mas geralmente quando uso, eu
boto para lascar. Por isso me considero viciado. Não há limite para o meu
consumo de cola. O limite é a danada secar. E teve vezes que foi tão ruim, que
pareciam em vez de sonhos lúcidos, pesadelos dos quais não conseguia despertar
por causa da compulsão que sempre me empurrava adiante prometendo que iria
ficar melhor. Só que não ficava. Foi assim pelo menos duas vezes. Comprei as
latas maiores nessas duas vezes e cheirei em lugares muito abertos, atrás de um
poste em frente à pista de corrida da Rural e outra na areia da praia. Foram
experiências péssimas. Agora a cola já sequelou tanto o meu cérebro que só
tenho apagões. Me lembro apenas de flashes. Pense em um negócio sem futuro. Nem
presente. Só passado, espero. Esse post está ficando grande demais, mas está me
mantendo acordado, é o que importa. Então, continuarei escrevendo. Ia desligar
o ar, mas vou deixar dar mais uma geladinha, ainda não está agradável o
suficiente. Estava fazendo 29 graus no quarto quando liguei. Segundo o controle
do ar. No qual acredito piamente. Vamos deixar chegar a uns 25 graus. Não sei
mais como faz para mostrar a temperatura do quarto quando o ar está ligado. Ele
só mostra a temperatura estipulada para ele gelar – 23 graus –, não a
temperatura real do ambiente. Realmente não sei. Apertei os botões que achei
serem verossímeis de produzir tal efeito e não consegui. Pronto desliguei,
vamos ver se ele mostra em que temperatura o quarto está. 27 graus. Bem que eu
ainda estava achando quente. Mas agora vou dar um tempo antes de ligar de novo.
Vou deixar chegar a 28 ou 29 novamente. Mas que conversa chata, né? Mas é o que
me sai da cabeça agora. Estou travando uma batalha contra a minha mente que
quer se desligar um pouco, na verdade, bem muito. Se fosse só um pouco, me
permitiria uma soneca, mas sei que não vai ser assim se pegar no sono. Espero
que não haja muito trânsito hoje, embora com o final do feriadão, tenho as
minhas dúvidas. De qualquer modo irei tentar alimentar em mamãe o desejo de ir
à terapia. Ela vai colocar uma série de prioridades antes, mas tentarei
estipular que depois da primeira sessão de radioterapia, ela comece com o
tratamento da cabeça. Ela não sabe o quanto é importante para a estruturação sadia
do ego uma boa terapia. Eu acho que vou parar de usar xampu anticaspa. Tenho
essa teoria conspiratória na minha cabeça de que eles não curam nada, que devem
até estimular a produção de caspa para não perderem consumidores. Vou, na
primeira oportunidade que tiver, comprar um xampu normal. O pior é que há dois
anticaspa quase cheios no meu banheiro. Vou começar a usar uma quantidade maior
dos xampus para que acabem mais rápido. Quem sabe se assim, em maior quantidade,
eles não acabem fazendo efeito. Eita, vou colocar o clipe de “My Valentine” de
Paul McCartney para ilustrar este post. Meu amigo postou como uma recordação
hoje e eu amo a música e o clipe. Boa ideia. Alguma coisa de qualidade nesse
post. O playlist acabou e entrou “Felicidade”
de Marcelo Jeneci, que é superfofa. Coloquei no setlist embora não tenha nada a
ver ou tem, sei lá. Foi a sugestão do Spotify. Estou com vontade de New Order.
Não Sandy/Nirvana. Coloquei New Order, esqueci que ia colocar Sandy/Nirvana. É
a mente cansada. Queria saber como diabos eu alcancei a primeira parte do
subsolo do dungeon onde estou. O que
é que está me escapando. Deve ser muito óbvio e eu não vejo/percebo. São ozzy
essas empacadas do Zelda, mas fazem parte da experiência que exige que o
jogador quebre mesmo um pouco a cabeça para resolver os desafios. Acho que vou
voltar ao jogo um pouco. Assim fica menos texto aqui, o que é sempre bom para o
leitor. 12h56.
14h04. Na hora do mestre o controle descarregou. Que ozzy. E
eu sabia que era algo que havia me passado despercebido. Uma coisa imensa e não
havia juntado alhos com bugalhos. Tão simples e ainda assim tão sutil. Uma
simples questão de observação mais cuidadosa da situação.
14h19. O chefe está de rosca e eu sem paciência. Já fiz uma
longa jornada hoje. Talvez quando voltar da casa de vovó eu tente mais algumas
vezes. É, algumas. Videogame é assim. Vidas infinitas significam que você
também vai morrer muito. Principalmente se você for um lambe como eu. E eu nem
sei se atingi o bicho. Mas acho que sim, minha outra ferramenta não vai tão
baixo, eu creio. Só tentando. Mas desde já acho que não funcionará. De qualquer
forma não posso não tentar, pode ser esse o pulo do gato. Meu deus, como estou
com sono. O jogo é realmente uma atividade estimulante. Enquanto jogava, não
senti sono algum. Vou pegar um copo de Coca para reanimar. 14h26.
14h28. Minha mãe está conversando com a minha irmã que mora
na Alemanha. A única irmã que eu tenho, em verdade. Tenho duas, se contar a
filha do meu padrasto. Utilizando o mesmo critério, tenho dois irmãos. O que é sangue
do meu sangue mora nos EUA. Então fico só eu aqui, que é onde quero ficar até
morrer. Mas nem sempre se consegue tudo o que quer, não é verdade? Bem, a vida
dirá qual será o meu destino, quando minha mãe tiver cumprido o dela neste
mundo. Coloquei, por acaso, a rodinha problemática da cadeira que agora e
sempre uso em uma posição que não me atrapalha em nada. Ficou mais para trás
que para a frente e isso estabilizou a cadeira, não sei bem por quê. Só se eu
pender para o lado esquerdo, ela se desestabiliza, mas isso é muito raro de acontecer.
Tem que pender muito. Então o problema da cadeira por obra e conta do acaso se
resolveu. Espero que as demais rodas não cedam.
15h16. Mamãe foi tirar um cochilo de meia-hora e eu tenho
que ficar acordado. Imprimi em PDF o negócio do imposto de renda da pensão que
o meu padrasto queria e o enviei por e-mail. Daqui a pouco zarparemos rumo a
casa de vovó. Provavelmente pegarei no sono no
carro. Minhas pernas doem de passar tantas horas sentado, com pouco
intervalo deitado. Vou deitar só para me estirar um pouco.
15h25. Pronto, me levantei. Me espreguicei, fiquei um tempo
deitado com os olhos fechados, já deu uma revigorada. Me sinto mais desperto
agora, menos fadigado. Ótimo. Assim posso ver vovó mais vivamente. Não mal-humorado
e macambúzio como estava. Ainda estou um pouco sonolento e ainda acho que vá
dormir no carro, mas é a vida. Pelo menos o cochilo no carro minha mãe não há
de me negar. Or so I hope. Eita,
parece que o efeito foi temporário, estou agora caindo de sono. Vou pôr mais
Coca e mandar Vaporfi para cima. Fazer fumaça. Acho que vou fumar um cigarro de
verdade. Não, não vou. Vou levar a carteira no bolso. De repente fumo um na
casa de vovó. Não, vou fumar um agora.
15h42. Fumei e me pesei. Que decepção com este segundo, 95 kg,
mas acabei de almoçar e tomei uma tonelada de Coca. Espero que volte aos 92 batidos
que alcancei ontem ou anteontem. No próximo final de semana há outro feriadão
igual a esse, sexta parece que é feriado, ou assim me disseram. E no final de
semana posterior ao próximo terá outro feriadão, só que desta vez na segunda. Será
que com esses dois feriadões e meus dias sem CAPS eu consigo zerar o Zelda? Se
estou com problema logo no segundo mestre, acho difícil. Não sei se posso
destruir os tentáculos/raízes do mestre, caso isso seja possível, facilita
bastante, por isso acho que não seja. Já estou pronto para visitar vovó. Estou
usando a nova camisa que recebi da Teenow, com a ilustração de uma das irmãs de
Sandman, Insanidade, Delírio ou Demência, algo assim nessa linha de total
alheamento mental e fantasia.
15h53. Mais um copo de Coca. Tô morto, velho. Zumbi. Vai ser
ozzy na casa de vovó. Espero que o cochilo no carro, se houver, me dê ânimo.
Botei um New Order para ouvir, a música me deixa mais alerta. Quebra a
monotonia do silêncio. Vou ligar o ar, está um calor danado aqui. Minha mãe diz
que eu preciso cortar o cabelo, que já está grande. É bom que mantenho sempre o
visual renovado. Também estou achando um pouco grande já. Não está igual a como
quando eu saí da cabeleireira. 15h59. Quero ver quanto essa meia-hora de mamãe
vai durar. Eu poderia ter dormido até a hora do almoço. Aí iria ser tranquilo e
favorável. Mas talvez aí passasse essa noite em maus lençóis para acordar amanhã.
É, já foi. E será. Quando chegar, tomo banho, remédios e durmo. Só espero não
perder o sono e ir dormir de uma, duas da manhã. Aí seria o cúmulo. Espero que
não aconteça. Profundamente. Iria ser o ápice do ozzy.
É impressionante, a idade vai dando pelos nos locais mais
improváveis. Não dá nem para arriscar o mestre do Zeldinha porque mamãe pode
irromper do quarto a qualquer instante. Por mais que ache que ela nem tenha
despertado ainda. Mas posso estar enganado. Ela pode já estar tomando banho ou
vai pular essa etapa, para ganhar mais meia-hora de sono. Enquanto isso eu
permaneço alerta. A duras penas. Mas a culpa é toda minha. Não há mais ninguém
a quem culpar e não são necessários culpados, apenas assumir a
responsabilidades pelas decisões tomadas, que é o que estou fazendo. Às vezes
acho que posso digitar sem olhar para o teclado e às vezes eu posso mesmo, mas demora
muito mais do que se fosse digitar olhando.
20h24. Voltei da casa de vovó. Foi bom. Ela conversou
bastante comigo, segundo mamãe, que acrescentou que ela adorou a minha visita
por causa disso. Eu acho que é o que ela nunca teve, alguém que a escutasse.
Pois vovô era muito falante e era bem surdo, logo, na vida dela o que ela menos
foi, foi ouvida. A não ser quando os filhos ainda eram crianças/adolescentes/dependentes
dela, o que já faz muito tempo. De lá para cá, pouco foi ouvida, os filhos vão
lá, via de regra, para passar comandos e fiscalizá-la (ou seja, julgá-la)
exceto talvez o terceiro filho. Não é querendo me gabar, mas eu vou para
escutá-la, pois imagino que ela fale muito pouco e menos ainda seja ouvida com
o devido respeito e atenção, por mais disparatadas que sejam algumas de suas
opiniões. Não importa, me interessa ouvi-la, como me interessa ouvir a
humanidade de forma geral, desde que não seja alguém falastrão demais. Muito
cheio(a) de si. Aí fica um pouco cansativo até para mim. Donos da verdade em
geral me provocam certo desagrado. A não ser que haja um embasamento legal na
retórica da pessoa, que muitas vezes há. Mas os sabe-tudo me geram grande desconfiança.
E embora tenham um ótimo papo, sejam muito comunicativos e simpáticos, seu conhecimento
“superior” aos de quaisquer outros me deixa com um pé atrás sobre a veracidade
do que falam. Muitas vezes, eu, com meu parco conhecimento, os pego a falar
asneiras, mas não tenho coragem de apontá-las, com receio de parecer petulante
e pernóstico e por um prazer cruel de assistir o outro, tão senhor de si e de tudo,
passar por um vexame, pelo menos aos meus olhos que entendem de certas coisas,
não muitas, novamente, mas que às vezes é suficiente. De qualquer forma, esse
não é o caso da minha avó. Ela é apenas um tanto quanto paranoica, coisa que
minha mãe herdou e eu estou assimilando dela. Ou seja, nada demais, nada que me
incomode. Ouço com a maior atenção e sem fazer julgamentos, deixo que vovó
solte o verbo. Acho que por isso ela gostou da minha presença. Por outro lado,
pode ser só presunção minha, motivada pelo comentário da minha mãe. Mas é fato
de que precisa conversar com alguém. Com mais frequência. Tenho que me esforçar
para ir lá mais vezes. Sei como a solidão é cruel. Mas tenho o recurso dessas
palavras e sei que há outros habitantes na casa, para qualquer caso de eu
querer ter uma conversa. Ela só tem a solidão. E ainda o luto da perda de um
companheiro de mais de 50 anos. Ela está querendo morrer para ir “se encontrar”
logo com o meu avô, sob sabe-se lá que crença que alimenta, pois não quer missa
para o seu funeral, nem flores, nem lágrimas. Obviamente haverá um tio que
desobedecerá todos esses pedidos e realizará todos os ritos cristãos para ela.
Mas ela já estará com vovô quando esses momentos se derem, não vai se importar
muito. O fato de parar de tomar os remédios para acelerar esse “reencontro” me preocupa,
tentarei argumentar que se parar de tomar as medicações poderá ficar viva e
dando trabalho a todos da família, e perguntarei se é isso realmente o que ela
quer. Ela que não gosta de dar trabalho a ninguém. Mas se for julgar pelo que
acontece com casais que vivem tanto tempo juntos, é só uma questão de tempo,
não muito, para que ela, que (nem tão) secretamente já decidiu desistir da
vida, também se vá. Por isso preciso aproveitar o máximo enquanto ainda a tenho
bastante sã e viva. Ou seja, preciso ir visitá-la mais com mamãe. Me abalaria perdê-la
mais que os demais avós visto que não possuía vínculo tão estreito com primeiro
que perdi, meu avô paterno, e me pouparam do funeral e os outros dois, minha
avó paterna e meu avô materno, já estavam por demais alienados pelo Alzheimer para
que eu visse suas mortes como um alívio para aqueles dois seres. Mas perder a minha
avó materna mexeria comigo, pois ela ainda está inteirona no meu ponto de
vista. Vejo-a fisicamente melhor que a minha própria mãe, filha dela, que vive
a se queixar de dores, inchaços, alergias etc. e etc. Está pesada, acima do
peso. Acredito que se perder peso, alguns dos sintomas desaparecerão. Ou não.
Ou a velhice a tenha tomado de forma mais violenta que à minha avó. Sei lá. Sei
que ficaria mexido com a morte da minha avó nas atuais conjunturas. Espero que
não aconteça, que ela chegue aos cem, o que não acho nem um pouco impossível.
Visto a dieta que leva e a vitalidade que exibe. É verdade que come como um passarinho,
mas não está anêmica e continua bem-disposta. Então acho que ainda tem muito
chão pela frente. Mais uma vez, posso estar muito enganado e ela seguir meu
avô. Mas não é a aparência que me dá. Há por trás da pulsão de morte uma pulsão
de vida mais forte eu quero crer.
21h26. Falei com o meu irmão
agora e foi muito bom. É sempre muito bom falar com ele. Que bom que ele ligou
para a minha mãe e minha mãe trouxe o aparelho para que eu falasse com ele.
Falamos de coisas que só a nós interessa, como videogames e o trabalho dele com
realidade virtual. Ele parece empolgado. É bom vê-lo assim, como não o via na
outra empresa em que trabalhava. Mas não revelarei pormenores da vida dele. Os
trabalhos lá são cheios de cláusulas de confidencialidade. Mas acho que ele só
reparte o que já é sabido. E sempre me deixa supertentado a experimentar um
óculos/capacete de realidade virtual. Hahahahahaha. Talvez seja o novo passo
salto na evolução dos games. Quem viver verá. A tecnologia tem que baixar muito
de preço para se tornar mainstream. E
o conteúdo tem que se tornar mais cativante, o que, segundo o cara da
Microsoft, ainda não é, ainda não mostrou seu verdadeiro potencial. Não mostrou
a que veio, mas tem muita gente investindo nisso, logo, acredito que algum breakthrough não tarda. Só porque falei
com meu irmão estou cheio de expressões em Inglês, metido nada! Hahahahaha. E
olha que só falamos em Português, obviamente, até porque meu Inglês é medíocre.
Hahahahaha. Viu como falar com o meu irmão me deixa feliz? Fiquei todo risonho
e esqueci totalmente o drama da minha pobre avó. Mas não me esquecerei dela.
Droga, já são 21h37 e não estou com sono nenhum. Minha vontade é continuar
escrevendo. Mas agora o assunto acabou. E esse post já está com 11 páginas de
Word. Novo recorde. Mas também desde o sábado que escrevo. E já são 21h47 do
domingo. Mesmo assim, ninguém vai ler isso. Chato vai ser revisar tudo isso.
Acho que vou fazer logo agora para me dar sono. 21h49.
22h45. Revisei tudo e ainda não
estou com sono. Vou pegar o meu último copo de Coca, comer antes uma fatia de
bolo e me deitar.
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