Provavelmente não terei muito tempo para digitar, meu grupo
está prestes a começar. De toda forma o impulso de buscar refúgio aqui se fez
presente. Não vi X hoje. Acho que não a verei. O que é um começo de final de
semana decepcionante. Já estou com vontade de fumar de novo. Ganhei uns Gift do
meu companheiro de grupo, pois, de alguma forma inexplicável para mim, o
líquido do meu Vaporfi, que enchi ontem pouco antes de dormir, está
praticamente vazio e só trouxe cinco cigarros. Ia trazer só três. Ainda bem que
meu amigo me deu quatro. Por mais que precise fumar dois Gift para saciar a
minha vontade. Estou com muita vontade de fumar. Vou lá dar umas baforadas
antes de ser chamado para o grupo. 9:34.
11:13. X está aqui! Mas está atendendo outro usuário com a
psicóloga. Ela veio me trazer o suco, fiquei muito feliz com o gesto. Mas acho
que vai ficar só nisso hoje, o que me é um... (fui interrompido para ir para um
grupo, mesmo estando sem a mínima vontade), mas, continuando, o que seria um...
Ela veio sentar comigo, está lendo a “Novíssima Religião”, que combinei de
trazer para ela. Não sei como vamos interagir depois e isso me dá certa
ansiedade. Vou parar por aqui por ora.
-x-x-x-x-
13h35. Estou em casa e nem lembro direito sobre o que
conversamos. Sei que conversamos bastante com o meu amigo que me deu os Gift.
Saí para fumar a convite dele, quando ela saiu para lavar as mãos. Talvez ela
tenha voltado para ter comigo, pois pegou o papel na mesa. Um grande
arrependimento me bate de não ter estado lá quando ela voltou, mas não soube
dizer não ao meu amigo que, afinal, me dera cigarros – e me deu mais três
quando dessa última fumada – aí fiquei sem jeito de recusar o convite. Mas no
final do meu cigarro eu disse a ele que quando acabasse de fumar, iria voltar
para dentro do CAPSpara ver se conversava com X, minha nova paixão platônica –
só se pode fumar na calçada agora, devido às novas regras antitabagistas – e foi
o que fiz, mas ela já estava sentada com os demais estagiários na recepção
mexendo no seu celular. Perdi de privar mais um pouco de sua companhia. Me
despedi dela de forma semi-carinhosa, a meu ver, no meu sentir, pelo menos, o
que deve ter levantado as sobrancelhas dos dois outros estagiários para a nossa
intimidade. Perguntei-lhe que dias ela vinha e descobri que vinha na terça e na
quarta, ou seja, realmente segunda-feira não é dia de ver X no CAPS. É bom já
saber disso. Não sei o que os outros estagiários vão comentar – se é que vão
comentar – da nossa relação. Acho que não vão, tão entretidos que estavam com
seus celulares e papéis. Se comentarem, tanto melhor, quero ver o que mudará na
nossa dinâmica interpessoal. Pode ser que ela se feche como uma concha e até me
evite se constatarem que eu talvez esteja projetando coisas demais nela. Ou
coisas impróprias para uma relação terapêutica saudável. Em outro extremo,
existe uma psicóloga que às vezes me parece estar a fim de mim. Ela se sentou
muito perto de mim hoje no grupo que não queria ir e onde não falei, pois achei
que havia dores maiores que as minhas que precisavam ser expostas. E estava
certo na minha opção de calar, embora X tenha pontuado que as dores são
relativas. A verdade é que estou tão antissocial que não tive coragem de falar.
Foi muito mais isso que compaixão com as demais pessoas do grupo, embora isso
tenha havido também. Houve sofrimentos expostos tão mais profundos e pungentes
que os meus que preferi calar. O que foi melhor, pois dei oportunidade a uma
mulher muito mais necessitada do que eu de falar de suas grandes perdas
familiares. Se tivesse eu falado das minhas “cicatrizes”, ela talvez não
tivesse tempo de falar. Eu pude falar bastante no grupo AD no início da manhã. E,
sim, a psicóloga sentou-se a poucos centímetros de mim, se quisesse, poderia
ter-lhe tocado a mão, como acontece na cena do cinema em “La La Land”. Não a
descarto como uma possibilidade de relação. Principalmente se ela fizer esse
jogo de sedução comigo que estou tão carente. E é por estar tão carente que
acho que vi nessa proximidade e em outras pequenas atitudes algo que realmente não
há. Como vejo em X algo que não há. Não é porque ela me trouxe o suco que ela
tem algum interesse por mim. Ela teve a preocupação, talvez, de, por eu não
almoçar, pelo menos eu tomar o suco, que é algo natural e nutritivo. Uma
preocupação que demonstra um certo afeto, é certo, mas não necessariamente da mesma
natureza do que eu busco nela. Acho que ela ficou um pouco envergonhada pela
forma como a tratei na saída do CAPS diante de seus pares. Quem me dera, isso a
faria perceber talvez uma coisa ou duas sobre a nossa relação terapêutica.
Coisas que talvez não a agradem. Acho incrível que ainda não consiga montar uma
imagem clara de sua fisionomia. Isto muito me intriga. Será que fico estudando
os detalhes e não me deixo olhar para o todo? Não sei. Queria pedir-lhe um
abraço para ver se nossos corpos se encaixam. Sim, porque há corpos que não se
encaixam em abraços. Já abracei pessoas, garotas que não se encaixaram bem em meus
braços. E isso é algo definitivo para mim, que os corpos se encaixem bem em um
abraço. Afinal, de que vale estar com alguém se o abraço não se encaixa? O
abraço é uma das melhores partes de uma relação. Por exemplo, a Gatinha,
gordinha como está, não se encaixa mais como antes nos meus braços, afinal
estou gordinho também. E não gosto de sentir um corpo gordinho, me é
desconfortável. Por causa desse simples fato, já não seria a mesma relação,
pois o abraço não se encaixa como antes se encaixava perfeitamente. Preciso
perder esse bucho. Mas está difícil. Tenho comido muito à noite. Tenho comido
pelo dia inteiro e não dá para ser assim. 14h44. Vou dormir um pouco, como a minha
mãe vai fazer. Fui comer um pouco de farinha láctea e perdi completamente o fio
da meada. Depois continuo. Se não tiver saída na night hoje.
14h53. Falei com meu primo-irmão e aparentemente não vai ter
saída hoje, ele está convalescendo de uma cirurgia. Amanhã, entretanto, vai
para os Amantes de Glória, a partir das 16h perto do Salesiano. Não é muito a
minha praia, mas preciso me socializar. Preciso sair. Passar outro final de
semana enfurnado é que não dá. Se bem que X supre minha necessidade de
interação semanais just fine. Mas
como ela é, até agora, uma impossibilidade, preciso ver o mundo e as garotas e
quem sabe, sei lá, o amor me encontre? Tudo é possível. Porém improvável. Até
porque é possível que esteja no bloco com meu pensamento em X. Às vezes me dá
na cabeça que não tenho esse interesse todo nela, que estou hiperbolizando
racionalmente uma centelha, para que aparente ser chama. Em outras, acredito
piamente no sentimento. Não sei, não sei, minha alma é tão incerta. Só não
quero que aconteça, reitero, o mesmo que aconteceu com V. Não vai acontecer é
nada. Basta eu olhar para mim mesmo e ver que não produzo interesse algum.
Ainda mais numa jovem de vinte e poucos anos. Bom, eu vou é dormir em vez de
ficar me autodenegrindo aqui. E não, não sei mais usar hífen! Se é que hífen
ainda existe.
18h07. O cara acorda e acha tudo que escreveu uma porcaria.
Ainda me surpreendo com essa mudança de humor/percepções proporcionada pelo
sono. Vou jogar um pouco do Zeldinha e finalmente colocar o meu controle 2 do PS3
para carregar.
19h14. Eu acho que sonhei namorando com X. E que foi um
sonho bom. Legal isso. Adoro sonhar amando e sendo amado. Mas não tenho
certeza. Tenho a sensação e alguns flashes se passaram pela minha cabeça. Mas
posso ter inventado. Não sei. Acho que sonhei realmente.
19h44. Estou conversando no Facebook com o Marinheiro do
Manicômio. Ele está meio deprê. Ou com preguiça de encarar as responsabilidades
da vida; o que dá quase no mesmo. Esperando ele fumar um cigarro. Coloquei o
controle 2 do PS3 para carregar desde a hora que mencionei que o faria. Ele
ainda está carregando. Pelo menos está piscando. Ah, como queria encontrar com
X hoje, ali na Praça, conversar, conhecê-la melhor. Minha vontade real/possível
mesmo é a de tirar mais um cochilo, mas aí não durmo à noite. Já são 19h50. Não
vou fazer isso. Quero estar inteiro para encarar este Amantes de Glória. Queria
que X fosse. Seria uma incrível surpresa. Ou uma surpresa incrível. Mas aí é
sonhar demais. Ainda mais encontrá-la no meio da multidão que deve ser. Saco. Tipo
de lugar que odeio ir. Mas socializar é preciso. Se estou com amigos é o que
importa. Acho que vou jogar um pouco de Zelda.
20h24. Joguei um pouco de Zelda. Fiz alguns progressos, mas
nenhum que me levasse aos meus objetivos principais no jogo. Morri algumas
vezes e minha mãe me chamou para cortar cebola para a paçoca. Tentei ligar o
Netflix, mas deu que a rede de internet estava instável, talvez por causa do
PS3 ligado. Acho que já o controle já está carregado, parou de piscar. Vou
confirmar isso, desligar o console e tentar o Netflix de novo. Procurar “Bonequinha
de Luxo”, filme que a outra psicóloga, a que sentou perto de mim hoje no grupo,
sugeriu que eu assistisse.
20h35. O controle carregou. Foi bom ver a tela de início do
meu PS3 de novo, só estranhei os direcionais analógicos do controle do PS3. Os
do Nintendo Wii U são bem mais ergonômicos e seus tamanhos são menores, mas
mais adequados, pelo menos às minhas mãos. O controle do PS3 pareceu bem mais
leve do que me lembrava também pelo costume de segurar o controle do Wii U. O
Netflix não funcionou de novo, então vou procurar o filme na Internet.
20h42. Também não achei no site que baixo filmes. Então está
de rosca. Acho que vou encarar mais um Zeldinha.
21h31. Progredi no Zeldinha, mas tava morrendo muito e dei
um brake. Não sei porque quando
escrevo sobre o Zeldinha aqui me lembro de X. Não vejo conexão alguma. Depois
estava tentando a fase dos mestres do Super Mario, que nem é tão impossível de
passar, mas morri de vacilo aí fiquei puto e desisti. Ia pegar um Mario Kart
agora. Estava com uma sincera vontade, mas vou é dar um tempo na jogatina. Ver
se o Netflix resolve pegar. Agora disse que precisa fazer um update no software
do Netflix. Vamos ver se isso resolve a questão. E preciso trocar o disco de
Bowie. Colocar de novo o Kid A para rolar. O de Bowie só se for escrever sobre
bonecos. Estou meio enjoado do CD, eis a verdade. 21h39. Agora essa: precisa
botar o password do Netflix de novo. E o password só o meu padrasto sabe. E ele
e minha mãe estão vendo filme ou seriado na sala, não vou atrapalhar, ou seja,
nada de Bonequinha de Luxo hoje. Fico pensando se quero assistir um filme, mas
estou mais inclinado para um Mario Kart, o que me deixa feliz, significa que
ainda posso ficar fissurado no jogo e tentar zerar tudo. Ainda estou na segunda
etapa de cinco. No começo da segunda etapa. Mas não vou falar de videogames. Ou
vou? Sei lá. Queria que mostrassem como vai ser a She-Ra reinventada pela
Sideshow Collectibles. Se vai ser nela que depositarei meus preciosos reward
points e será ela minha última aquisição de um boneco da minha vida. Só se
fosse o OG Hulk. Que poderia ter comprado quando lançou, mas piranguei e que
hoje só se encontra por uma fortuna. Ainda trabalhava na 3Pontos, na primeira
casa quando foi lançado. Bons e velhos tempos, quando suportava o estresse do
dia-a-dia de uma agência de Publicidade. Quando aguentava pressão. Quando o transtorno
não tinha minado minhas capacidades. Vou comer.
22h18. Comi como um boi agora. Toda a minha privação alimentar
de hoje foi por água baixo. Não sei se é culpa do remédio. Sei que eu vou me
deitar para dormir agora.
23h12. Eu que ia dormir ainda estou aqui acordado e com vontade
de bater um Zeldinha.
23h23. Fui encher o copo de Coca e fumar um cigarro de
verdade. Não sei se jogue ou vá dormir. Estou mais inclinado à segunda opção.
Mas sempre me desobedeço.
23h53. Como disse, me desobedeci, além jogar o Zeldinha – cheguei
no mestre do dungeon duas vezes e morri –, joguei também um Grand Prix de Mario
Kart com Daisy e infelizmente perdi uma das corridas, ficando só com duas estrelas.
Pelo menos peguei o carimbo dela. Desliguei e agora acho que não ligo mais. Só
amanhã, dependendo da hora em que acordar, que tem a parada lá com o meu
primo-irmão.
0h20. Tomar o resto da Coca, publicar isso e caminha.
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