Que vergonha do post que publiquei ontem, cheio de erros.
Acho que foi o cansaço. Perdoem-me os leitores. E agora vergonha de ir à Vila
Edna a qual estava tão empolgado de ir ontem. Maldito sono que sempre opera
essas mudanças de ímpeto em mim. Também minha mãe descansa e só posso sair com
o seu consentimento. Essa é uma boa e verdadeira desculpa. Vamos ver, se ela
acordar antes das 16h30, eu peço para ir. Depois disso é tarde demais. Me
prometi digitar o diário hoje. Se não for à Vila Edna é o que farei. E começar
a assistir “Walking Dead”. Estou num marasmo tremendo hoje. Dormi umas boas 12
horas e isso já é o bastante para me deixar numa rotação mais lenta. Tenho vontade
de dormir mais, mas não cederei a esta vontade. Só me trará prejuízo. Espero
que a Coca-Cola me estimule, por sinal vou encher outro copo. 15h48.
15h59. Falei com mamãe, aliás, ela falou comigo primeiro
pedindo para eu guardar os pratos da lava-louças. Pedi para ir à Vila Edna,
disse que tinha visto a filha do meu amigo lá e ela titubeante meio que
consentiu. É o horário ideal para ir. Preciso reunir forças para esta missão.
16h03. Estou num vou, não vou danado aqui. Minha vontade
maior é ficar aqui. Mas é uma boa oportunidade de socialização, talvez até
melhor do que o bloco, pois não tem barulho, fuzarca e cada um está mais focado
no outro. É esse um focado no outro que me assusta. Mas sei que o medo é
passageiro. Uma vez que estiver lá, acredito que vá me soltar mais.
16h09. Fui olhar pela varanda uma vez mais e não vi ninguém,
mas tenho quase certeza que ouvi vozes. Eles estão lá, eu vi a filha do meu
amigo. Eles estão lá e ficam até umas 18h, 18h30. Não muito mais que isso. Se
for, preciso agir rápido.
16h16. Vou pedir a mamãe o consentimento definitivo.
19h22. Acabo de voltar da Vila Edna. Foi muito bom estar lá,
por mais que tenha sido 99% do tempo como ouvinte. Tive uma conversa breve, mas
profunda com Kilma sobre noias e sobre como enfrentá-las, ou melhor, como
conviver com elas e ela mencionou uma frase de Lacan que queria recordar, mas
não decorei, mas que diz mais ou menos que eu não me enxergo em mim, eu me vejo
em você, no outro. Algo assim. Entendo vagamente o que isso significa, mas
gostaria de conversar com a psicóloga do CAPS que é lacaniana, se não me engano
– sim, minha memória está uma porcaria – sobre o significado dessa colocação.
Eu estou me sentindo meio burro ultimamente, há certas colocações que não
consigo apreender completamente. A outra vez que senti isso foi ontem quando um
conhecido falava de relatividade na Física. Eu entendi, mas não compreendi
realmente o que ele disse, da mesma forma que agora há pouco com Kilma e sua
frase de Lacan. Talvez não tenha entendido essa última porque não acredite
realmente nela, acredito que um processo de autodescoberta pode ser feito
através da introspecção e do autoquestionamento. É claro que me enxergar no
outro – e mais especificamente o que me desagrada – é uma experiência que abre
as portas da autopercepção, muitas vezes de forma desagradável. Pelo menos no
meu caso, que não gosto de mim. Se bem que gosto de mim mais calado do que
falador, como costumava ser, pois assim falo menos besteiras. E, embora falar sobre
mim para os psicólogos do CAPS seja bastante divertido, é muito interessante
ouvir o outro. Eu aprendo. Por mais que esqueça depois. Mas é uma troca muito
rica. Em que quem sai ganhando sou eu, o ouvinte. Obviamente há ganhos para o
orador, visto que todos querem ser ouvidos, todos necessitam de atenção. Como
satisfaço minha necessidade de atenção no CAPS, posso ser todo ouvidos nas
demais ocasiões. Acho que é isso que procede comigo ultimamente. Ou melhor há
algum tempo já. Mas tem se intensificado de uma forma quase patológica e é isso
que venho tentando combater. O problema é que não tenho muito sobre o que
conversar, já que a maior parte do tempo falo ou escrevo sobre mim e isso não é
um assunto que eu vá trazer à baila numa roda de conversa. Do mais, pouco sei.
Sei agora de Black Mirror, o que aumentou meu repertório consideravelmente. Para
se ter ideia de como estava escasso. Preciso cantar mais, para ver se volto a
ser mais afinadinho como costumava ser. Sim, era uma das qualidades que eu tinha,
eu era relativamente bem afinado. Se bem que hoje nem me lembro mais as letras
completas das músicas, minha memória vive a me pregar peças. E minha dicção
anda péssima, acho que porque meus dentes saíram gradativamente de lugar e
porque tenho falado pouco também, acho eu. Mas principalmente por causa dos
dentes. Porém não tenho intuito de usar aparelho de novo. Já estou meio velho
para isso. Há uma garota linda e inteligente que trabalha nos Correios de Casa
Amarela. Ela não parece ser casada. Mas não tenho certeza. Olhei para a sua mão
a procura de uma aliança e, pelo que me lembro, não havia nenhuma. Tenho quase certeza
disso. Mas não tenho cem por cento de certeza. Como já, disse, minha memória.
Mas, quando o sonho X for destruído, pode ser que arrume coragem para convidar
essa moça dos Correios – Mahele, se não me engano – para tomar um café na Praça
depois do expediente para descobrirmos se temos algo em comum. Claro que isso é
outro autoengano. Não terei nunca coragem de fazer isso. Ou sei lá, sem mais
ilusões às quais me agarrar, possa ser que eu faça tal proposta. Mas duvido. E
X tem muito mais a ver comigo. Culturalmente falando. O trabalho que ela quer
fazer com pacientes com câncer me parece supernobre. São pessoas com problemas
graves de fato, talvez preparando-se para a morte. E seu trabalho seria ajudá-los
nessa preparação. Não sei se isso é uma simplificação exagerada do emprego dos
seus sonhos, mas me parece que em essência seria isso. Vou até perguntar a ela
se ela resolver reaparecer no CAPS. Na quarta ainda. Puxa, vai ser uma espera
longa. Estou acostumado a duas doses de X por semana. A ausência dela na sexta-feira
me quebrou na emenda. Voltando à Vila Edna, fui convocado a reaparecer lá, o
que é um prazer, por mais que não fale muito, pelo menos estou lá com pessoas
amadas. Acho que vou digitar o diário. Olhei pro Wii U e pensei em jogar Mario
Kart, mas vou digitar mesmo. Depois talvez volte aqui. 20h22.
21h02. Minha mãe chegou de sua ida ao shopping. Resolvi
parar de digitar o diário porque ela pode achar que há alguma correlação entre
este afazer e a minha quase-recaída. Não quero que ela fique com minhocas na
cabeça, então parei. Acho que vou jogar um Mario Kart. Quando ela for dormir, o que não deve tardar,
volto a digitar o diário.
22h34. Digitei mais um dia completo do diário. Acho que por
estar tratando com o momento em que estava ainda fissurado pela cola, isso me
afete negativamente, me dando um pouco de fissura. Quero ver quando chegar o
momento do uso lá dentro do Manicômio. Espero me segurar. Agora recair por
causa disso é burrice. E não é impossível. Acredito até que esse diário tenha
sido o principal motivador da minha quase-recaída. Esqueci de mencionar isso no
CAPS, talvez o faça amanhã. Por mais que esteja mais seguro agora do que antes.
É bom não brincar. Não dar uma de Ícaro.
22h51. Fumei um cigarro de verdade e coloquei o meu último
copo de Coca da noite. Estou meio sonolento, afinal é enfadonho digitar o
diário, e vou aproveitar que estou assim e ir dormir, embora o cigarro tenha
roubado minha sonolência. Mesmo assim, vou tentar me deitar.
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