Acho que estou fazendo o que sempre faço: transferências
afetivas para pessoas impossíveis. Agora calhei de me encantar por uma estagiária
do CAPS, a qual chamarei apenas de “X”. Não sei por que, X aparenta também me
dar atenção especial. Disse a ela que estava com uma certa “confusão” na cabeça,
mas não levei o assunto adiante, deixei para lá. Obviamente, minha confusão diz
respeito aos meus sentimentos por ela. É algo ainda embrionário, mas que tem
tudo para se transformar em uma paixão. Ou paixonite. Quando a vejo conversando,
dando atenção a outro alguém sinto uma coisa estranha que se fosse nomear só me
haveria uma palavra: ciumezinho. No diminutivo mesmo. Não é nenhum sentimento
proustiano e não sou dado a ciúmes com as minhas parceiras, a não ser que queiram
fazer intencionalmente (como V. fez várias vezes comigo, quando só sobravam
escombros da nossa relação). Enfim, preferiria mil vezes que X estivesse me
dando atenção e não a outro. E o interessante é que depois de nossos olhares se
cruzarem algumas vezes, ela vem para mim. Gostaria de pensar que ela também
nutre certo encantamento pela minha pessoa, mas isso é uma conjectura que beira
o absurdo. Beira, mas não ultrapassa. Talvez seja um interesse terapêutico especial
o que ela sinta, ou aprecie de alguma forma a minha companhia. Ou ainda, me
vendo só e isolado e tendo eu falado do meu problema de socialização, ela venha
me dar o suporte necessário de um ombro amigo, de uma companhia. Não sei. Sei
que ela fez comentários inclusive sobre a sua percepção sobre o assédio
masculino, quando mencionei que deve ser um horror ser mulher durante o
carnaval e ela confessou que o assédio é todo dia o dia todo. Pobre das
mulheres, que não têm trégua em momento nenhum quando estão em público. Pobre
de X que até no seu estágio de faculdade encontra alguém como eu que
secretamente nutre uma empatia superior à normal por ela. Há um desejo por ela
da minha parte. Como disse, ainda embrionário, mas que já toma feições de
carinho de fato. É a tal da transferência do ser amado para o terapeuta que aos
poucos vai se consolidando em mim. Não sei onde isso vai dar. Mas creio que não
vá dar em boa coisa. É melhor continuar fingindo ou ocultando esta empatia
superior pois não quero comprometer o seu estágio ou a nossa relação
usuário-terapeuta, que tem sido tão boa e construtiva. Espero que construtiva
para ela, pois para mim está construindo algo que não cabe nos papéis que
exercemos um para o outro no CAPS. Isso é demasiado perigoso e se emergir, se
eu der com a língua nos dentes, poderá afastá-la totalmente de mim. Ela
provavelmente vai me achar um coroa tarado e criar repúdio pela minha pessoa.
Vou ter que ser ator como quando estou na fissura de cola. Não transparecer
nada. O diabo nisso tudo é que nunca consegui não transparecer nada quando o
assunto é do coração. Não devia nem estar escrevendo sobre isso, pois escrever
só alimenta a fantasia sobre ela. Mas é fato inegável que namoraria uma garota
como X. Eu só não sei na parte do sexo como seria, com minha libido tão baixa. Não
que ela não seja extremamente atraente. Tem um belo corpo, mas esconde qualquer
traço de erotismo no modo de se vestir. Não é uma pessoa sensual. Nem eu gosto
de pessoas sensuais, pois de alguma forma me remetem à promiscuidade. O que nem
sempre é verdade. Aliás, já tive provas de que não é sempre verdade, poucas,
mas tive. As mulheres sensuais me intimidam. Esse erotismo transbordante é
excitante, como era excitante e apetitosa a garota do laboratório onde fui
coletar sangue. Ela sabia que era gata e se aproveitava ao máximo dessa
condição no modo de andar, na maquiagem, enfim, como um todo. Ela queria ser
observada e desejada. X não. Pelo contrário, eu diria, ela esconde quase que
completamente seu erotismo. Acho que o próprio CAPS sugere que os profissionais
não se vistam de modo insinuante para evitar confusões como esta que estou
fazendo mesmo sem nenhuma insinuação por parte de X. Ela apenas vem senta e
conversa comigo. Se muito, parece ter uma preferência especial por conversar
com este que vos escreve. Esse pequeno detalhe, que provavelmente é ilusório,
já me faz fantasiar que há um interesse recíproco entre nós. Se há, o interesse
dela é meramente terapêutico enquanto o meu transcende esse viés e chega até a
pessoa por trás da terapeuta. Em X em si. Como garota. Como mulher. Acredito
que ela já se considere uma mulher. Embora uma jovem mulher. Mas mulher
todavia. Jovens mulheres me amedrontam menos que mulheres mais vividas. E a
juventude me atrai mais que a maturidade física. A maldição em mim está no fato
de que parece que atraio mulheres mais velhas do que eu. Pelo menos houve duas
mulheres maduras que percebi que estavam com um interesse maior em mim. Isso me
gerou uma tremenda vergonha e não soube como me desvencilhar da situação, me
esquivando como podia das supostas indiretas, sem conseguir, porém dar um basta
à situação, acabando que saí pela tangente. Acredito que exista uma pessoa
relativamente próxima, de dentro do meu círculo familiar mais amplo que nutre
uma fantasia em relação a mim. Também eu dei cabimento. Quando bebia – bêbado eu
sou foda – pedi para que ela fechasse os olhos para dar-lhe um selinho. Ela
abriu os olhos antes da consumação do ato, mas acho que este episódio de alguma
forma mexeu-lhe a cabeça e desde então sinto que esta pessoa tem um
comportamento diferenciado em relação a mim. O que é deveras constrangedor. E
uma das piores heranças das minhas bebedeiras. Posso também estar fantasiando o
fascínio desta pessoa por mim, mas tenho uma forte convicção de que seja
verdade e isto me deixa muito, mas muito empulhado mesmo. Me faz lembrar aquela
frase famosa da raposa d’O Pequeno Príncipe: “você é responsável por quem você
cativa”. Dessa vez fui foi irresponsável ao extremo. E é uma pessoa mais velha
do que eu. Não sei como a coisa toda foi se dar, por que este impulso. Nem
posso me lembrar, pois estava bêbado. Mas me lembro que ocorreu. E parece que
deixou marcas no coração da jovem senhora. Espero com todas as forças que não.
Que seja tudo uma paranoia da minha cabeça neurótica. Mas meu radar, que não é
lá essas coisas, indica que tenho uma certa razão. Mas não quero falar sobre
isso. Me envergonha e me faz sentir culpado. Prefiro voltar a X, que só faz me
sentir culpado. Como queria que essa fantasia que se afigura em mim fosse
recíproca. Ela não é a mais bonita das mulheres, mas tem seu charme e beleza. É
uma simpatia. Acho que poderíamos ser bons companheiros um para o outro. Mas
isso ainda é muito cedo para julgar. Mal a conheço, já ela me conhece quase por
inteiro. Afinal o terapeuta escuta e o paciente fala. Essa é a norma. Esses são
os papéis, via de regra. É muito raro um terapeuta falar de algo pessoal com um
paciente. Existem exceções, há terapeutas mais abertos, geralmente os que são
especializados em Arteterapia. Pelos menos foi assim com o anterior e é assim
com a atual arteterapeuta do CAPS. Ela se reparte, como o anterior se repartia,
com o grupo, se inserindo e diminuindo a barreira entre eles e os usuários.
Acho uma prática salutar, posto que adoro ambos, o que foi e a que é. São
pessoas fantásticas pelo que se deixam revelar. Não acho que X tenha o perfil
de arteterapeuta, acho apenas que, talvez por ser verde, ela tenha se aberto um
pouquinho comigo. Espero que aconteça mais vezes. Em verdade, anseio
ardentemente por isso. Anseio ardentemente pela próxima vez em que sentaremos
só nós dois para conversar. Sinto algo que quase posso chamar de saudade por
ela. Isso não vai dar certo. Ou pode dar certo demais. Não sei. Mas temo que o
pior vá acontecer. Principalmente se der com a língua nos dentes. E mencionei a
maldita “confusão” e ainda prometi elaborar mais sobre o assunto. Talvez faça
isso. Mas só depois de contar tudo sobre mim. Do mais belo ao mais feio. Para
que ela tenha um retrato o mais completo possível de mim antes de me abandonar
com a revelação da minha suposta paixonite. Não será um retrato de todo
completo porque há coisas que não se diz nem para o próprio reflexo no espelho.
Mas o máximo que tiver coragem de expor. Assim, terei mais tempo de companhia
com ela antes que vá tudo por água abaixo e ela se distancie de mim por
questões terapêuticas. Amanhã, como só tem o grupo do Manicômio para ir, vou
tentar aproveitar e aparar a barba. Tanto por ela, quanto pelo final de semana
que se aproxima. Quem me dera eu pudesse dizer que é mais pelo final de
semana... seria mais salutar, mas não seria verdade. Nem sei se ela estará no
CAPS na sexta. Se não estiver vai ser um baita balde de água fria. Melhor
preparar meu espírito para essa possível realidade. Ainda bem que os
sentimentos ainda estão, como mencionei, em estado embrionário. Não estou
loucamente apaixonado por X. Ainda. Espero não ficar. Minto. Espero que
fiquemos apaixonados um pelo outro e que, após cerca de uma década, eu encontre
novamente outro alguém. Ela é uma pessoa que posso admirar. Ela parece ser
cuca-fresca. Ela poderia me mostrar um milhão de coisas novas; e eu a ela. Só
falta ela gostar de Wesley Safadão e coisas do gênero. Aí vai ser um lado que
vai ser meio inconciliável entre nós. Espero que não. Tomara que não, mas é um
bom assunto para um papo: nossos gostos culturais. Seria ótimo se ela me desse
abertura para conversarmos sobre isso. Não é impossível, só bastante difícil.
Mas não custa tentar. 17h09. Ouvi a voz do meu padrasto. Será que ele já
chegou? Vou fechar a porta do meu quarto por precaução. Fui encher o copo de
Coca e descobri que o gelo que D. Carmelita tirou está quase no final. Descobri
também meu padrasto no banheiro que usa. Fechei a porta do meu quarto e botei o
som para rolar. Pensei que estava o no do Radiohead no toca-CDs, mas está o “Under
a Blood Red Sky” do U2, que nem estava a fim de ouvir, mas já que começou,
entrei no embalo e vou ouvi-lo até o fim. Depois, em vez do novo do Radiohead,
vou colocar um antigo do Radiohead, o “Kid A”. Já separei. Como deveria
aprender a separar as coisas em relação a X. Estou começando a ter vontade de
jogar Super Mario e ao mesmo tempo de tirar um cochilo. Mas já está tarde
demais para um cochilo. Ela não é bonita, X, digo, é uma garota normal, nem
horrorosa, nem linda. Para ser sincero, eu a acho bonita. E acho o conjunto
muito harmônico. Acho seu corpo bem bonito. Ela é baixinha, como eu sou e tem
cabelos muito finos, eu acho. Preciso reparar melhor, mas essa foi a impressão
que ficou. Preciso perder esse bucho para me tornar mais atraente para ela e
para o mundo. Ela sem dúvida é uma motivadora para que eu entre numa dieta
somaliana leve mais intensa. O que só me trará benefícios. Perder o bucho é um
sonho antigo. Já cheguei a cogitar lipoaspiração com meu tio cirurgião
plástico, mas acho que tenho que perder na tora mesmo. Vamos ver o poder que X
tem sobre os meus hábitos alimentares. Ela não é supergata (nossa como sou
apegado a padrões estéticos! Ouxe!), não me chamaria atenção numa night, mas
com meu olhar tendencioso, vejo encanto nela. Não sei o que diria a seus pais
sobre o meu trabalho, caso namorássemos. Com certeza a verdade, de que sou um
pensionista. Seria chocante, mas não mentiria sobre a minha condição
profissional. A quem estou querendo enganar, senão a mim mesmo, quando contei
da minha condição profissional, eu devo ter chocado até ela e eliminado
qualquer traço de interesse que pudesse haver dela no homem que sou. Sei lá. O
amor é capaz de abrandar certas coisas e ressaltar outras. Quem sabe isso não
se dê nesse caso? Cada vez isso me parece mais fantasioso. Quando rememoro o
que já contei a ela, se torna óbvio que ela não poderia se interessar pelo
personagem que pinto de mim. Quem gostaria de ter um adicto, fracassado
profissionalmente, com transtorno bipolar que coleciona bonecos e joga
videogame, além de ser feio, gordo e desleixado? Não me parece ser exatamente a
descrição do par desejável por uma mulher. Ainda mais um cara que não pode
casar, votar ou dirigir. E sei lá que outras restrições eu tenho. Um cara que
com 40 anos na cara, vive com a mamãe. Quem se interessaria por um cara assim?
É, talvez só uma psicóloga com a mente muito aberta. Bom, o amor nasce das
situações mais inusitadas. Mas acho que, no meu caso, eu seja inusitado demais.
Negativamente inusitado. E os papéis que desempenhamos em nosso convívio social
são algo que certamente gera um impedimento de força maior que ambos. Ou seja,
tudo pura e vã ilusão. Não sei por que me incomoda ouvir a voz do meu padrasto.
Não tenho nada contra ele, aliás admiro tudo o que vem fazendo pela minha mãe
desde que ela começou o tratamento contra o câncer. Temos uma relação cordial eu
e ele. Amigável até. Mas me incomoda ouvir sua voz. Talvez seja por causa do
Vaporfi. Não sei se pelo tom geralmente agressivo, autoritário, doutrinário de
sua voz (na minha opinião, claro). Não sei. Sei que ele me pediu para achar “La
La Land” para baixar, mas minha busca foi infrutífera. Espero que ele e mamãe
não achem que procurei de malgrado, mas fiz o meu melhor, até o meu browser
abrir uma tela da qual não consegui mais sair, tanto é que tive de fechar o
Chrome pelo Gerenciador de Tarefas e não pude reabrir as guias que estava
visualizando para não carregar o link maldito a que essa busca pelo musical me
levou. Estou meio apreensivo de comunicar isso a eles. Mas terei de fazê-lo e
acrescentar que só baixo torrents do site em que eu confio, de nenhum outro
lugar na internet. Pobre X. Se soubesse das intensões e inclinações que vão em
meu peito em relação a ela, provavelmente se afastaria de mim. E seu nome ainda
é bonito. E já disse aqui inúmeras vezes o quanto o nome de uma garota faz
diferença para mim. E há outro porém que nem chegara a cogitar: e se ela for
uma pessoa totalmente outra daquilo que se me apresenta no CAPS quando fora
dele? Isso seria chocante. Não acho que seja o caso. Mas todas as
possibilidades são, como dizer?... Possíveis. 17h59. “Kid A” é um disco bem
melhor que “Moon Shaped Pool”. Ainda não haviam diluído tanto o som quanto
agora. Para mim, é muito mais agradável esse Radiohead de outrora que o de
agora. E acho que ouvi “Moon Shaped Pool” muito mais vezes que “Kid A”, então
não é uma questão de intimidade com o disco. Fosse assim, o novo me pareceria
melhor. Vou encher outro copo de Coca e ver se o gelo não derreteu todo já. Sinto
uma quase saudade de X. Queria muito vê-la o mais breve possível. Acho que isso
já é saudade, né não? Tô ferrado. Para desconstruir este castelo de areia vai
ser o caos. Possivelmente para ela também. Vou pegar Coca.
18h08. Grata surpresa, ainda havia gelo suficiente para
exatamente mais um copo! Tomara que o destino me reserve gratas surpresas em
relação a X também! (Vai sonhando, imbecil...)
Detesto quando o meu superego tirânico tolhe os meus sonhos.
Mas este sonho é bem mais possível que o anterior, que não sei mais se subsiste
ou não, visto que X o obscureceu com sua presença mais palpável, mais plausível,
o sonho anterior. Para você ver a implausibilidade do outro! Como disse a X
hoje, meu coração se acostumou às paixões platônicas. Mal sabe ela que está se
tornando a mais nova delas. Ou sabe, suspeita, sei lá. Espero que não. Senão se
afastará de mim como o diabo da cruz. Porra, no “Kid A” ainda dava para escutar
guitarras em primeiro plano! E olhe que é um disco bem mais experimental que “Ok
Computer”. Está me dando vontade de jogar Super Mario de novo. Se trocaria o
meu Wii U por um namoro com X? Caramba, é como me pôr entre a cruz e a espada.
Certamente trocaria horas de jogo, por horas privando da companhia de X, mas
daí a me desfazer completamente do Wii U enquanto ainda estou apaixonado por
ele e só joguei um jogo dos que adquiri? Tendo ainda tanta coisa boa para
jogar? É pedir demais. Talvez me desfizesse do PS3 por causa dela. Mas de toda
sorte, qualquer privação dos meus filhinhos seria injusta e infundada. Que
pergunta idiota a para se fazer a si mesmo. Eu, hein? Putz! Novamente não
liguei para Maria. Preciso fazer isso amanhã. Hoje cheguei muito tarde e tão
cheio de X na cabeça que acabei esquecendo da minha amada babá. Acho que já
está tarde para ligar. Ela deve estar assistindo a novela das 19h, como me
disse que fazia. Não quero interrompê-la e acredito que depois já se prepare
para dormir. Ou mesmo minha amada tia, que é o canal de conexão com Maria,
através de seu celular, pode já ter ido dormir, posto que dorme cedo devido à
frágil condição de saúde em que se encontra e contra a qual luta ferozmente há
mais de uma década. Não é a primeira vez que menciono o intervalo de uma década
nesse texto. Primeiro, são meus anos de solidão. Segundo, agora sobre a minha
tia. Estou ficando velho. Décadas não me parecem mais um tempo tão gigantesco
assim. Por sinal, acredito que quase duas décadas me separam de X em termos de
idade. É um grande obstáculo que não havia considerado com a devida gravidade. Ela
não deve ter mais de 24. Eu tenho quase 40. Tenho 40, posto que completo essa
nefasta idade daqui a poucos meses. 18h30. Vou jogar um pouco de Super Mario.
Acho que este assunto de X já deu o que render por hoje. Estou quase saturado
dele, o que é bom. É bom que enjoe dela, para o bem dos dois. Se tiver algo que
ainda queira expelir de mim, volto aqui. Agora, vou tentar pegar estrelas e
carimbos num mundo dificílimo e fantástico, ou seja, sair de uma fantasia para
entrar em outra. Homem das fantasias que se despe de quase todas aqui.
19h49. Consegui pegar algumas estrelas e carimbos (sem usar
o “White Tanooki suit”!), mas estava muito difícil ou eu sem paciência de jogar
e acabei dando uma pausa. A idéia de X ter algum interesse por mim agora que me
distanciei do assunto me parece realmente absurda. Fato é que ela vem me
acolher sempre que me vê sozinho. Por que faz isso, não sei. Que isso quer
dizer que tenha algum interesse em mim como homem, duvido. Se ela continuar com
esse padrão de acolhimento, provavelmente vou continuar alimentando essa
fantasia, o que não é ruim para mim, muito embora também não me pareça real. No
nosso próximo encontro, caso haja, contarei da minha traição a V. Se bem que o
tópico cultural seria para mim muito mais útil e interessante para procurar
pontos de convergência nos nossos universos particulares. Mas o tórrido romance
de não mais que quinze dias que tive com uma amiga de infância é um fato
relevante para que X perceba que não sou nenhum santinho. Também falhei
miseravelmente nos relacionamentos. Ou no relacionamento específico com V.
Falhei também no relacionamento com a Gatinha, mas isso já contei hoje. De toda
forma, exceto pelo romance tórrido, findado pelo curto tempo de permanência da
minha amiga paulista em solo nordestino, todos os meus relacionamentos acabaram
comigo levando um pé na bunda. Por um motivo ou outro. Como disse a X, não me
arrependo de nenhum, entretanto. Acho e acredito que morrerei achando que amar
vale a pena.
21h00. Não sei o que fazer. Não quero jogar no momento –
bem, só um pouquinho – e também não quero escrever – bem, só um pouquinho
também –. Uma coisa que quero de fato é ouvir “Kid A” de novo. Acho que
gostaria de dormir, mas se dormir tão cedo é capaz de acordar no meio da
madrugada e não mais conseguir pregar o olho. Se bem que 21h00 já não é mais tão
cedo. Estou sentindo um negócio esquisito que não sei divisar se é do organismo
ou da alma. Não é uma sensação agradável. É um desconforto interior. O meu som
é muito fuleiro, já está pulando o “Kid A” e o volume não está alto nem nada. O
CD não tem arranhões, tocou perfeitamente da primeira vez. Isso é que dá
comprar um som barato. Bonitinho, mas ordinário. Acabou que o som desistiu de
tocar a primeira música – uma das que mais gosto – e pulou para a segunda. Saco.
Descobri uma coisa que quero, eu que achava que já tinha tudo o que precisava
na vida hoje pela manhã. Preciso comprar um novo som... antigo! Quero ir numa
rua do centro da cidade que vende sons usados e comprar um da época em que os
toca-CDs eram feitos para durar. Um som robusto. Gostaria de um com CD
carrossel. Com capacidade para três CDs já estava de bom tamanho, mas perfeito
mesmo seria o de cinco CDs. E umas caixas antigas. Daria o meu som como parte
do pagamento. Se é que eles aceitariam, pois parece estranho que um cara chegue
com um som novo e queira trocar por um velho. De qualquer forma não custa
tentar. Posso dizer que o som não tem as entradas e saídas de áudio que eu
gostaria, o que não deixa de ser uma verdade. O meu som serve mesmo para eu
plugar o meu iPod e ouvi-lo amplificado. Para CDs é uma questão de sorte, é
como se o som tivesse um temperamento próprio e às vezes quisesse tocar
direitinho e às vezes não, o que é enervante, dada a quantidade de vezes que
ele opta pelo não. Acho que vou tentar jogar um pouco de Super Mario. Só falta passar
de uma fase, que é superdifícil para fechar esse mundo. Claro que ainda faltam
pegar estrelas e carimbos em algumas fases, mas não estou com saco de
revisitá-las agora. Prefiro o novo hardcore que o já trilhado hardcore. Pois,
se não peguei os carimbos e estrelas foi porque eles são de dificílimo acesso. Me
deu uma vontade de começar a jogar Mario Kart 8, mas não posso, senão “esfrio”
no Super Mario e aí é que não pego nada mesmo. E pensar que ainda faltam mais
três mundos, cada um mais difícil que o outro e que para chegar ao último
mundo, eu preciso ter todas as estrelas, todos os carimbos e pular na parte mais
alta da haste da bandeira em todas as fases. Acredito que esse mundo eu nunca
verei. Principalmente pela parte das hastes. Bom, quem sabe? Acho que é mais
fácil X se apaixonar por mim e eu por ela! Hahahahahaha. Rindo para não chorar.
Por sinal faz tempo que não assisto um filme que me faça chorar. Filmes são uma
das únicas coisas que me fazem chorar.
22h38. Com o auxílio do power up dos covardes eu consegui
passar a fase dificílima e depois consegui passar por ela de novo sem usar
desse expediente, mas isso de nada me ajudou porque não consegui, mesmo assim,
pegar o lugar mais alto do mastro da bandeira que demarca o final da fase.
Pense numa frustração. Deveria ter escolhido a princesa que plana no ar. Aí
talvez tivesse alguma chance. Ou pegado o power up do gatinho que sobre pelo
mastro com suas garras afiadas. Ainda não me dei por vencido.
23h33. Vou comer e dormir, já está tarde demais. Já revisei
porcamente este post (muito repetitivo, por sinal) e vai assim mesmo.
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