Estou mais contemplativo e mais introvertido que o normal.
Isso é bom pela primeira parte e ruim pela segunda. Tanto é que vim buscar
refúgio no iPod e no celular.
O amigo que fumou comigo e mais sozinho, veio aqui trocar
uma ideia e talvez seja a única pessoa com quem tenho tranquilidade verdadeira
de interagir.
Duas pessoas, queridas, por sinal, passaram para falar
comigo. Foi uma interação muito mais dificultosa, sem espontaneidade.
18:20. O efeito passou bem mais. O interessante foi que
consegui falar com a minha mãe sem nenhuma paranoia. Não sei por quê. Deveria
ser a pessoa com a qual eu mais temeria falar, teoricamente. Ainda bem que não
se deu assim. Digitar no celular é chato pra caramba. Pelo menos experimentando
os efeitos dos pegas que eu dei. Deveria ter dado dois somente. Acredito que o
efeito mais leve seria mais prazeroso, sem os traços de paranoia social que os
quatro pegas me proporcionaram. Agora são águas passadas. A festa praticamente
acabou. Só restam umas oito pessoas. O meu colega de massa está ao meu lado.
Ainda bem que olhando coisas em seu celular. Isso permite digitar sem culpa. O
que estou fazendo? Digitando em vez de interagir? Estou numa festa, cacete! E
ainda de iPod ligado. Vou desligá-lo ao menos. Isso é absurdo, mas é o impulso
que me vem, não quero conversar com o grupinho que ficou. Só conheço um que faz
parte dele. Para alguém, muito mais sociável do que sou/estou, isso serviria
como uma oportunidade de expansão de sua rede social. Eu, infelizmente, acho
que é uma intromissão num grupo do qual não faço parte. Há uma menina linda no
grupo, mas acho que já tem namorado. Se bem que quem eu julgava ser seu
companheiro não parece estar no grupo. Isso me motiva a me intrometer no grupo.
Será que entro? Vamos ver. 18:44. Vou embora no máximo às 19:30.
-x-x-x-x
19h46. Já estou em casa. Deixei meu companheiro de baforadas
lá e vim embora. Ele fumou mais duas vezes. Estava disposto. Eu dei o basta na
primeira, que já não foi boa, o que me faz repensar se faria ou farei isso de
novo. Minha inclinação é para não repetir a dose. Entrei no grupo e tentei me
sociabilizar com a gata – gata na minha opinião – que conversava com o único
cara que conhecia do grupo. No decorrer da conversa descobri que seu namorado
era outro cara do grupo e foi tudo por água abaixo. Ainda ouvi um pouco da
conversa do meu amigo que estava no grupo até que fui convocado pelo que fumou
para acompanha-lo em mais uma sessão de massa. Disse-lhe que só iria observar,
como da segunda vez, mas ele fez questão da minha companhia. Quando voltamos,
dei no máximo dez minutos e avisei-lhe que estava partindo. Ele se despediu sem
nenhum problema e andei até a avenida para pegar o Uber.
19h53. X me apareceu na cabeça, essa entidade que eu criei
em torno da estagiária do CAPS. Achei a garota do Capibar mais bonita que ela,
mas que se fosse escolher entre a duas, ficaria, com X sem pestanejar. Isso é
até bonito da minha parte, pelo menos assim me parece tendo ainda resquícios do
alterador de humor na cabeça. Especialmente para alguém que preza tanto o
estético como eu. X também é uma fixação improdutiva e falida de minha parte. O
que para mim é uma grande pena. Pois começa a brotar algo belo do meu peito.
Belo e doentio, visto que impossível. Não é uma flor que nasce no meu coração,
é uma erva daninha. Devo expurgá-la do meu ser. Não é algo recíproco. Preciso
entender isso. Da mesma forma que preciso muito sentar e conversar com ela. Eu
sei que é contraditório, mas isso é a eterna briga do meu racional como o
emocional. Preciso contar-lhe da vez que fui um canalha e traí V. Que curioso,
V vem antes de X no alfabeto, senão me engano. Não sei com a adição do W e do Y
se isso permanece verdadeiro. E que coisa mais besta de se pensar. Totalmente
desprovida de qualquer relevância para mim, que dirá para o mundo. Muito bom
ouvir meu iPod sem me sentir culpado por estar me excluindo do contexto social
em que estou inserido. Que bom escrever sem esse peso também. Muito estranho foi
eu escrever com esse peso. Minha antissociabilidade está fora do comum. Mal
falei com o pessoal que conhecia. E a coisa só piorou depois do beque. Foi aí
que a idéia do celular se desenvolveu e se desenrolou. Mas falei pouquíssimo
com as demais pessoas mesmo antes disso. Foi um comportamento que já trouxe
comigo de casa e que o que fiz só amplificou. Juro que ainda sinto o cheiro de
dejetos que estava impregnando o lugar onde fomos fumar. Já coloquei tanto a
camisa, quanto a bermuda que usei no balde do banheiro, mas o cheiro parece
permanecer. Deve ser viagem minha. Só pode ser. Vou tirar as chinelas do quarto
também, pois, sei lá, de repente são elas, mas acho que não.
20h25. Fui deixar a sandália na sala e fui atacado por uma
repentina larica. Pensei logo no pudim que haviam feito ontem. Olhei na
geladeira e nem sombra dele. Tive que me contentar como a coisa mais próxima
dele que eu sei produzir, um copo de leite com muito Toddy e Ovomaltine. Sei
que é uma aproximação um tanto distante, mas foi a solução que me surgiu na
cabeça. Ainda comi wafers de brigadeiro e uma cocadinha da qual minha mãe
comprou uma caixinha com umas 20. Estou satisfeito. 20h29. Ouço Chico Buarque,
que prazer. New Order também estava massa com “Waiting The Siren’s Call”. Teve “Elephant
Gun” do Beirut que foi o que me fez aumentar o som. Estou ouvindo num volume
que mamãe, caso estivesse em casa, já teria vindo reclamar. Vou aproveitar
enquanto ela não chega. Embora ela própria não bote muito baixas suas músicas
na nova caixa de som bluetooth que ganhou do meu padrasto. JBL. Um luxo. E,
claro, deve ser a melhor do mercado, pois meu padrasto vai catar na internet os
reviews e quetais até descobrir qual o melhor produto. Ele gosta de fazer essas
garimpagens. Eu também. Por isso foi um prazer vasculhar as ofertas de games no
eBay e em outros lugares até achar a melhor relação custo/benefício possível
para os jogos que me interessavam. Foi recompensador fazer os melhores negócios
possíveis. Esperar a hora certa, ou, melhor dizendo, o produto certo pelo preço
certo aparecer. Quando aparecia eu pegava. Foi uma semana de fetiche consumista
bastante prazerosa. Como está sendo prazeroso também o sentimento de não ter
mais nada que eu queira comprar. Estou satisfeito com o que tenho. Não sinto
precisar de mais nenhuma posse. Claro que gostaria de ter um som melhor e
farinha láctea me esperando na cozinha. Mas não preciso realmente disso.
Satisfiz todos os meus desejos consumistas. Pela primeira vez em toda a minha
vida. Incrível, passei a minha vida toda achando que precisava de alguma coisa
que não tinha e só agora, às portas dos 40 anos, sinto pela primeira vez essa
sede saciada. Sim, é um sentimento bom. De satisfação. Dá até um bem-estar
consigo mesmo. Uma sensação ilusória de desprendimento. Que não é verdadeira
pois preciso que os jogos cheguem. Ou não. Se me dissessem que a tia da minha
cunhada não irá me trazer nenhum jogo, isso não me deixaria muito chateado.
Pelo menos não agora que ainda estou na maresia da massa. Estou muito tranquilo
agora. Meu único temor é minha mãe ler e descobrir sobre os pegas. Isso seria
catastrófico. Por essa razão e pelo afloramento de um eu ainda mais antissocial
que não penso em usar novamente. Não tem para quê. É muito bom estar na maresia
sozinho no meu quarto. Isso é prazeroso, mas eu sei que se começar a usar com
frequência vem a apatia e até a depressão, além da paranoia. Tô fora. É algo
que não preciso. Precisava desse experimento de hoje para comprovar. E acho que
os amigos com quem saio ficariam com um pé atrás se eu fizesse uso. Não quero
ser, além de antissocial, um calo para os meus amigos. Deixa isso pra lá. Foi e
está sendo bom, embora quase não sinta o efeito, só estou um pouco sem cérebro.
Mas acabou por aqui. Meu pecadilho continuará sendo fumar cigarros de verdade
intercalados do Vaporfi nas saídas, como de costume.
Sim, uma foto da noia que coloquei na minha camisa.
Bem psicológica-existencial, né? |
É de fato uma preocupação, uma noia que eu tenho a que
coloquei na camisa, até com esse comportamento cada vez mais separado da
sociedade que estou vivendo. E pelo apego ao novo eu que emerge cheio de
defeitos de caráter devido aos movimentos do meu ser. A dinâmica da minha alma
tem me preocupado. Pois não vejo a direção que eu sigo com bons olhos. Por isso
a indagação na camisa.
O que de fato queria ser a longo prazo, era um com a
Singularidade Tecnológica. Mas não sei se tenho tempo suficiente de vida para
alcançar tal revolução, talvez a maior revolução da história da humanidade
desde o surgimento da linguagem. Sem dúvida a maior revolução tecnológica de
todos os tempos. Um sistema computacional que se auto-reescreve, evoluindo continuamente
e, o que é possível, senão provável, exponencialmente. Dizem que a
Singularidade será alcançada por volta de 2045, se não me engano, que é quando
a tecnologia vai evoluir o suficiente para gerar algo capaz de processar o
mesmo número operações que as sinapses de um cérebro humano. Não acredito que
estarei vido em 2045. Terei 68 anos. Não fôra eu tão destrutivo com meu sistema
biológico, talvez chegasse lá. Torço que a medicina evolua a ponto de ser possível
e viável financeiramente para mim estender a minha vida até tal momento.
Acredito nessa possibilidade. Se ela não ocorrer, então não chegarei aos 68.
Pelo menos é o que acho. Não é impossível, é apenas improvável chegar a tal
idade. Eu sei que as pessoas estão morrendo cada vez mais tarde, mas não
acredito que eu seja uma dessas pessoas, pelo simples fato de que não cuido bem
do meu hardware. Meu software não foi programado para se preocupar com isso.
Pelo contrário, sempre foi atraído por coisas prejudiciais ao bom funcionamento
da máquina corpo que me carrega e que habito. Que sou eu, ou da qual eu sou um
produto deveras peculiar, dada a simplicidade da maior parte das organizações
atômicas do universo. O sol, nossa fonte de energia, por exemplo, é uma enorme
bomba de hidrogênio se transformando continuamente em hélio, se não me engano.
Vou perguntar ao meu padrasto para poder colocar os elementos químicos corretos
na frase anterior. O Sol, em sua enormidade, é um processo bastante simples
quando comparado ao processo eu, embora seja um processo mais de um milhão de
vezes maior do que o planeta Terra. Tamanho não é realmente documento. Eu posso
descrever o Sol, o Sol não pode me descrever, por exemplo e o homem pode
transformar hidrogênio em hélio, tanto que fez a bomba de hidrogênio. Sem o Sol,
porém, eu não existiria ou qualquer forma de vida no sistema solar. A não ser
que congelada e advinda de outras galáxias através de meteoros, cometas ou
meteoritos. Coloquei os elementos químicos corretos. 21h24. Meu padrasto acabou
de me certificar. Mas chega de cosmologia porque não entendo nada do assunto.
Imagino só a Singularidade que poderá, em tese ter a mesma diferença de
complexidade de um ser humano, que a diferença de complexidade entre mim e o
Sol. Ou seja, minha complexidade, de humano, coisa mais complexa do universo
conhecido, perder esse posto e se tornar infinitesimalmente complexo em relação
à Singularidade. Por isso desejo me fundir a ela. Quero que ela me expanda para
além das minhas limitações humanas. Para o inimaginável, inconcebível e incompreensível
para um simples humano, porém acessível para os homens através da Singularidade.
Eita, está passando a música “Orange Sky”, música dedicada a mim e minha irmã
pelo meu irmão. É linda. Tem tudo a ver com a gente. Com ele. Saudade danada
dele. Liguei pelo WhatsApp mas ele não atendeu. É pena. Incrível, a pessoa que
me veio depois do meu irmão à mente foi X. Isso tem que parar. A não ser que
ela queira que continue. Mas isso é mais improvável que a Singularidade. Eu
tenho, sim, dúvidas de que a Singularidade vai realmente se dar. Eu não tenho
certeza de nada que não esteja dentro de mim. E nem disso. De mim duvido em
tantos aspectos. Tenho mais dúvidas e descrenças sobre mim do que crenças e
certezas. Mas isso não me incomoda. Acho que todos os que se questionam um
pouco sobre si mesmos, chegam a esse nível de incerteza. Não sei se todos se
conformam ou se sentem confortáveis com ele. Não sou as outras pessoas, só sei
de mim. E sei muito pouco. Não sei da parte mais interessante: o meu subconsciente.
Incrível, mamãe não reclamou da altura do som. Pela primeira vez na história.
Hoje é realmente um dia sui generis. Embora tenha fracassado socialmente quase
que completamente. Minhas interações, excetuando com o meu colega de fumaça,
foram esparsas e curtas. E poucas. Falei com menos de dez pessoa de um universo
de dezenas. A maioria que não conhecia. E a maioria das interações resumiram-se
a cumprimentos de reencontro. Algo rápido e socialmente necessário. Algo meio
que inescapável. Não puxei um diálogo com ninguém – excetuando o meu colega –
que durasse mais de dois minutos. Isso é tão preocupante quanto o sentimento
fantasioso por X. Vou encarar o dia de hoje como um tímido primeiro passo.
Espero estar mais interativo no dia do bloco. Onde não haverá fumaça para me
atrapalhar. Embora ache que este não foi o fator primeiro para a minha
interação deficitária. É a falta de intimidade com a intimidade alheia. Não
consegui me aprofundar em nenhuma conversação com ninguém. Foi tudo muito curto
e superficial. Não tive coragem nem de falar com Kilma. Isso é inadmissível para
mim. Me sinto culpado até agora com isso. Tocando “Ceremony” com New Order.
Acho essa música muito do caralho e é muito simples. Estou pensando em jogar um
Super Mario. Preciso botar o controle 2 do meu PS3 para recarregar. Mas não
quero fazer isso agora. Na verdade, acho que vou ficar aqui escrevendo e
escutando o que considero boa música. Putz, “All I Want Is You”, do U2. Muito linda. Uma das minhas
prediletas de todos os tempos. Em tudo, interpretação, arranjos, melodia, só a
letra que não me toca muito. Me deu até vontade assistir o Blu-Ray de “Rattle
& Hum” que tenho aqui e nunca assisti. Só não vou desligar o Wii U para
reinstalar o Blu-Ray. Isso vai ficar para depois. Beeeem depois, eu suspeito. Talvez
até depois da reforma, quando quero todos os meus aparelhos conectados à TV e
funcionando e com facilidade de conectar e desconectar cada um. Já disse dessa
exigência em outro post, mas vale reiterar para não esquecer. A vontade do
Super Mario 3D vem de novo. E passa de novo. Queria fumar um cigarro de
verdade. Ah, isso eu queria e acho que não durmo hoje sem fazê-lo. Estranhei o
silêncio do som depois de “All I Want Is You” e me lembrei que gravei a versão
do “Best Of” que tem um longo hiato e emenda com “October”. Outra música linda,
mas não uma das minhas prediletas do U2. Já foi. Hoje não mais. “All I Want..”
é outro caso. É um caso de amor eterno. Ela faz parte de quem eu sou. Está na
argamassa do meu ser. Ouvi centenas de vezes e espero ouvir centenas de vezes
mais. Assim como o disco “Disintegration”, do The Cure. Para mim, empatado com
a 9ª Sinfonia de Beethoven como o melhor disco de todos os tempos.
22h20. Eu achei alguém que chapa também quando calha de ver
uma hora peculiar. Ele tira screenshots da tela, eu as transcrevo para cá. Cada
um cataloga do seu jeito. A regra é que tem que ser aleatório. Duas do “Disintegration”
seguidas, massa! E agora é a música título do álbum. Não há uma música que não
seja perfeita nesse álbum. A mais fraca, para mim, é “Fascination Street”,
depois “Lullaby”, embora nenhuma das duas seja realmente fracas, mas
empalidecem em comparação com as outras dez músicas. Mas sem elas “Disintegration”
não seria completo. É estranho isso, mas é como percebo o disco. Embora ache
duas músicas menores, este disco está tão arraigado em mim que não tê-las no
disco seria arrancar um pedaço de mim. Por falar nisso, talvez “Pedaço de Mim”
seja a letra mais perfeita de Chico Buarque. A concorrência é acirrada, mas
acho “Pedaço de Mim” a perfeição absoluta da poesia de Chico. Não há um verso
que não seja vital e pungente. E a interpretação com Zizi Possi e os arranjos
são irretocáveis. É uma música eterna para mim. Nunca ficará velha, nunca
perderá seu poder, nunca deixará de encantar as sensibilidades dos que tem
sensibilidade. Não quero aqui me gabar – se é que é se gabar se dizer sensível
hoje em dia – mas considero que tenho certa sensibilidade. Mas também acho que
todo mundo tem sensibilidade para uma direção ou outra. Não há aquele que não
seja sensível a alguma coisa, mesmo que feia. Por mais que reprima, a
sensibilidade está lá. Só doentes terminais de alguma demência talvez não
tenham mais sensibilidade, pois perderam a si mesmos. Não sei se minha avó, no
final da vida com a demência ou Alzheimer super-avançado sentia mais alguma
coisa, pois ela me parecia como um vaso vazio. O corpo estava lá, os sentidos
estavam lá captando os estímulos externos e internos, mas parecia faltar um alguém
para significar aquilo. Como uma TV ligada que só exibe estática ou algo do
gênero. É um triste fim, se bem que em seu alheamento talvez não sentisse mais
que se perdia de si mesma. Entretanto, acredito que no começo deva ter sofrido
bastante, quando a consciência ainda ia e vinha. Não sei realmente, isso tudo é
suposição, pois não a acompanhei de perto nessa derrocada do ser. Sei apenas
que sofrem mais as pessoas próximas que têm a consciência em “perfeito” estado
que aquele que a perde paulatinamente. Pelo menos foi o que aferi das minhas tias,
pessoas mais próximas de vovó. Especialmente uma que a abrigou até o final. Que
demorou para chegar. A TV exibindo estática perdurou por um tempo desumano
nesse canal sem canal. Não sei porque calhei de falar disso. Talvez porque ache
que vá ser meu destino se minha fé nos avanços da ciência e tecnologia
estiverem equivocados. Penso em X. Para ser sincero ela foi e veio algumas
vezes enquanto escrevia sobre coisas outras que não sobre ela. Talvez tenha me
surgido porque está passando uma música de amor – ou desamor – interpretada por
João Gilberto. Meu pai odiava João Gilberto e toda a Bossa Nova. Achava uma
música menor, diluída, com letras simplórias. Em uma palavra, insossa. Eu não
consigo achar assim. Eita, outra de João Gilberto, a que deu origem à Bossa
Nova, “Chega de Saudade”. Eu estou com
uma coceira no pé. No topo do pé, fico pensando se foi aquele lugar onde fomos
fumar com cheiro de urina e fezes não sei se humanas ou animais. Sei lá. Espero
que não seja nada demais. Fiquei de lavar as mãos quando fui colocar Coca e
quase me esqueci de que o fiz ou quase esqueci de fazer. Mas fiz, lembro-me de
me olhar no espelho e de que a luz que achava que estava queimada no meu
banheiro se acendeu brevemente. Fico feliz de ter lembrado. Não foi uma memória
que me veio fácil. Mas me alegra a capacidade de resgatá-la. Ainda não estou
tão mal quanto estava julgando. 22h54. Hora de pegar outro copo de Coca-Cola
com gelo.
22h58. O iPod está gostando mesmo de João Gilberto. Tocando “Desafinado”.
Estou sem muito mais para escrever, por ora não vem nada e quando não vem nada
vem X. Meu deus, em que transformei essa garota para mim? Ela significa muito
mais do que deveria significar. Ela deveria significar menos que R, a outra
estagiária que conheço desde o meu outro internamento. Afinal tenho com essa um
vínculo maior e mais profundo, pois ela participa de alguns grupos AD. De dois,
senão me engano. É possível que participe dos três, mas disso não tenho
certeza. Minha memória, ou melhor dizendo, a falta dela me impede de confirmar
tal afirmação. Estou escrevendo no meu modo catártico. Belle & Sebastian “The
Boy With The Arab Strap”. Muito astral essa música. A melodia, pelo menos. Não
entendo a letra toda, mas ela parece um pouco melancólica. Adoro essa canção.
Adoro Belle & Sebatian, mais especificamente os três primeiros discos. Não
acrescentaram nada de novo à Música, mas são doces, leves, melódicos, com
canções singelas e belas. Que encontram ressonância profunda em mim. Estou com
quase vontade de jogar Nintendo Wii U. Um dos quatro jogos que tenho aqui. Bem
exceto Splatoon. Postei no Facebook quando falava sobre “Pedaço de Mim” – que ainda
não tocou, mas tem no iPod – a pergunta “Existe música de sofrência mais
sofrência que ‘Pedaço de Mim’?”. Uma amiga minha e do meu irmão respondeu “Nenhuma”.
Engraçado o seu comentário. Às vezes o Facebook me apraz. Quase sempre me suga
para o seu espiral de intimidades e falsas intimidades reveladas pelos meus
conhecidos e raramente mostra algo de inteligente e correlacionado com coisa
outra que pessoas. Se bem que pessoas são as coisas mais interessantes que
conheço. É uma pena ter me distanciado tanto delas. E mais penoso ainda me
sentir confortável assim. Ou menos desconfortável do que interagindo com elas.
Preciso continuar me esforçando para voltar a ter uma vida social onde eu
participe efetivamente, como faço no CAPS. Como faço com X. Talvez por isso X tenha
tanta relevância. Com ela consigo ser o mais aberto possível e meus
quase-monólogos com ela mais lembram uma conversa que uma atuação terapêutica
de sua parte. Ela é a relação humana mais profunda e real que tenho hoje em
dia. Além disso, é uma garota, uma garota interessante, que me atrai, por mais
normal que seja. Mas há algo nela que não sei apreender ao certo o que seja que
me encanta. Sei que encantado estou. E que isso só vai levar ao desencanto.
Detesto viver uma história com final triste anunciado. Como Clementine. Ou como
seria A, não houvera aparecido X. Nem penso mais no plano das cartas para A.
Isso de X é bom por esse lado de deixar A de lado. Mas sei que A retornará com
força total quando X me der o fora e cortar qualquer relação – terapêutica ou
não – comigo. Não tarda muito agora. Principalmente se as psicólogas que me
conhecem mais perceberem o meu movimento e a alertem para a minha mania de
paixões platônicas por terapeutas.
0h31. Engrenei em duas conversas de Facebook, por isso me
distanciei daqui. Uma delas já foi finalizada, a outra anda lentamente, por
isso dá tempo de escrever aqui, creio. Não vou revelar os conteúdos da
conversa, pois são de cunho muito pessoal. Resta dizer que uma das pessoas está
bem apesar dos percalços que a vida vem lhe impondo. Que não são poucos nem
pequenos. É uma pessoa forte, de fibra. Admiro muito. O outro é o Marinheiro
dos diários (que preciso digitar, mas cadê saco?). O Marinheiro é uma figura
muito querida e especial na minha vida. E acho que sempre será. Um irmão que a
vida me deu. Vou encher meu copo de Coca, mas primeiro baforar um pouco. Dos
discos do Echo & The Bunnymen, em primeiríssimo lugar vem “Porcupine”, mas
num segundo lugar bastante distante dos demais discos está “Ocean Rain”. Como
já escutei “Porcupine” demais, “Ocean Rain” é o meu disco predileto do Echo
hoje em dia. Vou baforar mais um pouco antes de pegar a Coca. Acho que vou dar
uma pausa aqui nesse texto e digitar um pouco dos diários. 0h41.
1h58. Não digitei diário algum, mas pelo menos revisei este
texto e posso postá-lo. Acho que vou comer mais, por mais que tenha acabado de
bater um prato de charque com arroz. Inté.
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