quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

NOVAMENTE BLOGANDO DO CELULAR NO CAPS

Conversei com X hoje e foi ótimo. Falei de tudo o que me propus e ainda desmistifiquei sua pessoa, sem com isso deixar de estar encantado por ela. Disse-lhe que era a pessoa de todo o meu universo com a qual tinha mais intimidade, descobri que seus filmes prediletos eram "Jurassic Park" e "A Mosca", me esqueci quais foram seus livros prediletos (teve um de Freud) e a banda foi Nação Zumbi. Disse-lhe meus filmes - "Her" e "Matrix" -, meus livros - "The Singularity Is Near", "Dom Casmurro" e a autobiografia de Jung - e minha banda predileta - The Cure -. Descobri que, enquanto eu adoro Los Hermanos, ela não gosta nem um pouco. Também descobri que seu estágio vai até junho e disse-lhe que provavelmente as psicólogas daqui a chamariam para Os Barbas. Ela não parece ter nenhum traço de atração por mim, mas pelo menos me escuta com interesse.

12:02. Coloquei o som e perdi o fio da meada. Fato é que ela estava particularmente interessante de vestido. Preciso lembrar de elogiar isso dela quando a vir da próxima vez. X falou também de um filme de surrealismo, mas não lembro o nome nem detalhes. Ela também não deu muitos. Ela é uma figurinha que me cativa. Uma coisa que percebi é que ela tem um forte medo da figura masculina como agressor sexual. Esse é um assunto que vira e mexe aparece em seu discurso. E acho que por minha natureza não agressiva sexualmente, crio um elo de empatia com ela. Gostaria que tal característica pessoal despertasse em X a imagem de que sou o homem ideal para ela. Mas, para isso vai ainda um longo caminho, se é que caminho há. Provavelmente não há. Mas continuarei tendo minhas conversas com ela porque isso me faz um bem danado. Outra coisa que percebi nela é que provavelmente nunca usou aparelho, visto que tem alguns dentes tortos. Não sei se é de origem humilde ou não quis usar aparelho. Se for de origem humilde, teve mesmo assim uma ótima formação, pois fala um Português bastante bem articulado. Preciso perguntar onde ela estuda. E perguntar qual é o futuro profissional perfeito ou sonhado por ela. Preciso saber se quer ter filhos. Em verdade quero saber tudo sobre ela, pois tudo nela me interessa. Falando agora tanto sobre X, parece que o sentimento arrefece um pouco, faz parecer que é tudo uma ilusão passageira que já-já passa. Não queria me sentir assim. Queria um sentimento mais sólido como nos últimos dias. Não queria que acontecesse como aconteceu quando do meu primeiro beijo com V, quando o primeiro pensamento que me cruzou a cabeça foi "em que que eu fui me meter?! ", pois não senti que a amava nem um pouco naquele primeiro momento de nossa duradoura e atribulada relação. É certo que com o tempo veio o entrosamento e o amor, mas o que queria era o amor desde o começo, o que não aconteceu. Não quero me sentir assim de novo, pois tenho medo de a relação seguir pela mesma trilha da anterior, o que é uma preocupação besta, pois os sujeitos são outros, eu sou outro e X certamente é outra pessoa muito diferente de V. Pelo menos pelo pouco que vi dela e nela. Mas pode ser que o que sinto não seja tão profundo quanto se me afigura. Não importa, ainda tenho meses para ver no que isso vai dar e é muito provável que não dê em nada, mas não sei por que eu enxergo um futuro aí. Um futuro a dois. O embrião de uma relação. Parece que o grupo vai começar. Vou fumar um cigarro. Verdadeiro.

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17h59. Já estou em casa e acabo de acordar e de reler o que escrevi e venho deitar novas palavras sobre o papel eletrônico. Fui dormir pensando nela. Acordei e, depois de pegar um copo cheio de gelo e Coca, vim para cá, onde tudo gira em torno de X. Acho que o que diria a ela se encontrasse abertura, é que há homens sexualmente violentos, mas há muitos outros que não são, como eu. Que ela não nivele todos os homens por baixo. Na verdade, não sei se diria isso a ela. Não acho que eu dou um bom psicólogo. Prefiro mais ir como sair, de improviso, de coração. É uma pena que não vá vê-la amanhã e pior ainda que tenha que acordar cedo do mesmo jeito para ir ao grupo no Manicômio. Isso é o ó do borogodó. Estou com uma leve vontade de jogar Mario Kart na copa de 100cc. 18h25. Me perdi por alguns inúteis minutos no Facebook.

18h50. Apaguei o que escrevi agora. É raro eu ter um momento de autocensura no meu blog mas tratava de um assunto que para mim já está resolvido, de uma pessoa que infelizmente tive que cortar da minha vida. Além disso, pessoas ficaram me chamando para falar no Facebook. Vou é me desconectar daquilo agora. Mais do que Mario Kart eu estou com vontade de jogar o Zeldinha 16 Bits. Mas a inércia faz o desejo evanescer logo que nasce. Não estou muito instigado para jogar o novo Zelda que vão lançar. Espero que o mundo não seja tão grande quanto eu estou esperando. Senão será muito cansativo, como um jogo de PS3. Se bem que amei FarCry3. Mas o mundo de FarCry3 não é muito grande. Não é nenhuma Grand Theft Auto. Não sei. Não queria começar a falar de videogames de novo, por mais que eles sejam um dos pilares do meu mundinho. O Wolverine brasileiro está a caminho. Já foi postado e expedido. Não sei o que direi à minha mãe sobre ele. Provavelmente a verdade. É incrível, mas ainda não consigo montar uma imagem nítida de X na minha cabeça, só de relance, por frações de segundo. Ela usa vestido, será que isso quer dizer que ela não é lésbica? Não entendo nada do mundo LGBT e posso estar soando até preconceituoso com essa colocação. Mas é que vejo que a maioria das lésbicas não usa vestido. Pelo que me recordo. Posso estar redondamente enganado. Devo estar. Só não queria que X fosse lésbica, isso destruiria qualquer possibilidade de fantasia. E talvez até me desmotivasse a ter com ela. Se bem que ela é tão legal que acho que isso não ocorreria. De toda forma sinto que ela não é lésbica. Senão ela viveria mais dentro desse contexto e pelo que ela me falou de suas amigas, deu a entender que elas não são lésbicas, não sei por quê. Bom, parto do pressuposto que X não seja lésbica. E de que não sente nenhum afeto por mim. Que sou apenas só mais um usuário do serviço no qual ela estagia. Mas quero nesses quatro meses que restam até o seu estágio acabar, mudar esse cenário. Quero que ela se apaixone por mim. Acho que vou convidá-la para o Sai Dessa Noia. Não custa nada tentar, eu acho. É o carnaval mais tranquilo do Recife. Pelo menos foi no ano passado. Acho que o bloco estará maior esse ano, mas não tão maior assim. O problema é que já está saindo nos jornais, capaz de atrair mais gente do que eu julgo ideal. Veremos. Já dei com várias pessoas que não conhecia na pintura das camisas, o que significa que teremos muitas caras novas esse ano. Uma delas poderia muito bem ser a de X. Mas acho essa uma possibilidade demasiado distante da realidade objetiva até para mim que sou dado a sonhar. Duvido que ela vá para o Sai Dessa Noia. Não acho impossível que vá para Os Barbas se a turma do CAPS a convidar. Embora ela não me pareça tão enturmada com a esquipe do CAPS. É outro assunto para tratar com ela. Essa minha percepção de não pertencimento ao grupo. Pode ser porque eu não vou nas terças e quintas, quando talvez haja mais interação dela para com os seus companheiros de trabalho. O que me dá uma sensação de que ela é uma pessoa como eu que gosta de resolver as coisas sozinhas, não seja boa de trabalhar em equipe. Outro ponto a se averiguar. Vixe, são tantos pontos que certamente não me lembrarei de nenhum! Hahahahahaha. Acho que não vou entrar na seara da violência sexual masculina. Não sei. Vou seguir o fluxo da minha alma. O que vier, veio. Ou virá. Encaro o Zeldinha agora? Minha mãe me chamou para ver “La La Land”. Parece que só viram a primeira música, mas minha mãe disse que é um filme bem alto-astral e estou precisando de uma dose disso. Não sei se verão agora e se voltarão o filme para que eu veja a primeira música, de abertura dos créditos. Não gosto de perder nada de um filme.

20h28. Fui jogar o Zeldinha, mas morri 4 vezes sem passar no primeiro dungeon e sempre começando do começo da fase, tudo de novo, que desisti. Temporariamente, digo. Aí tentei o Gran Prix Mushroom com a princesa em 100cc e ganhei todas. Um a menos para conquistar e aproveitei e peguei já o adesivo dela. Aí dei um tempo. Coincidiu que quando eu liguei o Wii U o computador pediu para reinicializar para fazer atualizações. Foi legal essa sincronicidade. Quando acabei a pequena jogatina, ele estava pronto esperando por mim. Graças também a essa parada, percebi que o meu Vaporfi estava quase sem líquido e coloquei, senão iria empestar o filtro com um gosto de queimado que teria que me fazer trocá-lo. Acho que já estão assistindo “La La Land” lá na sala. Ouço uma música vinda de lá, além do maracatu que ouço da minha janela, vindo da rua. Um ensaio semanal que fazem por aqui. Não sei se é semanal, pode até ser mais frequente, nunca prestei atenção. Estão inclusive com uma batida nova, mais variada, estão evoluindo. Bom para eles. Eu vou colocar “Kid A” para ouvir porque não sou um cara de “raiz”. Sou enraizado no meu cotidiano que acho bom e agradável, mas não tenho essa paixão pela cultura pernambucana. Até porque não sou daqui. Mas é como se fosse, já estou aqui há quase 30 anos. Nunca me apeguei. Como me apeguei ao pós-punk do Reino Unido ou a Chico Buarque. Não gosto de carnaval. Não entendo como desperta tantas paixões. Principalmente o carnaval de Olinda. Mas confesso que há uma energia que toma conta da cidade e que muitas vezes ela me arrastou para lá. Não mais. Só vou a Olinda se arrumar um lugar decente para dormir e comer e beber Coca-Cola que me dê vista privilegiada da folia. Para que fique desse lugar vendo o povo se amassar em todos os sentidos. Gosto de ver as fantasias. Todo ano tem coisa nova e criativa, é impressionante isso. Mas vejo essa parte da TV. Meu carnaval é o Sai Dessa Noia e, se muito, uma esticada para Os Barbas. Definitivamente uma passada pelos Barbas se X estiver lá. Conversamos muito hoje. Foi muito bom. Contei da minha traição e da minha vontade de pedir perdão a V e de nunca ter cruzado com ela desde que acabamos o namoro. Mesmo com os pais dela morando no mesmo prédio que eu e do fato de a minha irmã, que mora na Alemanha, já tê-la visto por aqui e eu não. O que, como X apontou, é espantoso. Não sei se de alguma forma ela me evita. Mas seria muito infantil da parte dela após tantos anos. Mais de 15 anos nas minhas contas. Não é possível que ainda perdure nela tanta mágoa e tanta raiva de mim para isto. Aliás, tudo é possível. Foi muito e dolorido para ambos os últimos anos da relação. Mais para ela que para mim. Para mim doeu mais quando a perdi. Mas valeu a pena, perdemos a virgindade juntos e apaixonados e vivemos grandes e belos momentos. Houve um momento que nossa afinidade era tão grande que acontecia algo semelhante à “telepatia”, quando um meio que pressente que o outro vai ligar ou chegar e a pessoa efetivamente liga ou chega. A imagem de X me vem mais completa agora, que bom. Gosto de relembrar seu rosto. Não é lindo, mas tem seu encanto, me agrada, me agrada bastante. E acho o seu corpo bonito. E acho sua cabeça legal. Ela tem senso de humor. Que mais posso eu querer de uma garota? Que ela também me queira. Só. E esse só é tão muito que nem sei. Tive esse lance de “telepatia” com a Gatinha também. Não queria perder a amizade dela. Nunca. E, da mesma forma que ela, se eu arrumar uma namorada, esta vai ter que entender que a presença da Gatinha na minha vida é algo que não vai mudar em nenhuma instância. Mas acho que a própria Gatinha está se distanciando aos poucos de mim. Acho que ela mesmo percebe isso. E não quer ver. Ou vê e cala. Estou sonhando em relação a X. Que droga. Agora isso me caiu como um raio na cabeça. Quem iria querer namorar um viciado? Se bem que conheço viciados declarados que têm suas garotas, suas esposas. Que os conheceram nessa condição e mesmo assim se dispuseram a construir uma relação. A vontade de voltar ao Wii me ataca. Para um Zeldinha muito mais que para um Mario Kart. O Super Mario eu estou meio que com aversão de tão difícil que está. Acho que vai ser o quarto Mario que vou deixar sem zerar. Não zerei o Super Mario Bros. original, não zerei o Super Mario Bros. 2, não zerei o Super Mario Sunshine e agora este. Mas zerei mais Marios do que deixei de zerar. E ainda tenho a oportunidade de zerar os que não zerei, pois tenho todos aqui, eu acho. Só não tenho certeza do Sunshine. Que é o que mais queria jogar de todos, pois é 3D. Eu acho que matei o chefe final, mas não peguei todas as estrelas. Ou “shines” como eram chamados nesse jogo específico. Me lembro que me diverti bastante jogando até chegar ao nível de frustração deste novo. Mas acho que, hoje em dia, mais acostumado com o 3D talvez me desse melhor nele. E lá vou eu falar de videogame novamente. Que ozzy. Não consigo evitar. Minha mãe está bastante bem para quem fez uma quimioterapia ontem. Fico feliz com isso. Ainda tenho pensamentos maus – meus – em relação à próxima sessão, mas espero que dê tudo certo. Queria eu ter assunto para falar de bonecas quanto tenho para falar de videogames. Estaria escrevendo no meu outro blog e gerando polêmica. Mas não há boneco que me interesse ultimamente e minha fissura por bonecos praticamente desapareceu. Só quero comprar mais um boneco, uma boneca, no caso, a She-Ra da Sideshow Collectibles para gastar meus reward points. 21h20. Vou pegar uma Coca-Cola. Não sei se volto para cá ou para o Zeldinha. Veremos. Estou com fome. Há um dos meus pratos prediletos, bife à milanesa na geladeira. Mas vou esperar pela fome insana dos remédios e me empanturrar de carne. Meu irmão vegano que me perdoe.

21h24. Minha mãe disse que “La La Land” é um filme que eu não vou gostar, que é um filme “bem adolescente”, “bem 12 anos”. Mas eu acho que minha idade mental é por aí, então vou dar uma chance, por mais que eu esteja na cabeça assistir o “Massacre da Serra Elétrica” original desde que esta ideia me surgiu em um outro post. Também fiquei entristecido pela minha incapacidade de escrever contos como costumava fazer. Acho que a cola destruiu a parte do meu cérebro destinada à criatividade literária. Não sei. Não sei o que aconteceu que agora só consigo escrever isto que você lê, um diário das minhas próprios pensamentos e atos e os acontecimentos que meus sentidos alcançam, ou que vêm até eles. “Kid A” é um disco massa e muito bonito. Foi o começo da diluição do som do Radiohead, mas ainda bem no começo da diluição. É disco que é uma fase de transição e um caminho diferente, que eles devem ter considerado uma evolução do “Ok Computer”. Ou não consideraram nada, só fizeram o que lhes deu na telha. E ficou excelente. Gosto do disco cada vez mais a cada nova audição (o que não aconteceu com Moon Shaped Pool). Por falar em discos que ficaram melhor a cada nova audição, faz tempo que não ouço “Blackstar” de Bowie. Acho que vou tirar o “Kid A” e colocar ele.

21h37. Vixe, o disco estava tão entocado que eu quase não conseguir encontrar. Incrível o disco me remete diretamente ao tempo em que escrevia incansável o meu blog de bonecos. Que onda. Por um segundo eu pensei que de fato o fazia. Isso me deu até a instigação de produzir um texto para o blog de bonecos. Mas antes disso, estava matutando tentar escrever um conto. Pensei que ele começaria assim: uma menina dança sozinha no quarto. Só ela e sua solidão. Que é muito sua e muito bem-vinda. Ela rodopia ao som da música que ela mesma cantarola para preencher aquela solidão toda. Ela se sente contente. Até que sua dança e sua solidão são interrompidas por uma batida insistente no vidro da janela do seu quarto. Curiosa do que poderia ser, ela corre ainda bailando e cantarolando para janela. Lá, vê um passarinho, ou deveria dizer passarão? Pois a ave era enorme. Maior do que um cachorro São Bernardo e multicolorida, furta cor resplandecente pelo sol de depois do almoço que reluzia dourado em suas penas.

A menina, à primeira vista ficou com medo da imensa criatura. Será que queria devorá-la? Ou lhe furar todinha com seu afiado bico? Foi em meio aos seus pensamentos amedrontados que a ave falou com a uma voz muito suave e aveludada. “Vamos, abra a janela! Quero lhe mostrar uma coisa.”

A menina relutou um instante, talvez dois, e num impulso da mesma velocidade com que se engole xarope quando se está com febre abriu as janelas de supetão. A ave entrou majestosa, mas mansa e calmamente no seu quarto para que não assustasse ainda mais a menina. Por alguma razão o enorme bicho sabia do receio da menina à sua presença.

“Quem é você?” Indagou a menina querendo se encolher num canto do quarto. “Você quer me comer, me ferir, me matar? Por favor não faça isso, eu sou uma menina boazinha e apenas sou solitária, só isso.”

“Eu sei. Eu sei tudo sobre você. Eu a vejo todos os dias brincando com a sua solidão. Não vim lhe fazer mal algum. Acontece que, por algum motivo que nem eu sei explicar, ontem eu era apenas um passarinho como outro qualquer, mas alguma coisa aconteceu quando vi o tamanho da sua solidão que comecei a crescer e as minhas ideias também começaram a crescer até que pensei e pensei que falava e quando dei por mim falei. Com você. Sabia que se tivesse que fazer algo tão incrível teria que ser com você.” A ave explicou com sua melodiosa voz aveludada a incrível situação que se passara consigo.

A menina se acalmou e foi tomada pela curiosidade. “Quer dizer que você ficava me olhando da árvore? E eu que pensava que estava sozinha o tempo inteiro. Mas corra, diga-me, o que é que você queria me mostrar?”

“Pegue o lençol da sua cama, passe-o em volta do meu pescoço e suba nas minhas costas.” Falou gentilmente a grande ave. “Vamos dar um passeio. Quero lhe mostrar o mundo pelos olhos de uma ave. Também sou muito solitário sabe? Sou uma ave muito rara e não encontro par para mim, por isso vôo sozinho por aí, de galho em galho, mas sempre venho parar para apreciar a sua solidão pois me solidarizo com ela.”

Enquanto a ave falava, ela se abaixou de forma a permitir que a menina passasse o lençol por seu pescoço e subisse em suas costas. “Puxa suas penas são tão macias e sedosas”, disse a menina, agora encantada pela criatura que havia lhe roubado a solidão.

“Está confortável? Prenda bem as pernas em volta do meu pescoço, pois vamos levantar vôo.”

“Pronto.” Disse a menina se acomodando da maneira mais segura que podia. Ambos partiram em direção aos céus daquela tarde dourada. Ela viu a cidade ficando cada vez menor à medida que o pássaro ganhava altitude e ficava maravilhada com o vento em seu rosto, a sensação de liberdade, de não-solidão, o sentimento de ser maior que o mundo, que de fato agora parecia bem pequenino lá embaixo, com as pessoas fazendo as coisas que pessoas fazem. O som das possantes assas rasgando o ar rufavam perto do seu ouvido e era agradável ouvi-las. “Vamos a algum lugar em especial?”

“Para bem longe da solidão do seu quarto.” E voaram tão alto e tão longe que da janela do quarto da menina não era mais possível divisá-los. Quando enfim a menina retornou à sua casa. E passou-se muito tempo para isso. Mas muito tempo mesmo. Não horas, não dias, não meses, mas anos. A menina havia se tornado uma mulher e chorava muito. Seu pai, viúvo desde o tempo em que a menina era menina abriu a porta incrédulo, pois acreditava que jamais voltaria a ver a filha querida e surpreso em como havia se tornado uma mulher de longos cabelos negros, pois nunca os cortara, e vestida de folhas e flores, pois há muito suas roupas haviam deixado de caber. “Minha filha, você está viva! Venha, dê cá um abraço” A menina, em prantos abraçou o rosto envelhecido e arranhando pela barba mal-feita de um pai que há muito havia perdido o gosto pela vida ß Esse final estava ficando ruim, melhor terminar o conto ali onde pretendia. Vocês não sabem como tive vontade de matar a menina a fazendo cair da ave. Por quê? Porque ela era uma criação minha e eu tinha o poder de fazê-lo. Teria tornado o conto mais curto. Mas confesso que fiquei impressionado que o conto saiu. Deveria ser uma mulher, em vez de uma menina, penso agora. Uma mulher solitária. É algo mais real porque as crianças geralmente têm algum tipo de cuidador ou, se são meninos de rua, sem pai nem mãe, acredito que costumem se agrupar. Uma mulher solitária seria mais plausível. E talvez ela voltasse velhinha já, ao invés de adulta como a menina, e voltasse porque a ave havia morrido e ela dançaria lentamente e sozinha no seu quarto, cantando a mais triste das melodias que terminaria com seu último suspiro. Voltaria também coberta de folhas e flores. É uma visão interessante uma velha de longuíssimos cabelos brancos coberta de flores e folhas. Muito melhor. Mas deixa pra lá, saiu como saiu. Não posso me dizer orgulhoso, mas confesso que estou impressionado que algo fictício saiu da minha caixola. Não esperava mais por isso. Talvez me aventure mais vezes. Queria até que X lesse este post. Aliás queria que ela lesse o meu blog. Mas ao mesmo tempo isso seria um tiro meu pé, pois não posso revelá-la a minha “transferência”, pelo menos não ainda. Talvez nunca. Gosto da minha solidão cada vez mais. Mas às vezes cansa também. Não sei se tenho a alma preparada para um relacionamento, para as frescuras, aparar arestas, brigas, divergências. Eu sei que tem o lado bom e mágico também – como voar num pássaro gigante e majestoso – que é gostoso. Que se sentir amado do amor de paixão é prazeroso. Mas não sei quanto dessa fantasia é real. Tenho medo de acontecer como aconteceu com V. Não sei porque estou com tanto medo disso. Será uma intuição? Mas novamente nada preciso temer, ela não vai querer um coroa buchudo, drogado e fracassado como parceiro para a vida, para trocar afetos. Eu sei, eu sei; eu não sou só isso. Eu sou algo mais e tenho lá minhas qualidades e coisas interessantes.

22h43. Mamãe veio me dar os remédios e disse que gostou de “La La Land”. Talvez o assista agora. Ou ele ou “Texas Chainsaw Massacre”. Queria que amanhã fosse sexta e eu pudesse falar com X novamente. Não queria que fosse quinta e que eu tivesse que ir ao Manicômio. Tenho que pegar o telefone de um bróder para dar a outro bróder. Preciso me lembrar disso. Eu posso passar no CAPS depois disso! Afinal, vi hoje que na terça fui marcado como “ausente”, quando a minha prescrição era para vir na terça só nas duas primeiras semanas. E já estou na terceira. Mas poderia usar isso como desculpa e ainda esclarecer as coisas para a moça que marca as presenças. E poderia ver talvez X. Não. É demais. Vou assistir o filme de terror e amanhã vejo “La La Land” Quero tê-lo fresco na cabeça para poder conversar com X sobre o filme na sexta. Embora não pareça a praia dela. Mas acho que vai me fazer chorar. E quero chorar. Faz tempo que não choro. Por isso tem até que ser durante a tarde quando não estou lombrado de remédios que moderam ou anulam meu humor. Vou tentar o Zeldinha só mais uma vez e depois vejo o filme.

23h56. Muito tarde para ver o filme. Estou com sono depois dos bifes à milanesa que comi. Vou comer mais um pouco deles e me deitar. Amanhã levanto cedo. Ah, e morri mais três vezes no Zeldinha e desisti por hoje. Vou postar para ir me organizar para dormir.

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