Recife, 3 de janeiro de 2017
Estou fazendo um papel ridículo. Eu me despedi, inclusive de
X, fui embora, mas ao dobrar a esquina, resolvi voltar na esperança de que ela
venha falar comigo ainda hoje. Me parece cada vez mais claro que não vai. O
melhor e mais digno a se fazer é sair pela tangente e ir pra casa. Não vou para
o grupo da tarde, X não vai sentar-se comigo, então não há mais nada a fazer
aqui. Prefiro continuar escrevendo do meu computador. Vou dar cinco minutos e
se ela não vier, vou embora. A oficina já vai começar. Chega a hora de partir.
Vou lá. Até segunda, CAPS. E X.
14h05. Já estou em casa arrefecendo o corpo no
ar-condicionado do meu quarto. Nem achei X tão incrível hoje. Provavelmente por
ela não ter me dado atenção. Mas como se vê, continuo pensando nela. Essa de
ter voltado foi lasca. Maior queima-filme. Queria tanto privar de sua atenção,
mas participei justamente dos grupos dos quais ela não fez parte. Sentei ao seu
lado na hora do almoço à guisa de me ficar perto dos meus companheiros de AD.
Falei sobre os quatro selinhos que dei na minha amiga lésbica no carnaval para
poder dizer aos meus netinhos (que nunca vou ter ou, se tiver, nunca verei,
pois morrerei antes) que beijei mulher no carnaval de Olinda. Bem, de qualquer forma,
tenho uma história cômica para contar, onde o palhaço, para variar, sou eu.
Gostaria muito de conversar com X na segunda. Ela é menos bonita do que a
concebia e o engraçado é que até agora não consigo me lembrar com precisão de
suas feições, como consigo de todos os outros terapeutas. Isso é muito
estranho. Não consigo montar seu rosto completo em minha mente, me vêm só
fragmentos. A unidade não consigo dar. Talvez seja uma coisa da idade. Na
verdade, acho que é da idade mesmo, os estagiários mais novos, que não estavam
comigo na outra internação no CAPS, ela e mais dois, um cara e oura garota,
também não tenho as imagens fixadas na mente ainda. Tenho mais a do cara, pois
ele interagiu mais comigo. X e a outra garota, entretanto, não imprimiram seus
rostos no filme da minha memória. Com o tempo, certamente esta distorção
desaparecerá. Ou não. Da outra garota lembro bem menos do que de X. Agora
deveria ter uma imagem bem formada desta, pois interagi e olhei bem mais para
ela que para o cara. Bom, é estranho e me minha mente com sua criatividade já
cria superstições de que isso é um sinal de que ela é a pessoa. Mas a verdade é
que ela não está nem aí para mim. Passou a hora do almoço teclando no seu
celular na recepção. Me sinto até constrangido de olhar para ela agora.
Tentarei evitar olhares na segunda-feira. Não sei se vou conseguir. Queria que
ela viesse de livre e espontânea vontade me procurar, mas acho isso pouquíssimo
provável. O que me entristece e me faz relembrar o quanto vivo de ilusões. Preciso
me desvencilhar desta. Voltar a anterior, quem sabe. Mas seria tão bom que
houvesse reciprocidade. Não há. Ponha isso dentro da cabeça, imbecil. Ela está
só fazendo o seu trabalho como estagiária.
Atendendo mais um usuário dentre tantos outros. Como qualquer outro,
melhor dizendo. Fato é que mal posso esperar pela segunda e por um novo papo
com ela. De repente ela é até lésbica e eu atingi suas sentimentalidades com a
história dos selinhos no carnaval. Sei lá. Mas ela não transparece ser. Porém
meu radar para essas coisas seja zero. As conversas que tivemos não foram
conclusivas de sua sexualidade, mas a mim deixaram subentendido que fosse
hetero. Se bem que as conversas também deixaram subentendido que ela tinha um
interesse especial em conversar comigo. O que não é verdade. Idiota. Novamente
construindo castelos de areia. Vou levar é um fora bem sustento para deixar de
ser otário. O que não vou deixar de ser nunca, eu já sei.
14h48. Minha mãe tem mostrado interesse sobrecomum em
relação às colagens que fiz no CAPS. O pior é que ela quer ler as cartas que
escrevo no exercício. Que leia. Não tenho nada a esconder. Quase nada. O gosto
da cola vem me aparecendo quando como e bebo algumas coisas específicas ou fumo
cigarros. Agora há pouco mesmo senti quando tomava Coca Zero. Não acho que isso
seja prenúncio de recaída. Talvez os sabores se assemelhem mesmo. Não quero
recair agora. Além de X, tem os jogos de Wii U para chegar. E, além disso, não
quero ficar internado de novo. E além, disso tudo, a cola faz um estrago danado
no meu organismo, principalmente no cérebro. E ainda por cima tem minha mãe
fazendo quimioterapia. Preciso carregar meu controle mais novo de PS3, li no
manual do Wii U que é bom carregar pelo menos uma vez a cada seis meses
baterias de lítio, para aumentar a vida útil das mesmas. Já devem fazer uns
três meses que não recarrego o controle. E poderia aproveitar para seguir um
pouco mais adiante em Mirror’s Edge. Estou meio saturado do Super Mario, muito
embora esteja com vontade de jogá-lo. Pelo menos ir nas fases antigas ver se
pego os topos das hastes das bandeiras de final de estágio. Mas estou mais com
sono do que com vontade de jogar. E estou com mais vontade de escrever do que
com sono. O que menos quero fazer é jogar Mirror’s Edge. Quero ver como vou pro
Capibar amanhã. Não sei como chegar lá. Pretendo ir cedo, por volta, no máximo,
das 13h. Começa às 10h e termina às 18h. Perderia só três horas de interação. E
poderia dormir ao meu bel prazer. Ou quase. Tem um filme que quero assistir
hoje. Baixei anteontem. Chama-se “Arrival” e é um thriller de ficção científica,
além de lançamento. Ou seja, tudo o que eu gosto num filme só. E com notas boas
no Imdb. Parece que tem um pouquinho de drama, mas isso não ofende a ninguém.
“A Garota do Trem” tinha um bocado de drama e prendeu minha atenção até o fim. É
bom pensar em outras coisas, desfocar de X. Senão fica muito doentio. Enjoa.
Outra estagiária me sugeriu assistir “Bonequinha de Luxo”. Vou procurar no
Netflix. Só não sei quando. Estou meio sonolento, mas sem vontade de dormir. A
única vontade real que tenho é a de escrever. Ficou comprovado que os
visitantes desse blog são bots de busca, pois não houve comentário sequer no
post anterior, quando requisitei que algum leitor escrevesse algo nos
comentários, para comprovar a existência de humanos acessando o Jornal do Profeta.
A inexistência de comentários não foi grande surpresa para mim. Meus posts são
gigantescos e quase desprovidos de conteúdo. São um passatempo pessoal, muito
mais que algo criado para que o público leia, por mais que desejasse isso. Mas
é exigir demais dos meus amigos. Me disseram no CAPS, não lembro quem, para
divulgar os posts no Facebook, mas acho isso de uma crueldade tão grande para
com meus amigos que não tenho coragem de fazê-lo. Vou ver se acho as legendas
para “Arrival”, visto que quando baixei ele havia acabado de ser lançado no
Yify e não haviam disponibilizado legendas ainda.
15h21. Peguei as legendas, ótimo. Passei uma olhada rápida
nos reviews e dizem que o filme é muito drama e muito arrastado. Não é lá muito
animador, mas encararei mesmo assim. Droga não posso passar o filme agora
porque o meu iPod está carregando. Se bem que tem outra porta USB do outro lado
do laptop, o que significa que eu posso.
15h33. Acabei de passar o filme para o HD externo. Acho que
vou assistir... daqui a pouco. Estou com vontade de tirar um cochilo. E de...
xapralá. Ou deixa para quando todos forem dormir. Se mamãe fosse dormir já
seria o suficiente. Meu padrasto não tem o hábito de entrar no meu quarto sem
bater. Quem vai dormir sou eu. Duas horinhas. Até as 18h. 15h42 agora. Vou
ligar o ar. Minhas inclinações estão mudando abruptamente. Não sei o quero
fazer. De repente vou ficar escrevendo aqui até sei lá quando. O lado bom é que
não sei o que fazer porque eu tenho várias coisas que me despertam vontade de
fazer e não porque não tenho nada para fazer, o que seria péssimo.
16h00. Minha avó ligou e descobri que mamãe está tirando um
cochilo. Então não vou deixar pra lá, não. Vou fazer e depois tirar um cochilo
até as 18h.
17h57. Meu relógio biológico não poderia ser mais preciso.
Acordei quase agora e fui pegar um copo de Coca para ver o filme e aproveitei e
convidei mamãe para assisti-lo, o que ela prontamente concordou. Veremos ambos “Arrival”,
então. Na TV da sala, que apesar de uma quase invisível mancha na tela para mim
ainda é o melhor lugar para ver filmes. Acordei de um pesadelo, muito real a
sensação de haver uma cobra me roçando os testículos. Pense no susto. Chega
acordei esperto. E com taquicardia do jorro de adrenalina. Não sei porque
estava sonhando com essa cobra, mas já fazia alguns minutos que o sonho virava
e mexia se focava nela. No sonho, eu estivava deitado no chão do box de
acrílico com a porta aberta, vendo a cobra do lado de fora, ao lado da parte de
acrílico que permanecera fechada, ela praticamente imóvel. Não era uma cobra
peçonhenta, por algum motivo sabia disso. Apesar da proximidade de mim, o fato
de não ser peçonhenta e de pouco se mover não me deixou muito preocupado com ela.
Só sei que entrou outra cobra peçonhenta – vermelha e preta – no banheiro e foi
atacar a que já estava lá, esta correu/rastejou para o meio das minhas pernas
roçando os meus testículos. Aí pulei da cama. Ouxe.
18h08. Será que dá tempo de jogar um Super Mario enquanto
mamãe se prepara para ver o filme? Testarei agora.
18h56. Acho que mamãe desistiu de ver “Arrival”. Joguei que
só Super Mario agora pegando as hastes mais altas que não havia conseguido em
fases passadas (até que começou a chegar nas mais difíceis e estrilei).
19h00. As sete da noite me chegaram com uma pesada crítica:
a quem eu acho que estou enganando escrevendo isso? Por que me sinto produtivo
fazendo algo que não tem mérito nenhum, substância nenhuma, é mal escrito,
enfim, uma coisa ruim e tediosa? Não consegui achar resposta para essa
indagação. E ela me doeu profundamente. Como se minha escrita não tivesse nenhum
valor. Mas aí vem a questão! E que me traz grande alívio para o sofrimento
anterior. “Minha escrita não é valiosa para quem?” Esta é a pergunta que não
tem preço. Ela é valiosa para mim e é isso que importa. É nisso que tenho que
me focar. Não vou me impedir de escrever, talvez o hábito que mais goste
(empatado com jogar videogame, fumar bebendo Coca e namorar) por que ninguém dá
valor ao que faço. Não preciso desse valor. Não preciso disso para sobreviver.
Tenho minha pensão, graças a Deus. Eu preciso disso para viver, me sentir vivo, me divertir, preencher meu tempo, me
expressar, extravasar fantasmas, me sentir produtivo à minha maneira. Agora o rosto de X veio completo para mim,
interessante. Mais interessante ainda é que uma amiga de infância disse que me
achava lindo. E reiterou o dito, que achei ser só uma expressão afetuosa,
dizendo que seu gosto difere dos padrões cinematográficos e talz. Pela primeira
vez acreditei que alguém me achasse lindo mesmo. Não só bonito, mas lindo.
Fiquei encantado com tal percepção estética da minha pessoa. Preciso só
emagrecer. O tamanho da barriga é inversamente proporcional ao tamanho da minha
autoestima. Espero que agora que estou levando a somaliana leve um pouco mais a
sério, eu consiga perder uns quilinhos. O CAPS ajuda, pois não tenho a minha
mãe me pastorando para comer. 19h17. Por falar em minha mãe, ela se fechou no
quarto com o meu padrasto e estão lá conversando no escuro. Dá vontade de pôr o
filme. E é isso que vou fazer.
23h15. Assisti “Arrival” e achei menos arrastado e dramático
do que esperava. Ter lido as resenhas negativas me fez assistir o filme com a
expectativa certa. Achei a história bem construída. Parece que um novo gênero
que descubro gostar é o de filmes baseados em livros. Bem, nunca vi “50 Tons de
Cinza”... mas via de regra eu gosto, até dos mais bestinhas, como “Jogos Vorazes”
e “Maze Runner”. Eu instigava ver outro filme agora, mas já tá tarde e eu
preciso – e é um dever – ir à pintura das camisas do Sai Dessa Noia. Preciso me
socializar, por mais que agora, agora, não esteja com disposição nenhuma de ir.
Me dá um embaraço, uma vergonha, uma sensação de que vou me sentir um peixe
fora d’água danados. Tenho que lutar contra isso. Pior que nem sei chegar no
Capibar. Espero que consiga. Quem tem boca vai a Roma.
23h44. Meu primo-irmão disse que fica perto de um posto na
17 de Agosto que tem uma loja de conveniência. Só conheço o Shell que fica lá
na pqp. Se for este é uma baita caminhada. Ele sugeriu que eu fosse de Uber.
Mas estou na instiga de ir a pé. Voltar, posso até voltar de Uber, mas a ida
quero ir caminhando e cantando e seguindo a canção que rolar no meu iPod
recém-recarregado. Foi outra coisa ozzy de hoje, o iPod descarregou no começo
da manhã. Teve uma parte boa, entretanto, que o grupo AD começou só comigo na
sala e, com isso, tive a oportunidade de fazer dois cartões postais, desses que
minha mãe gosta. Ela só não sabe que fica esteticamente interessante porque o
material que o CAPS nos serve de fonte é riquíssimo de belas imagens. Ainda
tive tempo para discutir ambos até que o outro único membro do grupo hoje
chegasse. Aí, passei a palavra e acredito que isso também tenha sido proveitoso
para ele, que teve tempo para falar bastante. Ele está falando mais. Era muito
mais caladão quando entro no serviço. Ganha ele e ganhamos nós com as suas
experiências. Estou com sono. Vou publicar isso logo e ir dormir. Não, primeiro
ligar o ar e deixar o quarto e minha cama esfriarem um pouco. Queria acordar mais
cedo e chegar no Capibar mais cedo. Creio que levarei, no mínimo 40 minutos
para caminhar até lá. E ainda preciso tomar banho antes de sair, por mais que
vá chegar ensopado de suor da caminhada no muito possível sol quente.
Deixei o controle de Wii U carregando no “charge dock” exclusivo
da versão Deluxe. Acho o maior chiquê, só me impede de jogar. A tecla de shift
do meu teclado tem horas que não funciona, isso é uma coisa que me deixa
extremamente fulo. Com menos de um ano a tecla já está dando defeito. Ou com
pouco mais de um ano, sei lá. Nem lembro quando fui lá visitar o meu irmão.
Datas, nomes e localização sou péssimo. Minha memória falha para outras coisas
também, mas especialmente para estas é uma negação. Como queria que a tia da
minha cunhada trouxesse os jogos para mim. Seria uma felicidade. Estou me
contendo para não começar o Super Mario Kart. Não sei bem por quê. Estou com
medo de me decepcionar, não sei. Guardo tão boas recordações dele. Ou então não
quero largar o osso do Super Mario 3D World, na vã expectativa de que vou
zerá-lo por completo, mesmo apelando para o White Tanooki suit. Não importa.
Queria fechar todas as fases. Mas vi no walkthrough que a fase mais difícil do
jogo reque que eu dê o super jump e isso não consigo fazer. Ainda, pelo menos.
E só consigo passar dela com o White Tanooki suit. O nome da fase é bem
sugestivo “Chapion’s Road”, ou seja, só para quem é hardcore do hardcore. Ver o
vídeo do cara passando de fase dá até a impressão de que é relativamente
simples. Só que o cara que joga é muito fera e vai de super jump em super jump,
pulando obstáculos absurdos, escapando de armadilhas muito sacanas com reflexos
de gato. Eu não tenho mais esses reflexos. Ou nunca os tive. Ainda tem estrela
para pegar em fases anteriores que não sou capaz de alcançar ou não sou rápido
e ágil o suficiente para coletar todas as moedas verdes. É ozzy. Frustrante
demais. E ao mesmo tempo, fica aquele comichão, deixa eu tentar só mais uma
vez. É um jogo viciante e divertido, mas preferia que a zerada final fosse no
último Bowser, do mundo Bowser. Aí o jogo seria perfeito, redondinho e eu
conseguiria zerá-lo todo. Infelizmente descobrir esses novos quatro mundos que
tem sido uma fonte de insatisfação mais do que de prazer.
Recife, 4 de fevereiro de 2017
0h54. Me perdi na Internet agora. Droga. E perdi o sono. Vou
postar logo esse negócio e tentar ir dormir.
Adendo
Adendo
1h00. Publiquei, mas não estou disposto a parar de escrever.
Perdi o sono. Talvez, se comer alguma coisa, o sono volte, sei lá. Barriga
cheia sempre dá sono. Vou beber pelo menos o restinho da Coca que tem na
garrafa.
1h03. Tinha realmente muito pouca Coca na garrafa, menos de
meio copo. Está praticamente choca. Vou fazer render o máximo com a três pedras
de gelo que coloquei. Lembrar de levar um copo grande lá para a pintura das
camisas. Espero que tenha gelo no Capibar. Num delírio louco pensei que seria
perfeito se X aparecesse por lá. Acho provável que apareça n’Os Barbas. As
psicólogas do CAPS vão em massa para lá. Vou ver se tenho coragem de perguntar
a ela. Se bem que, se nos encontrarmos lá, ela vai ser evasiva e não vai querer
quebrar o estigma psicólogo-usuário do CAPS e me tratar como uma pessoa normal.
Logo, vai ser uma interação fria e rápida. Isso se eu for dar uma passada n’Os
Barbas. Pois é no mesmo dia do Saia Dessa Noia. O gelo e a Coca acabaram. Estou
com vontade de abrir mais uma. Mas aí fico acordado até as três da matina. Não
vai dar certo. Melhor me contentar com essa e pronto. Aparentemente, meu
padrasto que dormiu das 19h até agora, está atacando a geladeira. Quero ver que
horas ele vai voltar a dormir. Preciso pedir à minha mãe, uns R$ 70,00 para
amanhã. Tem que pagar entrada, tem a feijoada, as Cocas que consumirei lá e o
cigarro que inescapavelmente comprarei. Preciso ir dormir, mas não quero ir
dormir. Adoro não fazer o que devo e fazer o que não devo. Sou um transgressor
nato na maioria das questões da vida. Inclusive transgrido minhas próprias
normas. O que é contraditório, mas verdadeiro também. Coloquei o despertador
para as 10h15. Será o primeiro alerta. Aí ponho para 11h30 e tento levantar
nesse segundo toque. Seria uma hora bastante legal para chegar na pintura lá às
13h.
Meu padrasto de um de seus corriqueiros pigarros,
demonstrando que ainda está pela casa acordado. Não me intimidarei com isso e
pegarei mais um copo de Coca. Daqui a pouco. Certo seria não pegar. Vou ver se
resisto. Não é lá tarefa tão árdua e não roubará o sono que porventura esteja
querendo se aproximar. Sei que se deitar na cama, dentro de meia hora estarei
adormecido, mas uma força mais forte me faz ficar aqui escrevendo. Estou
praticamente no meu modo catártico de escrita, quando as palavras simplesmente
fluem junto com os meus pensamentos. Poderia botar o “Kid A” para ouvir e
quando esse acabasse, fosse deitar. Mas se minha mãe acorda com o meu padrasto
entrando no quarto e vem me pastorar, me pega ouvindo música e escrevendo, vai
ficar muito irada. Só escrevendo a reação é menos dramática. Será que estou
relutando em dormir para ter uma desculpa para não ir amanhã. É algo que meu
inconsciente pode estar tramando sorrateiramente contra o meu superego. Mas
acho que não é isso. Estou me dando prazer aqui. E ter prazer sempre é bom. Ou quase
sempre. Há prazeres que acabam bem mal para mim. E desses, tenho que manter
distância. Até certo ponto. Não sei se a massa eu poderia incluir fora desse
hall de coisas proibidas para mim. Não tem correlação nenhuma com as minhas
drogas de preferência e torna a existência superiormente interessante. Não
muita, a ponto de me deixar paranoico e ainda mais ensimesmado, mas uns dois ou
três pegas, só para sair da careta. Não sei. Meu psicólogo dizia que uma droga
puxa a outra, que meu cérebro vai gostar, mas, lá no fundo vai começar a
murmurar “é legal, mas não é essa a viagem que você quer; você quer a cola, por
que se enganar ou tentar me enganar com isso?” Então, acho melhor não arriscar.
X comentou, quando contei a história da lésbica e dos quatro selinhos, que para
quem tem nojo de homem, ter dado quatro selinhos é suspeito. Como queria que
isso fosse uma ponta de ciúme. Mas isso foi só uma piada em cima do causo. Não
vamos nos iludir, não é? Deixa de ser sonhador de impossibilidades, danado. A
verdade é que estou com saudades dela. Sinto já necessidade dela. Um bem
querer. Um carinho. Uma quase, quase paixonite. Falta muito pouco para isso.
Talvez mais uma conversa ou duas e estarei em suas mãos. Não sei se ela foi
orientada a me evitar, depois que falei de confusão perto de outra psicóloga ou
se isso passou batido. Espero que a segunda opção seja a correta. Senão, vão
alertá-la para a minha mania de projetar paixões nas psicólogas e a induzir a
se afastar de mim, o que seria muito chato e muito frustrante. Aliás, não tem
como essa história não acabar em frustração para mim. Aliás, novamente, só se
fosse algo recíproco. Nela eu vejo, percebo, sinto uma possibilidade real, não
sei por quê. Não acontecia isso com a outra por quem me deslumbrei. Tem algo
diferente nessa história. Acho que sou eu e a minha desesperada carência
afetiva. O sono começa a chegar de novo. Ótimo. Meus olhos já ardem. Vou comer
uns biscoitos, mas preferia comer a charque que vi na geladeira com arroz e
feijão, postar isso e me deitar. 1h44 já. É isso que vou fazer. Daqui a pouco.
Ainda estou na ânsia de escrever. Mas sobre o quê agora? Não sei se esse último
“que” tem circunflexo, acho que não, mas pus. Não fiz Letras ou Jornalismo e
levei minha faculdade de Publicidade nas coxas. Também, não me ensinaram
Português lá. Acho supuseram que eu havia aprendido tudo no colégio. Me lembro
vagamente das aulas de redação e que eram medíocres, assim como a maioria das
aulas. Na faculdade o que fiz mais foi tomar porre com a galera e varar
madrugadas no DQF tomando Coca, chupando Clorets e mexendo na internet com os
meus amigos. Época do Mirc ainda, se não me engano. Não havia Google ainda, eu
acho e browser era o Netscape. Talvez, no final da faculdade já houvesse o
Google. Realmente não me recordo. Me recordo que era uma terra sem lei. Não
havia legislação ainda criada para a Internet, era tudo muito novo. Mas por que
estou falando dessas reminiscências idiotas? Eu vou é encher o bucho e dormir.
E postar isso logo. O sono está batendo com força agora. Assim como a fome.
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