quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

L.




Tantos pensamentos enquanto fumava, não sei bem quais botar no papel. Não me vejo como pai, pois não quero que porventura meu filho herde de mim esta doença que me fez odiar boa parte da minha vida. Afora isso, acho que daria um bom pai, mas só me arriscaria nesta aventura se a mãe insistisse, mas insistisse muito. E eu tivesse algum provento, obviamente. Apostaria na probabilidade do gene não passar para ele. E se passasse? O que faria a não ser oferecer amor, compreensão e tratamento adequado e torcer para que essa soma resultasse em melhora ou amenização da dor? Nada, não haveria mais nada a fazer. E isso me assusta. Por outro lado, ele poderia herdar os genes da mãe e ser saudável. Esse é um dos fatores pelos quais meu coração pende para o lado de L. e não de M. Ela me parece mais com a mãe que eu sonho para um filho meu. Uma filha. Eu gostaria de uma filha. Maria, como a minha babá. Maria simplesmente. Meu irmão já está no segundo e parece se divertir muito com eles. Amanhã começo a diagramar o livro de vovô, gostaria de ter o texto final, entretanto. Não sei se tenho. Não sei se meu avô sabe onde está no computador dele. Não queria nunca mais diagramar ou fazer nenhuma parceria criativa com meu avô. Queria que minha produção criativa se limitasse ao meu ilimitado blog. Imaginei se L. me chamaria para uma conversa, sabendo do ocorrido na Oficina de Cotidiano. Imaginei o que eu diria. Não consegui pensar em muita coisa. Tenho que parar de pensar nela, não adianta alimentar esse fogo. Não há fogo. Gelo é mais provável. Mas essa conversa muito provavelmente nunca ocorrerá, é mera racionalização da minha parte. Ou seria sonho, desejo? Parar de pensar nela, lembrar disso. Pronto. Mudar de assunto. Antes, fumar um cigarro porque a fome está me consumindo e eu não quero comer mais nada hoje para ver se emagreço algumas gramas daqui para amanhã. Mas que eu queria comer um Sucrilhos, isso eu queria, com leite com Toddy. Acho que acabarei sendo vencido pela fome. Acho que já fui. Vou comer o tal Sucrilhos.

-X-X-X-

Pensando bem, por que não posso pensar em L. se isso me dá prazer? Um platonismo a mais ou a menos não faz diferença para mim. E não tem nada que eu possa efetivamente fazer para parar os pensamentos, eles simplesmente me vêm e eu os saboreio. Se não passarão disso, de pensamentos saborosos, que mal há nisso? Pensamentos saborosos são melhores de pensar que pensamentos amargos. Então, por que me privar disso, desse pequeno deleite que minha alma me dá? É uma fuga da realidade, será isso o errado dessa história? Eu ainda não ouvi um não, provavelmente o ouvirei, na forma da impossibilidade de conciliar nossos papéis de paciente e psicólogo com o de amantes, mas ainda não ouvi. Então deixe, ego dos infernos, me deleitar, solta um pouco do meu id. Publico isso? Por que não? Sou eu. É meu espaço. Vou postar e vou dormir. Amanhã terei de acordar especialmente cedo, devido a algum dos infindáveis médicos de mamãe. Ouvindo Só Se For a Dois com Cássia Eller. Linda, arrebatadora, sincera, escancarada, alma na voz. Me identifico.

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