Hoje, na aula de ioga, usamos canudos para aprender um novo
tipo de respiração pela boca. A sensação de sugar o ar pelos canudos me pareceu
muito semelhante à de tragar um cigarro, então, logo que a aula acabou, fui à
secretaria do CAPS, pedi uma tesoura e cortei os canudos do tamanho de cigarros
e, por incrível que pareça, isso parece enganar bem a minha mente, quando
simulo segurar e tragar e soprar o ar dos canudinhos cortados. E o melhor,
posso fumar esse “cigarro” em qualquer lugar, tanto é que estou com o canudinho
amarelo entre os dedos neste exato momento, dentro de casa, parando entre uma
palavra e outra para dar uma “tragada”. De sugar ar ninguém pode me impedir,
então vou me esforçar ao máximo para trocar o cigarro de verdade pelo de
mentira e me tornar um fumante de canudinhos. Assim poderei fumar em locais
fechados, salas de cinema, dentro de casa, na mesa de jantar se eu quiser. É o
cigarro perfeito, pois mantenho o hábito sem os malefícios, ou seja, sem a
amaldiçoada e cancerígena e venenosa fumaça. E mais: é um cigarro que nunca
acaba! E não custa R$ 5,00! Posso fumar até dentro da academia, se me aprouver.
Por falar em academia encontrei hoje lá uma nova Clementine,
linda e delicada e jovem como uma rosa branca a desabrochar. Vou me informar
com os instrutores se ela é maior de idade e, caso seja, a entregarei um
bilhete com os seguintes dizeres: Eu faço todos esses exercícios para, quem
sabe um dia, me tornar uma pessoa interessante para alguém encantadora como
você. E coloco meu nome embaixo. O que vocês acham? Não que isso importe, pois
é a mais pura verdade. É exatamente para isso e por isso que me submeto a esses
exercícios. Parece-me que o nome dela é Gabriela, não tenho certeza. Mas se for
fica ainda mais encantadora. Eu tenho essa coisa com nomes, sabe? Se a garota
tiver um nome que não me agrade, eu já perco metade do interesse. Eu sei que é
frescura, mas é algo que me acomete, uma dessas sutilezas da alma que as
pessoas às vezes carregam sem saber por quê.
Posso dizer que por esses dois acontecimentos – o canudo e a
nova Clementine (que desejo desesperadamente reencontrar amanhã! Já com o
bilhete, escrito a mão, no bolso) – eu tive um dia bom. Por sinal, a nova
Clementine me lembrou “a” Clementine. Que elogio maior poderia eu fazer a ela?
Será que finalmente encontrei a nova mulher da minha vida? Que nada. Ela deve
ser menor de idade e, caso não seja, vai me achar um ridículo. Estou adorando o
Low Life do New Order, me ganhou na
primeira audição. E acho que prefiro a versão de Sub-Culture dele que o remix mais famoso do Substance. Acabou-se, vou colocar o disco extra da collector’s edition dele para ouvir
agora.
-X-X-X-
Fico pensando se no bilhete eu colocasse “se quiser me
conhecer melhor, visite jornaldoprofeta.blogspot.com”. Mas acho que ia ser uma
queimação de filme total. Não sei. Pois é aqui onde sou mais eu. Por mais que
esteja aprendendo a ser mais eu em todos os lugares (acho que é algo que vem
com a maturidade e a autoconfiança que venho adquirindo ao longo desses
doloridos anos). Não sei, não sei, meu lado impulsivo me diz para colocar o
endereço do blog, meu lado racional me diz que fica mais bonitinho e menos
ridículo só com o texto inicial. Mas, porra, eu entreguei o endereço do blog
para todas as Clementines que pude, por que com ela seria diferente? Talvez
porque eu imagino que nos cruzaremos várias vezes ainda? O álbum extra do Low Life até agora é composto de remixes,
remixes esses que eu já conhecia senão iguais, muito parecidos. Ela deve ser
menor de idade... Uma versão muito doida de State
Of The Nation rolando com backing
vocals femininos entre o soul e o gospel. Devo admitir que gostei muito
mais do Low Life do que do disco
extra. Já estou me arrependendo da ideia do bilhete... É isso que dá
racionalizar tudo. Será que é fazer papel de palhaço entregar um bilhete? Será
que isso faz diferença? Não estou ofendendo ninguém. Pelo contrário, eu
imagino. 19h32. Viajando na extended
version de Elegia. Mais de 17 minutos de música. Que Ozzy me bateu um
baixo-astral agora como se toda a minha vida estivesse errada, sensação
nefasta. Um desânimo, um desespero, uma vontade de fumar um cigarro de verdade
agora. Vou ver se consigo um com minha mãe... 19h42.
-X-X-X-
19h57. Consegui e conversei com a minha mãe sobre este
súbito mal-estar da alma e de certa forma ela me consolou um pouco, embora o
mal-estar não tenha se dissipado ainda. Eu vou escrever o bilhete e vou
entregá-lo, caso ela seja maior de idade. Não sei mais discernir, ela tanto
pode ter 15, como 18 ou 20 e poucos anos. Sei que, com certeza, falta muito
para chegar aos 30. A morte ronda a nossa família, há dois membros idosos na
UTI. Como posso eu, que estou em (quase) plena mocidade, com saúde e
relativamente são estar me sentindo mal? É até um acinte com os que realmente
estão sofrendo agora.
20h05. O mal-estar da alma está passando. Estou criando
coragem para escrever o bilhete. Como minha mãe disse, pequenos passos, um de
cada vez. Calma e persistência. Pelo menos agora eu tenho um bom motivo para ir
à academia. Um lindo, delicado e doce motivo. Mesmo se ela for menor de idade
eu posso ainda observá-la existindo e me encantar apenas com isso.
20h38. Vou escrever o bilhete.
21h09. Escrevi umas seis ou sete vezes, em papéis diferentes,
com diferentes canetas, até achar que a letra ficou aceitável e o bilhete “bonitinho”
(o fato de só digitar em vez de escrever vem destruindo minha caligrafia). Já o
coloquei dobrado no bolso da bermuda que usarei amanhã para não haver chance de
esquecer e assim o farei até que ela reapareça na academia. Perguntarei então a
um dos instrutores a idade dela e, tendo dezoito ou mais, entrego o bilhete. E
peço para que só leia depois da academia! Não posso me esquecer disso!
21h49. Fiquei fumando canudinho e dando voltas na cozinha enquanto
pensava na Clementine da academia, na oficina de sonhos que tivemos hoje à
tarde (e que foi muito interessante) e no pobre do meu padrasto que está
emocionalmente em frangalhos, devido principalmente ao estado de saúde do pai.
Ele estava andando com o corpo curvado, como se a cabeça pesasse o dobro, sua
voz estava embargada, como se represasse um choro. Ele, na minha opinião,
precisa desabafar, falar com minha mãe tudo o que está sentindo e o que lhe
passar na cabeça e chorar. Em uma palavra, botar para fora o monte enorme de
estresse e dor que está guardando dentro de si. Esta introspecção não vai fazer
nada bem e, segurando demais, a coisa pode descambar para uma patologia
psíquica real. Será que eu teria coragem de dizer isso para ele amanhã? Eu acho
que eu preciso. Eu vejo casos no CAPS de pessoas que se deram muito mal por
represarem seus sentimentos. Ouvi um relato ainda hoje disto. Mamãe me deu mais
um cigarro. Estou guardando para depois que postar isso. Não sei que imagem
colocar para ilustrar este post. Talvez a logomarca da academia? Bem, é o que
me ocorre agora, então é o que vai ser. Preciso ir dormir para estar pronto e
disposto amanhã de manhã. Será que Samarone leu o meu comentário ou visitou meu
blog? Se leu, não deixou comentário. Se não leu, que se há de fazer? Amanhã vou
ouvir o Movement do New Order, que
nunca escutei, enquanto escrevo novas besteiras aqui. (Assim espero, pelo menos.).
Bom dia, Japão.
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