quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

3 dias, 1 post



0h56. Recife, 15 de janeiro de 2013.
Recebia às 23h a inesperada visita de um amigo-irmão (afinal nos conhecemos e somos amigos pela maior parte de nossas vidas) que mora longe, no Canadá, eu acho. Ele falou bastante no Canadá, daí subentendi isso. Foi um papo superlegal, mas acho que ambos achamos um ao outro muito diferentes da época do último encontro. Eu pelo menos senti isso nele. Afinal a vida muda as pessoas da mesma forma que o vento desenha as pedras. Um Saulo com menos arestas se me apresentou hoje. Mais seguro, mais sábio, mais convicto de quem é, de saber que é bom sê-lo. Eu estava com as ideia esticadas, só por isso já me afigurei diferente para ele. Devo admitir Saulo, em que houve um momento em que viajei e não saquei seu papo, estava em outra, em outros pensamentos, em outras viagens. Mas isso aconteceu uma vez só, mais no final. Falamos sobre muita coisa de videogames à maconha, à vida no Canadá, sobre problemas na gravidez... ah, tá bom, não vou ser fofoqueiro e detalhista a esse ponto. Houve o CAPS também. 1h09. Está tarde para quem se levanta às 7h45 amanhã. Continuo quando voltar de tudo e espero muito ter entregado o bilhete a ela.

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1h18. Decidi que vou escrever mais um pouquinho antes de dormir, só até chupar e mastigar todos os gelos que tem no copo. Cadê meu canudo? Ah, achei. Fumar um pouquinho ele, já que não tenho coisa outra para fumar. Logo que cheguei em casa e pus Coca Zero no meu copo e dei um gole, me deu vontade de fumar o último cigarro bebendo aquela Coca geladíssima que faltou lá embaixo, na piscina. Só levei o gelo e os copos, Saulo esqueceu a Coca. Normal. A gente findou, de tanto falar, com a goela seca e começamos a chupar o gelo para molhar a goela. O Houaiss tá pedindo o CD-ROM para poder abrir e eu não sei, por ora e escuridão, onde está. A única luz que emana no meu quarto agora vem da página branca com negros caracteres do Word. Onde cada caractere é um pedaço de mim, ou do mundo através dos meus olhos, o que não deixa de ser parte minha, posto que é algo único, as percepções são únicas, pois só eu sou capaz de produzir. As mesmas palavras não vêm da mesma forma e na mesma seqüência das do próximo. A não ser que seja uma cópia. Não vejo graça em cópias, vejo graça nisso aqui. Na palavra solta, corrida, saída quase sem querer de mim, um fluxo, uma torrente que vai se seguindo como rio que corre. Às vezes há pedras no caminho que impedem o fluxo do rio, como um sono monstro que me bateu agora. Boa tarde, Japão. 1h33.

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Recife, 16 de janeiro de 2013.
23h12. Lembrei do meu pai morto, da formiga andando sobre a face imóvel no caixão, certamente vinda com as flores, o colarinho da camisa do paletó suja de sangue. Ele disse que usaria aquele paletó até o enterro quando o comprou. Estava certo. Acabei de ver o filme “A Rede Social” e fiquei triste com a diferença de acessos do meu blog para o Facebook. Eu sei que isso é ridículo, não há comparação, mas queria ter mais público. Tenho pendências dos eternos e inacabáveis livros do meu avô e não estou com a mínima disposição de mexer neles. Há ainda a ideia dele de uma “empresa familiar” a ser deixada como legado às novas gerações. Eu não quero e não vou participar disso. Eu quero minha aposentadoria, para me livrar de uma vez por todas deste trauma do trabalho. Trauma não é uma palavra forte demais, é precisa. Estou divagando meio melancólico me perdoem. A garota do bilhete não apareceu hoje na academia, levarei o bilhete outra vez amanhã. Amanhã, em tese, farei uma ressonância do cérebro para ver se há algum defeito com o bicho. Defeitos há, mas não sei se captáveis por ressonância ou qualquer outro instrumento que não as palavras. Ainda não marquei com a psicóloga. Nem sei se quero agora. Nem sei se quero realmente com ela. Também não sei com quem quereria. Crica novamente? Acho que não. Acho que hoje estou com muitos “acho que não”. Hoje estou mais para não do que para sim. Vou dormir e esperar que amanhã seja mais legal que hoje. Às vezes é. Facebook... a grande ideia dos caras foi como ele foi divulgado, primeiramente para a elite dos jovens do mundo. Finalmente descobri porque ganhou do Orkut. Nunca mais entrei no Orkut, vou tentar entrar para ver como ele é hoje.

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Recife, 17 de janeiro de 2013.
Realmente entrei no Orkut ontem, como Boto de Gatas, mas hoje nem me lembro direito como era. Fiz ressonância magnética com contraste da cabeça hoje à tarde e os sons da máquina, extremamente variados, me pareceram como se o Karftwerk e o Radiohed se juntassem para fazer uma música instrumental muito doida. Foi interessante. Interessante também a ideia do espelho que é o que a gente consegue ver, inclinado para mostrar a parte de fora do aparelho (minhas pernas e a janela dos operadores) e assim diminuir a sensação claustrofóbica de estar dentro do apertado tubo. Não que eu tenha problemas com isso, mas achei a solução engenhosa. Acabei de assistir Alien Ressurection, me pareceu melhor que da primeira vez, talvez porque a qualidade dos blockbusters venha caindo com o tempo, não sei. Até porque Alien3 não me agradou nenhum pouco, achei parado, vazio, por mais que tenha a cena memorável da autópsia da garota. Não pretendo postar mais nada até entregar o bilhete à garota da academia. Fui malhar após o exame e ela não estava lá. Quem sabe amanhã. O bilhete já está no bolso da bermuda que usarei. Não estava na calça com que fui malhar, pois não me passou na cabeça que depois do exame teria disposição para tal, mas ela surgiu não sei de onde. Pretendo amanhã, quando acabar minha série, andar mais 30 minutos de esteira, numa velocidade mais light, para ver se meu lombo desce mais rápido. 0h30. Preciso dormir. Amanhã levantarei cedo para ir à minha psiquiatra (a do manicômio). Agora, neste momento, não sinto mais saudades de lá, como um dia senti, tanto é que fiz por onde retornar. Minha vida está mais completa e mais dinâmica com o CAPS e a malhação e o blog. E as saídas com o meu primo-irmão (que minha mãe vetou temporariamente, pois disse que leu aqui que eu comprei uma carteira de cigarros da outra vez, muito embora eu não me lembre de ter escrito sobre isso... mistério... ou vai ver que minha memória anda fraca mesmo). Mas acho que ela vai “desvetar” com a negociação que pretendo fazer: ela me dá quatro cigarros para a noite toda e eu fico enrolando entre um e outro fumando o canudinho. Por sinal fiz um novo cigarro de canudinho com um canudo que é do diâmetro quase igual ao do cigarro, estou “tragando” ele agora enquanto escrevo isto. É legal fumar canudinho, pois eu posso fumar onde quiser. Fumei canudinho dentro do carro de mamãe, dentro do hospital, na antessala da ressonância, já com a roupa do exame e ninguém pôde reclamar, pois estou apenas respirando por um canudo. É divertido, pois a primeira impressão aos outros é a de que estou transgredindo, que é um cigarro real (principalmente agora com esse novo que é branco com finas listras azuis) e isso me diverte. Eu gosto de ser diferente e gosto de provocar antitabagistas, então o cigarro de canudinho vem bem a calhar comigo. Isso sem mencionar que eu não estou detonando os meus pulmões já bastante detonados, por isso a paranoia de mamãe em relação a carteira de cigarros comprada na última saída e os adesivos de nicotina que venho usando. 0h42. Preciso dormir, mas não sinto um pingo de sono. Ah, eu não tomei os remédios, talvez seja isso. Vou tomá-los e me deitar. Boa noite imensidões, tanto a que me preenche, quanto a que habito. Ah, levarei um cigarro de canudinho para uma amiga do CAPS.

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Ainda dia 17 só que às 20h28 da noite. Não encontrei novamente a menina da malhação – a nova Clementine – e, por isso vou postar este texto mesmo sem ter a entregado o bilhete. Falei com os treinadores da academia sobre o caso e mostrei o bilhete a eles. Eles se divertiram com a história, como era de se supor, talvez pelo ridículo da situação e de seu protagonista. Coloquei Movement do New Order para ouvir. Primeira audição da minha vida. A primeira música nem parece New Order direito, eita agora pegou mais o estilo do New Order, mas o vocal parece imitar o de Ian Curtis do Joy Division (que todo mundo sabe suicidou-se e os restos da banda, mais a namorada do finado formaram o New Order). Talvez seja um dos primeiros discos. Certamente deve ser. A psiquiatra, ao ler o laudo da minha tomografia de tórax, foi bastante enfática e até hiperbólica ao dizer “ou você pára de fumar ou morre”. Mas tudo bem, era tudo o que minha mãe queria ouvir e tudo o que eu não queria. Decidi que não vou pedir mais cigarros às amigas do CAPS, é desagradável fazê-lo, como se as estivesse explorando. E, em verdade, estou. Abusando da boa vontade e da caridade delas. Basta. E eu preciso parar. Um novo remédio vai entrar na jogada com esse fim: Champix ou coisa que valha. Puxa estava com saudade de escrever. Vou continuar a escrever em um novo post, pois este está com 3 páginas de Word o que já é demais. Não gostei muito das duas primeiras músicas do Movement. Talvez com o tempo comece a apreciar, who knows? “The Shadow knows”, né pai?

Pronto, revisar e postar.


2 comentários:

  1. Alo, Mario,

    Foi bom o papo tb. Mas nao lhe achei diferente, assim como nao me acho tao diferente. A personalidade, o essencial, se mantem. Mas concordo que hoje nos conhecemos melhor, fingimos menos, tentamos nos adaptar menos, nos gostamos mais :)

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