quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

NEUROSES E IDA À CASA DO PRIMO URBANO



Teclado descascado pelo uso intenso


20h08. Perdi tudo o que havia digitado. Ainda bem que não havia produzido nada que me agradasse. Acabei de voltar da pizzaria onde fui comprar Coca-Cola. Tive internet quase o dia todo, depois sumiu de vez. Consegui fazer uma alteração no header do blog. Espero não mexer mais. Meu irmão JP esteve aqui hoje com a família e pegou duas luas que estavam me dando o maior trabalho no Mario Odyssey. Ele não teve muita dificuldade. Incrível como joga melhor que eu e tem mais sangue frio na hora de encarar os desafios. Eu acho que se fosse como ele gostaria ainda mais de videogames. Aliás, gostaria de videogames, pois meio que enjoei deles. Só o Mario me diverte ainda. Estou me sentido vazio, a volta ao quarto-ilha ainda não me desceu. Gosto do conforto e da familiaridade desse lugar e sei que disso não passa. A Gatinha disse que eu precisava arrumar uma namorada. Eu disse que deveria, só não sabia como. Ela foi a Olinda hoje. Eu fui no sábado. Vim para cá ontem não sei de que horas, acho que foi no começo da noite. Essas coisas não me grudam na memória por não me despertarem interesse. Acho que foi no início da noite. Antes das 19h00. O motorista do Uber se chamava Clecio e falou que era mais negócio pegar viagens longe do carnaval que nele. Mais lucrativo. Eu vou pegar mais Coca-Cola.

20h39. Minha mãe esteve aqui. Está preocupada comigo. Disse a ela que talvez eu estivesse precisando de uma terapia. Agora acho que não escapo, terei que fazer. Minha tia disse que vai ser bom para mim. Sigamos o conselho, então. Acredito que, não fora os remédios estaria inefavelmente deprimido agora. Muito deprimido. Vivo uma estabilidade química. Graças aos céus. Isso pelo menos torna a minha existência inútil suportável, apesar do grande tédio que me acomete com cada vez mais frequência. A terapia vai ser pelo menos uma oportunidade de conversar. Estou intimidado com a ideia. Vai ser um iceberg enorme a ser quebrado. Ou não. Espero que não, que esteja gerando expectativas catastróficas como sempre. Pensei em Marisa Monte e começou a tocar, que bom. A vida está me apresentando muitas coincidências ultimamente. É algo curioso. Ou eu estou traçando correlações absurdas. Hahaha. Mas pensei na Gatinha hoje e ela me contatou pelo WhatsApp não muito depois de ter pensado nela. Por sinal ela disse que a terapia é uma excelente ideia. Descobrirei. Só não fez menção de vir me ver.

21h07. Ainda pensando sobre a terapia e a Gatinha. Ela disse que eu deveria chegar e elogiar a garota, que mulher gosta de elogio. Interessante que eu me aproximaria de uma garota para fazer a frente para um amigo, mas não ouso fazê-la para mim mesmo. A verdade é que perco o ânimo para o mundo e para as pessoas. Por outro lado, quando estou com elas me divirto, é algo bom, mais das vezes. Eu realmente não sei. Eu acho que realmente preciso de uma namorada. E de uma terapia. Não consigo sair do buraco em que me enfiei sozinho. Já escolhi a terapeuta há muito tempo. E estou intimidado com ela. As músicas me desconcentram, fico na expectativa de qual vai ser a próxima canção, coloquei todas as músicas cadastradas no meu computador para tocar em modo aleatório pelo Windows Media Player. Saindo do som. Finalmente consegui conectá-lo ao computador. “Construção” de Chico Buarque passa. Não sei o que passa agora, é algo inspirado fortemente pelo que entendo de Pink Floyd, que é muito pouco. Não me toca. Desculpa a heresia aí. Mas cada um com seus gostos. Abaixei mais o som, fica melhor para escrever. Não estou conseguindo me concentrar na escrita por quê? Acho que porque não me acostumei ainda com a distração do som, estava escrevendo no silêncio o dia inteiro. É necessário me aclimatar. Lembro que quando criança era muito vaidoso. A vaidade minha hoje é mecânica e desinteressada. Se me cuido de vez em quando é porque a esperança de uma namorada ainda em mim habita. Minha mãe veio aqui, e acha que não estou bem, ensaiou chorar duas vezes. Disse que ela precisava de uma terapia também. Ela disse que vai voltar à sua terapeuta. Veremos. Se não fosse a vã esperança de uma namorada, deixaria de me cuidar por completo, acredito. Tenho quase certeza. Não estou com muito saco de escrever aqui. Acho que vou para o Vate dentro em breve. Tenho impressão que minha mãe leu o meu blog. Já era esperado. Não sei o que dizer. Não fora o grande tédio que às vezes assola, se tivesse sempre o que dizer, aceitaria a minha sina de escritor solitário. Tivesse cafeína e nicotina em fluxo contínuo, seria perfeito. A falta de cafeína me deixa meio mal. Sinto que tenho necessidade dela. Da nicotina, nem se fala. Por sinal, vou fumar um cigarro quando for pegar Coca. Vou esperar até 22h15. São 21h56. Será que a terapia me colocará novo ânimo na vida? Ânimo diferente, eu digo, para coisas novas. Acho que vou jogar um pouco de Mario. Depois vou para o Vate.

2h37. Joguei e deixei numa parte que estou morrendo de trouxa para continuar amanhã. Escrevi dois novos minicontos eróticos no Desabafos do Vate. E um microconto que talvez poste aí embaixo. Agora vou dormir. Quando a internet voltar, se ainda me lembrar do assunto, tento postar um dos contos num site de contos eróticos. Com pseudônimo, claro.

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14h42. Acordei, pior momento do dia. Lembro que comentei com mamãe que deveria regressar à terapia. Ozzy. Me sinto intimidado com a ideia.

15h35. Finalmente consegui reconectar a internet aqui. Tinha dado pau no modem. Não estou com coragem de enfrentar o Mario Odyssey embora esteja num momento divertido do jogo. Em verdade, ainda estou despertando, sem muita vontade de fazer nada. A lapada do Hulk vai ser toda esse mês, depois tem a tributação caso ele chegue inteiro aqui. E se não chegar, que medida tomo? Não vou esperar o pior. Como estou desmotivado. Coloquei “Utopia” de Björk, velha conhecida dos leitores do blog. Não me desconcentra na escrita pela intimidade que tenho com o som. Queria entrar em modo catártico, mas estou ainda esquentando as turbinas. Parece que ouvir o disco fez bem, me elevou o ânimo e a disposição para depositar palavras aqui. O quarto está muito escuro. Vou abrir as persianas.

15h47. Não mudou muito, mas mudou alguma coisa. Minha janela tem uma película especial que filtra os raios UV dentre outras coisas que não me recordo. Coloquei para preservar a pintura dos bonecos. Não tenho porão para fazer a minha “man cave” lá, evitando assim qualquer incidência de luz solar nos bonecos. Fiz o que estava ao meu alcance. O Spotify foi uma grande mudança na minha vida. Positiva. E não uso tudo o que ele pode oferecer, pois prefiro ficar ancorado ao familiar. Esta âncora que lanço para firmar porto na minha zona de conforto é o que me causa apreensão em relação à terapia. Às vezes me questiono se não seria melhor uma terapeuta desconhecida, me pareceria menos intimidante. Mas pode ser que meu santo não bata com o da desconhecida, por isso prefiro Ju. Vai ser bom, eu quero crer, por mais que não me sinta nem um pouco confortável com a ideia. Preciso de mais Coca.

16h01. Peguei mais Coca. Mamãe apareceu aqui no quarto toda arrumada para ver vovó. Esperava que eu manifestasse algum interesse em ir, mas na atual conjuntura não tenho a mínima disposição. Ainda bem que ela respeitou. Me sinto culpado por isso, mas não posso dar o que não tenho no momento. Deixa a terapia começar, embora não possa julgar que vá ser a panaceia para todos os males da minha alma. Ouvi a porta ser trancada, ela já foi. Pensando no Spotify me peguei pensando na minha irmã e se ela está ainda assinando o serviço. Eu e mamãe demos a ela na última visita uma caixa bluetooth da JBL bem legal para ouvir música. Os três irmãos gostam de ouvir música. Quem não gosta, em verdade? Não conheço uma pessoa que não goste de música, de alguma música. Acho que é algo universal, da condição humana. Até aqueles que não tem acesso fácil à música, como indigentes catadores de latinha, se animam ouvindo sambas num evento aberto e gratuito em homenagem ao Dia do Samba organizado pela prefeitura, como pude testemunhar. Não saberia dizer qual irmão gosta mais de música, talvez o meu irmão do meio, pois aprendeu inclusive a tocar e teve uma banda na adolescência, os Incredible Scrobbies. Gostava muito do som da banda. Acho que eles deveriam regravar as músicas e colocá-las no Spotify. Se bem que já as tem em formato digital, lembro que gravaram um CD, “Vacant”. Eu que fiz o layout do encarte. Velhos tempos em que tinha autoconfiança para isso. Hoje me pelo de medo e de aversão a fazer uma coisa dessas. Ainda bem que a família assimilou isso e parou de me pedir para fazer layouts para todo tipo de ocasião. Sonhei com o meu avô. E com o chefe da minha ex-agência. Não me lembro dos contextos. Lembro que meu avô estava com Alzheimer bem avançado e tinha um aspecto doente. Lembro que me reconheceu e não lembro mais que isso. Do meu chefe não lembro de nada além do seu rosto. Tenho certo desejo por uma diretora de arte de lá. Provavelmente discutirei a ideia de ir escrever na agência com Ju, quando ela for inventar de abrir o meu leque semanal de socializações. Não gosto tanto da ideia de ir para a agência escrever nesse momento. Não me parece uma má ideia, só não estou disponível emocionalmente para isso. Acho que colocaria os fones de ouvido e ficaria tão alienado quanto aqui no quarto. Não sei se faria muita diferença. Mas acho que faria alguma. O futuro dirá. O futuro virá. Eu agirei sobre ele, o guiando como quem guia uma jangada pelas correntezas desse rio chamado existência, mas sozinho, não consigo sair do canto. Ancorei a minha jangada num lugar calmo e aprazível e não quero botá-la para correr novamente. A existência e um incômodo pessoal me impelem a fazer um movimento, mas tais forças não são suficientes ainda. Liguei o Switch. Consegui fazer esse movimento. Vou aproveitar e jogar um pouco.

17h34. Joguei peguei poucas luas, duas ou três. E achei as três moedas que faltavam. Fumei um cigarro e peguei Coca, que já acabei. Vou colocar mais.

17h36. Voltei.

17h40. Fui fazer xixi e vi que meu celular já estava carregado. Coloco para carregar na tomada do banheiro porque não há mais tomadas disponíveis no meu quarto. Perdi tempo vendo as notificações que jorraram dele. Me lembrei de uma coisa, me enviar a foto que tirei para ilustrar o Vate. Acabei mandando outras. Não me lembro se já postei, mas vou postar de novo. Primeiro a foto do meu cantinho na casa da minha tia-mãe e o meu cantinho no quarto ilha.

Cantinho do escritor na casa da minha tia.


Quarto-ilha

Agora, duas boxes de CDs/DVDs que eu tenho e que achei que nunca ia abrir. Acabou que abri a de Björk anteontem para ouvir “Homogenic”, pois estava sem conexão com a internet e consequentemente com o Spotify. Pensei que não abriria a de Björk pois não tinha onde ouvir som 5.1 e acabei abrindo para ouvir estéreo mesmo. Eu tinha o “Homogenic”, ou tenho e não sei onde está. Enfim, havia na caixa e abri para escutar na falta do “Utopia”, como já ficou claro aqui, o meu disco padrão de escrita. Ou ele ou a lista 6. Aproveitei que ia me enviar as imagens e apaguei um monte de fotos que tinha tirado para ilustrar o blog. Apaguei quase todas do Carnaval.





18h12. Nossa como o tempo passou rápido. Enviei um dos contos eróticos para um site disso. Será que vão publicar? Não vejo por que não. Tem preliminares, meio e fim. Hahaha. Vou pegar Coca.

18h17. Falando em sexo, estávamos eu e meu amigo cervejeiro num táxi, ele havia beijado uma desconhecida no carnaval. Eu vi todo o desenrolar da cena e ele agarrou a garota à guisa de uma banalidade, o que me deixou impressionada em como pode ser fácil beijar uma garota no carnaval se se for bem-apessoado. De qualquer forma, ele se questionou sobre a validade ou utilidade daquele ato se não resultou numa transa. O motorista concordou com ele e acrescentou que havia pego quatro jovens que contabilizavam quantas meninas haviam pegado, dado uns amassos no carnaval, e disse que pensou consigo mesmo, mas não transaram com nenhuma e caiu na gargalhada. Aí quem ficou a cismar fui eu, me indagando para que beijar e transar se não há afeto, amor, intimidade envolvidos? Nada disse para não soar anacrônico e bobo. O sexo pelo sexo não me atrai, eis a moral da história. Eu já tentei fazer sexo pelo sexo e não rolou. Também estava fora de forma, como estou fora de forma, tenho que voltar a considerar as caminhadas. Gostei da parte em que namoramos e namoramos bastante. Mas, na hora do sexo, não rolou. Isso depois de quase uma década sem transar. Fiquei frustrado, mas não consegui me apegar afetivamente à figura. Para ser bem sincero, não consigo me projetar transando novamente. Estou com um bloqueio para sexo. Estou com um bloqueio para quase qualquer tipo de relação humana e isso não é bom. Por isso a terapia. Espero que Ju não queira me meter naquele grupo de weirdos do CAPS para fazer passeios pela cidade. Bom, ela pode até querer, mas eu não vou. Só se tiver uma gata no grupo. Aí seria um excelente motivador. Toparia demais. Lembrei de uma psicóloga estagiária do CAPS que me pareceu muito talentosa e muito bem-resolvida. Tem um futuro brilhante na profissão, acho eu. Não sei se o meu amigo cineasta veio para o carnaval. Se veio, nada me disse. Será que desistiu do projeto? Sei lá e nada posso fazer a respeito. Estou vestindo uma camisa oficial do Strokes e isso me causa bem-estar. É até uma camisa bonita. A outra é que é horrenda.

18h44. Mandei WhatsApp para o meu primo-irmão perguntando se tem algo planejado para hoje à noite. Será que me responderá? Será que eu iria para o Recife Antigo com ele? Tão sem disposição. Quando penso em enfrentar o povaréu, o quarto-ilha me parece ainda mais confortável e aconchegante. Mas sei lá, de repente a vontade cresça em mim. Isso, se ele me responder e eu me encaixar no programa que quer fazer. É melhor me conformar que não sairei hoje. Pensei em digitar o diário do Manicômio, mas também não tenho motivação nenhuma para isso no momento.

19h26. Tinha duas postagens para postar no Vate, fui fazer isso. Estou sem Coca. Quero ir comprar, mas só quando mamãe chegar. Aqui fico me policiando no que vou escrever. Em certos momentos, como agora. Noutros, deixo a coisa correr mais solta. Queria chegar num momento assim, das ideias saírem com mais fluidez, mas estou meio travado para a escrita no momento. Acho que vou encarar o Mario mais um pouquinho. É uma forma de passar o tempo.

20h37. Depois de jogar quase uma hora de Super Mario Odyssey, acho essa coisa de escrever tão sem sentido. Tão inútil. Meu eu luta com o fato de que a minha vida não oferece nada de produtivo para o mundo, isso gera um profundo desconforto de ser assim. Por outro lado, o que Montaigne ofereceu ao mundo senão os seus ensaios? Não vou comparar a qualidade e profundidade de seus pensamentos com os meus, o cara era muito um erudito e tudo o mais, mas o que ele fez é o que faço diariamente, sentar a bunda na cadeira e escrever. Foi isso que ficou de relevante de sua vida. Me assemelho muito a ele nesse aspecto. Tirando a parte da relevância, digo. Se bem que não sei se ele achava seus pensamentos relevantes quando compunha os seus ensaios. Os meus ficarão perdidos nos confins da internet, sem dono ou desbravador. Sei que tenho a intenção de escrever até o último dia da minha vida. Não diviso nada de mais excitante para se fazer. O que diviso...

21h16. Minha mãe chegou com um lanche do McDonald’s para mim, Big Mac Bacon, milk-shake de chocolate e uma torta de maçã. Ela ainda ligou para o meu irmão e conversei um pouco com ele sobre a experiência com o equipamento de VR (realidade virtual) que comprou, o Oculus Rift, eu acho. Estava bastante entusiasmado com a tecnologia. Disse que ficou nauseado com o aplicativo da montanha-russa e do vôo 3D por uma cidade. Me falou de usar o VR com o Google Earth e visitar locações famosas no mundo. Só usou aplicativos gratuitos, mas achou todos massa. Acrescentou que lançarão em breve um modelo que não precisa de fios, que a Intel está desenvolvendo um chip especificamente voltado para possibilitar isso. O futuro da tecnologia me soou promissor. Preciso assistir “Her” uma vez mais antes de partir desse mundo. Segunda vez que falo de morte em dois parágrafos. Peculiar. Mas quando penso em partir juro que penso mais em me fundir à Singularidade Tecnológica que em cessar de viver. Mas o que é Singularidade Tecnológica, né? Por enquanto só ficção científica. Queria comprar uma Coca. Vamos ver se mamãe financia. Vou esperar ela aparecer por aqui. Certamente vai vir me pedir para separar os remédios.

21h30. O que diviso de mais excitante que escrever – e jogar fases cada vez mais difíceis do Mario – está por ora fora do meu alcance, que é uma namorada (que minha mente insiste em visualizar na forma da garota da noite). Tenho que sair dessa. Dessa que digo é a insistência em fixar a minhas projeções na garota da noite. Em verdade, não tenho interesse real em ter uma namorada. Ou tenho, sei lá. O que rolar, rolou. Lembro que o Imperador da Casqueira um dia me disse que queria ter alguém interessante como eu para conversar sempre. Foi o segundo maior elogio que recebi na vida, vindo de uma das pessoas mais interessantes para se conversar que eu já conheci. O primeiro elogio? Já contei aqui tantas vezes, foi o meu pai dizer que eu era a segunda pessoa mais inteligente que ele conhecia. Onde foram parar essas pessoas mencionas por eles dentro de mim, eu não sei. Especialmente a parte de conversa interessante. Se bem que se alguém lê esse troço até aqui, eu devo ter realmente um papo muito interessante. Hahaha. Parece que fugi do assunto do namoro. Em verdade tenho preguiça de namorar. Principalmente de barriga cheia. Hahaha.

21h47. Estou tão antissocial hoje que mandei um WhatsApp para mamãe pedindo para comprar Coca e lembrando que preciso separar os meus remédios. Ela está na sala. Ozzy.

22h38. Ela não viu a mensagem e, quando veio me dizer para separar os remédios, pedi a Coca. Foi ver agora, já na cama.

22h44. Incrível, estou bocejando de sono. Acho os adultos de hoje mais infantilóides que os da geração passada. Eu, o mais infatilóide de todos, incapaz civilmente e ainda vivendo com a mãe, sob sua tutela e curatela. Mas não falo de um caso extremo como o meu. Falo dos demais com quem travo contato. Não os acho tão amadurecidos quanto os nossos pais. Nossos pais haviam alcançado mais antes. Não sei dizer bem o que é, talvez tenha sido o fato de não termos vivido uma ditadura militar e termos assistido TV demais. Realmente não sei, só não acho os adultos de hoje tão adultos quanto os de antigamente. Não que isso seja uma coisa ruim, não faço juízo de valor. Só saliento a diferença. Lembrando da geração passada, lembro que cheguei a outra conclusão no enterro do meu pai. Que os que mais choram e ficam desconsolados são aqueles que mais ficaram devendo, em seus juízos, à pessoa amada que partiu.

23h05. Nossa, como estou entediado de existir. Não é desgostoso ou desconfortável com a existência, apenas entediado. Deveria ter me articulado para ir ao encontro do meu primo-irmão no Recife Antigo? Não. Acho que seria até pior. Acho que já ia pegar a trupe destroçada do frenesi do carnaval e não durariam muito tempo por lá. Isso é só uma desculpa que estou inventando para minha desistência. Desisti porque não estafa a fim. Eis aí.

23h15. Olha o que achei na internet. Outros como eu, mas que tiveram menos sorte na vida.


23h16. Acho que vou para o Vate dentro em breve. Ou para o Mario. Ou dormir. Vou dar mais dez, quinze minutos e decidir.

23h21. Me passou pela cabeça agora a coisa mais absurda, pedir a mamãe dinheiro para sair com uma puta de luxo. Eu, hein? Não faz nem o meu estilo, mas o desespero por carinho de amantes foi tanto agora que espocou essa sandice no meu juízo.

2h27. Comecei a escrever uma autobiografia toda truncada. Não sei até quando quero ir mas acho que só infância e adolescência. Lembrei de coisas que quero acrescentar. Momento. E quando voltar, vou dormir.

2h35. Não sei se daria material para um livro depois do Diário de um Manicômio.

-x-x-x-x-

14h53. Esqueça a ideia da autobiografia, esfriou. Minha memória não dá para tanto. Sou muito sequelado pelas drogas e medicações. E não sei se tenho saco de escrever ou coragem para divulgar.

14h58. O disco de Björk está me deixando com um sentimento ruim. Vou mudar para a lista 6.

15h03. Meu primo urbano me convidou para jogar Mario na casa dele hoje. É uma. Tenho que preparar a minha alma para isso, entretanto. Não esperava por isso.

16h34. Já preparei a minha alma e um jogo para o meu primo urbano jogar da fase em que tinha parado. Ele disse que posso aportar lá a partir das 19h00. Ah, não... está me batendo a verve antissocial. Vou de qualquer jeito, se minha mãe permitir, o que acho que vai ser o caso.

16h42. Foi falar nela e ela apareceu, coincidência. Me deixou ir, obviamente. Estou me reaclimatando com a ideia. Vai ser bom. Melhor do que ficar aqui em casa, sem dúvida. Não sei se leve o computador dessa vez, mas acho que não. Vi que lá não tem onde apoiar. E seria até indelicado levá-lo. Deixa para lá. Café me anima. Esqueci de dizer, a fantástica faxineira está hoje aqui. Já deu um supergrau no quarto-ilha e preparou uma garrafa de café para mim. A meu pedido, claro, mas como é precavida e sabe dos meus hábitos, já havia deixado a água na chaleira para fazer o outro negro líquido da minha vida. Vou ver se meu primo deixa eu tirar foto do equipamento dele, avisando que é para postar no blog.

16h58. Tirei duas fotos da Rei Ayanami para postar aqui.





16h59. Não estou muito inspirado para me dizer agora. Como me sinto? Bem, desperto e de bom-humor por causa do café, um pouco apreensivo em relação ao encontro com meu primo urbano hoje e ao mesmo tempo animado com esse prospecto. Seria massa se nosso amigo jurista fosse, mas parece que não terá tempo por causa do trabalho. Trabalhar em plena Quarta-Feira de Cinzas é ozzy. Ainda bem que gosta do trabalho. Pelo que entendi não tanto quanto do que exercia em Brasília, mas optou por ficar perto dos amigos e familiares. Perdas e ganhos. Está feliz, é o que importa. Estou já pegando outra xícara de café. Vou dar só um tempinho. O que falar? A Rei Ayanami está pendendo para a frente. Talvez e só talvez quando tiver Superbonder eu cole ela em definitivo na base, pois a base veio com um dos pinos quebrados, o que impede a sua fixação ideal e a faz com o tempo pender para a frente. E pensar que eu entrevistei Randy Bowen, o cara que praticamente deu o pontapé inicial no colecionismo de bonecos de alta qualidade. Foi muito bom. Entrevistei todos os grandes da indústria. Não sei por que o destino me concedeu essa dádiva, porque eles resolveram serem entrevistados por um cara com um blog insignificante, mas o fizeram. Foi um período bom da minha vida que não volta mais. Porque entrevistei quem tinha para ser entrevistado e porque perdi o interesse por fazer isso. Mais pela primeira opção que pela segunda. A minha melhor matéria acho que foi a série de entrevistas que fiz sobre customs, os bonecos feitos de forma independente, sem pagar royalties, em tiragens limitadíssimas e caríssimas e que não são para todos os olhos, é necessário ter alguém que indique para poder entrar no rol dos compradores. É um lado meio obscuro do colecionismo e foi legal – e difícil – entrevistar pessoas do underground, digamos assim, do meu hobby. Obviamente não teve tantos acessos quanto as entrevistas com nomes famosos do meio ou como os posts polêmicos, que me divertiam à beça. Criar posts polêmicos era garantia de diversão. Choviam críticas e elogios e o número de hits do post chegava às alturas, ultrapassando fácil as mil visualizações. Era a glória para mim. Embora achasse que o meu blog mais relevante fosse este que agora escrevo. Mas mergulhar no maravilhoso mundo dos bonecos me proporcionou ótimos momentos. Foi na época em que a minha trilha sonora era “Blackstar” de David Bowie. Ouvir esse disco sempre me remete a esses tempos áureos em que eu era meio que uma celebridade no meio do colecionismo de bonecos. Se é frustrante esse blog não chegar nem a cem visualizações por post mesmo eu colocando tudo de mim nele? Um pouco, mas prefiro escrever aqui do que em qualquer outro lugar. Isso é minha obra, o dos bonecos é uma obra menor e ainda mais falha do que esse, pois meu inglês é muito limitado. Sim, eu tenho um boneco custom. Um Wolverine feito por brasileiros. Trabalho de primeiríssima qualidade, no nível das grandes empresas do setor. Não posto uma foto aqui porque só vou montar ele quando tiver lugar para expor. Um dia isso vai acontecer. Por falar em bonecos e no que vai acontecer, amanhã vai vir a lapada do frete do Hulk. Esse mês vai ser pedreira no cartão. Também, depois disso, só a Red Sonja, que vou negociar com mamãe enviar para o Brasil também, caso o Hulk chegue direitinho. Mas já falei de bonecos demais.

17h41. Peguei mais café, mas já está me descendo meio quadrado. Mamãe quer que eu coma antes de ir. Estou sem fome alguma e não sei como escapar dessa obrigação. Acho que terei que comer, mesmo que só um pouco. O silêncio está melhor que Björk hoje. Coloco o som mais para abafar as vozes de minha mãe e meu padrasto. Minto, coloco porque gosto de ouvir. Sempre gostei de fazer coisas ouvindo música, desde que me apaixonei por música. Estudava ouvindo música no headphone porque achava menos distrativo que as conversas dos habitantes da casa. Jogava videogame ouvindo música e ainda o faço. Embora tenha amado a trilha e os efeitos sonoros do Super Mario Odyssey. E o Zelda? Esqueci lá na casa de titia e não estou com a mínima pressa para resgatar. Esse líquido do Vaporfi que veio de brinde com o frasco de 500 ml que comprei na China parece que não tem ou tem muito pouca nicotina. Por mais que eu fume, não me sacia. O carnaval chega ao fim. Aposto que o meu primo-irmão deve estar pelo mundo aproveitando o último dia da folia de momo. É um corajoso mesmo, apaixonado pela rua e pela farra. Não tenho mais o mesmo pique. Nem o mesmo interesse. Aliás, meu interesse é quase zero. Vale pela companhia e pela esperança de, de algum modo miraculoso, eu encontrar uma garota que goste mim e vice-versa. 17h53. De 18h30 me arrumo para ir à casa do meu primo urbano. Já decidi que vou com a camisa do Strokes. Sei que ele não gosta da banda, mas vou mesmo assim, afinal, eu gosto muito da banda. Bem que eles podiam lançar álbum novo esse ano. Seria uma novidade muito bem-vinda. Vi na Globo que “bem-vindo” se escreve agora “benvindo”, achei acintoso e manterei a forma antiga porque o texto é meu e eu escolho a maneira de escrever. Mesmo estando errado segundo as novas regras ortográficas. Danem-se as regras. Pouca gente lê isso e quem lê vai continuar entendendo se eu escrever “bem-vindo”. 17h59. Pensando em disco novo, lembrei que o U2 lançou um novo disco que só ouvi uma vez e meia. Vou botar para rolar agora.

18h04. Acho que já vou desmontar o Switch.

18h09. Desmontei e guardei o Switch na mochila. A apreensão de ir encontrar o meu primo aumenta. Que ozzy. Por que isso? Porque estou meio distante dele? Nos cruzamos muito pouco nos últimos anos. Muito pouco mesmo.

18h17. Comi um pouquinho da carne moída com macarrão que mamãe preparou. Será o meu rango da madrugada. De 18h30, mando a mensagem para o meu primo de que vou me aprontar. Se ele der o sinal verde, me arrumo. Não sei se nos divertiremos. Não será nem de longe a experiência que tivemos jogando Snipperclips. Mas se meu primo quer jogar Mario em companhia do Mário aqui, que seja. Será que ele vai deixar eu tirar foto do equipamento? Será que eu terei coragem de lhe pedir isso? Sei lá. Estou tenso. Achando que vai ser difícil a interação. Sei lá. Nesse exato momento penso em desistir. Mas não desistirei. Meu primo não é nenhuma autoridade, não é ninguém intimidante, é uma pessoa amiga e querida. 18h28. Dois minutos para eu mandar a mensagem. Um. O futuro me espera, com uma coisa que não esperava. Acho que é uma coisa bem-vinda, por mais que o meu emocional pense diferente. Mas estou mais relaxado. Vou mandar a mensagem.

18h31. Mandei a mensagem, esperando a resposta. “Blz!” Vou tomar meu banho, então. Essa resposta assim exclamativa me deixou mais desarmado para o encontro. Ainda bem.

18h57. Estou pronto. Mandei a pergunta se posso ir. Estou torcendo para que alguma coisa impeça o nosso encontro, pode? A terapia será realmente útil para mim. Até agora nenhuma resposta. Só sairei quando a obtiver.

19h04. Still waiting...  

23h45. Voltei da casa do meu primo e eu diria que o prazer de gozar é semelhante ao prazer de urinar quando se está com muita vontade, só que concentrado e com mais intensidade. Como se comprime uma onda sonora nos equipamentos do meu irmão e se aumenta o volume lá. Com uma leve distorcida, uma calibragem ligeiramente diferente. Gostaria muito de saber usar, parece ser um brinquedo fabuloso. O difícil eu achei, à parte toda a dificuldade que é operar as inumeráveis possibilidades oferecidas, é saber quando achou o som e parar por ali. Achei muito fácil passar do ponto e perder o som. Ir em busca de algo melhor e acabar perdendo um grande som. Vi isso acontecer. Eu vi o som chegar em três ou quatro notas bem solenes, grandiosas, imponentes, marciais, com um som que transmitia essas qualidades, parecia um trombone eletrônico, ou coisa do gênero. Isso se perdeu no meio das inúmeras transformações pelas quais o som passou depois. Se eu achasse devido, teria pedido para o meu primo salvar o som para futura referência. Assim com as mesmas três notas numa versão etérea comoangelical. Ele disse que mudou a configuração da sua sala de som e que essa mudança geográfica do aparato pela sala, abriu portas para criações completamente diferentes da configuração anterior. É um brinquedo que se pode brincar sem fim. É difícil não se perder na própria viagem. Foi isso que achei. Eu, se mexesse naquilo, talvez procurasse sons mais óbvios. Eu gosto de sons que me digam alguma coisa, que me toquem de alguma forma. Como foi o caso dessa três ou quatro notas. Construiria minha música tendo elas como base, as duas versões, solene-marcial e cosmoangelical. Aquilo seria a base onde todo o resto seria construído, pois elas me diziam alguma coisa, elas eram poderosas. Eu realmente gostei delas. Da dinâmica da notas, com um ataque retardado e um diminuída no volume antes da última nota que vinha imperativa no volume máximo. Como você pode ver fui completamente absorvido pelo aparato e suas possibilidades. Não sei se me perderia. Talvez. Só sei que meu primo fez uma música que eu certamente colocaria para ouvir escrevendo. É muito climática e viajante, tem um pouco de jazz, mas o todo é inclassificável, é o som do meu primo, é a melhor forma de definir. Não vi aquele tipo de som em nenhum outro lugar e aquilo me cativou. Não sei se sairia tão bom da minha caixa de som, mas acho que sairia. Fiquei sinceramente impressionado com a autenticidade do som, acho que finalmente meu primo encontra a sua voz musical. Personalíssima por sinal. É certo que não ouço produções de outros músicos que usam o mesmo tipo de equipamento, mas aos meus ouvidos a música do meu primo urbano me pareceu algo fresco, novo, diferente de tudo o que ouvi. Queria ouvir de novo. Queria que ele salvasse para mim. Mas posso estar aqui cometendo algum tipo de exagero e quem ouça não capte a essência, mas se captaram “A Love Supreme” e foi um dos discos mais vendidos da gravadora, certamente entenderão o som do meu primo. Ele disse que possuía mais músicas, uma três ou quatro que queria divulgar. Estou extremamente curioso para ver as demais. Pode ser que só uma tenha saído daquele jeito. Ele disse que há muito a mexer ainda na música. Tomara que fique legal. No mais, jogamos Mario Odyssey.

0h47. Estava comendo e fumei um digestivo, mas estava louco para voltar às minhas teclas, minhas palavras. O encontro com o meu primo irmão se deu forma muito mais fácil e fluida do que poderia supor. A sala de som dele é um verdadeiro playground de sons. É preciso ser um iniciado para mexer, mas fica evidente que o que há ali contém possibilidades virtualmente infinitas. Deve ser um prazer mexer. Se houvesse um upload de conhecimento como na Matrix, eu iria, de posse do upload, brincar também. Não tenho paciência para aprender, entretanto, são tantas variáveis que é acachapante. Da próxima vez tento pedir para tirar foto. Hoje estava quase tudo coberto, não iria pedir para ele descobrir tudo por uma mísera fotografia. Acho que ele gostou do Mario, mais do que nosso primo-irmão, mas menos do que eu. Eu fui o que gostei mais de todos eu acho. A ponto de achar ele o meu jogo favorito de todos os tempos. Agora rola Björk aqui, “Utopia”, para variar.

0h59. Minha tia-mãe pergunta por mim no WhatsApp. Que massa.

1h15. Fui comer mais, a fome quando dá, é de lascar. Vou acabar engordando mais.

1h18. Pensei numa amiga que fez aniversário ontem, 14 de janeiro. O que posso mais dizer da ida à casa do meu primo urbano? Foi bom, instrutivo e me deixou com ideias na cabeça. Mas não estão ao meu alcance. Logo ideias inúteis para mim. O motorista do Uber no qual eu fui, falou que já chegou a faturar dez mil reais por mês vendendo câmaras frigoríficas. Que foi posto para fora e que está tentando reingressar ao mercado e, enquanto isso não ocorre, ele está se virando com o Uber. O Uber salvou muita gente do desemprego total.

City at night.


1h49. Fui matar o restinho da minha fome na cozinha. Acho que vou dormir. Amanhã começa tudo de novo.

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