Sai Dessa Noia 2018. Estive lá. Pelo menos isso. |
20h57. Estou detonado da noite que virei. Fui dormir por
volta da nove, dez horas. Da manhã. Acordei de meio-dia e meia para almoçar e
voltei a dormir até umas cinco da tarde. Não dormi bem. Meu primo-irmão se
arruma para ir para o Antigo. Eu não tenho coragem para tanto, ainda mais tendo
o Sai Dessa Noia amanhã cedo. Vou ficar por aqui e dormir dentro em breve.
Estou sem disposição para ir amanhã, mas a presença do meu amigo jurista
certamente me anima. Nossa, chega a dar um frio no estômago pensar na interação
com as pessoas do bloco. Estou novamente criando tempestades num copo d’água.
Joguei um pouquinho de Mario Odyssey hoje, mas não me concentrei o suficiente,
ainda estava acordando, e não produzi legal. Entretanto fiquei feliz por ter
deixado acho que apenas três luas para pegar no segundo mundo. Uma que não sei
se consigo pegar de jeito nenhum é a da corrida, não sou capaz de superar o
primeiro corredor e, portanto, desisti. Acho que deva haver um atalho na fase
para ganhar dele, mas o caminho alternativo que divisei é mais demorado que o
normal, eu acho. Não dou certeza porque, nas vezes que tentei, caí lá de cima.
21h14. Meu primo-irmão já saiu, nem para falar comigo se
dispôs. Não mudaria nada mesmo, só me sentiria um pouco mais querido por ele, mas
acho que deixei claro que não iria, embora isso não estivesse totalmente claro
para mim. Aliás, estava. Sem disposição nenhuma para encarar Recife Antigo em
clima de carnaval, embora fosse rolar show de Eddie, o que aumenta a
possibilidade da presença da garota da noite. Tenho que desencanar disso. Ela
está de rolo com o nosso amigo bonitão, eu creio. Ou seja, não rola para mim. E
não saberia abordá-la de forma sedutora e legal. Não teria coragem, repertório
ou motivação real. A minha vergonha quase patológica me impediria. Morro de
medo de um encontro com ela, a verdade é essa. Tentarei dormir de meia-noite
hoje. Espero que consiga.
21h31. Mais e mais pessoas da turma vão para o Recife Antigo
hoje. Isso me dá um ponta de arrependimento, mas estou exausto.
21h43. Queria jogar Mario Odyssey. De repente quando titia
acabar de assistir TV eu me meta a encarar um pouco. Isso se não dormir antes.
A senhora que leu meu blog não respondeu o meu comentário. Odeio rejeição. É
suficiente eu me rejeitar. Não estou no espírito para me confraternizar com os
meus amigos e conhecidos amanhã. Espero que depois de uma boa noite de sono o
ânimo melhore. Não creio muito nisso, mas encararei da mesma forma. Já está
solidificado na minha cabeça. Meu amigo jurista ainda não disse que horas vai.
Se ele não for...
22h18. Publiquei e divulguei em canais dedicados o conto que
escrevi sobre um suposto vazamento de informação sobre o novo jogo do Mario. Já
teve 14 leitores. Hahaha. Mandei até para a Nintendo Of America. Hahaha. Me
divirto e deixo a lição, nem tudo o que você lê na internet é necessariamente
verdade, fake news existem e abundam.
Eu criei a minha primeira obra dessa natureza e me diverti fazendo isso. Talvez
venham mais. Ou não.
22h34. Houve um leitor, também mais velho que eu, que “amou”
o post que escrevi ontem. Uma moça curtiu também. Que coisa boa, esse tipo de
reconhecimento faz uma diferença enorme para mim, me faz ver minha produção
como algo mais válido, não apenas de mim para mim, mas para outros também. Fico
muito grato e extremamente lisonjeado com tais manifestações. Meu sono está
passando e isso não é legal. Preciso dormir cedo para estar inteiro amanhã.
Acho que vou pegar mais um copo de Coca.
22h50. Não peguei porque titia disse que iria tirar gelo
para mim. Se ela for dormir cedo, talvez me aventure pelo Super Mario Odyssey. Eu
deveria ir dormir, mas me sinto mais e mais desperto. Aumentarei em uma hora o
horário de ir para cama e o plano agora é dormir de uma da manhã. Vou ver se
titia ainda está vendo TV. Se não estiver, vou jogar um pouco do Mario Galaxy.
O chato em me ver jogando é porque eu gasto muito tempo para fazer algo, pois
fico fuçando cada cantinho do mundo.
-x-x-x-x-
13h26. Estou pronto para ir para o bloco, mas sem a mínima
disposição de ir. Por mim ficava em casa jogando o Mario. Mas vou, nem sei bem
por quê. Minha tia me estimulou a ir, disse que eu preciso ver gente. O
problema é que eu vou ver muita gente conhecida. Vou ter que ser simpático e
cordial com todo mundo. Estou quase desistindo de ir...
13h30. Eu vou. Seja o que deus quiser.
13h36. Estou ficando mais animado com a ideia. Queria poder
ir e ficar calado, não falar com ninguém, mas isso vai ser virtualmente
impossível.
13h41. Vou lá. Na volta conto, eu espero.
13h46. Chamei o Uber. Está vindo.
-x-x-
(E-mails escritos durante a saída de hoje)
Assunto: Sai Dessa
Noia
14:55. Estou no bloco e falei apenas com duas pessoas. O
bloco tem muito, mas muito mais gente que no ano passado. Isso é bom, não
preciso me socializar e já encontrei um lugar para sentar num local mais
tranquilo e perto de onde vende Coca-Cola. Só falo com quem vier falar comigo.
Assim é mais fácil para mim. Enquanto isso, escrevo. Mas estou com medo de me
tomarem o celular, embora seja um bloco bastante elitizado. Vejo uma pessoa que
teria obrigação de cumprimentar, mas continuarei escrevendo, se ele me vir e
achar que o dever de falar é o mesmo, ele virá. Não entendo direito essa
história de Carnaval. Qual é o prazer em ficar num amontoado de pessoas, no
calor, ouvindo as mesmas músicas ano após ano? Talvez seja uma tradição, talvez
o comportamento de manada. Há muitas pessoas bonitas, homens e mulheres. A
maioria na faixa dos 25 anos, eu creio. A bateria do celular está em 89%. Sem
som ouve-se o impressionante burburinho da turba. Vou pegar uma Coca-Cola.
15:24. Comprei cinco fichas de Coca-Cola, quando acabar de
consumir, acho que volto para casa da minha tia. Vi duas garotas realmente
aproveitando o Carnaval, dançavam animadas as músicas tomando cerveja, assim a
coisa faz mais sentido para mim. Perdi o lugar onde estava sentado quando fui
pegar o refrigerante, óbvio. Já mudaram as pessoas do local onde estava,
preciso aproveitar esses revezamentos para pegar o meu lugar de volta.
15:58. Está ficando mais cheio... e chato. Minha vontade é
voltar para a casa. Às 17:00 eu parto. Encontrei um...
Assunto: II
Pernas cruzadas = sentado = bom. |
Fiz besteira, tive que abrir outro e-mail. Arrumei um lugar
para sentar, bem atrás, numa pequena praça com curiosas esculturas. Tem uma
menina, jovem, que me atrai desde o ano passado. Mas acho que tem namorado. Ou
tinha. Sei lá e não sei como chegar nela. Deixa para lá. Acho que vou voltar
dentro em breve. Encontrei um amigo que me considera. Legal. Os ânimos estão
ficando mais excitados devido ao álcool. Tem alguém atrás de mim. Saiu. A
garota apetitosa está mais encorpada que no ano passado. Preferia a versão
slim, mas ainda é bastante apreciável. Tem uma magrinha bem interessante também
no grupo da apetitosa. O vestido de costas nuas ajuda. Ela não é bonita de
rosto, mas seu rosto me lembra uma figura emblemática de Macau. Dorotéia, acho
que é o nome da macauense. Se foram para a folia os meus colírios. O meu amigo
jurista me mandou uma mensagem, está na varanda superior da casa à minha
frente. Que coincidência. Disse que depois vem aqui. 16:38. Não sei se
esperarei por meu amigo jurista. Acho que vou dar o ninja. Às 17:00 volto
independentemente de qualquer coisa. Um bróder falou comigo. Nem esperava que
ele se dignasse a isso, visto que interagimos tão pouco na vida. Fiquei feliz.
Não vou voltar à muvuca para trocar a última ficha por Coca-Cola. Vou guardar como
recordação do evento, que não teve nada de memorável para mim. Pelo menos
cumpri o que tinha me proposto, vim. Aqui estou. Se estou me divertindo? Se
estou escrevendo, estou me divertindo, ainda mais num lugar bucólico e cheio de
pessoas bonitas e coloridas. Espero que tenha uma outra rua para sair daqui,
não quero enfrentar o povaréu. Meu amigo jurista sumiu da varanda, vou
aproveitar para partir. Vou ter que andar até minha casa pegar o Uber e fazer
xixi no banheiro da piscina.
Magrinha. Adorei o jeito e o corpo dela. |
18:14. Vim para as Ubaias para pegar menos trânsito, mas
encontrei isso pelo caminho.
Os blocos abundam em casa Forte no sábado pré-carnavalesco |
Resolvi dar um tempo na piscina até a situação do tráfego
melhorar. Encontrei com o meu amigo jurista e essa foi sem dúvida a melhor
parte do dia. Conversamos sobre muitas coisas, como o plano que tem de ter mais
um filho nas circunstâncias adequadas dessa vez, planejado, digo, mas o centro
da nossa conversa foram os videogames. Acho que nem eu nem ele temos com quem
conversar sobre o tema, então aproveitamos para pôr esse papo em dia. Foi
ótimo, mas não quis empatar o Carnaval dele e, também saturado de estar ali sem
muita vontade ou razão de estar, me despedi quando ele foi entrar na casa de
amigos que eu desconheço. Foi bom ter ido para me certificar que Olinda não é
mesmo a minha praia. Não vou nem a pau.
18:26. Muito bom estar na piscina, outro local bucólico mas
sem ninguém. Essa paz me agrada. Quando der 19:00. Chamo o Uber. O universo, em
especial o nosso planeta, é um lugar deveras curioso, os seres humanos são
bichos muito peculiares. Gosto de habitar aqui e ser humano. É uma condição
bastante privilegiada. A minha condição sendo a meu ver mais privilegiada que a
da média das pessoas com idade semelhante à minha. A única coisa negativa da
minha vida é essa verve antissocial que me assola e cresce, tomando proporções
ridículas. Me peguei desviando o olhar e encerrando a interação alguns
instantes antes de sua devida finalização. Me sinto um paspalho por causa
disso. Sou um ser que não sabe mais estar confortável em comunidade. Mas seguirei
tentando. Tentarei até me readaptar a isso ou desistir de vez. Ainda bem que
não me vejo desistindo. Quando vislumbrar claramente essa possibilidade será a
hora mais do que necessária de pedir ajuda, ir a uma terapia. Certamente já
preciso de uma, mas não me sinto disponível para tal. Vou ver o que me mandaram
pelo WhatsApp. Momento.
A galera está se movimentando para vir para aqui pertinho.
Tenho ainda vinte reais, posso dar essa esticada antes de voltar para a casa da
minha tia.
19:02. Só queria voltar para casa de titia agora se fosse
para jogar Mario, o que acho que só vai rolar muito mais tarde. Creio que minha
tia está assistindo TV e assim ficará até dormir. Disse no grupo da turma que
ficarei aqui até 19:30, se ninguém se manifestar até lá volto para casa. Tirei
umas fotos da apetitosa de longe, torcendo para a resolução do meu celular
permitir aproximar a imagem. Se ficar razoável, posto aqui embaixo.
Apetitosa de meias rosas e sua companheira magrinha e gostosinha. |
19:12. Não sei se a rua já está menos congestionada. Acho
que sim. Tem alguém tocando violino no casarão, coisa mais agradável. Vai haver
uma festa aqui e, pelo visto tocarão músicas de Carnaval com o instrumento.
Será que haverá outros ou só o violino? Não ficarei aqui para descobrir. Vou
dar uma olhada no WhatsApp.
19:18. Nenhuma resposta. Não sei se espere comunicado ou
volte no horário que estipulei. Acho que vou esperar algum sinal de vida do
grupo antes de chamar o Uber. Incrível como escrever drena a bateria do meu
celular. 67%. O violino foi o presente da minha noite. É um som muito belo. E como
a festa não começou, o músico toca o que lhe vai na alma ou treina, pois está
só tocando frevos.
19:26. Nada ainda da turma. Nem marcada como visualizada a
mensagem foi. Acho que vou voltar para casa da minha tia mesmo. Se bem que
quero encontrar com a galera. O violino cessou, vou testar o Spotify pelo
celular.
19:33. Respondeu minha amiga jornalista se dizendo no
Barchef. Perguntei se podia ir. Não quero ser um peso social para quem estiver
lá. Às vezes, cada vez mais frequentes, sinto que não agrado tais pessoas.
Espero estar equivocado. Vou esperar dez minutos pela resposta, senão vou assim
mesmo. Vou passar pouco tempo, tenho pouca grana.
19:39. Vou acabar a Coca-Cola de dois litros que comprei e
depois decido o que fazer da vida. Achei engraçado que uma senhora leu a minha
camisa – "Quem eu serei?" – e falou para mim, "Só Deus
sabe" e riu.
19:45. Estou ouvindo Utopia no celular, é massa ter essa
capacidade.
19:49. Mandei uma mensagem diretamente para o meu
primo-irmão perguntando do seu paradeiro. Espero que pelo menos ele me
responda. O Spotify está sugando muita bateria. Quando e se meu primo
responder, eu desligo. Ou quando a bateria chegar em 40%. Meu primo respondeu
que está no Poço da Panela, perto do Barchef. Eu disse que pretendia ir para esse
último. Vamos ver o que ele me diz. Se é que vai responder. Estou quase
desistindo de folia e voltando...
20:00. Pela resposta do meu primo-irmão, com as palavras
"longe" e "cansados", ele não vai. Acho que vou na cara
dura. Esperar acabar a Coca-Cola para me decidir.
20:04. Afora o copo que acabei de colocar, resta mais um e
meio na garrafa. Falta pouco para eu dar um rumo à minha vida.
Acabei um copo. Vamos para o penúltimo. É extremamente raro
ouvir um violino ao vivo aqui em Recife (rabeca não conta), tive muita sorte.
Adorei. Adoro quando o destino me sorri com graças como essa. Utopia
definitivamente me lembra Mario Odyssey. Estou com um pouco de sono, mas a
caminhada até o Barchef vai me despertar. Meu primo não deu mais notícia. Ah,
coloquei a possibilidade de ele me acompanhar para a jogatina na casa do meu
primo urbano. Meu amigo jurista concordou, falta o anfitrião.
20:18. Coloquei o último copo de Coca-Cola. Já-já parto.
Espero que não me roubem o celular. Minha mãe me botou essa paranoia na cabeça.
O violinista voltou a tocar. Boa deixa para deixar o Spotify de lado.
20:23. Precisarei fazer xixi antes de ir. Acho que vinte
reais dão para apenas três latas de Coca-Cola no Barchef, se muito derem. Mas
depois de dois litros estou de boa.
20:26. Acabei o copo, vou lá.
(fim dos e-mails)
-x-x-
21h54. Cheguei enfim em casa. As ruas de Casa Forte estavam
tomadas por foliões, em sua maioria mais jovens e malhados do que eu. O
trânsito estava caótico na 17 de Agosto e imediações. Encontrei com o meu amigo
cervejeiro no Barchef. Vi a minha amiga filósofa, mas não falei, fui logo
comprar refrigerante, não consegui, não havia troco para os meus vinte reais,
parece que o Barchef é feito para quem tem cartão de crédito, o que não é o meu
caso. Quando voltei, a filósofa havia sumido. Foi então que encontrei com o meu
amigo cervejeiro e ficamos os dois numa busca infrutífera atrás das meninas e
do meu primo-irmão e meu amigo professor, até que esses sinalizaram que haviam
pego um Uber para o Recife Antigo. Meu amigo cervejeiro resolveu segui-los,
pedi que me deixasse em casa e foi isso o que decorreu de lá para cá. O meu
amigo cervejeiro recomendou fortemente a cerveja artesanal Navegantes, só não
me lembro o tipo, são nomes estrangeiros complicados as categorias de cerveja
artesanal. Surpreendente foi um amigo do meu amigo cervejeiro, que encontramos
e que depois sumiu, que, com um gole, adivinhou o tipo de lúpulo usado na
bebida. Pra mim cerveja sempre foi tudo igual, só distinguia quente de gelada.
A que estivesse mais gelada era a melhor, não importava a marca. Como disse,
sou um cara old school, ultrapassado,
de outro tempo. Outra coisa que também me surpreendeu foi que à guisa de ter
sido molhado de cerveja acidentalmente por uma garota, meu amigo cervejeiro
conseguiu beijá-la demoradamente. Nunca teria tanta astúcia. E uma menina linda
veio me pedir um cigarro, puxou até papo e não soube como converter isso numa
conquista. Se é que era possível. Meu radar para essas coisas é péssimo. Queria
muito ter a beijado. Estou com a imagem dela ainda impressa na minha cabeça.
Bom, passou e meu carnaval findou-se por esse ano. Acho que nem vou para o Sai
Dessa Noia do ano que vem. Primeiro porque superpopuloso e segundo porque estou
antissocial e me foi custoso interagir com os conhecidos com os quais cruzei. A
exceção do meu amigo jurista, com quem tive o imenso prazer de dialogar. Foi um
dia especial, diferente, mas realmente não tenho mais o espírito para essas
aglomerações. Quando a garota perguntou “posso te pedir um cigarro?”, deveria
ter tido mais ousadia e respondido, “ posso te pedir um beijo?”, mas só
respondi “claro” e perguntei “quem mais um?”. Ainda tive que dar um ao amigo.
Se arrependimento matasse... tenho que ser mais incisivo quando oportunidades
dessas, raríssimas, se anunciarem. Não perco nada sendo um pouco mais saliente.
E posso até ganhar, quem sabe.
22h15. Perdi o fio da meada, vendo o que estava apitando aqui.
Era o WhatsApp do computador. Nada mais tenho para ver no carnaval...
22h28. Minha santa tia fez dois sanduíches quentes de queijo
que comi tomando um copo de leite com Toddy, me sinto outro estando alimentado.
Olhando para um programa de debate sobre as políticas de segurança do Brasil,
me peguei abismado com a loquacidade dos entrevistados, achando que seria
impossível hoje para mim me expressar tão bem de forma oral. Isso já está
passando dos limites. Sempre fui bom de conversar. Meu deus, o que está acontecendo
comigo? Me sentir incapaz de falar? Assim não dá. Estou pensando seriamente na
terapia. Pelo menos lá, toda semana terei um tempo para jogar conversa fora.
Não, não estou disposto. Mas vou considerar com carinho. Vamos ver como me saio
na sessão Nintendo Switch na semana que vem. Não é possível que reunido com o
meu primo urbano e meu amigo jurista não converse. Espero conseguir. Lembrar de
levar uma Coca Zero. Sobre o que mais discorrer? Estou cansado, mas pretendo
jogar um pouco de Mario Odyssey antes de dormir. O Vaporfi desce rasgando, me
dando crises de tosse. Hoje, como é meu carnaval, vou fumar só cigarro. Eu
mereço. Encontrei Nice na barraca de seu finado pai na ida e na volta do bloco,
o que resultou nessa foto.
Dona Helena, Nice e esse que vos escreve. |
Acabei de me enviar as fotos que tirei do dia. Vamos ver se
chegam. Estou sem ter o que dizer, narrei o meu dia todo e agora me encontro no
meu computador tendo como cenário uma parede, como de praxe. Nesse sentido foi
bom ter saído. Vi muitas mulheres lindas. Mais de dez, umas vinte talvez. A
menina que veio me pedir o cigarro entre elas. Pena que nunca saberá. Quase me
escapou pela boca um você é muito linda, mas, que droga, a frase calou-se na
minha garganta. Tenho que me lembrar disso para dá próxima vez e expor minha
impressão positiva. Que próxima vez? Quando? Na Olinda que não vou? Depois
desse encontro raro, até que fiquei com vontade de ir para Olinda. Há um grande
talvez aí, pendendo fortemente para um não, mas não vou fechar essa porta
definitivamente depois da experiência com a gatinha do cigarro. Em Olinda, as
garotas em geral estão mais soltas, ou assim me parece. Se eu me soltar um
pouquinho também, é possível, ou melhor, não é impossível, eu beijar alguém. Vi
um pai fumando maconha com o filho. Achei a cena pitoresca. Ambos eram maiores
de idade, vale ressaltar. Não vejo nada contra a maconha quando o álcool é
fartamente liberado e consumido. Acho esse muito mais nocivo que aquela.
Ninguém nunca morreu de overdose de maconha, meu pai morreu por conta do
álcool, pelo menos essa é a minha interpretação dos fatos. Botei “Utopia” para
ouvir. Quero ver que recorte da minha vida o disco refletirá daqui a alguns
anos. Sei que está correlacionado de forma bastante forte com o Mario Odyssey.
O jogo foi um dos tópicos debatidos com o meu amigo jurista, mas discorremos
mais sobre o Zelda: Breath Of The Wild. Ele me deu boas dicas, mas não me
lembro delas todas. Estou sem saco de escrever. Mas não queria estar no Recife
Antigo com bêbados tampouco. Por mais que amigos. Já é carnaval na cidade,
então o Recife Antigo deve estar repleto. Não estou com energia para isso. Quem
me dera voltar no tempo. Melhor não. Não sei em que cadeia de eventos me meteria,
poderia findar numa realidade bem pior do que essa. Qualquer mínimo desvio me
levaria sei lá para onde. Se me arrependo da cola? Me dói a dor que causei, mas
não trocaria a minhas experiências por uma consciência mais leve. Posso dizer
que a cola salvou a minha vida, nas vezes em que estava com ideário suicida
forte e a cola foi a única coisa a me dar prazer, a me poupar do sofrimento
existencial agudo e me aliviar o sofrimento que era existir, uma razão para não
morrer. É uma pena que tenha fugido completamente ao meu controle. Na relação
com a cola, ela é que me domina e não o contrário, por isso cortei relações. A
fissura é um sentimento terrível que me transfigura comportamentalmente, me
transformando num marginal maquiavélico, num psicopata frio e calculista. Não
quero sentir nunca mais tal sentimento. É asqueroso. Integralmente doentio. Todo
o lado ruim do meu caráter vem à tona, facetas que nem imaginava ter em mim
despertam e me envergonho de todas elas, pois são más e do mais profundo
egoísmo. Devo admitir que hoje sou profundamente egoísta, mas de uma forma
inofensiva para os outros. Um tanto nociva para mim, por causa do déficit crescente
em relação às socializações. Mas sou do partido que todos nós somos egoístas,
tudo o que fazemos, até uma caridade, faz-se por uma necessidade do ego. Ninguém
está livre disso. É fato, entretanto, que há egos muito mais nobres que o meu.
Eu sou apenas um cara medíocre com uma inteligência que dizem ser acima da
média (certamente não a emocional). Meu desempenho na vida é pífio, nada mais
faço dela do que me transformar nessas palavras. Ou muito pouco além disso (e
das necessidades básicas, fumar entre elas). Jogo Mario Odyssey. E fico a
admirar meus bonecos. É uma existência medíocre que privaria o mundo de muito
pouco com a minha morte. Mas não anseio a morte. Não mais. Não por enquanto. O
que anseio agora além de jogar Mario Odyssey e escrever? Dar um beijo em uma
menina tão linda quanto a que me pediu um cigarro. Ah, ilusões. Vivo a criar
ilusões em relação a garotas. Não movo uma palha para concretizá-las. A que
movi mais palhas nesse intuito foi sem dúvida a garota da noite. Que pena, não
está a fim de mim ou de nada sério é o que chega aos meus ouvidos. Ou como
interpreto o que chega a eles. Meu amigo jurista já está há dez anos com sua
esposa. Não imaginava. É muito tempo. Como passa rápido. Meu dia de carnaval.
Será mesmo o último desse carnaval? Ou será irei para Olinda e virarei um
agarrador de mulheres? Hahaha. Românticos como eu não estão com nada hoje em
dia. É um movimento cultural morto, senão morto, moribundo, comatoso, na UTI. Vivo
numa época muito diferente de mim, me sinto anacrônico. 23h44. Vou pegar um
café e beber uma água.
23h48. Ainda estou fantasiando com a menina do cigarro. Um
total desperdício de sinapses. Pensei em outra frase para dizer a ela, “você é
uma ótima razão para eu ter começado a fumar”. Ou “você aparecer do nada na
minha vida é uma ótima razão para eu ter começado a fumar”. Nunca conseguiria
formular isso na hora. Mas a do beijo eu conseguiria. Vou tentar guardar ambas
na cachola. Nossa, como minha socialização foi fraca hoje. Pífia. É a vida e
ela segue. A menina do cigarro não passará de novo por mim. Passou. É passado.
O que tenho à frente a esse respeito? Talvez Olinda. É o lugar mais fácil de
agarrar uma mulher, segundo me consta. Pelo menos o assédio masculino
ostensivo, violento, mudou da minha época para hoje. Uma coisa que melhorou no
mundo, além da banda de internet e dos gráficos dos games. E nisso volto a
pensar de novo no Odyssey. Só vi as minhas amigas da Vila Edna em cima do
palco, local inacessível para mim e minha ojeriza a concentrações apertadas de
gente. Como encararei Olinda, então, né? Boa pergunta. Acho que isso é outra
ilusão que trago na cabeça. Vou tirar a roupa que usei na rua, não é tão
confortável quanto a que tenho aqui para usar em casa. Hoje não durmo sem duas
coisas. A principal sendo jogar Mario. A outra pode nem acontecer, me faltar
disposição. Eu sei lá. Nem sei se terei paciência para o Mario. Vou montar esse
post. E lembrar que tenho que ligar para Maria. Na semana que vem. Que, por
sinal, acabou de começar. São 0h06 do domingo. Tenho que compor esse post com
os e-mails que escrevi e organizar as fotos com seus devidos locais na
narrativa. Podia jurar que ouvi meu primo me chamar. Deve ter sido engano. O
servente do meu prédio perguntou por mim de uma forma estranha, como se achasse
que eu havia sido internado. A sensação que tive foi essa. Voltar a escrever na
piscina. É uma coisa que eu posso fazer para alterar a minha rotina um pouco
quando voltar ao meu quarto-ilha. Considerarei, se me lembrar. Tem sido bom
esses dias longe da minha mãe. Acho que está sendo bom para ambos. Espero que
ela volte com mais confiança em mim. Que me deixe seguir minha vida como me
apetece. Sei que não chegará a tanto, mas é bom ter esperanças. O ruim é a
frustração depois. Hahaha.
0h15. Estou com preguiça de montar esse e-mail, tratar as
fotos etc. Acho que vou deixar para quando acordar. A outra coisa que quero
fazer além de jogar Mario? Escrever no Desabafos do Vate. Mas não sei o faça. A
liberdade total é algo demandante. Não sei se quero encará-la agora.
0h44. Meu primo-irmão realmente havia chegado, conversei com
ele e fiquei sabendo que o amigo cervejeiro, com quem peguei carona no táxi
para vir para cá, como havia dito, não deu as caras no Recife Antigo. Meu primo-irmão
ficou chateado com razão porque o nosso amigo cervejeiro não comunicou nada a
ele. Simplesmente não compareceu. Curioso, ele parecia bastante motivado a
encontrar a turma. Vai entender. Vai dar uma da manhã e nada de brecha para o
Mario Odyssey até agora. Mas vai rolar. Tenho café para segurar o meu sono. Mas
o que queria mesmo era um copo de Coca com gelo. Hoje foi bom demais nesse
sentido, tomei muita Coca. Uma coisa meio sinistra aconteceu. O cara que pegava
os refrigerantes, havia cortado o dedo, vi o sangue escorrendo de sua mão e,
quando me deu um dos refrigerantes veio com a água turvada de vermelho. Limpei
com a minha camisa e espero muito que o cara não tenha HIV. Ele e eu (principalmente)
fomos irresponsáveis.
0h58. Acho que vou preparar as fotos. Não, não estou com
saco agora. Deixa isso para quando acordar. Já sei que vou acordar um caco se
me levantar na hora do almoço. Hoje quero dormir na hora que me aprouver. E hoje
me apraz dormir bem tarde, depois que o dia clarear. Veremos se estou com esse
pique carnavalesco mesmo.
1h21. Preparei as fotos. Agora é achar lugar para colocá-las,
mas só farei isso durante a revisão.
1h23. Já tenho cigarro para a noite toda. Great. Vou fazer xixi.
1h27. Tomei os meus remédios. Titia já vai se recolher e eu
vou encarar um Mariozinho. Eu acho. Mas vou. Estou cansado, mas quero que essa
noite seja minha. Já é uma hora avançada, mas posso jogar uma hora, hora e meia
e depois, se aguentar, vir para o Desabafos do Vate. Com os textos dos e-mails,
esse post pulou para 8 páginas de Word. Está de bom tamanho. Por um lado, eu
fui um rapaz exemplar hoje, mas isso deixo para o Desabafos. Basta dizer que me
sinto vitorioso. Eu merecia fazer isso por mim. Não sei que forças me ajudaram,
mas consegui.
1h35. Acabando de fumar o cigarro para levar minhas coisas
para a sala e começar a jogatina. Para terminar em grande estilo e na vibe que estou, posto de novo o papel de
parede do Mario Odyssey para quem quiser baixar.
Clique para ver imagem ampliada e salvar. |
2h53. Peguei só duas luas no Mario. Está ficando difícil e escasso. Vou para o Vate.
3h39. Não estava rendendo no Vate, decidi voltar para cá. Minha
amiga jornalista criou uma palavra nova, “Quiébquiénissi”, que não consegui
descobrir o significado. Caso possua. Bem, ela postou no WhatsApp do grupo após
meu primo-irmão ter dito que estava em casa e que havia dado “game over”. Sei
lá.
3h44. Estou revezando entre um cigarro mentolado e um normal,
muito bom. Fumar cigarro de verdade é muito bom. O mentolado é uma delícia. Que
prazer sinto agora. Prazer mortal. Dá até nome de filme. Hahaha. Se já não
houver! Vou procurar no Google agora.
3h48. Tem “Prazeres Mortais”, que por sinal eu já assisti,
mas só conhecia o nome em inglês. “The Loft”. Tradução quase literal. Hahaha. Caramba,
o finalzinho, a baga do mentolado fica mentolado pra dedéu. Ouvindo adivinha o
quê? Exato, o de sempre nos últimos tempos, coloquei em modo de repetição
infinito quando cheguei aqui.
3h55. Estava aqui lembrando de “The Loft”, me recordo que
não achei ruim, valeu as duas horas de permanência na existência. Saí duas
horas mais velho, mas satisfeito. Não é inesquecível mas tem os seus plot twists. Estava pensando também nas
apetitosas que vi no bloco, a magrinha com cara de Dorotéia e a galega. Se
fosse ter que optar por uma das duas, acho que ficaria com a magrinha. Gostei
mais dos trajes e do corte de cabelo dela. Acho que teríamos personalidades e
gostos mais parecidos. Embora houvesse talvez um abismo grande de idade entre
nós, ela com uma mentalidade de 20 anos e eu com mentalidade de 8. Hahana.
Estou todo engraçadinho hoje, né? Colocando “hahaha” a torto e a direito. Sou...
nós. Belo poema concreto que ilustra a capa do primeiro de Marcelo Camelo. Lembrei
da garota da noite por mais que não queira ter uma relação simbiótica. Levando
ao extremo, o sou nós poderia significa que sou parte de nós, da humanidade, ou
além, faço parte do ecossistema global ou mais além ainda pode ser eu sou parte
do universo, eu sou parte de tudo. Levando para um outro lado o sou de um lado
e o nós do outro, significa que, mesmo dentro de uma relação, o sujeito mantém
a sua individualidade.
Ouça pelo menos a primeira música, é uma perfeição. |
4h27. Bati um prato de feijoada com arroz. Só ficou faltando a farinha, que não localizei, para ficar perfeito. Estou com sono, mas não quero largar o osso. A magrinha, amiga da apetitosa, deve ser uma lindeza nua. No nível da apetitosa nos tempos áureos. E o jeito bem feminino e delicado da magrinha me encantou mais. Quem será que herdará o DQF, onde mamãe e meu padrasto trabalham? Todos os fundadores estão ficando velhos, alguns já partiram. Outros partirão e quem irá substituí-los, que tomará o lugar de uma turma muito boa, excelentes acadêmicos e pesquisadores brilhantes apaixonados pela Química. Vai ser difícil manter o nível. Muito difícil.
4h40. Vou dar um rolé pela internet.
4h43. Li sobre outra lua que nunca conseguiria pegar. É bom
que vou aprendendo os truques. O que vai além do óbvio, além da minha imaginação.
Já são duas que a internet me ensina. Duas que havia desistido de buscar.
Ficará faltando só as da corrida para eu fechar a fase. Dá vontade de entrar no
jogo agora só para pegar a lua.
5h03. Nem fui. Fiquei passeando pela internet, namorei bastante
o Hulk. Está chegando a hora de eu ir dormir. E está chegando a hora da lapada
do Hulk. Das lapadas. Em outras palavras, está chegando a hora de o Hulk
chegar. É uma pena que não tenha onde exibi-lo.
5h08. Tem cinco minutos guardados dentro de cada cigarro.
Não tenho mais nada a dizer por hoje. Só que acho que não vou a Olinda, mas
isso pode ser porque estou cansado e com sono.
Primo! Só pra dizer que não acho chato te ver jogando Mário, pelo contrário. Bjos, Natália
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