sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

CASA DA TIA - DIA II


Detalhe pitoresco do quarto em que durmo na casa da minha tia




15h16. Minha mãe me ligou hoje e estou liberado para o Sai Dessa Noia. Massa. Titia fez café. Massa. Dia tranquilo e favorável. Meu primo-irmão já chegou do trabalho, mas saiu pelo que entendi para se exercitar. Massa. Acho que vou encarar um Mario Odyssey já que ninguém está assistindo TV. Massa.

17h47. Joguei o Mario Odyssey até agora. Que delícia. Muito bom o jogo. Muito maravilhoso. Tudo o que o Zelda não foi, toda a promessa não concretizada, o Mario é. E ainda mais. Superou todas as minhas expectativas. O nível de dificuldade até agora é perfeito. Tem alguns trechos mais desafiantes, morre-se, mas não desestimula, não dá vontade de desistir, pelo contrário, dá vontade de tentar de novo e de novo. Exceto os mestres, mas eu sou suspeito, odeio mestres. Acho que só falta derrotar um. E, se não derroto, é por pura incompetência minha. Tomei muito café, o que foi ótimo. Vou até ver se ainda tem para eu pegar mais um pouquinho. Momento.

17h59. Tinha a quantidade certinha para uma xícara. Massa. Hoje o dia tem sido superiormente interessante. Percebo, pelo receio que estava de jogar Mario – e me diverti muito jogando, como narrei –, que os demais receios talvez sejam igualmente infundados. É encarar para ver. Estou meio sem inspiração para escrever agora. Acho que ontem me disse demais já. Espero que não tenham ficado publicadas na minha página de Facebook nenhuma das postagens de divulgação que eu fiz. Não queria que o pessoal do Sai Dessa Noia soubesse dos meus receios em relação a reencontrar os amigos no bloco. Agora o receio está menor do que ontem, então não vou escrever sobre ele para não atrair ruminações negativas a esse respeito. Sobre o que escrever?

18h24. Vi que uma senhora de idade avançada, a julgar pela foto de perfil, curtiu o meu texto no Facebook. Isso me surpreendeu, é certamente uma pessoa com um português muito melhor que o meu e com uma maturidade muito maior que a minha, adulto infantilizado que sou. Perguntei a ela nos comentários o que havia a agradado no texto. Um texto cujo o trecho final só trata de videogames. É muito curioso isso. Espero que ela responda. Vou torcer. Titia já prepara o jantar, mas confesso que não estou com a mínima fome. Um efeito colateral evidente dos remédios que tomo são as minhas mãos trêmulas. Vou tentar tomar banho hoje. Não tomei ontem. Meu primo-irmão vai sair hoje, aposto que alguma garota. Não me chamou nem nada. Só pode ser. Tomara que alcance o que anseie e se divirta fazendo isso. Acho que a minha prima dá aula hoje, estava arrumada para sair. Ela ao que me parece tomou gosto pela vida acadêmica. Sem dúvida é uma vida menos corrida, selvagem e estressante que a do mercado publicitário. E talvez até mais bem remunerada. Conheço vários amigos que optaram pela academia em detrimento a trabalhar em agências. Na minha idade atual, seria praticamente impossível reingressar no mercado. Não que eu queira, ter que fazer seria o meu maior pesadelo, deus me livre. Deus já me livrou, por isso me encontro na situação em que estou, em vez de estar redigindo textos para clientes que acham que entendem de publicidade (todo mundo acha que entende de publicidade, é peculiar da profissão), estou escrevendo de mim para mim. Eu sou o meu próprio cliente, sou eu quem aprova os textos, quem faz os briefings – sempre tema livre, o que der na telha – e quem publica. Pena que, casa de ferreiro, espeto de pau, não sei me vender. Nunca conseguirei alcançar um grande público, simplesmente não tenho ideia de como fazer isso e não me interessa desvirtuar o meu produto em prol de mais leitores, seria como ter o público como cliente, direcionando e pressionando o meu ofício. Prefiro então ser lido por poucos e fazer tudo do meu jeito. É mais gostoso assim. Aliás, é a única forma viável para mim. Claro que seria supimpa ter cem, duzentos, mil leitores; claro que seria motivo de uma felicidade sem tamanho ser contatado por uma editora interessada em publicar uma seleção dos meus posts, mas sei que não é o caso e provavelmente nunca será. Viverei sem essas conquistas tendo conquistado o que mais importa para mim, a liberdade de escrever do jeito que eu quiser, de tecer esse monólogo mudo, e preencher os meus dias e noites com palavras tão minhas quanto podem ser. Minha relação com a escrita é de uma paixão incondicional, arrebatadora, até catártica algumas vezes. Os momentos de catarse, quando as palavras simplesmente vão fluindo ininterruptamente num fluxo constante no qual nem preciso escolhê-las, já me vêm escolhidas aos dedos, é a melhor parte da minha profissão de fé. É algo quase febril. É quase orgástico. É tão divertido quanto o Mario Odyssey. Acho que essa é a melhor comparação que posso traçar. O que esse jogo significa para mim, você não faz ideia. Eu havia abandonado os videogames, mas o jogo me tocou de maneira que não me sai da cabeça. Raros são os jogos que me põem a pensar neles quando não os estou jogando. É uma relação que desenvolvo com o jogo que se assemelha muito à paixão, visto que, quando distante do objeto, sinto falta, penso nele, sinto vontade de voltar àquela realidade, tal qual se sente o desejo por uma garota amada e se sente a saudade boa (aquela que eu sei que vai ser saciada, que tem reencontro certo e apaixonado). A saudade ruim, é a saudade dos mortos. É a saudade que não encontra fim senão no esquecimento gradativo concedido pelo tempo. Não sei como singrarei a vida quando minha mãe se for. Não sei com que pedras conseguirei fechar o buraco que será sua eterna ausência. E olhe que não sou muito de luto, eu compreendo o ciclo da vida e aceito a sua finitude. Lidei bem com a morte do Imperador da Casqueira e do meu pai. Mas a morte da minha mãe pelo seu esforço de onipresença na minha vida, o que às vezes é um saco, a torna uma parte tão integral da minha existência que será como arrancar um pedaço enorme da minha alma, tanto bom quanto ruim, mas a dimensão do rombo é que vai ser quase intolerável. Ela se disse meio confusa hoje ao telefone e isso me preocupa deveras. Espero com todas as forças que isso seja efeito colateral do remédio contra o câncer e não a idade corroendo o seu juízo, que não seja uma dessas doenças que roubam do indivíduo a sua condição de indivíduo, que esvaziam o ser e deixam apenas o corpo, alheio à realidade, oco, como um vaso sem terra ou flor. Vi acontecer com a minha avó materna e vi acontecer com o meu avô paterno, embora este ainda persistiu dotado de alguma personalidade até o corpo resolver parar de viver. A velhice é algo que me aterroriza. Seria muito mais suportável envelhecer com uma companheira, mas tendo em vista quem eu sou hoje na esfera pessoal e social e a altura do campeonato em que estou, sem mencionar os meus elevados padrões estéticos, acho altamente improvável que alguém que julgue interessante se interesse por mim também. A garota da noite foi quem nesse interlúdio de mais de uma década se me afigurou mais real, mais tangível, porque mui bela e porque parte (distante, mas parte mesmo assim) do meu círculo social, não uma total desconhecida. Infelizmente e entretanto, não parece ter o mínimo interesse por mim. Tentei me comunicar com ela pela rede social, mas isso se provou infrutífero porque ela pouco usa o Facebook e porque sempre lacônica, distante e fria em relação a mim. Se demorou dez anos para eu encontrar alguém remotamente possível, quanto levará para eu encontrar outra? Por algum motivo, provavelmente a falta de opção, ainda mantenho as minhas fichas apostadas na garota da noite. Sei que a mesa de apostas do destino ficará com tais fichas e eu continuarei de mãos e boca e corpo e alma abanando. Mas é melhor esse frágil fiapo de esperança que o coração totalmente vazio. Se bem que me encontro meio indisponível para relacionamentos no momento, ou me engano pensando assim para justificar a minha solidão. Aí começa o filme de ficção na minha cabeça e fantasio que no Sai Dessa Noia um milagre se dará e encontrarei entre as foliãs o meu par, o que não aconteceu em nenhum dos anos que participei do bloco. Até porque não sou de abordar desconhecidas, acho chato, um incômodo para elas. E morro de vergonha, eis a verdade. Indo mais fundo, eu não me julgo uma figura válida ou sedutora ou atraente, me faltam segurança, autoconfiança e autoestima para que a abordagem tenha alguma possibilidade de ser um sucesso. Em uma palavra, estou fadado à solidão pelo abismo que cavei com os meus pés, como diria o poeta. Mas sabe-se lá. Gosto de alimentar esperanças. Não custam nada e emprestam algum ânimo à minha existência. Poderia convidar a garota da noite para o Sai Dessa Noia. Eita, não seria de bom tom, infelizmente, ela está ou estava ficando com um amigo meu, ele poderia me ter por fura-olho. Não sei em que pé está esse enlace, então deixa esse rolo se desenrolar. Também não saberia o que fazer se a convidasse e ela aceitasse. Hahaha. Só sendo mesmo. A garota da noite aceitar um convite meu quando está comendo o cara mais bonito da turma, na opinião inclusive dos homens da dita turma. Eu incluso. Não queria ser lindo como ele, pois teria que dar muitos foras na minha vida, coisa que eu teria extrema dificuldade em fazer. Mas não ficaria por caridade com alguém que não tivesse nada a ver comigo. Já fiquei com alguém por caridade e por tempo demais. Foi péssimo. Ainda bem que não sou lindo. Bastou-me passar por isso uma vez só. Não sei por que me lembrei de uma sessão em grupo que participei com a Gatinha, antes de começarmos a namorar, em que era o único homem e a tarefa era tirar a almofada do outro, arrancar das mãos mesmo, com força, acho que era alguma dinâmica para botar a agressividade reprimida para fora. Obviamente que eu sendo homem, tinha muito mais força que as mulheres e nenhuma conseguiu arrancar a minha almofada, a não ser a Gatinha que, constatando que à força seria impossível ter a minha almofada, usou da sedução e persuasão me pedindo a almofada de um jeito bem carinhoso. Eu, que estava interessado nela desde que a vi pela primeira vez na lanchonete do andar da terapia, cedi a almofada a ela. Sou um bicho besta mesmo. Mas para mim me valia mais um agrado a uma pessoa que desejava do que a posse temporária de uma almofada do consultório. Achei a troca justa, mas se se desse outra dinâmica semelhante nos dias de hoje, não cederia e manteria a posse da almofada. Não sei bem por quê. Acho que por ter um pouco mais de dignidade e respeito próprio. Estar mais duro, menos manipulável. Menos besta. Me sinto tão sério e pensativo nos dias que correm. Já fui um sujeito bem-humorado, de elaborar piadas e tiradas engraçadas, de conversar com todo mundo, de ser doce e gentil. Um cara extrovertido e engraçado. Há ainda escondido dentro de mim alguém doce e gentil, bem-humorado inclusive, mas há uma camada de seriedade e introspecção dura como pedra envolvendo essa parte macia como a língua da garota da noite. Engraçado, estou escrevendo imaginando que a senhora que curtiu meu post anterior vai ler. É estranho e até divertido escrever para alguém que não para mim mesmo. Não faz tanta diferença, mas eu acho que faz alguma.


Vapor ou fumaça?
Essa imagem que tirei ficou meio impactante pela quantidade de cigarro
em contraste com a foto de um inocente bebê. É quase um ataque aos
antitabagistas de plantão. Mas eles não podem invadir o meu âmbito pessoal.
Não foi proibido fumar, muito ou pouco. Como estou de férias na casa de titia
eu posso fumar mais, o que me é muito prazeroso. Por mais que alterne com o Vaporfi
eu tenho fumado mais, novamente me deliciando com essa possibilidade, vivendo a vida
mais ao meu jeito. E, na foto havia cigarros desde o dia anterior que eu não limpei,
a mim não incomoda ter um cinzeiro do lado cheio de guimbas.
Aliás, me incomoda um pouco. Vou limpar. 2h51.


20h27. Estou com vontade de caçar power moons no Mario Odyssey. Agora só depois da novela das nove. Mas tive uma boa dose do jogo hoje. Joguei mais de duas horas, foi divertidíssimo. Acho que, da mesma forma que eu não captei a essência do Zelda Breath Of The Wild, minha prima não captou a essência do Mario Odyssey. Como acho que o meu primo também não captou e provavelmente não vai captar. Me apiedo deles, pois, se percebessem o jogo como o percebo, sentiriam uma sensação de êxtase ímpar. Ter sido um gamer a vida quase toda valeu a pena para culminar no Mario Odyssey como o percebo. Novamente repito, o sentimento que tenho é de que a Nintendo fez o jogo para me agradar, se eu fosse pedir a deus para fazer um jogo para mim, ele não seria muito diferente do Mario Odyssey. Ele foi além dos meus sonhos mais ousados. É o ápice da minha vida como gamer. Acho que nenhum jogo bate ele. Ou baterá. Acho que encontrei o jogo da minha vida. É uma pena que uma vez descobertas todas as luas o jogo perca o sentido de ser, pois a graça está em explorar todas as possibilidades para descobrir as luas escondidas pelos mundos. Uma vez que se sabe onde elas estão não há porque jogar de novo. Gosto de explorar, achar segredos, talvez isso seja uma reminiscência da infância quando mamãe, na véspera da Páscoa, escondia os ovos de chocolate para que procurássemos quando acordássemos. Essa caça ao tesouro delicioso era tremendamente excitante e divertida. Acho que é por isso que gosto tanto do Mario Odyssey, porque me lembra essa doce, inclusive literalmente, parte da minha infância. Sou muito grato a mamãe por ter feito isso por nós. E ela escondia os ovos bem. Não era nada muito óbvio, não. Isso tornava a coisa ainda mais aventuresca. Era o tal senso de exploração e recompensa que eu buscava em Zelda e não foi isso que o jogo ofereceu. Interessante eu encontrar no Mario o que eu esperava do Zelda. Num grau de diversão e numa quantidade muito maior que qualquer jogo do Zelda que já joguei. É absolutamente perfeito para mim. É como ter 800 ovos de páscoa para procurar. Ou mais. Desde os mais óbvios até os mais obscuros. A velocidade com que o jogo recompensa o jogador é extasiante. Como o meu amigo jurista muito bem colocou (mais uma vez), é um jogo no qual a pessoa se diverte jogando cinco minutos ou cinco horas. Ou seja, perfeito para um console que torna-se portátil e que pode ser jogado num curto espaço de tempo, como numa travessia de ônibus ou na hora do recreio. Acho que levaram isso em consideração quando desenvolveram o jogo e quem ganhou fui eu, que só jogo na TV e tenho uma recompensa a cada cinco, dez minutos. Se muito meia-hora, mas nunca chega a tanto. Acho que chegará quando restarem apenas as luas mais difíceis. Estou voltando no jogo agora para desbravar o mais integralmente que posso todos os mundos, um de cada vez. Comecei do segundo, pois já me aventurei pelo primeiro há algum tempo e não me diverti muito, ele tinha luas muito difíceis para a minha habilidade de então. O deixarei como próximo a ser explorado. Acho que estou preparado para encará-lo de forma mais aprazível agora que passei por quase todos os mundos. O bicho vai pegar no mundo da lava, para mim o mais difícil e chatinho de todos. Tem outro que não me apeteceu muito, mas não vou dar spoilers aqui. O da lava é sempre esperado num jogo de Mario. E geralmente é um dos mais difíceis. O outro chatinho é mais peculiar. Então não direi o seu tema. Eita, já são 21h05! Nossa, o tempo voou. Mas continuo, mesmo escrevendo sobre videogames, pensando na minha leitora mais velha. Não sei por que, acho que porque acho que ela tenha a aparência de ser muito culta e isso me desafia a escrever melhor. Não melhorou muito, mas acho que está mais bem escrito do que o que ela leu. Não sei aferir isso direito e não estou tão preocupado assim com o seu julgamento. Não quero perder o prazer pelas palavras que advém da liberdade de dizê-las como me convier, como disse lá em cima. Mas me esmerar um pouco mais sempre é válido e acrescenta uma camada de desafio e diversão ao ato de escrever. Gamification, em uma palavra. Para finalizar, pelo menos por ora a minha louvação a Mario Odyssey, devo confessar que o software que mais me entretém e que acho o mais divertido de todos é o Microsoft Word. Hahaha.

21h16. A realidade me obriga a falar uma vez mais sobre videogames. Meu primo urbano quer marcar comigo e com o meu amigo jurista uma sessão de Switch na casa dele na segunda ou quarta de carnaval. Mandei o convite para o meu amigo jurista e espero resposta. Pronto, sem videogames por uma hora agora. Por sinal, se é novela das nove, isso quer dizer que já-já deve rolar e já-já deve acabar e eu vou poder jogar. Uêba! Mas vou falar de outra coisa. Minha mãe me ligou e disse que tudo está correndo bem por lá, o que é um grande alívio para mim. Hoje foi o grande dia e deu tudo certo. Não sei se ela já levou as amostras dos alunos para analisar na USP. Acho que também não fez ainda o seu exame de saúde. Ou fez ontem. Isso eu não entendi bem. De qualquer forma, todos bem, todos felizes aqui e lá. Ótimo. Ela está impressionada com a qualidade dos serviços oferecidos em São Paulo, achou muito superiores a qualquer coisa que vê por aqui. Somos provincianos quando comparados a São Paulo, pelo menos ao local onde está hospedada, Rua Augusta. Mas não sou sociólogo para afirmar se somos provincianos ou não. Achei que fui bem atendido no aeroporto de São Paulo quando voltamos dos EUA, pelo menos. Troco certinho, moças educadas, produto caro. Vou pegar um café para fumar um cigarro.

21h29. Peguei um café e troquei uma ideia com a minha tia-mãe sobre a novela das nove. Tem uma premissa baseada na tal lei do retorno, aqui se faz, aqui se paga, o efeito das suas ações, boas ou más, voltam para você da mesma forma. Gostaria de saber como a lei do retorno se aplica a mim que não faço quase nada a ninguém, visto o meu cotidiano. Acho que é por isso que minha vida está emperrada. Hahaha. Não acredito nessas crendices. Embora ache que as minhas interações reverberam na vida alheia, mas não sei aferir de que forma, visto que minhas interações não são boas nem más, apenas medíocres. Nossa. Como é bom fumar tomando um cafezinho. Grande e simples prazer. Sei que não faz bem ao corpo, mas faz bem a alma. Não cuido bem nem de um nem da outra, mas presto muito mais atenção à alma que ao corpo. Senão não escreveria, estaria numa academia admirando meu bíceps hipertrofiado no espelho e me amando por causa disso. Não faz o meu perfil. Na verdade, não consigo entender esse tipo de narcisismo. Aliás, entender, eu entendo, é a recompensa por um esforço que não estou disposto a operar. Ostento um buchinho, ou buchão, se comparado aos sarados e isso me incomoda, me amaria mais se não o possuísse. Mas não tenho a mínima disposição para extirpá-lo. Só se for me privando de comer, mas indo para uma academia, nunca. Não sinto o prazer neuroquímico que dizem advir da malhação. Logo, a recompensa maior que seria um estado de consciência superiormente interessante não ocorre comigo. Talvez se ocorresse, eu até buscasse os exercícios para obtê-lo. Preciso, entretanto, voltar a considerar andar. Mas estou com uma preguiça colossal para fazer isso. Posso começar aos pouquinhos. Ficar em pé o dia todo no Sai Dessa Noia já é um bom começo. Já vai amaciando o meu tênis novo. Preciso ligar para Maria. Nunca mais o fiz. Estou devendo muito isso. Ver se lembro de ligar amanhã. Certamente vou lembrar pois precisarei revisar isso para postar. E não tirei nenhuma foto ainda para ilustrar esse post. Pensei agora em colocar a foto da garota da noite de alguma forma borrada, mas acho invasivo demais. Não quero revelar a sua identidade para o mundo. Ela não merece. Ninguém merece. Quem ler e identificar os personagens é porque os conhece. Mas quem os conhece não lê este blog, via de regra. Acho isso ótimo, excelente. Prefiro me revelar a desconhecidos mil vezes que a um(a) conhecido(a). Se alguém me lê, não comenta. Que as coisas continuem como estão.

21h57. Pronto. Tirei três fotos de detalhes do quarto. Está de ótimo tamanho. Meu primo-irmão chegou. O vi de relance. Acho que era ele. E não me pareceu muito animado, embora possa estar redondamente enganado. Não sei ele, mas eu vou jogar quando minha tia deixar a TV. Se ele quiser, será um prazer acompanhá-lo nessa jornada. Mas acho que não gostou muito do jogo. Pronto, o e-mail com as fotos foi enviado para mim mesmo. É como transfiro fotos do celular para o computador. Ainda contente com a qualidade absurdamente melhor da câmera desse aparelho em relação ao anterior. Acho até as fotos que tiro bonitas. Hahaha. Estou com preguiça de salvá-las no meu computador agora. E estou meio sem jeito de ir falar com o meu primo-irmão, acho que estaria encharcando o cara, mal chega e eu já vou lá lhe roubar a paz. Vou dar um tempo aqui. Gosto muito do meu primo-irmão, é uma pessoa do bem, de alma boa, antes mais ingênuo, hoje mais maduro. É uma mudança benéfica para ele. Ainda tem a necessidade de autoafirmação relativamente exacerbada. Eu não tenho necessidade autoafirmação em sociedade. Afirmo tudo o que quero aqui. Acho que isso me esvazia um pouco para o contato social. Também não amealho informações sobre os acontecimentos cotidianos para ter assunto para tratar. Hoje vou indubitavelmente tomar banho. Me sinto pegajoso. O calor está pegando esses dias. Minha tia supõe chuva durante o carnaval por causa do abafado. Se for mesmo a Olinda no sábado – um esboço de ideia ainda, leva muito para se transformar em vontade firmada –, acho que prefiro o sol à chuva. Se bem que não faz muita diferença. Só de pensar no que vou passar para ficar longe do meu quarto-ilha, acho que não compensa. Meu ombro direito dói. Está com algum problema que suponho que, se diagnosticado, me obrigaria a ficar sem escrever. Acho que deve ser alguma lesão por esforço repetitivo. Ficar sem escrever. Seria o impensável para mim. Sobre Olinda, vamos primeiro ver como me saio no Sai Dessa Noia. Depois pensamos em Olinda. Estou com uma ideia me azucrinando aqui. Xô, ideia chata. Tenho algumas ideias me passando pela cabeça, mas não acho nenhuma válida. É, nenhuma é válida. Foi meu primo-irmão que chegou mesmo.

22h23. Há um gato aqui meio rejeitado pela família, chama-se Pan, meu primo-irmão que está agora à janela do meu quarto digitando no celular, disse que vai tentar pegar umas luas do Mario dentro em breve. Não vou contar de sua saída porque não cabe aqui, mas ele disse que já é carnaval no Recife Antigo. É incrível a sede desse povo pelo carnaval. Não bastam cinco dias, é preciso um mês de esbórnia. Que seja, se é assim que perseguem a felicidade, nada mais justo que a cidade se adequar à demanda. Ou as cidades. Aposto que Olinda é só folia também. Estou pensando melhor sobre essa ida a Olinda e todos os transtornos envolvido e não acho realmente uma grande ideia. Façamos assim, se meu amigo jurista concordar em ir na casa do meu primo urbano durante o carnaval, eu não vou a Olinda. E mesmo se ele não for acho que não vou a Olinda. Me basta o Sai Dessa Noia, eu acho. Vou conversar com o meu primo-irmão sobre os seus planos. Para o Recife Antigo, confesso que não estou com vontade alguma de ir. Acho chato. Não houve uma vez que tenha ido que gostei. Não que eu me recorde. Durante o carnaval, digo. Amava ir ao Recife Antigo nos tempos áureos. Era o melhor point da cidade, na minha opinião. Hoje nem chega a ser uma pálida sombra do que era. É um mero vestígio, uma reminiscência fugidia, um lugar decadente e pouco frequentado. Quando não é carnaval, digo. É certo que algumas vezes ainda rolam alguns shows algumas ações culturais, mas, via de regra é um lugar desanimado e meio deprimente. Ainda bem que fui afortunado de experimentá-lo nos seus tempos de glória. Deve ter havido um projeto de revitalização do lugar há uns vinte anos e por isso deu-se o boom e o Recife Antigo se tornou o lugar alternativo mais quente da cidade. Se você me perguntar qual é o lugar alternativo mais quente da cidade hoje eu não saberia dizer. Não há nada que se compare ao Recife Antigo de vinte anos atrás. Não que eu conheça. Não que eu tenha ido com o meu primo-irmão, meu grande companheiro de farras. Farras por assim dizer, pois não bebo, então não posso considerar farra. Sou uma pessoa bastante desanimada sem a bebida. Se meu primo-irmão me abandonar, se por acaso não quiser mais a minha companhia, eu não sei o que vai ser da minha vida social. É, é uma grande responsabilidade para deixar nas costas dele. É melhor que ele nem saiba disso, embora acho que isso já tenha ficado óbvio para nós dois.


Outro detalhe pitoresco do quarto. Estou ficando sem temas para as fotos.



22h57. Meu amigo jurista confirmou a sessão de Switch na quarta. Comuniquei ao meu primo urbano que ainda não se manifestou ou viu a mensagem. Ah, o Switch é bivolt ou já teria queimado a fonte. Me esqueci completamente de confirmar esse detalhe antes de ligar ontem. Poderia ter queimado o bichinho. Ainda bem que tudo correu bem e meu amigo jurista estava correto.

23h07. Na sala, meus primos e minha tia, na TV um baile carnavalesco. Aqui no computador, converso com o meu amigo jurista e um amigo que foi minha primeira dupla de criação. E única, eu acho, pois depois assumi os dois papéis (redator/diretor de arte) dos meus trabalhos. O meu amigo diretor de arte conta as desventuras de sua vida profissional e a dificuldade que tem para sobreviver de layout hoje em dia. Diz que empobreceu. Acredito. O mar não está para peixe na publicidade.

23h30. Talvez meu primo urbano não possa quarta-feira. Pediu que eu criasse um grupo de WhatsApp com nós três para debatermos amanhã os detalhes do encontro. Criei. Não foi difícil a interface do WhatsApp é bem amigável e intuitiva, gostei. Vou tomar um café e fumar um cigarro na sala. E pedir uma carteira de cigarro a titia, pois a minha está quase acabando.

23h39. Fui na sala, peguei o café, vi um pouco do baile que não é em Recife, é no Rio, e não tive coragem de pedir o cigarro a titia. Preciso pedir antes de ela ir dormir. Espero que ela não encrespe. Lembrar de tomar banho.

23h44. Meu amigo jurista e meu primo urbano responderam no grupo que criei, “Nintendo Switch”. Meu amigo jurista disse que leva o console e os controles. Eu levo o resto (dock, grip, cabo HDMI e fonte). Estou animado. Mais ainda porque não precisarei ir para Olinda no sábado. Hahaha. Acho que dentro em breve meu primo-irmão vai jogar aí na sala ou vai dormir, não sei.

23h51. Titia me deu toalha e sabonete para eu tomar banho. Ainda vai tirar o gelo para mim. Ela é nota mil. Meu primo-irmão vai dormir. Vai só dar uma zapeada pelos canais antes de se retirar. Vou aproveitar e sentar um pouco com ele lá para indagar sobre o sábado em Olinda. A ideia ainda me ronda como um urubu.

23h55. Eu fico alguns minutos na sala, mas não tenho paciência para a televisão. Incrível. Coisa mais chata. Também não vou interromper o meu primo-irmão para indagar sobre carnaval. O cara trabalhou hoje, malhou, saiu, voltou, merece relaxar. Acho que vou me aventurar pelo Desabafos do Vate. Faz certo tempo que não apareço por lá. Mas não agora. Quando a noite for minha. A madrugada em verdade, pois já são 23h59. Foi um dia bom de ser vivido hoje. Gostei. Obrigado existência. Acho que o fluxo constante de café ajudou. Deve estar acabando. Em breve passarei à Coca. Tenho vontade de jogar Mario, mas acho que vou para o Desabafos do Vate mesmo. Não sei. Poderia pelo menos aprender como é que faz para botar a TV no game. Deve ser fácil de deduzir, se realmente me aventurar pelo jogo. Acho que não vou. Deixo para amanhã – hoje já, 0h02 – quando acordar. Se bem que hoje quero dar uma esticada nas ideias, ir até mais tarde. O Desabafos do Vate é o lugar para se estar. Lá sou plenamente livre. Não há leitores, não há nenhum tipo de censura, posso deixar os pensamentos correrem mais soltos do que aqui. Agora que me veio. Eu nunca pus uma foto no Desabafos do Vate, preciso pensar em algo para fotografar e botar lá. Tenho ideias. Se quiser posso até tirar uma foto do meu pênis e postar! Hahaha. Mas sério, é livre assim que me sinto lá. Preciso às vezes de um lugar para soltar todas as amarras. E não, não tirarei foto do que disse. Ou tirarei, sei lá. É uma ideia que me faz sentir livre, libertino, controverso, tarado e o que mais eu quiser ser. É onde deixo todas as intimidades mais obscuras se manifestarem. É um exercício ótimo, eu me divirto à beça. Não sei por que não escrevo mais lá. Acho que porque julgo que aqui seja o meu ofício, onde me preocupo um mínimo com a forma e o conteúdo. Lá não me preocupo com nada, aspas, pontuação, regras, deixo tudo de lado ou não, depende do meu astral no momento. É bom para descomprimir o ego. É um lugar só meu. De mim para mim. Meu playground onde posso brincar como quiser. Lá realmente eu posso tudo. Ah, esse não é mais o slogan desse blog, eu mudei o seu nome no header, agora que lembrei. Agora está o nome da obra que eu sempre quis conceber, mas que nunca saiu até que percebi que a minha grande obra é essa, são esses textos. Isso é o que de mim vai ficar para posteridade, enquanto a Google mantiver esse espaço online. Isso é minha autobiografia em tempo real. Outro bom nome de blog. Vou tentar registrar.

0h40. Registrei. Mais um para a coleção. Nossa, já se vão oito páginas de Word. Fui especialmente prolífico hoje. O que mais me incomoda em produzir esse volume de texto, além de os leitores desistirem de ler, é revisar tudo. E sempre passa erro porque não sei o português necessário e porque sou desatento. Mas faço o meu melhor. Não é muito, mas é o que temos a oferecer. Acho que vou para o Desabafos do Vate.

8h54. Não rendeu nada o Desabafos do Vate. Lutei, lutei, lutei para elaborar um conto baseado nas minhas atuais experiências com videogame. Não consegui lapidar em algo crível. Ainda.

20h10. Dormi o dia quase todo e ainda estou ressabiado da virada de noite que eu dei. Não liguei para Maria, pois achei muito tarde o horário em que acordei. Vou postar.

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