Detalhe pitoresco do quarto em que durmo na casa da minha tia |
15h16. Minha mãe me ligou hoje e estou liberado para o Sai
Dessa Noia. Massa. Titia fez café. Massa. Dia tranquilo e favorável. Meu primo-irmão
já chegou do trabalho, mas saiu pelo que entendi para se exercitar. Massa. Acho
que vou encarar um Mario Odyssey já que ninguém está assistindo TV. Massa.
17h47. Joguei o Mario Odyssey até agora. Que delícia. Muito
bom o jogo. Muito maravilhoso. Tudo o que o Zelda não foi, toda a promessa não
concretizada, o Mario é. E ainda mais. Superou todas as minhas expectativas. O
nível de dificuldade até agora é perfeito. Tem alguns trechos mais desafiantes,
morre-se, mas não desestimula, não dá vontade de desistir, pelo contrário, dá
vontade de tentar de novo e de novo. Exceto os mestres, mas eu sou suspeito,
odeio mestres. Acho que só falta derrotar um. E, se não derroto, é por pura
incompetência minha. Tomei muito café, o que foi ótimo. Vou até ver se ainda
tem para eu pegar mais um pouquinho. Momento.
17h59. Tinha a quantidade certinha para uma xícara. Massa.
Hoje o dia tem sido superiormente interessante. Percebo, pelo receio que estava
de jogar Mario – e me diverti muito jogando, como narrei –, que os demais
receios talvez sejam igualmente infundados. É encarar para ver. Estou meio sem
inspiração para escrever agora. Acho que ontem me disse demais já. Espero que
não tenham ficado publicadas na minha página de Facebook nenhuma das postagens
de divulgação que eu fiz. Não queria que o pessoal do Sai Dessa Noia soubesse
dos meus receios em relação a reencontrar os amigos no bloco. Agora o receio
está menor do que ontem, então não vou escrever sobre ele para não atrair
ruminações negativas a esse respeito. Sobre o que escrever?
18h24. Vi que uma senhora de idade avançada, a julgar pela
foto de perfil, curtiu o meu texto no Facebook. Isso me surpreendeu, é
certamente uma pessoa com um português muito melhor que o meu e com uma
maturidade muito maior que a minha, adulto infantilizado que sou. Perguntei a
ela nos comentários o que havia a agradado no texto. Um texto cujo o trecho
final só trata de videogames. É muito curioso isso. Espero que ela responda.
Vou torcer. Titia já prepara o jantar, mas confesso que não estou com a mínima
fome. Um efeito colateral evidente dos remédios que tomo são as minhas mãos
trêmulas. Vou tentar tomar banho hoje. Não tomei ontem. Meu primo-irmão vai
sair hoje, aposto que alguma garota. Não me chamou nem nada. Só pode ser.
Tomara que alcance o que anseie e se divirta fazendo isso. Acho que a minha
prima dá aula hoje, estava arrumada para sair. Ela ao que me parece tomou gosto
pela vida acadêmica. Sem dúvida é uma vida menos corrida, selvagem e
estressante que a do mercado publicitário. E talvez até mais bem remunerada.
Conheço vários amigos que optaram pela academia em detrimento a trabalhar em
agências. Na minha idade atual, seria praticamente impossível reingressar no
mercado. Não que eu queira, ter que fazer seria o meu maior pesadelo, deus me
livre. Deus já me livrou, por isso me encontro na situação em que estou, em vez
de estar redigindo textos para clientes que acham que entendem de publicidade
(todo mundo acha que entende de publicidade, é peculiar da profissão), estou escrevendo
de mim para mim. Eu sou o meu próprio cliente, sou eu quem aprova os textos,
quem faz os briefings – sempre tema livre, o que der na telha – e quem publica.
Pena que, casa de ferreiro, espeto de pau, não sei me vender. Nunca conseguirei
alcançar um grande público, simplesmente não tenho ideia de como fazer isso e
não me interessa desvirtuar o meu produto em prol de mais leitores, seria como
ter o público como cliente, direcionando e pressionando o meu ofício. Prefiro
então ser lido por poucos e fazer tudo do meu jeito. É mais gostoso assim.
Aliás, é a única forma viável para mim. Claro que seria supimpa ter cem,
duzentos, mil leitores; claro que seria motivo de uma felicidade sem tamanho
ser contatado por uma editora interessada em publicar uma seleção dos meus
posts, mas sei que não é o caso e provavelmente nunca será. Viverei sem essas
conquistas tendo conquistado o que mais importa para mim, a liberdade de escrever
do jeito que eu quiser, de tecer esse monólogo mudo, e preencher os meus dias e
noites com palavras tão minhas quanto podem ser. Minha relação com a escrita é
de uma paixão incondicional, arrebatadora, até catártica algumas vezes. Os
momentos de catarse, quando as palavras simplesmente vão fluindo
ininterruptamente num fluxo constante no qual nem preciso escolhê-las, já me
vêm escolhidas aos dedos, é a melhor parte da minha profissão de fé. É algo quase
febril. É quase orgástico. É tão divertido quanto o Mario Odyssey. Acho que
essa é a melhor comparação que posso traçar. O que esse jogo significa para
mim, você não faz ideia. Eu havia abandonado os videogames, mas o jogo me tocou
de maneira que não me sai da cabeça. Raros são os jogos que me põem a pensar
neles quando não os estou jogando. É uma relação que desenvolvo com o jogo que
se assemelha muito à paixão, visto que, quando distante do objeto, sinto falta,
penso nele, sinto vontade de voltar àquela realidade, tal qual se sente o
desejo por uma garota amada e se sente a saudade boa (aquela que eu sei que vai
ser saciada, que tem reencontro certo e apaixonado). A saudade ruim, é a
saudade dos mortos. É a saudade que não encontra fim senão no esquecimento
gradativo concedido pelo tempo. Não sei como singrarei a vida quando minha mãe
se for. Não sei com que pedras conseguirei fechar o buraco que será sua eterna
ausência. E olhe que não sou muito de luto, eu compreendo o ciclo da vida e
aceito a sua finitude. Lidei bem com a morte do Imperador da Casqueira e do meu
pai. Mas a morte da minha mãe pelo seu esforço de onipresença na minha vida, o
que às vezes é um saco, a torna uma parte tão integral da minha existência que
será como arrancar um pedaço enorme da minha alma, tanto bom quanto ruim, mas a
dimensão do rombo é que vai ser quase intolerável. Ela se disse meio confusa
hoje ao telefone e isso me preocupa deveras. Espero com todas as forças que
isso seja efeito colateral do remédio contra o câncer e não a idade corroendo o
seu juízo, que não seja uma dessas doenças que roubam do indivíduo a sua
condição de indivíduo, que esvaziam o ser e deixam apenas o corpo, alheio à
realidade, oco, como um vaso sem terra ou flor. Vi acontecer com a minha avó
materna e vi acontecer com o meu avô paterno, embora este ainda persistiu
dotado de alguma personalidade até o corpo resolver parar de viver. A velhice é
algo que me aterroriza. Seria muito mais suportável envelhecer com uma
companheira, mas tendo em vista quem eu sou hoje na esfera pessoal e social e a
altura do campeonato em que estou, sem mencionar os meus elevados padrões
estéticos, acho altamente improvável que alguém que julgue interessante se
interesse por mim também. A garota da noite foi quem nesse interlúdio de mais
de uma década se me afigurou mais real, mais tangível, porque mui bela e porque
parte (distante, mas parte mesmo assim) do meu círculo social, não uma total
desconhecida. Infelizmente e entretanto, não parece ter o mínimo interesse por
mim. Tentei me comunicar com ela pela rede social, mas isso se provou
infrutífero porque ela pouco usa o Facebook e porque sempre lacônica, distante
e fria em relação a mim. Se demorou dez anos para eu encontrar alguém
remotamente possível, quanto levará para eu encontrar outra? Por algum motivo,
provavelmente a falta de opção, ainda mantenho as minhas fichas apostadas na
garota da noite. Sei que a mesa de apostas do destino ficará com tais fichas e
eu continuarei de mãos e boca e corpo e alma abanando. Mas é melhor esse frágil
fiapo de esperança que o coração totalmente vazio. Se bem que me encontro meio
indisponível para relacionamentos no momento, ou me engano pensando assim para
justificar a minha solidão. Aí começa o filme de ficção na minha cabeça e
fantasio que no Sai Dessa Noia um milagre se dará e encontrarei entre as foliãs
o meu par, o que não aconteceu em nenhum dos anos que participei do bloco. Até
porque não sou de abordar desconhecidas, acho chato, um incômodo para elas. E
morro de vergonha, eis a verdade. Indo mais fundo, eu não me julgo uma figura
válida ou sedutora ou atraente, me faltam segurança, autoconfiança e autoestima
para que a abordagem tenha alguma possibilidade de ser um sucesso. Em uma
palavra, estou fadado à solidão pelo abismo que cavei com os meus pés, como
diria o poeta. Mas sabe-se lá. Gosto de alimentar esperanças. Não custam nada e
emprestam algum ânimo à minha existência. Poderia convidar a garota da noite
para o Sai Dessa Noia. Eita, não seria de bom tom, infelizmente, ela está ou
estava ficando com um amigo meu, ele poderia me ter por fura-olho. Não sei em
que pé está esse enlace, então deixa esse rolo se desenrolar. Também não
saberia o que fazer se a convidasse e ela aceitasse. Hahaha. Só sendo mesmo. A
garota da noite aceitar um convite meu quando está comendo o cara mais bonito
da turma, na opinião inclusive dos homens da dita turma. Eu incluso. Não queria
ser lindo como ele, pois teria que dar muitos foras na minha vida, coisa que eu
teria extrema dificuldade em fazer. Mas não ficaria por caridade com alguém que
não tivesse nada a ver comigo. Já fiquei com alguém por caridade e por tempo
demais. Foi péssimo. Ainda bem que não sou lindo. Bastou-me passar por isso uma
vez só. Não sei por que me lembrei de uma sessão em grupo que participei com a
Gatinha, antes de começarmos a namorar, em que era o único homem e a tarefa era
tirar a almofada do outro, arrancar das mãos mesmo, com força, acho que era
alguma dinâmica para botar a agressividade reprimida para fora. Obviamente que
eu sendo homem, tinha muito mais força que as mulheres e nenhuma conseguiu
arrancar a minha almofada, a não ser a Gatinha que, constatando que à força
seria impossível ter a minha almofada, usou da sedução e persuasão me pedindo a
almofada de um jeito bem carinhoso. Eu, que estava interessado nela desde que a
vi pela primeira vez na lanchonete do andar da terapia, cedi a almofada a ela.
Sou um bicho besta mesmo. Mas para mim me valia mais um agrado a uma pessoa que
desejava do que a posse temporária de uma almofada do consultório. Achei a
troca justa, mas se se desse outra dinâmica semelhante nos dias de hoje, não
cederia e manteria a posse da almofada. Não sei bem por quê. Acho que por ter
um pouco mais de dignidade e respeito próprio. Estar mais duro, menos
manipulável. Menos besta. Me sinto tão sério e pensativo nos dias que correm.
Já fui um sujeito bem-humorado, de elaborar piadas e tiradas engraçadas, de
conversar com todo mundo, de ser doce e gentil. Um cara extrovertido e
engraçado. Há ainda escondido dentro de mim alguém doce e gentil, bem-humorado
inclusive, mas há uma camada de seriedade e introspecção dura como pedra envolvendo
essa parte macia como a língua da garota da noite. Engraçado, estou escrevendo
imaginando que a senhora que curtiu meu post anterior vai ler. É estranho e até
divertido escrever para alguém que não para mim mesmo. Não faz tanta diferença,
mas eu acho que faz alguma.
20h27. Estou com vontade de caçar power moons no Mario Odyssey. Agora só depois da novela das nove.
Mas tive uma boa dose do jogo hoje. Joguei mais de duas horas, foi
divertidíssimo. Acho que, da mesma forma que eu não captei a essência do Zelda
Breath Of The Wild, minha prima não captou a essência do Mario Odyssey. Como
acho que o meu primo também não captou e provavelmente não vai captar. Me
apiedo deles, pois, se percebessem o jogo como o percebo, sentiriam uma
sensação de êxtase ímpar. Ter sido um gamer
a vida quase toda valeu a pena para culminar no Mario Odyssey como o percebo.
Novamente repito, o sentimento que tenho é de que a Nintendo fez o jogo para me
agradar, se eu fosse pedir a deus para fazer um jogo para mim, ele não seria muito
diferente do Mario Odyssey. Ele foi além dos meus sonhos mais ousados. É o
ápice da minha vida como gamer. Acho que nenhum jogo bate ele. Ou baterá. Acho
que encontrei o jogo da minha vida. É uma pena que uma vez descobertas todas as
luas o jogo perca o sentido de ser, pois a graça está em explorar todas as
possibilidades para descobrir as luas escondidas pelos mundos. Uma vez que se
sabe onde elas estão não há porque jogar de novo. Gosto de explorar, achar
segredos, talvez isso seja uma reminiscência da infância quando mamãe, na
véspera da Páscoa, escondia os ovos de chocolate para que procurássemos quando
acordássemos. Essa caça ao tesouro delicioso era tremendamente excitante e
divertida. Acho que é por isso que gosto tanto do Mario Odyssey, porque me
lembra essa doce, inclusive literalmente, parte da minha infância. Sou muito
grato a mamãe por ter feito isso por nós. E ela escondia os ovos bem. Não era
nada muito óbvio, não. Isso tornava a coisa ainda mais aventuresca. Era o tal
senso de exploração e recompensa que eu buscava em Zelda e não foi isso que o
jogo ofereceu. Interessante eu encontrar no Mario o que eu esperava do Zelda.
Num grau de diversão e numa quantidade muito maior que qualquer jogo do Zelda
que já joguei. É absolutamente perfeito para mim. É como ter 800 ovos de páscoa
para procurar. Ou mais. Desde os mais óbvios até os mais obscuros. A velocidade
com que o jogo recompensa o jogador é extasiante. Como o meu amigo jurista
muito bem colocou (mais uma vez), é um jogo no qual a pessoa se diverte jogando
cinco minutos ou cinco horas. Ou seja, perfeito para um console que torna-se
portátil e que pode ser jogado num curto espaço de tempo, como numa travessia
de ônibus ou na hora do recreio. Acho que levaram isso em consideração quando
desenvolveram o jogo e quem ganhou fui eu, que só jogo na TV e tenho uma
recompensa a cada cinco, dez minutos. Se muito meia-hora, mas nunca chega a
tanto. Acho que chegará quando restarem apenas as luas mais difíceis. Estou
voltando no jogo agora para desbravar o mais integralmente que posso todos os
mundos, um de cada vez. Comecei do segundo, pois já me aventurei pelo primeiro há
algum tempo e não me diverti muito, ele tinha luas muito difíceis para a minha
habilidade de então. O deixarei como próximo a ser explorado. Acho que estou preparado
para encará-lo de forma mais aprazível agora que passei por quase todos os
mundos. O bicho vai pegar no mundo da lava, para mim o mais difícil e chatinho
de todos. Tem outro que não me apeteceu muito, mas não vou dar spoilers aqui. O da lava é sempre
esperado num jogo de Mario. E geralmente é um dos mais difíceis. O outro chatinho
é mais peculiar. Então não direi o seu tema. Eita, já são 21h05! Nossa, o tempo
voou. Mas continuo, mesmo escrevendo sobre videogames, pensando na minha
leitora mais velha. Não sei por que, acho que porque acho que ela tenha a
aparência de ser muito culta e isso me desafia a escrever melhor. Não melhorou
muito, mas acho que está mais bem escrito do que o que ela leu. Não sei aferir
isso direito e não estou tão preocupado assim com o seu julgamento. Não quero
perder o prazer pelas palavras que advém da liberdade de dizê-las como me
convier, como disse lá em cima. Mas me esmerar um pouco mais sempre é válido e
acrescenta uma camada de desafio e diversão ao ato de escrever. Gamification, em uma palavra. Para
finalizar, pelo menos por ora a minha louvação a Mario Odyssey, devo confessar
que o software que mais me entretém e que acho o mais divertido de todos é o
Microsoft Word. Hahaha.
21h16. A realidade me obriga a falar uma vez mais sobre
videogames. Meu primo urbano quer marcar comigo e com o meu amigo jurista uma
sessão de Switch na casa dele na segunda ou quarta de carnaval. Mandei o
convite para o meu amigo jurista e espero resposta. Pronto, sem videogames por
uma hora agora. Por sinal, se é novela das nove, isso quer dizer que já-já deve
rolar e já-já deve acabar e eu vou poder jogar. Uêba! Mas vou falar de outra
coisa. Minha mãe me ligou e disse que tudo está correndo bem por lá, o que é um
grande alívio para mim. Hoje foi o grande dia e deu tudo certo. Não sei se ela já
levou as amostras dos alunos para analisar na USP. Acho que também não fez
ainda o seu exame de saúde. Ou fez ontem. Isso eu não entendi bem. De qualquer
forma, todos bem, todos felizes aqui e lá. Ótimo. Ela está impressionada com a
qualidade dos serviços oferecidos em São Paulo, achou muito superiores a
qualquer coisa que vê por aqui. Somos provincianos quando comparados a São
Paulo, pelo menos ao local onde está hospedada, Rua Augusta. Mas não sou
sociólogo para afirmar se somos provincianos ou não. Achei que fui bem atendido
no aeroporto de São Paulo quando voltamos dos EUA, pelo menos. Troco certinho,
moças educadas, produto caro. Vou pegar um café para fumar um cigarro.
21h29. Peguei um café e troquei uma ideia com a minha tia-mãe
sobre a novela das nove. Tem uma premissa baseada na tal lei do retorno, aqui
se faz, aqui se paga, o efeito das suas ações, boas ou más, voltam para você da
mesma forma. Gostaria de saber como a lei do retorno se aplica a mim que não
faço quase nada a ninguém, visto o meu cotidiano. Acho que é por isso que minha
vida está emperrada. Hahaha. Não acredito nessas crendices. Embora ache que as
minhas interações reverberam na vida alheia, mas não sei aferir de que forma,
visto que minhas interações não são boas nem más, apenas medíocres. Nossa. Como
é bom fumar tomando um cafezinho. Grande e simples prazer. Sei que não faz bem
ao corpo, mas faz bem a alma. Não cuido bem nem de um nem da outra, mas presto
muito mais atenção à alma que ao corpo. Senão não escreveria, estaria numa
academia admirando meu bíceps hipertrofiado no espelho e me amando por causa
disso. Não faz o meu perfil. Na verdade, não consigo entender esse tipo de
narcisismo. Aliás, entender, eu entendo, é a recompensa por um esforço que não
estou disposto a operar. Ostento um buchinho, ou buchão, se comparado aos
sarados e isso me incomoda, me amaria mais se não o possuísse. Mas não tenho a
mínima disposição para extirpá-lo. Só se for me privando de comer, mas indo
para uma academia, nunca. Não sinto o prazer neuroquímico que dizem advir da
malhação. Logo, a recompensa maior que seria um estado de consciência
superiormente interessante não ocorre comigo. Talvez se ocorresse, eu até
buscasse os exercícios para obtê-lo. Preciso, entretanto, voltar a considerar
andar. Mas estou com uma preguiça colossal para fazer isso. Posso começar aos
pouquinhos. Ficar em pé o dia todo no Sai Dessa Noia já é um bom começo. Já vai
amaciando o meu tênis novo. Preciso ligar para Maria. Nunca mais o fiz. Estou
devendo muito isso. Ver se lembro de ligar amanhã. Certamente vou lembrar pois
precisarei revisar isso para postar. E não tirei nenhuma foto ainda para
ilustrar esse post. Pensei agora em colocar a foto da garota da noite de alguma
forma borrada, mas acho invasivo demais. Não quero revelar a sua identidade
para o mundo. Ela não merece. Ninguém merece. Quem ler e identificar os
personagens é porque os conhece. Mas quem os conhece não lê este blog, via de
regra. Acho isso ótimo, excelente. Prefiro me revelar a desconhecidos mil vezes
que a um(a) conhecido(a). Se alguém me lê, não comenta. Que as coisas continuem
como estão.
21h57. Pronto. Tirei três fotos de detalhes do quarto. Está
de ótimo tamanho. Meu primo-irmão chegou. O vi de relance. Acho que era ele. E
não me pareceu muito animado, embora possa estar redondamente enganado. Não sei
ele, mas eu vou jogar quando minha tia deixar a TV. Se ele quiser, será um
prazer acompanhá-lo nessa jornada. Mas acho que não gostou muito do jogo.
Pronto, o e-mail com as fotos foi enviado para mim mesmo. É como transfiro
fotos do celular para o computador. Ainda contente com a qualidade absurdamente
melhor da câmera desse aparelho em relação ao anterior. Acho até as fotos que
tiro bonitas. Hahaha. Estou com preguiça de salvá-las no meu computador agora.
E estou meio sem jeito de ir falar com o meu primo-irmão, acho que estaria
encharcando o cara, mal chega e eu já vou lá lhe roubar a paz. Vou dar um tempo
aqui. Gosto muito do meu primo-irmão, é uma pessoa do bem, de alma boa, antes
mais ingênuo, hoje mais maduro. É uma mudança benéfica para ele. Ainda tem a
necessidade de autoafirmação relativamente exacerbada. Eu não tenho necessidade
autoafirmação em sociedade. Afirmo tudo o que quero aqui. Acho que isso me
esvazia um pouco para o contato social. Também não amealho informações sobre os
acontecimentos cotidianos para ter assunto para tratar. Hoje vou
indubitavelmente tomar banho. Me sinto pegajoso. O calor está pegando esses
dias. Minha tia supõe chuva durante o carnaval por causa do abafado. Se for
mesmo a Olinda no sábado – um esboço de ideia ainda, leva muito para se
transformar em vontade firmada –, acho que prefiro o sol à chuva. Se bem que
não faz muita diferença. Só de pensar no que vou passar para ficar longe do meu
quarto-ilha, acho que não compensa. Meu ombro direito dói. Está com algum
problema que suponho que, se diagnosticado, me obrigaria a ficar sem escrever. Acho
que deve ser alguma lesão por esforço repetitivo. Ficar sem escrever. Seria o
impensável para mim. Sobre Olinda, vamos primeiro ver como me saio no Sai Dessa
Noia. Depois pensamos em Olinda. Estou com uma ideia me azucrinando aqui. Xô,
ideia chata. Tenho algumas ideias me passando pela cabeça, mas não acho nenhuma
válida. É, nenhuma é válida. Foi meu primo-irmão que chegou mesmo.
22h23. Há um gato aqui meio rejeitado pela família, chama-se
Pan, meu primo-irmão que está agora à janela do meu quarto digitando no
celular, disse que vai tentar pegar umas luas do Mario dentro em breve. Não vou
contar de sua saída porque não cabe aqui, mas ele disse que já é carnaval no
Recife Antigo. É incrível a sede desse povo pelo carnaval. Não bastam cinco
dias, é preciso um mês de esbórnia. Que seja, se é assim que perseguem a
felicidade, nada mais justo que a cidade se adequar à demanda. Ou as cidades.
Aposto que Olinda é só folia também. Estou pensando melhor sobre essa ida a
Olinda e todos os transtornos envolvido e não acho realmente uma grande ideia.
Façamos assim, se meu amigo jurista concordar em ir na casa do meu primo urbano
durante o carnaval, eu não vou a Olinda. E mesmo se ele não for acho que não
vou a Olinda. Me basta o Sai Dessa Noia, eu acho. Vou conversar com o meu
primo-irmão sobre os seus planos. Para o Recife Antigo, confesso que não estou
com vontade alguma de ir. Acho chato. Não houve uma vez que tenha ido que
gostei. Não que eu me recorde. Durante o carnaval, digo. Amava ir ao Recife
Antigo nos tempos áureos. Era o melhor point da cidade, na minha opinião. Hoje
nem chega a ser uma pálida sombra do que era. É um mero vestígio, uma reminiscência
fugidia, um lugar decadente e pouco frequentado. Quando não é carnaval, digo. É
certo que algumas vezes ainda rolam alguns shows algumas ações culturais, mas,
via de regra é um lugar desanimado e meio deprimente. Ainda bem que fui
afortunado de experimentá-lo nos seus tempos de glória. Deve ter havido um
projeto de revitalização do lugar há uns vinte anos e por isso deu-se o boom e
o Recife Antigo se tornou o lugar alternativo mais quente da cidade. Se você me
perguntar qual é o lugar alternativo mais quente da cidade hoje eu não saberia
dizer. Não há nada que se compare ao Recife Antigo de vinte anos atrás. Não que
eu conheça. Não que eu tenha ido com o meu primo-irmão, meu grande companheiro
de farras. Farras por assim dizer, pois não bebo, então não posso considerar
farra. Sou uma pessoa bastante desanimada sem a bebida. Se meu primo-irmão me
abandonar, se por acaso não quiser mais a minha companhia, eu não sei o que vai
ser da minha vida social. É, é uma grande responsabilidade para deixar nas
costas dele. É melhor que ele nem saiba disso, embora acho que isso já tenha
ficado óbvio para nós dois.
Outro detalhe pitoresco do quarto. Estou ficando sem temas para as fotos. |
22h57. Meu amigo jurista confirmou a sessão de Switch na
quarta. Comuniquei ao meu primo urbano que ainda não se manifestou ou viu a
mensagem. Ah, o Switch é bivolt ou já teria queimado a fonte. Me esqueci
completamente de confirmar esse detalhe antes de ligar ontem. Poderia ter
queimado o bichinho. Ainda bem que tudo correu bem e meu amigo jurista estava
correto.
23h07. Na sala, meus primos e minha tia, na TV um baile
carnavalesco. Aqui no computador, converso com o meu amigo jurista e um amigo
que foi minha primeira dupla de criação. E única, eu acho, pois depois assumi
os dois papéis (redator/diretor de arte) dos meus trabalhos. O meu amigo
diretor de arte conta as desventuras de sua vida profissional e a dificuldade
que tem para sobreviver de layout hoje em dia. Diz que empobreceu. Acredito. O
mar não está para peixe na publicidade.
23h30. Talvez meu primo urbano não possa quarta-feira. Pediu
que eu criasse um grupo de WhatsApp com nós três para debatermos amanhã os
detalhes do encontro. Criei. Não foi difícil a interface do WhatsApp é bem
amigável e intuitiva, gostei. Vou tomar um café e fumar um cigarro na sala. E
pedir uma carteira de cigarro a titia, pois a minha está quase acabando.
23h39. Fui na sala, peguei o café, vi um pouco do baile que
não é em Recife, é no Rio, e não tive coragem de pedir o cigarro a titia.
Preciso pedir antes de ela ir dormir. Espero que ela não encrespe. Lembrar de
tomar banho.
23h44. Meu amigo jurista e meu primo urbano responderam no
grupo que criei, “Nintendo Switch”. Meu amigo jurista disse que leva o console
e os controles. Eu levo o resto (dock, grip, cabo HDMI e fonte). Estou animado.
Mais ainda porque não precisarei ir para Olinda no sábado. Hahaha. Acho que
dentro em breve meu primo-irmão vai jogar aí na sala ou vai dormir, não sei.
23h51. Titia me deu toalha e sabonete para eu tomar banho.
Ainda vai tirar o gelo para mim. Ela é nota mil. Meu primo-irmão vai dormir.
Vai só dar uma zapeada pelos canais antes de se retirar. Vou aproveitar e
sentar um pouco com ele lá para indagar sobre o sábado em Olinda. A ideia ainda
me ronda como um urubu.
23h55. Eu fico alguns minutos na sala, mas não tenho
paciência para a televisão. Incrível. Coisa mais chata. Também não vou
interromper o meu primo-irmão para indagar sobre carnaval. O cara trabalhou
hoje, malhou, saiu, voltou, merece relaxar. Acho que vou me aventurar pelo
Desabafos do Vate. Faz certo tempo que não apareço por lá. Mas não agora.
Quando a noite for minha. A madrugada em verdade, pois já são 23h59. Foi um dia
bom de ser vivido hoje. Gostei. Obrigado existência. Acho que o fluxo constante
de café ajudou. Deve estar acabando. Em breve passarei à Coca. Tenho vontade de
jogar Mario, mas acho que vou para o Desabafos do Vate mesmo. Não sei. Poderia
pelo menos aprender como é que faz para botar a TV no game. Deve ser fácil de
deduzir, se realmente me aventurar pelo jogo. Acho que não vou. Deixo para
amanhã – hoje já, 0h02 – quando acordar. Se bem que hoje quero dar uma esticada
nas ideias, ir até mais tarde. O Desabafos do Vate é o lugar para se estar. Lá
sou plenamente livre. Não há leitores, não há nenhum tipo de censura, posso
deixar os pensamentos correrem mais soltos do que aqui. Agora que me veio. Eu
nunca pus uma foto no Desabafos do Vate, preciso pensar em algo para fotografar
e botar lá. Tenho ideias. Se quiser posso até tirar uma foto do meu pênis e
postar! Hahaha. Mas sério, é livre assim que me sinto lá. Preciso às vezes de
um lugar para soltar todas as amarras. E não, não tirarei foto do que disse. Ou
tirarei, sei lá. É uma ideia que me faz sentir livre, libertino, controverso,
tarado e o que mais eu quiser ser. É onde deixo todas as intimidades mais
obscuras se manifestarem. É um exercício ótimo, eu me divirto à beça. Não sei
por que não escrevo mais lá. Acho que porque julgo que aqui seja o meu ofício,
onde me preocupo um mínimo com a forma e o conteúdo. Lá não me preocupo com
nada, aspas, pontuação, regras, deixo tudo de lado ou não, depende do meu
astral no momento. É bom para descomprimir o ego. É um lugar só meu. De mim
para mim. Meu playground onde posso brincar como quiser. Lá realmente eu posso
tudo. Ah, esse não é mais o slogan desse blog, eu mudei o seu nome no header,
agora que lembrei. Agora está o nome da obra que eu sempre quis conceber, mas
que nunca saiu até que percebi que a minha grande obra é essa, são esses
textos. Isso é o que de mim vai ficar para posteridade, enquanto a Google mantiver
esse espaço online. Isso é minha autobiografia em tempo real. Outro bom nome de
blog. Vou tentar registrar.
0h40. Registrei. Mais um para a coleção. Nossa, já se vão
oito páginas de Word. Fui especialmente prolífico hoje. O que mais me incomoda
em produzir esse volume de texto, além de os leitores desistirem de ler, é
revisar tudo. E sempre passa erro porque não sei o português necessário e
porque sou desatento. Mas faço o meu melhor. Não é muito, mas é o que temos a
oferecer. Acho que vou para o Desabafos do Vate.
8h54. Não rendeu nada o Desabafos do Vate. Lutei, lutei,
lutei para elaborar um conto baseado nas minhas atuais experiências com
videogame. Não consegui lapidar em algo crível. Ainda.
20h10. Dormi o dia quase todo e ainda estou ressabiado da
virada de noite que eu dei. Não liguei para Maria, pois achei muito tarde o
horário em que acordei. Vou postar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário