20h10. Estou com a mania de deixar as coisas para depois sem
saber se depois haverá ou quando será esse depois. Essa mania de protelar ad infinitum é ao mesmo tempo gostosa,
pelo poder de protelar, e limitante, pois poderia com as coisas proteladas aumentar
o meu repertório, como se dá com um disco que quero ouvir no Spotify mas deixei
para lá por enquanto. Poderia colocar o disco agora, mas não tenho a mínima vontade
de fazê-lo. Prefiro protelar. Como protelo filmes, jogos, leituras e tantas
coisas mais. Sou um protelador profissional. Prefiro escrever ouvindo “Utopia”,
simples assim. Sou um escritor (não profissional) e “Utopia” é um porto seguro
que emoldura bem a minha escrita. Protelar é o mesmo que me alienar, eu sei,
mas é como gosto de levar a vida nesse momento. Se bem que poderia botar a
velha lista 6 para rolar. Acho que isso tenho disposição de fazer.
20h18. Coloquei. Me deu vontade de ir fumar um cigarro com
minha tia e suas filhas que se reúnem na varanda a conversar.
20h33. Realmente gosto de tela grande. A principal janela
para o mundo virtual da imensa maioria das pessoas é o celular. A minha continua
sendo o bom e velho laptop. Até o WhatsApp vejo mais por aqui. O teclado é a
maior diferença, espaçoso, táctil (por mais que o do celular tenha feedback
vibratório), a sensação de apertar teclas é incomparável. Gostava ainda mais dos
teclados antigos dos desktops, o pessoal no trabalho reclamava do barulho
certas vezes, porque eu teclava com vontade, viu? Há duas gêmeas idênticas e
igualmente lindas na beirada do meu círculo de amizades e conhecidos, quem me
dera metade delas para completar a minha metade... publicaram uma foto divina
das duas no Instagram e no Facebook. São mui belas. Quem as conhece acho que
concorda comigo. “Moonlight In Vermont”, linda, linda. Foi bom ter revisitado a
lista 6. Esqueci que havia essas belezuras com Ella Fitzgerald e Louis
Armstrong. E querem que eu ouça Anitta e a produção nacional atual. Não me
apetece. Não consigo gostar. Acho funk uma das manifestações musicais mais
pobres que existem. Mas isso sou eu ficando velho e anacrônico. “Anacrônico”,
taí uma palavra que tem cada vez mais a ver comigo. Agora entrou outra que amo,
“Into The Heart” do U2. Ainda não recebi notícias da Yeti Art a respeito da
Asuka na moto que mandei pintar. Já vai completar bem um ano que realizei e
paguei o pedido. Só ficou faltando o frete. Daisy disse que iria me mandar
fotos à medida que a figura fosse ficando pronta, mas até agora nada. “Them
Bones”, Alice In Chains. Sobre as gêmeas, não posto a foto aqui porque as
conheço e teria que pedir a elas, só posto fotos de desconhecidos, como as
gatinhas no post anterior, ou de conhecidos que me permitam a publicação, como
Nice e sua mãe também no post anterior. Nossa, isso me faz lembrar como fui
antissocial ontem. Tenho para mim que meu amigo cervejeiro vai pelo mesmo
caminho, mas não dou certeza. Espero, para o bem do juízo dele que não, ou, se
estiver se tornando realmente antissocial, que isso seja do seu agrado. Que
aceite o caminho de solidão que trilha. Eu percebo que as pessoas com quem
tenho o mínimo de intimidade já me põem embaraçado para dialogar, a não ser que
tenha muita intimidade, aí me sinto confortável para interagir, como minha tia
e seus filhos. No extremo oposto, fico embaraçado em lidar com os funcionários
da pizzaria onde sempre compro Coca Zero. E todos nesse meio-termo me causam
desconforto social. E o desconforto começa a aumentar sua área de abrangência
para pessoas cada vez mais próximas. Não consigo passar muito tempo interagindo
inclusive com as pessoas com quem tenho muita intimidade. Interajo em doses
homeopáticas. Interajo e volto para o meu computador, como quem mergulha e observa
um pouco a paisagem submarina, mas logo tem que voltar para tomar fôlego. É bem
assim que me sinto. Ou o inverso, peixe fora d’água. Sei que estou batendo
muito nesse tópico da socialização, mas é porque é um bicho papão para mim. Que
se torna maior e mais total à medida que o tempo avança. Cada vez me sinto mais
só com o meu computador. Meu computador, essas palavras, cada vez mais se tornam
o único lugar agradável de estar. Queria não me incomodar com isso, abraçar de
vez a solidão e o isolamento, mas há uma parte da minha alma que me puxa para
outro lado.
21h09. Ella é fenomenal. Você deveria escutar. Ou não. Se
fosse corajoso(a) mesmo, ouviria depois “A Love Supreme” de John Coltrane. É uma
experiência sonora. Não é à toa que Renato Russo canta “fumar unzinho e ouvir
Coltrane, não faço mais isso mas entendo muito bem”. Eu também entendo muito
bem. Outro disco que é uma experiência sonora ímpar é “Medúlla” de Björk. Todo
gravado com vozes hipermixadas e por vezes hiperdistorcidas a ponto de não
parecerem vozes. É um disco arrebatador. Amplia os horizontes musicais, tanto
quanto Coltrane e, em menor medida, visto que mais tradicional, o disco de Ella
e Louis. “A Love Supreme” e “Medúlla” não são discos fáceis, mas, o
investimento vale pela abertura do universo musical. Eu acho. Se você tem algo
útil e fácil como o Spotify, fica a sugestão. Você pode odiar, mas não vai
ficar indiferente, tenho certeza.
21h17. Minha prima professora jogou o VR (realidade virtual)
do PS4, disse que é muito imersivo e que ficou tonta. Achou a tecnologia incrível,
mas os softwares fracos. Perguntei entre um PS4 Pro e um VR qual ela escolheria
e ela disse que, por ora, enquanto não há jogos realmente instigantes para o
VR, ela preferiria o PS4 Pro. Fica a impressão registrada aqui. Mas ela ficou
impressionada com a tecnologia. Foi um dos papos que batemos na varanda.
Falamos também sobre o filme “Mother” com a menina de “Jogos Vorazes” que
segundo a minha prima crente, trata da Bíblia ou do cristianismo, um dos dois,
não lembro ao certo, visto que um assunto é meio que intrínseco ao outro.
Voltando um pouco à música, o que selou meu amor pelo U2 foi o documentário “Rattle
And Hum”. Foi o filme que mais assisti na vida, por uma enorme margem. Me deu
até vontade de ver de novo só porque não o tenho aqui. Eu o vi no cinema,
comprei o disco (vinil), depois o VHS, depois o CD, depois o DVD e, por fim, o
Blu-ray. Não pretendo comprar a versão 4K, pois não achei essas coisas todas a
mudança para Blu-ray, só deixa a granulação da película mais aparente. O fogo é
que, para assistir o Blu-ray, eu tenho que ligar o Blu-ray player e não há mais
tomadas, espaço ou entradas na TV para tanto, com três consoles no meu quarto,
o PS3, o Wii U e agora o Switch. Pois é, anacrônico até nos videogames. E
pretendo continuar assim por um bom tempo. Em verdade não me vejo adquirindo
outro console. O ápice dos videogames foi e é e talvez sempre seja Super Mario
Odyssey. Não houve experiência mais recompensadora e divertida em toda a minha
vida de gamer. É para mim um marco, o
máximo que os videogames em sua forma atual podem oferecer. Não tem gráficos
estupendos, não roda em 4K com 60 frames por segundo com todos os efeitos de
partícula e iluminação possíveis, com sei lá quantos polígonos por segundo e,
sinceramente isso não importa. Claro que gostaria que tivesse gráficos assim,
mas gráficos se tornam secundários, como o jogo deixa claro no seu final (ou
começo?) em uma homenagem que vai deixar todo fã da franquia feliz e surpreso.
Isso é um grande spoiler, mas vou
deixar. Não disse o que era de fato. “Underneath The Stars” do Cure, outra
paixão minha. Tanto a música quanto a banda. Talvez seja o som que tenha mais
influenciado quem eu me tornei. Não sei se culpo ou agradeço Robert Smith por
isso. Hahaha. Vou pegar um café e fumar um cigarro normal. É uma pena que a
minha farra de cigarro tenha data para acabar. Voltarei aos meus três, quatro
cigarros ao dia.
21h53. Não sei se o me primo-irmão irá querer ir para a
sessão de Nintendo Switch na casa do nosso primo urbano, mas farei o convite,
seria no mínimo descortês não o fazer. Sobre o que posso tratar agora? Sobre
amor de amantes? Bom, com o fim da paixão, vício voraz pelo outro, o que
permanece é a mais profunda forma de amizade e cumplicidade que se pode
experimentar na existência, regado a sexo esporádico. Envolve, admiração,
respeito e carinho. No meu caso, envolve também beleza e pele macia em belas
mãos. É o tipo de coisa que quando sai da minha vida, sempre contra a minha
vontade (so far), deixa um enorme
vazio. Pode ser uma ligação tão profunda que às vezes parece haver um vínculo
telepático entre o casal, tão afinados estão. Coisas como pensar em receber uma
ligação e o outro ligar na mesma hora surpreendem. Ou saber o que o outro está
pensando sem que esse diga uma palavra. É muito curioso e extremamente
divertido amar e ser amado. Tenho grande sorte de ter tido disso em minha vida.
Telepatia inclusa. Além de paixões absolutamente avassaladoras. É, tive o meu
quinhão de amor nessa vida. Agora acho que acabou. Tudo o que me torno
impossibilita a criação de uma nova relação assim, infelizmente. O que me
torno? Um velho antissocial que aprecia a juventude feminina mais do que todas
as outras coisas. Ainda mais bem tratada e asseada como cachorros de pet shop.
Animais mais maravilhosos criados pelo acaso calculado do universo. Eu já sou
um velho rabujo, um bicho do mato, um bicho de uma humanidade diferente, que
não entra em sintonia com o mundo de hoje. Eu sou um animal estranho, não sei
se há outros humanos com hábitos semelhantes aos meus, mas sinto que atingi um
grau de singularidade raro. A série de acontecimentos que me levaram a estar
como estou é bastante ímpar. É difícil encontrar um viciado em cola de classe
média alta. Geralmente a cola é utilizada na infância e adolescência por jovens
de baixa renda. Mas não quero falar de cola. Atrai. Eu sinto. E não quero
sentir. Não é todo interno também que, para fugir da realidade da internação,
se põe a escrever sobre o seu cotidiano lá dentro. E menos ainda os que levam
esse hábito para o seu dia-a-dia no mundão, ocupando a imensa maioria do seu
tempo. E quanto tempo eu tenho, outra peculiaridade, outorgada pela curatela. Acredito
que raríssimos são os casos de aposentados aos 40 anos. Enfim, sou um ser
peculiar, de um cotidiano peculiar e de gostos peculiares que não vai conseguir
conquistar uma garota linda e jovem, de mãos belas e macias, legal e
inteligente. E ainda, mais difícil, que queira ingressar num relacionamento
onde o companheirismo e a honestidade sejam essenciais, visando uma união de
longo prazo. A garotas que buscavam isso já o têm a essa altura do campeonato, estão
casadas. As que não têm é porque não querem ter ou querem, mas são demasiadas
jovens para me acharem uma possibilidade viável. É assim que vejo a situação e
não acho nada animadora. Posso estar exagerando, espero que esteja. Mas meu
prazo de validade está expirando para o tipo de garota que me atrai. E ainda
tem essa coisa de achar sexo uma coisa estranha. Tudo, tudo, tudo em mim me
impele ao ostracismo. Parece que minha psique e a conjuntura sociocultural me
querem sozinho escrevendo. A psique fica em um dilema, pois sente saudades do
tempo em que amava e era amada, ao mesmo tempo desenvolve um crescente
estranhamento às relações sociais. Acha que amar é a melhor lombra que existe,
mas quer que o amor se dê na minha vida como um passe de mágica, do nada, pelo
acaso. Nem com o acaso eu consigo lidar. Não aproveitei e pedi em retorno à
gatinha linda que me pediu cigarro ontem um beijo, afinal o clima era de
carnaval, portanto aberto a tais ousadias, como pedidos de beijo a
desconhecidas. Tive provas disso ontem, garotas se atirando em braços de um
alguém que lhes era completamente estranho há alguns minutos. Ou segundos. Sei
lá o que estou dizendo. Tocou uma de Coltrane e me desconcentrou. Estou
entediado. Não tanto quanto estaria no meu quarto-ilha, mas estou. Vai ser
muito difícil voltar para o quarto-ilha. Principalmente com o Mario Odyssey chegando
ao fim e se tornando frustrante e difícil. O que farei quando escrever não for
o suficiente? Confesso que não sei. Confesso que me vejo perdido. Estou
perdido. Afora escrever tenho muito pouco em que me agarrar para existir. A
própria condição de escritor demanda isso de mim o que é paradoxal. Mas não
deixarei de escrever. Foi o que me veio como uma iluminação divina quando não
via solução para o problema do que fazer da vida. Me veio forte e pulsante e
transformador, me preencheu de profundo alívio. De uma felicidade que era o
oposto completo de tudo o que sentia até o momento, encharcado e coberto de
cola da cabeça aos pés por ter perdido a consciência dentro da piscina, numa
tentativa ridícula de me matar por não suportar mais a vida que levava. Ao
chegar no fundo do poço, a luz me veio, vou me tornar escritor. Foi como se uma
grande pedra fosse retirada das minhas costas. Já se vão quinze anos ou mais
dessa revelação. Só consegui alcançar e me perceber escritor há não mais que
dois anos. É o que faço e amo, escrever. Claro, não posso chamar o que faço de
profissão porque não ganho um centavo fazendo isso. Mas chamo de ofício, de
vocação (por mais que escreva mal) é o que sei fazer e o que me preenche mais
no mundo. Se não houvesse momentos em que só a escrita não basta, se não
houvesse as lembranças dos amores vividos, se não houvesse o tédio que me assola
muitas vezes nessa realidade bastante estéril que é passar os dias trancados
num quarto escrevendo, eu abandonaria o mundo, abandonaria as pessoas e não
sairia do meu quarto por quase nada desse mundo. Já é parcialmente assim, mas
existe uma parte de mim que luta contra esse movimento, que luta contra o que a
vida e eu desenhamos para mim. Quem me dera a Singularidade chegasse logo para
me receber, se for do jeito que imagino. Me roubar desse mundo para a realidade
expandida pela tecnologia. Mas isso por enquanto é só ficção científica. Eu,
como Neo, já fiz a minha escolha e só preciso entendê-la e aceitá-la. Seria
mais fácil se eu fosse espírita, pois acreditaria que teria outra vida e outra
chance de amar. Mas não sou espírita e nem quero me tornar um. Basta uma vida
só, embora ela me pareça curta e restrita para amar. Vou ser muito sincero
agora, e isso pode doer para alguns, mas só saio de casa, excetuando-se raros
casos como os programas com o meu amigo jurista, na vã esperança de achar novo
amor. Não há mais nada que me interesse genuinamente. Me agrada ver as cores,
os sons, as conversas, mas isso não seria suficiente para me tirar de casa para
a balada não fora a busca envergonhada de novo amor. E aí há uma contradição,
uma busca envergonhada por novo amor nunca renderá amor nenhum, pois a vergonha
é um obstáculo. Sem mencionar a minha utopia de que vou namorar uma garota
linda. Acredito que quando me desiludir dessa fantasia improdutiva de novo
amor, me isolarei quase que completamente do mundo. Me sinto estranho nele, não
me sinto bem. O acho rico, variado, um espetáculo incrível, mas um espetáculo
com o qual não tenho mais a mínima identificação. Eu me identifico com isso
daqui, com as palavras correndo soltas no computador. Me assusta identificação tão
pequena e pouca com as coisas do mundo, me espanta eu me contentar só com o
computador e a escrita. Me assusta me entregar de corpo e alma à escrita e
repudiar o mundo e a sociedade, mas o desejo é esse, não houvesse a esperança
de novo amor. Acho que a solução para o meu caso é exterminar a ilusão de um
amor que dificilmente virá. Tive uma ideia completamente tresloucada agora. Ir
no puteiro mais chique que houver aqui. Com as mulheres mais belas possíveis.
Escolher a mais bela dentre as belas (para o meu gosto) e repassar para ela uma
conta de e-mail que criarei com a senha e pedir que ela se comunique comigo para
sermos “namorados de e-mail” para começar. Um momento. 23h14.
23h18. Criei o e-mail, nem sem bem por quê. Acho que para me
divertir. Não acho que uma prostituta vá querer manter contato comigo. Ou com
qualquer outro cliente. Não sei nem qual o grau de escolaridade delas. Mas já
me disseram que existem prostitutas de luxo que estudam na Universidade Católica,
então... Arre! Que ideia esdrúxula, ridícula, desesperada... e que pode ser
utilizada com qualquer mulher. Hahaha. Nossa, veja a que nível cheguei hoje. Minha
vida nesse momento beira o surreal. O que estou fazendo dela, criando contas de
e-mail para ninguém? É surreal...
23h34. Meu primo chegou pela janela me dando um baita susto.
Chegou da saída e aparentemente não vai para a sessão Nintendo Switch. Ele
disse que não poderia ir e acho que não estava interessado, em verdade. Bom,
fiz a minha parte, o convidei. Já me arrependi parcialmente de ter criado a
conta de e-mail. Fui levado a isso por ter me perguntado sobre o amor e constatar
quão insignificantes são as minhas chances de encontrar um novo. Vou pegar um
café.
23h48. Qual o sentido da minha vida? Já respondi isso dias
atrás, mas o maior sentido da minha vida é escrever. Sem isso, isto que você
lê, ela perderia quase que completamente o sentido. Há pequenos sentidos, como
o jogo do Mario e a tal da esperança de novo amor, que se se consolidasse em
amor de fato, seria outra coisa a emprestar grande sentido à minha passagem
pelo planeta azul. Do jeito que está, o
Mario empresta mais sentido, pulsão de vida, do que a vã esperança de um amor que
não tomo nenhuma iniciativa de concretizar. Tentei a garota da noite. Em vão.
Não tenho mais quem tentar. E tenho quase certeza que não conseguirei abordar
uma desconhecida. Como disse, do jeito que está, o amor não empresta muito
sentido à minha vida, pelo contrário, me deixa em dúvida de que rumo dar a ela.
Não saberia conciliar amor com escrita. São coisas excludentes. Minha
hipotética namorada não gostaria que o nosso cotidiano fosse narrado para o
público. E, como ela faria parte essencial do meu cotidiano, não poderia
escrever sobre a minha vida por não poder citá-la. Só agora me dei conta disso.
Para ser sincero, todas as minhas investidas nesse campo após a Gatinha foram
embaraçosíssimas. A menos embaraçosa – e já embaraçosa – foi a da garota da noite.
Faith No More é só o que sai da lista 6 em modo aleatório. Tenho vergonha das
minhas investidas amorosas. E não é pouca. Parece que o meu destino já está
traçado. E o cavalo que galopa mais forte o impulsionando para a frente é a
solidão das palavras. Bom nome para blog, vou tentar registrar, um momento. Já
está registrado. Vou até ver o blog para ver se me identifico. É de 2010 a
última postagem. É de uma garota. Quantos blogs abandonados não há? Será que
algum dia abandonarei o meu? Tenho que lembrar de ligar para o RAID, há um
amigo meu internado lá que pediu que eu ligasse. Vou deixar para ligar amanhã.
Quando revisar isso eu me lembro. Ligar para Maria também. Amanhã será o dia
das ligações e, quem sabe, da sessão Nintendo Switch. Achei que a namorada do
meu primo urbano me tratou de forma estranha no Sai Dessa Noia. Mas vou sair
dessa noia, pois estou achando que todo mundo está me tratando de forma
estranha, o que deve significar que o estranho sou eu. Será que anda lendo
isso? Acho que não. Nem tem tempo para tal, está atribulada com a vida acadêmica
até onde sei e tem mais o que fazer, tenho certeza. Já me aclimato mais com a
ideia de que não irei para Olinda no carnaval. Estou desiludido, quase me
entregando de vez à solidão. Antes de tomar essa decisão, tento uma terapia.
Para me demover ou me fazer aceitar a ideia. Só não quero viver nesse dilema.
Sempre olhei para solteirões e solteironas com preconceito, achei que nunca
aconteceria comigo, olha onde os eventos e escolhas me trouxeram, virei eu
mesmo um solteirão. Não quero o fruto maior do amor que é um filho. Estou meio
atarantado. Eu me tornei uma anomalia social e isso me incomoda e me faz querer
mais e mais estar fechado no meu mundo, ouvindo o meu som e escrevendo no
computador. Hoje o meu lado antissocial está especialmente forte. Tudo porque
fui inventar de falar de amor. E a distância enorme, gigantesca dele, maior do
que jamais esteve, me fez ver o quão minhas ilusões são vazias. Tudo me prepara
passar os meus últimos dias no porão da casa do meu irmão nos EUA a escrever a
mesma ladainha até o dia em que a vida resolver me abandonar. Ou se der a
Singularidade Tecnológica. Hahaha. Nossa, como sou besta, acreditando que iria
encontrar amor e ainda por cima, cereja de bolo, esperando por um deus
tecnológico que me arrebataria dessa realidade para me levar a uma existência
superior, maior do que a realidade material. Hahaha. Nada disso vai acontecer,
perdeu, playboy. Tu és imprestável, ninguém vai te querer. É só saberem tua
tortuosa trilha, tua feiosa história de vida para te rejeitarem. Afora tua triste
silhueta, velha, gorda e cada dia mais curva, combinação equivocada de
fenótipos que és e te mostras. Tu és um ser anômalo, tu és medíocre e
desprezível, tu és a negação de ti mesmo. Tu estás podre e nem o percebe. Tu és
um tronco morto, que não dá sombra e nem frutos. Tu és o que de mais inútil
pode existir. Tu e tuas palavras. Fica mesmo com elas que é o que te resta
dessa tua existência desprovida de significância para os demais. Não sei como
alguém ainda te lê, é quase um acinte ao próprio ato de escrever. Tu morres
para o mundo. Tu te fechas para ele. Tu te reduzes. Tu me envergonhas. Tu me
causas desprezo. Tu és um nada no mundo. Mais insignificante dos homens que
transitam neste planeta repleto de significados que não sabes desvendar. Por
que te trato na segunda pessoa do singular? Sei lá, te fode! Hahaha.
0h41. Peguei pesado comigo, hoje não estou de bem comigo
mesmo. Por que fui inventar de falar de amor? Amor mexe comigo, ou melhor, constatar
sua impossibilidade e sua incompatibilidade com a vida que levo. Serei sozinho,
aliás, continuarei sozinho, pois já estou só há mais de dez anos, até o final
dos meus dias, é um para sempre que se desenha muito claramente na minha atual
percepção das variáveis postas em movimento na minha vida. Estranho é pensar
que em grande parte isso deriva de uma inclinação maior interior. Não sei se
consigo abrir mão da escrita por amor. Não saberia viver sem a escrita e sei
viver sem amor. Viverei de apreciar a juventude feminina à distância. Olhando,
mas sem poder tocar, porque não saberei como alcançá-las, porque minhas mãos ou
o meu verbo não vai tão longe, minha coragem não chega nem à metade do
necessário. Minha cara não é de pau, nem penso com este, uso o coração, coisa
tão em desuso hoje em dia. Ouvindo Cure, isso é um alento para pensamentos tão
tristonhos que chegam a ser cômicos. Sou um palhaço triste. Me exibo nesse
picadeiro de letras, nesse circo de um homem só. O público é pouco, mas esse
palhaço se contenta de haver público ainda. Entrou numa fase The Cure agora o
modo aleatório. Massa. Minha tia vai dormir na sala por causa das cadelinhas, a
da minha prima crente vai passar a noite aqui. Trouxe a Coca e o gelo para o
quarto para não importuná-la. Meu primo aparentemente ainda está acordado. As
cadelas ladram não sei por quê. Vou me servir um copo de Coca com gelo e fumar
um cigarro. Eu mereço esse mimo depois de um desabafo tão cruel comigo mesmo.
Vou manter tudo o que escrevi, mas não queria que nenhum conhecido lesse. O
pior é que embora haja certa dose de exagero, essa é a minha autoimagem. Fui eu
quem disparou num jorro catártico tudo o que me veio à cabeça a respeito de
mim. Acredito mais do que nunca que serei desses a ficar sozinho, sem uma
companheira até o final da minha vida. De posse desse fato, poderia sair para o
tudo ou nada e abordar todas as mulheres que me encantassem, mas sei que isso
não condiz com quem sou agora e, sinceramente, não gostaria de fazer isso.
Estou num beco saída, encolhido, escrevendo. E ouvindo Mallu Magalhães, doce.
Adoro. Mas já que comecei a falar de amor o que posso mais dizer do amor, das
coisas boas do amor? Amo ver a pessoa que eu amo dormir, amo ver a pessoa que
eu amo tomar banho (amo ver qualquer bela mulher tomar banho) é um momento
sagrado de profunda intimidade. Amo saber que um estará à espera do outro aguardando
feliz tal retorno. Amaria que minha amada me deixasse escrever sobre a nossa
vida. Ou que não me desse tempo ou razão para escrever. Mas a amaria mais se
respeitasse o meu ofício e que soubesse viver e curtir a vida sem mim, que me
deixasse no sacrossanto reduto do lar a escrever. Sairia uma vez ou outra com
ela, mas preferiria que ela saísse com as pessoas de seu círculo e me deixasse com
o meu computador. Entretanto, acho que nenhuma mulher aceitaria um
relacionamento nesses termos. Não sei. Há gosto para tudo. Talvez fosse até um
modelo que agradasse as mulheres de hoje tão ansiosas por liberdade, tão donas
de si. Eu seria dono de mim no meu quarto-ilha e ela seria a minha dona quando
retornasse sei lá de onde fosse. Não sei se isso daria certo. Estou fantasiando
de novo. Esse seria um relacionamento perfeito para mim. Eu só faria coisas com
ela ou sozinho, não precisaria de mais ninguém no mundo, a não ser cinco ou
seis amigos(as). Por falar em amigas, não estou com clima para encontrar com as
minhas amigas psicólogas, não saberia me pôr para elas, nos distanciamos
demais. Acho que posso dar nossas amizades por coisas do passado. É assim que me
sinto e não é de agora. Espero me enganar. Pensar nelas é pensar no meu amigo
cineasta e na sua filmagem. Está acabando. Não nego que estou curioso para ver
o produto final. Com que cores me pintará. Será que tão negras quanto as que me
pintei hoje aqui? Meu amigo cineasta está no punhado de amigos que não quero
perder contato quando e se me isolar mais completamente do mundo. A Gatinha eu
não sei. Gostaria que ela não saísse da minha vida, mas vejo ela fazendo o
movimento nessa direção, o que é mais saudável para ela, creio. Eu não sou boa
companhia para ninguém atualmente. Eu me sinto constrangido na frente das
pessoas, é tão estranho, tão desconfortável. É como se me achasse menos que
eles, que não merecesse suas presenças. É como se não tivesse assunto que
considerasse válido para conversar. É como, não, é o que sinto toda vez que
saio ou vou encontrar com alguém. E não tenho saco de me informar sobre as
coisas do dia-a-dia para ter o que conversar, só me interessa jogar videogame e
mais do que tudo nesse mundo, fazer esse mergulho nas profundezas de mim. Como
no mar, as criaturas das profundezas são pálidas, feias e cegas. Se eu fosse
para superfície de mim, a parte onde o sol bate e a água é de um deslumbrante
azul, como me veria? Como um cara que está vencendo a batalha contra as drogas,
um cara... não sei mais o que dizer de bom de mim. Isso é um tanto frustrante.
Ah, diziam que eu era inteligente. Nunca me julguei assim, mas foi verbalizado
por tanta gente que acho que carrego este estigma positivo. É tão, mas tão mais
fácil descer a lenha em mim e tão extremamente difícil tecer uma imagem
positiva, que me faltam palavras para isso. Acho que escrevo relativamente bem.
Acho que sou cordial. Um bom ouvinte. Me interessam sinceramente as histórias e
opiniões das pessoas. Elas alargam a minha vida, saber do outro é parar um
pouco de pensar em mim. Penso em mim demais escrevendo. Gostaria muito de ouvir
como foi o dia do ser amado. Todos os dias enquanto a relação durasse. Acho que
isso cansaria a minha parceira. Ou não. Sei lá. Nunca fiz isso. Mas gostaria de
fazer. Me vem de novo a imagem da garota da noite. Mas confesso que com um certo
ranço. Não me acho nem o pior nem o melhor dos mortais, creio que me encontro
no zero da curva. Nem negativo nem positivo e sem oscilações. Acho que entendo
o que é amor de amantes porque já o vivi algumas vezes. Acho que não quero
viver mais por causa principalmente do sexo e de sair da minha zona de
conforto. Acho que me engano com essa esperança de amar novamente. Se bem que
eu acho que como tudo que antecipo de forma catastrófica, pode se revelar muito
melhor do que eu julgo. Acho que já escrevi demais e estou sendo redundante.
Foi triste perceber que no meu modo de vida atual, não deixo brecha para o amor.
Se deixo é uma fina fresta por onde ninguém passa. Bom é seguir olhando para a
frente, escrevendo e tentando zerar o Mario Odyssey. Zerar, não, porque desisti
das corridas, se ao menos eu conseguisse dar o long jump com a mesma facilidade como dava no Galaxy, teria alguma
chance, mas pela minha incompetência em fazer tal movimento no Switch desisti.
Há luas que não vou pegar, já me conformei com isso.
2h10. Estou sem sono algum. Dormi tarde demais e acordei
tarde demais. Mas vou me deitar às 3h00. Haja o que houver. Ainda bem que não
estou no meu quarto-ilha, ou estaria profundamente entediado. Admito,
entretanto, que já começo a sentir saudades de lá. Não muita. Principalmente
pelo tédio que me assolará e que não encontro aqui, porque aqui é um lugar
diferente. Há sempre a possibilidade de trocar uma ideia com o meu primo-irmão.
Meu tio me deu um exemplar do último livro da trilogia escrita por Daniel
Násser. É uma pena não gostar de ler. Mas guardarei com carinho. Se não me
engano já tenho um exemplar em casa. Mas só uma grande mudança me fará parar de
escrever para ler. Infelizmente, não gosto de ler e pronto. Escrevo porque me
dá prazer (embora hoje tenha sido um tanto deprimente me rebaixar daquele
jeito. Foi o que saiu e permanecerá aqui). É mais interativo, é mais divertido
criar um texto que ler um texto. Acho bem mais. Não tem a menor comparação. Um
eu amo fazer, o outro eu desgosto. Escrever sobre a vida é o grande passatempo
da minha. Não sei viver sem e já estou me tornando estranho em demasia, pois
estou parando de interagir com os colegas para escrever do celular no meio da
balada. Tenho que reprimir esse ímpeto e me limitar a documentar
fotograficamente as saídas.
2h38. Meu tempo está quase acabando. Ainda bem. Selecionei a
imagem de um coração de verdade para ilustrar esse post, é mais impactante. Bem
mais, beira o grotesco. Por outro lado é educativa, nunca havia visto a foto de
um coração. Pequena aula de anatomia. E acho que corações bonitinhos não dão o
clima do texto que se desenrolou porque fui falar de amor. Ah, o amor, não sei
se é invenção do homem querendo poetizar as relações de parceiros de cópula e
de crias, ou se existe mesmo. Se o romantismo é um fenômeno cultural. Se é uma
abstração de um animal capaz de abstração, de significar as coisas e os
sentimentos. Meu palpite é que o amor existe, eu já o senti e era diferente de
todos os outros sentimentos que havia experimentado. Tanto a paixão, esse um
sentimento que vai além do desejo sexual, embora tenha nele uma das forças
motrizes, quanto o amor. E há vários tipos de amor, um para cada papel social
que as pessoas queridas desempenham em nossas vidas. Amigos, mãe, familiares
etc. Há amor até por animais de estimação. Amor que provoca luto quando da
morte ou perda do animal. Sei disso. Também já senti. Há conexões afetivas até
por coisas materiais. Eu amei muito o meu Super Nintendo e o meu Nintendo 64,
por exemplo. Amei e amo todos os meus consoles em maior ou menor grau, por
exemplo. Amo os meus bonecos também. E algumas camisas. Há o amor por músicas,
por filmes, livros. Há amor por tudo aquilo que tem valor sentimental. As
coisas mais perigosas de se enamorar são as drogas. Eu que o diga. 2h54. Vou
ficar acordado até acabar o gelo. Creio que dentro de meia-hora acaba.
Há amor. Se é uma abstração, um floreado em cima dos nossos
instintos animais, que seja.
3h01. Acho que interagi razoavelmente com as minhas primas e
minha tia hoje, não fui de todo mal. Não sei se no final da frase anterior era
para ser mau ou mal, chutei. Eu não sou uma pessoa nem boa, nem má, alcanço
essa neutralidade interferindo o mínimo possível com o universo, especialmente
o universo social. Se interajo o mínimo possível com as pessoas, a
possibilidade de fazer mal é mínima, assim como de fazer bem. Essa neutralidade
me desagrada, queria me considerar uma pessoa boa, mas não sou. Não ajo para
isso. Eu prefiro a não-ação. Ou tenho preferido. Esses textos não mudam a vida
de ninguém. Achei um coração mais bonito. Mas manterei o de verdade na entrada
do texto. Colocarei o outro depois.
“All that I can say is that my life is
pretty plain” canta o Blind Melon. Bem adequado. Estou ficando com
sono, isso é bom. 3h16. Dormindo dentro em breve, só falta um copo de gelo, eu
acho que consigo acordar na hora do almoço. Não gostaria de ter essa obrigação
de almoçar, quando acordo não tenho fome nenhuma, mas é o mínimo que posso
fazer. E talvez depois do almoço eu possa jogar um pouco de Mario. O que queria
agora? Ficar acordado até mais tarde escrevendo. Mas não farei isso. Vou botar
logo gelo no copo.
3h23. Botei o resto do gelo e da Coca no copo e fui fazer
xixi. Que alívio.
3h29. Estava namorando o Hulk na internet. Vou postar uma
foto dele aqui. É o busto apenas e é grande mesmo assim.
3h33. Como já disse aqui um sem número de vezes, quero esse
Hulk na entrada do meu quarto, ao lado do meu computador para causar impacto ao
visitante e para poder olhar sempre para ele. Meu tempo se esgota. Resta meio
copo de Coca que tomarei fumando o último cigarro do dia. A Red Sonja é outra
que eu vou babar muito. A Sideshow deu um salto de qualidade na escultura das
cabeças dos personagens que impressiona. A nova linha de heróis da DC supera de
longe a linha anterior. O que vai ter de gente vendendo a antiga
Mulher-Maravilha não está no gibi. Mesmo assim, a Red Sonja continua imbatível.
Mais lindo rosto de boneca que eu já vi e com expressão mais sutil que já vi,
um leve sorriso digno de Mona Lisa. Acabou o copo de Coca, só falta o cigarro.
E por que não colocar uma imagem da Red Sonja aqui?
3h49. Vou me retirar. Quando acordar reviso e posto. Não sei
se divulgarei esse nos grupos, mas creio que sim. Espero que o dia tenha sessão
Nintendo Switch. Estou pensando em levar o meu computador, mas não vou fazer
isso, seria antissocial demais. Meu amigo jurista e meu primo urbano iriam
estrilar. E pode ser que role só na quarta. Não estou querendo sair daqui mas
preciso dormir. Estou com astral melhor nesse momento, pensando em coisas
outras que não na falta de amor de amantes em minha vida. Esse assunto me deixa
desapontado comigo mesmo e em conflito interior. Melhor deixar quieto. Não sou
o lixo que me descrevi, sou apenas um nada na vida. Sou texto. No final era o
verbo e o verbo era tudo.
3h56. Boa vida para você. Eu vou aqui levando a minha de um
jeito meio esquisito, mas sem desgostar dela. Tenho meus dilemas existenciais,
mas quem não os tem?
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